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Deontologia e Ética médica - Resumo da prova

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1 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
 
 
 
 
 
 
 
Deontologia e Ética médica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Medicina – 8º semestre 
 
2 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
INTRODUÇÃO 
Importante saber sobre a intensa vulnerabilidade do 
casal infértil. Lembrar que do ponto de vista 
conceitual técnico dos reprodutólogos o conceito do 
CASAL ser infértil, antigamente se falava de 
esterilidade e procurava-se quem era o culpado, se a 
esterilidade era feminina ou masculina. Hoje temos o 
conceito de infertilidade que é sempre o CASAL que 
é infértil. Inclusive temos situações em que os dois 
são férteis, quer dizer, ele procriaria facilmente com 
outra mulher e ela procriaria facilmente com outro 
homem, mas o problema é quando eles estão juntos e 
aí não combina alguma coisa imunológica, alguma 
coisa de antígeno de superfície. O casal infértil é 
um casal extremamente vulnerável, constrangido, 
principalmente pelas pessoas mais íntimas e isso vai 
minando o casal e começa uma cobrança recíproca, a 
mulher acha que o problema é do lado do homem e 
o homem acha que é do lado da mulher. 
Bom, o fato é que de forma antropológica e 
sociologicamente falando é um problema agudo da 
nossa época porque tem havido uma redução da 
fecundidade, uma redução do número de filhos por 
mulheres em idade fértil, as famílias estão menores 
e as mulheres estão no mercado de trabalho 
buscando escolarização mais completa, formações 
mais cumpridas. 
Para a mulher esse fator fertilizante é sempre pior 
porque o homem faz espermatogênese até os 60 
anos e de forma eficiente até mesmo pelos 
medicamentos que hoje são dados para disfunção 
erétil, já a mulher faz o ciclo, ou seja, ela não fica 
fértil todos os dias do mês, ela só fica fértil ao 
longo de 5 a 7 dias a cada mês e mesmo que ela 
esteja tomando o anovulatório vão entrando em 
atresia os folículos ovarianos, o lote deles perece, 
chega no prazo de validade aos 35 anos. Os folículos 
são mais velhos do que a idade da mulher, eles são 
contados desde a época em que a mulher está na 
barriga da mãe e todo mês se joga uma quantidade 
fora. Então, a partir dos 35 anos os obstetras 
chamam as mulheres de gestante idosa. Do ponto de 
vista de reprodução a mulher é idosa aos 35 anos. 
Então, na hora em que a mulher, biologicamente 
falando, deveria estar casando, procriando, 
amamentando, o corpo na flor da idade, a mulher não 
quis, quis ficar estudando. Agora a mulher já tem 
diploma, já tem renda própria, casa própria, veículo 
próprio e aí sente vontade de ser mãe, porém o corpo 
já “diz” “estou fora”, “meu tempo já passou”. Então, 
há essa dissintonia entre o social e o biológico. A 
biologia diz que o ponto ótimo para se engravidar 
é dos 20 aos 30, estourando até o 35. O tempo de 
formação profissional, de garimpar renda, de se 
colocar na sociedade, no mercado de trabalho, 
consome exatamente essa etapa e se você tiver filho 
antes de qualquer maneira é claro que você o ama, mas 
ele “atrapalha” a vida porque ele puxa uma atenção, 
um tempo, investimento, energia que você não 
consegue colocar no trabalho. 
É bom que vocês tenham em mente que um casal 
infértil é um casal pressionado de todos os lados, é 
um casal constrangido, humilhado, e aquele momento 
de intimidade sexual que era pra ser aquele momento 
de carinho, de prazer, de relaxamento, vira uma 
corrida de desempenho. Existem muitos casos que 
relatam que o filho só vai pro útero quando sai da 
cabeça, ou seja, quando relaxou, quando aquilo deixou 
de ser uma demanda. Então, o leito conjugal é pra ser 
um local de paz, de carinho, de intimidade e o filho é 
um fruto disso. Não se deve ficar pensando que “tem 
que comparecer”, “tem que ter ejaculação”, porque a 
catecolamina não combina com isso, catecolamina 
combina com a ejaculação, mas antes disso, para ter 
ereção precisa ter acetilcolina. O ato sexual é 
colinérgico, é parassimpático, só é simpático no final 
– falando especificamente do homem – que é na hora 
da ejaculação, mas o que precisa pra ereção é 
acetilcolina que é tranquilidade, é paz. 
Sabendo como isso é importante e existe a demanda 
social, a infertilidade é uma coisa comum, é uma 
coisa incidente, logo, existe uma demanda que muitas 
pessoas têm. Sendo assim, imagina-se que existam 
muitas normas falando sobre isso; essa é a 
expectativa: uma coisa que acontece com muita 
gente, que tem um custo financeiro elevado, muita 
Fertilização In Vitro (FIV) 
 
3 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
tecnologia investida, fora um custo social relevante 
(em termos de sofrimento, demanda, pessoas 
machucadas). Entretanto, não existe nenhuma lei, 
nenhum decreto presidencial, nada que diga a 
respeito de infertilidade, reprodução assistida, 
técnicas para ajudar os casais a procriar ... O 
Congresso Nacional não se deu o trabalho de criar 
uma lei sobre reprodução assistida; é um vazio 
legislativo. A Presidência da República também não 
fez nenhum decreto sobre. A primeira bebê de 
proveta foi Louise Brown em 1978 na Inglaterra, e 
esse tempo todo já passou e nenhuma lei foi criada no 
Brasil. Também não tem nenhuma portaria do 
Ministério da Saúde. 
Existe Resolução da Diretoria Colegiada da 
ANVISA, mas é só sobre a parte sanitária, sobre a 
parte laboratorial; critérios de biossegurança, 
temperatura do nitrogênio líquido, esse tipo de 
informação. Essa parte laboratorial às vezes nem é o 
médico que faz, é mais o biólogo. 
Não tem lei, não tem decreto, não tem portaria 
ministerial, e a resolução da diretoria colegiada da 
ANVISA é mais para os biólogos do que para os 
médicos e pacientes. Dessa forma, só existe UMA 
resolução do CFM. O CFM – que tem a função de 
regular os médicos. A lei 3268 de 1957, que cria os 
conselhos de medicina, diz que os conselhos devem 
fiscalizar, julgar e disciplinar – na parte de 
disciplinar, tem o poder de emanar normas, ele pode 
criar resoluções. Essas resoluções dizem o que pode 
ou não fazer. Foi usando esse poder de fazer normas 
que o CFM tem feito uma norma atrás da outra sobre 
reprodução assistida, exercendo o seu poder 
disciplinador. 
[portal.cfm.org.br → Serviços para o Cidadão → 
Normas do CFM/CRMs → Resoluções (resolução é 
aquele tipo de norma imperativa; não é um parecer, 
não é uma recomendação, não é uma opinião técnica, é 
como se fosse uma lei: todo médico tem que cumprir 
o que está na resolução) → CFM → Assunto: 
reprodução assistida → buscar]. 
Pensando de trás para frente, a norma mais recente 
é de 2021. É a resolução 2294/2021: 
 
Observa-se que essa resolução teve o cuidado de 
revogar a resolução de 2017, a 2168. Essa resolução 
durou cerca de 4 anos, mas o CFM sentiu a 
necessidade de mudar. 
Se for seguir olhando as outras resoluções, teve a 
2283/2020, que manteve a 2168/2017, mas fez uma 
pequena alteração, ou seja, essa resolução de 2017 
durou até 2021 de certa forma, pois ela durou, mas 
precisou ser alterada no meio do caminho (em 2020). 
Essa resolução 2168/2017 quando foi feita, revogou 
uma outra resolução, de 2015: 
Percebe-se que o CFM mexe bastante nesse tema. 
Por um lado, o Congresso Nacional, a Presidência da 
República, o Ministério da Saúde não mexe nesse 
tema; a ANVISA só participa na parte biológica, 
mas o CFM é uma “barata tonta”, toda hora mexendo 
nessas resoluções, sempre revisando. A norma dura 
de 2 a 4 anos e acaba sendo alterada. E não são 
alterações pequenas, pois se fosse algo simples, só 
fazia alterar. Mas, o CFM revoga e reescreve, quer 
dizer que houve mudanças grandes. 
É importante salientar que a resolução atual 
(2294/2021) quando nós estivermos formados em 
2023, já pode ter sido substituída, por isso que é 
importante saber procurar essas resoluções no site 
do CFM. 
 
Essa norma é bastante recente, feitaem junho de 
2021. A diferença entre a resolução de 2021 para a 
de 2017 é que mudou o número máximo de embriões 
transferidos. Antes podia ser até 2, ou até 3, ou até 
 
4 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
4, conforme a idade da mulher. Então, quanto mais 
velha a mulher, menor a chance de sucesso; por 
isso, o CFM era mais generoso, deixava implantar mais 
embriões para ver se vingava pensando da seguinte 
forma “como essa mulher já está mais velha, vamos 
deixar colocar logo 4 para ver se fica ao menos 1”. 
Entretanto, as técnicas biológicas estão ficando cada 
vez mais refinadas; a taxa de sucesso está 
melhorando, sendo que era muito arriscado colocar os 
4 e vingar os 4. 
Existem vários “Considerandos” nessa nova resolução, 
sendo que uma merece destaque: CONSIDERANDO 
que o pleno do Supremo Tribunal Federal, na sessão 
de julgamento de 5 de maio de 2011, ao julgar a ADI 
4.277 e a ADPF 132, reconheceu e qualificou como 
entidade familiar a união estável homoafetiva. 
Então, a partir do momento que o STF reconhece que 
a união de dois homens ou duas mulheres que podem 
querer ter filhos é uma entidade familiar, não se pode 
ter uma resolução do CFM impedindo essas pessoas 
em união estável homoafetiva de procriar. Elas podem 
não querer adotar uma criança; elas podem ter o 
desejo de ter uma criança com algum laço biológico, 
genético. Não vai ser possível ter de ambos, mas 
geralmente se pega uma doação de um oócito em um 
banco anônimo, fertiliza com o sêmen dos dois 
homens que são um casal homoafetivo; biologicamente 
vai ter um embrião filho de um homem e outro 
embrião filho do outro parceiro. Eles vão ser 
gestados em uma barriga de aluguel – o nome correto 
é doação uterina ou útero de substituição – e essas 
duas crianças, biologicamente falando, uma vai ser 
filho de um, enquanto a outra vai ser filha do 
outro. Porém, do ponto de vista social, a criança vai 
ser registrada como sendo dos dois. Sendo duas 
mulheres, vai usar o banco de sêmen de um doador 
também anônimo, fertilizando – talvez – um óvulo 
de uma e o óvulo de outra, vendo a barriga de quem, 
sendo que isso vai ser com elas, quem elas acharem 
mais adequado. 
PRINCÍPIOS GERAIS 
Primeiramente, essas técnicas de reprodução 
assistida (RA) têm o papel de auxiliar no processo 
de procriação. Ou seja, se o indivíduo consegue 
procriar por meios naturais, não tem porquê usar 
dessas técnicas. Não é uma frivolidade, é quando o 
processo de procriação necessita desse auxílio. 
Essas técnicas podem ser usadas na doação de 
oócitos e na preservação de gametas, embriões e 
tecidos germinativos por razões médicas e não 
médicas. Uma boa razão médica é câncer, quando a 
pessoa vai usar uma quimioterapia que pode alterar o 
genoma da célula germinativa, ou pode inutilizar essas 
células germinativas. Sendo assim, preserva-se o 
oócito ou o sêmen já que a pessoa vai passar por um 
tratamento que vai ser nocivo para a fertilidade. Uma 
razão não médica é um dos dois vai trabalhar em 
outro país, vai ficar muito tempo longe, sendo 
previsto uma demora tal que pode não conseguir 
procriar na volta, congelando aquele oócito antes 
que ele envelheça. 
As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que 
exista possibilidade de sucesso e baixa 
probabilidade de risco grave à saúde do(a) paciente 
ou do possível descendente. Não é para enganar a 
pessoa, não é para dar falsas esperanças quando a 
taxa de sucesso é ínfima e improvável. Além disso, só 
é feito quando a possibilidade de risco à saúde é 
pequena, não colocando a integridade da pessoa em 
risco. 
A idade máxima é 50 anos. Já foi 40 anos. Isso 
mudou porque muitas mulheres acima de 40 anos 
estavam entrando na justiça contra o CFM e 
conseguindo uma decisão judicial para permitir fazer 
a técnica de reprodução com 42, 43, 44 anos. Por isso, 
o CFM cansou de perder na justiça e expandiu para 
50 anos. 
Outra coisa que vale a pena destacar, quando se 
passava no limite da resolução, às vezes era um caso 
de se pedir autorização para o CFM, ou seja, 
imaginando que o limite é 40 anos e a mulher tinha 
mais de 40 anos, era necessário entrar com um 
processo no CFM lá em Brasília pedindo para abrir 
uma exceção no caso dela, explicando porque ela 
precisava ser excepcionada. Com a nova resolução, 
isso caiu; existe uma idade máxima que é 50 anos e só 
é necessário que o médico esclareça qual é o 
problema e que coloque no prontuário, não 
precisando mais pedir a “benção” no CFM. Em casos 
que a mulher tenha 51 anos e queira fazer, não precisa 
pedir para o CFM mais, só precisa constar no 
 
5 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
prontuário que houve um processo de consentimento, 
que o médico deixou bem claro que “com 51 anos tem 
X problemas” .... Logo, duas coisas mudaram: a idade 
foi para 50 anos e a exceção a idade não precisa 
mais ser analisada pelo CFM. 
O consentimento livre e esclarecido é obrigatório, 
precisando ter um formulário específico e ele precisa 
endereçar questões biológicas, jurídicas e éticas. 
Dessa forma, esse processo de consentimento livre e 
esclarecido é multidisciplinar, não é só do médico, 
tem que ter participação de advogado, enfermeiro, 
biólogo ... Às vezes parece até que está tentando 
convencer o casal a não fazer, chegando até a ser 
trágico. Lembrando que uma clínica de reprodução 
assistida não é um negócio barato. Então, para esse 
investimento ter retorno, é necessário ter cliente. 
Em Salvador, sendo a 4ª maior capital do Brasil, só 
existem 3 serviços de reprodução assistida: Clínica 
Gênese, no Caminho das Árvores (a mais velha de 
todas), Cenafert, em Ondina, e a IVI, na Paulo VI. São 
clínicas grandes, com pessoas muito estudiosas e 
atualizadas. Vale lembrar que a Dra. Karina Adami 
está à frente da reprodução assistida do Hospital das 
Clínicas da UFBA, ajudando pessoas que não tem 
condições de pagar (visto que o HC é SUS). Então, são 
clínicas caras e que precisam ter clientes, porém 
precisam durante o processo de consentimento livre 
e esclarecimento é praticamente como se quisesse 
que a pessoa desistisse do processo. 
Não pode fazer técnica de reprodução assistida 
para fazer sexagem. Só é quando se tem uma doença 
associada ao X, porque nessas doenças, a mulher não 
tem, já que ela tem dois X, então ela pega o X bom e 
usa para fazer transcrição e tradução e síntese 
proteica e pega o X ruim e deixa enovelado, deixa 
hipercondesado na cromatina sexual de BAAR, mas o 
homem não pode fazer isso. Então, quando é uma 
doença associada ao X, se nascer menino vai se dar 
mal e muitas vezes vai ser até incompatível com a 
vida, então, aí pode ser feita sexagem, pode forçar a 
barra para nascer menina para não ser uma pessoa 
doente. É a única situação em que se pode fazer 
sexagem. 
Também não pode querer qualquer outra finalidade, 
como por exemplo, querer que tenha olho azul, cabelo 
liso, ser alto. E o número de embriões, pode ser até 
2 se a mulher tiver 37, de 37 em diante, pode ser 
até 3, mas não pode colocar 4. Se colocou 2 ou 3 e 
vingou tudo, não pode fazer redução embrionária, 
seria injetar salina em 1 ou 2 embriões, matar, 
provocar o aborto daquele embrião para aumentar a 
chance de sobrevivência dos outros, antigamente era 
assim, as técnicas eram mais grosseiras, as taxas de 
sucesso eram bem menores, então as pessoas davam 
um tiro de canhão para dar certo e de vez em quando 
dava certo demais, aumentando o risco de 
abortamento, parto prematuro, botar tudo a perder, 
podendo matar alguns para aumentar a chance de 
sucesso dos outros. No Brasil não pode fazer nada 
disso. 
 
O sucesso biológico tem aumentado bastante, as 
técnicas tem ficado muito mais eficazes, todos 
podem usar, não importa se é hétero, homo, 
transgênero. No caso da união homoafetiva feminina 
é possível fazera gestação compartilhada, ou seja, 
uma dá o óocito e a outra o útero, é uma maneira das 
duas se sentirem mãe, uma é mãe porque o patrimônio 
genético da criança é dela, então vai ter a aparência 
dela, o nariz dela, porque é o sêmen de um estranho 
com o material genético dela, é filho da outra mãe 
porque ela gestou, foi de dentro dela que saiu, ela que 
amamentou, isso que se chama de gestação 
compartilhada (só é possível entre mulheres). 
 
Esse capítulo sobre as clinicas informa que deve ter 
um diretor técnico, a responsabilidade pelo descarte, 
pelo prontuário, de não transmitir doença, de usar 
várias técnicas, então, nem todo mundo precisa de 
fertilização em vitro, para algumas pessoas basta 
uma inseminação artificial. 
Imaginemos um homem oligoespérmico, então, o 
problema está na espermatogênese, ele produz pouco 
espermatozoide, e vai ser feito um processo de 
 
6 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
concentração, para o sêmen ter mais 
espermatozoide e já vai coloca-los dentro do útero, 
numa cópula natural, um homem ejacula na vagina e o 
sêmen fica no fórnice vaginal, na deflexão da mucosa 
vaginal, dentro do colo do útero, e aí os flagelados, 
devem fazer a corrida, eles que achem o caminho do 
orifício externo, do orifício interno, passe pela 
endocérvice, chegue no endométrio, chegar na tuba e 
talvez ter a chance de encontrar um óocito esperando 
por ele, e ai usa o acrossomo para conseguir 
dissolver o ácido hialurônico com a hialuronidase, a 
fim de conseguir o grande prêmio, é uma seleção. 
Precisamos às vezes de apenas uma inseminação 
artificial, fez a concentração, o enriquecimento do 
sêmen, jogou já lá no fundo do útero, perto do óstio 
da tuba e jogou bem na época em que se sabia que a 
mulher tinha um oócito, ou porque estava no período 
fértil ou porque usou citrato de clomifeno 
(estimulador de ovulação) e aí aumenta a chance de 
ter a procriação. Então nem sempre a receita é FIV 
que hoje em dia é feita com ICSI (injeção intra 
citoplasmática de esperma), então são microagulhas, 
microcânulas de vidro e através do microscópio é 
vista o oócito (gameta grande), vê a microagulha de 
vidro furando a membrana do o oócito e injetando um 
espermatozóide no citoplasma, isso que é ICSI, uma 
coisa muito mais pura, tecnológica, sintonia fina do 
que a de Luise Brawn em 1978. 
 
A doação de gametas (sêmen e o oócito) não pode 
ser remunerada, nos EUA remunera. 
Um doador não pode conhecer a identidade do 
receptor e vice-versa, a não ser que seja uma doação 
dentro da família, no caso da reprodução o útero de 
aluguel. 
O homem pode doar sêmen até 45 anos e para a 
mulher, o oócito pode ser doado até 37 anos. Deve 
ser mantido o sigilo, em situações muito escolhidas 
pode ver se há compatibilidade para doar medula 
óssea, ver o HLA, sistema principal de 
histocompatibilidade e deve ter registro, guardar 
tudo arquivado sobre a identidade dessas pessoas. 
 
Não pode usar o material de uma pessoa para 
fazer mais de dois nascimentos de crianças de 
sexos diferentes por cada área de 1 milhão de 
habitantes, isso é para evitar que um irmão e uma 
irmã biológicos, criados em famílias diferentes, 
acabem virando parceiros sexuais, o tabu do incesto. 
Uma clínica de reprodução assistida, então, só pode 
usar o material para fazer várias meninas ou vários 
meninos. 
Quem trabalha na clínica não pode ser doador. 
Existem as maneiras de escolher pelas 
características gerais do doador ou da doadora 
(idade, estatura, peso, cor da pele, textura do cabelo, 
formato do nariz), porque, se quer fazer reprodução 
assistida, se quer um descendente parecido com a 
pessoa. 
 
A criopreservação é cara, tem que ter limite para 
criopreservar. A chance de sucesso é maior quando 
criopreserva o embrião, ou seja, preservar o oócito 
não fertilizado tem menos sucesso, por isso é 
importante fazer logo a fecundação. Tem os 
problemas morais e religiosos, porque para muitas 
 
7 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
doutrinas, depois que fecunda já é gente, já tem uma 
alma, já tem um espírito, e se jogar fora já está 
abortando. Para muitas religiões, então, fazer 
reprodução assistida já é pecaminoso, porque está 
criando um ser humano, usando a função procriativa, 
como é pecaminoso ter a relação sem se abrir para 
procriação. 
Deve-se prever o futuro, o divórcio, por exemplo, 
quando o casal faz a encomenda, cria o embrião e 
congela, e se antes de implantar eles se divorciarem? 
Então, imagine, um casal sofrido, com problemas, um 
casal procurando ajuda para procriar e devemos 
colocar na mesa a pauta do divórcio, questionar o que 
pode acontecer se houver divórcio, morte. 
Quando o embrião é abandonado e o casal para de 
pagar, a clínica não tem a obrigação de manter 
com o nitrogênio líquido, com a pipeta. 
Quanto ao diagnóstico pré-implantacional e cuidado 
aqui com o risco de eugenia, procurar a raça perfeita. 
 
Quanto a doação uterina ou cessão temporária do 
útero ou gestação de substituição ou surrogacy 
(termo leigo é barriga de aluguel), devemos evitar o 
termo leigo porque é proibido no Brasil, uma vez que, 
não pode ter pagamento. 
Exatamente por não poder pagar, que o CFM diz que 
precisa ter parentesco consanguíneo até o quarto 
grau, ou seja, a mulher que vai gestar pelo casal tem 
que ser alguém próximo, isso é um jeito que o CFM 
achou de dizer que “deve ser por solidariedade”, deve 
ser por amor, não deve ter dinheiro envolvido, porque 
há uma proximidade suficiente para que essa mulher 
tenha ficado tocada, para que essa mulher queira 
ajudar aquela pessoa, se for alguém mais distante, vai 
ter cheiro de negociação. 
Contagem de um parente do quarto grau: deve subir 
até o parente comum mais próximo. Ex: de mim para 
meu tio, tenho que subir de mim para meu pai 1 grau, 
de meu pai para meu avô, o 2º grau, aí eu desco do 
meu avô para meu tio, 3º grau, todo tio é um parente 
do 3º grau, porque devemos subir até o avô para 
chegar nele. Não tem primo de segundo grau, porque 
todo primo já é de 4º grau. De você para seu primo, 
deve subir 1 grau até sua mãe, depois 1 grau até sua 
avó, desce para o tio/tia que é 3º grau e desce para o 
primo, 4º grau, logo, todo primo, já é do 4º grau. O 
filho do primo é um estranho, não é sua família mais. 
Quem pode doar o útero para gravidez: mãe, filha, 
irmã, tia, avó, prima. 
Quanto a consanguinidade: o prof só tem uma irmã, aí 
a irmã não pode ter filhos, a esposa do prof não pode 
gestar por ela, porque o parentesco do prof para irmã 
é do segundo grau (sobe dela para nossos pais 1 grau, 
desce dos nossos pais para o prof, segundo grau, 
então, todo irmão, é um parente do 2º grau. Só que o 
prof é homem, é consanguíneo da irmã, mas não tem 
útero, a esposa do prof, é parente da irmã do segundo 
grau, mas não por consanguinidade, é parente dela por 
afinidade, por casamento, a esposa do prof, não pode, 
ela tem um parentesco que é do grau certo, mas 
não é consanguínea, sendo muito restritivo, 
sobretudo hoje em dia, que as famílias são pequenas. 
 
O prof analisou um caso de um casal homossexual que 
queria ter como barriga de aluguel uma amiga, ele fez 
todo o heredograma e realmente nenhuma mulher 
possível queria ou não podia por questões religiosas, 
entre outras. Entrevistou os 3 juntos, para ver a 
renda, analisar se não estava havendo compra do 
útero da amiga, para ver se essa amizade era amizade 
mesmo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
INTRODUÇÃO 
• Segundo a Constituição Federal: 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial 
proteção do Estado. 
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa 
humana e da paternidade responsável, o 
planejamento familiar é livre decisão do casal, 
competindo ao Estado propiciarrecursos 
educacionais e científicos para o exercício desse 
direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte 
de instituições oficiais ou privadas. 
Esse parágrafo reflete que o casal, sem intervenção 
do Estado como era na China, é de livre decisão do 
casal, exclusivamente. O Estado brasileiro não pode 
se impor frente as decisões do casal, a única coisa 
que ele pode fazer é proporcionar os recursos 
educacionais e científicos. 
O recurso educacional, no caso, seria a orientação 
adequada diante da anticoncepção, o uso correto de 
camisinhas, anticoncepcionais orais, ou seja, 
fornecer adequada orientação para que haja o uso 
correto dos recursos contraceptivos. 
A família brasileira, então, tem o direito 
constitucional de decidir o seu tamanho (número de 
filhos). Lembrando que a maternidade e paternidade 
tem que ser responsável, que se possa prover. 
Segundo a LEI nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996 
que regula o 7º artigo 226 da Constituição 
Federal, que trata do planejamento familiar, 
estabelece penalidades e dá outras providências. 
CAPÍTULO I 
DO PLANEJAMENTO FAMILIAR. 
Art. 1º O planejamento familiar é direito de todo 
cidadão, observado o disposto nesta Lei. 
Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento 
familiar como o conjunto de ações de regulação da 
fecundidade que garanta direitos iguais de 
constituição, limitação ou aumento da prole pela 
mulher, pelo homem ou pelo casal. 
Parágrafo único - É proibida a utilização das ações 
a que se refere o caput para qualquer tipo de 
controle demográfico. 
Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante 
do conjunto de ações de atenção à mulher, ao 
homem ou ao casal, dentro de uma visão de 
atendimento global e integral à saúde. 
Parágrafo único - As instâncias gestoras do Sistema 
Único de Saúde, em todos os seus níveis, na 
prestação das ações previstas no caput, obrigam-
se a garantir, em toda a sua rede de serviços, no que 
respeita a atenção à mulher, ao homem ou ao casal, 
programa de atenção integral à saúde, em todos os 
seus ciclos vitais, que inclua, como atividades 
básicas, entre outras: 
1. A assistência à concepção e contracepção; 
2. O atendimento pré-natal; 
3. A assistência ao parto, ao puerpério e ao 
neonato; 
4. O controle das doenças sexualmente 
transmissíveis; 
5. O controle e a prevenção dos cânceres cérvico-
uterino, de mama, de próstata e de pênis. 
LAQUEADURA E VASECTOMIA 
Existem pré-requisitos para um homem fazer a 
vasectomia e para mulher realizar a laqueadura: 
• Homem ter mais de 25 anos; ou no mínimo, 2 
filhos vivos; 
• Mulher ter mais de 25 anos; ou ter 2 filhos 
vivos. 
• Quando há cônjuge deve-se ter a autorização 
do outro; 
*Adiante terão mais especificações desses 
requisitos. 
Essa lei deixa claro que o planejamento familiar é um 
direito de todo cidadão, tanto para limitar o 
tamanho da prole quanto para aumentar. 
Não se deve julgar nenhuma paciente que optou 
pelo aborto, ela está ali para ser acolhida e exercer 
o seu direito a assistência obstétrica, como qualquer 
outro usuário do SUS, devendo ser feito o necessário 
Contracepção Definitiva 
 
9 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
naquela situação de maneira adequada, pois ali não 
é penitência. Quando essa paciente tiver alta, ela 
deve ter uma prescrição de algum método 
contraceptivo, pois é nítido que ela não planeja ter 
filhos agora. A assistência deve se basear em um 
método curativo, de assistência, e não de forma 
punitiva, pois essa conduta é antiética, ferindo o 
artigo 5 da constituição. 
Embora no Brasil o aborto seja crime, ao atender 
uma paciente que cometeu tal ato, o médico não vai 
levar esta paciente a lugar algum (polícia, conselho 
tutelar, etc), pois quando a paciente conta que fez 
aborto em clínica clandestina, é sigilo médico, então 
não pode ser divulgado este prontuário, não 
podendo levar essas informações para outras 
autoridades. 
Existem algumas situações no qual o médico não é 
punido caso ele faça um aborto, são elas: 
1. Aborto piedoso – aborto de gravidez resultante 
de estupro (piedoso porque reconhece-se que a 
paciente foi vítima de violência, então é como se 
o resultado do estupro tivesse crescendo ali 
todo dia, e ao nascimento, nascer o fruto do 
estupro – embora algumas aprendam a amar, o 
estado entende que é um peso muito grande 
querer forçar que a paciente amar o fruto de 
uma violência). 
“Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é 
precedido de consentimento da gestante ou, 
quando incapaz, de seu representante legal” – Art. 
128 (não se pune o aborto praticado por médico) 
2. Aborto necessário ou terapêutico – quando não 
existe outro meio de salvar a vida da gestante, 
ou seja, ela tem uma doença que é incompatível 
com a gestação, como um transtorno de 
coagulação, uma arterite, por exemplo 
 
É interessante observar que a pena de quem ajudou 
é muito maior do que a pena da mandante (no caso, 
a gestante). A primeira diferença é que não vai ser 
detenção para essa mulher, mas sim reclusão 
(progressão de regime fechado para semi aberto e 
aberto), progredindo mais rápido, quando 
comparada à detenção. Portanto, a punição para o 
aborto é pior para quem faz, do que para quem 
encomenda. 
O código penal defende muito mais a vontade da 
mulher de gestar, do que propriamente a vida do 
feto (é o que entra menos em questão, o que menos 
importa) porque em qualquer um dos artigos, o feto 
vai morrer de qualquer jeito, e o que muda é se a 
gestante queria ou não interromper a gravidez, e 
se houve ou não ajuda para tal ato. Portanto, o que 
o código penal protege é o direito que aquela 
mulher tem de progredir ou interromper a 
gestação. 
Se a gravidez é resultante de estupro, a mulher tem 
que querer interromper a gestação, porque se ela 
for estuprada e quer transformar essa experiência 
em um ato de ressignificação e leva-la a diante, uma 
terceira pessoa não pode fazê-la interromper essa 
gestação contra a vontade dela porque foi resultante 
de estupro. Portanto, a mulher tem que consentir a 
interrupção da gravidez resultante de estupro. 
Não é obrigação da vítima de estupro procurar a 
polícia, pois, a partir do momento que ela denuncia, 
essa denúncia pode vazar e ela pode estar se 
vulnerabilizando à chamada violência secundária ou 
vitimização secundária, onde o fato de você ter sido 
vítima de um ato, aumenta a chance de você ser 
vítima novamente. Então por uma estratégia dessa 
mulher, ela prefere deixar isso quieto. 
O BO não prova nada, pois qualquer um pode chegar 
na delegacia de polícia e fazer um boletim de 
ocorrência, pois ele é uma história que se conta, não 
possui nenhuma prova, é algo narrado. Caso a vítima 
chegue na delegacia e informe que foi vítima de 
estupro, o delegado pede o exame de corpo de 
delito, mas este não prova estupro; o que este exame 
responde é se a examinada é virgem ou não, e caso 
não seja virgem, o perito avalia se ela foi 
desvirginada a tempos ou recentemente, e além 
disso, observa-se se houve conjunção carnal recente 
(exemplo: presença de sêmen), ou seja, nenhum 
desses comprova de fato que houve ou não estupro. 
Caso a paciente tenha tido uma relação consentida 
 
10 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
nos últimos 3 dias, deve-se colher o DNA do 
parceiro consentido, e deve-se separar o DNA deste 
e do suposto estuprador, além de ter o DNA da 
própria paciente, devendo também ser separado, 
portanto, é uma perícia complexa, cheia de detalhes. 
Portanto, em casos de vítimas de estupro que 
desejam interromper a gravidez, não é necessário 
BO para que haja interrupção da gestação, ela só 
precisa contar a história dela, ou seja, se ela chega 
na emergência e relata que foi vítima de estupro, ela 
tem direito de fazer o aborto naquela unidade sem 
problemas e sem polícia. Alémdisso, deve-se 
registrar tudo no prontuário e solicitar que a 
gestante também assine o prontuário, para que ela 
também se responsabilize pelo abortamento. Caso 
seja mentira, o médico não é culpado, pois ele foi 
induzido ao erro, entretanto, a mulher pagará pelo 
crime futuramente. Dessa forma, não pode pedir 
que a gestante prove que foi estuprada para 
realizar o aborto. 
 
Quando a vítima tem menos de 14 anos, a violência 
é presumida, ou seja, não precisa mostrar 
hematomas, escoriações, entre outros; por mais que 
a criança tenha gostado, tenha tido prazer, orgasmo, 
participado porque quis, o adulto da relação é 
considerado um estuprador, a violência é presumida. 
Tudo isso é para chegar ao conselho tutelar, IML, 
delegacia de polícia, e é para dar um jeito dos adultos 
protegerem essas crianças do seu molestador (a). Se 
dessa relação resultar uma gravidez, é o 
responsável pela menor que vai ter que tomar a 
decisão de interromper ou não essa gravidez (a 
menor não tem condições de tomar essa decisão). 
Esse é um exemplo de notificação compulsória, ou 
seja, em caso de suspeita, deve-se chamar 
imediatamente o conselho tutelar, pois se essa 
notificação não é feita, infere-se que o médico 
está se omitindo, e isso é uma infração ética 
perante o CREMEB, e um crime perante o código 
penal. 
A partir dos 14 anos aos 18 anos, não se considera 
mais estupro de vulnerável, pois de acordo com o Art 
123, o estupro é constranger alguém mediante 
violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal 
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique 
outro ato libinoso; quando ocorre isso em uma vítima 
maior de 14 anos e menor que 18 anos se chama 
isso de estupro qualificado, passando a pena ser de 
8 a 12 anos, ou seja, mais severa. Vale ressaltar que 
o sexo nesse caso foi consentido mediante a 
violência ou ameaça e ameaça de violência. 
 
No caso do aborto necessário, o que se espera é um 
relatório do obstetra e do especialista da doença 
(por exemplo, uma doença relacionada com coagulação 
– relatório do hematologista) separadamente, 
anexa-os no prontuário e essa paciente pode fazer 
o aborto e ninguém vai ser preso, porque nesse caso 
o aborto é prescrito, é terapêutica, preventivo. 
 
A primeira coisa é que só pode-se fazer a 
esterilização voluntária em pessoas que tem 
capacidade civil plena, ou seja, mais de 18 anos, 
sem ter qualquer deficiência mental. Além disso 
(alternativo – não precisa ter o dois), deve-se ser 
maior de 25 anos, ou ter mais de dois filhos (se 
tiver um desses dois, pode fazer). Além disso, é 
necessário aguardar o prazo de pelo menos 60 dias 
entre dizer que quer fazer a cirurgia e realizar a 
cirurgia, e esse prazo é para investir em 
aconselhamento com equipe multidisciplinar para 
tentar desencorajar, mostrando para o paciente que 
esse procedimento é definitivo, então se a pessoa 
se arrepender não tem como voltar (mesmo tendo 
como fazer, o SUS não oferece, e a taxa de insucesso 
é muito grande). Esse aconselhamento não é para 
essa pessoa ter mais filhos, mas é para que ela opte 
 
11 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
por outros meios contraceptivos que possuem 
reversão (DIU, pílula, injeção). 
Além disso, pode-se optar pela esterilização quando 
a paciente possui risco a vida ou a sua saúde ou do 
futuro concepto, testemunhado em relatório escrito 
e assinado por dois médicos (de preferência um 
obstetra e um especialista da doença que a 
paciente possui). Neste caso, é necessário também 
um termo de consentimento livre e esclarecido por 
escrito, precisa da concordância do conjugue (tem 
que ser de papel passado). A técnica cirúrgica nesse 
caso tem que ser laqueadura tubária ou vasectomia, 
não podendo ser métodos de retirada dos órgãos, 
cirurgia mutiladora (retirar útero, ovários). 
Além disso, não pode fazer a esterilização cirúrgica 
da mulher durante os períodos de parto ou aborto, 
exceto em caso de necessidade, por cesarianas 
sucessivas anteriores. Ou seja, foi proibida a 
laqueadura intracesárea, a não ser que se comprove 
que é arriscado operar essa mulher novamente, mas 
isso deve ser registrado no prontuário, essa 
dificuldade. 
 
Tudo isso que foi visto no artigo 10, se for 
descumprido, é crime, e o médico pode pegar de 2 a 
10 anos de reclusão. Quando é feita a laqueadura ou 
a vasectomia, é preciso notificar a autoridade 
sanitária, ou seja, esse é um procedimento de 
notificação compulsória. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
PROPAGANDA X PUBLICIDADE 
• Propaganda: faz referência a propagação de 
informações, de ideias, doutrinas, ideologia, 
visão de mundo. Informação de utilidade pública 
pra resolver problemas e encaminhar demandas. 
Sem intuito de lucro, venda, comércio, ganho 
financeiro. A atividade não é transformada em 
serviço e não se está tentando conquistar 
clientes. Altruísta. 
• Publicidade: relação com a parte financeira, 
finalidade lucrativa. Posicionar uma mercadoria 
no mercado consumidor, necessitando de 
clientes. Mix de marketing: Produto, preço, 
praça (área territorial para buscar a clientela) e 
promoção. Precificacão. 
Exemplo: a classificação de produtos, como A, B, C, 
D, E, é também uma forma de marketing, pois é 
direcionado aos tipos de classes. Anúncio pra classe 
E coloca no fundo do ônibus, para a classe A coloca 
no intervalo da Band News, ou numa página da 
revista veja. Ou seja, é necessário conhecer seu 
mercado consumidor, a praça, que é ditado pelo 
preço cobrado. 
Ex.2: Informações sobre o uso de máscaras, tipos, 
tempo de uso, como usar, como tirar, os cuidados, 
está se realizando uma propaganda. Contudo, se 
passo a dar marca, fazer com material especial, 
durabilidade e proteção maior, e também com preço 
elevado, já passa a ser publicidade. 
Obs: Desnatação é a relação de diminuição de preço 
dependendo dos grupos que consomem determinado 
produto. 
E QUANTO AOS MÉDICOS? 
Importante observar o site com Conselho Federal de 
Medicina: passo a passo. 
• Site CFM → serviços para o cidadão → Normas 
para o CFM/CRMs → Buscar RESOLUÇÃO → 
Selecionar estado: FEDERAL → Assunto: 
PROPAGANDA – buscar → Resolução nº 1.974 → 
1974/2011 já alterada. 
 
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA 
 
Estabelece os critérios norteadores da propaganda 
em Medicina, conceituando os anúncios, a divulgação 
de assuntos médicos, o sensacionalismo, a 
autopromoção e as proibições referentes à matéria. 
É conhecido pela comunidade médica, de forma 
errônea, como manual de publicidade médica. 
Deveria ser conhecido como manual de propaganda 
médica, como o Conselho, de forma correta, escreveu 
na ementa. 
O CFM não tem o purismo em usar o conceito correto, 
pois em alguns momentos fala em propaganda e outros 
em publicidade. Não deveria usar o termo 
publicidade. 
O MANUAL APONTA: 
Toda divulgação de assuntos médicos precisa ter 
cunho informativo, instrutivo. O médico é detentor 
privilegiado do conhecimento, e, portanto, ele deve 
propagá-lo, de forma a beneficiar a saúde das 
pessoas. Assim, deve falar, por exemplo, de higiene 
das mãos, dos alimentos. 
A medicina não pode ser exercida como comércio. 
O exercício mercantilista da medicina é antiético. 
Essa regra não é somente da medicina, pois OAB diz 
a mesma coisa sobre os advogados. O advogado, óbvio, 
pode cobrar sobre seu serviço, mas não pode dar 
caráter de produto. Não pode fazer promoção, 
precificação, cupom de desconto, por exemplo. 
Exercer medicina é uma honra, não apenas prestar 
serviço. Por isso que o valor da consulta é chamado 
de honorários médicos. O médico tem salário quando 
é contratado com carteira assinada, mas nunca se 
fala que está cobrando preço pela consulta, pois o 
honorário“é uma honra”. 
Divulgação de assuntos médicos 
 
13 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
O médico não deve se render as leis de mercado e 
ser visto como mero prestador de serviço. E seu 
serviço não deve ser visto como algo que tem preço. 
O chamariz do médico deve ser a propaganda boca 
a boca. Não deve fazer anúncio em revista, jornal, 
Instagram e outras redes. Apesar de ser isso que, 
infelizmente, vem acontecendo. O que deve chamar 
atenção é a sua qualidade de consulta, e o paciente 
irá recomendá-lo. 
Mesmo se achamos que o Conselho está 
desatualizado, a sua norma deve ser seguida até que 
haja outra. E sendo descumprido, o Conselho Federal 
deveria punir sim. Lembrando que a denúncia não 
pode ser anônima. 
O médico não pode se dizer pneumologista, se ele 
não fez residência ou fez prova de título. Não pode 
fazer carimbo, folhas, panfletos... Cabe punição 
pelo Conselho. 
O código de Ética Médica diz que a propagação de 
conhecimento médico tem que ser sóbria, técnica, 
informativa. Não pode ter sensacionalismo, 
mercantilização, autopromoção. 
Então, são os 3 pecados: sensacionalismo, 
autopromoção e mercantilização. 
MERCANTILIZAÇÃO: é dizer qual é o preço. Não 
pode colocar na divulgação o valor de um serviço, 
consulta. 
Não pode colocar uma tabela na parede com 
valores de honorários. O paciente que tem que 
perguntar. Lembrando que sabemos que isso ocorre 
em muitos lugares, mas não é o certo. E não tem muita 
denúncia, pois as pessoas não querem se indispor 
com o colega e, além disso, muita gente não 
concorda com essa postura. 
O judiciário diz que a relação médica paciente é 
relação de consulta. Eles pegam o código de defesa 
do consumidor e jogam no paciente, o que facilita a 
vida do paciente e dificulta a vida do médico. 
O conselho federal de medicina ainda é a última 
resistência tentando convencer que a medicina é 
nobre demais, que medicina não é prestação de 
serviço, não é relação de consumo. O paciente é uma 
pessoa precisando de cuidados, assistência, ele não 
é um cliente. 
Quando o indivíduo faz publicidade ao invés de 
propaganda, promoções, divulgação maciça em 
redes sociais, ele atribui à medicina valores de 
típicos de mercado. É isso que o conselho quer 
evitar. O conselho Federal não está querendo 
dificultar a vida do médico, não está querendo 
proibir o médico de ganhar dinheiro, de se divulgar 
para aumentar a sua base de pacientes, ele não é 
contra o capitalismo, porém ele sabe que tem dois 
lados, e não consegue levar um lado sem levar o 
outro. Então, se os médicos forem deixados livres 
para fazer tudo o que estão querendo (e o que muitos 
estão fazendo), a outra face da moeda é “medicina = 
prestação de serviço”, então pode jogar o código de 
consumidor aqui. 
Não sabemos dizer se vale a pena essa tentativa do 
CRM, porque a jurisprudência majoritária do poder 
judiciário já é nesse sentido, e provavelmente não 
vai voltar atrás. Então, talvez o Conselho Federal de 
Medicina esteja “teimando” em uma coisa que já 
perdeu. Com isso a gente entende o porquê dessa 
conduta do Conselho Federal de Medicina e os 
regionais, onde estão mantendo esse jeito de pensar, 
que para muitos parece ultrapassado, porém é uma 
tentativa de nos preservar, de dizer para não 
misturar a medicina com qualquer coisa. Seria a 
subjetividade da medicina artesanal que tem tudo a 
ver com propaganda boca a boca, tem tudo a ver 
com paciente satisfeito, elogiar o médico, e trazer 
mais pacientes, mas não tem a ver com redes 
sociais. 
O que não pode fazer? Mercantilismo. Divulgar 
preço, fazer promoção ou fazer parceria com outro 
estabelecimento comercial. Um exemplo do que 
também não pode fazer é vender uma consulta por 
um valor, e por fazer outro serviço, diminuir no valor 
total, como ex.: consulta por 100, e endoscopia por 
150, o valor não pode ser menor do que 250,00 só 
porque fará os dois juntos. Não pode trazer as 
condutas do comércio para dentro da medicina. 
Em relação ao SENSACIONALISMO, tem tudo a ver 
com exagero. Exemplo: Ellen comprou a primeira 
máquina de USG com Doppler colorido da cidade. Esse 
fato é verdadeiro. No entanto, ela não pode divulgar 
que comprou a primeira máquina da cidade. Isso é 
sensacionalismo. É como se, na visão do paciente, 
diminuísse os outros profissionais que trabalham 
 
14 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
com outras máquinas de USG que não são com Doppler 
colorido. 
A regra é a mesma para pessoa física e jurídica, 
ou seja, um médico não pode fazer esse tipo de 
divulgação e o estabelecimento também não pode. 
É proibido usar as expressões: exclusivo, único, 
primeiro... qualquer coisa que diga que só você tem, 
ainda que verdade seja, não pode, é 
sensacionalismo. 
Cada conselho regional de medicina tem o CODAME 
(comissão de divulgação de assuntos médicos). A 
CODAME oferece o serviço. A pessoa contratou um 
marqueteiro para fazer a peça de propaganda 
publicitária, ele fez podcast, fez áudio, fez 
outdoor, cartaz, panfleto, fez vídeo para passar 
no comercial da televisão. Não divulgar, submeta 
antes à CODAME. É errado submeter antes, o 
CREMEB oferece o serviço: apresenta a peça 
publicitária com antecedência, a CODAME analisa e 
diz se está Ok. Ou então a CODAME fala para 
mudar algo. Outra coisa é já ter pagado o 
marqueteiro e o CREMEB diz que não serve assim. 
Tentar negociar com ele. 
O CREMEB tem feito várias edições do seminário 
de propaganda médica. É um seminário que vai muito 
jornalista, muito comunicólogo, pessoal de relações 
públicas, com discussões com os conselheiros, 
presença de palestrantes para poder ter o 
treinamento, para quando um médico for contratar 
um serviço de um pessoal de mídia, que os 
profissionais saibam que fazer divulgação para 
médicos não é igual a divulgação para o shopping, 
para político numa campanha. Então, o CREMEB faz 
a parte dele. São eventos de inscrição gratuita, no 
site do conselho, em centro de convenções 
confortável, com certificado no final, coffee break, 
traz palestrante de fora, no fim tem um custo para 
o CREMEB para que as pessoas aprendam e façam 
certo. 
Nem todo mundo é convertido, nem todo mundo 
participa e quer aprender. E de fato não tem multa. 
O conselho regional de medicina não trabalha com 
multa sancionatória. Pode ter uma multa porque não 
pagou no dia, mas multa enquanto penalidade, 
enquanto sanção, o CREMEB não tem. A 4 punições 
são: advertência confidencial, censura confidencial, 
censura pública, suspensão do exercício e cassação 
do registro. O professor concorda que deveria ter 
punição financeira. E se as penas pela divulgação de 
assuntos médicos, forem penas privativas, é ótimo, na 
hora de delinquir, teve divulgação, a propaganda já 
propagou. E na hora da punição ninguém sabe que 
teve punição. Se pelo menos a censura fosse pública 
(a censura pública não é tão pública assim), é no diário 
oficial que ninguém lê, na revisa vida e ética que não 
é mais feita no papel, fica no site, aí é complicado, não 
é pública na prática. Sensacionalismo não pode! 
O que mais não pode? AUTOPROMOÇÃO! Você não 
se promove enquanto pessoa, promove a medicina 
enquanto atividade: “lave as mãos, beba água, 
pratique exercício físico, a H.pylori faz isso e 
aquilo...” se você vai ensinar as pessoas a fazerem uma 
salada que não venha com H. pylori é claro que acaba 
falando propaganda como exemplo do gastro, faz 
endoscopia, faz biópsia, mas não vai dizer isso. Se for 
gastroenterologista de verdade, então aparece com a 
tarja: médico gastroenterologista CREMEB ***, 
RQE (título de especialista). *O professor conta um 
caso particular*. 
Quantos RQE pode ter? 2! Tem uma lei antiga 
Decreto lei 4.113 de 42, do tempo de Getúlio Vargas 
que diz que só pode divulgar duas especialidades. 
Pode ter quantos quiser,mas só pode divulgar duas 
especialidades. 
Não pode divulgar especialidade que você não 
divulgou no conselho, não pode divulgar que recebeu 
premiações (“prêmio de médico do ano”) não pode! 
Qualquer coisa que fala que você é mais médico que 
os outros. Se for melhor, os pacientes vão perceber 
pelo atendimento. Em casos de colocar no 
consultório, o paciente já está no consultório, isso não 
interferiu na decisão do paciente, não está 
proibido. 
Questionamento: Subespecialidade não é o nome que 
dá, é área de atuação. Você é pediatra com área de 
atuação em neonatologia. As áreas de atuação 
também têm uma lista exaustiva, não é invenção. 
Não existe subespecialidade em doença 
neurodegenerativa, é neurologista com área de 
atuação X. Por exemplo: imagem em ginecologia e 
obstetrícia isso é uma área de atuação comum a 
radiologia e ginecologia. O professor pode fazer a 
 
15 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
prova de título e obter o título de imagem em 
ginecologia e obstetrícia. A área de atuação que é 
reconhecida pelo conselho e que registrou no 
conselho, aparece no site, pode divulgar. E se não 
tiver, não pode divulgar. 
Sobre Fellow: o professor é associado da associação 
nacional da medicina do trabalho (ANAMT), da 
FEBRASGO e da ABMLPM (associação brasileira de 
medicina legal e perícia médica). Nos EUA tem esse 
conceito de fellow que na verdade vai na clínica e faz 
um estágio. Fellow = estágio. O que pode ser 
divulgado é especialidade e área de atuação. Tudo 
que puder ser divulgado, o CREMEB carimba e 
coloca no site. Se não está no site e CREMEB 
devolveu dizendo que não registrou, não pode. 
Os 3 pecados são: autopromoção, sensacionalismo e 
mercantilização. Muitas pessoas vão fazer diferente 
do que a norma manda fazer. Mas serve para tentar 
proteger de uma classificação da medicina como 
relação de consumidor e fornecedor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
INTRODUÇÃO 
O tema da aula é a relação dos médicos com a 
indústria, a relação dos médicos com os fabricantes 
dos insumos que são prescritos. É importante a figura 
do médico enquanto prescritor, o poder de 
prescrever, o poder de emanar comandos levando em 
conta que o paciente não é obrigado a seguir tal 
orientação. 
Este poder que o médico tem de prescrever condutas, 
faz com que tenhamos um valor mercadológico 
grande, pois quando você prescreve o paciente 
gasta dinheiro comprando, e mesmo que ele não 
compre privadamente, ele gera uma demanda para 
o sistema público e o mesmo fará grandes compras 
no atacado, irá fazer licitações. Ex: O anti-
hipertensivo solicitado pelo médico, será comprado 
em quantidade pelo ministério da saúde, secretária 
estadual de saúde. 
Os médicos não assumem esse papel de ordenador 
de despesas, pra provocar gastos, estimular 
compras de forma proposital, mas a estruturação do 
sistema de saúde leva o médico a assumir tal papel. 
O médico solicita exames e esses exames tem um 
custo, então para fazer o exame, gera-se um mercado 
consumidor daquele e passa a ser interessante para 
um “testador” comprar uma máquina, investir no 
aparelho utilizado para tal. Esse investimento só é 
feito se houver retorno, se tiver muitas pessoas 
precisando desse exame e pagando ou particular ou 
por intermédio do plano de saúde. 
Abaixo nós temos a página do conselho federal de 
medicina na parte que aborda o código de ética 
médica. O capítulo VIII – Remuneração profissional, 
que será o enfoque da aula de hoje trazendo alguns 
trechos deste capítulo. É vedado ao médico: 
• Art. 58. O exercício mercantilista da Medicina. 
→ É vedado ao médico o exercício mercantilista, 
que foi visto na aula passada sobre a divulgação 
de assuntos médicos, propaganda médica. 
• Art. 59. Oferecer ou aceitar remuneração ou 
vantagens por paciente encaminhado ou 
recebido, bem como por atendimentos não 
prestados. 
• Art. 60. Permitir a inclusão de nomes de 
profissionais que não participaram do ato 
médico para efeito de cobrança de honorários. 
• Art. 61. Deixar de ajustar previamente com o 
paciente o custo estimado dos procedimentos. 
• Art. 62. Subordinar os honorários ao resultado 
do tratamento ou à cura do paciente. → O 
artigo 62 sintetiza um dos motivos para o 
conselho federal de medicina querer preservar 
essa “pureza” do exercício profissional sem 
publicidade e propaganda, sem usar as 
ferramentas típicas do mercado e comércio, 
visto que se isso fosse incorporado na prática 
médica, o médico teria que aceitar a obrigação 
de resultado, uma obrigação de fins, quando de 
fato, a obrigação do médico é de meios, 
entregar todos os meios a disposição para 
melhorar a situação do paciente, mas sem 
garantir de que isso será cumprido ao final do 
processo. Não dá pra garantir por exemplo, a 
cura, uma boa absorção entérica ao medicamento, 
etc. A questão de “satisfação garantida se não 
terá seu dinheiro de volta” é boa para o 
comércio, mas impossível praticar na medicina. 
• Art. 63. Explorar o trabalho de outro médico, 
isoladamente ou em equipe, na condição de 
proprietário, sócio, dirigente ou gestor de 
empresas ou instituições prestadoras de 
serviços médicos. 
• Art. 64. Agenciar, aliciar ou desviar, por 
qualquer meio, para clínica particular ou 
instituições de qualquer natureza, paciente 
atendido pelo sistema público de saúde ou dele 
utilizar-se para a execução de procedimentos 
médicos em sua clínica privada, como forma de 
obter vantagens pessoais. 
• Art. 65. Cobrar honorários de paciente 
assistido em instituição que se destina à 
prestação de serviços públicos, ou receber 
remuneração de paciente como complemento de 
salário ou de honorários. 
Relação Médico Indústria 
 
17 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
• Art. 66. Praticar dupla cobrança por ato médico 
realizado. 
• Parágrafo único. A complementação de 
honorários em serviço privado pode ser cobrada 
quando prevista em contrato. 
• Art. 67. Deixar de manter a integralidade do 
pagamento e permitir descontos ou retenção de 
honorários, salvo os previstos em lei, quando 
em função de direção ou de chefia. 
• Art. 68. Exercer a profissão com interação ou 
dependência de farmácia, indústria 
farmacêutica, óptica ou qualquer organização 
destinada à fabricação, manipulação, promoção 
ou comercialização de produtos de prescrição 
médica, qualquer que seja sua natureza. → Se 
você tem o direito de prescrever, você não pode 
ter o direito ou a prerrogativa de lucrar com 
isso. Seria um conflito de interesse, pois haveria 
o questionamento se o médico está 
prescrevendo tal coisa por que o paciente 
precisa ou porque quer ganhar, vender ou 
promover o produto. Essa desconfiança para com 
o médico, essa perda de fidúcia que não se pode 
aceitar, pois coloca em risco toda a integridade 
da medicina. 
Essa dependência financeira da farmácia com o 
médico, tanto da farmácia que vende o produto 
industrializado, como da farmácia que manipula o 
produto na qual faz a prescrição magistral (colocar 
item por item do que vai ser tomado e colocado na 
caixa do medicamento e o farmacêutico vai aviar a 
receita). Na maioria das farmácias mais modernas, o 
farmacêutica faz a dispensação, ele dispensa, 
entrega o produto já pronto, mas no caso dele 
precisar produzir a fórmula, isso chama-se 
“aviamento” da receita, que é uma formulação 
magistral. 
Um exemplo disso é o filme amor e outras drogas, na 
qual mostra muitas festas, uso de drogas e muito 
sexo, bancados pela indústria farmacêutica para que 
o médico se coloque como uma engrenagem no 
mecanismo maior que ele não consegue vencer e o 
único jeito é ele aceitar, se vender,ganhar dinheiro 
de outras maneiras, permitir ser corrompido pelos 
representantes farmacêuticos das drogas. Um outro 
exemplo disso são os congressos promovidos por 
associações médicas que também tem gasto de 
dinheiro com muito lazer e outras partes que não são 
voltadas para a questão científica, inclusive sexual. 
Além disso, também existem casos em que as contas 
do médico são pagas pelo laboratório, a exemplo de 
médicos que solicitam ao laboratório que custeie a 
inscrição do mesmo no congresso. 
Ainda dentro do congresso, temos os simpósios 
satélites que não fazem parte da grade oficial do 
congresso, como se fossem eventos paralelos, por 
exemplo: no horário de almoço, ao invés de você 
procurar um local de almoço na rua, mais distante, o 
laboratório banca o simpósio satélite que fornece 
marmita na entrada para estimular os médicos a 
participarem do simpósio que quase sempre é uma 
palestra promovendo um novo remédio, um novo 
exame, um novo equipamento. A isso, nós chamamos 
de uma espécie de “sugar daddy”, precisa-se de um 
“homem mais velho com dinheiro para te bancar, 
sustentar”, isso é praticamente uma prostituição. 
Art. 69. Exercer simultaneamente a Medicina e a 
Farmácia ou obter vantagem pelo encaminhamento 
de procedimentos, pela comercialização de 
medicamentos, órteses, próteses ou implantes de 
qualquer natureza, cuja compra decorra de 
influência direta em virtude de sua atividade 
profissional. → Essa é uma das proibições milenares. 
Focos de perturbação, um mercantilismo 
desenfreado → OPME – órteses, próteses e 
materiais especiais, também chamados de MATMED 
– materiais médicos. A natureza dos atos médicos 
realizados é muito vulnerável a esse aliciamento 
pela indústria de OPME ou MATMED. Outro 
exemplo: o médico que só opta e só prescreve 
determinada marca para realizar tal procedimento, 
sendo que muitas vezes, as outras marcas apresentam 
o mesmo resultado da marca escolhida, não 
justificando a escolha apenas de uma marca, 
portanto, isso será questionado pelo plano de saúde, 
visto que, fica a questão do médico está sendo 
bancado por aquele laboratório que fabrica a marca 
que ele sempre prescreve. 
Além disso, também não está certo, influenciar o 
paciente a comprar de determinada marca, pois 
mesmo que não seja o caso, fica a dúvida se o 
médico está sendo “financiado” pelo laboratório. 
Um outro exemplo é a técnica de histeroscopia 
 
18 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
quando começou a ser utilizada, na época havia 
encaminhamentos para os médicos que realizavam 
essa técnica, servindo como uma espécie de “funil” 
drenando a demanda dos colegas, além de serem 
médicos representativos desse procedimento 
também motivavam a compra de alças monopolares, 
bipolares, cautérios e outros materiais para a 
realização do procedimento que eram ordenadores 
de despesa e tudo em regime de hospital dia, 
diminuindo gasto com hotelaria, paciente não pernoita 
nos hospitais, pois fazia o procedimento e 2h depois 
já tinha alta, um excelente modo de ganhar dinheiro 
para o hospital dia, para a instituição e para o 
profissional que realiza a histeroscopia. Esses 
médicos, que já eram poucos, também atuavam como 
palestrantes promovendo o procedimento e os 
materiais utilizados no congresso, com passagens, 
hospedagem pagas pelo representante dos produtos, 
obviamente. Ou seja, os médicos iam para os 
congressos fazer uma propaganda de quem os 
financiava. Mas também é importante que o médico 
durante a palestra publicize o seu conflito de 
interesse no sentido de dizer que ele é “speaker” 
do laboratório X, pra mostrar que o mesmo não é 
desinteressado que você está ganhando por isso, para 
que o público que lhe assiste, possa escolher quanto 
de crédito ele vai lhe dar, se vai acreditar ou não na 
sua palestra. O remédio para o conflito de interesse 
é “disclousure” = revelação, o remédio é a 
transparência, você confessar os seus reais 
interesses por detrás daquela palestra. Isso não é 
feio, um exemplo disso é o prof. Ronaldo, que foi 
speaker (porta voz de grupo farmacêutico), e nem por 
isso ele é uma pessoa ruim. Por isso é preciso revelar, 
o ruim é esconder, dizer que tem várias formações e 
convencer as pessoas pelo currículo que tem, mas na 
verdade, você está convencendo o público porque está 
sendo pago para aquilo. Quando a realidade é 
exposta não há nada de errado, desde que seja na 
condição de formador de opinião com o conflito de 
interesse revelado. Mas, na prática médica com o 
paciente é proibido. Deve-se prescrever o 
medicamento com o nome genérico, e o paciente 
escolhe de qual marca ele deve comprar. 
• Art. 70. Deixar de apresentar separadamente 
seus honorários quando outros profissionais 
participarem do atendimento ao paciente. 
• Art. 71. Oferecer seus serviços profissionais 
como prêmio, qualquer que seja sua natureza. 
• Art. 72. Estabelecer vínculo de qualquer 
natureza com empresas que anunciam ou 
comercializam planos de financiamento, cartões 
de descontos ou consórcios para procedimentos 
médicos. → Antigamente era escrito cartão de 
desconto, mas houve uma alteração do 
dispositivo, os cartões de desconto foram 
retirados. 
Significado de cartão de desconto: o professor deu 
um exemplo do SINAM Bahia que são serviços 
médicos e odontológicos oferecidos em uma 
parceria entre a associação brasileira de medicina 
e a associação brasileira de odontologia. As pessoas 
que são prestadoras de serviços de saúde (médico ou 
dentistas), sendo elas pessoa física (profissional) ou 
jurídica (clínica) podem se credenciar ao SINAM que 
é o cartão de desconto. Com isso, a pessoa vai lá, se 
cadastra, o nome é colocado numa lista e o médico 
aceita fazer consulta particular pelo valor da 
CBHPM (classificação brasileira hierarquizada de 
procedimentos médicos) que é a antiga tabela da AMB 
(associação médica brasileira). Os procedimentos 
médicos particulares (endoscopia, fundoscopia) saem 
pelo valor dos honorários com uma parte de 
variação de 20% pra menos ou pra mais, para tentar 
descaracterizar isso como cartel. Para dizer que 
isso não é cartel (que é um atentado contra o domínio 
econômico), coloca-se que o custo de vida em Porto 
Velho, Rondônia não é o mesmo que em São Paulo, por 
isso, não poderia ter o mesmo preço. Espera-se que 
em São Paulo tenha um aumento de 20% e em Porto 
Velho tenha uma redução de 20%, isso levaria a uma 
diferença de 40% entre um lugar e outro. Isso é uma 
tentativa do CAD (Conselho Administrativo de 
Direito do ministério da justiça) falar contra 
qualquer atentado ao direito econômico (Trust, 
cartel, e etc.). 
Tudo que é oligopólio ou monopólio, o CAD é quem 
vigia. Eles alegaram que a antiga tabela da AMB era 
cartel, por isso ela teve que ser retirada. O motivo 
foi para evitar preço vil (valores muito baixos) nas 
consultas, ganhando no atacado (atender muita 
gente, e no final, o volume que vai dar resultado), que 
é como prostituir a medicina. Essa é a luta que toda 
corporação profissional tem contra o preço vil, que é 
 
19 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
uma prática de achatar tanto o valor dos 
honorários, que acaba 
desmerecendo/constrangendo a profissão. Portanto, 
a CBHPM é a sucessora da tabela da ABM, que tenta 
dizer que não é um cartel, só que é um cartão de 
desconto. 
Durante muito tempo, ficou uma queda de braço entre 
o CFM e a AMB, pois o conselho dizia: cartão de 
desconto não pode! E a própria associação tinha um. 
Ou seja, como é que o conselho iria perseguir os 
cartões de desconto com fins lucrativos e deixar o 
da associação médica existir? É por isso que houve 
essa alteração no artigo 72 que fala sobre cartão de 
desconto no código de ética médica. Antes eles 
incluíam cartões de desconto na proibição, e desde 
2019 não se incluimais. Só não pode planos de 
financiamento e consórcios. 
Significado de consórcio: É quando todo mundo 
precisa de um produto, mas todo mês tem um 
sorteio que decide quem usufrui. Exemplo: Uma 
consulta médica que custa 100,00 faz um consórcio 
com 10 pessoas, todo mês todo mundo paga os 10,00 
que vai dar o valor de 100,00 que paga a consulta do 
sorteado naquele mês, sendo que os outros também 
precisam da consulta, mas só um vai ter. Isso vai 
acontecer durante 10 meses até o último que sobrar 
do sorteio ser consultado. Isso acaba transformando 
a medicina num produto, e ninguém quer que isso 
aconteça, por isso é proibido. Então, o CFM desistiu 
de lutar contra as associações de medicina que tem 
em todos os estados e todas elas oferecem o 
SINAM. Com isso, o CFM deixou passar o cartão de 
desconto, não sendo mais uma coisa antiética. 
No entanto, ainda existem práticas que continuam 
sendo equivocadas, por exemplo: Roberto Luiz 
d´Ávila é um médico cardiologista catarinense, que 
foi presidente do CFM. Num congresso de ética 
médica aqui em salvador, ele contou que um 
propagandista, numa das visitas em seu consultório, 
doou cartelas de adesivos de descontos com a 
proposta do médico prescrever os medicamentos, e 
ao colar o adesivo na receita, o paciente comprar o 
medicamento numa rede de farmácia específica que 
ia ter esse desconto. Com isso, os pacientes iriam 
começar a procurar esse médico por conta do 
desconto no medicamento, e não por ser um 
profissional competente, isso tornaria uma 
mercantilização da medicina. O Dr. Roberto apenas 
pegava os adesivos e jogava fora, sem precisar 
discutir com o propagandista. Algum tempo depois, o 
propagandista perguntou ao médico o porquê dele não 
usar os adesivos. Então, o médico se perguntou como 
ele saberia dessa informação. Embora, isso seja um 
circuito fechado, o adesivo que se cola, a farmácia 
anota e tudo é repassado para a indústria, por isso o 
propagandista sabia que ele não estava usando os 
adesivos. Foi aí que o Dr, Roberto percebeu como 
tudo aquilo era manipulado. Ou seja, a indústria 
colocava alguns médicos na folha de pagamento, eles 
se acostumam a receber benefícios, criando uma 
dependência financeira daquilo, enchem o consultório 
de paciente, não por serem bons, mas por terem os 
adesivos de desconto. Isso acaba distorcendo o 
mercado de trabalho médico. O profissional acaba 
“comendo na mão” da indústria. 
É diferente de quando o laboratório alicia o 
paciente, por exemplo: o Liraglutida é um 
medicamento que, ao fazer o cadastro no site do 
fabricante, ganha-se desconto ao comprar na 
farmácia, basta dar o cpf. Com isso, o laboratório 
monitora a dose que o cliente utiliza pelo intervalo de 
tempo que ele compra. 
Marina comenta que ACO é a mesma coisa. Todo 
remédio que é de longa duração, anti-hipertensivo, 
inotrópico positivo para o coração, ATB não, porque 
você toma de 7-10 dias e acabou, não tem fidelização. 
Mas quando é um remédio que você tem a perspectiva 
de uso a longo prazo, a indústria quer saber quem 
usa, qual o perfil, usando de quanto em quanto tempo? 
Por exemplo, ACO, a maioria das usuárias estão 
emendando uma caixa na outra ou estão fazendo 
pausa para sangrar? Esse comportamento muda 
entre jovens e mulheres mais maduras? Será que as 
mulheres de 40 são de um tempo em que menstruar 
fazia parte do feminino, dá uma segurança de que 
ela não está gravida e ela prefere dar uma pausa 
entre as caixas para ter o sangramento e as jovens 
acham que a menstruação atrapalha, que são 
femininas mesmo com isso e preferem emendar uma 
caixa na outra? 
A indústria sabe disso tudo, o perfil da pessoa, poque 
você se cadastrou no site, preencheu o formulário 
dizendo sua data de nascimento, escolaridade, lucro 
 
20 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
de renda, bairro que mora. A pobre usa desse jeito, a 
rica usa desse jeito, a pouco escolarizada usa desse 
jeito e a doutora desse jeito. Sabe seu perfil e toda 
vez que você vai na farmácia e usa o cpf para pegar o 
desconto, o desconto é o custo que você paga pela 
informação que você está devendo. Você é 
informação, o desconto que está cedendo não é 
caridade, estamos sendo remunerados para 
aceitarmos a informação. 
Assim, eu me aproveito do desconto, mas eu sei que o 
laboratório que está se aproveitando de mim. Se eu 
não estou pagando é que o produto sou eu, quando 
consumo algo de graça, sou eu que estou sendo 
consumido. 
Eu sei que o laboratório bota o valor na etiqueta maior 
do que precisava, o custo de produzir o remédio mais 
uma margem de lucro não daria aquilo tudo, ele vende 
por aquele preço porque sabe que tem gente disposto 
a comprar. Então, ele está dando desconto sobre um 
valor que já está me cobrando. Economicamente, para 
mim vale a pena. 
Como tudo que compro coloco CPF para fim de nota 
fiscal, eu nem sei se por acaso o laboratório 
conseguiria meus dados de outro jeito, mesmo se eu 
não me cadastrasse. Bem capaz de conseguir 
monitorizar isso nas farmácias. 
Pergunta: e quando o desconto é pelo plano de saúde 
é o plano pegando informação também? 
Resposta: Sim, o plano quer que você gaste menos, 
que adie o tratamento, que você use o remédio de 
forma correta para evitar LOA, porque se tiver 
LOA você vai gastar mais do plano com 
internamento, com exame sofisticado, com cirurgia. 
Então é do interesse deles que você tome os 
remédios direito, por isso o desconto, para que use 
menos o plano. Para você é vantajoso, você quer evitar 
LOA, mas tudo isso é monitorado. O povo sabe se você 
está indo fazer a consulta, que você não foi, como vai 
ter a receita para comprar o remédio e se sua dose 
estiver errada? E o plano de saúde lança uma 
campanha linda, não deixe de marcar seus exames 
médicos, vá lá reavaliar. Ele não quer seu bem, ele 
quer economizar. Se você fica usando o mesmo 
remédio por anos sem olhar a dose ou marcar 
exames, você pode estar usando subdose ou 
superdose, tá tendo LOA e precisando de um exame 
mais sofisticado, internação e cirurgia, vai gastar 
dinheiro. 
Existem aplicativos que estão processando isso, para 
onde o dinheiro foi, o comportamento do paciente e 
do médico, nada escapa. 
Quando você pensa que está sendo autônomo, que 
está tomando decisões da sua cabeça, você está 
fazendo o jogo que o sistema quer. 
LINK: https://cem.cfm.org.br/#Cap8 
RELAÇÃO MÉDICO E INDÚSTRIA FARMACÊUTICA 
RESOLUÇÃO CFM Nº 1.595/2.000: 
 
• Proíbe a vinculação da prescrição médica ao 
recebimento de vantagens materiais oferecidas 
por agentes econômicos interessados na 
produção ou comercialização de produtos 
farmacêuticos ou equipamentos de uso na área 
médica. 
• Determina que quando os médicos forem 
proferir palestras, escrever artigos, 
divulgando ou promovendo um produto 
farmacêutico ele declare quais são os agentes 
financeiros que patrocinam suas pesquisas, que 
bancam seu laboratório, que pagam seus 
insumos, que bancam suas viagens de 
apresentação, tem slides muito chiques com 
movimento, e eles ainda tem que indicar a 
https://cem.cfm.org.br/#Cap8
 
21 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
metodologia que entregaram e referir a 
literatura que usaram. A mesma coisa para 
editores médicos de periódicos. 
Então, uma resolução que pega não somente o 
médico assistente, no consultório, no centro 
cirúrgico, mas ainda o médico no papel de 
palestrante, promotor, cientista, autor de artigos 
científico, editor de periódico. 
Professor relata um exemplo vivido: 
“Numa cidade do interior da Bahia, um médico 
oftalmo tinha união estável com uma dona de óptica. 
O cara sendo prescritor de lente, convivia com uma 
dona de uma óptica que vendia lentes. Isso não é 
problema, não é antiético. Romperam, ele não ficou 
solteiro por muito tempo, mas por coincidência casou 
coma dona de outra óptica. A filha advogada da 
primeira, denunciou ele no cremeb por associação com 
óptica, como ela provou? Que documentos colocou no 
processo? 
O instagram da nova companheira, a atual fazia 
eventos para divulgar a óptica, no status de marido o 
médico participava dos eventos, ele saia nas fotos e 
na descrição estava seu nome. Aí ele está na condição 
de marido, parceiro ou de prescritor? Se você não 
consegue provar que ele indica que os pacientes 
comprem ali, não tem nada errado e isso devemos 
averiguar. 
Primeiro problema, a advogada fotografou e postou 
que a clínica do médico era em uma rua e em frente 
era a óptica. Eu não controlo o saneamento da cidade, 
eu escolhi botar meu estabelecimento em um lugar, 
eu posso impedir que comerciantes comprem 
estabelecimentos pertos? Não, eu não tenho nada 
com isso. 
Existem também denúncias do CREMEB por questões 
políticas, para sabotar. Não pensem vocês que todas 
denúncias feitas no conselho é republicana, é pela 
ética, pela moral, não é, tem gente querendo 
instrumentalizar o CREMEB para atingir um indivíduo. 
Foi esse caso, não foi encontrada nenhuma prova que 
comprovasse a denúncia. 
Segundo caso: 
Uma clínica de oftamo grande de SSA demitiu uma 
oftalmologista. Ao ser demitida, ela pegou vários 
email-s trocados e denunciou no CREMEB. Uma coisa 
que a clínica fez foi levar todo mundo para uma 
churrascaria custeado pelo fabricante de lente 
intraocular. 
O representante fez uma apresentação e foi lançada 
a campanha “a cada 10 pares de lentes que você 
indicasse, você ganhava um par de lentes de graça”, 
ou seja, meu paciente número 11 vai pagar pela lente 
e eu que vou estar ganhando, porque eu ganhei a lente. 
Olha a parceria, a interação, dependência econômica, 
o esquema. E tinha tudo documentado em email-s 
trocados. Os médicos eram estimulados a aderirem a 
campanha. 
Estava bem claro o exercício da medicina em 
interação e dependência econômica de fabricante 
de insumo. 
Cuidado com farmácia de manipulação, com 
fabricante de insumos, tudo que você tem o poder 
de prescrever, você não deve ter vantagem. Vai 
comprar de que marca? Não sei, quem regula o 
mercado são as instituições responsáveis, eu sou 
apenas médico. 
Quando muito, em casos de insucesso, podemos 
aconselhar o paciente acerca do que é descrito sobre 
determinada marca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
INTRODUÇÃO 
Uma das coisas que que foi conversada em aulas 
anteriores é sobre o corpo de servidores e é sabido 
que tem o conselheiro que é eleito e o que é indicado 
pela associação médica, são 40 eleitos e 2 indicados 
pela associação médica e eles ficam lá em um 
mandato de 5 anos e tomam as decisões no dia a dia. 
Entretanto existe um corpo de servidores, inclusive 
que vivem ali no meio termo, tem características de 
trabalho celetistas, de carteira assinada, típico da 
iniciativa privada, eles têm FGTS na caixa 
econômica federal, mas eles também têm 
características de serviço público, de servidor 
estatutário, porque eles fazem concurso, eles são 
estáveis. Então eles têm características do privado 
e do público ao mesmo tempo. 
Então existe um corpo de técnicos, de analistas. 
pessoas concursadas que fazem as atividades de 
recepção, portaria, secretariado, cartório, essas 
pessoas inclusive para as finalidades que fazem ali 
tem fé pública, quer dizer, se chega uma pessoa com 
documento original e com uma xeróx, ele olha, vê 
que está igual, devolve o original e bate o carimbo 
e assina, ele deu fé pública aquele documento. Então, 
claro, somente para as questões da própria 
repartição, não é que o Cremeb possa substituir o 
cartório, é só se você quiser autenticar uma cópia 
para uma sindicância, algo do próprio cremeb. O 
cremeb pode autenticar uma cópia e ter fé pública 
para isso. 
Todos os atos burocráticos são resolvidos pelo setor 
da licitação, como ele é uma autarquia, o CREMEB não 
pode comprar nada de qualquer jeito, tem que fazer 
uma licitação, fazer um chamamento público, tem 
modalidade que a administração pública usa da lei, 
tem toda uma lei dizendo como que o serviço público 
pode contratar serviço e comprar mercadorias. 
Também tem a parte jurídica, que são 2 ou 3 
advogadas que recebem por PJ, é uma situação 
complicada de entender, elas não são concursadas, 
mas não são prestadoras de serviço externo, o 
CREMEB não contrata um escritório de advocacia 
e renova de vez em quando, esses advogados estão 
lá dentro o tempo todo, até trabalha em regime de 
dedicação exclusiva, ou seja, só trabalha pro 
CREMEB, se dedica muito, mas fica aí nessa 
gambiarra de ser pago por PJ como prestador de 
serviço avulso, quando, na verdade, é uma pessoa que 
está lá enraizada, consolidada, participante. 
Existe também o médico fiscal que é concursado 
servidor, não é mal remunerado e não vão ser 
demitido nunca, a não ser que faça uma besteira 
muito grande. O CREMEB tem 3 médicos fiscais e 
eles trabalham no departamento de fiscalização e 
fazem esse serviço de maneira bastante 
tecnológica, automatizada. 
Lei 3.268/1957: Essa lei cria os conselhos de 
medicina e diz que eles são supervisores da ética 
médica. 
• Art. 2º O conselho Federal e os Conselhos 
Regionais de Medicina são os órgãos 
supervisores da ética profissional em toda a 
República e ao mesmo tempo, julgadores e 
disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes 
zelar e trabalhar por todos os meios ao seu 
alcance, pelo prestígio e bom conceito da 
profissão e dos que a exerçam legalmente. 
Supervisor, julgador e disciplinador = os 3 verbos 
que dizem o que é que um conselho deve fazer. 
Julga → parte sindicante. No caso concreto, o 
médico pode ter feito alguma coisa errada e ele 
vai ser punido ou então inocentado. 
Disciplinador → legisla. Quando os conselhos de 
medicina fazem pareceres, resoluções, que nos 
obrigam a nos comportar de uma certa maneira. 
Supervisor → é o lado que vai fazer a fiscalização. 
 
Fiscalização 
 
23 
Beatriz Machado de Almeida 
Deontologia e Ética médica – 8º semestre 
Uma notícia do site do CFM de novembro de 2017. 
“Manual de vistoria e fiscalização de Medicina 
atualiza regras e inclui novas instituições de 
saúde”. 
Uma coisa importante da fiscalização é que FISCAL 
TEM PODER! Podem aplicar multa, podem 
interditar um equipamento, podem passar uma 
licença, então é muito poder disciplinador nas mãos 
de uma pessoa. 
O fiscal vai com um tablet e vai preenchendo um 
formulário em que o próprio diz o que é conforme 
e o que não é conforme, é uma maneira de 
padronizar e garantir que o fiscal tenha pouca 
margem de uma nova arbitraria. 
Avedis Dobanedian é o papa da avaliação em saúde, 
ele foi o primeiro a criar uma série de textos e uma 
bibliografia a respeito da avaliação do serviço de 
saúde. Ele plasmou uma forma de avaliação que é um 
tripé: estrutura, processo e resultado. Então, na 
tipologia antiga você precisa primeiro ter uma 
estrutura adequada, ou seja, mobiliário, espaço 
físico, algo que seja possível fazer uma boa consulta 
médica. A estrutura também tem a ver com recursos 
humanos, para você tocar um plantão de clínica geral, 
que tem um certo perfil de atendimento, então em 12 
horas de plantão você tem 50 pacientes para ser 
atendido, são todos adultos, o que mais tem é pico 
hipertensivo, hiperglicemia etc. Dessa forma, qual o 
perfil de atendimento? Você vai ter enfermeiro para 
fazer classificação de risco na admissão? Você pode 
fazer um plantão desse funcionar com um plantonista 
médico apenas ou precisa de dois, ou até de três? 
Precisa de uma ambulância à disposição com 
motorista durante o plantão todo (pois existe a 
possibilidade de transferir para uma unidade de 
maior complexidade)? Tudo isso é estrutura; 
estrutura não é só o físico, não é só equipamento,

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