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TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 1 | 30 TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 2 | 30 Bioética A bioética vai além apenas do campo relacionado à saúde, a bioética entra no campo da filosofia, sociologia, antropologia, da pedagogia. Então, a gente começa a perceber que os ensinamentos da bioética não vão se estender apenas à nossa área de atuação, mas é necessário também que a gente se abra para discutir assuntos relacionados à bioética com outros campos do conhecimento. Esse debate começa a acontecer a partir da década de 40, mas começa a ter seu “boom” na década de 70, onde o termo é fundado (no final dos anos 60 e início dos anos 70) por Van Rensselaer Potter que começa a trazer vários questionamentos em relação à bioética. Até então, tudo o que estava sendo tratado no campo da saúde, era com o termo ética e não com a bioética. Pergunta: “O que aconteceu historicamente nessa época para que o assunto “bioética” começasse a ser falado?” Respostas: “Guerra Fria”; “Pós Guerra”, “avanços científicos durante a Guerra Fria”; “experiências científicas feitas durante a guerra contra o ser humano pelos nazistas e russos”; “nos campos de concentração houveram muitos estudos e pesquisas em vida” → momento histórico que trouxe preocupação sobre até que ponto seria ético conduzir pesquisas, estudos, avanços científicos relacionados à vida humana. Vão ter questões relacionadas aos avanços científicos, tecnológicos, à falência dos valores universais, conflitos e inseguranças, ... Chat: “Só tem problema ético se alguém morre e não deveria” → a bioética vai cuidar de todos os dilemas que surgem diante da nossa atuação como profissional, relacionada à vida do ser humano. O debate entre as ciências Os avanços científicos e tecnológicos A falência dos valores universais Van Rensselaer Potter (1970) Os conflitos e inseguranças O fenômeno cultural TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 3 | 30 Então, todos os assuntos relacionados à vida dos seres humanos, à vida das pessoas, acabam se tornando um dilema, e esse dilema é sugado imediatamente para o campo da bioética para que a gente possa criticar, refletir, chegar num consenso sobre esse dilema. Sabemos que na 2ª Guerra tivemos muitos avanços científicos, porém, muitos desse avanços foram realizados de forma a não contar com consentimento do objeto de estudo (que eram os outros seres humanos) → infelizmente, de acordo com algumas ideologias, tinham pessoas que consideravam determinadas nacionalidades, determinados traços étnicos como inferiores e considerando esses traços inferiores, as pessoas que se consideravam superiores, tinham algumas práticas desumanas. A gente sabe que não existe essa coisa de humanizar a Medicina, porque ou a Medicina é humana, ou não é Medicina. Até um tempo atrás devido a esses processos de preconceito, de xenofobia, vivíamos uma época em que se acreditava que poderia existir uma raça superior, uma raça pura, e, portanto, todos aqueles que não fossem dessa raça, seriam descartados, seriam desumanizados, seriam tratados como animais, porque eles sujariam a raça humana e por causa disso, essas pessoas eram utilizadas como cobaias de alguns estudos. Então, por volta de 1946, quando a guerra se encerra, vamos ter o tratado sobre essas questões que começaram a ser discutidas e repensadas, que é o Tratado de Nuremberg → esse tratado é importantíssimo porque vai colocar como princípio da atuação médica o consentimento do paciente, ou seja, para qualquer ação médica, era necessário que o paciente tivesse esclarecimento do caso, do tratamento, o que iria acontecer durante o procedimento e no pós tratamento, para que então, de posse dessas informações, ele pudesse decidir, de uma forma livre e esclarecida se ele aceitaria ou não aquele tratamento. Quando se fala de consentimento, não significa que o paciente vai decidir qual o tratamento o médico vai fazer com ele, porque quem estudou pra isso, quem sabe isso, é o próprio médico, mas o paciente vai ter a decisão de aceitar ou não aquilo que o médico está propondo pra ele. Com os avanços tecnológicos, começamos a sair de uma era mecanicista pra uma era tecnológica. Então, o século XX é muito importante pra nós, porque além de vários avanços científicos, tivemos avanços tecnológicos → podendo fazer outros experimentos que envolvesse não só o ser humano e as práticas médicas, mas também que associasse o ser humano, as práticas médicas e tecnologia. Porém, tudo aquilo que propõe um progresso, uma inovação, tem seu lado positivo, mas também seu lado negativo. Os gregos já iriam dizer isso lá atrás → Aristóteles e Platão já diziam que um dos pontos que poderiam prejudicar a ética humana, seria a questão da mercantilização (o comércio), porque o comércio poderia causar a fragilidade do caráter da pessoa. Importante pensar: esse avanço científico e tecnológico vai ser bom pra todo mundo ou só pra quem tem dinheiro? Nossos valores são colocados em xeque a todo momento → imagine trabalhar com uma coisa da qual a gente não tem vontade nenhuma, uma coisa da qual a gente não se vê TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 4 | 30 interessado naquilo, que tédio seria → os valores começam de fato a caírem por terra → isso também começa a gerar muito conflito interno e muita insegurança em relação à sua própria escolha profissional. A bioética vem para estudar exatamente esse fenômeno cultural → a partir do momento em que temos avanços científicos e tecnológicos, a população começa a ter acesso a muitas informações. Michel Foucault foi um filósofo francês que dentre tantas coisa, estudou o biopoder (nós, como estudantes já possuímos um poder só pelo fato de falarmos que estamos em uma faculdade de Medicina) → Foucault aponta que não é atoa que as pessoas tratam os profissionais da saúde dessa maneira → na visão das pessoas, os profissionais da saúde possuem um poder sobre a vida e sobre a morte, e a Medicina devido aos avanços, conseguiu prolongar um pouco mais a vida humana, ela conseguiu ter controle sobre algumas doenças que até um tempo atrás eram tidas como um atestado de óbito → e o profissional é visto como aquela pessoa que vai dizer “espere aí, você não precisa morrer disso, nós temos esse tratamento”, e com isso, mesmo que o tratamento seja um pouco difícil, doloroso, a pessoa sobrevive → com isso, nossa palavra começa a ter uma importância muito grande para aqueles que nos procuram. A bioética está fundamentada nas relações. A relação do profissional com o restante da sociedade → tanto que aquele juramento que fazemos na formatura, ele é feito de frente para o público, porque aquele juramento é um compromisso com a sociedade que está diante de nós e que está testemunhando aquilo que estamos prometendo. Poder x biopoder (conteúdo extra) ➢ Poder: tem como alvo o corpo de cada indivíduo. ➢ Biopoder: dirige-se ao corpo das massas, ao conjunto da população e ao seu local de convívio. ➢ O objetivo do biopoder são os fenômenos coletivos, como os processos de natalidade, longevidade, mortalidade, fecundidade. A Bioética das relações O ser humano se constrói A dimensão social O valor (preferência) A moral (sistema de valores) A ética (análise e reflexão crítica dos valores) TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 5 | 30 ➢ São acionadas afim de garantir a resolução e o controle dos problemas da coletividade. ➢ Muitas instituições, além do Estado, são mobilizadas: instituições de ensino, meios de comunicação de massa, hospitais, etc. ➢ Introjetamos esse discurso como verdades absolutas e não como convenções históricas socialmente estabelecidas. ➢ O poder sefocará na preservação da vida enquanto um fenômeno natural, biológico. E aqui a visibilidade do poder se dará por meio da manutenção da vida, controlando casos de crise que ponham a vida em risco. ➢ A população passa a fazer parte de um “conjunto de processos” que será preciso administrar no que ela tem de “natural”: clima, intensidade do comércio, leis, hábitos, valores morais e religiosos, etc. Aparece ainda como o desejo dos indivíduos, isto é, é preciso deixar o desejo fluir dentro de certos limites do jogo espontâneo – e agora o problema de quem governa não é mais limitar o desejo, mas de saber dizer sim a ele. Biopoder é a visão que Michel Foucault tem dos profissionais da saúde em relação à sociedade. A profissão de um médico, em termo de profissão mesmo, é a mesma coisa da profissão de um engenheiro, de um professor, de um cozinheiro, mas por que que a palavra de um médico passa a ter peso maior que a palavra de um engenheiro, de um professor de um cozinheiro? É justamente devido à essa crença social de que o fato do médico estudar sobre questões de vida e de morte, dá a ele uma sabedoria superior às demais profissões. Então o biopoder seria exatamente essa crença social de que os médicos possuem uma sabedoria superior. Todo conhecimento se limita àquilo que foi estudado. A bioética é construída → ninguém nasce ético. Nós nascemos e vamos nos humanizando com as relações nas quais fomos inseridos. Começamos a perceber que nossas noções éticas possuem uma dimensão social. As nossas relações com a sociedade são fundamentais para que a gente compreenda vários significados. Nossos valores são relacionados às nossas preferências. Caso clínico: “Um menino de 9 anos de idade chamado Youssef Camp que morava no interior de Washington comeu legumes em conserva que havia comprado de um vendedor de rua, logo depois de comê-los ele teve convulsões e desmaiou na calçada, uma ambulância o levou para o hospital mais próximo, onde ele passou por uma lavagem gástrica. Os testes revelaram que os legumes continham vestígios de maconha e pó de anjo (fenciclidina), o menino sofreu de depressão respiratória severa e ficou inconsciente BIOPODER • Biopoder é uma forma de governar a vida. • Foi posta em prática no Ocidente a partir do século 17 (FOUCAULT, 2012). • Divide-se em dois eixos principais: disciplina, o governo dos corpos dos indivíduos; e biopolítica, o governo da população como um todo. O biopoder é um mecanismo que surge para um controle diferente do disciplinar. Porque nesse momento o sujeito já está disciplinado e o controle se exerce sobre grandes grupos já adestrados que formam uma sociedade. Na verdade, a todos esses mecanismos, Foucault denomina de sociedade de controle. TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 6 | 30 sem poder respirar por um intervalo de tempo desconhecido, a equipe de emergência o fez voltar a respirar colocando-o em um respirador artificial, mas não conseguiu que ele recobrasse a consciência e respirasse adequadamente por conta própria. Os médicos concluíram que sua função cerebral havia sido danificada de modo irreversível e que não havia possibilidade de recuperação → eles poderiam simplesmente tê-lo declarado morto e então desligado o respirador, mas a situação, logo se tornou ainda mais complicada: dois dos neurologistas presentes estavam convencidos de que o cérebro do paciente estava totalmente morto, mas um deles acreditava que ele apresentava função cerebral secundária, assim, eles não puderam declarar o paciente como morto com base na perda da função cerebral. Naquele momento, a questão era a seguinte: o que eles deveriam fazer? O paciente ainda estava vivo, mas permanentemente inconsciente, respirando apenas porque estava ligado a um aparelho de ventilação. Os médicos disseram que não havia mais nada que pudessem fazer, exceto deixar o aparelho funcionando talvez indefinidamente e manter o menino em estado vegetativo persistente ou permanente. A manutenção do estado vegetativo mais longa que se tem notícia durou mais de 37 anos. Os pais eram mulçumanos, membros da Nação do Islã e acreditavam firmemente no poder de Ala, eles tinham esperança de que Ala iria intervir se fosse sua vontade, e que era função dos médicos dar essa oportunidade ao Deus. Como os médicos deveriam agir?” A bioética, em um caso desses, vai levar em consideração todos os dados concretos; tudo aquilo que a área médica conseguiu evoluir, apontar, relacionar, para que pudesse ser feito um relatório, um laudo da situação atual. E por outro lado, tenho a crença religiosa, uma vez que no meu exercício profissional tenho que respeitar o consentimento do paciente, e uma vez que o garoto tem 9 anos, o consentimento parte de seus responsáveis legais, os responsáveis legais afirmam que tem que ser dada oportunidade para que Deus se manifeste e que cumpra a vontade que é dele → se o menino tiver que viver, Ala permitirá que ele viva. A ética é justamente o momento em que vamos analisar e refletir criticamente os valores até então colocados por esse sistema social no qual estamos inseridos. O desenho do caráter A coerência ou não entre os atos A responsabilidade A consciência sobre o conflito O desenvolvimento emocional e racional TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 7 | 30 Não tem como a gente avaliar as situações bioéticas sem nos comprometermos com nossos valores. É essa ética que vai ser responsável pelo desenho do nosso caráter. Como se declara a morte de alguém? A partir do momento em que declaro a morte, declaro também o momento em que a vida começa. A bioética tem uma ligação muito forte com duas áreas do conhecimento: Medicina e Direito. A bioética, por ser essa atitude reflexiva, ela vai ajudar a refletir sobre, mas o que vai determinar se aquilo é legal (no sentido de lei) ou não, é o Direito. A bioética está extremamente ligada ao estudo sistemático da conduta humana. Declaração Universal dos Direitos Humanos garante às pessoas direitos que independente da cultura regional que aquele país, aquela região tenha, é necessário que se respeite essa declaração. E aí a humanidade começa a ser colocada no centro. "(...) o estudo sistemático da conduta humana, na área das ciências da vida e dos cuidados de saúde, quando se examina esse comportamento à luz dos valores e dos pincípios morais." Warren T. Reich Segunda Guerra Mundial Tribunal de Nuremberg (1940) Código de Nuremberg (1946) Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) A humanidade como inspiração TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 8 | 30 Os avanços tecnológicos e científicos começam a ser valorizados respeitando a humanidade, o status do ser humano enquanto pessoa → ao ser declarado uma pessoa, esse ser humano passa a ter direitos que não podem ser negociados nem substituídos por outros que possam prejudicá-los. História: Tuskegee, no início do século XX, era uma pequena cidade do Alabama com uma população essencialmente rural, analfabeta e negra. Em 1932, sob os auspícios do US Public Health Service (PHS), começou em Tuskegee um estudo sobre Untreated Syphilis in the Negro Male. Durante 40 anos, até 1972, 400 homens negros com sífilis seriam mantidos sem tratamento. Pelo menos 100 morreriam comprovadamente por complicações da doença. Em julho de 1972 a história de Tuskegee apareceu no New York Times. O secretário da Saúde da Administração Nixon e um senador democrata da Comissão de Saúde confessaram-se “chocados”. Em novembro, o projecto foi declarado “não ético” e foi encerrado. Princípios fundamentais da bioética: respeito às pessoas, beneficência e justiça. State School Willowbrook - Nova York (1960) Tuskegee - Alabama Relatório de Belmont (1978) Respeito às pessoas, beneficência e justiça Consentimento informado, análise de riscose benefícios e seleção de sujeitos em pesquisa CONSTITUIÇÃO FEDERAL - BRASIL (1988) • Valor e dignidade da pessoa humana "Resolução incorpora sob a ótica do indivíduo e das coletividades, os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica aos sujeitos da pesquisa e do Estado" (BRASIL, Conselho Nacional de Saúde. 1996, p.21.802) TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 9 | 30 Falar de saúde individual, não é falar de saúde coletiva. A saúde um não quer dizer a saúde do todo → as condições sociais e econômicas são diferentes. É importante que a Medicina consiga dialogar com outras áreas do conhecimento. Ao oferecer autonomia ao nosso paciente, a gente precisa se atentar, focar um pouco melhor na relação médico-paciente, evitando o paternalismo hipocrático → que é o fato de o médico se envolver tanto com o paciente, que ele abandona o seu lado profissional e passa a agir como se fosse um pai, se relacionando com esse paciente ao ponto de se sentir magoado, até persuadido desnecessariamente à decisão do paciente. O médico ao expor dados de um tratamento, deve expor da forma mais “neutra”, que não vai levar o paciente a uma decisão que vai ferir os valores dele. O juramento de Hipócrates Episódio de Grey’s Anatomy onde o juramento de Hipócrates é proferido pelo Dr. Weber - https://www.youtube.com/watch?v=qelnRqTsv6U A dimensão social Várias categorias profissional Os interesses individual e coletivo Os interesses privado e público Abandono de dogmas e persuasão Interdisciplinaridade e pluralidade A bioética aplicada Não maleficência, beneficência. respeito à autonomia e justiça A relação médico-paciente O paternalismo hipocrático https://www.youtube.com/watch?v=qelnRqTsv6U TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 10 | 30 Hipócrates viveu mais ou menos no século IV antes de Cristo; no ano de 486 a. C. na Ilha de Kós, na Grécia. Na época ele já tinha uma espécie de uma escola médica → ele já cuidava da saúde das pessoas da região dessa ilha de Kós. Por isso, pelos registros mais antigos que temos, que ele é considerado o pai da Medicina → isso não quer dizer que ele foi o único que começou a cuidar das pessoas na sua época, não foi o único que exerceu no mundo inteiro o papel de médico, mas até o momento, o que foi encontrado em termos de registro, de escritas sobre a conduta e sobre algumas práticas médicas, o que data mais antigo disso, são os escritos de Hipócrates → o Corpus Hippocraticum, que é uma coletânea de livros com 7 assuntos específicos relacionados à vida e também à prática médica, à prática do cuidado com a saúde das outras pessoas. Hipócrates tinha uma tendência a se desvincular um pouco da religião da época, a crença nas questões místicas, nas divindades e no que as divindades interferiam na saúde ou na doença das pessoas. Hipócrates era crítico a respeito disso e por isso ele começava a fazer seus experimentos e observar o que estava dando certo no tratamento das pessoas e o que não estava dando certo. Hipócrates mostra que o médico deve se preocupar com a maneira como ele atua → sem saber da questão do biopoder, ele já sabia que as pessoas iam olhar e admirar quem fosse da escola de medicina de uma forma bem diferenciada do que as outras pessoas, os outros cidadãos e os outros profissionais gregos. Cada um com seu respeito, cada um na sua área, fazendo aquilo que sabe fazer de melhor e contribuindo para o crescimento e progresso da sua comunidade, porém o médico naquela época já tinha um destaque. A palavra do médico era muito valorizada e o comportamento do médico tanto no exercício da profissão quanto fora dela também era muito observado. Aí, Hipócrates cria o Corpus Hippocraticum. Era um conjunto de livros que se dividiam em 7 fascículos e cada um tratava de um tipo de assunto. 486 a.C., Ilha de Kós (Grécia) Escola Médica Hipócrates, o Pai da Medicina Medicina x Religião (magias e crenças) Normas éticas de conduta (dentro e fora da profissão) TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 11 | 30 “Do médico” → mulheres não podiam fazer Medicina naquela época. A Medicina era uma prática exclusiva dos homens. Juramento de Hipócrates "Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Corpus Hippocraticum: Juramento Da Lei Da Arte Da Antiga Medicina Da Conduta Honrada Dos Preceitos Do Médico TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 12 | 30 Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça." Apesar de Hipócrates fazer algumas críticas ao uso da religiosidade na prática médica, ele invoca os deuses antigos como se estivesse pedindo uma benção à tradição cultural da época, então ele reconhece o lugar desses deuses, reconhece o lugar da religião na cultura na qual ele está inserido e evoca esses deuses para iniciar o juramento. Ele dá importância aos professores dele → quem ensinou a ele a arte da Medicina. Nessa época, os professores eram considerados da família → tinham que ter a mesma consideração que os pais; tanto que os lucros que se obtinham após a formação na escola médica, deveriam ser partilhados com seus professores; e se, por um acaso, alguns desses professores padecer de necessidade, o professor tem parte dos bens do aluno → o aluno se compromete a partilhar com os professores. Os filhos dos professores, quando chegassem na idade de aprender a Medicina, caso fosse interesse deles, não poderia ser cobrado salário para o ensino. Uma vez que você entrou na escola médica, você vai ensinar essas práticas aos seus filhos, aos filhos dos seus mestres, aos discípulos ligados por uma obrigação, ou seja, aqueles alunos que por algum motivo conseguiram entrar na escola médica, e ele jura que vai ensinar somente a essas pessoas. Com isso, conseguimos perceber que naquela época a Medicina era um conhecimento considerado apenas dos médicos → não é igual hoje que as pessoas possuem muitas informações mesmo não sendo da área. Havia uma segmentação do conhecimento. Com isso, o médico detinha o saber e o poder sobre o que deveria ou não ser feito com o paciente → não havia a possibilidade de opaciente dar o consentimento em relação ao que seria feito. Atividade hipocrática subjetiva → cada um vai indicar no início o que acha melhor, mas quando se percebe que é algo novo, os médicos começam a se reunir para discutir qual a melhor conduta, para levantar hipóteses, etc → isso é consenso colegial. Antes, a decisão do médico só era tomada pelo que ELE considerasse melhor para o paciente, ele não considera nesse caso a discussão com outras pessoas da mesma área, coisas que hoje em dia já acontece. TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 13 | 30 No juramento ele fala que não vai participar de suicídio assistido. A vida não vai chegar ao final pelas mãos dele, ele não vai indicar nenhum veneno para que a pessoa coloque fim ao próprio sofrimento. E também não entregará a nenhuma mulher um pessário abortivo. As questões relacionadas aos rins, Hipócrates também não se considerava apto para resolver, assim como nenhum de seus alunos. Caso fosse necessário ir à casa dos doentes, ele deixa claro que só faria isso para utilidade e tratamento do doente, ele não vai estabelecer naquela casa qualquer outra relação que não seja a de médico e paciente, isso para que haja respeito na casa em que eles visitariam → considerando também que as mulheres poderiam se sentirem atraídas. Não falar sobre as coisas que ele sabe sobre o paciente, ou seja, o sigilo médico, porém ele coloca que se precisar contar, ele conta, mas no primeiro parágrafo ele leva em consideração o juízo dele como embasamento, portanto o médico pode revelar a outras pessoas o que foi confessado a ele no sigilo da confissão → então tem uma brecha. No último parágrafo ele deixa claro que deve cumprir as normas e caso contrário pode ser retirado de seu cargo. Caso clínico: “Um médico de família mantinha uma clínica geral na época em que a lei ainda exigia exames físicos como uma inspeção médica pré nupcial, ele tinha um paciente de 21 anos de idade a quem já conhecia há muito tempo. Como esse paciente já havia sido tratado anteriormente por DSTs, o médico estava ciente de seu histórico sexual e sabia que ele era homossexual. Com o passar dos anos, o paciente havia discutido seu estilo de vida com o médico. Quando o paciente foi ao médico para solicitar um exame físico pré nupcial, o médico ficou surpreso, mas acreditou que isso não era realmente da sua conta, ele sabia, pelo menos às vezes, as pessoas são bissexuais, de modo que talvez o casamento desse certo. Em uma conversa ele perguntou ao paciente quem era sua noiva, e ficou chocado ao descobrir que ela era uma de suas pacientes também, alguém que ele conhecia há muitos anos. Ele começou a notar que estava enfrentando um dilema: se ele seguisse o princípio hipocrático, era seu dever fazer o que acreditava ser benéfico para o paciente, nesse caso, a mulher com quem o paciente estava para casar também era sua paciente, por outro lado, se tivesse prometido confidencialidade, era seu dever ao paciente masculino, não divulgar nenhuma informação sem a sua permissão, nesse momento o médico estava em uma saia justa. Ele acreditava que a jovem estaria exposta a alguns riscos, primeiro: ele sabia que seu futuro marido tinha um histórico de DSTs, se ele permanece ativamente bissexual, levaria essas doenças para o casamento, segundo: pelo que sabia do homem, o médico estava certo de que essa mulher estaria presa a um relacionamento muito desagradável, seu casamento com alguém que o médico sabia ser homossexual parecia condená-los a um divórcio iminente. Esse médico concluiu que era seu dever à paciente mulher, descobrir, perguntando ao homem se sua noiva sabia a respeito de seu estilo de vida e caso não soubesse, informa-la. Ele poderia estar com sorte e descobrir que ela sabia da situação ou que o homem estava disposto a pedir ao médico que discutisse isso com o casal, se, como parece mais provável, ele não estivesse disposto a descobrir isso com sua noiva, então o problema do médico não seria resolvido, pois ele também concluiu que seu dever ao paciente masculino seria manter a confidencialidade.” Opiniões... TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 14 | 30 Como membro da profissão médica: RESPEITAREI a autonomia e a dignidade do meu doente; GUARDAREI o máximo respeito pela vida humana; NÃO PERMITIREI que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e o meu doente; RESPEITAREI os segredos que me forem confiados, mesmo após a morte do doente; EXERCEREI a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo com as boas práticas médicas; FOMENTAREI a honra e as nobres tradições da profissão médica; GUARDAREI respeito e gratidão aos meus mestres, colegas e alunos pelo que lhes é devido; PARTILHAREI os meus conhecimentos médicos em benefício dos doentes e da melhoria dos cuidados de saúde; CUIDAREI da minha saúde, bem-estar e capacidade para prestar cuidados da maior qualidade; NÃO USAREI meus conhecimentos médicos para violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça; FAÇO ESSAS PROMESSAS solenemente, livremente e sob palavra de honra. O juramento é feito para a sociedade. A autonomia do paciente deve ser respeitada. A beneficência, as questões de justiça social e as questões que tenham a ver com a mercantilização da Medicina. DECLARAÇÃO DE GENEBRA 1948, Associação Médica Mundial 1968, 1983, 1994; 2005, 2006 e 2017. Eixo ético dos juramentos seguintes Beneficência do paciente Justiça social Mercantilização da Medicina Autonomia do pacietne TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 15 | 30 Quando falamos de mercantilização da Medicina, estamos falando do excesso comercial que alguns profissionais fazem da área de atuação, colocando a Medicina em um campo de muito prejuízo, de valores exorbitantes que não ajudam a sociedade, levando em conta somente o dinheiro. Outros documentos: Não podemos abandonar os fundamentos religiosos e caso você não queira lidar com isso, pode indicar outro médico para que o faça. Declaração de Genebra (1948) Código de deontologia médica da França: trata do respeito às pessoas (1995) Carta do profissionalismo médico (2002) Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da Unesco (2005) Fundamentos religiosos Código de Ética Médica Edição de 2019 Princípios fundamentais Direitos dos médicos Responsabilidade profissional Direitos humanos Relação com pacientes e familiares Relação entre médicos Remuneração profissional Sigilo profissional TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 16 | 30 Beneficiar e evitar danos ao paciente Animação Flutuar – https://www.youtube.com/watch?v=MnU1hHFsGQc → foi feita baseada em uma criança com autismo ➢ O diferente causa medo, isso faz com que aconteça um isolamento social. ➢ O preconceito está enraizado na sociedade, principalmente quando falamos de negros, homossexuais, autistas, portadores de síndrome de Down, etc. ➢ O pai da criança na animação não conseguia aceitar a condição do filho, inclusive, tinha até vergonha, escondendo a criança da sociedade. A bioética surge exatamente por isso → começam a existir algumas demandas sociais, algumas situações que antes eram tidas como normais (por exemplo: o homem bater na mulher, clínicas psiquiátricas, ...) que de repente começam a se tornar um dilema → começamos a olhar pra elas e a questionar → será que é assim mesmo que as coisas têm que ser? A bioética entra para tentar entender isso, e nesse caso, não basta que a gente apresente informações, dados concretos, eu preciso também levar em consideração toda uma tradição cultural, levar em consideração a religiosidade do povo → tudo isso vaiajudar a chegar em um consenso sobre o certo e o errado. ✓ Juramento Hipocrático (flashback): o Evocação dos Deuses o Aluno de Medicina tinha que prestar homenagem aos seus mestres o Sigilo da ciência médica – não deveria se tornar um conhecimento popular – paciente não poderia decidir sobre o seu tratamento o Sigilo médico-paciente – deveria ser guardado em situações nas quais o médico achasse necessário o Não se aproveitar da situação de médico para tirar proveito das famílias o É um juramento muito subjetivo → ele é determinado pela interpretação individual do médico Código de Ética Médica de 2019 → deixa claro que algumas coisas deveriam ser acrescentadas e outras retiradas → mostra que questões éticas não são estáticas, as coisas se alteram de acordo com a demanda de determinado tempo e determinado local. Exemplo: pandemia. A pandemia fez com que alguns consultórios se fechassem durante algum tempo, fez com que alguns médicos se preservassem para garantir a sua saúde e que garantissem também a saúde de seus pacientes. Alguns médicos até passaram a fazer consultas de forma remota (decisão do Conselho Federal de Medicina) → demanda da sociedade. ➢ Utilidade hipocrática subjetiva É eu me valer de alguns preceitos hipocráticos para tomar algumas decisões. É um tipo de recurso de decisão que você tem, onde a decisão cabe apenas ao clínico. Exemplo: “Podemos nos referir à abordagem em que o médico baseia uma decisão do benefício ao paciente por seu próprio julgamento como utilidade hipocrática subjetiva. Utilidade refere-se a avaliações de benefício e dano. O princípio de utilidade afirma que uma ação é moralmente correta desde que aumente o ‘benefício líquido’.” (VEATCH, 2014, p. 55). https://www.youtube.com/watch?v=MnU1hHFsGQc TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 17 | 30 atendimentos feitos em urgência, PA → paciente chega e a decisão a ser tomada tem que ser imediata, alguns minutos podem ser determinantes para vida ou morte, não existe tempo para o paciente consentir, não existe tempo de consultar a família e nem os outros colegas de profissão. O médico só toma essa utilidade subjetiva quando ele tiver um benefício líquido para o paciente. Benefícios – danos = benefícios líquidos A outra forma que o médico tem sem ser o julgamento individual, é o consenso. Dentro do consenso não entra a utilidade hipocrática subjetiva, mas sim o consenso colegial. Caso Clínico: O Dr. M. é um ginecologista que vem atuando na área há 35 anos. Ele vê num exame Papanicolau, um desenvolvimento de célula anormal, algo que tem visto há 35 anos. Nesses casos, sua regra é: quando estiver em dúvida, faça uma histerectomia. Recentemente, seus colegas de profissão fizeram estudos que revelam que não há documentação que prove que uma histerectomia cause algum bem nessas circunstâncias. Mas o Dr. M. está nessa profissão há muito tempo e seu instinto é o de que o melhor para essa mulher é fazer uma histerectomia – é melhor prevenir do que remediar. O juramento de Hipócrates nos diz que o médico deve fazer o bem para o paciente de acordo com sua capacidade e seu julgamento. Assim, o juramento está dizendo ao Dr. M que, mesmo que seus colegas discordem de seu julgamento crítico e tenham diversos estudos empíricos e dados para dar suporte a sua posição, é seu dever moral fazer o que ele acha ser benéfico. Ele deverá seguir seu próprio julgamento ou de seus colegas? Vocês acham que o Dr. M recomendaria para o paciente um tratamento que fosse menos invasivo? Com o mesmo empenho, mesma entonação de voz que ele recomendaria a histerectomia? Provavelmente não. Um consenso de um grupo médico é suficiente para dizer o que é benéfico para um paciente ou grupo social? “Às vezes, os benefícios e os danos são considerados separadamente, e então nesse caso nos referimos aos princípios de beneficência e não maleficência (em que as ações são, respectivamente, moralmente corretas desde que promovam o bem e evitem o mal). Beneficência é o termo filosófico que simplesmente significa fazer o bem. Não maleficência significa evitar o mal. Os dois conceitos, quando considerados em conjunto, podem falar de utilidade.” (VEATCH, 2014, p. 55). “A UTILIDADE HIPOCRÁTICA SUBJETIVA, ENTÃO, É BASEADA NO JULGAMENTO INDIVIDUAL DO CLÍNICO.” (VEATCH, 2014, p. 55). “Cada vez mais, a ênfase no julgamento pessoal do médico está sendo substituída por uma forma mais objetiva de utilidade hipocrática, em que o julgamento dos resultados é baseado em análise dos colegas, análise de utilização, garantia de qualidade, pesquisa de resultados e protocolos de tratamento (consenso colegial). (...) Ele [o médico] precisa ser guiado e influenciado pelos dados mais objetivos sobre os resultados.” (VEATCH, 2014, p. 55-56). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 18 | 30 Você precisa se valer de todas as experiências que já foram realizadas e comprovadas para se dar opinião em relação a alguma coisa desse tipo e para chegar, de fato, na decisão de que aquilo vai realmente ter uma mudança benéfica para aquela pessoa. A avaliação do próprio paciente também deve ser levada em consideração → o paciente precisa estar esclarecido em relação à doença e aos tratamentos, ele decide se o que o médico está propondo deve ou não ser realizado, mas ele não decide os tipos de tratamento, visto que sua base é só o senso comum → o médico foi quem estudou anos para obter o conhecimento. Exemplo: o diagnóstico de diabetes, o paciente sabe o que é que precisa para ter a qualidade de vida, mas a questão é se ele está disposto a levar a vida com regras tão restritivas como é necessário. Se você é um médico que não se preocupa com o bem-estar do paciente, só vai passar os remédios e se preocupar com o bem-estar médico. Mas se você é um profissional que está preocupado com o que o paciente vai precisar, possivelmente vai levar em consideração o bem-estar total dele, com isso, vai levar em consideração as relações sociais que o paciente tem, a questão da educação toda que ele teve durante tanto tempo, e vai tentar encaixar de maneira contínua, progressiva, o tratamento para ele. Não tem nada mais frustrante do que ter uma meta e essa meta chegar muito perto do impossível de se alcançar. Uma coisa é se ter uma meta muito mais real, que é possível de se alcançar aos poucos, de forma gradativa, confiar no processo da coisa, e outra coisa é você acreditar que só vai ser feliz com O resultado, e esse resultado está lá em cima, lá no alto, muito longe de ser alcançado. A chance de uma pessoa desistir do tratamento quando você foca mais no resultado e deixa de focar mais no processo é muito grande. Declaração empírica sobre a ciência médica. Produção de uma mudança benéfica. (Cf. VEATCH, 2014, p. 57). “A AVALIAÇÃO DO PRÓPRIO PACIENTE, CADA VEZ MAIS, TEM PRIORIDADE.” (VEATCH, 2014, p. 57). “Existe um segundo problema. O objetivo é realmente promover o bem-estar total do paciente? Ou o objetivo é promover somente o bem-estar médico? (...) O bem-estar total envolve todos os aspectos da vida de uma pessoa: educação, religião, relações sociais, estética e entretenimento. Mas, se o objetivo do especialista for o bem-estar médico, deve-se reconhecer que poucos pacientes racionais desejam maximizar o bem-estar médico.” (VEATCH, 2014, p. 57-58). “Considere uma pessoa que é diagnosticada com diabetes. Imagine o que um médico recomendaria se estivesse comprometido a fazer literalmente o que fosse clinicamente melhor para o paciente. O melhor procedimento, sem dúvida, poderia incluir uma dieta irrealmente estrita, um programa de exercícios terrivelmente incômodo, monitoramento frequente do açúcar no sangue e várias injeções diárias de insulina, para manter um controle acirrado.” (VEATCH, 2014, p. 58-59). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a19 | 30 Os objetivos da esfera médica devem considerar o bem-estar do paciente. Dentro desses 4 objetivos da esfera médica, o Dr. M conseguiria alcançar todos? Mas ele priorizou o bem-estar do paciente? Princípio de utilidade: beneficência x maleficência Caso Clínico: A Dra. R. cuidou do Sr. J. por alguns anos. Ele foi diagnosticado com câncer de próstata há dois anos. A Dra. R. entrou em contato com o centro oncológico de um hospital universitário local, que tinha oferecido uma oportunidade para colocar o Sr. J. em um estudo clínico randomizado. Se ele participasse da pesquisa, seria colocado no grupo de tratamento-padrão (controle) ou no grupo que receberia uma combinação experimental de novos agentes potentes. O tratamento-padrão impunha alguns riscos menores, mas, infelizmente, oferecia benefícios apenas moderados. A taxa de sobrevivência por dois anos não passava dos 3%. Com base nessa informação, a Dra. R. imaginava que, apesar disso, os benefícios seriam maiores que os riscos – talvez duas vezes maiores. Se houvesse somente o tratamento-padrão à sua disposição, ela o recomendaria ao Sr. J.. O agente experimental era mais promissor. Os dados preliminares mostraram taxas de sobrevivência maiores que dois anos, talvez até dez vezes mais que isso. Infelizmente, os efeitos colaterais também eram maiores, cerca de dez vezes piores que o tratamento-padrão. O Sr. J. pediu à Dra. R. que o aconselhasse quanto a participar ou não da pesquisa. Se vocês tivessem que decidir, adotariam o tratamento padrão, cuja taxa de sobrevivência em dois anos é de 3%, ou adotariam o tratamento com agente experimental, cuja taxa de sobrevivência é 10x maior, porém os efeitos colaterais são também 10x piores que o tratamento padrão? Levando em consideração a questão da beneficência menos os danos, qual você consideraria melhor? Temos que ter em mente a questão do benefício que vamos causar com o nosso tratamento ao paciente. Mas se trata de uma decisão do paciente → por ser um ensaio clínico randomizado, pode ser que ele receba o tratamento ou o teste, portanto, cabe a ele decidir ser quer enfrentar os efeitos colaterais mais severos ou não. Deve se pensar no bem-estar do paciente. Objetivos na esfera médica: Preservar a vida Promover a saúde Aliviar o sofrimento Curar doenças (Cf. VEATCH, 2014, p. 60). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 20 | 30 A ética do respeito pelas pessoas Resumo: a bioética entra na década de 70 com Poter, preocupados com as pessoas e com os profissionais de saúde. Desenvolveu-se por conta das pessoas que eram pegas na guerra para serem usadas como meio de pesquisa, porém sem o consentimento delas. A partir disso, a gente volta lá no século IV, V antes de Cristo para que possamos falar de Hipócrates que se torna referência dos cuidados médicos com pacientes e da relação da Medicina com outras áreas do conhecimento (arte, sociedade, postura de vida, postura médica – em relação à vida do médico e a como ele deve tratar seus pacientes). O juramento de Hipócrates entra em questão novamente em 1948 quando surge a declaração de Genebra, porque Hipócrates fala de sigilo a não ser que visse necessidade de tornar aquela informação pública, a declaração de Genebra vem para dizer que o médico deve guardar sigilo absoluto e só pode divulgar com consentimento do paciente, ou seja, tira a parte de que o médico pode decidir se é necessário ou não manter o sigilo em relação àquela informação. O juramento hipocrático leva a gente à discussão de beneficência e da maleficência e isso nos leva à ética consequencialista. Ética consequencialista: vai avaliar as consequências de ação do profissional. Traz a questão de maleficência e beneficência. Vai avaliar a ideia de que deve fazer mais benefício que mal ao paciente, uma vez que isso fecha, eu estou sendo bioético. Porém, isso traz uma série de riscos. Hoje o assunto será a ética deontológica → a ética deontológica parte do princípio do dever que existe da minha parte como profissional com as pessoas. Do respeito que deve existir, e esse respeito deve se valer da questão da fidelidade, da autonomia e da veracidade. Caso Clínico: Em 1970, o dr. Robert Browne, um clinico geral britânico de 63 anos de idade, era o médico de família de uma mulher de 16 anos de idade, desde o seu nascimento. Ela achou que precisava ter algum aconselhamento sobre contraceptivos. Por considerar que o dr. Browne poderia não ser favorável a esse plano, ela foi a um local chamado Birmingham Brook Advisory Centre. Tratava-se de uma clínica local de aconselhamento sobre controle de natalidade. Ela obteve aconselhamento contraceptivo, A ética do respeito pelas pessoas se estrutura em três princípios: Princípio da fidelidade. Princípio da autonomia Princípio da veracidade (Cf. VEATCH, 2014, p. 70-71) TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 21 | 30 um exame médico e uma receita para contraceptivos orais. E uma prática médica padrão informar ao médico da família que seu paciente recebeu uma prescrição de receita de outro médico, O médico da clínica perguntou se poderia notificar o médico dela, o dr. Browne. Talvez sem pensar, ela deu sua autorização, O dr. Browne recebeu, por correio, sem haver solicitado, uma carta informando que sua paciente estava fazendo uso de pílula, e expressou duas preocupações. Primeiro, ele estava preocupado com a bem-estar farmacológico dela. Em 1970, a pílula ainda era recente no mercado, ninguém sabia ao certo quais poderiam ser os efeitos dela, especialmente em uma jovem de 16 anos de idade. Mas ele também estava preocupado com o bem-estar total dela: em particular, sobre o que ele chamou de sua "saúde moral". O dr. Browne consultou alguns colegas, obteve conselho deles e, por fim, chegou a um plano de ação. Um dia, quando o pai da jovem estava no consultório do médico, o dr. Browne lhe contou a história toda. A jovem não ficou satisfeita como ocorrido. O médico da clínica também não. O dr. Browne foi acusado perante o Conselho Geral de Medicina na Grã-Bretanha de violação da confidencialidade do paciente (General Medical Council, 1971), em sua defesa, o médico apresentou dois documentos: o Juramento de Hipócrates e o código da British Medical Association (BMA). O juramento diz que o médico não poderia revelar "aquilo que não deveria ser espalhado". Isso, por sua vez, tradicionalmente tem sido interpretado como uma confirmação do princípio hipocrático básico, de que seu dever moral é fazer o que ele acha que beneficiara o paciente. Da mesma forma, o código da BMA permitia explicitamente revelar informações quando se acreditasse que isso beneficiaria o paciente. O dr. Browne, tendo lutado com sua consciência e consultado seus colegas, afirmou ter feito o que acreditou ser o melhor para sua paciente, ele pode ter tido uma visão meio arcaica a respeito do que a beneficiaria, mas realmente acreditava que esse seria o curso mais benéfico. Será que o Conselho Geral de Medicina deveria exonerá-lo? ➢ Não tinham ainda estudos que dissessem o que poderia acontecer em relação ao uso da pílula anticoncepcional. Era uma garota de 16 anos. Um médico de família de 63 anos. Existia muito preconceito. O médico trouxe a questão da ética consequencialista, e, em relação a isso, ele está certo ou errado? ➢ Em 2021 é muito fácil chegar a um consenso, mas em 1970 isso era muito diferente. Essa questão entra na ética deontológica, que é diferente da ética consequencialista. Nem sempre precisa do consenso colegial, existem momentos que tomamos decisões em conjunto outros não. Kant fala que o ser humano deve ser considerado como fim próprio de qualquer ação, ou seja, na ética dele, não se devem usar as pessoas para atingir o fim, pois a pessoa já é a finalidade de qualquer ação, sendo assim, ela merece respeito.Portanto, não consta na “Quando a ética se volta para os deveres em relação aos indivíduos, ela normalmente é chamada de ética de respeito pelas pessoas. A ética de respeito pelas pessoas é aquela que deriva, até certo ponto, da filosofia de Immanuel Kant. O filósofo enfatizava que era importante tratar os seres humanos como fins por si sós e não como simples meios. Ele afirmou o valor intrínseco da vida humana e, portanto, que os seres humanos merecem respeito, independentemente das consequências das ações. Mostramos respeito por eles observando certos deveres em relação a eles.” (VEATCH, 2014, p. 70). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 22 | 30 ética Kantiana, não consta na ética deontológica, subverter o respeito que tem a pessoa para gerar mais benefícios a ela. É necessário que eu respeite esse ser humano, e a partir disso, eu vou alegar esse respeito a esse ser humano através de um tripé, que é obedecendo as questões de fidelidade, autonomia e veracidade. Seguindo esses três pontos, eu consigo levar a sério a ética deontológica, e, portanto, eu tenho o ser humano como um fim qualquer das minhas ações, independentemente de quais sejam. Dentro das questões da fidelidade, tenho também a lealdade. Quando falo de lealdade, estou falando de uma ética que parte das relações com que eu me relaciono com as pessoas sejam elas quais forem (tanto no pessoal quanto no profissional). Relação de fidelidade com médico e paciente e também do paciente com o médico, ou seja, o paciente deve contar toda a verdade àquele médico e não pode negar ou mentir informações (que estejam ligadas a essa enfermidade) assim como o médico ao paciente → essa é a questão da lealdade. Caso Clínico: Uma estudante de medicina sênior, usando o National Matching Program, ouve a promessa de que conseguirá o que ela considera ser o cargo de residência perfeito. Ela recebe e assina um contrato para o cargo. Porém, antes de 1 de julho, o dia em que o programa de residência começara, o médico/ administrador do hospital liga para ela e diz: "Sinto muito por dizer isso, mas encontramos alguém que pensamos ser melhor para o nosso hospital e para os nossos pacientes. Embora você tenha habilidades excelentes, esse candidato é exatamente do que precisamos. Ele já atuou na área para a qual temos necessidades especiais. Lamentamos, mas não podemos mais aceitá-la. A estudante de medicina pode sentir que tem uma reivindicação legal contra o hospital. Isso dependerá dos termos exatos do contrato legal. Mas ela também pode sentir que foi ofendida moralmente. Dada a noção de ética hipocrática tradicional, de que os médicos têm o dever de fazer o que é melhor para os seus pacientes, o médico que administra o programa declara que, independentemente das implicações legais, ele fez apenas o que sua ética profissional requer. Supondo que o médico/administrador realmente acredite que a outra pessoa seja melhor para os pacientes de seu hospital, essa estudante de medicina tem alguma base moral para protestar? ➢ Pela ética consequencialista: o médico estaria certo por se preocupar com os benefícios que a outra pessoa traria ao hospital, ou seja, vê que aquela pessoa que ele escolheu traria mais benefícios para os seus pacientes. Viu-se um meio para chegar a um resultado. ➢ Pela ética deontológica: nessa visão, o consequencialismo não tem peso, o que tem peso é o respeito pelas pessoas, ou seja, não se usa as pessoas como um meio para atingir um fim, pois as pessoas já são um fim para si, então não tem que pensar nas consequências, malefícios e benefícios, tem que pensar na pessoa. Com PRINCÍPIO DA FIDELIDADE: “A ideia geral do princípio da fidelidade na relação paciente-médico é a de lealdade. (...) A maior parte da atenção está voltada para a lealdade do médico ao paciente, mas, em alguns casos, falamos também sobre as obrigações ou deveres de lealdade do paciente ao médico. Os casos problemáticos são aqueles em que manter um compromisso com o paciente não é a maneira de produzir as melhores consequências para ele. As consequências levam alguém para uma ação, o dever, para outra.” (VEATCH, 2014, p. 72). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 23 | 30 isso, nesse caso, já quebra o conceito de lealdade, só levou em consideração o que queria, e não o que a outra pessoa pensava. ➢ Ou seja, em uma visão hipocrática, está certo; em uma visão Kantiana e deontológica, está errado por desrespeitar a lealdade. ➢ O resultado vai depender de qual visão o juiz que julga a causa tem, ou seja, se ele tem uma visão Kantiana, vai fazer com que o hospital chame a garota. Assim, conseguimos ver que os valores acabam interferindo nos casos. Caso Clínico: Em 1960, no estado norte-americano do Kansas, uma mulher chamada Ima Natanson, sofrendo de câncer de mama, precisou de radioterapia após uma mastectomia radical. Ela sofreu queimaduras terríveis em decorrência da radiação, e processou seu médico, o dr. Kline, pelos danos. Uma das acusações feitas foi a de que ela não havia consentido com o risco de queimadura por radiação. O dr. Kline se defendeu afirmando o privilégio terapêutico. Ele não negou que tinha deixado de dizer à sra. Natanson que havia o risco de ocorrerem queimaduras. Com frequência, os médicos nessa posição afirmam que tal informação poderia perturbar o paciente, talvez até mesmo levá-lo irracionalmente a não dar o consentimento para o tratamento necessário. O dr. Kline tinha o direito de reter essa informação se acreditasse que ela poderia ser perturbadora ou fazer a paciente tomar uma decisão irracional? Ou, alternativamente, ele tinha, afinal, o dever de explicar os riscos? ➢ Confidencialidade em Hipócrates diz que fica no meu juízo decidir o que posso ou não passar adiante, ou seja, está dentro da “beneficência” → o caso acima fala exatamente do lado do paciente, trata a questão da autonomia do paciente. Dentro disso começamos a perceber que a confidencialidade deve partir de um acordo de que ele só pode divulgar o que eu autorizo a divulgar. ➢ O outro precisa consentir em relação àquilo que eu, como profissional, quero fazer em relação a ele. ➢ Na beneficência o médico agiu de forma correta, em hipocrático subjetivo ele está certo. Porém, na ética deontológica ele estava errado, pois deveria ter contato ao PRINCÍPIO DA FIDELIDADE: A ética da confidencialidade > “O Juramento de Hipócrates obriga o médico a não divulgar ‘aquilo que não deve ser espalhado’. Isso implica que algumas coisas podem ser espalhadas. Assim, a tradição hipocrática não pode ser vista como algo que exige inequivocamente que a informação médica seja mantida confidencial. Se alguém perguntar o que pode ser divulgado, a resposta está no princípio hipocrático: faça o bem para o paciente e proteja-o contra o mal. A confidencialidade hipocrática é dirigida para a beneficência.” (VEATCH, 2014, p. 73). “Diversos códigos possuem requisitos de confidencialidade mais rigorosos. Eles proíbem a divulgação até mesmo se a quebra da confiança for benéfica ao paciente. (...) A confidencialidade envolve mais do que o benefício do paciente. O dever de manter informações médicas confidenciais é parte da fidelidade ao paciente. Uma promessa de confidencialidade é feita quando a relação é criada. A visão de que uma obrigação de confidencialidade vai além do benefício ao paciente afirma que existe um dever de manter o sigilo quando a confidencialidade é prometida.” (VEATCH, 2014, p. 73-74). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 24 | 30 paciente sobre todo o procedimento (fidelidade e veracidade) para que ele pudesse escolher (autonomia). ➢ Entra no ponto do paternalismo médico (tomando a decisão que ELE julga ser a melhor para o paciente) → entrando na questão da veracidade. O médico preferiu não falar das queimaduras para beneficiar a pacienteem relação à doença. No entanto, o paciente não teve autonomia. ➢ O paternalismo médico é falar sobre a radioterapia e só falar o bom do procedimento e suavizar a parte ruim. O não paternalismo é expor os dois lados → os benefícios e também os malefícios, expor os riscos para que a pessoa saiba o que pode acontecer → pessoa tem que assinar termo de consentimento livre e esclarecido de que sabe o que vai acontecer. ➢ Tomar cuidado com a proximidade com o paciente para que não haja uma interferência na questão da autonomia. ➢ A filosofia liberal parte do princípio de que o paciente tem liberdade sobre ele mesmo, portanto não cabe aos outros decidir o que ele deve ou não fazer em relação a própria vida. É preciso dar ao outro a possibilidade do consentimento. Caso Clínico: Jim Sullivan, de trinta e poucos anos de idade, chega ao consultório do Dr. Tom Wordsworth para um Exame rotineiro de admissão em um novo trabalho. O médico começa a montar seu histórico. É óbvio que o sr. Sullivan está bem acima do peso. Ele diz ao médico que não faz exercício, fuma dois maços de cigarro por dia e tem feito isso desde os quatorze anos. Ele bebe multo e geralmente não cuida da si mesmo. Dr. Wordsworth sente que deve encorajar seu paciente a mudar seu estilo de vida. Ele observa que provavelmente não mudará nada apenas dizendo ao paciente que ele não deve beber tanto e precisa parar de fumar. O sr. Sullivan é um homem que provavelmente não fará PRINCÍPIO DE AUTONOMIA: “O princípio de autonomia vem não da tradição hipocrática, mas das tradições de Kant e da filosofia liberal (ética médica dos Estados Unidos). A liberdade do indivíduo é frequentemente uma parte fundamental do princípio de autonomia. Frequentemente, vemos esse tipo de pensamento representado pelo uso da linguagem dos ‘direitos’. (...) Normalmente, quando é feito um apelo a um ‘direito’, essa reivindicação é vista como prioridade ou condição especial, de modo que os meros apelos às consequências não podem ser usados para anular o direito.” (VEATCH, 2014, p. 77-78). O consentimento informado: “O consentimento informado é um elemento crítico de qualquer teoria que dá peso à autonomia. A beneficência hipocrática poderia incorporar um consentimento informado mínimo, mas somente quando o clínico acredita que esse consentimento beneficiará o paciente. (...) Na filosofia política liberal, a ideia-chave é que informações significativas precisam ser divulgadas mesmo que o clínico não acredite que isso seja benefício. Cada homem é considerado o mestre do seu próprio corpo e ele pode, de sã consciência, proibir expressamente a realização de cirurgia ou de outro tratamento que lhe salve a vida.” (VEATCH, 2014, p. 80-81). O consentimento informado: “É vedado ao médico deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte.” (CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA, 2010, Cap. 4, Art. 22). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 25 | 30 exercícios por rotina só porque o médico lhe diz para fazer isso. O médico vislumbra outra tática. Ele decide fazer um raio X do tórax do paciente, suspeitando que aparecerá alguma opacidade, e que isso será suficiente para convencer o sr. Sullivan. Ele não vê nada de terrivelmente alarmante no raio X, mas observa alguns pontos que serviriam à sua finalidade: fazer o paciente mudar seu estilo de vida. Com um ar de grande alarme, ele leva o raio X ao paciente, dizendo que OS pontos indicam desenvolvimentos pré- cancerígenos, Ele afirma que, se o sr. Sullivan parar de fumar agora, há uma boa chance de que esse desenvolvimento seja interrompido. Mas, se continuar fumando, ele terá um câncer no pulmão. Exagerando intencionalmente, o Dr. Wordsworth raciocina que é verdade que as chances de Sullivan desenvolver câncer no pulmão são mais altas se ele continuar a fumar, e que é um prolongamento inocente e benevolente da verdade apontar para os pontos insignificantes e aumentar a probabilidade de que o fumo cause a doença. Ele acredita que exagerar o risco beneficiara seu paciente. Essa é a única coisa que ele consegue pensar que assustará o paciente a ponto de fazê-lo mudar seu estilo de vida. ➢ Médico usou do paternalismo médico, tendendo a fazer o exame. ➢ Médico forçou a barra e violou o direito do paciente de cuidar da própria vida, ou seja, retirou a autonomia do paciente além de não ter a fidelidade e veracidade na relação (contou mentira pois não tinha células pré-cancerígenas no exame → mas poderia falar sobre as estatísticas em relação às possíveis complicações futuras que podem vir a surgir). Porém, isso entraria na questão do aborto também, pois deixamos claro que a pessoa deve ter a liberdade de cuidar do próprio corpo. A ética deontológica baseia-se nos princípios de fidelidade, autonomia e veracidade; enquanto que a ética hipocrática segue os princípios do juramento hipocrático, da beneficência e da não-maleficência. Consequencionalista, beneficência, hipocrática: fazer mais bem que mal, ver as consequências. Deontológica e Kantiana: fidelidade (leal ao paciente), autonomia (paciente tem autonomia para decidir, saber de tudo) e veracidade (medico ser verdadeiro). O princípio de não matar Animação: https://www.youtube.com/watch?v=EalTGGfKGJQ – a morte está andando pela floresta e levando quem precisava morrer, até que ela chega perto do cervo e passa a “gostar” dele, após isso ela sempre o acompanhava, porém o cervo escolhe a hora de PRINCÍPIO DA VERACIDADE: “Além dos princípios de fidelidade e autonomia, o princípio da veracidade é uma característica essencial da ação humana – e o terceiro elemento da ética do respeito pelas pessoas. (...) Por muitos anos, a AMA (America Medical Association) observou que os médicos às vezes têm justificado a mentira dita aos pacientes a fim de protegê-los. A postura mais antiga, mais hipocrática, aceitava mentir aos pacientes ou esconder a verdade deles com base nisso. Em 1981, a AMA publicou uma nova versão de seus princípios, que diz que ‘um médico deve lidar honestamente com seus pacientes e colegas’. Não havia ressalvas. Essa continua sendo a posição atual da AMA em seus princípios.” (VEATCH, 2014, p. 88). https://www.youtube.com/watch?v=EalTGGfKGJQ TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 26 | 30 morrer, porque quando ele não conseguia mais correr e viver ele escolheu se aproximar da “morte”, ele optou pelo que iria doer menos. O que é matar e o que é deixar morrer? Velório tem uma importância social para a pessoa entender que a pessoa se foi. A ética deontológica fala do dever que eu tenho ao me relacionar com as outras pessoas, diferente da ética consequencialista, que leva em consideração a questão da beneficência e não maleficência, ou seja, a finalidade dela, é perceber o máximo de beneficência que suas decisões vão ter na vida do outro. Já a ética deontológica não, ela parte de 3 princípios: fidelidade, autonomia e veracidade. O não matar também é deontológico. Caso clínico: Paciente gestante, no início da gestação, com câncer no útero que precisa de uma cirurgia com urgência. Se não for feita a cirurgia, a paciente pode vir à óbito. No entanto, se for realizada a cirurgia, o feto morre. O que fazer nesse caso? ➢ Parece ser muito óbvio: vamos fazer tudo o possível para preservar a vida, porém, há alguns casos que para preservar uma, precisaremos abrir mão de outra. Dilemas da sociedade: eutanásia e suicídio assistido → possíveis práticas para a questão de eliminar o sofrimento. Qual a definição legal de morte que nós temos? Sinal de morte? Morte encefálica – perda das funções cerebrais. Desse modo, surge uma reflexão: Definindo o final da vida, necessariamente, eu estaria definindo o início dela? Ou seja, que ela tem início quando os sinais cerebraiscomeçam a aparecer? E que antes, quando ainda não se tem função cerebral não há vida? Para eu conceituar a vida/morte levo em consideração minhas ideologias, levo em consideração aspectos morais e religiosos? Quais são as minhas ideologias que vão conceituar a vida e a morte? A nossa percepção muda de acordo com as circunstâncias. Capas da revista veja: Capa 01: início dos anos 2000 e a manchete era uma mulher negra com o título de eleitor na mão e estava escrito “ela pode decidir a eleição”. Ao falar ela faz referência a um “terceiro público” que não faz parte de quem assina aquela revista. Capa 02: homem branco, gravata, lavando louça com cara de infeliz. Manchete “você amanhã”, “descubra o que pode acontecer com a provação da PEC das domésticas”. “O princípio de não matar é outro baseado em dever. Ele pode entrar em conflito com os princípios baseados em consequência da beneficência e da não maleficência, assim como acontece com a fidelidade, a autonomia e a veracidade. (...) A ética da morte e do morrer, nos anos recentes, incluiu uma controvérsia significativa em relação ao que exatamente implica estar morto. Aqui, retomaremos a questão de como tratamos pacientes que estejam criticamente ou terminalmente doentes, mas que ainda estão vivos de acordo com a definição legal de morte. Suponha que um paciente ainda vivo, porém criticamente doente, levante a questão de se é necessário que sua vida continue. Esse tipo de caso nos desafia a deixar claro o significado de termos como matar, deixar morrer, renunciar ao tratamento e meios extraordinários.” (VEATCH, 2014, p. 93-94). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 27 | 30 Ao falar “você”, deixa claro que o público alvo é o homem branco que tem doméstica em casa. É difícil se preparar para morte, porque há situações diversas. Mesmo que eu me prepare para situações de morte, não seria possível entender, por exemplo, a morte de um paciente que perdeu o pai, mãe e irmãos na mesma semana, não é possível eu compreender a morte da mesma maneira que ele. Elisabeth Kübler-Ross tem um livro que se chama Sobre a morte e o morrer: O que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes → segundo ela, o luto tem cinco fases: negação, ira, barganha, até que ela consiga chegar na aceitação. Porém, todo esse processo é uma montanha russa, mas não “O homem e a mulher são, dentre todos os seres vivos, os únicos a possuírem consciência da sua própria finitude, o que estabelece um contexto bastante problemático e paradoxal: apesar de a morte fazer parte do ciclo ‘natural’ de todo vivente, o medo do desconhecido e a perspectiva de extinção tornam a temática um domínio de abordagem extremamente árida. Norbert Elias considerou que é parte da tarefa da sociedade tornar o passamento dos seres humanos – quando ‘chegada a hora’ – o mais fácil e agradável possível para aquele que parte, para aqueles próximos que ficam e para aqueles que cuidam.” (LIMA, 2013, p. 20). “As escolhas bioéticas – públicas e privadas – envolvem usualmente os sujeitos, as famílias e os profissionais de saúde, o que requer a clara delimitação dos problemas éticos, em termos dos conceitos e das teorias aplicáveis ao processo de morrer. Díspares questões têm sido propostas no campo dos cuidados ao final da vida incluindo a atenção aos enfermos com câncer e com outras graves e incuráveis moléstias crônicas não transmissíveis, tais como: a) Cabe ao paciente escolher como irá findar sua existência? b) Qual o lugar da família e dos profissionais de saúde nesse processo? c) Quais os limites para a intervenção terapêutica?.” (LIMA, 2013, p. 21). TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 28 | 30 quer dizer que vai existir todos os processos, ou que eles vão acontecer nessa ordem ou um por vez, pode ser que aconteçam concomitantemente → eles não são uma constante. “Viver é um direito, não uma obrigação.” A questão do parto cesárea: uma mulher quer um parto normal, porém ela não está em condições favoráveis para que isso ocorra. Neste caso alguns médicos não apoiam essa causa, porém ele apoia a mãe que quer ter parto normal e está em condições de ter um parto normal, então ele indica outro médico de sua confiança para que a mulher faça da forma que ela quer. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS I - A medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza. II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício, mesmo depois da morte. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativas contra sua dignidade e integridade. XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 29 | 30 Caso clínico: Um menino de 2 anos, desenvolveu leucemia, de acordo com os médicos, ele precisava de quimioterapia para que tivesse uma chance de sobrevivência. Porém, a família não concordou, pois acreditava que uma dieta alternativa seria o tratamento ideal enquanto que a quimioterapia seria tóxica, então, eles preferiram tratar com uma dieta especial macrobiótica, que incluía arroz integral, extrato do caroço do damasco → acreditava-se que era uma terapia que combatia muito câncer dos adeptos às terapias É VEDADO AO MÉDICO Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida. Art. 36. Abandonar paciente sob seus cuidados. § 1° Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que o suceder. § 2° Salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou à sua família, o médico não o abandonará por este ter doença crônica ou incurável e continuará a assisti-lo e a propiciar-lhe os cuidados necessários, inclusive os paliativos. Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal. TXXXIX | Carollayne Mendonça Rocha P á g i n a 30 | 30 alternativas. Quando a família recusou a quimioterapia, o médicose sentiu obrigado a pedir ajuda na justiça, por fim, ele ganhou uma petição para conseguir o tratamento quimioterápico e acabou ganhando a custódia da criança para realizar o tratamento recomendado, a alegação foi a de que os pais tinham excedido os limites da razão na busca do que seria o maior interesse do filho. Os pais do menino protestaram vigorosamente a ponto de leva-lo para o México para obter o tratamento que eles queriam. O médico continuou insistindo no caso, observou que seria capaz de elaborar um meio- termo, que respeitasse a opinião dos pais (até certo ponto) e ainda conseguiu alcançar seus objetivos. Se ofereceu para tratar o menino com uma dieta especial obtendo estoques seguros e limpos, se os pais concordassem que ao mesmo tempo ele fizesse a quimioterapia. Embora isso não fosse totalmente satisfatório para qualquer uma das partes, e de que ninguém estaria convencido de que essa seria a melhor solução, ambos consideraram que alcançariam boa parte do que estavam buscando, o Tribunal, por fim, aceitou esse meio termo, considerando o acordo razoável. ➢ Aqui vemos a autonomia, os pais não consentiam o tratamento, mas aqui a autonomia vem contra e a gente alega a ética consequencialista – devido à beneficência. Caso clínico: Em 25 de fevereiro de 1990, uma mulher de 27 anos, sofreu uma parada cardíaca, o hospital determinou que ela apresentava baixas taxas de K no sangue, isso poderia ter ocorrido em consequência de um distúrbio alimentar, haviam também acusações não fundamentadas de abusos que foram desconsideradas em outras audiências. Ela sofreu uma lesão cerebral extensa. Em 18 de junho do mesmo ano, o marido (indicado como guardião dela) a levou para a Califórnia para realizar um tratamento experimental de estimulação cerebral sem sucesso. Por fim, surgiram dúvidas em relação às decisões sobre o tratamento. Em 92, 2 anos depois, ela começou a morar com os pais e no mesmo ano, ela recebeu uma indenização milionária por má prática, que foi concedida devido ao cuidado inadequado que ela havia recebido pelo marido → o que aconteceu: os pais, vendo o tratamento que o marido, até então, estava dando a ela, os pais pediram a tutela dela e após isso, entraram na justiça contra o marido devidos aos maus tratos. Em 98, o marido fez um pedido na justiça para que o tubo de alimentação dela fosse removido alegando que a sua decisão se baseava nos desejos expressos pela própria esposa em relação a como ela gostaria de ser tratada antes de ter sofrido esse acidente. Ele afirmou que sua mulher estava em estado vegetativo persistente. O pedido da remoção do tubo de alimentação foi questionado pelos pais (até então, os guardiões. Por fim, o marido conseguiu um vídeo da esposa dizendo coisas que não toleraria caso entrasse em estado vegetativo e com base nesse vídeo, a justiça devolveu a guarda para o marido e o tubo foi retirado → no começo de março de 2005 e a mulher morreu 12 dias depois. A representação legal ainda assim tem alguns limites que podem ser questionados pelo profissional médico e por outros membros da família sobre a pessoa estar tendo mais malefícios que benefícios.
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