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FUNDAMENTOS do
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR 
FUNDAMENTOS do
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR 
FUNDAMENTOS do
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR 
FUNDAMENTOS do
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR 
O Direito Constitucional representa uma das matérias 
mais importantes para a compreensão do direito como 
um todo. O objeto de seu estudo é a Constituição 
Nacional, aqui compreendida como o conjunto de 
disposições dotadas da mais alta hierarquia em um 
determinado ordenamento jurídico, que é responsável 
tanto por organizar o Estado quanto por delimitar o 
seu poder. Justamente em razão de sua alta hierarquia, 
todas as suas disposições irradiam-se sobre todos os 
demais atos normativos vigentes em determinado país.
Ao final da leitura desta obra, o leitor estará habilitado 
a compreender a lógica constitucional, com base 
em suas mais fundamentais previsões. O estudo 
da organização do Estado e da limitação do poder 
ficará muito mais fácil, fundamentado na assimilação 
dos conteúdos deste livro que, também, ajudará na 
compreensão dos demais ramos do direito brasileiro.
FUNDAM
ENTOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR
Código Logístico
59458
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6649-0
9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 9 0
Fundamentos do 
Direito Constitucional
Antonio Claudio Kozikoski Junior 
IESDE BRASIL
2020
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: 061 Filmes/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
K89f
Kozikoski Junior, Antonio Claudio
Fundamentos do direito constitucional / Antonio Claudio Kozikoski 
Junior. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 
144 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6649-0
1. Direito constitucional. 2. Estado de direito. I. Título.
20-64194 CDU: 342
Antonio Claudio 
Kozikoski Junior 
Doutor em Direito do Estado pela Universidade Federal 
do Paraná (UFPR). Mestre em Direito pela Pontifícia 
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Pós-graduado 
em Direito Tributário, na Academia Brasileira de Direito 
Constitucional. Graduado em Direito pela PUCPR. 
Professor de Direito Constitucional e de Direitos 
Humanos, na graduação e na pós-graduação da PUCPR 
e de outras instituições. Coordenador do curso de 
Direito da PUCPR. Membro da Comissão de Direito 
Constitucional da OAB/PR. Advogado.
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SUMÁRIO
1 Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 9
1.1 Constitucionalismo na antiguidade 11
1.2 Constitucionalismo contemporâneo 12
1.3 Constitucionalismo brasileiro – Brasil Império 14
1.4 Constitucionalismo brasileiro – Primeira e Segunda Repúblicas 18
1.5 Constitucionalismo brasileiro – Terceira República – Estado Novo 24
1.6 Constitucionalismo brasileiro – Quarta República 26
1.7 Constitucionalismo brasileiro – Regime Militar 27
1.8 Constitucionalismo brasileiro – Redemocratização 35
2 Poder Constituinte: como nascem e se alteram as Constituições 39
2.1 Poder Constituinte Originário 40
2.2 Poder Constituinte Derivado de Reforma, Revisão e Decorrente 48
2.3 Mutação Constitucional 66
3 Constituições e normas constitucionais 71
3.1 Classificações das constituições 73
3.2 Classificação das normas constitucionais 84
3.3 Conceito e sentidos das constituições 89
4 Princípios fundamentais da Constituição Brasileira de 1988 98
4.1 Elementos essenciais da Constituição de 1988 98
4.2 Fundamentos da República Federativa do Brasil 101
4.3 Separação de poderes 121
4.4 Objetivos da República Federativa do Brasil 130
4.5 Princípios que regem o Brasil em suas relações internacionais 133
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O Direito Constitucional representa uma das matérias mais importantes 
para a compreensão do direito como um todo. O objeto de seu estudo é a 
Constituição Nacional, aqui compreendida como o conjunto de disposições 
dotadas da mais alta hierarquia em um determinado ordenamento jurídico, 
que é responsável tanto por organizar o Estado, quanto por delimitar o seu 
poder. Justamente em razão de sua alta hierarquia, todas as suas disposições 
irradiam-se sobre todos os demais atos normativos vigentes em determinado 
país. Olhando para a realidade brasileira, por exemplo, é impossível 
compreender o direito civil, o direito penal, o direito tributário ou qualquer 
outro ramo do direito sem, antes, compreender a lógica constitucional.
O primeira capítulo destina-se a apresentar essa lógica, estudando o 
movimento constitucionalista e a sua influência nas constituições modernas. 
A fim de bem compreender o assunto, o estudo coloca em perspectiva a 
evolução do movimento constitucionalista, no mundo e, especialmente, 
no Brasil, tudo para demonstrar a finalidade das constituições de limitar o 
poder estatal.
Além disso, no segundo capítulo, também é analisado como nascem as 
constituições e como operam-se as suas alterações. Nesse ponto, portanto, 
o estudo analisará o Poder Constituinte, ou seja, a força responsável pela 
criação e pela mudança das disposições constitucionais.
O terceiro capítulo volta-se à análise da classificação das constituições. 
Considerando que não há apenas um movimento constitucionalista no mundo 
e que as constituições nascem e se apresentam de maneiras diferentes em 
cada sociedade, a análise seguirá sistematizando as particularidades acerca 
das constituições, com foco, naturalmente, na brasileira. Mas não apenas a 
classificação das constituições será apresentada. A análise, também, trará a 
percepção de autores distintos a seu respeito – naquilo que comumente é 
chamado de sentido das constituições – e dissecará a natureza das diferentes 
normas que as compõem.
Por fim, o último capítulo cuidará das disposições introdutórias da 
Constituição de 1988, quais sejam os fundamentos e os objetivos da República 
Federativa do Brasil, os princípios que a regem em suas relações internacionais 
e a separação de poderes.
APRESENTAÇÃO
Ao final da leitura, você estará habilitado a compreender a lógica 
constitucional, com base em suas mais fundamentais previsões. O estudo 
da organização do Estado e da limitação do poder ficará muito mais fácil, 
fundamentado na assimilação dos conteúdos deste livro que, também, 
ajudará na compreensão dos demais ramos do direito brasileiro.
Bons estudos!
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 9
1
Constitucionalismos e 
movimentos constitucionalistas
O estudo do Direito Constitucional e das Constituições passa, 
necessariamente, pelo estudo do constitucionalismo. Isso por-
que sem uma compreensão exata do movimento constitucio-
nalista – ou, então, dos diversos movimentos constitucionalistas 
identificados ao longo da história –, a percepção sobre o que as 
Constituições representam nas organizações sociopolíticas con-
temporâneas fica severamente prejudicada.
De um modo geral, o constitucionalismopode ser definido 
como um movimento histórico, social, político e/ou jurídico voltado 
à limitação do poder estatal. Na essência, portanto, o constitucio-
nalismo representa um movimento indissociável da própria natu-
reza humana, pois, antes de qualquer coisa, o ser humano anseia 
ser livre para se desenvolver plenamente. Nesse exato sentido, um 
rápido olhar sobre a história da humanidade permite identificar 
uma série de revoluções, movimentos e/ou rebeliões que tinham 
o propósito específico de limitar o poder do Estado e, por conse-
guinte, conquistar a liberdade.
Com base nesses raciocínios introdutórios, é possível afirmar 
que em todas as sociedades sempre houve um mínimo de consti-
tucionalismo, pois mesmo nas sociedades mais rígidas e hierarqui-
zadas sempre se manifestou, ainda que de maneira tímida, alguma 
forma de limitação do poder estatal.
A título de exemplo, os Hebreus já praticavam constituciona-
lismo, pois os patriarcas e os sacerdotes responsáveis pelo gover-
no não podiam tomar decisões que contrariassem os preceitos 
religiosos que fundamentavam referida sociedade. Também os 
egípcios praticavam um mínimo de constitucionalismo, especial-
mente após a reforma feita pelo Faraó Akhenaton. Dessa forma, 
10 Fundamentos do Direito Constitucional
mesmo nas sociedades mais antigas é possível identificar traços 
de constitucionalismo. O mesmo ocorre na Idade Média. Como 
será demonstrado adiante, a Magna Charta Libertatum, editada na 
Inglaterra pelo Rei João Sem-Terra, em 1215, é um bom exemplo 
de limitação de poder estatal nessa época da história.
É bem verdade que ao longo da Idade Antiga e da Idade Média 
o constitucionalismo era exercido de maneira difusa, ou seja, de 
modo dissociado de um documento voltado a estabelecer precisa-
mente os limites da atuação estatal. Em um determinado momento 
da história, contudo, esse movimento constitucionalista passou a 
ser exercido com base em uma constituição, aqui compreendida 
como um conjunto de regras que condicionam o modo de orga-
nização do Estado, ao mesmo tempo em que reconhecem aos 
indivíduos um conjunto de direitos e garantais fundamentais. O 
primeiro documento que representa essa nova forma de exercício 
de constitucionalismo é a Constituição Americana de 1787, primei-
ra constituição escrita do mundo (e até hoje vigente).
Logo, é possível identificar um constitucionalismo em sentido 
amplo e outro em sentido estrito: o primeiro diz respeito ao pró-
prio movimento histórico, social, político e/ou jurídico voltado à li-
mitação do poder; o segundo também remete a esses movimentos, 
mas agora por intermédio de uma constituição. Vê-se, pois, que 
enquanto o constitucionalismo em sentido amplo se materializa de 
modo mais difuso – com base em regras mínimas de organização 
social, impondo um padrão de conduta para os governantes, por 
exemplo –, o segundo se materializa com base na adoção de uma 
constituição para reger a sociedade.
De qualquer modo, seja em sua concepção ampla, seja em sua 
concepção estrita, é fato que o constitucionalismo não se desen-
volveu igualmente em todas as sociedades ao longo da história. Em 
cada local e momento particularidades condicionaram a limitação 
do poder. Ora essa limitação de poder ocorreu espontaneamen-
te pelos próprios governantes, ora foi a duras penas conquistada. 
Por esse motivo, inclusive, José Joaquim Gomes Canotilho (1993) 
prefere falar na existência não de um constitucionalismo, mas em 
constitucionalismos ou em movimentos constitucionalistas.
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 11
Feitas essas considerações introdutórias, as seções seguintes 
cuidarão de desenvolver de maneira mais aprofundada os pon-
tos acima rapidamente mencionados, tudo para fins de afirmar a 
importância do Direito Constitucional e das Constituições nas so-
ciedades minimamente interessadas na proteção de direitos e de 
garantias fundamentais.
1.1 Constitucionalismo na antiguidade 
Vídeo Como visto, em uma perspectiva ampla é possível identificar consti-
tucionalismo em todas as sociedades ao longo da história, mesmo nas 
mais antigas, ainda que exercido de maneira muito embrionária.
Quem bem explica o constitucionalismo na 
antiguidade é Karl Loewenstein (1979), autor de uma das 
mais importantes obras acerca da teoria constitucional. 
Para o autor, o primeiro povo que praticou o 
constitucionalismo foi o Hebreu. Enquanto sociedade 
teocrática, os Hebreus acreditavam que o poder era 
oriundo de uma entidade divina, superior, de modo que tanto o governante 
quanto os sacerdotes deviam exercê-lo conforme as diretrizes sagradas. 
Assim sendo, ainda que por fundamentos religiosos, é perfeitamente 
admissível afirmar que os Hebreus já praticavam constitucionalismo.
Da mesma maneira, dentre os povos antigos também é possível iden-
tificar traços de constitucionalismo entre os egípcios, pois estes também 
passaram a adotar alguns limites no exercício do poder especialmente 
após uma série de reformas promovida pelo Faraó Akhenaton, respon-
sável por propor a substituição de algumas leis seculares por leis morais.
É evidente que ambas as sociedades mencionadas conviviam com 
graves violações a direitos e garantias fundamentais. Dessa forma, é 
necessário frisar que nesses dois exemplos o que se vê é apenas o em-
brião de um constitucionalismo, aqui ainda compreendido em sua pers-
pectiva ampla de limitação ao exercício do poder estatal. Ainda assim, 
é possível identificar nessas sociedades traços mínimos de movimento 
constitucional que, certamente, foram se enraizando nas entranhas da 
sociedade, até evoluírem para o modelo atual de limitação de poder.
Diferencie o constituciona-
lismo em sentido amplo e o 
constitucionalismo e sentido 
estrito.
Atividade 1
12 Fundamentos do Direito Constitucional
Após o fim da Idade Antiga, já na Idade Média, alguns indicadores de 
constitucionalismo também se manifestam em Cartas ou Declarações 
feitas por Governantes em prol do exercício de direitos e por meio da 
limitação do poder. É o caso, por exemplo, da Magna Charta Libertatum, 
editada pelo Rei João Sem-Terra na Inglaterra, em 1215. Esse documento 
é representativo do constitucionalismo na história porque pela primeira 
vez um monarca reconheceu solenemente, em um documento, que os 
seus poderes não eram ilimitados. É bem verdade que a autolimitação do 
poder promovida pelo monarca implicou no reconhecimento de direitos 
apenas para uma minoria. Mas, ainda assim, a Magna Charta Libertatum 
pode ser apontada como um importante exemplo de constitucionalismo.
1.2 Constitucionalismo contemporâneo 
Vídeo Se na Idade Antiga ou mesmo na Idade Média o constitucionalismo 
se desenvolveu de modo difuso e, de certa forma, até mesmo rudimen-
tar, na Idade Contemporânea, o constitucionalismo encontrou terreno 
fecundo para se desenvolver. Isso porque, a partir de então, diversas 
revoluções foram deflagradas com o propósito específico de limitar o 
poder estatal e, consequentemente, afirmar a existência de um conjun-
to de direitos em prol da sociedade.
A independência norte-americana, proclamada em 4 de julho de 
1776, pode ser apontada como um exemplo dessas revoluções. Após 
uma série de divergências entre os interesses das Treze Colônias e da 
Inglaterra, os colonos passaram a considerar mais intensamente a fun-
dação de um país independente. O primeiro Congresso Continental da 
Filadélfia (1774) reuniu representantes de doze Colônias – a Geórgia 
não mandou nenhum representante – que redigiram um documento 
endereçado ao Rei Jorge II, de um lado afirmando a sua lealdade e, de 
outro, protestando contra algumas leis que impunham obrigações tri-
butárias consideradas exageradas. Ainda assim, as diferenças aumen-
taram e culminaram na declaração da independência.
Anos após a declaração da independência norte-americana, foi pro-
mulgada a Constituição de 1787, organizando o Estado e, mais tarde, 
reconhecendo uma série de direitos para a sociedade recém-indepen-
dente. Diz-se maistarde que a declaração de direitos apenas foi inseri-
da no texto constitucional americano em 1789, por meio de uma série 
de emendas que ficou conhecida como Bill of Rights 1 .
Bill of Rights: Declaração de 
Direitos.
1
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 13
A Constituição Americana promulgada em 1787 encontra-se vigen-
te até hoje. Graças à sua abertura – o que permite uma interpretação 
flexível que facilmente se adapta às demandas de uma sociedade que 
inevitavelmente muda com o tempo – , o texto constitucional mantém-
-se incólume há mais de duzentos anos.
A importância do texto constitucional americano é inegável, já que a 
sua promulgação condicionou uma nova forma de exercício de consti-
tucionalismo. Até então, o constitucionalismo vinha sendo exercido de 
maneira absolutamente difusa, pois não existiam documentos especí-
ficos voltados à limitação do poder estatal nas sociedades de outrora. 
O que havia eram apenas e tão somente práticas constitucionalistas 
mínimas, que normalmente se desenvolviam de modo muito informal, 
sem um suporte em um documento que vinculasse tanto os indivíduos 
quanto o próprio Estado.
Além disso, concomitantemente ao processo de independência 
norte-americana, estourou a Revolução Francesa de 1789. Os seus 
ideais de liberdade, igualdade e fraternidade condicionaram uma série 
de mudanças na ordem mundial que passou a não tolerar mais governos 
absolutistas e despóticos. Posteriormente à Revolução Francesa foi 
promulgada a Constituição Francesa de 1791 que, inclusive, incorporou 
os dispositivos da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, feita 
após o término da Revolução de 1789.
Figura 1
A Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix
DELACROIX, E. La Liberté guidant le peuple. 1830. Óleo sobre tela, 260 x 325 cm. Museu do Louvre, Paris.
incólume: que permanece 
igual; inalterado.
Glossário
O filme Danton é um 
excelente drama sobre a 
revolução. O filme foca na 
história do líder revolu-
cionário Danton (Gérard 
Depardieu) e seu con-
fronto pós-revolução com 
o ex-aliado Robespierre 
(Wojciech Pszoniak), já no 
poder. 
Direção: Andrzej Wajda. França: 
Gaumont, 1982.
Filme
14 Fundamentos do Direito Constitucional
Todos esses acontecimentos condicionaram o surgimento de um 
constitucionalismo em sentido estrito acima referido, aqui compreendi-
do como um movimento histórico, social, político e/ou jurídico, voltado à 
limitação do poder por meio de uma Constituição Escrita. Tanto a Cons-
tituição Americana quanto a Constituição Francesa iniciaram uma nova 
forma de promover o constitucionalismo. Se antes o este era exercido 
indefinidamente, sem um referencial político e jurídico preciso, a partir 
de então, as Constituições passaram a condicionar a limitação do poder 
estatal e, em poucos anos, tornaram-se realidade.
Ainda, todos esses acontecimentos demonstram que o constitucio-
nalismo não se desenvolve de modo homogêneo. Ao contrário, é con-
dicionado por fatores locais e temporais muito específicos, o que leva 
José Joaquim Gomes Canotilho (1993) a enfatizar, como visto, a existên-
cia não de um, mas de vários movimentos constitucionalistas.
Finalmente, há que se ter em mente que o Brasil não ficou indife-
rente a todo esse processo. A seção seguinte será destinada a analisar 
a trajetória do constitucionalismo brasileiro, abordando, inclusive, os 
acontecimentos históricos que antecederam a criação de cada um dos 
textos constitucionais promulgados ou outorgados.
1.3 Constitucionalismo brasileiro 
– Brasil Império
Vídeo Para compreender o que a atual Constituição representa para o Di-
reito brasileiro, é necessário compreender a evolução dos textos cons-
titucionais pretéritos. Ao todo, o país já teve oito Constituições que, em 
momentos políticos variados, aproximaram ou distanciaram a sociedade 
da democracia e de um contexto de efetiva proteção de direitos funda-
mentais. Todos os acontecimentos que circundaram a outorga ou pro-
mulgação dos textos passados contribuíram em maior ou menor escala 
para a afirmação de um texto constitucional, conforme afirma o preâm-
bulo do texto promulgado em 1988, destinado a:
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liber-
dade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade 
e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, 
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e 
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução 
pacífica das controvérsias. (BRASIL, 1988)
O constitucionalismo se 
desenvolve de maneira idêntica 
em todos os lugares?
Atividade 2
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 15
Em sua acepção formal é possível falar que o constitucionalismo 
brasileiro surge em 25 de março de 1824 com a outorga da Constitui-
ção Política do Império do Brasil. Dada a independência declarada dois 
anos antes, Dom Pedro I sinalizou a intenção de criar uma constituição 
que limitasse não apenas o poder da monarquia, mas também o poder 
da classe política e da própria sociedade.
O texto da Constituição Política do Império do Brasil está 
disponível no site do Planalto.
Para saber mais, acesse: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/Constituicao/Constituicao24.htm
Acesso em: 5 maio 2020.
Saiba mais
Constituição do Império do Brasil de 1824, sob guarda do 
Acervo Nacional.
Inicialmente, os trabalhos foram conduzidos por uma Assembleia 
Nacional Constituinte, convocada pelo próprio Imperador e formada 
por deputados constituintes. Ao longo dos trabalhos, contudo, diver-
gências políticas levaram a desentendimentos que forçaram Dom Pe-
dro I a dissolver a Assembleia no dia 12 de novembro de 1823. Com 
essa dissolução, Dom Pedro I convocou uma junta de pessoas de sua 
inteira confiança para criar o texto que deu origem à primeira Consti-
tuição brasileira: A Constituição Política do Império do Brasil, outorgada 
em 25 de março de 1824. As suas principais características estão descri-
tas no quadro a seguir.
Quadro 1
Características da Constituição de 1824
Constituição Política do Império do Brasil (25 de março de 1824)
Origem Outorgada
Forma de Estado
Unitário, com divisão em Províncias desprovidas de autonomia. Com base na re-
forma feita em 1834, essa centralização do poder acabou diminuindo na medida 
em que foram criadas Assembleias Legislativas Provinciais com um pouco mais de 
autonomia.
Forma de Governo
Monarquia Hereditária Constitucional cuja dinastia imperante era a de Dom Pedro 
I, “Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil”.
(Continua)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm
16 Fundamentos do Direito Constitucional
Constituição Política do Império do Brasil (25 de março de 1824)
Origem Outorgada
Sistema de Governo
Com a outorga do texto constitucional em 1824, o país assumiu um sistema de 
governo no qual o Imperador exercia tanto a chefia do Poder Executivo quanto do 
Poder Moderador, responsável pelo controle dos demais Poderes instituídos. Esse 
sistema de governo não se enquadra nos modelos ditos tradicionais, quais sejam, 
o Parlamentarismo e o Presidencialismo.
Contudo, após o Segundo Reinado, o Brasil passou a adotar um sistema de gover-
no muito parecido com o Parlamentarismo. O Decreto Imperial 523 de 1847 criou 
o cargo de Primeiro Ministro, político nomeado pelo Imperador Dom Pedro II de 
acordo com o resultado das eleições para a Câmara dos Deputados. É interessan-
te notar que o texto constitucional não previa tal sistema de governo, tendo sido a 
sua implementação feita por Decreto.
Poder Executivo
O Poder Executivo era exercido pelo Imperador com o auxílio de Ministros de 
Estado. O Imperador exercia atribuições de Chefe de Estado (representação do 
país perante a comunidade internacional) e de Chefe de Governo (condução dos 
assuntos políticos internos). No entanto, considerando a aproximação entre o Es-
tado e a religião no contexto político de 1824,o Imperador tinha atribuições como 
a de nomear Bispos e chancelar legislações eclesiásticas que, porventura, não co-
lidissem com o texto constitucional outorgado.
Poder Legislativo
No plano central havia uma Assembleia Geral – órgão equivalente ao atual Con-
gresso Nacional – formado por Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores, 
ou Senado. Além da responsabilidade de criar as leis, a Assembleia Geral possuía 
como atribuições tomar o juramento do Imperador, eleger eventual regente e esco-
lher nova dinastia no caso de extinção da dominante, dentre outras. A Câmara dos 
Deputados era formada por Parlamentares eleitos pelo voto censitário. O Senado 
era formado por Senadores nomeados pelo Imperador e tinham mandato vitalício.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário era formado por jurados e por juízes nomeados pelo Impera-
dor. O cargo era vitalício, mas podia ser suspenso por sentença ou pelo próprio 
Imperador.
Após a outorga do texto constitucional, a Lei de 18 de setembro de 1828 cria o 
Supremo Tribunal de Justiça (essa era a denominação na época) com dezessete 
magistrados. Na época, a lei não possuía um número, sendo designada apenas e 
tão somente pela data de sua criação.
Poder Moderador
Influenciada pelo modelo de separação de poderes idealizado por Benjamin 
Constant, a Constituição de 1824 adotou um modelo quadripartido. Sobrepondo-
se aos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, além do Poder Moderador, 
exercido pelo Imperador com o franco propósito de controlar os demais.
Relação entre os 
Poderes
Não havia um equilíbrio entre os Poderes. O Poder Moderador foi instituído com o 
propósito claro de diminuir e controlar os demais. Esse modelo foi abandonado a 
partir da Constituição subsequente, ocasião na qual passou a ser adotado o mode-
lo tripartite de separação de poderes sistematizado por Montesquieu.
(Continua)
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 17
Constituição Política do Império do Brasil (25 de março de 1824)
Origem Outorgada
Regime de Direitos 
Fundamentais
A Constituição de 1824 apresentava um rol de direitos fundamentais no fim do texto, 
o que denotava sua pequena importância no regime monárquico. Apesar de pro-
clamar a incidência da lei de modo igual para todos e de abolir açoites e tortura, 
convivia com um regime escravocrata. Ao contrário da atual Constituição, não havia 
na de 1824 uma preocupação com direitos sociais. Em relação aos direitos políticos, 
o voto era censitário, ou seja, ligado à renda dos cidadãos.
Particularidades
Foi a única Constituição Brasileira a prever quatro poderes. 
Além disso, declarava uma religião oficial, em que pese ter assegurado as demais 
em culto doméstico.
Não bastasse, foi a Constituição mais longeva de toda a história constitucional brasileira, 
tendo sido modificada apenas uma vez em suas mais de seis décadas de existência.
Finalmente, a Constituição de 1824 era semirrígida, uma vez que uma parte de suas 
disposições podia ser alterada conforme procedimentos mais difíceis e outra parte 
conforme os mesmos procedimentos empregados para a alteração da legislação 
infraconstitucional.
Influências
A Constituição de 1824 foi fortemente influenciada pela Constituição Francesa de 
1789.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1824.
A Constituição de 1824 foi a mais longeva em toda a história do país, 
tendo perdurado até a proclamação da República, em 15 de novembro 
de 1889 pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Formalmente, a proclama-
ção da República foi feita pelo Decreto 1 de 15 de novembro de 1889, 
cujos primeiros artigos assim dispunham:
Art. 1º - Fica proclamada provisoriamente e decretada como a 
forma de governo da Nação brasileira - a República Federativa.
Art. 2º - As Províncias do Brasil, reunidas pelo laço da Federação, 
ficam constituindo os Estados Unidos do Brasil.
Art. 3º - Cada um desses Estados, no exercício de sua legítima so-
berania, decretará oportunamente a sua constituição definitiva, 
elegendo os seus corpos deliberantes e os seus Governos locais.
Art. 4º - Enquanto, pelos meios regulares, não se proceder à elei-
ção do Congresso Constituinte do Brasil e bem assim à eleição das 
Legislaturas de cada um dos Estados, será regida a Nação brasilei-
ra pelo Governo Provisório da República; e os novos Estados pelos 
Governos que hajam proclamado ou, na falta destes, por Governa-
dores delegados do Governo Provisório. (BRASIL, 1889)
Indicamos a leitura dos 
livros 1808, 1822 e 1889, 
de Laurentino Gomes. Os 
livros trazem um panora-
ma histórico dos eventos 
que perpassaram, res-
pectivamente, a vinda da 
família real portuguesa ao 
Brasil, em 1808; o Brasil 
imperial e a Proclamação 
da Independência, em 
1822; e a Proclamação da 
República, em 1889.
GOMES. Laurentino. 1808. Editora 
Globo: Rio de Janeiro, 2014.
GOMES. Laurentino. 1822. Editora 
Globo: Rio de Janeiro, 2015.
GOMES. Laurentino. 1889. Editora 
Globo: Rio de Janeiro, 2013.
Livro
18 Fundamentos do Direito Constitucional
A proclamação da República foi feita em poucas horas após uma sé-
rie de movimentos militares que, de certo modo, passaram despercebi-
dos pela ampla maioria da população, que, na época, vivia nos campos, 
alheia às movimentações políticas estruturais. Tanto que uma análise 
da história releva que a população da época pensou que a marcha que 
iria depor Dom Pedro II não passava de uma simples passeata militar. 
1.4 Constitucionalismo brasileiro – 
Primeira e Segunda Repúblicas
Vídeo A partir de 1870, o governo de Dom Pedro II passou a sofrer intensa 
pressão social. As implicações da Guerra do Paraguai (1864-1870) na 
política e na economia nacional, a questão abolicionista e o fato de 
a Princesa Isabel, sucessora de Dom Pedro II, ter se casado com um 
francês, o que causava um receio de o país vir a ser governado por 
um estrangeiro, expuseram demasiadamente a Coroa. Tudo isso levou 
a um descontentamento, principalmente por parte dos militares, que 
conduziu à proclamação de uma nova forma de governo para o país. 
Nesse contexto, foi proclamada a República, pelo Marechal Deodoro 
da Fonseca, em 1889, dando fim a mais de seis décadas de um Brasil 
Monárquico independente.
A nova Constituição rompeu com o modelo adotado durante o Im-
pério e, influenciada pela Constituição Americana de 1787, inaugurou 
uma República Presidencialista, ou seja, um governo em que qualquer 
um poderia assumir o poder por tempo determinado após voto popu-
lar (voto que, no início, estava limitado apenas e tão somente aos ho-
mens). Tratou-se de um texto constitucional muito diverso do anterior, 
já que inovava em termos de modo de governo – República no lugar da 
Monarquia – e na forma de Estado – Federação no lugar de Estado Uni-
tário –, acabava com a religião oficial no país, instituía uma separação 
de poderes com base na lógica tripartite montesquiana, colocava um 
fim em privilégios e títulos de nobreza, dentre outros pontos a mais. 
Em linhas gerais, conforme Quadro 2, a Constituição de 1891 assim 
dispunha:
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 19
Quadro 2
Características da Constituição de 1891
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (24 de fevereiro de 1891)
Origem Promulgada
Forma de Estado
Federação formada pela união de Estados (antigas Províncias). Além dos Estados, 
o modelo inaugurado pelo texto constitucional de 1891 também trazia a União 
como ente autônomo e reservava uma área de 14.400 quilômetros quadrados 
no Planalto Central para a futura instalação daquilo que, mais tarde, viria a ser o 
Distrito Federal.
Forma de Governo República.
Sistema de Governo
Presidencialismo, exercido no plano federal por um Presidente eleito por qualquer 
brasileiro nato, em dia com os direitos políticos e com mais de trinta e cinco anos 
para um mandato de quatro anos.
Poder Executivo
O Poder Executivo passou por uma intensa reestruturação. Para instrumentalizar 
a alternância no poder – nota característica da República – foi instituído o modelo 
presidencialistaque até hoje é adotado.
Poder Legislativo
No plano federal, o Poder Legislativo era exercido no âmbito do Congresso Na-
cional, formado por uma Câmara de Deputados e por um Senado Federal. Tanto 
deputados quanto senadores eram eleitos por voto popular, diferentemente do 
modelo anterior, no qual os senadores eram nomeados.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário também passou por reestruturação. A principal mudança foi a 
criação do Supremo Tribunal Federal, formado por quinze juízes nomeados den-
tre cidadãos de notável saber e reputação. Diferente do modelo atual, o texto 
constitucional não falava em notável saber jurídico, mas apenas em notável saber. 
Com base nessa abertura foi nomeado para o Tribunal um Ministro sem formação 
jurídica. Tratava-se do Ministro Barata Ribeiro, médico, que exerceu o cargo por 
cerca de um ano. Anos mais tarde foi inserido na Constituição o adjetivo “jurídico”, 
restringindo o acesso apenas para pessoas que tivessem uma alta afinidade com 
o Direito.
Relação entre os 
Poderes
O modelo quadripartite de separação de poderes idealizado por Benjamin 
Constant foi substituído pelo modelo tripartite de Montesquieu. Nesse modelo, o 
Poder Moderador foi abolido e as três funções estatais foram distribuídas entre os 
Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa lógica acompanhou todos os textos 
constitucionais subsequentes, muito embora em alguns influxos democráticos o 
Poder Executivo tenha ofuscado os demais (como aconteceu com a Constituição 
de 1937 e com as Constituições de 1967 e 1969, todas outorgadas por regimes 
autoritários e não democráticos).
Regime de Direitos 
Fundamentais
Os direitos fundamentais foram mantidos no fim do texto. Tal qual no modelo 
anterior, não havia uma tutela efetiva de direitos sociais. Em que pese, a tutela dos 
direitos fundamentais ainda ser bastante tímida, a Constituição de 1891 avançou à 
medida em que acabou com o catolicismo como religião oficial e instituiu a liberda-
de de crença. Não bastasse, o texto promulgado também acabou com privilégios 
de nascimento, foros de nobreza, ordens honoríficas ou títulos nobiliárquicos.
nobiliárquico: o que possui ou expressa caráter de nobre, referente à nobreza.
Glossário (Continua)
20 Fundamentos do Direito Constitucional
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (24 de fevereiro de 1891)
Origem Promulgada
Particularidades
O texto promulgado promoveu uma profunda mudança na estrutura política do 
país, acabando, por exemplo, com o Poder Moderador e estabelecendo a inde-
pendência entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. No entanto, a mu-
dança não foi de pronto assimilada. A sociedade somente notou as mudanças 
decorrentes do novo regime com o passar dos anos. Em 1926 houve uma grande 
reforma do texto constitucional para tentar aumentar o poder da União, visto que 
a Primeira República – ou República Velha – atribuía muitos poderes aos Estados, 
tal qual até hoje o faz a Constituição Norte Americana, que serviu de inspiração 
para a Constituição de 1891.
Influências
A Constituição de 1891 foi influenciada pela Constituição norte-americana de 1787. 
Tanto que o nome do país passou a ser República dos Estados Unidos do Brasil. 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1891.
A Constituição de 1891 entrou em vigor em um contexto político bas-
tante conturbado. A intenção de criar um sistema de fortalecimento do 
Governo Federal esbarrou em um contexto político em que os Estados 
detinham um protagonismo político muito grande. Nos primeiros anos 
de sua existência, o texto constitucional conviveu com a chamada políti-
ca dos governadores, modelo político em que o Presidente da República 
apoiava Governadores que, por meios de seus coronéis – líderes regio-
nais que recebiam o nome, embora não tivessem qualquer vinculação 
com as forças armadas –, encarregavam-se de fraudar as eleições por 
meio do cabresto, para eleger parlamentares pró-governo federal.
Essa prática somente veio a perder forças em 1926, ocasião na qual 
o texto constitucional passou por uma grande reforma que limitou a 
influência dos Estados no jogo político nacional. Apesar disso, as adap-
tações não conseguiram tornar o texto promulgado imune à crise da 
Bolsa de Nova Iorque de 1929. Iniciado em outubro de 1929, a “quebra 
da bolsa” impactou negativamente a economia mundial. O Brasil não 
ficou imune à crise e sofreu uma grande queda na exportação de café.
Na época, o Brasil vivia a chamada política do café com leite, modelo de 
revezamento político entre as oligarquias mineira (produtora de leite) e 
paulista (produtora de café) que, de comum acordo, se comprometiam a 
apoiar candidatos à Presidência de um dos Estados a cada ciclo eleitoral, 
tudo para evitar a ascensão de lideranças de outros Estados. Esse mode-
lo nada mais era do que uma continuidade da política dos governadores.
Antes de prosseguirmos, é necessário registrar que contra essa po-
lítica se desenvolveram alguns protestos. Um dos mais notórios foi a 
O filme nacional Olga, 
tem como pano de fundo 
o início dos movimentos 
nazistas na Alemanha, 
o governo de Getúlio 
Vargas e o crescimento 
de ideais comunistas. 
O filme é inspirado na 
história de Olga Benário 
Prestes, militante 
comunista que, com 
Carlos Prestes, esteve 
à frente da chamada 
Intentona Comunista. 
Direção: Jayme Monjardim. Brasil: 
Europa Filmes, 2004. 
Filme
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 21
Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes. Composta por cerca 
de mil e quinhentas pessoas – a maioria esmagadora soldados homens 
–, a Coluna percorreu vinte e cinco mil quilômetros, entre 1925 e 1927, 
através de treze estados brasileiros. Os manifestantes questionavam 
o regime oligárquico da política do café com leite e reivindicavam voto 
secreto, ensino público e superação das desigualdades sociais. No en-
tanto, as ligações de Luís Carlos Prestes com organizações comunistas 
causaram desconfianças em relação às reais intenções do movimento.
Retornando à política do café com leite, a crise de Nova Iorque der-
rubou o preço do café, motivo que levou o Presidente Washington Luís 
– oriundo do estado de São Paulo – a apoiar um candidato paulista 
quando, em verdade, deveria ter apoiado um candidato do agrado da 
oligarquia de Minas Gerais, mais especificamente, Getúlio Vargas. O des-
contentamento dos mineiros foi catalisado pela eleição de Júlio Prestes, 
com 1.091.709 votos contra 742.797 dados à Getúlio Vargas. Com o pre-
texto de que houve fraude nas eleições, Getúlio Vargas tomou à força o 
poder no dia 3 de novembro de 1930 – data que marca o fim da Repú-
blica Velha –, depondo o Presidente eleito Washington Luís e impedindo 
Júlio Prestes de assumir o cargo para o qual tinha sido eleito.
Após o golpe, Getúlio Vargas passou a presidir o país em um “gover-
no provisório”. Um dos primeiros atos do ditador empossado foi inau-
gurar uma nova ordem constitucional, o que foi feito pelo Decreto n. 
19.398/1930 que, praticamente, antecipou a revogação da Constituição 
de 1891. O referido decreto falava na convocação de uma nova Assem-
bleia Nacional Constituinte para a criação de um novo texto constitu-
cional. O artigo primeiro do Decreto 19.398/1930 “institue o Governo 
Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, e dá outras pro-
videncias”, e estabelecia que: “Art. 1º O Governo Provisório exercerá 
discricionariamente, em toda sua plenitude, as funções e atribuições, 
não só do Poder Executivo, como também do Poder Legislativo, até 
que, eleita a Assembléia Constituinte, estabeleça esta a reorganização 
constitucional do país” (BRASIL, 1930). Embora o artigo quarto tenha 
afirmado que se mantinha em vigor a Constituição Federal e também 
as Constituições Estaduais, o artigo primeiro praticamente encerrava a 
vigência da Constituição de 1891.
No entanto, Getúlio Vargas manteve um governo quase que abso-
luto, passando ao largo da convocação que ele próprio havia se com-
prometido a fazer.Tal fato causou uma reação no Estado de São Paulo, 
22 Fundamentos do Direito Constitucional
preterido na escolha popular, em que pese o rompimento do acordo 
decorrente da política do café com leite. Essa reação ficou conhecida 
como Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em 9 de julho des-
se mesmo ano, quando tropas de Getúlio mataram quatro jovens que, 
juntamente com outros mais, protestavam contra o Governo não eleito.
A Revolução fracassou. Mas ainda assim contribuiu – senão foi de-
terminante – para a convocação da Assembleia Nacional, que deu ori-
gem à Constituição de 1934. Embora repleta de boas intenções e muito 
avançada para a época, foi uma Constituição que durou apenas até 
1937, ocasião na qual Getúlio Vargas avançou novamente contra a de-
mocracia e, em um golpe de Estado, se levantou agora como ditador de 
um Estado Novo. De qualquer forma, a Constituição de 1934 apresen-
tou as características listadas no quadro a seguir.
Quadro 3
Características da constituição de 1934
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934)
Origem Promulgada
Forma de Estado
Federação, formada pela união de Estados. O Distrito Federal foi inserido na orga-
nização política brasileira como ente autônomo ao lado dos Estados e da própria 
União e de seus recém-criados Territórios. Houve um fortalecimento da figura cen-
tral da União, deixando para trás a política dos governadores e mesmo a política do 
café com leite que marcou a República Velha.
Forma de Governo República.
Sistema de Governo
Presidencialismo, tal qual no modelo anterior exercido no plano federal por um 
Presidente eleito por qualquer brasileiro nato, em dia com os direitos políticos e 
com idade maior que trinta e cinco anos, para um mandato de quatro anos.
Poder Executivo
O sistema presidencialista foi mantido, de modo que o país continuou sendo 
administrado por um Presidente.
Poder Legislativo
No plano federal, o Poder Legislativo era exercido no âmbito do Congresso Na-
cional, formado por uma Câmara de Deputados com a colaboração do Senado 
Federal.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário também passou por mudanças profundas, especialmente para 
adaptá-lo ao novo regime de direitos fundamentais vocacionados também para 
a proteção de direitos sociais. Nesse sentido, foi criada a Justiça Eleitoral (com o 
propósito de tornar de fato legítimas as eleições, muito fraudadas no contexto da 
política dos governadores). O Supremo Tribunal Federal foi mantido, mas com novo 
nome: Corte Suprema.
(Continua)
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 23
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934)
Origem Promulgada
Relação entre o 
Poderes
A separação de poderes foi mantida em um sistema de equilíbrio entre Legislativo, 
Executivo e Judiciário.
Regime de Direitos 
Fundamentais
Os direitos fundamentais foram mantidos na parte final do texto constitucional, 
na qual ficariam até a promulgação do texto constitucional de 1988. No entanto, a 
Constituição Brasileira de 1934 operou significativos avanços na tutela dos direitos 
fundamentais. Além de direitos individuais e coletivos, o texto também contem-
plou direitos sociais com uma preocupação nunca antes vista. Nesse contexto, o 
texto constitucional limitou a jornada de trabalho a oito horas diárias, proibiu o 
trabalho infantil e fez menção a férias remuneradas e remuneração para traba-
lhadoras grávidas. 
Particularidades
Embora feita no contexto de um governo que assumiu o poder de maneira não de-
mocrática – Getúlio Vargas não havia sido eleito para ocupar o cargo de Presidente 
da República –, a Constituição de 1934 promoveu avanços na área de direitos fun-
damentais e promoveu um fortalecimento da União. 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1934.
A Constituição de 1934 não pertencia ao seu tempo. Altamente de-
mocrática e compromissada com direitos fundamentais – especialmen-
te os sociais –, convivia com um presidencialismo artificial desenvolvido 
em um “Governo Provisório”, instalado após a deposição de Washing-
ton Luís e o embaraço à posse de Júlio Prestes. Sua promulgação não se 
deveu à caridade de Getúlio Vargas, mas à pressão feita pela Revolução 
Constitucionalista de 1932. Por isso, a democracia que se almejava es-
tava condenada.
Uma vez em vigor, iniciaram-se as campanhas para a sucessão 
presidencial marcada para janeiro de 1938. Getúlio Vargas não podia 
concorrer porque a reeleição era proibida pela Constituição de 1934. 
Contudo, não fazia parte dos planos de Getúlio Vargas deixar o poder 
expropriado de modo ilegítimo anos antes. Dessa vez, o pretexto para a 
manutenção de seu presidencialismo forçado foi a ameaça comunista.
Como visto, entre 1925 e 1927 o Brasil foi cruzado pela Coluna 
liderada por Luís Carlos Prestes. Ao fim da marcha, Prestes – que era 
militar – procurou asilo em países que faziam fronteira com o Brasil. 
Ao fim de sua estadia, descobriu-se comunista e planejou implantar 
o regime no Brasil com o apoio internacional direto e/ou indireto. 
Passados alguns anos, o Congresso Nacional anistiou Luís Carlos 
Prestes que, na ocasião, já estava filiado ao Partido Comunista do Brasil. 
Ainda, sob a influência da Internacional Comunista, fundou no Brasil a 
24 Fundamentos do Direito Constitucional
Aliança Nacional Libertadora, cujo objetivo declarado era organizar a 
revolta armada contra o governo de Vargas.
A pretexto de combater essa ameaça, Getúlio Vargas rompeu com a 
ordem constitucional preexistente e, no dia 10 de novembro de 1937, 
decretou aquilo que viria a ser chamado de Estado Novo. O estopim 
para o golpe de Getúlio Vargas foi o Plano Cohen, suposta estratégia 
orientada pela antiga União Soviética para tomar o poder no Brasil e 
implantar um modelo totalmente comunista. Mais tarde, descobriu-se 
que o plano nunca existiu, tendo sido redigido por um militar chamado 
Olympio Mourão, que também participaria do golpe militar de 31 de 
março de 1964. De qualquer forma, ainda que falso, o Plano Cohen foi 
suficiente para Getúlio Vargas interromper o processo eleitoral e dar 
o seu segundo golpe de Estado. Embora existissem razões suficientes 
para acreditar que o comunismo não era uma solução saudável para 
o país no momento, ainda assim o poder foi usurpado por Getúlio 
Vargas, na contramão dos ideais de democracia e participação popular 
queridos pela Constituição de 1934.
1.5 Constitucionalismo brasileiro – 
Terceira República – Estado Novo 
Vídeo No dia do golpe – 10 de novembro de 1937 –, Getúlio Vargas de-
terminou o fechamento do Congresso Nacional e outorgou uma nova 
Constituição. O novo texto era marcado pela centralização do poder, 
pelo nacionalismo, pelo anticomunismo e, especialmente, por seu au-
toritarismo. A influência veio da Constituição Polonesa vigente na épo-
ca, marcada por igual autoritarismo. Por esse motivo, a Constituição 
de 1937 ficou conhecida como a “Constituição Polaca”, e dentre suas 
características é possível mencionar, conforme o quadro a seguir:
Quadro 4
Características da Constituição de 1937
Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1937)
Origem Outorgada
Forma de Estado
Federação formada pela reunião dos Estados, Distrito Federal e da União (e seus 
Territórios).
(Continua)
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 25
Constituição dos Estados Unidos do Brasil (1937)
Origem Outorgada
Forma de Governo
República. No entanto, substancialmente, as possibilidades de acesso à chefia do 
Poder Executivo estavam comprometidas, uma vez que o texto constitucional visa-
va apenas e tão somente concentrar e manter os poderes nas mãos de uma única 
pessoa: Getúlio Vargas.
Sistema de Governo
Presidencialismo exercido por um Presidente tido como “autoridade suprema”, a 
quem cabia coordenar a atividade dos órgãos representativos de grau superior, 
dirigir a política interna e externa e promover ou orientar a política legislativa de 
interesse nacional. Em sua versão originária, a Constituição não regulamentavaas 
eleições do Presidente, visto que o texto foi criado justamente para manter Getúlio 
Vargas no poder.
Poder Executivo
Extremamente centralizador, era, sem dúvida, o Poder mais proeminente no cons-
titucionalismo brasileiro de 1937.
Poder Legislativo
No âmbito federal, o Poder Legislativo era exercido por um Parlamento Nacional 
– formado por Câmara de Deputados e Conselho Federal – com a colaboração do 
Conselho da Economia Nacional e do Presidente da República. É importante desta-
car, contudo, que a menção ao Parlamento Nacional era simbólica, pois ele esteve 
fechado durante o Estado Novo a mando do Presidente Getúlio Vargas.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário passou por modificações com a outorga da Constituição de 
1937. O Supremo Tribunal Federal voltou a ser assim denominado, abandonando 
a denominação de Corte Suprema adotada pela Constituição de 1934. Além disso, 
a Constituição de 1937 extinguiu a Justiça Eleitoral, criada pelo texto anterior. Em 
paralelo, criou a Justiça Trabalhista, visto que o governo getulista se mantinha com 
uma política voltada para a classe trabalhadora.
Relação entre os 
Poderes
A relação entre os Poderes estava prejudicada em razão da proeminência do Exe-
cutivo autoritário que exercia tanto as funções administrativas quanto as funções 
legislativas.
Regime de Direitos 
Fundamentais
Houve um retrocesso em relação aos direitos fundamentais. A institucionalização 
da tortura, a perseguição de opositores políticos e a quantidade de hipóteses de 
crimes punidos com morte eram indicadores do quão ofensivo aos direitos fun-
damentais era o regime getulista. Igual constrangimento ocorria em relação aos 
direitos políticos, visto que não havia a possibilidade de seu exercício no âmbito 
do presidencialismo.
Particularidades
Como visto, o texto constitucional outorgado em 1937 não passava de um instru-
mento para legitimar a permanência de Getúlio Vargas no poder. Nesses termos, 
o texto dava ao Presidente da República poderes quase que ilimitados para, além 
de governar o país, legislar por meio dos chamados “Decretos-Leis”. Ainda, consubs-
tanciavam prerrogativas absolutas do Presidente da República, como: “indicar um 
dos candidatos à Presidência da República”, “dissolver a Câmara dos Deputados”, 
“adiar, prorrogar e convocar o Parlamento”, dentre outros expedientes absoluta-
mente autoritários.
Influências
A Constituição de 1937 foi fortemente influenciada pela Constituição da Polônia, 
igualmente autoritária. Por esse motivo, ficou conhecida como a “Constituição Po-
laca”.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1937.
26 Fundamentos do Direito Constitucional
Foi durante o governo getulista que o mundo se envolveu na Segunda 
Grande Guerra (1º de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945). Ao fim 
do conflito, o mundo assistiu à derrocada de países fascistas e ditatoriais 
por países democráticos e livres. Nesse contexto, era insustentável 
que países participantes da liga vencedora se mantivessem alheios 
à democracia. Dito de outra forma, não havia como defender o envio 
de soldados para lutar em prol da democracia no teatro de guerra da 
Europa enquanto no Brasil a população vivia em uma ditadura.
Ainda pesava contra Getúlio Vargas a questão trabalhista. Para se 
legitimar no poder – usurpado em 1930 –, Getúlio Vargas aproximou-se 
da classe trabalhadora. Nesse contexto, deixou a Assembleia Nacional 
Constituinte elaborar o texto constitucional de 1934, marcado pela pre-
visão de direitos sociais. Na mesma linha, mesmo na Constituição de 
1937, instrumento para se manter no poder, criou a Justiça do Traba-
lho. Ocorre que essa aproximação com a classe operária, especialmen-
te com os sindicatos, preocupava a classe militar.
A concomitância desses dois fatores fez com que os militares impu-
sessem a renúncia de Getúlio Vargas, o que foi feito em 29 de outubro 
de 1945. Com sua renúncia, assumiu o poder o Presidente do Supe-
rior Tribunal Eleitoral, José Linhares, que governou até 31 de janeiro de 
1946. Nesses meses, foi organizada a eleição presidencial que colocou 
Eurico Gaspar Dutra como presidente do Brasil, iniciando o período co-
nhecido como Quarta República.
1.6 Constitucionalismo brasileiro 
– Quarta República 
Vídeo Uma das consequências do novo regime foi a convocação de uma 
nova Assembleia Constituinte. Os trabalhos iniciaram em 1946 e no 
dia 18 de setembro foi, enfim, promulgada a Constituição de 1946. A 
principal contribuição do novo texto foi o resgate da democracia e a 
retomada de direitos sonegados com o golpe de 1937. Anos mais tarde, 
a nova Constituição sucumbiria a um novo regime militar deflagrado 
no dia 31 de março de 1964, ocasião na qual novamente os direitos 
fundamentais recém-recuperados seriam relegados a segundo plano. 
De qualquer forma, quando promulgada, a Constituição de 1946 
contava com as seguintes características:
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 27
Quadro 5
Características da Constituição de 1946
Constituição dos Estados Unidos do Brasil (18 de setembro de 1946)
Origem Promulgada
Forma de Estado
Federação formada pela reunião dos Estados, Distrito Federal e da União (e seus 
Territórios).
Forma de Governo República.
Sistema de Governo Presidencialista.
Poder Executivo O Poder Executivo passou a ser exercido pelo Presidente com base em eleições.
Poder Legislativo
No âmbito federal, o Poder Legislativo era exercido pelo Congresso Nacional, for-
mado por Câmara dos Deputados e por Senado Federal.
Poder Judiciário A Justiça Eleitoral foi restabelecida e os demais órgãos foram preservados.
Relação entre os 
Poderes
A relação de harmonia e independência entre os poderes foi mantida.
Regime de Direitos 
Fundamentais
Os direitos fundamentais foram restabelecidos. As inúmeras hipóteses de pena de 
morte autorizadas no regime anterior foram limitadas apenas àquelas decorren-
tes de crime militar em caso de guerra declarada. Os direitos sociais e os direitos 
políticos foram mantidos.
Particularidades
O texto promulgado restabeleceu a democracia em um contexto muito contur-
bado que, inclusive, reelegeu Getúlio Vargas, ditador no período anterior. Ainda, a 
Constituição de 1946 foi a primeira que contou com lideranças comunistas na sua 
elaboração. Mais tarde, tal qual ocorreu com o golpe que prolongou a estadia de 
Vargas no poder, a presença de intenções comunistas acabaram por deflagrar um 
novo regime autoritário.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1946.
A Constituição de 1946 regeu tranquilamente o país até o fim da 
década de 1950. No início da década de 1960, contudo, o país experi-
mentava uma tensão alimentada pela Guerra Fria, que dividia o mundo 
em capitalistas e socialistas totalitários/comunistas.
1.7 Constitucionalismo brasileiro 
– Regime Militar 
Vídeo No início, estes movimentos totalitários comunistas estavam cir-
cunscritos à antiga União Soviética, e em 1959, a Revolução Cubana 
foi concluída e, pela primeira vez, instalou-se nas Américas um regi-
me totalmente socialista. Temendo que o Brasil aderisse a um bloco 
28 Fundamentos do Direito Constitucional
comunista latino-americano, setores políticos liberais aliados às forças 
armadas deram início a um processo que culminou no regime militar, 
que governou o país entre 31 de março de 1964 e 15 de março de 1985.
A preocupação foi agravada com a eleição de Jânio Quadros, em 
outubro de 1960. Apesar de ser considerado conservador e anticomu-
nista, ao tomar posse em janeiro de 1961, Quadros adotou uma série 
de políticas lidas por variados segmentos da sociedade como flertes 
com o comunismo. A título de exemplo, estreitou relações diplomáticas 
com a União Soviética e com a Rússia, condenou o episódio da CIA – e 
a interferência norte-americana que culminou no isolamento de Cuba, 
condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul 2 , dentre 
outras políticas na época polêmicas. A fama vinha desde a época em 
que atuou como Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas,ocasião na 
qual implementou um aumento de 100% no salário mínimo e militou 
em prol da reforma agrária.
Dada essa conjuntura política, Jânio Quadros perdeu o apoio dos 
militares e sofreu pressão de lideranças oposicionistas, como a de Carlos 
Lacerda. Forçado a renunciar, assim o fez em 25 de agosto de 1961 ao 
fim de pouco mais de seis meses de governo. Por força do disposto no 
artigo 79 da Constituição de 1946, a presidência deveria ser assumida 
pelo Vice-Presidente, João Goulart. Ocorre que este encontrava-se em 
missão diplomática na China, o que reforçava a suspeita de aproximação 
do Governo com o ideal comunista. João Goulart – ou Jango, como era 
conhecido – foi impedido de assumir o cargo, fato que levou à deflagração 
da chamada Campanha da Legalidade, capitaneada por Leonel Brizola 
(Governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango), que exigia a 
posse, na forma prevista pela Constituição de 1946.
Imediatamente, Jango retorna ao país e, como forma de contornar 
o impasse, no dia 2 de setembro de 1961 foi promulgada uma emenda 
constitucional que instituiu o Parlamentarismo no Brasil. Com essa me-
dida, Jango pôde retornar ao poder como Presidente eleito pelo Con-
gresso Nacional, para um mandato de cinco anos. Voltava, contudo, 
com poderes limitados pelo Parlamento, visto que todos os seus atos 
deveriam ser referendados pelo Conselho de Ministros que respondia 
diretamente à Câmara dos Deputados.
Esse modelo parlamentarista não durou muito, contudo. No início 
de 1963, foi convocado um plebiscito nacional para fins de referendar 
Ordem Nacional do Cruzeiro do 
Sul é uma das mais importantes 
comendas concedidas pelo 
Presidente da República Federa-
tiva do Brasil a personalidades 
estrangeiras.
2
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 29
o parlamentarismo ou restabelecer o presidencialismo. Com larga van-
tagem de votos (76,9%), o presidencialismo foi retomado e João Goulart 
passou a governar sem o controle do Conselho de Ministros.
Tal fato elevou a presença do Presidente da República no cenário 
nacional e, ao mesmo tempo, elevou a tensão e a expectativa de que 
Jango retomasse a aproximação com o comunismo. Embora existam 
indicadores para afirmar que essa não era a vocação de João Goulart, 
é fato que, restabelecido o seu poder, algumas políticas chamaram a 
atenção da sociedade, dos militares e, de certa forma, da política norte-
-americana. A sua “Reforma de Bases” – como ficou conhecido o pacote 
de mudanças anunciado pelo Presidente João Goulart – propunha a 
reforma agrária e a proibição de empresas estrangeiras enviarem aos 
países de origem mais do que 10% dos lucros auferidos no Brasil.
Parte dessas políticas foram anunciadas em tom enérgico no dia 
13 de março de 1964 no famoso “Comício da Central do Brasil” para 
aproximadamente duzentas mil pessoas, na cidade do Rio de Janeiro. A 
oposição a João Goulart leu em suas palavras uma intenção de guinar 
o país à esquerda extrema e, visando combatê-la, organizou a Marcha 
da Família com Deus e pela Liberdade, ocasião em que foram às ruas 
aproximadamente um milhão de pessoas no dia 19 de março de 1964.
A alta adesão à marcha chamou a atenção dos militares que, 
entendendo-a como um “chamado ao dever”, iniciaram a revolução que 
culminou no golpe de 1964. A tomada do poder começou no dia 31 de 
março de 1964, quando militares, sob o comando do General Olympio 
Mourão, marcharam partindo de Juiz de Fora exigindo a renúncia de 
João Goulart. Este deixou Brasília em direção a Porto Alegre e, vendo 
que nada mais havia a fazer, refugiou-se no Uruguai. O Presidente 
do Senado Federal declarou a vacância da chefia do Poder Executivo 
Federal e empossou o Presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri 
Mazzilli, na Presidência da República.
O movimento contou com apoio de parte da sociedade civil, da im-
prensa, do governo americano – que chegou a deslocar ao Brasil uma 
esquadra com um porta aviões e outras embarcações de guerra e de 
apoio – e de políticos influentes da alta cúpula brasileira, incluindo o 
Presidente do Senado Federal que declarou a vacância do cargo. Logo, 
o golpe de 1964 não foi apenas um golpe militar. Foi um golpe militar, 
civil e parlamentar.
30 Fundamentos do Direito Constitucional
Uma das primeiras providências do regime militar foi editar, no dia 
9 de abril de 1964, o Ato Institucional n. 1. Tido pelos seus criadores 
como manifestação de um Poder Constituinte Originário, o Ato Institu-
cional n. 1 manteve a Constituição de 1946, mas antecipou as eleições 
para Presidente da República para o dia 11 de abril do mesmo ano. As 
eleições seriam feitas de maneira indireta pelo Congresso Nacional, e 
não mais diretamente como preconizava o texto constitucional ainda 
vigente. Na ocasião, foi eleito como Presidente da República o Marechal 
Humberto de Alencar Castello Branco, que governou o Brasil entre os 
dias 15 de abril de 1964 e 15 de março de 1967.
Além de ter mudado a política presidencial no país, o Ato Institucio-
nal n. 1 também trouxe a possibilidade de suspender direitos políticos e 
cassar mandatos legislativos de opositores com exclusão de apreciação 
do Poder Judiciário da legalidade de tais atos. Na sequência, também 
foram editados outros Atos Institucionais com medidas igualmente se-
veras, como é o caso do Ato Institucional n. 2, que instituiu o bipartida-
rismo no país, criando o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e o 
ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Para fins de compilá-las em uma 
nova ordem, veio à tona a intenção de criar um novo texto constitucio-
nal para reger o país. Eis que é outorgada a Constituição de 1967, cujas 
principais características podem assim ser resumidas:
Quadro 6
Características da Constituição de 1967
Constituição da República Federativa do Brasil (24 de janeiro de 1967)
Origem Outorgada
Forma de Estado Federação.
Forma de Governo
República, muito embora a escolha popular estivesse prejudicada no âmbito do 
Poder Executivo Federal.
Sistema de Governo
Presidencialismo. No plano federal, contudo, as eleições eram indiretas, cabendo 
as escolhas a um Colégio Eleitoral composto por membros do Congresso Nacional 
e das Assembleias Legislativas Estaduais. O Presidente escolhido tomava posse no 
Congresso Nacional ou, se este não estivesse reunido em razão dos fechamentos, 
no Supremo Tribunal Federal. 
Poder Executivo
O texto constitucional consolidou o movimento deflagrado em 1964 e instituiu 
um Poder Executivo centralizador. A partir de então, a chefia do Poder Executivo 
passou a ser escolhida de modo indireto, prática que foi apenas interrompida com 
o movimento Diretas Já.
(Continua)
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 31
Constituição da República Federativa do Brasil (24 de janeiro de 1967)
Origem Outorgada
Poder Legislativo
Exercido no plano federal pelo Congresso Nacional, formado pela Câmara dos 
Deputados e pelo Senado Federal. Por mais de uma vez, ao longo da história da 
ditadura militar, foi decretado o recesso do Congresso Nacional, que também teve 
que conviver com Atos Institucionais que complementavam o texto constitucional 
como manifestações de um Poder Constituinte Originário.
Poder Judiciário
Formado pelo Supremo Tribunal Federal, Tribunais Federais de Recursos, Juízes 
Federais, Tribunais e Juízes Militares, Tribunais e Juízes Eleitorais, Tribunais e Juízes 
do Trabalho. Chamava a atenção na Constituição de 1967 a ampliação da compe-
tência da Justiça Militar para julgar também civis.
Relação entre os 
Poderes
As relações entre os poderes eram bastante tumultuadas em razão da preponde-
rância do Poder Executivo. Não raras as vezes que este determinou o recesso do 
Congresso Nacional ou coagiu seus membros com base na cassação de mandatos 
e mesmo de direitos políticos de opositores. No Poder Judiciário, as ingerências 
também eram constantes, ficando principalmente os membros do Supremo Tri-
bunal Federal pressionados com ameaças de cassação que, mais tarde, mas aindano contexto do regime militar, de fato vieram a ocorrer.
Regime de Direitos 
Fundamentais
O exercício dos direitos fundamentais estava limitado no contexto do regime mi-
litar, visto que os indivíduos encontravam severas restrições em suas liberdades 
básicas, aqui compreendidos também os direitos políticos. Embora o texto fizesse 
menção a um catálogo de direitos e garantias fundamentais, na prática, muitos 
deles não eram exercidos.
Particularidades
A Constituição de 1967 foi a que menos durou na história constitucional brasileira. 
No entanto, a sua revogação não foi por um novo texto constitucional, mas por 
uma Emenda Constitucional que foi reconhecida pela doutrina e pela jurisprudên-
cia como um Constituição. 
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1967.
Castello Branco governou o país até o dia 15 de março de 1967. 
A partir de então, a presidência passou a ser ocupada por Artur 
da Costa e Silva, primeiro Presidente da chamada linha dura. Em 
seu governo, o país assistiu à institucionalização de um dos mais 
violentos atos institucionais: o Ato Institucional n. 5. Com apenas 
doze artigos, o Ato suspendeu a garantia do habeas corpus para 
crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e 
social e a economia popular. Não bastasse, autorizou o Presidente 
da República a promover o confisco de bens e a decretar a 
intervenção federal sem os limites constitucionais. Além disso, 
insistiu na suspensão de direitos políticos e na restrição ao exercício 
de qualquer direito público ou privado e na cassação de mandatos 
eletivos, bem como determinou o recesso do Congresso Nacional. 
32 Fundamentos do Direito Constitucional
E como coroamento de tamanho autoritarismo, determinou que 
fossem excluídos da apreciação judicial os atos praticados de acordo 
com suas normas e Atos Complementares decorrentes.
O governo de Costa e Silva necessitou ser interrompido no dia 31 
de agosto de 1968 ante um acidente vascular cerebral. Diante de tal 
imprevisto, assumiu a Presidência do Brasil uma Junta Governativa Pro-
visória formada pelos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da 
Aeronáutica com base no Ato Institucional n. 12, por estes editados no 
dia 1º de setembro do mesmo ano.
Na ocasião, o regime militar estava no seu auge, e não fazia parte 
das intenções da revolução permitir que civis compartilhassem parte 
do poder. Da mesma forma, era necessário empreender algum ato 
normativo que “ratificasse” as providências determinadas nos Atos Ins-
titucionais editados até então.
A solução encontrada foi a criação de uma emenda ao texto cons-
titucional de 1967, que promoveu uma alteração integral do texto 
preexistente. Embora formalmente se tratasse de uma emenda cons-
titucional – Emenda Constitucional n. 1 –, a doutrina enxergou no ato 
normativo em questão a manifestação de um novo Poder Constituinte 
Originário, vindo a reconhecê-lo, portanto, como uma nova constitui-
ção: a Constituição de 1969. Suas principais características podem ser 
assim resumidas:
Quadro 7
Características da Constituição de 1969
Constituição da República Federativa do Brasil (17 de outubro de 1969)
Origem Outorgada
Forma de Estado Federação.
Forma de Governo
República, mas tal qual na Constituição anterior, não existiam eleições diretas para 
Presidente da República.
Sistema de Governo Presidencialismo.
Poder Executivo
No plano federal, continuava sendo exercido pelo Presidente da República, eleito 
por um Colégio Eleitoral de modo indireto.
Poder Legislativo
No plano federal, o Congresso Nacional continuava subjugado pelo Poder Executi-
vo, que legislava por meio de Decretos-Leis.
(Continua)
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 33
Constituição da República Federativa do Brasil (17 de outubro de 1969)
Origem Outorgada
Poder Judiciário
O Poder Judiciário relacionava-se de maneira tensa com os demais poderes. Entre 
um Executivo centralizador e um Legislativo inoperante, o Poder Judiciário – es-
pecialmente o Supremo Tribunal Federal – tentava ao mesmo tempo promover 
a proteção de direitos fundamentais e proteger seus Ministros contra cassações.
Regime de Direitos 
Fundamentais
O texto constitucional de 1969 consolidou as restrições aos direitos fundamen-
tais impostas pelos Atos Institucionais anteriores e encorajou o regime militar a 
limitá-los ainda mais.
Particularidades
Formalmente, a Constituição de 1969 é uma Emenda à Constituição de 1967. 
No entanto, substancialmente, a doutrina absolutamente majoritária considera 
o texto como manifestação de um novo Poder Constituinte Originário, ou seja, 
considera-o como uma nova constituição. Isso porque a Emenda determinou 
que a Constituição de 1967 inteira passaria a vigorar com uma nova redação.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1969.
Já com a Constituição de 1969 em vigor, Emílio Garrastazu Médici 
(30 de outubro de 1969 a 15 de março de 1974) foi eleito Presidente 
pelo Colégio Eleitoral, formado por membros do Congresso Nacional 
e por Delegados das Assembleias Legislativas. Em seu governo, o país 
passou por um momento de crescimento chamado de “Milagre Econô-
mico”. Na ocasião, o petróleo e os fertilizantes eram importados por va-
lores muito baixos enquanto o país exportava quantidades expressivas 
de soja, minérios e frutas. Tal fato criou uma balança comercial muito 
favorável ao país. Além disso, houve um crescimento no setor de cons-
trução civil, chegando o Banco Nacional de Habitação (BNH) a construir 
um milhão de novas moradias. Essa conjectura econômica levou vários 
setores a relativizar a repressão política, os exílios, torturas, prisões, 
desaparecimentos forçados, dentre outras restrições aos direitos fun-
damentais, que no governo Médici se intensificaram.
No entanto, a crise do petróleo de 1973 elevou abruptamente o pre-
ço dos barris, fato que impactou negativamente a economia brasileira. 
Não demorou muito para o país começar a sentir os reflexos de uma 
recessão e, ao mesmo tempo, olhar com desconfiança para o aparato 
repressivo montado pelos militares. Se em um primeiro momento a 
perseguição era apenas para motivos políticos, em um segundo mo-
mento passou também ser feita com base em uma pauta moral, que 
repreendia determinadas manifestações culturais como o rock e o sam-
ba. O regime militar começava a perder as suas bases de sustentação.
34 Fundamentos do Direito Constitucional
Ao fim do governo Médici, assumiu a presidência da República o 
General Ernesto Geisel (15 de março de 1974 a 15 de março de 1979). 
Pressionado, Geisel sinalizou positivamente para uma transição polí-
tica, desde que de modo lento, gradual e controlado. As pressões por 
parte da sociedade civil aumentaram e o regime militar começou a per-
der força. Enquanto isso, a crise econômica apenas se agravava.
O sucessor de Geisel foi o General João Batista Figueiredo (15 de 
março de 1979 a 15 de março de 1985), que assumiu o país com o 
compromisso de acelerar a abertura política para a sociedade civil e 
com uma economia arrasada por uma dívida externa na casa dos 100 
bilhões de dólares e uma inflação de duzentos por cento ao ano. O 
pluripartidarismo foi restabelecido e o Congresso Nacional passou a 
funcionar sem interrupções forçadas pelo Poder Executivo. A socieda-
de passou a exigir mudanças políticas substanciais, até mesmo eleições 
diretas para Presidente da República. Entre 1983 e 1984, inclusive, as 
ruas foram tomadas por milhões de brasileiros no movimento conhe-
cido como Diretas Já.
O movimento foi suficiente para pressionar o Congresso Nacional 
a votar uma emenda constitucional que autorizava as eleições diretas 
para o cargo de Presidente – a Emenda Dante de Oliveira, em homena-
gem ao seu idealizador –, mas não o suficiente para fazer o Congresso 
aprová-la. Ainda assim, lideranças civis no Congresso Nacional conse-
guiram lançar a candidatura de Tancredo Neves e José Sarney para as 
eleições diretas, que ocorreriam em 1985. Tancredo foi o vencedor das 
eleições,mas não chegou a tomar posse em virtude de problemas de 
saúde que, inclusive, causaram a sua morte.
Desencadeou-se uma nova e pequena tensão ante à expectativa de 
José Sarney. Contudo, este tomou posse como o primeiro presidente 
civil a assumir o cargo, ainda que por eleições indiretas, após o regime 
militar iniciado em 31 de março de 1964. A posse de Sarney marcou o 
fim da ditadura e conduziu o país para um processo de redemocratiza-
ção. O coroamento desse processo foi a instalação, em 1º de fevereiro 
de 1987, da Assembleia Nacional Constituinte, que culminou na apro-
vação e posterior promulgação da Constituição de 1988 no dia 5 de 
outubro.
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 35
1.8 Constitucionalismo brasileiro 
– Redemocratização 
Vídeo O trabalho de elaboração da Constituição de 1988 contou com a 
participação de representantes de variados segmentos da sociedade 
brasileira. A imprensa – até então censurada – divulgou cada passo 
da elaboração do novo texto constitucional e canalizou as aspirações 
sociais. Tal fato resultou na conclusão de um texto plural, totalmente 
vocacionado para a democracia e para a proteção de direitos funda-
mentais. Até hoje vigente, essa Constituição pode ser assim sintetizada:
Quadro 8
Constituição de 1988
Constituição da República Federativa do Brasil (5 de outubro de 1988)
Origem Promulgada
Forma de Estado
Federação. Os territórios foram extintos (embora ainda exista a possibilidade de a 
União vir a criá-lo) e a organização política do país começou a contar com a União, 
Estados, Distrito Federal e Municípios, todos com autonomia. Estes foram alçados 
ao patamar de entes autônomos pela primeira vez na história constitucional bra-
sileira.
Forma de Governo República. 
Sistema de Governo Presidencialismo.
Poder Executivo
No plano federal exercido por um Presidente da República eleito de maneira di-
reta dentre cidadãos brasileiros natos com no mínimo trinta e cinco anos de ida-
de, desde que presentes as outras condições de elegibilidade previstas no texto 
constitucional.
Poder Legislativo
No plano federal exercido pelo Congresso Nacional, formado por Câmara dos De-
putados representando o povo dos Estados e Distrito Federal e por Senado Fede-
ral representando os Estados e o Distrito Federal.
Poder Judiciário
O Poder Judiciário reafirmou-se como um Poder da União independente. Houve 
alterações em sua estrutura, a exemplo da criação do Superior Tribunal de Justiça.
Relação entre os 
Poderes
Os poderes passaram a exercer suas funções de modo independente e harmô-
nico.
Regime de Direitos 
Fundamentais
Os direitos fundamentais assumiram uma posição de destaque no texto consti-
tucional. Em todas as Constituições anteriores os direitos fundamentais encon-
travam-se previstos nas disposições finais. Com o texto constitucional de 1988, 
contudo, os direitos fundamentais foram trazidos para os primeiros artigos do 
texto promulgado, o que demonstra o protagonismo dessa importante categoria 
de direitos no constitucionalismo brasileiro contemporâneo.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1988.
36 Fundamentos do Direito Constitucional
A história constitucional brasileira é bastante complexa. Como visto, 
ao todo foram oito Constituições desde uma independência conquis-
tada em 1822. Algumas tiveram uma duração longa, outras duração 
efêmera. Algumas foram outorgadas, outras promulgadas. Algumas 
estavam à frente de seu tempo, outras regularam a sociedade na me-
dida de suas necessidades. Algumas conviveram com ditadores, en-
quanto outras conviveram com períodos de estabilidade democrática. 
Todas, contudo, nasceram ou morreram em virtude de movimentos 
constitucionalistas destinados à limitação do poder estatal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fim do primeiro capítulo resta a certeza de que o constitucionalis-
mo – aqui compreendido como o movimento histórico, social, político e/
ou jurídico voltado à limitação do poder – não se desenvolve de modo 
uniforme. Viu-se que na Idade Antiga ou na Idade Média, o constituciona-
lismo se desenvolvia muito timidamente, quase inexistente. Já na Idade 
Contemporânea, o constitucionalismo encontrou terreno fecundo para 
se desenvolver, tendo dado importantes passos na consolidação de uma 
cultura capaz de refrear o poder estatal. Nesse momento, inclusive, co-
meçam a despontar as Constituições, responsáveis tanto por organizar o 
Estado quanto por limitar o seu poder.
Analisando essa trajetória, ficou evidenciada a diferenciação entre um 
constitucionalismo em sentido amplo e um constitucionalismo em sentido 
estrito. Enquanto aquele representa o movimento de limitação do poder 
em si, este representa o movimento de limitação do poder com base em 
uma Constituição que impõe regras de observância obrigatória tanto para 
os indivíduos quanto para o próprio Estado.
O capítulo enfatizou o constitucionalismo no Brasil, cuja história consti-
tucional passou por altos e baixos desde a declaração de independência. 
Ao todo, o país experimentou oito Constituições. Enquanto algumas foram 
fruto de um processo democrático, outras nasceram de maneira autoritá-
ria para legitimar o poder em um determinado momento político. Em toda 
essa sequência de avanços e retrocessos é possível identificar constitucio-
nalismo. Ou seja, é possível identificar algum tipo de limitação de poder.
É importante a compreensão desse caminhar, pois sem ele não 
é possível deduzir o quão importante são as Constituições nas ordens 
sociais em que estão inseridas. O estudo do Direito sempre partirá de 
um pressuposto de que as Constituições ocupam o ápice de qualquer 
ordenamento jurídico. Sem a percepção de todos os movimentos sociais 
O constitucionalismo brasileiro 
passou por várias etapas. Para 
evidenciar essas diferenças, 
compare a primeira e a última 
Constituições Brasileiras (1824 e 
1988), indicando de modo preci-
so a origem, a forma de Estado e 
a forma de Governo adotada em 
cada uma delas.
Atividade 3
Constitucionalismos e movimentos constitucionalistas 37
que de modo mais ou menos intenso pretenderam limitar o exercício 
do poder e o porquê de a Constituição ocupar o mais alto patamar do 
ordenamento jurídico sua compreensão estaria prejudicada.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil (1824). Coleção das leis do Império do 
Brasil, Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 22 abr. 1824. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm. Acesso em: 6 maio 2020.
BRASIL. Decreto n. 1, de 15 de novembro de 1889. Coleção das leis do Brasil, Poder 
Executivo, Rio de Janeiro, 15 nov. 1889. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/1851-1899/D0001.htm. Acesso em: 6 maio 2020.
BRASIL. Decreto n. 19.398 de 11 de novembro de 1930. Diário Oficial da União, Poder 
Executivo, Brasília, DF, 12 nov. 1930. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brazil (1891). Diário Oficial, 
Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 24 fev. 1891. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934). Diário Oficial, 
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BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1937). Diário Oficial, 
Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 10 jan. 1937. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acesso em: 6 maio 2020.
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1946). Diário Oficial, 
Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 18 set. 1946. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acesso em: 6 maio 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa

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