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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Disciplina: Falência e Recuperação de Empresas – 0921-1_2 Aluno: Francisco das Chagas Vieira Junior Matriz de resposta 1. Introdução A sociedade empresária de responsabilidade limitada “VFC Comércio e Indústria de Material Esportivo LTDA” está passando por uma severa crise econômico-financeira com grande risco de encerramento definitivo das suas atividades. Atualmente, a empresa possui os seguintes débitos: Natureza Valor Débitos trabalhistas R$ 1.000.000,00 Débitos para fornecedores – não garantidos R$ 3.500.000,00 Débitos bancários, garantidos por hipoteca R$ 6.500.000,00 Débitos para fornecedores ME ou EPP – não garantidos R$ 1.500.000,00 Débitos perante a operadora de prestação de serviço de energia elétrica R$ 100.000,00 Diante da situação, o parecer buscará analisar o endividamento do devedor empresário com a recomendação mais indicado ao caminho a ser adotado pela empresa. 2 2. Desenvolvimento 2.1. Sobre a necessidade de ingressar com uma demanda judicial como solução ao endividamento Em que pese a existência do instrumento legal da recuperação extrajudicial, previsto na Lei nº 11.101 de 20051, o qual permite uma negociação direta entre credores e sociedade, referido procedimento não é adequado para o caso em tela e pouco recomendado de forma geral. Um dos principais empecilhos é existência de débitos de natureza trabalhista, na prática incompatíveis com a recuperação extrajudicial, exigindo a negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional nos termos do Art. 161, § 1º da Lei de falência, com modificações pela Lei n° 14.112 de 20212, o que não poderia dispor de nenhum direito constitucionalmente indisponível. Outro ponto é a necessidade de negociar individualmente com todos os credores em busca de um consenso, sem nenhuma proteção quanto ao ajuizamento de ações por partes dos credores durante as tratativas de acordo, o que prejudicaria de forma geral o andamento da solução3. 1 BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a lei de falência e recuperação judicial e extrajudicial. 2 BRASIL. Lei 14.112, de 24 de dezembro de 2021. Altera as Leis 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, 10.522, de 19 de julho de 2002, e 8.929, de 22 de agosto de 1994, para atualizar a legislação referente à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à falência do empresário e da sociedade empresária. 3 MARQUES, Leonardo. Falência e Recuperação de Empresas. FGV-Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2021. 2.2. Sobre o procedimento de soerguimento mais adequado Diante da crise econômico-financeira com grande risco de encerramento definitivo das suas atividades, considerando ainda a ausência de débitos relevantes de natureza fiscal, entende-se que o melhor caminho seja o pedido de recuperação judicial, nos termos do Art. 47 da Lei 11.101 de fevereiro de 20054, que dispõe: Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Um dos principais motivos que levam a concluir que a Recuperação Judicial seja a melhor solução, é o Princípio da preservação da empresa, o que afasta em sua aplicação, a literalidade dos dispositivos da própria Lei de Falências e Recuperação. Nesse sentido, entende o professor Fábio Ulhôa Coelho5: “O princípio da preservação da empresa, o que se tem em mira é a proteção da atividade econômica, como objeto de direito cuja existência e desenvolvimento interessam não somente ao empresário, ou aos sócios da sociedade empresária, mas a um conjunto bem maior de sujeitos. Na locação identificadora do princípio, “empresa” é o conceito de sentido técnico bem específico e preciso. Não se confunde nem com o seu titular (“empresário”) nem com o lugar em que explorada (“estabelecimento empresarial”), O que se busca preservar, na aplicação do 4 BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a lei de falência e recuperação judicial e extrajudicial. 5 COELHO, Fábio Ulhôa. Curso de direito comercial: direito de empresa, p. 80. 4 princípio da preservação da empresa, é, portanto, a atividade, o empreendimento.”. No que se refere aos débitos trabalhistas, estabelecer-se-á conflito negativo de competências para a execução dos créditos, centralizando o procedimento como um todo, o que encontra respaldo na jurisprudência dos tribunais superiores: “CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO DE CRÉDITOS TRABALHISTAS EM PROCESSOS DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL COMUM, COM EXCLUSÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO. INTERPRETAÇÃO DO DISPOSTO NA LEI 11.101/05, EM FACE DO ART. 114 DA CF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO. I – A questão central debatida no presente recurso consiste em saber qual o juízo competente para processar e julgar a execução dos créditos trabalhistas no caso de empresa em fase de recuperação judicial. II – Na vigência do Decreto-lei 7.661/1945 consolidou-se o entendimento de que a competência para executar os créditos ora discutidos é da Justiça Estadual Comum, sendo essa também a regra adotada pela Lei 11.101/05. III – O inc. IX do art. 114 da Constituição Federal apenas outorgou ao legislador ordinário a faculdade de submeter à competência da Justiça Laboral outras controvérsias, além daquelas taxativamente estabelecidas nos incisos anteriores, desde que decorrentes da relação de trabalho. IV – O texto constitucional não o obrigou a fazê-lo, deixando ao seu alvedrio a avaliação das hipóteses em que se afigure conveniente o julgamento pela Justiça do Trabalho, à luz das peculiaridades das situações que pretende regrar. V – A opção do legislador infraconstitucional foi manter o regime anterior de execução dos créditos trabalhistas pelo juízo universal da falência, sem prejuízo da competência da Justiça Laboral quanto ao julgamento do processo de conhecimento. VI – Recurso extraordinário conhecido e improvido (RE 583955, Relator: ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, Julgamento: 28/05/2009, Repercussão Geral – Mérito DJe-162 Divulg 27-08- 2009 Public 28-08-2009 Ement Vol-02371-09 PP-01716 RTJ Vol-00212-01 pp- 00570)”. É necessário ter em consideração as diversas consequências que a falência traz para a empresa, seus operadores e colaboradores, como por exemplo a extinção da empresa e perda do investimento que possa ter sido realizado nela, bem como a inabilitação para o exercício de atividades empresariais. Posto isso, sem prejuízo da possibilidade da convolação em falência com previsão no Art. 73 da lei supramencionada, é legítima a busca em recuperar financeiramente a empresa, cumprindo a utilidade no âmbito privado ao recuperar saúde financeira da sociedade e atendendo relevante função social ao preservar empregos e contribuições, consumidores, dentre outros. Outras medidas poderão perdurar a vulnerabilidade jurídica da empresa em débito, o que pode resultar inevitavelmente na falência por pedido de terceiros ou dos próprios representantes legais após o agravamento da situação financeira da sociedade, situação de difícil ou inviável reversão. 2.3. Sobre o pagamento dos credores Estabelecido plano de recuperação judicial, para que se viabilize que a empresa supere a situação de crise econômico-financeira, a assembleia-geral será composta por classe de credores que obedecerão ao rol previsto no Art. 41 da Lei 11.101 de fevereiro de 20056: Art. 41. A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: I – titulares de créditos derivadosda legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; II – titulares de créditos com garantia real; 6 BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a lei de falência e recuperação judicial e extrajudicial. 6 III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014) § 1º Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho votam com a classe prevista no inciso I do caput deste artigo com o total de seu crédito, independentemente do valor. § 2º Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe prevista no inciso II do caput deste artigo até o limite do valor do bem gravado e com a classe prevista no inciso III do caput deste artigo pelo restante do valor de seu crédito. Isso posto, existirá prioridade no pagamento do débito de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) em dívidas de natureza trabalhista, em razão de expressa previsão em lei e caráter alimentício e urgente das referidas verbas, o que se refere ao empregado e dependentes do empregado, nos termos do Art. 41, I. Na sequência, deverão ser pagos os créditos no valor de R$ 6.500.000,00 (seis milhões e quinhentos mil reais) de garantia real, onde estão inclusos os valores referentes às dívidas bancárias e com garantia hipotecária, nos termos do Art. 41, II. Em seguida, deverão ser pagos os débitos aos fornecedores sem garantias, nos quais estão R$ 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais) e a dívida de fornecimento de energia no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), nos termos do Art. 41, III. Por fim, deverão ser pagos os débitos referentes às micro empresas e empresas de pequeno porte no valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), por previsão expressa do Art. 41, IV. 3. Conclusão Recomenda-se o instrumento da Recuperação Judicial como medida recomendada para solucionar a endividamento da empresa e livrar a sociedade, empresários e colaboradores, da crise econômico-financeira que afetou severamente a sociedade. 4. Referência Bibliográfica BRASIL. Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a lei de falência e recuperação judicial e extrajudicial. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm> Acesso em 10/10/2021. BRASIL. Lei 14.112, de 24 de dezembro de 2021. Altera as Leis 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, 10.522, de 19 de julho de 2002, e 8.929, de 22 de agosto de 1994, para atualizar a legislação referente à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à falência do empresário e da sociedade empresária. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14112.htm> Acesso em 10/10/2021. COELHO, Fábio Ulhoa. Comentário à Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 13. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de direito empresarial: direito de empresa. São Paulo: Saraiva, 2014. 8 MARQUES, Leonardo. Falência e Recuperação de Empresas. FGV-Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2021.
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