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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Disciplina: Falências e Recuperação de Empresas Aluno: Bruna Santos de Oliveira Matriz de resposta A sociedade empresária VFC Comércio e Indústria de Material Esportivo LTDA. está passando por uma severa crise econômico-financeira. Ela se mantém no mercado com grande risco de encerramento definitivo das suas atividades. As dívidas da empresa não param de crescer, e, atualmente, ela possui os seguintes débitos: R$ 1.000.000,00 de débitos trabalhistas; R$ 3.500.000,00 de débitos para fornecedores – não garantidos; R$ 6.500.000,00 de débitos bancários, garantidos por hipoteca; R$ 1.500.000,00 de débitos para fornecedores ME ou EPP – não garantidos – e R$ 100.000,00 de débitos perante a operadora de prestação de serviço de energia elétrica. FALÊNCIA, INSOLVÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL A origem da falência vem do latim, “fallere” que significa faltar, a falência também é um termo associado ao fim de algo. Sendo assim, na esfera jurídica a falência é uma situação jurídica geralmente decorrente de sentença onde uma entidade se omite em cumprir com determinada obrigação patrimonial e por consequência é obrigada judicialmente a afastar seus ativos para satisfazer seus credores. Conforme o art. 75 da lei 11.101/05: “a falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020). I - Preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020); II - Permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de recursos na economia (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020); III - Fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020). 2 § 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.112, d e 2020); § 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020).” Insolvência é quando uma empresa não tem condições de arcar com suas obrigações, estado em que o devedor tem obrigações a cumprir superiores aos rendimentos que recebe. Para a maioria dos contadores e economistas, a definição para falência é a própria noção do estado de insolvência considerando a situação patrimonial do devedor, já segundo o conceito jurídico não basta o estado de insolvência, para que seja caracterizada a falência é preciso que haja execução coletiva das dívidas. Conforme Assaf Neto (2010, p. 267-268) a solvência reflete sobre a capacidade da empresa em cobrir suas obrigações de prazos mais longos, já “a insolvência de uma empresa ocorre pela incapacidade de solver suas obrigações, ou seja, pela falta de dinheiro no momento de vencimentos de uma dívida” (MATARAZZO, 2010). Ou seja, uma definição prática para os dois conceitos seria: falência ocorre quando as dívidas ultrapassam o valor de seu patrimônio, enquanto insolvência acontece quando o devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que auferem, ou seja, não recebe o suficiente para honrar seus compromissos a tempo. A recuperação judicial compreende em um dispositivo legal que visa resolver a situação de insolvência de uma empresa, evitando a falência. De acordo com Marion e Iudícibus (2002 pág. 42) “As experiências do administrador não são mais fatores decisivos no quadro atual; exige-se um elenco de informações reais, que norteiam tais decisões. E essas informações estão contidas nos relatórios elaborados pela contabilidade”. Tanto a falência (art. 75) quanto à recuperação judicial (art. 47) são institutos regidos pela lei nº 11.101/2005, reformada pela lei nº 14.112/20 que visam a retratação dos credores de uma empresa insolvente, portanto a diferença reside no intuito da continuidade ou não do empreendimento. AUTOFALÊNCIA E TIPOS DE RECUPERAÇÃO DE UMA EMPRESA A falência tem como intenção principal perpetrar situação imparcial entre os credores presentes no rol, trazendo satisfação coletiva no que tange seus créditos. Conforme Como no caput do artigo 105 da lei n.º 11.101/2005, o próprio empresário pode pedir a falência da empresa: Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: (...) Deve-se observar que, é importante antes que seja solicitado o pedido de autofalência analisar se a crise econômica não preenche os requisitos de uma recuperação judicial. Tratando-se de pedido de autofalência qualquer credor tem o prazo de 30(trinta) dias para opor-se ao pedido do falido e o devedor poderá ficar livre de parte dos débitos, caso realize o pagamento até 25% dos credores quirografários conforme Art. 158 da lei 11.101/05, reformada pela lei 14.112/20. Diante do exposto, a autofalência não seria o caminho ideal, pois como se trata de uma crise econômica e não patrimonial, para tanto, devemos zelar pela continuidade da empresa fazendo valer o princípio da preservação da empresa com intuito da proteção da atividade econômica, fonte produtora de emprego, serviços e produtos. Para a empresa VFC o mais recomendado no caso seria a recuperação judicial, que consiste em um meio jurídico utilizado para evitar à falência, este processo permite que as companhias renegociem suas dívidas acumuladas em um período de crise recuperando as atividades e evitando assim o fechamento, demissões e a falta de pagamento aos credores. Para que ocorra o pedido de recuperação judicial é necessário que a empresa já exerça atividade empresarial há pelo menos 02(dois) anos, não ser falido e não ter obtido recuperação judicial no período de pelo menos 05(cinco) anos. Entre os tipos de recuperação judicial existe a ordinária que se divide em 03(três) partes: a postulatória (apresentação do pedido com uma proposta de plano de recuperação), a deliberativa (verificação e validação do plano) e a execução (deferimento do pedido e plano colocado em prática), a recuperação especial voltada para microempresas e empresas de pequeno porte conforme Art. 70 da lei 11.101/05 e a recuperação extrajudicial que é uma ferramenta alternativa que admite a negociação direta com os credores ficando sujeito o resultado desse acordo a homologação judicial e que preenchidos os requisitos legais se tal negociação for aceita pela maioria dos credores vinculará a todos outros credores pertencentes a mesma classe ou categoria, mas existe limitação aos créditos que podem participar do plano além da falta de proteção do devedor pelo fato dos credores poderem demandar a empresa. HAVERÁ A NECESSIDADE DE INGRESSAR COM UMA DEMANDA JUDICIAL COMO SOLUÇÃO AO ENDIVIDAMENTO APRESENTADO? Sim. Será necessário formalizar uma demanda judicial, publicidade e segurança jurídica de todas as partes, evitando litígios isolados, contando as vantagens do processo seja no abatimento de valores, seja na dilatação dos prazos. Devendo ser elaborado plano de recuperação judicial com a precisa análise da situação econômica e financeira do devedor que tenha o objetivo de elaborar uma solução viável de reestruturação.Este plano deve se dar no prazo de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial. INDICAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE SOERGUIMENTO MAIS ADEQUADO Observe que, no caso de recuperação extrajudicial será necessário ingresso de demanda judicial, a fim de que seja homologado o plano de recuperação elaborado. Referente às medidas de soerguimento, percebemos que não há oposição para as possibilidades de medida pré-insolvencial – prevista no art. 20-A da Lei nº 11.101/2005, recuperação judicial comum; e declaração de autofalência. Entretanto, vale dizer que, em se tratando de soerguimento, e sendo possível a recuperação judicial, não há que se falar em declaração de autofalência, consoante inteligência do art. 105 da Lei nº 11.101/2005. Vejamos: 4 Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: I – demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório do fluxo de caixa; II – relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos; III – relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade; IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais; V – os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei; VI – relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e participação societária. Vale destacar que, se a empresa optar pela recuperação extrajudicial, será necessário observar os créditos de natureza trabalhista, os quais exigem negociação coletiva junto aos sindicatos de sua categoria, previsto no art. 161, 1º da Lei 11.101/2005, conforme previsto: Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial. § 1º Estão sujeitos à recuperação extrajudicial todos os créditos existentes na data do pedido, exceto os créditos de natureza tributária e aqueles previstos no § 3º do art. 49 e no inciso II do caput do art. 86 desta Lei, e a sujeição dos créditos de natureza trabalhista e por acidentes de trabalho exige negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional. A Recuperação judicial com base no plano especial só será possível se a empresa for ME ou EPP. Diante do exposto, devemos considerar a previsão legal do artigo 48, da lei nº 11.101/2005. Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III -não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei. FORMA DE PAGAMENTO DOS CREDORES Vejamos que existem dois tipos de créditos, os concursais e o extra concursais. Os créditos extra concursais são aqueles que acontecem de negócios celebrados com a empresa em processo de recuperação judicial com a finalidade de assegurar os credores que assumiram os riscos de contratar com empresa em crise, privilegiando o seu pagamento em detrimento de outros. No caso da empresa VFC, os créditos são de caráter concursal e o artigo 83 da lei nº 11.101/2005, define a ordem de pagamento. Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I - Os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; II - Os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado; III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos extra concursais e as multas tributárias; VI - Os créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; e c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias; VIII - os créditos subordinados, a saber: a) os previstos em lei ou em contrato; e b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de mercado; IX - Os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei. § 1º Para os fins do inciso II d o caput deste artigo, será considerado 6 como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso d e alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. § 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. § 3º As cláusulas penais d os contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. § 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título manterão sua natureza e classificação. § 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de privilégio especial ou geral em outras normas integrarão a classe dos créditos quirografários. Após o exposto, para que seja possível prosseguir com a proposta de plano de recuperação judicial, em primeiro lugar deve se considerar os créditos trabalhistas, podendo ser pagos em 24(vinte e quatro) vezez. Podendo também, ser proposto um deságio. Na segunda hipótese, deve ser considerado os pagamentos dos débitos bancários, conforme o inciso II do artigo 83 da referida lei. Os demais créditos não possuem benefício de ordem, tratando-se de créditos quirografários e em razão disso propõe-se o seguinte: em terceiro lugar os débitos tanto dos fornecedores não garantidos e dos ME e EPP em 48 parcelas com deságio de 60% e em quarto os débitos perante a prestadora de energia elétrica em 10 (dez) parcelas com deságio de 60%. ______________________________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NEGRÃO, Ricardo. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS. Editora Saraiva, 2019. 9788553613083. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553613083/Consultado: 23/02/2022. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial v 3-falência e recuperaçãode empresas. Editora Saraiva, 2019. 9878855366749. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553613083/ Consultado em: 23/02/2022. Lei nº 11.105 de 09 de fevereiro de 2005 – Link de acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/lei/l11101.htm Lei nº 14.112 de 24 de dezembro de 2020 – Link de acesso: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14112.htm MARQUES, Leonardo. Falências e Recuperação de Empresas. Apostila digital – FGV-SP. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553613083/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553613083/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14112.htm
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