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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Disciplina: FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS Aluno: MICHEL LEVY DA SILVA MORAES Matriz de resposta EMPRESA VFC COMÉRCIO E INDÚSTRIA DE MATERIAL ESPORTIVO LTDA Parecer técnico de avaliação do endividamento da empresa VFC Comércio e Indústria de Material Esportivo, se a necessidade de demanda judicial, se sim qual o procedimento mais adequado e as formas de pagamento aos credores mais adequada. RELATÓRIO A empresa está passando por uma severa crise econômico-financeira e se mantém no mercado com grande risco de encerramento de suas atividades. As dívidas da empresa continuam crescendo, e, atualmente ela possui os seguintes débitos: • R$ 1.000.000,00 de débitos trabalhistas; • R$ 3.500.000,00 de débitos para fornecedores – não garantidos; • R$ 6.500.000,00 de débitos bancários, garantidos por hipoteca; • R$ 1.500.000,00 de débitos para fornecedores ME ou EPP – não garantidos – e • R$ 100.000,00 de débitos perante a operadora de prestação de serviço de energia elétrica. Este parecer tem por finalidade sugerir e demonstrar o melhor procedimento a ser adotado para a solução desse caso, para isso, serão observadas legislações, doutrinas e jurisprudências relacionadas ao tema. FALÊNCIA, INSOLVÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL O termo falência vem do latim, fallere que significa faltar, a falência também é um termo associado ao fim de algo. Assim, no mundo jurídico a falência é uma situação jurídica geralmente decorrente de sentença onde uma entidade se omite em cumprir com determinada obrigação patrimonial e por consequência é obrigada judicialmente a alienar seus ativos para satisfazer seus credores. 2 Conforme o Art. 75 da lei 11.101/05 “a falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020). I - Preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020); II - Permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente de recursos na economia (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020); III - Fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020). § 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020); § 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020).” Insolvência é quando uma empresa não tem condições para arcar com suas obrigações, estado em que o devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que recebe. Para a maioria dos contadores e economistas a definição para falência é a própria noção do estado de insolvência levando em consideração a situação patrimonial do devedor, já segundo o conceito jurídico não basta o estado de insolvência, para que seja caracterizada a falência é preciso que haja execução coletiva das dívidas. Conforme Assaf Neto (2010, p. 267-268) a solvência reflete sobre a capacidade da empresa em cobrir suas obrigações de prazos mais longos, já “a insolvência de uma empresa ocorre pela incapacidade de solver suas obrigações, ou seja, pela falta de dinheiro no momento de vencimentos de uma dívida” (MATARAZZO, 2010). Uma definição prática para os dois conceitos seria: falência é quando as dívidas ultrapassam o valor de seu patrimônio, enquanto insolvência seria quando o devedor tem prestações a cumprir superiores aos rendimentos que auferem, ou seja, não recebe o suficiente para honrar seus compromissos a tempo. A recuperação judicial consiste em um dispositivo legal que visa resolver a situação de insolvência de uma empresa, evitando a falência. De acordo com Marion e Iudícibus (2002 pág. 42) “As experiências do administrador não são mais fatores decisivos no quadro atual; exige-se um elenco de informações reais, que norteiam tais decisões. E essas informações estão contidas nos relatórios elaborados pela Contabilidade”. Tanto a falência (Art. 75) quanto a recuperação judicial (Art. 47) são institutos regidos pela lei n.º 11.101/2005, reformada pela lei nº 14.112/20 que visam a satisfação dos credores de uma empresa insolvente, porém a diferença reside no intuito da continuidade ou não do empreendimento. AUTOFALÊNCIA E TIPOS DE RECUPERAÇÃO DE UMA EMPRESA A falência tem como escopo principal perpetrar situação igualitária entre os credores presentes no rol, trazendo satisfação coletiva no que tange seus créditos. Como exposto no caput do artigo 105 da lei n.º 11.101/2005, o próprio empresário pode pedir a falência da empresa: Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos: (...) O mais importante antes que seja solicitado o pedido de autofalência é analisar se a crise econômica não preenche os requisitos de uma recuperação judicial. Quando se trata de pedido de autofalência qualquer credor tem o prazo de 30(trinta) dias para opor-se ao pedido do falido e o devedor poderá ficar livre de parte dos débitos, caso pague até 25% dos credores quirografários conforme Art. 158 da lei 11.101/05, reformada pela lei 14.112/20, no entanto, o período de reabilitação do empresário é de 5(cinco) a 10(dez) anos, período esse em que o empresário ficará impossibilitado de atuar no ramo empresarial, caso o empresário possua rendimentos acima de 1(um) salário mínimo, parte de seus rendimentos serão penhorados pelo juiz para amortização de parte de seus débitos e caso possua bens estes deverão ser entregues para que possam ser vendidos e ocorra o acerto dos valores em questão. Visto isso, a autofalência não seria o caminho mais viável, pois como trata-se de crise econômica e não patrimonial, portanto, devemos prezar pela continuidade da empresa fazendo valer o princípio da preservação da empresa com intuito da proteção da atividade econômica, fonte produtora de emprego, serviços e produtos. O mais indicado no caso da empresa VFC seria a recuperação judicial, que consiste num meio jurídico utilizado para evitar à falência, este processo permite que as companhias renegociem suas dívidas acumuladas em um período de crise recuperando as atividades e evitando assim o fechamento, demissões e a falta de pagamento aos credores. 4 Para que haja o pedido de recuperação judicial é necessário que a empresa já exerça regularmente atividade empresarial há pelo menos 2(dois) anos, não ser falido e não ter obtido recuperação judicial a pelo menos 5(cinco) anos. Dentre os tipos de recuperação judicial existe a ordinária que se divide em 3(três) partes: a postulatória (apresentação do pedido com uma proposta de plano de recuperação), a deliberativa(verificação e validação do plano) e a execução ( deferimento do pedido e plano colocado em prática), a recuperação especial voltada para microempresas e empresas de pequeno porte conforme Art. 70 da lei 11.101/05 e a recuperação extrajudicial que é uma ferramenta alternativa que admite a negociação direta com os credores ficando sujeito o resultado desse acordo a homologação judicial e que preenchidos os requisitos legais se tal negociação for aceita pela maioria dos credores vinculará a todos outros credores pertencentesa mesma classe ou categoria, porém existe limitação aos créditos que podem participar do plano além da falta de proteção do devedor pelo fato dos credores poderem demandar a empresa. SE HÁ NECESSIDADE DE INGRESSAR COM UMA DEMANDA JUDICIAL COMO SOLUÇÃO AO ENDIVIDAMENTO APRESENTADO Sim. Há necessidade de demanda judicial para formalização, publicidade e segurança jurídica de todas as partes, evitando litígios isolados, contando as vantagens do processo seja no abatimento de valores, seja na dilatação dos prazos. Deve ser elaborado plano de recuperação judicial com a precisa análise da situação econômica e financeira do devedor que tenha o objetivo de elaborar uma solução viável de reestruturação. Este plano deve se dar no prazo de 60(sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial. O PROCEDIMENTO DE SOERGUIMENTO MAIS ADEQUADO Visto a possibilidade de soerguimento da sociedade empresária VFC Comércio e Indústria de Material Esportivo LTDA o procedimento mais adequado é a recuperação judicial comum, pelo fato de ser enquadrada como sociedade empresária e se encontrar com grande endividamento com instituições financeiras, sendo difícil a negociação com essas além da recuperação judicial pelo plano especial só ser possível utilização pelos microempresários, empresários de pequeno porte e produtores rurais. Ainda, a recuperação extrajudicial acarretar acordo com os credores antes do ajuizamento e a falência não se aplicar ao caso pois a crise é financeira e não patrimonial. Apesar dos tipos(especial e extrajudicial)serem mais céleres e menos custosos, será indicado o procedimento mais adequado para o presente caso seja da recuperação judicial ordinária, pois apesar de ser mais custoso, consegue englobar todas as dívidas, bem como dar flexibilidade na realização do plano, uma vez que na recuperação judicial, toda a negociação é tratada sob as tutelas do juízo e do administrador judicial, visto que o processo tem seu início antes da apresentação do plano aos credores. Dentre as vantagens desta modalidade observa-se: a suspensão das execuções em face da empresa e a impossibilidade da remoção de bens essenciais a partir do deferimento do pedido, permitindo que os administradores da empresa foquem nas medidas sobrevivência do negócio, a possibilidade de proposta de pagamento aos credores, como a concessão de prazos mais elásticos, deságio, venda de ativos, conversão da dívida em ações, cisão, fusão entre outras, tratativas de negociação sem interferência do judiciário e havendo a aprovação do plano pela maioria dos credores, o plano será aplicado aos demais credores sujeitos a recuperação judicial, a possibilidade de venda de bens da empresa descritos no plano de recuperação judicial sem sucessão do novo proprietário nas dívidas do devedor, até mesmo as dívidas de natureza fiscal e trabalhista, além do instituto poder ser utilizado como meio de defesa em eventual pedido de falência. Já em relação as desvantagens verificamos a dificuldade em obtenção de créditos, o fato de alguns créditos não estarem sujeitos ao plano como por exemplo arrendamento mercantil e contrato de câmbio, além de tratar-se um procedimento em que as custas judiciais as quais a empresa terá que arcar, muitas vezes atingem o teto do judiciário, além dos custos com publicações de editais, remuneração do administrador Judicial, advogados e consultores que podem chegar a 5% do valor do passivo. FORMA DE PAGAMENTO DOS CREDORES O legislador definiu dois tipos de créditos, os concursais e os extraconcursais. Os créditos extraconcursais são aqueles que decorrerem de negócios celebrados com a empresa já em processo de recuperação judicial com a finalidade de beneficiar os credores que assumiram os riscos de contratar com empresa em crise, privilegiando o seu pagamento em detrimento de outros. No caso da empresa VFC, os créditos são de caráter concursal e o artigo 83 da lei nº11.101/2005, define a ordem de pagamento. Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem: I - Os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes de trabalho; II - Os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do bem gravado; III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas tributárias; VI - Os créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; e c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias; VIII - os créditos subordinados, a saber: 6 a) os previstos em lei ou em contrato; e b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de mercado; IX - Os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no art. 124 desta Lei. § 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado. § 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. § 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. § 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título manterão sua natureza e classificação. § 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de privilégio especial ou geral em outras normas integrarão a classe dos créditos quirografários. Sendo assim, com a finalidade de orientar a futura proposta de plano para recuperação judicial em primeiro lugar os créditos trabalhistas, os quais seriam pagos de forma parcelada em 24(vinte e quatro) vezes. Ademais pode-se propor um deságio para esse pagamento, essa possibilidade se faz possível conforme jurisprudências do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em segundo lugar os valores de R$ 6.500.000,00 de débitos bancários, garantidos por hipoteca, conforme o inciso II do artigo 83 da referida lei. Em 48 (quarenta e oito) vezes com o deságio de 60%. Frisa-se que o credor com garantia real não pode mais perseguir o bem e utilizá-lo para o adimplemento de sua dívida, uma vez que nos termos dos artigos 41, II, e 83, II, da Lei 11.101/2005, o credor com garantia real está sujeito aos procedimentos da recuperação judicial. O credor com garantia real, assim como qualquer outro credor sujeito à recuperação judicial, não pode tentar receber o seu crédito de forma independente dos demais credores. Os demais créditos não possuem benefício de ordem, tratando-se de créditos quirografários e em razão disto propõe-se o seguinte: em terceiro lugar os débitos tanto dos fornecedores não garantidos e dos ME e EPP em 48 parcelas com deságio de 60% e em quarto os débitos perante a prestadora de energia elétrica em 10 (dez) parcelas com deságio de 60%. REFERÊNCIAS CF 88 LEI 11.101/05 LEI 14.112/20 NEGRÃO, Ricardo. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS. [Digite o Local da Editora]: Editora Saraiva, 2019. 9788553613083. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553613083/. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553613083/FELIPE, SALOMAO ,. L. Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência - Teoria e Prática . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2020. 9788530991623. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530991623/. SAAD, DINIZ ,. G. Grupos Societários - Da Formação à Falência . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2016. 9788530971960. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530971960/. TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial v 3 - falência e recuperação de empresas . [Digite o Local da Editora]: Editora Saraiva, 2019. 9788553616749. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553616749/.
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