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1 FACULDADE MERIDIONAL – IMED ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO Jhuli Sulzbach Koch Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescentes Passo Fundo 2017 2 Jhuli Sulzbach Koch Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescentes Relatório do Processo Metodológico de Concepção do Projeto Arquitetônico e Urbanístico e Estudo Preliminar de Projeto apresentado na Escola de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Meridional – IMED, como requisito parcial para a aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, sob orientação da Professora Mestre Giulie Anna Baldissera Leitte-Teixeira. Passo Fundo 2017 3 Jhuli Sulzbach Koch Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescente Banca Examinadora PROF. ME. GIULIE ANNA BALDISSERA LEITTE-TEIXEIRA Orientadora PROF. ME. AMANDA SCHÜLER BERTONI Membro avaliador PROF. ME. RAFAELA SIMONATO CITRON Membro avaliador Passo Fundo 2017 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que através da fé me manteve firme em toda trajetória, me mostrando os caminhos e escolhas certas a seguir. Agradeço imensamente a minha família, principalmente aos meus pais Elcio e Janete Koch, que apesar de todas as dificuldades, não mediram esforços para que eu pudesse cursar uma faculdade, por todo apoio que me deram para seguir em frente, confiando que eu seria capaz e por toda paciência que tiveram comigo, enfim tudo que conquistei até agora dedico a eles. Agradeço também aos meus amigos e colegas que sempre estiveram comigo, desde os momentos de alegrias aos momentos difíceis. Deixo o meu agradecimento em especial para Lydiane de Melo, uma colega que se tornou uma amiga de vida, juntas compartilhamos ansiedades, frustações e alegrias infinitas, sua presença foi muito importante para que eu chegasse até aqui. Agradeço também a minha orientadora Giulie Anna Leitte-Teixeira, por todo ensinamento que me foi passado, por ser uma companheira nesta fase, sempre me acalmando e me incentivando a buscar o melhor. E por fim não posso deixar de agradecer a todas aquelas pessoas que de alguma maneira contribuíram para que este momento se realizasse. O meu mais sincero, obrigada! 5 RESUMO O presente trabalho aborda questões e diretrizes para o desenvolvimento do projeto de uma Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, na cidade de Passo Fundo. Atualmente essas instituições ou abrigos são medidas provisórias que atendem à crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social de alta complexidade, entre zero e dezoito anos de idade, sem qualquer tipo de discriminação. Analisa-se desde a origem dos primeiros modelos de abrigos até os dias atuais, procurando entender como estas crianças e adolescentes se desenvolvem nestes lugares e os traumas emocionais sentidos antes e após serem acolhidas pelo abrigo, os quais perpetuam em suas memórias. A situação de institucionalização, por ser um serviço que não há lucros financeiros, fica a margem da sociedade, e crianças e adolescentes acabam passando anos nesses lugares, que muitas vezes são estruturas com limitações. Inclusive existem diversas leis, planos e orientações que asseguram os direitos e condições dignas de vida a essas crianças e adolescentes, porém, frequentemente não são postas em prática. Resultado disso é expresso em dados bastante preocupantes quanto ao número de abrigados no Brasil. Portanto, foi planejado um espaço que atenda a todas legislações pertinentes ao tema, de modo a satisfazer às necessidades de infraestrutura básica, segurança e educação, além de proporcionar a essas crianças muito mais que apenas um abrigo, mas um lar com ambientes confortáveis e aconchegantes, empenhando-se para a preservação e reintegração dos vínculos familiares. Palavras-chave: Acolhimento. Crianças e adolescentes. Desenvolvimento. 6 ABSTRACT This present work addresses issues and guidelines of a host institution to children and teenagers in the city of Passo Fundo. Currently these hosts or shelters are provisional measures that serve children and teeanagers in situation of social vulnerability of highly complex vulnerability between zero and eighteen years without any kind of discrimination. It is analyzed from the origin of the first models of the shelters until the present days trying to understand how these children and teenagers develop these places and emotional traumas felt before and after being welcomed by the shelter which perpetuate in their memories. The situation of the institutionalization for being a service that there are no finantial profits, it is the margin of society and children and teenagers end up spending years in those places that often are structures with limitations, including several laws, plans and guidelines that ensure the rights and conditions of the dignified living of these children and teenagers, but often they are not put into practice. The result of this is express in data very worrisome about the number of sheltered in Brazil. Therefore, a space had been planned that meet the needs of basic infrastructure of security and education besides providing these children much more only a shelter, but a home with comfortable and warm environments for the preservation and the reintegration of family members. Keywords: Hosting. Children Teenagers. Development. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Comparativo arquitetônico histórico .......................................................... 18 Figura 2 - Linha do tempo de legislações .................................................................. 21 Figura 3 - Distribuição das crianças e adolescentes quanto às regiões brasileiras (N:36.929) ........................................................................................................... 30 Figura 4 - Os três principais motivos de acolhimento no Sul do país (N: 8.324) ....... 30 Figura 5 - Quanto a faixa etária dos abrigados no Sul do país (N: 8.324) ................. 31 Figura 6 - Exemplos de arquitetura Montessori ......................................................... 34 Figura 7 - Estudo de Caso 01: Centro de Bem-Estar para crianças e adolescentes em Paris .............................................................................................................. 36 Figura 8 - Implantação da edificação ........................................................................ 37 Figura 9 - Gabarito de altura ..................................................................................... 38 Figura 10 - Planta de subsolo.................................................................................... 40 Figura 11 - Planta térreo ........................................................................................... 40 Figura 12 - Planta nível 1 .......................................................................................... 41 Figura 13 - Planta nível 2 .......................................................................................... 41 Figura 14 - Planta nível 3 .......................................................................................... 42 Figura 15 - Planta nível 4 .......................................................................................... 42 Figura 16 - Planta nível 5 .......................................................................................... 43 Figura 17 - Espaços recreativos - 1. Sala de jogos | 2. Terraço ................................ 43 Figura 18 - Iluminação e ventilação natural/ Visuais ................................................ 44 Figura 19 - Revestimento .......................................................................................... 45 Figura 20 - Organização em planta baixa ................................................................. 46 Figura 21 - Composição de fachada ......................................................................... 46 Figura 22 - Estudo de Caso 02: Casa de Acolhimento para Menores ....................... 47 Figura 23 - Implantação da edificação ...................................................................... 48 Figura 24 - Relação com o entorno ........................................................................... 48 Figura 25 - Planta de cobertura ................................................................................. 49 Figura 26 - Planta térreo ........................................................................................... 50 Figura 27 - Planta 1º pavimento ................................................................................ 50 Figura 28 - Funcionalidade ........................................................................................ 51 Figura 29 - Composição formal ................................................................................. 52 8 Figura 30 - Composição de fachada ......................................................................... 52 Figura 31 - Orfanato Sustentável no Nepal ............................................................... 53 Figura 32 - Local de implantação .............................................................................. 54 Figura 33 - Planta 1º pavimento ................................................................................ 55 Figura 34 - Planta 2º pavimento ................................................................................ 56 Figura 35 - Planta 3º pavimento ................................................................................ 56 Figura 36 - Planta 4º pavimento ................................................................................ 57 Figura 37 - Espaços recreativos: Biblioteca .............................................................. 57 Figura 38 - Espaços recreativos: Área ao ar livre ...................................................... 58 Figura 39 - Coleção de águas pluviais e reciclagem de água ................................... 59 Figura 40 - Colheita de Biogás .................................................................................. 59 Figura 41 - Coleta e aquecimento de energia solar ................................................... 60 Figura 42 - Jardins verticais e agricultura orgânica ................................................... 60 Figura 43 - Composição de fachada ......................................................................... 61 Figura 44 - Estudo de Caso O4: Casa da Vovó Ilza .................................................. 62 Figura 45 - Parte da planta de reforma do andar inferior .......................................... 63 Figura 46 - Uma das salas ........................................................................................ 64 Figura 47 - Cozinha ................................................................................................... 64 Figura 48 - Um dos quartos ....................................................................................... 65 Figura 49 - Números de 2016 .................................................................................... 66 Figura 50 - Escritório e área externa ......................................................................... 67 Figura 51 - Cozinha ................................................................................................... 68 Figura 52 - Refeitório ................................................................................................. 68 Figura 53 – Berçário .................................................................................................. 69 Figura 54 - Dormitórios masculino e feminino ........................................................... 69 Figura 55 - Relação país – estado – cidade .............................................................. 71 Figura 56 - Relação cidade – bairro – terreno ........................................................... 72 Figura 57 - Mapa nolli ................................................................................................ 73 Figura 58 - Gráfico de uso do solo ............................................................................ 74 Figura 59 - Mapa de uso do solo ............................................................................... 74 Figura 60 - Mapa de utilização dos espaços ............................................................. 75 Figura 61 - Gráfico de altura das edificações ............................................................ 76 Figura 62 - Mapa de altura das edificações............................................................... 77 9 Figura 63 - Mapa de rede viária ................................................................................ 78 Figura 64 - Perfil viário rua Luiz Lângaro .................................................................. 79 Figura 65 - Mapa de pavimentação das vias ............................................................. 79 Figura 66 - Mapa de transportes público ................................................................... 80 Figura 67 - Mapa de rede de água ............................................................................ 81 Figura 68 - Mapa de rede de esgoto ......................................................................... 82 Figura 69 - Mapa de rede de energia ........................................................................ 83 Figura 70 - Mapa de rede de vegetações urbana ...................................................... 84 Figura 71 - Características específicas do terreno .................................................... 85 Figura 72 - Terreno selecionado ............................................................................... 86 Figura 73 - Skyline Rua Luiz Lângaro - Vista 01 ....................................................... 86 Figura 74 - Vista 02 – 03 – 04 ................................................................................... 87 Figura 75 - Diagrama conceitual ............................................................................... 91 Figura 76 - Releitura de casas tradicionais ............................................................... 92 Figura 77 - Propostas ................................................................................................ 93 Figura 78 - Estratégias de eficiência energética........................................................ 93 Figura 79 - Espaços sociais destinados aos vínculos afetivos .................................. 94 Figura 80 - Método Montessoriano ............................................................................ 95 Figura 81 - Mobiliários para adolescentes ................................................................. 95 Figura 82 - Proposta de linguagem ........................................................................... 96 Figura 83 - Benefícios das áreas verdes ................................................................... 96 Figura 84 - Propostas de áreas verdes ..................................................................... 97 Figura 85 - Propostas de melhorias na infraestrutura local ....................................... 97 Figura 86 - Proposta 01 de zoneamento ................................................................. 102 Figura 87 - Proposta 02 de zoneamento ................................................................. 103 Figura 88 - Proposta 03 de zoneamento .................................................................104 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Síntese explicativa das Leis, Plano e Orientações ................................... 24 Tabela 2 - Programa de necessidades ...................................................................... 38 Tabela 3 - Programa de necessidades ...................................................................... 49 Tabela 4 - Programa de necessidades ...................................................................... 55 Tabela 5 - Tabela de tempo para chegada até local de utilização dos espaços ....... 76 Tabela 6 - Índices urbanísticos .................................................................................. 88 Tabela 7 - Metragens e mobiliários sugeridos ........................................................... 89 Tabela 8 - Programa de Necessidades abrigo institucional ...................................... 98 Tabela 9 - Programa de Necessidades Centro Recreativo ....................................... 99 Tabela 10 - Pontos positivos/negativos proposta 01 ............................................... 102 Tabela 11 - Pontos positivos/negativos proposta 02 ............................................... 103 Tabela 12 - Pontos positivos/negativos proposta 03 ............................................... 104 11 SUMÁRIO CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO .................................................................................. 15 1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ........................................................................... 15 1.2 TEMA DO PROJETO .......................................................................................... 16 1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO PROJETO ............................................... 17 CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................... 18 2.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ........................................................................... 18 2.2 HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO ..................................... 18 2.2.1 Histórico Geral ................................................................................................ 19 2.2.2 Histórico no Brasil ......................................................................................... 19 2.2.3 Atualidade ....................................................................................................... 21 2.3 DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES .............................. 22 2.3.1 Crianças .......................................................................................................... 22 2.3.2 Adolescentes .................................................................................................. 23 2.4 LEGISLAÇÕES E ORIENTAÇÕES TÉCNICAS .................................................. 24 2.4.1 Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 ............. 25 2.4.2 Decreto nº 99.710, de 21 de Novembro de 1990 – Direitos da Criança ...... 25 2.4.3 Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente ............................................................................................................. 26 2.4.4 Lei nº 12.594, de 18 de Janeiro de 2012 – Sinase ........................................ 27 2.4.5 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária .......................................... 28 2.4.6 Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes ........................................................................................................... 29 2.5 ESTATÍSTICAS ................................................................................................... 29 2.6 CENTROS RECREATIVOS ................................................................................ 32 2.6.1 Histórico .......................................................................................................... 32 2.6.2 Atualidade ....................................................................................................... 33 2.6.3 Atuação ligada as instituições de acolhimento ........................................... 33 2.7 ARQUITETURA PARA CRIANÇAS .................................................................... 33 2.8 ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS ....................................................................... 35 2.9 ESTUDOS DE CASO .......................................................................................... 35 12 2.9.1 Estudo De Caso 01: Centro de Bem-Estar para Crianças e Adolescentes em Paris ................................................................................................................... 36 2.9.1.1 Ficha técnica ................................................................................................. 36 2.9.1.2 Implantação ................................................................................................... 37 2.9.1.3 Programa de Necessidades .......................................................................... 38 2.9.1.3.1 Espaços recreativos ................................................................................... 43 2.9.1.4 Funcionalidade .............................................................................................. 44 2.9.1.5 Forma ............................................................................................................ 45 2.9.2 Estudo De Caso 02: Casa de Acolhimento para Menores .......................... 47 2.9.2.1 Ficha técnica ................................................................................................. 47 2.9.2.2 Implantação ................................................................................................... 47 2.9.2.3 Programa de Necessidades .......................................................................... 49 2.9.2.4 Funcionalidade .............................................................................................. 51 2.9.2.5 Forma ............................................................................................................ 51 2.9.3 Estudo de Caso 03: Lali Gurans Orphanage - Orfanato Sustentável no Nepal ........................................................................................................................ 53 2.9.3.1 Ficha técnica ................................................................................................. 53 2.9.3.2 Implantação ................................................................................................... 54 2.9.3.3 Programa de Necessidades .......................................................................... 54 2.9.3.3.1 Espaços recreativos ................................................................................... 57 2.9.3.4 Funcionalidade .............................................................................................. 58 2.9.3.5 Forma ............................................................................................................ 61 2.9.4 Estudo de Caso 04: Casa Vovó Ilza .............................................................. 61 2.9.4.1 Ficha técnica ................................................................................................. 62 2.9.4.2 Implantação ................................................................................................... 62 2.9.4.3 Programa de Necessidades .......................................................................... 63 2.9.4.4 Funcionalidade .............................................................................................. 65 2.9.4.5 Forma ............................................................................................................ 65 2.9.4.6 Estatísticas ....................................................................................................65 2.10 VISITA TÉCNICA .............................................................................................. 67 CAPÍTULO 3: DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO ............................... 70 3.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO ........................................................................... 70 3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL ................................................................... 70 13 3.3 MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS EDIFICAÇÕES ........................ 72 3.3.1 Mapa Nolli ....................................................................................................... 72 3.3.2 Uso do solo ..................................................................................................... 73 3.3.3 Altura das edificações ................................................................................... 76 3.4 INFRAESTRUTURA URBANA ............................................................................ 77 3.4.1 Sistema viário ................................................................................................. 77 3.4.2 Rede de água .................................................................................................. 81 3.4.3 Rede de esgoto ............................................................................................... 81 3.4.4 Rede de energia .............................................................................................. 83 3.4.5 Rede de vegetações urbanas ........................................................................ 83 3.5 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO TERRENO ......................................... 84 3.6 SÍNTESE DE LEGISLAÇÕES E NORMATIVAS ................................................. 88 3.6.1 Plano diretor ................................................................................................... 88 3.6.2 Código de obras ............................................................................................. 88 3.6.3 Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes ........................................................................................................... 89 3.6.4 NBR 9050 ......................................................................................................... 89 3.6.5 NBR 9077 ......................................................................................................... 90 3.6.6 NBR 15575 ....................................................................................................... 90 CAPÍTULO 4: CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS ...................................... 91 4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 91 4.2 CONCEITO DO PROJETO ................................................................................. 91 4.3 DIRETRIZES DE ARQUITETURA ...................................................................... 92 4.4 DIRETRIZES URBANÍSTICAS ............................................................................ 96 CAPÍTULO 5: PARTIDO GERAL ............................................................................. 98 5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 98 5.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES .................................................................... 98 5.3 ORGANOGRAMA/FLUXOGRAMA ................................................................... 100 5.3.1 Organograma / Fluxograma Abrigo Institucional ...................................... 100 5.3.2 Organograma / Fluxograma Centro Recreativo ......................................... 101 5.4 PROPOSTAS DE ZONEAMENTO .................................................................... 102 5.4.1 Proposta 01 de zoneamento ........................................................................ 102 5.4.2 Proposta 02 de zoneamento ........................................................................ 103 14 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 106 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 107 ANEXOS ................................................................................................................. 112 15 CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 1.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO O tema da monografia é centrado nas informações necessárias para o desenvolvimento de um projeto de uma Instituição de Acolhimento para crianças e adolescentes na cidade de Passo Fundo –RS/BR. Logo, seu objetivo geral é elaborar um projeto de estrutura física para a instituição, que atenda às necessidades de infraestrutura básica, segurança e educação, assim influenciando e proporcionando qualidade de vida, sensação de bem-estar e desenvolvimento de caráter destas. Enquanto seus objetivos específicos são: Desenvolver um projeto de acolhimento institucional, para crianças e adolescentes, funcionando como moradia provisória até que seja permitido o retorno para suas famílias ou responsáveis; Atender as crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de idade, sem qualquer tipo de discriminação; Promover a preservação e reintegração dos vínculos familiares, através de atendimento personalizado, em estruturas que remetam a vida em família; Proporcionar ambiente acolhedor, com possibilidade de crescimento sadio, em condições dignas de existência; Permitir que as crianças e adolescentes tenham direito às áreas de educação, saúde e assistência social; Criar parcerias locais a fim de integrar as crianças e adolescentes da instituição com a comunidade; Incentivar a participação em atividades culturais, esportivas e lazer; Empregar o uso de tecnologias e estratégias sustentáveis, instruindo as crianças e adolescentes ao valor do meio ambiente; Elaborar proposta de edificação independente para desenvolvimento de atividades recreativas em regime de coeducação, que atenda as crianças e adolescentes da comunidade em geral, com o intuito de promover a integração e prepará-los para a vida em sociedade. 16 1.2 TEMA DO PROJETO O tema do trabalho em desenvolvimento se trata de uma Instituição de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. De forma geral, as instituições têm como propósito acolher, proteger e resgatar o ambiente familiar das crianças e adolescentes que tiveram suas vidas marcadas por histórias de rompimento das suas ligações afetivas, as quais muitas vezes foram vítimas de abandono, violência, foram ameaçadas, assediadas, ou envolvidas com drogas. Proporcionando então oportunidades para que tenham uma vida com qualidade de desenvolvimento saudável (RIZZINI; RIZZINI, 2004). Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990a, Art. 101), o acolhimento institucional é uma “medida provisória e excepcional, utilizada como forma de transição para reintegração familiar”. Estas instituições devem seguir uma série de normas, garantindo os direitos “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (BRASIL, 1990a, Art. 4º). Portanto, o projeto consistirá em uma instituição de acolhimento, que se propõe a atender crianças e adolescentes de 0 a 18 anos de idade, de todos os gêneros e condições, livre de preconceitos e discriminações. O espaço dispõe-se a propiciar tratamento igual a todos, contudo, ressaltando suas individualidades, dando-lhes oportunidade de expressar suas diferentes ideias, pensamentos e maneira de agir, de forma com que se sintam valorizados como pessoas únicas. Haverá um cuidado especialcom os ambientes propostos, serão organizados a se assemelhar com ambientes familiares e acolhedores. Todos receberão atenção para que não percam os laços familiares e que estejam preparados para a inserção em suas antigas famílias ou em novas famílias acolhedoras. Esse tratamento busca que as crianças compreendam laços afetivos, de família e amizade, proporcionando uma vida digna, com crescimento alegre e espontâneo pertinente a idade. Também será proposto um centro recreativo para a comunidade em geral, de forma a atender crianças e adolescentes do bairro. Servindo como instrumento de socialização das crianças e adolescentes do abrigo com os demais moradores, além de oferecer recreação para crianças e adolescentes da comunidade, afastando-os da rua e da marginalidade. Será incentivado o coletivismo e prática de boas ações, focando a construção de sociedades mais justas. 17 1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO PROJETO O tema abrigo institucional é cada vez mais discutido no Brasil, pois há um grande número de crianças e adolescentes vivendo nesses locais. Segundo o último Levantamento nacional das crianças e adolescentes em serviço de acolhimento do ano de 2010 há 36.929 crianças e adolescentes abrigadas, e somente na região sul existem 8.324 destas, encontrando-se como segunda região com maior número de crianças e adolescentes abrigados, ficando atrás apenas da região Sudeste. Por lei estas instituições deveriam servir apenas como moradias provisórias, tal condição que diversas vezes não é cumprida. Resultado disso é que estas crianças e adolescentes acabam por passar grande parte da infância nesses abrigos, os quais geralmente não são estruturas pensadas para acomodá-los, e ainda associados às diversas situações de vida das crianças e adolescentes, levam para quadros extremos de estresse ou depressão. Através de dados cedidos por Elenir Chapuis, Secretária Adjunta de Cidadania e Assistência Social, em Passo Fundo há um total de 47 acolhidos, onde 10 são crianças e 36 adolescentes, sendo 20 meninas e 27 meninos, e apenas 15 estão aptos para adoção. A cidade conta com três casas de acolhimento e um lar, sendo estes, a Casa Anita Garibaldi; a Casa Roberto Pirovano Zanata; a Casa Herbert de Souza; além do Lar Emiliano Lopes. Conforme conversa informal com a Psicóloga e a Assistente Social de uma das casas, foi esclarecido que estas casas acolhem em média vinte crianças, por vezes já foram acolhidas até vinte e seis. São acolhidas crianças que tiveram violações graves de seus direitos, possuindo acompanhamento de alta complexidade do Conselho Tutelar, que por três motivos tiveram de ser afastadas de suas famílias, e consequentemente abrigadas, sendo os motivos: violência física e psicológica; abuso sexual e utilização de termos pejorativos; e negligências graves. Devido a tais circunstâncias vividas por essas crianças e adolescentes, a atmosfera dos ambientes nessas casas é bastante tensa, pois alguns abrigados depredam o local, e alguns pais tentam retirar seus filhos forçadamente do abrigo. Estes locais são casas alugadas, que devem atender a um programa de necessidades, porém é difícil encontrar uma residência com esses quesitos. Por isso a importância de ter um local fixo e apropriado para o uso que atenda à todas as necessidades dos abrigados e funcionários. 18 CAPÍTULO 2: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 INTRODUÇÃO AO CAPÍTULO Nesta parte será apresentada a revisão de literatura que apresenta os principais assuntos pertinentes a compreensão do tema escolhido para o projeto. Assim, são apresentados os seguintes assuntos: histórico das instituições de acolhimento; desenvolvimento de crianças e adolescentes; legislações e orientações técnicas; estatísticas; centros recreativos; arquitetura para crianças; estratégias sustentáveis; três estudos de caso e uma visita técnica. 2.2 HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO Na figura abaixo é possível perceber a diferença da composição arquitetônica de antigamente para um exemplo atual. Antigamente em meados da década de 1850 essas instituições ficavam em grandes casarões seguindo um estilo neoclássico, onde acolhiam muitas crianças e adolescentes em um mesmo local. Atualmente esses locais são caracterizados por uma arquitetura residencial, acolhendo um número menor de crianças e adolescentes, buscando referências locais, de forma a se assemelhar com o entorno, sem se evidenciar. Figura 1 - Comparativo arquitetônico histórico Antigamente Exemplo: Instituto Gentil Binttencourt (Belém, Pará) Atualmente Exemplo: Casa de Acolhimento para Menores / CEBRA Fonte: RIZZINI; RIZZINI (2004). Fonte: ARCHDAILY (2015) 19 2.2.1 Histórico Geral Os descuidos da sociedade com as crianças são resultado de uma cultura que tem princípio no período da Idade Antiga, pois nesta época em algumas regiões como Esparta e Atenas as crianças do gênero masculino aos seis anos de idade já eram tiradas de suas famílias e enviadas para quarteis, onde ficariam até seus trinta anos. Caso esta criança fosse do gênero feminino, correria o risco de ser rejeitada pelos pais, além disso se tivesse alguma deficiência poderia ser enviada aos prostíbulos ou ao sistema escravista. Tal situação tinha como consequência um grande número de abandono em famílias pobres (VILAS-BÔAS, 2012). Logo, na Idade Média, com a expansão do cristianismo, iniciou o reconhecimento dos valores das crianças, aplicando penas para aqueles pais que abandonassem ou maltratassem seus filhos. Porém a Igreja protegia apenas os filhos legítimos, ou seja, aquelas crianças concebidas dentro do casamento. Enquanto discriminava e via como afronta os filhos ilegítimos, aqueles concebidos fora do casamento, com isso muitos destes acabavam por ser abandonados (VILAS- BÔAS, 2012). 2.2.2 Histórico no Brasil O histórico das instituições de acolhimento inicia no período colonial, com as chamadas Rodas de Expostos, que por atitudes religiosas coordenadas pelas Santas Casas de Misericórdia acolhiam os bebês abandonados por mães que não queriam ter a desonra de ter gerado um filho ilegítimo, ou por aquelas que não tinham condições financeiras de cria-los. No Brasil, as cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife foram as primeiras a adotarem esse sistema, que logo se disseminou pelo restante do país (MARCILIO, 2016). Estas Rodas eram cilindros colocados em posição estratégica onde as mães, de forma anônima, deixavam os bebês (VILAS-BÔAS, 2012). Com o grande número de bebês abandonados, amamentação artificial e a falta de higiene nas Santas Casas, resultou em altas taxas de mortalidade. Para isso uma solução praticada na época foi a criação afastada das instituições, pelas amas- de-leite. Estas amas-de-leite geralmente eram mulheres que pretendiam um pequeno salário, ou ainda escravas que eram alugadas pelos seus senhores. Porém 20 há registros de amas que escravizavam e até comercializavam as crianças (RIZZINI; RIZZINI, 2004). Então somente a partir do século XIX começam a funcionar algumas escolas e internatos públicos com auxílio do governo para formação profissional de crianças e adolescentes pobres. Contudo as escolas e internatos para meninos eram em benefício da Marinha e do Exército, pois criaram Companhias de Aprendizes dos Arsenais de Guerra e Companhias de Aprendizes Marinheiros, que funcionava como internato para meninos retirados das ruas pelos policiais. Fato curioso é que o número de meninos enviados aos navios de guerra foi maior que o de homens recrutados e voluntários. No entanto, os recolhimentos de meninas eram integralmente destinados a conventos, preparando-as para serem futuras mães e donas de casa, as quais só poderiam sair de lá casadas (RIZZINI; RIZZINI, 2004). Com o avanço do sistema público e das leis, em 1942 foi criado o Serviço deAssistência ao Menor (SAM), este tendo caráter totalmente correcional agindo de forma repressiva. Tendo descontentado a sociedade pela maneira como tratava as crianças e adolescentes, em 1964 foi substituído pela Política Nacional de Bem- Estar do Menor (PNBEM) que tinha um caráter assistencial, que seria executado pela Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (Funabem). Assim sendo seguida em 1979 pelo Código de Menores, que trata sobre a proteção das crianças e adolescentes abandonadas, carentes ou responsáveis por atos infracionais (BRASIL, 2004). Neste período o Código de Menores foi responsável pela extinção da Roda dos Expostos (VILAS-BÔAS, 2012). Então em 1986 foi criada a Comissão Nacional Criança e Constituinte (BRASIL, 2004). No ano de 1988 a nova Constituição Federal abrange a proteção integral de crianças e adolescentes. Em 1990 é criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), após isso a Funabem foi extinta e substituída pela Fundação Centro Brasileiro para a Infância e a Adolescência (FCBIA), que também foi extinta em 1995 passando para Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). E em 2003 foi criada a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), no qual o assunto crianças e adolescentes é tratada pela Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SPDCA) (BRASIL, 2004). A evolução histórica das instituições pode ser percebida através da figura 2 abaixo. 21 Figura 2 - Linha do tempo de legislações 1942 1964 1979 1986 1988 1990 1995 2003 S e rv iç o d e A s s is tê n c ia a o M e n o r (S A M ) P o lí ti c a N a c io n a l d e B e m -E s ta r d o M e n o r (P N B E M ) C ó d ig o d e M e n o re s C o m is s ã o N a c io n a l C ri a n ç a e C o n s ti tu in te C o n s ti tu iç ã o F e d e ra l E s ta tu to d a C ri a n ç a e d o A d o le s c e n te ( E C A ) S e c re ta ri a d e D e fe s a d o s D ir e it o s d a C id a d a n ia , e S e c re ta ri a d e A s s is tê n c ia S o c ia l S e c re ta ri a E s p e c ia l d o s D ir e it o s H u m a n o s ( S E D H ), d e n to d a S E D H , a S u b s e c re ta ri a d e P ro m o ç ã o d o s D ir e it o s d a C ri a n ç a e d o A d o le s c e n te ( S P D C A ) Fonte: BRASIL (2004) adaptado pela autora (2017). 2.2.3 Atualidade Os abrigos hoje em dia estão à margem da atenção da sociedade, esquecidos, tentam sobreviver com o mínimo que lhes é oferecido. Com estrutura e equipe de funcionários precárias, lutam para assegurar os direitos e o desenvolvimento das crianças e adolescentes que ali permanecem, pois é nestes espaços que vão adquirir ou absorver conhecimentos, que irão evoluir a capacidade de se comunicar e se relacionar (DAFFRE, 2012). Sendo um serviço de alta complexidade, no momento atual existem diversas leis e orientações que estas instituições e abrigos devem seguir, porém na prática estas não são aplicadas com o vigor necessário. É indispensável que estas leis realmente sejam seguidas para que as instituições funcionem de maneira correta, um exemplo disso é o tempo de permanência no abrigo, pois a maioria destas crianças passa mais que o tempo determinado por lei (DAFFRE, 2012). A precariedade das instituições de acolhimento retrata o descaso que muitos administradores têm com as crianças, através dos recursos financeiros que não são suficientes. Primeiramente existe o problema de estrutura física, que diversas vezes não atende as necessidades das crianças e adolescentes, pois tem-se grande dificuldade em encontrar um imóvel que tenha todas as características exigidas nas orientações técnicas e que ainda esteja dentro do valor oferecido pelos governos. É preciso investimento para que disponham de ambientes protegidos e que 22 proporcionem possibilidades de desenvolvimento e qualidade de vida enquanto estas crianças e adolescentes estiverem abrigadas (DAFFRE, 2012). Além disso é notavelmente importante investir em profissionalização dos educadores, pois são eles que vão estar diariamente em contato com os abrigados. Estes educadores diversas vezes não apresentam preparo para conviver com os problemas comportamentais das crianças e adolescentes, por vezes chegando ao ponto em que “agridem as vítimas num círculo perverso e silencioso de maus-tratos dentro das instituições que deveriam proteger” (SOUZA, 2014, p. 102). Respectivamente, essas influencias vão interferir naturalmente no desenvolvimento de vida dessa população jovem (SOUZA, 2014). 2.3 DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES O desenvolvimento de cada indivíduo se inicia ainda nos primeiros meses de vida, visto que é nesse período que ocorrem as primeiras disposições psicológicas do ser, apresentando as primeiras noções afetivas e impulsivas. Estas disposições estão em duas linhas paralelas, sendo o consciente e inconsciente. Os traumas sofridos pelas crianças e adolescentes são explicados em muitos casos quando algo ocorre e se torna insuportável, atuando de forma inconsciente. Através de acompanhamento psicológico nas instituições, é possível induzir a pessoa a relembrar de forma consciente o acontecimento, que irá agir como forma de libertação das emoções abafadas, melhorando notadamente o comportamento destas crianças e adolescentes, que diversas vezes adotam posturas reprimidas ou agressivas (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981). Estes acompanhamentos são muito importantes para o desenvolvimento dos institucionalizados, pois auxiliam na habituação a encarar novos acontecimentos. Uma vez que a organização mental destas é fragilizada, a reestruturação irá depender de diversos fatores, desde o tratamento de seu histórico de vida, os meios sociais e espaços físicos onde vivem, além do fator de amadurecimento em cada idade distinta (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981). 2.3.1 Crianças Inúmeras são as vezes que o âmbito mental das crianças já está definido antes de seu nascimento, contudo, algumas de forma prejudicial, pois nascem em 23 famílias desestruturadas, com diversos conflitos internos, passando por experiências intoleráveis, que acabam por provocar sua remoção das famílias. Em outros casos essas relações familiares nem chegam a existir, tal situação que refere-se ao abandono de crianças, em que o desenvolvimento normal destas não acontecem (RAPPAPORT; FIORI; HERZBERG, 1981). Ainda quando bebês as primeiras noções de caráter são formadas, em seus primeiros laços de amor com os seus pais as crianças tendem a crescer com bons anseios, porém se estas crianças crescem sem seus pais, tendem a procurar a afeição constantemente em outras pessoas, e passam a odiar qualquer um que não consiga dar-lhe o afeto que desejam. Ou em outra situação a separação de laços já estabelecidos com os pais, que pode ser devastadora para o desenvolvimento de suas personalidades (BOWLBY, 1990). Tais experiências negativas e frustrantes geram sentimentos de carência e vulnerabilidade, causando-lhes a perspectiva deformada do significado da família. Interferindo significativamente nessa fase da infância, em que são desenvolvidas as primeiras relações pessoais, acarretando em distúrbios de personalidade e falhas preocupantes na evolução da inteligência, podendo ser ou não permanentes (RAPPAPORT; FIORI; HERZBERG, 1981). 2.3.2 Adolescentes Na fase da adolescência os problemas causados pela institucionalização são enfatizados, pois é quando começam os processos de consciência e individualidade, surgindo os grupos de amizades ao passo que suas particularidades começam a ser destacadas e relacionadas, tomando relações diferentes quanto ao gênero, posição social e cultural. A partir disso o comportamento destes adolescentes toma maiorproporção em relação aos traumas dos fatos acontecidos, refletindo em comportamentos extremos de isolamento ou rebeldia, causando-lhes danos ao futuro (BLOS, 1998). Esta fase do desenvolvimento comportamental deve ser analisada de três formas, primeiro referente ao passado do adolescente, em segundo relativo ao processo de adaptação na atual situação de vida e por último uma análise de visão para o futuro. Diante disso a importância do acompanhamento em sociedade e tratamento da autoestima, assim como do espaço onde vivem, pois, todo 24 instrumento de dedicação a eles reflete positivamente no desenvolvimento de caráter (BLOS, 1998). 2.4 LEGISLAÇÕES E ORIENTAÇÕES TÉCNICAS De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos as legislações referentes às crianças e adolescentes são: a Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988; Decreto nº 99.710, de 21 de Novembro de 1990; Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990; e Lei nº 12.594, de 18 de Janeiro de 2012. Além destas o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome prevê: Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Ainda o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente juntamente com o Conselho Nacional de Assistência Social criaram Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes. Tabela 1 - Síntese explicativa das Leis, Plano e Orientações Leis / Plano / Orientações Síntese explicativa Constituição Federal (1988) Em termos relativos as crianças e adolescentes, a Constituição prevê os deveres da família, sociedade e Estado para com estas, assegurando assim uma vida digna a qualquer uma. Direitos da Criança (1990b) Esta lei determina todos os direitos das crianças e adolescentes. Estatuto da Criança e do Adolescente (1990a) O Estatuto reafirma todos os deveres e direitos referentes ás crianças e adolescentes. Ressalta ainda medidas para quando esses deveres e direitos forem violados, nos casos ligados a adoção, enuncia medidas que as instituições de acolhimento devem assumir. Sinase (2012) Neste caso diz respeito as crianças e adolescentes que cometerão atos infracionais, as quais em algumas situações devem ser encaminhadas á instituições, devendo seguir planos socioeducativos. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (2013) O plano trata da importância do ambiente das instituições serem de acolhimento e proteção, estarem localizados em áreas residenciais, possibilitando o convívio e integração das crianças e adolescentes com a comunidade. Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (2009) As orientações categorizam as modalidades de abrigo, estabelecendo diretrizes arquitetônicas, tanto externamente enfatizando que não devem ser utilizadas placas, assim com devem manter tipologia do entorno, como internamente atribuindo programa de necessidades mínimo. Fonte: da autora (2017). 25 2.4.1 Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 A constituição prevê que a “assistência social será́ prestada a quem dela necessitar”, tendo por objetivo “a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência” e “o amparo às crianças e adolescentes carentes” (BRASIL, 1988, art. 203). Tendo o Estado como dever: “educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988, art. 208). Evidenciando estes deveres no capítulo VII, onde explana: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988, art. 227.) 2.4.2 Decreto nº 99.710, de 21 de Novembro de 1990 – Direitos da Criança Este decreto promulga sobre os Direitos da Criança, considerando criança toda pessoa menor de dezoito anos de idade, sem qualquer forma de distinção para com as crianças ou seus representantes legais. Esta deve crescer em um meio familiar, feliz, de amor e entendimento, não podendo ser afastada dos pais se não for a intenção deles, a menos que esse afastamento seja para o bem da criança. Nestes casos de afastamento da família, a criança tem direito à proteção do Estado, sendo colocadas em instituições e lares de proteção e adoção (BRASIL, 1990b). Ainda assegura direitos como: “à liberdade de pensamento, de consciência e crença.” (BRASIL, 1990b, art. 14); “a um nível de vida adequado ao seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social.” (BRASIL, 1990b, art. 27); “à educação” (BRASIL, 1990b art. 28); “ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística.” (BRASIL, 1990b, art. 31); E ainda: Os Estados Partes adotarão todas as medidas apropriadas para estimular a recuperação física e psicológica e a reintegração social de toda criança vítima de qualquer forma de abandono, exploração ou abuso; tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes; ou conflitos armados. Essa recuperação e reintegração serão efetuadas em ambiente que estimule a saúde, o respeito próprio e a dignidade da criança (BRASIL, 1990b, art. 39). 26 2.4.3 Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente Esta lei considera criança todo individuo até doze anos e adolescente até dezoito anos de idade, aplicando todos os direitos sem qualquer tipo de discriminação referente a “nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região ou outra condição que diferencie” (BRASIL, 1990a, art. 3º parágrafo único). Ainda assegura todos os direitos da criança e do adolescente conforme previsto no artigo 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990a, art. 4º) Consiste em direitos da criança e do adolescente viver de forma livre de discriminação, negligência ou violência, em ambiente um familiar e afetivo, porém quando este não for possível, pois muitas vezes as violações destes direitos acontecem exatamente no meio familiar, e a criança e o adolescente tenham que permanecer em instituições de acolhimento afastados da família, tal medida que tem caráter temporário e excepcional, deverá ter sua situação reavaliada a cada seis meses, e sua permanência nestas instituições não deve se protelar por mais de dois anos, a menos que seja provada necessidade de se estender (BRASIL, 1990a). Estas medidas de institucionalização se aplicam quando crianças e adolescentes tiverem seus direitos violados ou ameaçados de três modos previstos no art. 98 desta lei, sendo o primeiro “por ação ou omissão da sociedade ou do Estado”; o segundo caso “por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável”; e por último “em razão de sua conduta”. Então estas instituições de acolhimento devem seguir alguns princípios como: I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reintegração familiar; II - integração em família substituta, quandoesgotados os recursos de manutenção na família natural ou extensa; III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação; V - não desmembramento de grupos de irmãos; VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; 27 VII - participação na vida da comunidade local; VIII - preparação gradativa para o desligamento; IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo (BRASIL,1990a, art. 92). E ainda previsto no artigo 94 desta lei, tem-se como obrigações das instituições de acolhimento: I - observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente; V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares; VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares; VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal; VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos; X - propiciar escolarização e profissionalização; XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente; XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual; XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias infecto- contagiosas; XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes; XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos; XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem; XX - manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento. (BRASIL, 1990a, art. 94). 2.4.4 Lei nº 12.594, de 18 de Janeiro de 2012 – Sinase Essa lei estabelece o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), a qual regulariza normas aos adolescentes infratores, organizando a execução de medidas socioeducativas, seja de semiliberdade ou internação. Nos casos de internação o adolescente deverá ser inserido em uma instituição que fique 28 mais próxima de sua comunidade. Estes adolescentes deverão seguir planos de atendimento socioeducativos, prevendo ações educacionais, tanto na área da saúde, assistência social, cultura, além de capacitação para trabalho, entre outros, estas medidas devem contar com a participação dos pais. E só poderão sair das instituições com autorização, ou sendo monitorados. Receberão visitas de familiares ou amigos apenas em horários definidos pela direção da instituição (BRASIL, 2012). 2.4.5 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária O atual plano trata da importância de se oferecer um ambiente no qual as crianças e adolescentes se sintam protegidas e amadas, onde sejam capazes de desenvolver capacidades de enfrentar os acontecimentos da vida, sendo estes de corresponsabilidade da família, do Estado e da sociedade. E mais uma vez enfatiza que as crianças e adolescentes não devem ser afastadas do contexto familiar, tal ação consiste em uma medida de grande responsabilidade, que só deve ser feita a partir de um estudo e realizado pela Justiça da Infância e da Juventude e o Ministério Público. Ainda faz algumas considerações relevantes às normas do ECA, e ressalta recomendações que devem ser seguidas pelas instituições de acolhimento, que são: - Localizar a instituição em áreas residências; Proporcionar o convívio dos abrigados com a comunidade local, através da utilização dos serviços oferecidos. Incluindo os adolescentes em projetos de profissionalização, para estarem preparados para o futuro desligamento da instituição. - Motivar a relação da criança e do adolescente com seus familiares, a menos que a determinação judicial não permita; Acolher todos os sexos e variadas idades, possibilitando acolher irmãos; Atender a pequenos grupos, possibilitando relações afetivas, lugares privados e ainda registros sobre a vida de cada criança e adolescente. - Obedecer às normas de acessibilidade a fim de receber crianças e adolescentes com deficiência, a fim de integra-los às demais. - Manter a justiça sempre a par da situação das crianças e adolescentes abrigados. (BRASIL, 2013) 29 2.4.6 Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes Os serviços de acolhimento possuem como objetivos gerais a reintegração dos lares familiares, além da inserção das crianças e adolescentes na vida da comunidade, através da participação em eventos festivos, e utilização de serviços públicos. As crianças e adolescentes devem transitar pela comunidade conforme qualquer outra pessoa de mesma idade, desta forma os serviços de acolhimento não devem dispor de equipamentos destinado a atendimento médico, educação e lazer (BRASIL, 2009). E conforme o capítulo III, “tais serviços podem ser ofertados em diferentes serviços de acolhimento: i. Abrigos Institucionais; ii. Casas-Lares; iii. Famílias Acolhedoras; e iv. Repúblicas.” (BRASIL, 2009, p. 61). Portanto para o desenvolvimento do presente trabalho foi escolhida a opção de abrigos institucionais. Abrigos Institucionais são definidos como acolhimento provisório para crianças e adolescentes de até dezoito anos de idade, atendendo ao número máximo de vinte crianças e adolescentes, sem qualquer tipo de exclusividade. Localizados em áreas residenciais, deverão manter os princípios arquitetônicos das demais residências do local em que estiverem inseridos, não devendo ser colocadas placas de indicação institucional. Possuindo equipe profissional mínima: Coordenador; equipe técnica, educador/cuidador e auxiliar de educador/cuidador. Sua infraestrutura deve contar com quartos, sala de estar, sala de jantar / copa, ambiente para estudo, banheiros, cozinha, área de serviço, área externa (varanda, quintal, jardim, etc), sala para equipe técnica, sala para coordenação / atividades administrativas, sala / espaço para reuniões (BRASIL, 2009). 2.5 ESTATÍSTICAS Segundo o Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento realizado no ano de 2010, haviam 36.929 crianças e adolescentes acolhidos em 2.264 instituições pesquisadas no Brasil no período de pesquisa (ASSIS; FARIAS, 2013). Dessas, apenas 4.759 crianças e adolescentes estão disponíveis a serem adotadas atualmente, conforme o Cadastro Nacional de Adoção – CNA (2017). Contudo o número de pessoas interessadas a adotar de acordo com o CNA é de 30 40.804 pretendentes. Com isso nota-se que o número de pretendentes a adotar é superior ao número de crianças e adolescentes, entretanto, na maioria dos casos os perfis de procura não se encaixam. Para isso foi feita uma análise de perfil destas crianças e adolescentes abrigados, conforme apresentado a seguir:Figura 3 - Distribuição das crianças e adolescentes quanto às regiões brasileiras (N:36.929) Fonte: ASSIS; FARIAS (2013) adaptado pela autora (2017). Figura 4 - Os três principais motivos de acolhimento no Sul do país (N: 8.324) Fonte: ASSIS; FARIAS (2013) adaptado pela autora (2017). 58,8 22,5 10,1 5,7 2,90 10 20 30 40 50 60 70 Sudeste Sul Nordeste Centro Oeste Norte % 44,1 24,5 21,1 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 Negligência da família Pais ou responsáveis dependentes químicos/alcoólatras Abandono pelos pais ou responsáveis % 31 Figura 5 - Quanto a faixa etária dos abrigados no Sul do país (N: 8.324) Fonte: ASSIS; FARIAS (2013) adaptado pela autora (2017). Conforme os gráficos apresentados, é constatado a região Sudeste como a região com mais crianças e adolescentes abrigadas no Brasil, contendo 58,8% destas, que confere a quantidade de 21.790 crianças e adolescentes. A região Sul aparece como segunda maior localidade de abrigados, com 8.324 crianças e adolescentes, sendo 22,5% do total do país. As demais regiões somam 18,7% dos abrigados de todo país. Na região Sul percebe-se que o principal motivo pelo qual as crianças e adolescentes são abrigados é pela negligência familiar, com 44,1% das ocorrências, apontando respectivamente pais ou responsáveis dependentes químicos e alcoólatras com 24,5%, e abandono pelos pais ou responsáveis com 21,1%. As crianças e a adolescentes abrigadas estão em maioria na faixa etária dos 7 a 11 anos com 30,7%, seguidas pelas faixas de 12 a 14 anos com 23%, 0 a 3 anos com 17,4%, 15 a 17 anos com 16,9% e por último de 4 a 6 anos de idade com 12%. 30,7 23 17,4 16,9 12 0 5 10 15 20 25 30 35 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0 a 3 anos 15 a 17 anos 4 a 6 anos % 32 2.6 CENTROS RECREATIVOS Com o intuito de desenvolvimento das crianças e adolescentes será projetado um centro recreativo independente da instituição de acolhimento, respeitando as legislações referentes ao acolhimento. Assim as crianças e adolescentes poderão frequentar estes centros enquanto estiverem abrigadas, e poderão seguir frequentando quando voltarem para suas casas. Desta forma o centro recreativo atenderá as crianças e adolescentes da comunidade em geral, funcionando durante o dia, de maneira a proporcionar atividades no período inverso a escola. Estas atividades servirão como meio de integração social, ocasionando em um ambiente de recreação, onde elas gostem de estar, assim influenciando a serem pessoas mais prósperas. 2.6.1 Histórico Os primeiros centros surgiram no Brasil por volta do século XIX, inicialmente ainda como clubes esportivos, e logo tiveram grande visibilidade por demonstrarem boa posição social, acompanhando a burguesia industrial e comercial. No entanto o restante, que seguia em maior número, e por estarem localizados em comunidades periféricas e rurais eram desprezados, estes que seguiam os exemplos dos imigrantes, tomando características distintas em cada lugar. Como resultado disso os clubes do RS, SC, PR e SP, tinham uma identidade cultural própria muito mais definida (DACOSTA, 2006). A partir do século XX, se iniciou uma grande popularização do esporte no Brasil e, portanto, ficou conhecido como o país do futebol, logo, os clubes com maior poder aquisitivo assumiram a atenção da vez. Por outro lado, ocorreu nessa época, por volta da década de 1970, a evidenciação dos clubes comunitários, que eram em maior parte recreativos do que esportivos. No período, através de uma pesquisa do IBGE foram constatados 30 mil clubes recreativos e esportivos no país. Foi identificado o desaparecimento e surgimento destes clubes, mostrando uma situação contraditória em função da situação do país. São apontadas como causas principais as dificuldades financeiras que o país passa, mas mesmo diante disso estatísticas apontam estes clubes como geradores de emprego, de esporte e lazer para todos (DACOSTA, 2006). 33 2.6.2 Atualidade Atualmente os centros recreativos são espaços que não se limitam apenas a jogos, ou apenas a crianças, são espaços que abrangem atividades esportivas, musicais, e também educacionais, de teatro, de trabalhos manuais, estudo da natureza, entre outras atividades, atendendo a diversas faixas etárias. Estes centros recreativos são considerados importantes para o desenvolvimento de habilidades, e tem considerável influência na vida da comunidade, tendo significativo efeito de inspirar normas e valores fundamentais para ordem social (GOMES, 2003). 2.6.3 Atuação ligada as instituições de acolhimento Nos dias atuais, muitas instituições de acolhimento dispersadas pelo mundo atuam em colaboração com esses centros recreativos, oferecendo atividades extraclasse para os abrigados, proporcionando a “inclusão social de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade social para que sejam e atuem como cidadãs autônomas, críticas, conscientes e protagonistas do exercício da cidadania na família, instituição e comunidade” (CALDEIRA, 2013, p.158). Segundo Guará a medida provisória do abrigo “não impede que o tempo presente na instituição seja vivido como possibilidade de desenvolvimento da criança e do adolescente e que o bem-estar seja tão importante quanto o bem-sair” (BAPTISTA; GUARÁ, 2010, p. 60), com isso fica nítida a importância da criança e do adolescente terem a oportunidade de saírem do abrigo, conhecerem a cidade, realizarem então estas atividades recreativas ou culturais, aprendendo a como se cuidar, sendo atividades desafiadoras, de saídas próximas ou longas, que devem fazer parte da vida do abrigo (BAPTISTA; GUARÁ, 2010). 2.7 ARQUITETURA PARA CRIANÇAS Com o desenvolvimento de técnicas projetuais juntamente com pesquisas psicológicas, percebe-se que a arquitetura exerce influência em todos os sentidos humanos. Servindo muito além da finalidade de moradia, a arquitetura dos ambientes é um meio de expressar os sentimentos, a ambiência desses espaços é dada pelo efeito moral que os objetos e afins induzem no comportamento (FRISO, 2016). Friso (2016 apud. VARTANIAN, 2003) descreve uma pesquisa a qual retrata 34 que ambientes decorados se ligavam diretamente às atividades de prazer do cérebro, interferindo notavelmente no emocional. Um método que aos poucos está se tornando conhecido no Brasil é o Método Montessori, este método foi criado pela médica e educadora Maria Montessori no ano de 1907, inicialmente criado para a educação nas escolas, mas que hoje em dia é aplicado em diversos ambientes utilizados por crianças. Este método consiste no dimensionamento reduzido dos espaços e mobiliários numa escala acessível para as crianças, fazendo com que a criança tenha liberdade para descobrir seus objetos, as formas e as cores, ensinando a fazerem suas próprias escolhas, desse modo desenvolvendo autonomia, além de estimular os sentidos e coordenação motora, respeitando a individualidade de cada um, assim como as suas necessidades e o seu tempo. Este método é realizado com a utilização de móveis baixos, objetos de diferentes formas e tamanhos, além da utilizando de texturas e cores (OLIVEIRA, 2009). Figura 6 - Exemplos de arquitetura Montessori Fonte: OGLOBO (2015); VEJA (2017); ONÇA (2017); ARCHDAILY 2015); 35 2.8 ESTRATÉGIAS SUSTENTÁVEIS O tema sustentabilidade na arquitetura de modo geral abrange temas sociais, econômicos e ambientais, desse modo desenvolvimento sustentável é aquele que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, 1987). Com base nisso, é primordial para este projeto ter localização adequada ao uso, captação da água da chuva, eficiência energética, utilização de materiais e recursos locais, qualidade ambiental interior, aperfeiçoamentode designs, entre outros. As casas devem ser espaços de tranquilidade e aconchego, onde as pessoas se sintam confortáveis nela, pensando nisso, serão adotadas estratégias sustentáveis. Além de orientar as crianças e adolescentes da importância de cuidar do meio ambiente como um todo, desde pequenas ações como separação do lixo e utilização da água da chuva, estas estratégias ainda irão ajudar na posterior redução de custos da casa, com o aproveitamento de luz natural, aplicação de placas solares, e também pelo consumo da água da chuva. Segundo o art.13 da Instrução Normativa nº 2 de 4 de junho de 2014 devem receber etiquetagens de eficiência energética edifícios públicos “construídos ou adaptados com recursos públicos federais’’, fazendo-se importante para garantir edificações mais eficazes, diminuindo a utilização de energia elétrica, melhorando o conforto térmico, e ainda instigando a utilização de novas técnicas que sejam mais eficientes para estas construções. Para isso o projeto a ser desenvolvido pretende explorar estes recursos através da otimização de incidência solar, proteção com brises, ventilação cruzada, placas solares, utilização da água da chuva, separação do lixo, utilização de materiais adequados a zona climática para melhor isolamento térmico, entre outros. 2.9 ESTUDOS DE CASO Para análise de estudos de caso foram selecionados quatro instituições de acolhimento, sendo três destas internacionais, e uma nacional, pois não foi encontrado nenhum projeto no Brasil para acolhimento de crianças e adolescentes com informações suficientes para análise, devido estes lugares geralmente estarem em casas alugadas ou que não foram projetadas para tal uso. Nos estudos de caso 36 selecionados serão analisados itens principais como a ficha técnica, o local onde está implantado, o programa de necessidades, a funcionalidade e forma. 2.9.1 Estudo De Caso 01: Centro de Bem-Estar para Crianças e Adolescentes em Paris Este estudo de caso é interessante de ser analisado pois demonstra como os arquitetos lidaram com o tema de abrigos infantis, sendo tratado de uma maneira bastante diferente do brasil, onde eles atendem a muitas crianças e adolescentes juntos, além do mais eles tratam como centro residencial de emergência. De forma a respeitar as necessidades individuais de cada idade, as crianças foram separadas por andares. Sendo desenvolvidos espaços com múltiplos usos e ambientes alegres, conta também com espaços de recreação, ainda apresentando boas soluções para as limitações do local, que serão mostradas a seguir. 2.9.1.1 Ficha técnica Arquitetos: Marjan Hessamfar & Joe Verons arquitetos associados Localização: Porte des Lilas, 75019 Paris, França Área construída: 5 211 m² Ano do projeto: 2013 Figura 7 - Estudo de Caso 01: Centro de Bem-Estar para crianças e adolescentes em Paris Fonte: ARCHDAILY (2014) 37 2.9.1.2 Implantação A edificação está inserida em um bairro altamente densificado, estando em frente a uma avenida, e próxima a centros comerciais, ginásios, a um circo, cinema, parques, entre outros pontos notáveis da cidade (Ver fig. 8). Se distribui de forma a ocupar grande parte do terreno e em camadas, por meio de diversas janelas em grande maioria dos ambientes propicia a entrada de luz natural, e de modo a manter visuais para várias direções do bairro. Mantém tipologia arquitetônica semelhante ao entorno e acompanha o mesmo gabarito de altura das edificações adjacentes (Ver fig. 9). Figura 8 - Implantação da edificação Legenda: Fonte: GOOGLEEARTH (2017) adaptado pela autora (2017). Sede Exército da Salvação Circo – Cirque Electrique Cinema – Étoile Lilas Étoile Lilas Abrigo de emergência para menores Clube de piscinas – Georges Vallerey Parque Square du Docteur-Variot 38 Figura 9 - Gabarito de altura Fonte: ARCHDAILY (2014) adaptada pela autora (2017). 2.9.1.3 Programa de Necessidades Por atender muitas crianças, este centro apresenta amplo programa de necessidades (Ver tabela 2), dispõe de seis pavimentos onde as crianças são distribuídas por faixa etária. Conta com áreas administrativas, de circulação, serviço, íntimo, social, lazer e recreação. Sendo o subsolo e térreo destinados para as áreas administrativas, serviço e social. E a partir dos andares acima é onde são acomodadas as crianças e adolescentes, sendo as crianças de 12 a 18 anos no nível 1, de 3 a 6 anos no nível 2, dos 6 aos 12 anos no nível 3, no nível 4 então funciona a creche atendendo aos bebês de 0 a 3 anos, e por último no nível 5 ficam três habitações (Ver fig. 10 até 16). Tabela 2 - Programa de necessidades Pavimento Seção Nome do compartimento Área útil em m² Subsolo Serviço 1.Cozinha ≃ 185,82 m² Serviço 2.Salas técnicas (três unidades) ≃ 243,00 m² Administrativo 3.Arquivo, armazenamento (seis unidades) ≃ 546,70 m² Administrativo 4.Sala de reuniões ≃ 47,90 m² Serviço 5.Biblioteca pessoal ≃ 180,94 m² Serviço 6.Oficina ≃ 91,30 m² Serviço 7.Lavanderia ≃ 192,35 m² Serviço 8.Sala de jantar da equipe ≃ 80,75 m² Serviço 9.Vestiários (duas unidades) ≃ 214,26 m² Térreo Social 1.Salão de recepção ≃ 176,55 m² Serviço 2.Recepção ≃ 41,25 m² Serviço 3.Equipe educacional de escritório ≃ 41,20 m² 39 Serviço 4.Sala de espera (duas unidades) ≃ 124,10 m² Serviço 5.Sala de visitas para pais e filhos ≃ 30,65 m² Serviço 6.Serviços sociais de escritório ≃ 30,00 m² Serviço 7.Médico, enfermaria ≃ 148,65 m² Administrativo 8.Sala de reunião ≃ 58,00 m² Administrativo 9.Escritórios de direção e administração ≃ 302,10 m² Administrativo 10.Escritórios responsáveis pelos serviços ≃ 286,90 m² Nível 1: 12 – 18 anos Íntimo 1.Unidade < sirocco > Íntimo 2.Unidade < alizé > Íntimo 3.Unidade < mistral > Íntimo 4.Quartos individuais ≃ 34,00m² cada Íntimo 5.Quartos adequados ≃ 40,00m² cada Serviço 6.Escritórios do educador ≃ 24,50m² cada Social 7.Salas de jantar ≃ 35,00m² cada Recreação 8.Salas de jogos ≃ 74,40m² cada Recreação 9.Sala de ginástica ≃ 76,60m² Recreação 10.Sala de aula ≃ 47,35m² Recreação 11.Mídia ≃ 73,70m² Serviço 12.Lavanderia ≃ 23,60m² Serviço 13.Escritório ≃ 25,40m² Nível 2: 3 – 6 anos Íntimo 1.Unidade < Kapla > Íntimo 2.Unidade < Duplo > Íntimo 3.Quartos de 1 a 3 camas ≃ 42,20m² cada Íntimo 4.Banheiro compartilhado ≃ 34,75m² cada Serviço 5.Escritório da equipe educacional ≃ 34,80 m² Social 6.Sala de jantar ≃ 50,00m² cada Recreação 7.Sala de jogos ≃ 64,20m² cada Recreação 8.Sala de leitura ≃ 43,70 m² Recreação 9.Sala de psicomotores ≃ 85,50m² Recreação 10.Parque infantil< 'Iile aux enfantsz> ≃ 102,45m² Serviço 11.Escritório ≃ 23,70 m² Lazer 12.Terraço Nível 3: 6 – 12 anos Íntimo 1.Unidade < Chamallow > Íntimo 2.Unidade < Dragibus > Íntimo 3.Quartos de 1 a 3 camas ≃ 56,00m² cada Íntimo 4.Banheiro das meninas ≃ 33,60m² cada Íntimo 5.Banheiro dos meninos ≃ 31,00m² cada Serviço 6.Escritório da equipe educacional ≃ 53,60 m² Social 7.Sala de jantar ≃ 50,00m² cada Recreação 8.Sala de jogos ≃ 84,60 m² Recreação 9.Sala de aula ≃ 48,10 m² Recreação 10.Mídia ≃ 53,20 m² Serviço 11.Escritório ≃ 27,50 m² Nível 4: 0 – 3 anos Íntimo 1.Unidade < Libellule> ≃ 171,50 m² Íntimo 2.Unidade < Lutins> ≃ 157,55 m² Íntimo 3.Unidade < Petit mousse > ≃ 160,05 m² Íntimo 4.Unidade <Boutchou > ≃ 155,90 m² Recreação 5.Parque infantil < Oasis > ≃ 112,70 m² Serviço 6.Escritório do educador ≃ 50,10 m² Serviço 7.Sala de Auscultação ≃ 37,60 m² Serviço 8.Escritório multiuso ≃ 29,70 m² Serviço 9.Sala de negócios ≃ 37,20 m² Íntimo 10.Carrinho de passeio local ≃ 17,80 m² Íntimo 11.Alimentação do bebê ≃ 12,90 m² Serviço 12.Escritório ≃ 24,45 m² Recreação 13.Terraço ≃ 389,50 m² 40 Nível 5 Íntimo 1.Função habitação (três unidades) ≃ 670,15m² Circulação
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