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Material de Apoio - Direito Empresarial - Luciana Aranalde

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DIREITO EMPRESARIAL 
PROF.ª LUCIANA ARANALDE 
 
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DIREITO EMPRESARIAL 
Prof. Luciana Aranalde 
 
SUMÁRIO 
01. PARTE GERAL .................................................................................................................................. 2 
02. CONTRATOS EMPRESARIAIS .................................................................................................. 19 
 
 
01. Parte geral 
1. DA CONSTITUIÇÃO SOCIAL E SEU REGISTRO 
1.1. ESPECIFICIDADES 
Constituída a sociedade pela formalização e assinatura do contrato social, 
devem os sócios proceder ao registro do ato constitutivo da sociedade no órgão 
competente (Cartório ou Junta, a depender do objeto social), para que ela 
adquira personalidade jurídica (art. 985 do Código Civil) e possa dar início às suas 
atividades (art. 967 do Código Civil). 
De acordo com o art. 998 do Código Civil, o prazo para a efetivação do 
registro do ato constitutivo da sociedade é de 30 (trinta) dias: “nos trinta dias 
subsequentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do 
contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede” (ver 
também art. 36 da Lei 8.934/1994). 
Complementando a regra acima transcrita, dispõem seus parágrafos: “o 
pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato, 
e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva 
procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade 
competente” (§ 1º); e “com todas as indicações enumeradas no artigo 
antecedente, será a inscrição tomada por termo no livro de registro próprio, e 
obedecerá a número de ordem contínua para todas as sociedades inscritas” (§ 2º). 
A constituição das sociedades empresárias, do tipo limitada, para o correto 
registro perante o Registro Público de Empresa, deve conter, 
 
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OBRIGATORIAMENTE o instrumento de contrato social, em três vias, assinado 
por todos os sócios ou seus procuradores. 
No caso do instrumento de constituição social que será levado a registro 
conter representação por procurador, é obrigatório exigir a respectiva 
procuração com poderes específicos para o ato, bem com a aprovação prévia do 
órgão governamental competente, quando for o caso. É, ainda preciso estar 
devidamente consignado no corpo do instrumento de constituição a declaração 
de desimpedimento do administrador ou em ato separado, se não constar em 
cláusula própria. 
PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA DE EMPRESA ESTRANGEIRA: deve ser 
anexado ao instrumento de constituição que será levado a registro a prova da 
existência legal da empresa e da legitimidade de sua representação. 
PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA DE EMPRESA PÚBLICA: sociedade de 
economia mista, autarquia ou fundação pública é necessário juntar ao 
instrumento de constituição social a edição da folha do Diário Oficial da União, 
do Estado ou do Município que contiver o ato de autorização legislativa; ou 
citação, no contrato social, da natureza, número e data do ato de autorização 
legislativa, bem como do nome, data e folha do jornal oficial em que foi publicada; 
fotocópia do documento de Identidade do Representante Legal; Ficha de 
Cadastro; comprovantes de pagamento dos emolumentos dos serviços: 
recolhimento federal; recolhimento estadual. 
ELEMENTOS: título; preâmbulo; corpo do contrato; cláusulas obrigatórias 
(Lei 8.934/1994); fecho. O instrumento contratual não poderá conter emendas, 
rasuras ou entrelinhas. 
 
Obrigatoriamente constará do preâmbulo do instrumento de constituição 
social a qualificação completa dos sócios, pessoas físicas ou jurídicas e ou de seus 
representantes. Caso qualquer dos sócios seja representado por procurador, 
deve vir no preâmbulo do instrumento a qualificação completa do mesmo. 
 
 
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O contrato social conterá: 
• o nome empresarial (poderá ser razão social ou denominação social - a razão 
social deve ser composta com sobrenome ou nome civil completo ou 
abreviada de, pelo menos, um dos sócios); 
• capital da sociedade; 
• a participação de cada sócio; 
• a forma e o prazo de sua integralização; 
• município da sede, com endereço completo, bem como o endereço das filiais 
– se houver; 
• declaração precisa e minuciosa do objeto social; 
• prazo de duração da sociedade; 
• data de encerramento do exercício social, quando não coincidente com o ano 
civil; 
• nomeação do administrador, devidamente qualificado. 
 
No final do instrumento contratual deverá constar o local e data; nomes 
dos sócios e respectivas assinaturas; nomes das testemunhas instrumentárias 
(duas, pelo menos) respectivas assinaturas, com o número do documento da 
identidade (RG) e órgão expedidor e o visto de advogado, sendo este último não 
determinado para as Microempresas (ME) e as Empresas de Pequeno Porte 
(EPP). 
PODEM SER SÓCIOS: desde que não haja empecilho legal, os 
absolutamente capazes e o menor emancipado. Os menores, desde que 
devidamente representados. 
NÃO PODEM SER SÓCIOS: os estrangeiros sem visto permanente. 
NOME EMPRESARIAL: obedecerá ao princípio da veracidade e da 
novidade, incorporando os dados específicos ou complementares exigidos ou 
não proibidos em lei (tanto na razão social como na denominação social deve 
haver a indicação do objeto social). 
 
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CAPITAL SOCIAL: as quotas serão correspondentes ao montante da 
contribuição de cada sócio. Poderão ser utilizados para integralização de capital 
quaisquer bens, desde que suscetíveis de avaliação em dinheiro. 
FILIAIS: é necessário que o instrumento de constituição para cada uma 
delas indique o respectivo município e endereço completo. 
 
2. DA ALTERAÇÃO CONTRATUAL 
 São os mesmos requisitos exigidos para o registro de instrumento de 
alteração contratual e para o instrumento de constituição social, principalmente, 
no que se refere ao preâmbulo e quanto ao seu corpo. 
Deve mencionar as alterações pretendidas e no caso de consolidação e 
inserir uma nova redação, conforme a alteração efetuada. 
REDUÇÃO DE CAPITAL: 
• devido a perdas irreparáveis, o instrumento de alteração contratual deverá 
ser firmado pelos sócios, onde se formalizará a redução, com a diminuição 
proporcional do valor nominal das quotas (artigos 1.082 e 1.083, CC/2002). 
• por ser considerado demasiado em relação ao objeto da sociedade, o 
instrumento de alteração contratual deverá ser formalizado com a 
indicação da redução com a devolução de parte do valor das quotas aos 
sócios, ou dispensando-os de prestações ainda devidas, com a redução 
proporcional também neste caso, do valor nominal das quotas. 
INSTRUMENTO DE ALTERAÇÃO: 
Em uma via original, podendo ser realizado por escritura pública ou 
particular, independentemente da forma de que se houver revestido o respectivo 
ato de constituição. Devem conter os seguintes elementos: título, preâmbulo e 
corpo da alteração (nova redação das cláusulas alteradas, expressando as 
modificações introduzidas, redação das cláusulas incluídas, indicação das 
cláusulas suprimidas; fecho. 
 
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• Quando o instrumento de alteração for requerido por deliberação 
majoritária, deverá constar do preâmbulo apenas o nome dos sócios que 
dela fazem parte e que a deliberação se faz por maioria do capital, 
• O instrumento de alteração pode conter a hipótese da sociedade adquirir 
quotas de sócio quando houver quotas liberadas, ou seja, integralizadas, 
desde que o faça com fundos disponíveis e sem ofensa ao capital, por 
acordo dos sócios; e quotas não liberadas de sócio remisso excluído, desde 
que o faça com fundos disponíveis e sem ofensa ao capital. 
• As alterações contratuais, quando registradas por instrumento particular, 
serão assinadas por todos os sócios e por duas testemunhas, salvo na 
hipótese de determinação majoritária. 
• Em hipótese alguma os registros de instrumentos de alterações sociais 
representam a constituição de nova sociedade.3. DA NATUREZA JURÍDICA DO CAPITAL SOCIAL 
 O conceito de capital social está intrinsecamente ligado à estrutura do 
contrato social. Estabelece-se, a partir da constituição de um patrimônio 
separado para a criação de uma sociedade, via de regra, para conciliar a limitação 
da responsabilidade dos sócios, com a garantia dos credores. 
Em outras palavras, a sociedade, para dar início à sua atividade econômica, 
necessita evidentemente de recursos, isto é, de meios indispensáveis ao 
desenvolvimento da empresa abrangida no objeto social. Cabe aos sócios prover 
tais recursos. Fazem-no transferindo, do seu patrimônio ao da pessoa jurídica. 
O capital social é a medida da contribuição dos sócios para a sociedade e 
serve como referência à sua força econômica. 
Capital social subscrito: mensuração do montante prometido pelos sócios para 
a sociedade a título de capitalização. 
Capital social integralizado: recursos já transferidos para o patrimônio social. 
Uma das principais funções do capital social é a de mensurar a contribuição dos 
sócios, de modo a funcionar como um fundo de garantia dos credores – e 
 
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assenta-se na ideia da limitação da responsabilidade dos sócios. Tem a ver com 
a constituição de um patrimônio separado ou autônomo, que passará a suportar, 
com exclusividade, a eventual ação dos credores, nos limites de sua constituição, 
para preservar sua integridade. 
 
 
Princípios do regime legal do capital social: 
• unidade: toda sociedade deve ter um único capital social; 
• fixidez: o capital social somente pode ser modificado nos casos previstos 
em lei e de acordo com as normas legais; 
• irrevogabilidade: os sócios não podem ser dispensados da obrigação de 
realizar as entradas que se obrigaram perante a sociedade; 
• realidade: a cifra do capital deve corresponder ao valor real das entradas 
feitas pelos sócios; 
• intangibilidade: os sócios não podem “beliscar” o capital social, ou seja, não 
podem tocar neste fundo permanente enquanto a sociedade continua 
operando e os credores não foram integralmente satisfeitos. 
 
3.1. DO ENTENDIMENTO DA JUNTA COMERCIAL: 
O art. 53, inciso III, alínea “c”, da Lei 8.934/1994 é claro e não admite 
concessões, quando proíbe o arquivamento dos atos constitutivos se deles não 
constar o capital da sociedade, a forma e o prazo de sua integralização. 
No mesmo sentido os artigos. 1.054 c/c o art. 997, incisos III e IV do CC: 
“Art. 1.054. O contrato mencionará, no que couber, as indicações do 
art. 997, e, se for o caso, a firma social.” 
“Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
(...) 
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo 
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação 
pecuniária; IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de 
realizá-la”. 
 
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Entre as orientações das Juntas Comercial, insertas nas Instruções 
Normativas do DREI, constam a necessidade de indicação numérica e por 
extenso do total do capital social; bem como a necessidade de mencionar o valor 
nominal de cada quota, que pode ter valor desigual. 
Há de se mencionar o total de quota(s) de cada sócio e declarar a forma e 
o prazo de integralização do capital – se houver sócio menor, o capital deverá 
estar totalmente integralizado. 
No caso de se tratar de integralização com bem imóvel, obrigatoriamente, 
haverá a descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos a sua 
titulação, número de matrícula no Registro de Imóveis e autorização do cônjuge 
no instrumento contratual com a referência pertinente, salvo se o regime de 
bens for o de separação absoluta. 
O legislador concedeu liberdade os sócios de escolherem a maneira de 
integralizar o capital social, tornou, porém, obrigatória cláusula contratual 
dispondo sobre o prazo e a forma de sua integralização (dinheiro ou bens 
suscetíveis de avaliação em dinheiro). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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* Para todos verem: esquema sobre registro e elementos do contrato social. 
 
 
1. PERSONALIDADE E PESSOAS JURÍDICAS 
1.1. PERSONALIDADE JURÍDICA 
A personalidade jurídica é o que confere à pessoa jurídica a aptidão de 
adquirir direitos, bem como contrair obrigações. Assim, não é pura e 
simplesmente, a condição de sujeito de direito que caracteriza a personalidade, 
mas a aptidão genérica para tanto, até porque, os entes despersonalizados 
 
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também são sujeitos de direitos capazes de praticar atos jurídicos, ainda que de 
forma limitada, como é o caso da Massa Falida e do Espólio. 
1.2. PESSOAS JURÍDICAS 
As pessoas jurídicas se dividem em dois grupos, de direito público (interno 
ou externo) e de direito privado (estatais ou particulares), que possuem 
regulamentação nos art. 40, art. 41, art. 42 e art. 43, todos do Código Civil: 
* Para todos verem: tabela abaixo. 
PESSOAS JURÍDICAS 
DE DIREITO PÚBLICO 
INTERNO: 
PESSOAS JURÍDICAS 
DE DIRIEITO PÚBLICO 
EXTERNO: 
PESSOAS JURÍDICAS 
DE DIREITO 
PRIVADO: 
União; 
Estados, DF e Territórios; 
Municípios; 
Autarquias, inclusive as 
associações públicas; 
Demais entidades de 
caráter público criadas 
por lei. 
Estados estrangeiros; 
Todas as pessoas 
regidas pelo Dir. Int. 
Público. 
 
Associações; 
Sociedades; 
Fundações; 
Organizações 
Religiosas; 
Partidos Públicos 
EIRELI 
 
 
 
Lembre-se que as pessoas jurídicas de direito público estão submetidas a 
regime distinto das pessoas jurídicas de direito privado, na medida em que têm 
suas regras sujeitas ao direito administrativo, submetendo-se ao princípio da 
estrita legalidade. 
Quanto às pessoas jurídicas de direito privado é importante saber que não 
se limitam àquelas previstas no art. 44, do Código Civil, podendo existir outras, 
tais como, os sindicatos, as confederações, as federações, dentre outras. 
 
2. AUTONOMIA PATRIMONIAL DA PESSOAS JURÍDICA 
Assim prevê o art. 1.024 do Código Civil: Os bens particulares dos sócios 
não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de 
executados os bens sociais. 
 
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Isso se dá em virtude da autonomia patrimonial das sociedades, a qual 
determina que a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais será 
subsidiária, podendo também ser limitada a depender do tipo societário. 
Essa concepção tornou-se ainda mais forte a partir da edição da Lei da 
Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019) a partir da inclusão do art. 49-A ao 
Código Civil. O referido artigo em seu caput não deixa qualquer margem de 
dúvidas: 
A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, 
instituidores ou administradores”. 
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é 
um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, 
estabelecido pela lei com a finalidade de estimular 
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e 
inovação em benefício de todos”. 
 
2.1. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS SÓCIOS 
A regra geral, portanto, é que os bens da sociedade que responderão pelas 
dívidas sociais enquanto a empresa ainda os possuir. Isso é que garante aos 
sócios o chamado benefício de ordem. 
No caso de a empresa não possuir bens, deve-se atentar para o tipo de 
responsabilidade dos sócios, se limitada: seus bens particulares poderão ser 
executados, se ilimitada; seus bens particulares não poderão, a princípio, ser 
executados. 
Exemplos: 
• Sociedade em nome coletivo: responsabilidade ilimitada; 
• Sociedade anônima: responsabilidade limitada. 
 
3. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
A desconsideração da personalidade jurídica surge para solidificar o 
instituto do princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, a fim de evitar 
que haja fraude ou abuso de direito. Ou seja, ela é um reforço indireto para que 
 
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sócios e administradores atuemvisando ao bem comum da sociedade 
empresária, preservando-a e mantendo a sua função social, coibindo 
manipulação da pessoa jurídica com o fim de fraudar credores. 
Assim, se utilizada para fazer valer fraude em detrimento de terceiros, 
considerar-se-á ineficaz a personificação com relação aos atos praticados de 
forma abusiva ou fraudulenta, podendo atingir os bens particulares dos sócios 
envolvidos na administração da sociedade. 
O Código de Defesa do Consumidor foi a primeira norma a prever a 
possibilidade de desconsiderar a personalidade jurídica; neste caso a aplicação 
se dá quando há abuso em detrimento do consumidor, excesso de poder, 
infração da lei, fato ou ato ilícito, violação dos estatutos ou do contrato social, ou 
ainda, quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou 
inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração (art. 28). A teoria 
presente no CDC é chamada de “teoria menor”, sendo a “teoria maior” aquela 
presente no Código Civil (art. 50). 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado 
pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, 
a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe 
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de 
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos 
bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa 
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação 
dada pela Lei nº 13.874, de 2019) 
3.1. TEORIA MAIOR VERSUS TEORIA MENOR 
A desconsideração da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, 
conforme já vimos, é medida extrema, coibindo a fraude ou o abuso de direito de 
uma forma mais simples e objetiva, pois incluídos nos dois institutos citados, a 
confusão patrimonial, permitindo que no caso em concreto, respeitado o devido 
processo legal, o credor alcance os bens particulares dos sócios e 
administradores. O referido instituto reforça a autonomia patrimonial da pessoa 
 
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jurídica e a preservação da empresa, não devendo ser utilizada tão somente 
porque a pessoa jurídica não tem mais bens para satisfazer aos seus credores. 
Existem duas teorias aplicadas quando da desconsideração da 
personalidade jurídica: a “teoria menor” e a “teoria maior”. 
A teoria menor é aplicada quando nos casos que envolvam relação de 
consumo (art. 28, do CDC), condutas lesivas ao meio ambiente (art. 4º da Lei 
9.605/98) ou ainda, quando se tratar de infração da ordem econômica (art. 34 da 
Lei 12.529/11). Já a teoria maior é considerada aquela prevista no art. 50, do CC. 
Para o STF “a teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso 
ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito 
Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o 
pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de 
finalidade ou de confusão patrimonial” STJ – 3a Turma – REsp 279273/SP, Rel. 
Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi, 3a T., julgado 
em 4‐12‐2003, DJ 29‐3‐2004, p. 230. No mesmo sentido: STJ – REsp 1735004/SP, 
Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 26‐06‐2018, DJe 29‐06‐
2018. 
Sobre a distinção entre o art. 50 do Código Civil e as demais regras legais 
que tratam da desconsideração da personalidade jurídica, o enunciado 9 das 
Jornadas de Direito Comercial do CJF diz o seguinte: “quando aplicado às 
relações jurídicas empresariais, o art. 50 do Código Civil não pode ser interpretado 
analogamente ao art. 28, § 5º, do CDC ou ao art. 2º, § 2º, da CLT”. 
 
3.2. DESVIO DE PERSONALIDADE E CONFUSÃO PATRIMONIAL 
DESVIO DE FINALIDADE: 
Art. 50, § 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade 
é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores 
e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. 
No abuso por desvio de finalidade a personificação existe para um fim 
ilícito, como acontece quando a atividade da pessoa jurídica é em si lícita, mas 
 
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seria ilícita se exercida pelo sócio, ou seja, a pessoa jurídica é usada para encobrir 
a ilicitude da ação dos sócios. 
Art. 50, § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou 
a alteração da finalidade original da atividade econômica específica 
da pessoa jurídica. 
CONFUSÃO PATRIMONIAL: 
Art. 50, § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de 
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: 
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio 
ou do administrador ou vice-versa; 
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas 
contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente 
insignificante; e 
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. 
O pagamento de obrigações do sócio pela pessoa jurídica ou vice-versa é 
um exemplo clássico caracterizado como hipótese de confusão patrimonial, 
contudo, verifica-se que o dispositivo exige expressamente que se trate de um 
cumprimento repetitivo, ou seja se trata de uma obrigação isolada. 
A transferência de ativos ou passivos realizada sem a devida justificativa 
econômica pode ser caracterizada quando os sócios ou administradores utilizam 
o patrimônio da pessoa jurídica e vice-versa. Empréstimos entre a pessoa jurídica 
e o sócio, por exemplo, embora comuns, precisam obedecer às condições 
normais de mercado, sob pena de representarem um mecanismo de mistura dos 
patrimônios. 
 
4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E SEUS EFEITOS 
A desconsideração da personalidade jurídica tem os seus efeitos ligados 
ao caso concreto em que foi requerida, ou seja, continua a existir normalmente e 
a ter os efeitos da sua personalização respeitados em todas as demais relações 
jurídicas em que figurar. 
 
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Nesse sentido, inclusive, já decidiu o STJ que “a desconsideração não 
importa em dissolução da pessoa jurídica, mas se constitui apenas em um ato de 
efeito provisório, decretado para determinado caso concreto e objetivo, 
dispondo, ainda, os sócios incluídos no polo passivo da demanda, de meios 
processuais para impugná-la” (REsp 1.169.175). 
A aplicação da teoria da desconsideração atinge, tão somente, aqueles 
sócios que se beneficiaram do uso abusivo da pessoa jurídica, logo, não significa 
que atingirá todos os sócios e/ou administradores da sociedade, indistintamente. 
Essa interpretação ganhou reforço após a edição da Lei 13.874/2019 (Lei da 
Liberdade Econômica), que alterou a redação do caput do art. 50 do Código Civil 
para deixar claro que a desconsideração da personalidade jurídica só pode atingir 
os administradores ou sócios “beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”. 
 
5. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
Conforme já vimos, a teoria da desconsideração é aplicada com a 
finalidade de permitir a execução de bens particulares dos sócios e/ou 
administradores por dívidas da sociedade. O caminho inverso também pode ser 
feito: desconsiderar a pessoa jurídica para executar bens sociais por dívidas 
pessoais de um de seus sócios. 
A desconsideração inversa consiste na aplicação dos fundamentos da 
disregard doctrine para permitir que a pessoa jurídica responda por obrigações 
pessoais de um ou mais sócios. 
Nesse sentido já decidiu o STJ: “considerando-se que a finalidade da 
disregard doctrine é combater a utilização indevida do ente societário por seus 
sócios, o que pode ocorrer também nos casos em que o sócio controlador esvazia 
o seu patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se, de uma 
interpretação teleológica do art. 50 do CC/2002, ser possível a desconsideração 
inversa da personalidade jurídica, de modo a atingir bens da sociedade em razão 
de dívidas contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os 
requisitos previstos na norma” (REsp 948.117). 
 
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A aplicação da desconsideração inversaé bem comum em questões que 
envolvam direito de família, quando se constata, por exemplo, que um dos 
cônjuges, cria uma pessoa jurídica com o objetivo de ocular se patrimônio, os 
afastando da partilha ou frustrando a cobrança de pensão alimentícia. 
Ainda sobre o assunto, confira-se o enunciado 283 das Jornadas de Direito 
Civil do CJF: “é cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada 
‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar 
ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”. 
Neste aspecto, vale destacar que desde a edição da Lei 13.874/2019 (Lei da 
Liberdade Econômica), a desconsideração inversa está expressamente 
autorizada pelo Código Civil no §3º do art. 50. 
 
6. DESCONSIDERAÇÃO E DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA SOCIEDADE 
E comum ocorrer no Brasil, a chamada “dissolução irregular” da empresa, 
isto é, o encerramento das atividades sem a devida baixa na Junta Comercial. 
De acordo com o Súmula 435 do STJ, “presume-se dissolvida 
irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem 
comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da 
execução fiscal para o sócio-gerente”. 
No entanto, esse entendimento restringe-se à execução fiscal. As Turmas 
de direito privado do STJ (3ª e 4ª Turmas, que compõem a 2ª Seção) entendem 
que a mera dissolução irregular da empresa não é motivo suficiente para 
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica. 
“A desconsideração da personalidade jurídica de sociedade empresária 
com base no art. 50 do Código Civil exige, na esteira da jurisprudência desta Corte 
Superior, o reconhecimento de abuso da personalidade jurídica. O encerramento 
irregular da atividade não é suficiente, por si só, para o redirecionamento da 
execução contra os sócios. Limitação da Súmula 435/STJ ao âmbito da execução 
fiscal. Precedentes específicos do STJ” (AgRg no REsp 1.386.576). 
 
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“A mera circunstância de a empresa devedora ter encerrado suas 
atividades sem baixa na Junta Comercial, se não evidenciado dano decorrente 
de violação ao contrato social da empresa, fraude, ilegalidade, confusão 
patrimonial ou desvio de finalidade da sociedade empresarial, não autoriza a 
desconsideração de sua personalidade para atingir bens pessoais de herdeiro de 
sócio falecido. Inaplicabilidade da Súmula 435/STJ, que trata de 
redirecionamento de execução fiscal ao sócio-gerente de empresa 
irregularmente dissolvida, à luz de preceitos do Código Tributário Nacional” 
(AgRg no AREsp 251.800). 
 
7. PRAZO PARA REQUERIMENTO DA DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURÍDICA 
Assim prevê o art. 1.032 do CC: “a retirada, exclusão ou morte do sócio, não 
o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais 
anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois 
primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a 
averbação”. 
Baseado referido dispositivo, há quem alegue que a desconsideração da 
personalidade jurídica não poderia, por exemplo, atingir um sócio que já se 
retirou da sociedade há mais de dois anos. No entanto, o STJ já decidiu que a 
regra do art. 1.032 do CC não tem aplicação quando se trata de desconsideração 
da personalidade jurídica, conforme segue: 
“Descabe, por ampliação ou analogia, sem qualquer previsão legal, trazer 
para a desconsideração da personalidade jurídica os prazos prescricionais 
previstos para os casos de retirada de sócio da sociedade (arts. 1.003, 1.032 e 1.057 
do Código Civil), uma vez que institutos diversos (REsp 1.312.591). 
“O artigo 1.032 do Código Civil de 2002 trata da ultratividade da 
responsabilidade do sócio tem pelas obrigações da sociedade em situações 
ordinárias. Na hipótese não se cuida de uma responsabilidade ordinária, mas de 
responsabilidade extraordinária, fundada na existência de abuso de direito, tanto 
 
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assim que aplicada a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, razão 
por que o referido dispositivo não tem incidência” (REsp 1.269.897). 
 
 LEMBRE-SE! 
A desconsideração da personalidade jurídica NÃO SE CONFUNDE com a 
despersonalização da pessoa jurídica, esta atinge a validade do ato constitutivo, 
ao passo que a desconsideração objetiva atingir o patrimônio dos sócios, 
tratando-se de um ato momentâneo. 
 
 * Para todos verem: esquema sobre teoria menor, teoria maior e desconsideração da personalidade jurídica. 
Desconsideração da Pessoa Jurídica 
Autonomia da Pessoa Jurídica: os bens dos sócios e/ou administradores não se 
confundem com os bens da pessoa jurídica. 
 
19 
 
 
 
02. DIREITO SOCIETÁRIO 
 
 
1. SOCIEDADE SIMPLES 
As sociedades simples além de se constituírem no tipo pertinente a 
atividades societária intelectual, também têm suas normas consideradas uma 
espécie de parte geral do direito societário, pois suas regras têm aplicação 
subsidiária à maioria das sociedades empresárias contratuais. As sociedades 
cooperativas são consideradas sociedades simples, conforme dispõe o parágrafo 
único do art. 982, do CC: “Salvo as exceções expressas, considera-se empresária 
a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário 
sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. 
Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por 
ações; e, simples, a cooperativa.” 
 
20 
 
As sociedades simples estão reguladas nos artigos 997 a 1038, do Código 
Civil e conforme artigo 997 são constituídas por meio de contrato. 
 
1.1. QUALIFICAÇÃO DOS SÓCIOS 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos 
sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, 
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; 
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; 
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo 
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação 
pecuniária; 
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; 
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista 
em serviços; 
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, 
e seus poderes e atribuições; 
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; 
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas 
obrigações sociais. 
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto 
separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato. 
 
1.2. CONTRATO SOCIAL 
1.2.1. QUALIFICAÇÃO DOS SÓCIOS 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos 
sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, 
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; 
* Para todos verem: tabela abaixo. 
 
21 
 
Sócios pessoas naturais: Sócios pessoas jurídicas: 
- Incapazes 
- Impedidos 
- Pessoas casadas 
- Holding 
 
 
1.2.2 QUALIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; 
* Para todos verem: tabela abaixo. 
Nome empresarial: Objeto social: 
- Firma 
(enunciado 213 das Jornadas de Direito Civil) 
- Denominação 
Profissão intelectual / 
atividade rural 
 
1.3. CAPITAL SOCIAL 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
(...) III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo 
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliaçãopecuniária; 
Capital social é o montante correspondente à participação dos sócios 
na sociedade, decorrente de aportes dos sócios, consistentes na 
transferência de dinheiro, bens ou créditos para a sociedade. 
 
IMPORTANTE! 
- Capital social = patrimônio inicial. 
- Patrimônio líquido » capital social » distribuir/reservar lucros. 
 
Art. 1.059. Os sócios serão obrigados à reposição dos lucros e das 
quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo 
 
22 
 
contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com 
prejuízo do capital. 
 
O capital funciona como uma garantia dos credores, bem como é o que 
viabiliza a realização do objeto social e define as relações de poder dos sócios no 
controle da sociedade, da mesma forma que define a responsabilidade de cada 
sócio. 
Quanto ao valor do capital social o debate sobre a necessidade ou não de 
haver um capital social mínimo para constituição de uma determinada 
sociedade é antigo, havendo ordenamentos jurídicos que fazem essa exigência. 
Existem diversos fundamentos acerca da exigência de um capital mínimo, como 
por exemplo: cumprimento das funções de garantia e produtividade. No Brasil, 
com exceção da EIRELI, não se exige capital social mínimo para a constituição de 
sociedades. 
A exigência de adequação do capital social ao objeto social pode ser 
extraída de uma interpretação dos arts. 173 da Lei 6.404/1976 (“a assembleia geral 
poderá deliberar a redução do capital social se houver perda, até o montante dos 
prejuízos acumulados, ou se julgá-lo excessivo”) e 1.082, II, do CC (“pode a 
sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato: 
(...) II – se excessivo em relação ao objeto da sociedade” (princípio da 
congruência). 
• Subcapitalização formal: a sociedade possui um capital próprio ínfimo em 
relação à atividade que desenvolve, porque obtém recursos de terceiros 
(financiamentos, por exemplo). 
• Subcapitalização substancial: há uma clara desproporção entre o volume de 
negócios de uma empresa e o seu capital social, sem que existam outras fontes 
de recursos para compensar. 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
1.3.1. SUBSCRIÇÃO DO CAPITAL 
No direito brasileiro, exige-se a subscrição total do capital social no 
momento da constituição da sociedade, contudo, a integralização pode ser 
futura. 
O ato de subscrição representa o comprometimento dos sócios a 
contribuir para a formação do capital social, e é com base nele, em tese, que se 
estabelecem as respectivas participações societárias. 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
(...) IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-
la; V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição 
consista em serviços; 
A integralização consiste na efetiva contribuição dos sócios para a 
formação do capital social, podendo ser feita de diversas formas: com bens – 
móveis ou imóveis, materiais ou imateriais –, dinheiro ou créditos. Na sociedade 
simples, admite-se até a contribuição em serviços (enunciado 206 das Jornadas 
de Direito Civil: “a contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços 
é permitida nas sociedades cooperativas – art. 1.094, I – e nas sociedades simples 
propriamente ditas – art. 983, 2.ª parte”). 
Se o sócio integralizar sua quota com transferência de bens, estes devem 
ser suscetíveis de avaliação pecuniária, além de o sócio responder pela evicção, 
isto é, caso a sociedade perca esse bem posteriormente em razão de ele ser de 
outrem (art. 1005, CC), o sócio que o havia transferido terá que pagar a ela o seu 
valor. Já se integralizar sua quota com a transferência de créditos de sua 
titularidade, responderá pela solvência do devedor, ou seja, caso os créditos 
cedidos não sejam pagos pelos seus devedores, o sócio que os cedeu terá que 
pagá-los (art. 1006, CC). 
 
 
 
 
24 
 
1.4. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE SIMPLES 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
(...) 
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, 
e seus poderes e atribuições; 
Verifica-se que as sociedade simples (e isso vale também para as demais 
sociedades contratuais), não podem ser administradas por pessoa jurídica, já que 
o dispositivo usa a expressão pessoas naturais para se referir aos administradores. 
Também não podem administrar a sociedade as pessoas mencionadas no 
art. 1.011, § 1º do Código Civil: “não podem ser administradores, além das pessoas 
impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que 
temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de 
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia 
popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da 
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, 
enquanto perdurarem os efeitos da condenação”. 
Caso o contrato social não designe expressamente seus administradores, 
aplica-se o art. 1.013 do Código Civil: “a administração da sociedade, nada 
dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”. 
Dispõem seus parágrafos: §1º: “se a administração competir separadamente a 
vários administradores, cada um pode impugnar operação pretendida por 
outro, cabendo a decisão aos sócios, por maioria de votos”; §2º. “responde por 
perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operações, 
sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria”. E, 
ainda, o art. 1.014 do Código Civil que prevê que “nos atos de competência 
conjunta de vários administradores, torna-se necessário o concurso de todos, 
salvo nos casos urgentes, em que a omissão ou retardo das providências possa 
ocasionar dano irreparável ou grave”. 
 
25 
 
Nada impede que os sócios, embora não tenham designado o 
administrador no próprio contrato social, façam-no em ato separado 
posteriormente. Nesse caso, deve-se atentar apenas para a imprescindibilidade 
de averbação do ato no órgão de registro da sociedade, em obediência ao art. 
1.012 do Código Civil: “o administrador, nomeado por instrumento em separado, 
deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, 
antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a 
sociedade”. 
A diferença entre o administrador nomeado no contrato social e o 
administrador nomeado em ato separado está no fato de que os poderes 
daquele, caso seja sócio, são, em tese, irrevogáveis, salvo por decisão judicial que 
reconheça a ocorrência de justa causa para a revogação. Já os poderes de 
administrador, não sócio ou de administrador designado em ato separado, ainda 
que sócio, são revogáveis a qualquer tempo pela vontade dos demais, conforme 
prevê o art. 1.019 do Código Civil: “são irrevogáveis os poderes do sócio investido 
na administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa, 
reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios. Parágrafo único. 
São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato 
separado, ou a quem não seja sócio”. 
Nota-se que sócio administrador contratualmente nomeado, possui uma 
espécie de estabilidade, podendo representar aos demais sócios um grave 
comprometimento de seus interesses. Para afastar essa estabilidade, a 
nomeação dos administradores pode ser processada por ato separado. Esse 
termo, para efeito de eficácia externa, deverá ser averbado à margem da 
inscrição da sociedade. Importa mencionar que, ainda que nomeado 
administrador no próprio contrato, o não sócio não está protegido contra a 
destituição 
A atividade do administrador é personalíssima, não podendo outrem 
exercer suas funções; o máximo permitido é adelegação de certas atividades a 
mandatários, nos termos do art. 1.018 do Código Civil: “ao administrador é vedado 
 
26 
 
fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe facultado, nos limites 
de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no 
instrumento os atos e operações que poderão praticar”. 
 
TEORIA ORGÂNICA 
Prevê o art. 1.022, do CC que “a sociedade adquire direitos, assume obrigações e 
procede judicialmente por meio de administradores com poderes especiais, ou, não os 
havendo, por intermédio de qualquer administrador.” 
Os administradores são os representantes legais da sociedade. De acordo com a 
teoria orgânica, o administrador não é tecnicamente representante, mas presentante 
(órgão integrante da própria sociedade, que externa a sua vontade, ou seja, torna-a 
presente). Não obstante, o art. 1.011, § 2º, do Código Civil dispõe que “aplicam-se à 
atividade dos administradores, no que couber, as disposições concernentes ao 
mandato”. 
 
 
1.4.1. DEVER DE DILIGÊNCIA DOS ADMINISTRADORES 
O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o 
cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na 
administração de seus próprios negócios (art. 1.011, CC - art. 153 da Lei 6.404/1976). 
Entende-se que esse dever de diligência será atendido sempre que o 
administrador atuar em conformidade com os padrões de gestão fixados pela 
ciência da administração de empresas. Para tanto, deve-se verificar se sua 
atuação foi (i) independente, (ii) desinteressada, (iii) informada e (iv) no interesse 
da companhia (business judgement rule). 
 
1.4.2. LIMITAÇÃO DE PODERES DOS ADMINISTRADORES 
Se houver lacuna no contrato social acerca dos poderes e atribuições dos 
seus administradores, entende-se que estes podem praticar todos e quaisquer 
atos pertinentes à gestão da sociedade, salvo oneração ou alienação de bens 
imóveis, o que só poderão fazer se tais atos constituírem o próprio objeto social. 
 
27 
 
É o que dispõe o art. 1.015 do Código Civil: 
“no silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos 
os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto 
social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a 
maioria dos sócios decidir”. 
Caso o contrato social estabeleça expressamente os poderes e atribuições 
dos administradores, é preciso analisar que efeitos para a sociedade produzirão 
os atos de gestão que extrapolarem os limites estabelecidos. 
O art. 1.015, parágrafo único do Código Civil, porém, afirma o seguinte: 
“o excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto 
a terceiro se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: I – se 
a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro 
próprio da sociedade; II – provando-se que era conhecida do 
terceiro; III – tratando-se de operação evidentemente estranha aos 
negócios da sociedade”. 
 
TEORIA DOS ATOS ULTRA VIRES 
A regra do art. 1.015, parágrafo único do Código Civil consagra a aplicação da teoria 
dos atos ultra vires, segundo a qual a sociedade não deve responder pelos atos com 
excesso de poderes praticados pelos seus administradores. 
Nesse sentido, confira-se o enunciado 219 das Jornadas de Direito Civil: “a) o ato 
ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade; b) sem embargo, a 
sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; c) o Código Civil 
amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos 
administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais 
não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade (...)”. 
De acordo com o enunciado 11 das Jornadas de Direito Comercial, “a regra do art. 
1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do 
primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do tráfego negocial. As 
sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé”. 
No mesmo sentido desse enunciado, o STJ já decidiu que a boa-fé do credor da 
sociedade deve ser protegida, aplicando-se a teoria da aparência, especialmente 
 
28 
 
quando o ato ultra vires do administrador acarretou proveito aos demais sócios (REsp 
704.546/DF). 
Nos casos em que o administrador agir com culpa no desempenho de suas 
atribuições, seja praticando ato regular de gestão ou ato com excesso de poderes, ele 
responderá tanto perante terceiros quanto perante a sociedade, nos termos do art. 1.016 
do Código Civil: “os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e 
os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções”. 
 
 
1.5. DISTRIBUIÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS 
Da mesma forma que todos os sócios devem contribuir para a formação do 
capital social, é também requisito especial de validade do contrato social a 
garantia de que todos eles participem dos resultados sociais (lucros ou prejuízos), 
cabendo-lhes disciplinar a matéria no ato constitutivo. 
Art. 1.027, CC: “Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge do que se 
separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na 
quota social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se liquide a 
sociedade.” 
 
1.5.1. PARTICIPAÇÃO PROPORCIONAL X PARTICIPAÇÃO DESPROPORCIONAL 
O sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas 
quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa 
dos lucros na proporção da média do valor das quotas, salvo de os sócios 
dispuserem em contrário (art. 1007, CC). Portanto, em tese, a participação dos 
sócios é proporcional às suas respectivas quotas, porém o contrato social pode 
dispor de forma diversa, determinando uma participação desproporcional. 
 
1.5.2. CLÁUSULA LEONINA 
Conforme art. 1.008 do CC “é nula a estipulação contratual que exclua 
qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas”, depreende-se, portanto, 
que é vedada chamada “cláusula leonina”. 
 
29 
 
Outrossim, a distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta 
responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que 
os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade (Art. 1.009, 
CC). 
1.6. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS 
Conforme já vimos, a pessoa jurídica não se confunde com seus sócios, 
administradores, associados, instituidores (art. 49-A, do CC). 
Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, 
associados, instituidores ou administradores. 
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é 
um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, 
estabelecido pela lei com a finalidade de estimular 
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e 
inovação em benefício de todos. 
 
1.6.1. RESPONSABILIDADES SUBSIDIÁRIA DOS SÓCIOS 
A responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, seja qual for o tipo 
societário, é sempre subsidiária em relação à sociedade, nos termos do art. 1.024 
do Código Civil: “os bens particulares dos sócios não podem ser executados por 
dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”. Desta forma, 
enquanto a sociedade possuir bens, são esses bens que devem responder por 
suas dívidas, garantindo-se aos sócios o benefício de ordem. 
Não havendo mais bens sociais a serem executados, a responsabilidade 
dos sócios pelas dívidas sociais remanescentes será determinada pelo tipo 
societário escolhido: na sociedade em nome coletivo, todos responderão de 
forma ilimitada e solidária (art. 1.039 do Código Civil); na sociedade em comandita 
simples, apenas os comanditados responderão de forma ilimitada e solidária (art. 
1.045 do Código Civil); e na sociedade limitada, nenhum sócio responderá, salvo 
se o capital não estiver integralizado, caso em que todos responderão 
solidariamente pelo que faltar a integralizar (art.1.052 do Código Civil). 
 
30 
 
Em se tratando de sociedade simples “pura”, a responsabilidade, em 
princípio, é ilimitada, mas não solidária, conforme previsão do art. 1.023 do Código 
Civil: “se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios 
pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de 
responsabilidade solidária”. 
Destaque-se, porém, que a parte final do dispositivo legal em questão 
ressalva a possibilidade de pactuação de cláusula de responsabilidade solidária, 
tornando a responsabilidade dos sócios da sociedade simples “pura”, nesse caso, 
igual a dos sócios de uma sociedade em nome coletivo. 
Essa cláusula de responsabilidade solidária é a prevista no art. 997, inciso 
VIII do Código Civil, que estabelece a possibilidade de o contrato social prever “se 
os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais”. 
 
1. 6.2. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS NA SOCIEDADE SIMPLES 
No caso de omissão no contrato da sociedade simples propriamente dita 
contrato, valerão as regras gerais dos arts. 1.023 e 1.024 do Código Civil, ou seja, a 
responsabilidade dos sócios será subsidiária em relação à sociedade (art. 1.024), 
mas ilimitada e proporcional entre eles (art. 1.023, primeira parte). Porém, se 
pactuado expressamente, a responsabilidade dos sócios será subsidiária em 
relação à sociedade (art. 1.024), mas ilimitada e solidária entre eles (art. 1.023, parte 
final). 
Ainda sobre a responsabilidade dos sócios da sociedade simples, o 
enunciado 10 das Jornadas de Direito Comercial diz o seguinte: “nas sociedades 
simples, os sócios podem limitar suas responsabilidades entre si, à proporção da 
participação no capital social, ressalvadas as disposições específicas”. 
Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das 
dívidas sociais anteriores à admissão. 
Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus 
herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos 
 
31 
 
após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas 
posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação. 
Em um processo no qual se discutia a extensão da responsabilidade de ex-
sócio com base nas regras dos arts. 1.003, parágrafo único, e 1.032 do Código Civil, 
a 3ª Turma do STJ decidiu que, “na hipótese de cessão de quotas sociais, a 
responsabilidade do cedente pelo prazo de até 2 (dois) anos após a averbação da 
respectiva modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas 
no período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da 
sua retirada da sociedade. Inteligência dos arts. 1.003, parágrafo único, 1.032 e 
1.057, parágrafo único, do Código Civil de 2002” (REsp 1.537.521/RJ). 
Os Ministros reconheceram que o sócio que sai da sociedade responde por 
dívidas sociais até dois anos após sua saída, mas destacaram que essa 
responsabilidade se refere a dívidas anteriores à sua saída, e não a dívidas 
posteriores. 
Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens 
do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da 
sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação. 
Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor 
requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art. 
1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após 
aquela liquidação. Esse dispositivo admite a penhora de quotas para execução 
de dívida particular de sócio, nesses casos, aplica-se a regra do art. 861 do CPC. 
 
1.7. DELIBERAÇÕES SOCIAIS 
Em princípio, compete aos administradores praticar os atos pertinentes à 
gestão dos negócios da sociedade, conforme o seu objeto social, contudo, 
quando se tratar de assuntos mais relevantes, a decisão não cabe ao 
administrador, mas ao conjunto de sócios, ou seja, exige, deliberação social 
prévia. 
 
32 
 
As matérias que dependem da deliberação dos sócios poderão ser 
expressas no contrato social. Em alguns casos, porém, é a própria lei que o faz, 
como nas hipóteses de dissolução da sociedade (art. 1.033, III do Código Civil) ou 
de exclusão do sócio remisso (art. 1.004, parágrafo único do Código Civil). 
Quanto ao quorum de deliberação dispõe o art. 1.010: “quando, por lei ou 
pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, 
as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor 
das quotas de cada um.” 
A regra é que as deliberações sejam tomadas por maioria, mas a própria lei 
ou o contrato social pode estabelecer quórum qualificado para certas matérias, 
como 2/3 (dois terços), 3/4 (três quartos) ou até mesmo unanimidade (o art. 999 
do Código Civil, por exemplo, exige unanimidade para mudanças nas cláusulas 
obrigatórias do contrato social, descritas no art. 997). 
Enunciado 385 das Jornadas de Direito Civil: “a unanimidade exigida para 
a modificação do contrato social somente alcança as matérias referidas no art. 
997, prevalecendo, nos demais casos de deliberação dos sócios, a maioria 
absoluta, se outra mais qualificada não for prevista no contrato”. Art. 1.010, § 2º. 
Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate, 
e, se este persistir, decidirá o juiz. 
A maioria absoluta não diz respeito ao número de sócios votantes, mas ao 
valor de suas quotas. A aferição do número de sócios votantes será importante, 
entretanto, quando pelo valor das quotas houver empate na votação. Nesse caso, 
prevalecerá a decisão que teve o apoio da maior quantidade de sócios. No caso 
de empate também no número de sócios, a matéria deverá ser levada ao Poder 
Judiciário. 
 
IMPORTANTE! 
Art. 1.010, § 3º. Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma 
operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a 
aprove graças a seu voto. 
 
33 
 
1.8. DA MORTE, RETIRADA OU EXCLUSÃO DO SÓCIO 
Conforme Art. 1.028: 
No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: 
I - se o contrato dispuser diferentemente; 
II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da 
sociedade; 
III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do 
sócio falecido; e 
Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer 
sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, 
mediante notificação aos demais sócios, com antecedência 
mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando 
judicialmente justa causa. 
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, 
podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade. 
 
Sobre o tema já se manifestou o STJ reiteradas vezes: 
“O direito de retirada de sociedade constituída por tempo indeterminado, a partir 
do Código Civil de 2002, é direito potestativo que pode ser exercido mediante a 
simples notificação com antecedência mínima de sessenta dias (art. 1.209), 
dispensando a propositura de ação de dissolução parcial para tal finalidade” 
(REsp 1602240/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 06/12/2016, DJe 15/12/2016). RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE 
DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE LIMITADA DE PRAZO INDETERMINADO. 
NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. APURAÇÃO DE HAVERES. DATA-BASE. PRAZO DE 60 
DIAS. (...) 2. O propósito recursal é definir a data-base para apuração dos haveres 
devidos ao sócio em caso de dissolução parcial de sociedade limitada de prazo 
indeterminado. 3. O direito de recesso, tratando-se de sociedade limitada 
constituída por prazo indeterminado, pode ser exercido mediante envio de 
notificação prévia, respeitado o prazo mínimo de sessenta dias. Inteligência do 
art. 1.029 do CC.4. O contrato societário fica resolvido, em relação ao sócio 
retirante, após o transcurso de tal lapso temporal, devendo adata-base para 
 
34 
 
apuração dos haveres levar em conta seu termo final. (REsp 1735360/MG, Rel. 
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/03/2019, DJe 
15/03/2019) 
 
Assim consta no Manual de registro da sociedade limitada: 
“4.4.3. Retirada nos casos de prazo determinado ou indeterminado 
Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da 
sociedade: 
I - se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com 
antecedência mínima de sessenta dias, a contar da notificação do último sócio. 
Nesta hipótese, observar-se-á o seguinte: 
 a) passado o prazo, deverá ser providenciado arquivamento da 
 notificação, que poderá ser por qualquer forma que ateste a 
 cientificação dos sócios; 
 b) a junta anotará no cadastro da empresa a retirada do sócio; 
 c) a sociedade deverá, na alteração contratual seguinte, regularizar o 
 quadro societário; e 
II - se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa”. 
 
Quanto à exclusão do sócio, resta disciplinado no artigo 1.030: 
ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser 
excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por 
falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade 
superveniente. 
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado 
falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único 
do art. 1.026. 
 
Quanto ao tema, julgou o STJ: 
RECURSO ESPECIAL. DIREITO SOCIETÁRIO. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE 
SOCIEDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. 
 
35 
 
CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. SÓCIO MAJORITÁRIO. PRÁTICA DE 
FALTA GRAVE. EXCLUSÃO. ART. 1.030 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. SÓCIOS 
MINORITÁRIOS. INICIATIVA. POSSIBILIDADE. 
1. Controvérsia limitada a definir se é possível a exclusão judicial de sócio 
majoritário de sociedade limitada por falta grave no cumprimento de suas 
obrigações, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios. 
2. Nos termos do Enunciado nº 216/CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil, o 
quórum de deliberação previsto no art. 1.030 do Código Civil de 2002 é de maioria 
absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios. 
3. Na apuração da maioria absoluta do capital social para fins de exclusão judicial 
de sócio de sociedade limitada, consideram-se apenas as quotas dos demais 
sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir, não 
incidindo a condicionante prevista no art. 1.085 do Código Civil de 2002, somente 
aplicável na hipótese de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da 
maioria representativa de mais da metade do capital social, mediante alteração 
do contrato social. 4. Recurso especial não provido. (REsp 1653421/MG, Rel. 
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 
10/10/2017, DJe 13/11/2017) 
 
Em resumo, quanto à exclusão do sócio pode ser ordenada da seguinte 
orientação: 
a) o sócio remisso, por iniciativa da maioria dos demais sócios, poderá ser 
excluído da sociedade, exclusão essa que se realizará de forma extrajudicial; 
b) o sócio declarado falido ou civilmente insolvente, na forma das respectivas 
leis de regência, bem como o sócio cuja quota for liquidada nos termos do 
parágrafo único do art. 1.026 do Código, serão, de pleno direito, excluídos da 
sociedade, exclusão essa que se dá, portanto, no plano extrajudicial; 
c) o sócio que incorrer em falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, 
ainda, o sócio declarado incapaz por fato superveniente, poderão ser excluídos 
por decisão da maioria dos demais sócios, mas a exclusão far-se-á judicialmente 
Nesses casos, observa-se quanto às quotas o que prevê o art. 1.031. 
 
36 
 
Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o 
valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente 
realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, 
com base na situação patrimonial da sociedade, à data da 
resolução, verificada em balanço especialmente levantado. 
§ 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os 
demais sócios suprirem o valor da quota. 
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa 
dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual 
em contrário. 
 
Importante salientar ainda, que no que diz respeito à apuração de haveres 
o ideal é que esteja disciplinado no próprio contrato social, estabelecendo: 
 
a) O critério de apuração dos haveres. 
Art. 606, CPC. Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, 
como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado 
em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da 
resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e 
intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser 
apurado de igual forma. 
b) A forma e prazo de pagamentos dos haveres. 
Art. 604 (...), CPC. 
§ 1º O juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela 
permanecerem que depositem em juízo a parte incontroversa dos 
haveres devidos. 
§ 2º O depósito poderá ser, desde logo, levantado pelo ex-sócio, pelo 
espólio ou pelos sucessores. 
§ 3º Se o contrato social estabelecer o pagamento dos haveres, será 
observado o que nele se dispôs no depósito judicial da parte 
incontroversa. 
 
 
 
37 
 
c) Os direitos do sócio durante a apuração dos haveres. 
Art. 608, parágrafo único, do CPC. Após a data da resolução, o ex-sócio, o espólio 
ou os sucessores terão direito apenas à correção monetária dos valores apurados 
e aos juros contratuais ou legais. 
 
EM RESUMO 
* Para todos verem: esquema abaixo. 
 
 
 
38 
 
2. SOCIEDADE LIMITADA 
2.1. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS 
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio 
é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem 
solidariamente pela integralização do capital social. 
 
- Responsabilidade subsidiária: 
Se a sociedade tiver bens, é a própria sociedade quem responde pelas 
dívidas sociais (autonomia patrimonial da sociedade: art. 49-A e 1.024 do CC). 
- Responsabilidade limitada: 
Se a sociedade não tiver mais bens, e o capital social estiver totalmente 
integralizado, os sócios não respondem com seus bens pessoais pelas dívidas 
sociais. 
- Responsabilidade solidária: 
Se a sociedade não tiver mais bens, e o capital social não estiver totalmente 
integralizado, os sócios respondem com seus bens pessoais pelas dívidas sociais, 
solidariamente, pelo que faltar para a integralização. 
- Responsabilidade direta: 
Se houver abuso de personalidade jurídica, o(s) sócio(s) que se beneficiou 
(aram) direta ou indiretamente do abuso responde(m) com seus bens pessoais 
pelas dívidas sociais, independentemente de a sociedade ainda ter bens 
(desconsideração da personalidade jurídica: art. 50 do CC). 
 
2.2. SOCIEDADE LIMITADA UNIPESSOAL 
Art. 1.052. (...) 
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais 
pessoas. 
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição 
do sócio único, no que couber, as disposições sobre o contrato 
social. 
Não se confunde com a EIRELI: São pessoas jurídicas distintas, embora o 
regime jurídico seja muito parecido (a EIRELI é regida pelas regras da Limitada). 
 
39 
 
Mas há algumas diferenças: na EIRELI, exige-se capital mínimo, o titular pessoa 
natural só pode constituir uma única EIRELI e há, pelo menos em tese, uma 
maior proteção patrimonial (porque o titular só responde por dívidas da EIRELI 
em caso de fraude). 
Já na Limitada unipessoal não se exige capital mínimo, o sócio (mesmo 
sendo pessoa natural) pode constituir mais de uma Limitada unipessoal e pode 
ser responsabilizado pelas dívidas da sociedade não apenas em caso de fraude, 
mas em qualquer situação que permita a desconsideração da PJ. 
Nãose trata de um novo tipo societário. 
 
2.3. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DAS NORMAS DE SOCIEDADE ANÔNIMA 
Art. 1.053. (...) 
Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência 
supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade 
anônima. 
A aplicação supletiva das normas da sociedade anônima à sociedade 
limitada será feita quando o contrato social previr e se tratar de matéria que os 
sócios podem contratar. 
A regência supletiva não pode ser absoluta, somando-se ao texto da lei da 
sociedade limitada todo o texto das normas das sociedades simples ou todo o 
texto da lei das sociedades anônimas. Tal forma de regência encontra seus 
limites no critério de compatibilidade, entendida esta com a necessidade de se 
respeitar as questões ligadas à natureza e às finalidades econômicas e 
empresariais das sociedades, bem como na necessidade de não lesar normas 
gerais e abstratas não adstritas à vontade dos sócios. 
Os limites de regência supletiva se aplicam tanto em relação à sociedade 
anônima como em relação à sociedade simples. (...) 
Tratando-se de direito disponíveis, reguláveis no contrato social por conta 
do contratualismo da sociedade, as regras do contrato prevalecem em 
detrimento das normas de regência supletiva, ainda que sobre a questão o 
capítulo da sociedade limitada seja omisso. 
 
40 
 
A regência supletiva não deve implicar a transformação do tipo societário. 
Assim, a limitada não deve transformar-se em subespécie de sociedade anônima 
ou subespécie de sociedade simples. Não pode ainda implicar a 
descaracterização, desnaturação, perda de flexibilidade e adaptabilidade, que 
são as principais riquezas da sociedade limitada, juntamente com a 
responsabilidade limitada dos sócios. 
 
Enunciado 223 das Jornadas de Direito Civil. 
“O parágrafo único do art. 1.053 não significa a aplicação em bloco da Lei 
6.404/1976 ou das disposições sobre a sociedade simples. O contrato social pode 
adotar, nas omissões do Código sobre as sociedades limitadas, tanto as regras 
das sociedades simples quanto as das sociedades anônimas”. 
 
2.4. CONTRATO SOCIAL 
Art. 1.054. O contrato mencionará, no que couber, as indicações do 
art. 997, e, se for o caso, a firma social. 
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, 
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas 
partes, mencionará: 
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos 
sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, 
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; 
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; 
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo 
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação 
pecuniária; 
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; 
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista 
em serviços; 
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, 
e seus poderes e atribuições; 
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; 
 
41 
 
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas 
obrigações sociais. 
Cláusulas obrigatórias: 
1. Qualificação dos sócios: 
Sócio incapaz, sócio impedido e sócios casados. 
2. Qualificação da sociedade: 
Nome empresarial, objeto, sede e prazo. 
3. Capital social: 
Funções, diferença para o patrimônio e ‘subcapitalização’. 
4. Subscrição e integralização das quotas: 
Impossibilidade de contribuições em serviços. 
5. Administração da sociedade: 
Administrador não sócio e conselho de administração. 
6. Participação nos lucros e nas perdas: 
Quotas preferenciais. 
 
2.5. INTEGRALIZAÇÃO EM BENS OU CRÉDITOS: 
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, 
cabendo uma ou diversas a cada sócio. 
Art. 1.005. O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, 
posse ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, 
aquele que transferir crédito. 
§ 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social 
respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco 
anos da data do registro da sociedade. 
 
a) Se o sócio integralizar sua quota com transferência de bens, estes devem 
ser suscetíveis de avaliação pecuniária, além de o sócio responder pela evicção, 
isto é, caso a sociedade perca esse bem posteriormente em razão de ele ser de 
outrem, o sócio que o havia transferido terá que pagar a ela o seu valor (segundo 
 
42 
 
alguns doutrinadores, deveria o CC ter previsto também a responsabilidade do 
sócio por eventuais vícios redibitórios da coisa). 
b) Se o sócio integralizar sua quota com a transferência de créditos de sua 
titularidade, responderá pela solvência do devedor, isto é, caso os créditos 
cedidos não sejam pagos pelos seus devedores, o sócio que os cedeu terá que 
pagá-los. 
c) Nas sociedades limitadas não é necessário laudo de avaliação dos bens 
usados para integralização do capital social, e isso vale tanto para a constituição 
da sociedade quanto para os casos de aumento do capital social. 
d) A doutrina costuma destacar que os bens cedidos à sociedade a título 
de integralização do capital social (i) devem estar relacionados ao objeto social, 
tendo utilidade direta ou indireta para a atividade exercida pela sociedade, e (ii) 
devem ser aptos à execução por eventuais credores sociais, de modo que não 
seria permitido integralizar quotas com bens impenhoráveis. 
 
2.5.1. INTEGRALIZAÇÃO EM BENS MÓVEIS 
Art. 35, VII, ‘a’ da Lei 8.934/1994: o contrato social deve conter “a descrição e 
identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como o 
número da matrícula no registro imobiliário”. 
O arquivamento de contrato social com essa estipulação não é suficiente 
para transferir a propriedade do imóvel do sócio para a sociedade. Deve-se 
observar o art. 64 da Lei 8.934/1994: “a certidão dos atos de constituição e de 
alteração de sociedades mercantis, passada pelas juntas comerciais em que 
foram arquivados, será o documento hábil para a transferência, por transcrição 
no registro público competente, dos bens com que o subscritor tiver contribuído 
para a formação ou aumento do capital social”. 
Assim, após fazer o arquivamento do contrato social, pega-se a certidão da 
Junta Comercial para que ela seja levada a registro no cartório de imóveis, e é isso 
o que operará a transferência de titularidade do bem. 
 
 
43 
 
2.5.2. CONTRIBUIÇÃO EM SERVIÇOS: 
Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo 
convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob 
pena de ser privado de seus lucros e dela excluído. 
Nas sociedades limitadas, não se admite a contribuição em serviços (art. 
1.055, § 2º do Código Civil). 
 
2.6. INDIVISIBILIDADE DAS QUOTAS 
Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para 
efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no 
artigo seguinte. 
§ 1º No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes 
somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou 
pelo inventariante do espólio de sócio falecido. 
§ 2º Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de quota 
indivisa respondem solidariamente pelas prestações necessárias à 
sua integralização. 
O condomínio de quotas pode ser decorrente de ato inter vivos ou de 
sucessão causa mortis. A quota terá mais de um dono, mas perante a sociedade, 
como ela é indivisível, apenas um dos condôminos poderá exercer os direitos que 
ela confere, o condômino-sócio (condômino escolhido ou inventariante). 
 
2.6.1. CESSÃO DE QUOTAS 
As sociedades contratuais são normalmente sociedades de pessoas, 
existindo uma forte affectio societatis entre os sócios, de modo que o vínculo 
contratual formado entre eles é intuitu personae. Assim, a entrada de estranhos 
no quadro societário depende, emregra, da anuência dos demais. 
Art. 1.002. O sócio não pode ser substituído no exercício das suas 
funções, sem o consentimento dos demais sócios, expresso em 
modificação do contrato social. 
 
44 
 
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente 
modificação do contrato social com o consentimento dos demais 
sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade. 
Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, 
total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de 
audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de 
titulares de mais de um quarto do capital social. 
Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e 
terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a 
partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos 
sócios anuentes. 
Contrato social: 
• Quotas transferíveis/intransferíveis 
• Transferência condicionada/incondicionada 
• Direito de preferência aos sócios 
• Silêncio: 
 a) Livre transferência entre sócios 
 b) Transferência condicionada para estranhos 
 
IN 81 do DREI. 
Item 4.4.2 do Manual de Registro da Sociedade Limitada: 
“Na omissão do contrato social, a cessão de quotas de uma sociedade limitada 
pode ser feita por instrumento de cessão de quotas, total ou parcialmente, 
averbado junto ao registro da sociedade, com a devida repercussão no cadastro 
e independentemente de alteração contratual (Enunciado 225 das Jornadas de 
Direito Civil”. 
Notas: 
I. A reunião ou assembleia de sócios pode ser suprida, se substituída pela expressa 
anuência escrita, no instrumento de cessão ou em outro, de detentores de mais de 
setenta e cinco por cento do capital social da limitada em questão. 
II. Será obrigatória na primeira alteração contratual que sobrevier após a averbação da 
cessão, a consolidação do Contrato Social, com o novo quadro societário. 
 
 
45 
 
2.6.2. RESPONSABILIDADE DO CEDENTE E DO CESSIONÁRIO DE QUOTAS 
O sócio que cedeu suas quotas a outrem não fica automaticamente 
exonerado de eventuais obrigações perante terceiros e perante a própria 
sociedade. 
Art. 1.003, parágrafo único. “Até dois anos depois de averbada a modificação 
do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a 
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio”. 
O sócio que ingressou na sociedade, por sua vez, não ficará responsável 
apenas pelas obrigações sociais posteriores, mas também pelas anteriores à sua 
entrada. 
Art. 1.025. “O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das 
dívidas sociais anteriores à admissão”. 
 
2.7. SÓCIO REMISSO 
Ao sócio que está em mora quanto à integralização de suas quotas, nos 
termos do art. 1.004 do Código Civil, dá-se o nome de sócio remisso, podendo os 
demais sócios, conforme previsto na regra em comento, cobrar dele uma 
indenização por eventuais prejuízos que sua mora tenha causado à sociedade. 
Mas essa não é a única medida que os demais sócios podem tomar contra 
o remisso. Nos termos do parágrafo único do art. 1.004, “verificada a mora, poderá 
a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, 
ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os 
casos, o disposto no § 1º do art. 1.031”. 
Assim, o sócio remisso pode ter sua participação na sociedade reduzida ao 
número de quotas que ele efetivamente já integralizou, ou ainda ser excluído da 
sociedade, por deliberação da maioria restante (ou seja, a exclusão é extrajudicial, 
sem necessidade de ação judicial). 
Tratando-se de sociedade limitada, há regra especial sobre o sócio remisso, 
prevista no art. 1.058 do Código Civil: “não integralizada a quota de sócio remisso, 
os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo 
único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e 
 
46 
 
devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações 
estabelecidas no contrato mais as despesas”. 
 
EM RESUMO 
* Para todos verem: esquema abaixo. 
 
 
 
 
 
47 
 
3. SOCIEDADES ANÔNIMAS 
3.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL 
No Brasil, as sociedades anônimas são regidas pela Lei 6.404/1976 (LSA). 
Desde 1976, ano de sua edição, a LSA sofreu apenas algumas alterações em 
sua redação, provocadas pela Lei 9.457/1997, que a preparou para o processo de 
privatizações; pela Lei 10.303/2001, que procurou proteger os interesses dos 
acionistas minoritários e tornar o mercado de capitais mais seguro e atrativo para 
os investidores; pelas Leis 11.638/2007 e 11.941/2009, que trouxeram novas regras 
acerca da elaboração e da divulgação das demonstrações financeiras desse tipo 
societário; e pelas Leis 12.431/2011 e 13.129/2015, que lhe trouxeram modificações e 
acréscimos pontuais. 
Mais recentemente, a LSA recebeu novas alterações das Leis 13.818 
(publicações), 13.874/2019 (Lei da Liberdade Econômica) e 14.030/2020 
(assembleias digitais). 
 
3.2. CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE ANÔNIMA 
• Natureza capitalista; 
• Essência empresarial; 
• Identificação por denominação; 
• Limitação de responsabilidade dos acionistas. 
 
3.3. COMPANHIAS ABERTAS E FECHADAS 
 Art. 4º da Lei 6.404/1976: 
“Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada 
conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não 
admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. 
§1º Somente os valores mobiliários de emissão de companhia 
registrada na Comissão de Valores Mobiliários podem ser 
negociados no mercado de valores mobiliários. 
 
48 
 
§2º Nenhuma distribuição pública de valores mobiliários será 
efetivada no mercado sem prévio registro na Comissão de Valores 
Mobiliários.” 
 
3.4. ABERTURA DE CAPITAL 
Pelo fato de possuírem instrumentos/mecanismos de captação de 
recursos junto a investidores, a sociedade anônima – especialmente a de capital 
aberto, que pode emitir e negociar valores mobiliários no mercado de capitais – 
é o tipo societário ideal para a exploração de grandes empreendimentos. 
Em contrapartida, para dar um mínimo de segurança a essas operações no 
mercado de capitais, o Estado exerce sobre a companhia aberta um maior 
controle, por meio da uma agência reguladora específica, que é a CVM. 
 
3.5. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS 
A CVM é uma entidade autárquica federal de natureza especial, com 
qualidade de agência reguladora. 
Art. 5º da Lei 6.385/1976: “é instituída a Comissão de Valores Mobiliários, 
entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, 
com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade 
administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato 
fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária”. 
A competência da CVM no controle e na fiscalização do mercado de 
capitais é exercida, pode-se dizer, de três diferentes formas: 
a) Regulamentar, uma vez que cabe à CVM estabelecer o regramento geral 
relativo ao funcionamento do mercado de capitais, expedindo atos normativos 
para tanto; 
b) Autorizante (registrária), uma vez que é a CVM que autoriza a constituição de 
companhias abertas e a emissão e negociação de seus valores mobiliários; 
c) Fiscalizatória, uma vez que a CVM deve zelar pela lisura das operações 
realizadas no mercado de capitais, sendo investida, para tanto, de poderes 
sancionatórios. 
 
49 
 
3.6. MERCADO BANCÁRIO X MERCADO DE CAPITAIS 
• Mercado bancário: operações de crédito, em que a empresa assume a 
posição de devedora e se compromete, não raro, a devolver os valores 
captados em curto espaço de tempo e a taxas de juros altas. 
• Mercado de capitais: operações de investimento, em que o investidores 
não se tornam credores da companhia, mas sócios e partes interessadas 
no sucesso da empresa, pois é dele que advirá o retorno do investimento 
feito por eles.

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