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Resumo Ciências na educação 1 AD2 e AP2

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Resumo Ciências na educação 1 – AD2 e AP2
Aula 15
Panorama do ensino de ciências
Objetivos:
• Identificar as principais práticas de ensino de Ciências no Brasil, nos últimos anos.
• Analisar as práticas do ensino de Ciências como forma de educação científica e tecnológica.
O ENSINO DE CIÊNCIAS NO BRASIL
A educação em Ciências está sempre vinculada ao desenvolvimento científico e tecnológico de uma sociedade. Países com longa tradição científica como Inglaterra, França, Alemanha e Itália definiram há muitos anos “que” e “como” ensinar Ciências, do nível elementar até o superior. Desde o século XVIII, esses países estabeleceram políticas nacionais para a educação em geral e também para o ensino de Ciências. No Brasil, não possuímos a mesma tradição científica, então só podemos falar de um ensino de Ciências a partir do século XX.
O ensino de Ciências só chega às escolas primárias (hoje, escolas do 1º segmento do Ensino Fundamental) por exigências do processo de industrialização; ou seja, o aumento da utilização de tecnologias nos meios de produção impõe uma formação básica em Ciências. A transformação começou a ser observada por volta da década de 1920, época em que a economia do país era caracterizada por um modelo agrário-exportador. A mudança foi feita para o modelo urbano-industrial; ou seja, houve um deslocamento de populações para as cidades em busca de trabalho nas fábricas.
A efetiva intervenção do Estado na educação, para atender aos projetos políticos de modernização da nação, veio a ocorrer a partir da década de 1950, com a expansão da indústria. Se a economia muda, a mão-de-obra necessária não é mais a mesma. Agora, essa mão-de-obra precisa ser, no mínimo, alfabetizada, para ler os manuais e instruções das máquinas. No período compreendido entre os anos 50 e 60 do século XX, teve início uma política de estímulo ao ensino de Ciências. Observou-se, por exemplo, a presença dos grandes projetos estrangeiros para o ensino de Física e Biologia. Revela-se, nesse contexto, o objetivo de formar futuros cientistas. Em tese, naquele momento histórico, vigorava a idéia de que o conhecimento era universal (acúmulo da produção inventiva do Homem). Inicialmente, o material elaborado para os Estados Unidos poderia muito bem ser implantado no Brasil.
Como a adequação do material estrangeiro era muito difícil, os educadores brasileiros iniciaram a produção de projetos adequados a nossa realidade, que repercutem até meados da década de 1970.
No que se refere à metodologia utilizada, o período entre 1960 e o final da década seguinte vai se caracterizar principalmente pelo conhecido “método da redescoberta”, cuja concepção envolvia uma sucessão de atividades com os alunos, que os estimulava a imitar o trabalho dos cientistas. Em outras palavras, a proposta era que os alunos tomassem o lugar de cientistas e percorressem o caminho de suas grandes descobertas. O objetivo, na verdade, era ensinar o processo básico das Ciências, o controle das variáveis, a observação, o procedimento das experimentações, a construção de hipóteses e a elaboração de conclusões.
Segundo Krasilchick (1987), na década de 1970, observamos a ênfase na chamada “Ciência Integrada”, difundida por instituições internacionais, principalmente a Unesco. A proposta tinha por base a integração entre as Ciências Naturais e a Matemática, excluindo as Ciências Sociais, chegando muito próximo do esvaziamento dos conteúdos. Centrava-se na idéia de que bastava ao professor de Ciências usar os materiais instrucionais, não necessitando ter conhecimento seguro e relativamente profundo do conteúdo a ser ensinado. O livro passou a ser uma peça fundamental, impondo-se o modelo do chamado estudo dirigido, com exercícios em geral compostos de questões de múltipla escolha (atividades fechadas).
No final dos anos de 1970, grupos de pesquisa em ensino de Ciências iniciaram uma reflexão sobre o trabalho já realizado na área e passaram a desenvolver críticas bastante proveitosas, considerando o desenvolvimento histórico do conhecimento científico e suas implicações no ensino, bem como os impactos sociais provocados por aquele conhecimento, e, sobretudo, por suas aplicações tecnológicas.
Como conseqüência dos estudos na área do ensino, o início da década de 1980 presenciou uma transformação na prática, diminuindo o valor depositado anteriormente nos grandes projetos (dos kits de Ciências, dos laboratórios etc.) realizados por “aprendizes de cientistas” (os alunos) em sala de aula. Houve uma substituição gradativa por projetos centrados na escola e no professor. Iniciou-se uma fase de aproveitamento daquilo que os alunos já trazem para a sala de aula, considerando as explicações que têm para os fenômenos naturais (MELO, 2004).
Atualmente, o acúmulo de conhecimentos na área de pesquisa no ensino de ciência tem produzido uma grande quantidade de propostas que se agrupam em títulos genéricos, como Educação em Ciência para a Cidadania, Ciência, Tecnologia e Sociedade e Alfabetização Científica e Tecnológica.
No conjunto das mudanças ocorridas, podemos destacar algumas ações: encontros e projetos sustentados pela pesquisa dos programas de pós-graduação em ensino de Ciências e Matemática; publicações mais acessíveis aos professores das redes públicas, com destaque para os livros paradidáticos; valorização dos diferentes saberes, das concepções trazidas pelo aluno; preocupação com a divulgação científica e tecnológica produzida na mídia e nos centros/museus/estações de ciência, dentre outras.
O QUADRO DAS PRÁTICAS DO ENSINO DE CIÊNCIAS
O quadro histórico que apresentamos deve ser relativizado. É que as mudanças não ocorrem de um dia para outro; elas são lentas, e as pessoas precisam de algum tempo para assimilar as novas propostas. Em cada situação histórica, práticas mais conservadoras podem estar presentes ao lado de atividades mais alternativas, um ensino tradicional convive com formas mais progressistas. Nosso exercício de construção do quadro de práticas deve ser considerado nesse contexto. É uma forma didática de situar na história o trabalho dos professores no ensino de Ciências no espaço escolar. Por fim, é preciso deixar claro que não há limites definidos para que uma prática deixe de existir, dando lugar a outra; elas convivem, confrontam-se, disputam espaços, estão presentes e se misturam no cotidiano pedagógico.
Durante muitos anos, e de certa forma ainda nos dias de hoje, o ensino de Ciências nos diversos níveis de escolaridade esteve centrado na memorização de fatos, conceitos e leis, na realização de atividades mecânicas e na aplicação de regras de resolução de problemas. Nessa visão, que podemos chamar de mecanicista, entendia-se as Ciências Naturais como um corpo organizado de conhecimentos e regras para
aprender e aplicar sem qualquer ligação com a realidade (DOMINGOS; NEVES; GALHARDO, 1987 apud COSTA, 2004).
O ensino das Ciências fundamentado no domínio dos objetivos cognitivos mais simples era restrito à aquisição de fatos, leis e regras de resolução de questões. Dessa forma, o aluno era conduzido à obtenção de um conjunto de conhecimentos teóricos e de técnicas com a justificativa de desenvolver os mecanismos e habilidades cognitivas para responder aos testes e provas.
O que é importante destacar é que, nesse momento, vislumbramos um currículo centrado na aquisição de capacidades intelectuais, sem considerar o desenvolvimento de aspectos afetivos e sociais. Repare, quando dizemos aspectos sociais, aí estão incluídas as práticas políticas e econômicas. Quando falamos de política, não podemos nos esquecer do exercício da cidadania e da ética.
Hoje, é unânime entre os educadores que a prática tradicional conduz a uma aprendizagem insuficiente e limitada; por conseqüência, essa aprendizagem gera o desinteresse e o insucesso. Ninguém quer decorar nome de insetos ou plantas, elementos químicos ou suas reações etc. Isso é realmente muito tedioso e enfadonho! Mas não vá pensando que por causa disso vamos defender o abandono do vocabulário, dos conceitos edas regras. Por exemplo, a utilização de uma terminologia adequada é importante para a comunicação científica; é com ela que os alunos devem se familiarizar para compreendê-la. Se o termo é introduzido quando é necessário, depois de ter compreendido um determinado processo ou estrutura, os alunos formarão um vocabulário gradativamente.
Os alunos são bombardeados diariamente com noticiários de jornais, revistas, rádio e televisão que apresentam as novidades da ciência e da tecnologia, algumas vezes em forma de espetáculo, como é
o caso do Fantástico.
A idéia de expandir a aquisição da aprendizagem para além do domínio cognitivo não significa que os educadores eliminem o acesso aos conhecimentos científicos. Ao contrário, o que se pretende é “estimular o desenvolvimento de um conjunto de atitudes e capacidades tais como aprender, pesquisar, selecionar informação, concluir e comunicar” (COSTA, 2004, p. 2). Outro dado muito importante, que não pode ser esquecido, é que num mundo com tantas transformações é preciso que o aluno adquira conhecimentos que o tornem autônomo na busca de conhecimentos futuros, que não podemos sequer determinar.
Na sociedade moderna, com a ciência e a tecnologia participando cada dia mais do cotidiano de um percentual cada vez maior da população, a escola tem um novo papel a desempenhar, que é não somente assegurar o acesso aos conhecimentos científicos e tecnológicos, como também garantir o desenvolvimento de atitudes para que o aluno possa aplicá-los e principalmente criticá-los no futuro.
Bizzo (2000) nos chama a atenção para reconhecer que o essencial é entender o conhecimento científico e a sua importância na formação do aluno, como maneira de efetivamente ampliar a sua compreensão e atuação no mundo em que vive. O autor nos recorda o exemplo trágico do CÉSIO-137. O acidente ocorreu no ano de 1987, em Goiânia. Um aparelho de radioterapia abandonado foi carregado por dois catadores de papel e revendido a um ferro-velho. O cilindro contendo césio foi aberto e o brilho azulado do pó de cloreto de césio chamou a atenção do dono do ferro-velho, que o levou para casa, distribuindo o material para alguns familiares e amigos como se fosse um presente. Depois de nove dias, a esposa do dono do ferro-velho levou o cilindro aberto a um Centro de Vigilância Sanitária, porque desconfiava que fosse a causa do mal-estar súbito da família, logo após a chegada do pó estranho. Houve quatro mortes em 30 dias, incluindo uma criança de seis anos. Cerca de outras 250 pessoas foram contaminadas. As pessoas foram vítimas da irresponsabilidade e imprudência de quem permitiu a exposição do material. Entretanto, houve a falta de informação e de conhecimentos científicos necessários para viver em um mundo que reúne avanços tecnológicos. Informações semelhantes são cada dia mais importantes, e a escola precisa torná-las acessíveis aos cidadãos (BIZZO, 2000).
Há duas grandes justificativas para o ensino de Ciências Naturais na escola. Primeiro, na perspectiva da própria Ciência, há necessidade de que os alunos adquiram um conjunto de conhecimentos e competências básicas para a sua iniciação na prática científica, no sentido de formar os cientistas do futuro. O mundo tecnocientífico precisa de novos talentos, e o melhor lugar para começar essa descoberta, sem dúvida, é a escola. Segundo, na perspectiva social, é importante que os alunos adquiram compreensão dos fenômenos e acontecimentos do mundo físico e social, do qual ele é parte integrante e deve ser também ativa.
A segunda justificativa pode ser analisada como um direito do cidadão, uma expansão do direito à educação, que deve garantir também o acesso aos conhecimentos da Ciência e da tecnologia para garantir o exercício
pleno da cidadania e da ética. 
No Brasil há necessidade de formar um cidadão autônomo capacitado para tomar decisões e participar ativamente de uma sociedade democrática. Porém, o país também precisa preparar profissionais que tenham base sólida de conhecimentos científicos junto à criatividade a fim de encontrar soluções para os problemas nacionais. Tomando por base as investigações mais recentes realizadas na área, pode-se pensar em propostas para o ensino de Ciências que integram as alternativas para as novas abordagens para a Educação em Ciências.
Aula 16
O enfoque Ciência, Tecnologia e sociedade no ensino de ciências
Objetivos:
• Estabelecer a relação Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).
• Refletir sobre a relação do fenômeno científico-tecnológico com o contexto social.
• Identificar CTS como campo interdisciplinar de estudos.
É cada vez mais evidente a necessidade de a sociedade estar presente no controle da atividade tecnocientífica. Por isso, é importante que o ensino de Ciências seja orientado para propiciar uma formação
da cidadania. A sociedade necessita de indivíduos capacitados para participar de um mundo no qual a Ciência e a Tecnologia têm grande impacto em nossas vidas. A abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), desde a década de 1980, tem sido defendida como a mais adequada para fomentar uma educação tecnocientífica dirigida à aprendizagem da participação como elemento central da educação cidadã. O enfoque CTS trouxe novos significados para conceitos já aceitos como alfabetização científica e tecnológica, Ciência para todos ou difusão da cultura científica.
AS RELAÇÕES CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
Um dos principais objetivos do ensino de Ciências é a compreensão do papel das interações Ciência, Tecnologia e Sociedade, incluindo-se aí as questões econômicas, políticas, éticas, históricas, filosóficas e sociológicas da Ciência e da Tecnologia. O entendimento dessas interações deve ser um dos componentes essenciais da alfabetização científica e tecnológica para todos.
Não se discute a importância da Ciência e da Tecnologia para a sociedade. Elas são determinantes do desenvolvimento econômico dos países e da qualidade de vida dos indivíduos, como também são responsáveis pelas transformações do meio ambiente e pelas mudanças no cotidiano de nossas vidas. Constituem ponto de pauta obrigatório nos planos governamentais e não-governamentais.
Hoje não faz mais sentido pensar em uma Ciência com base em valores do conhecimento, da mesma forma que não se explicam as tecnologias por meio de valores unicamente relacionados à sua eficiência ou eficácia. A sociedade também já não recebe e valoriza como benéficos todos os produtos da Ciência e da Tecnologia. A suposta relação linear entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, que juntaria os três elementos em uma cadeia ordenada, só é possível através de uma interpretação ingênua dos dados da realidade.
A Ciência e a Tecnologia dependem diretamente do jogo de interesses que caracterizam a vida em sociedade. Como toda e qualquer prática social, as decisões, as controvérsias, os interesses e os valores dos diferentes grupos de poder afetam a atividade tecnocientífica.
Outra questão que se apresenta é a democratização dos resultados; o conhecimento e a tecnologia não deveriam ser privilégio de grupos, ao contrário, deveriam ser “ferramentas importantes na construção de uma sociedade cidadã, ou seja, uma sociedade ética, sustentável e solidária” (SANTOS, 2004).
As discussões sobre Ciência, Tecnologia, Sociedade, democratização dos resultados de pesquisas e construção de uma sociedade mais ética e cidadã congregam um conjunto de temas que são objetos dos estudos compreendidos no campo denominado Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) ou estudos sociais da Ciência e Tecnologia. Trata-se de uma grande área de investigação interdisciplinar, que procura compreender o fenômeno centífico-tecnológico na sua relação com o contexto social.
O conjunto de investigações da CTS está dividido em três grandes campos: o da pesquisa, o das políticas públicas e o da Educação. O campo da Educação é a que interessa o professor, uma vez que, para construir as bases visando a uma participação social na ciência, é preciso investir em mecanismos educacionais.
As pesquisas baseadas na relação CTStêm elegido como foco, por exemplo, a relação Ciência e valores; Ciência, Tecnologia e questões ecológicas; avaliação de tecnologias; participação na Ciência; questões ligadas à ética na Ciência e ao gênero (a existência de mulheres cientistas), entre outras.
As práticas educacionais em CTS devem acompanhar a mesma direção dos trabalhos, já que em todas as temáticas estabelecidas se colocam ações educativas correlatas. Se a sociedade está preocupada com os impactos ambientais da Tecnologia, é na Educação que tais questões precisam ser discutidas e refletidas em primeiro lugar. É importante acompanhar as pesquisas em andamento na área tecnocientífica para selecionar e organizar conteúdos no ensino de Ciências seguindo o enfoque CTS.
As relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade têm um caráter mais complexo e mais dinâmico quando consideramos que são práticas sociais subordinadas aos conflitos e confrontos de interesses econômicos e políticos. Assim, elas podem ser vistas como um processo de construção e reconstrução recíproca e dinâmica.
As vias de comunicação podem ter diferentes traçados, mas são os seres humanos com seus interesses que vão definindo por onde vão percorrê-las e como vão fazê-lo. Para ir de um lugar a outro, podemos escolher transportes públicos ou privados, trem ou automóvel, por exemplo. Mesmo que nem sempre fique
explícito, essas decisões são humanas e condicionam a vida. Tomando por base o conjunto de relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, as recomendações de uma alfabetização tecnocientífica para todos incluem propostas do movimento CTS, que aqui resumimos do trabalho de Acevedo Díaz; Vázquez Alonso e Manassero (2004):
• a inclusão da dimensão social na Educação Científica;
• a presença da tecnologia como elemento que facilita a conexão com o mundo real e uma melhor compreensão da natureza da Ciência e da tecnociência contemporâneas;
• a relevância para a vida pessoal e social das pessoas com objetivo de resolver problemas e tomar decisões responsáveis na sociedade civil;
• os enfoques democratizadores da Ciência e da Tecnologia;
• a familiarização com os procedimentos de acesso à informação, sua utilização e comunicação;
• o papel humanístico e cultural da Ciência e da Tecnologia;
• seu uso para propósitos específicos sociais e a ação cívica;
• a consideração da ética e dos valores da Ciência e da Tecnologia;
• o papel do pensamento crítico etc.
O ENFOQUE CTS E A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS PARA A PARTICIPAÇÃO
O enfoque CTS é, na verdade, um desdobramento das discussões que se construíram em torno da idéia da alfabetização científica e tecnológica. Deve-se também apontar que há mais de trinta anos Gallagher (1971) já se antecipava declarando que “para os futuros cidadãos de uma sociedade democrática, a compreensão das relações mútuas entre Ciência, Tecnologia e Sociedade pode ser tão importante como a dos conceitos e processos da Ciência” apud ACEVEDO DÍAZ; VÁZQUEZ ALONSO; MANASSERO, 2004, p. 10).
A melhor contribuição que o enfoque CTS pode trazer para a Educação Tecnocientífica é a ênfase na participação, que está diretamente relacionada ao exercício da cidadania.
Sem dúvida, não se pode perder de vista a importância da contextualização social e histórica dos processos que geraram os conhecimentos científicos. Isso quer dizer que eles não nascem do vazio, não são naturais. É preciso que você saiba também que o desenvolvimento dos artefatos tecnológicos os transforma em novos instrumentos no trabalho com os conteúdos das ciências e das tecnologias.
A idéia de educar para participar já é consenso em propostas designadas como alfabetização tecnocientífica, ciência para todos ou difusão científica. Seria mais fácil promover a difusão dessa cultura científica se desde os primeiros anos da escola os alunos fossem construindo no cotidiano a necessidade de participar nas decisões que se relacionem ao desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia.
Desse modo, será mais fácil falar de Ciências para todos nos contextos educativos, já que a orientação participativa do ensino dessa disciplina está dirigida ao conjunto dos cidadãos e não à elite da população que detém a capacidade de tomar as decisões. A Educação Tecnocientífica como educação para a participação implica a idéia de democratização dos conhecimentos necessários para uma participação responsável nas decisões que afetam a coletividade.
DIFICULDADES E DESAFIOS DA PRÁTICA
A idéia de educação tecnocientífica não deve ficar reduzida a discursos teóricos. Não se trata de pensar um novo campo de investigação teórica para a didática das Ciências. Trata-se, sim, de reelaborar os espaços e os tempos curriculares para que sejam possíveis formas participativas, flexíveis, abertas e multidirecionais dentro das próprias práticas reais de ensino de Ciências.
Modelos rígidos, verticais e unidirecionais, do professor para o aluno, não são adequados para a concretização de uma proposta de participação e vida democrática. Para atingir o objetivo do enfoque CST, a sala de aula precisa ser um verdadeiro laboratório, não no sentido que foi defendido pela concepção
tradicional do ensino, mas um espaço pedagógico simulador de participação democrática.
Para atender a esse intuito, os projetos curriculares foram adaptados para envolver pessoalmente os alunos a partir de problemas da realidade, questionando os interesses sociais da Ciência e da Tecnologia, seus benefícios e riscos.
MAS NEM TUDO É CONSENSO...
O enfoque CTS já recebeu algumas críticas, inclusive no âmbito internacional. A inovação educativa foi acusada de ser definida com pouca precisão porque responde a um conjunto difuso de interesses. Realmente, pensar em práticas que se construam em função de garantir alfabetização científica para todos e, conseqüentemente, participação não é uma tarefa simples para o professor realizar. De fato, uma conseqüência bastante possível é a produção de uma multiplicidade de atividades curriculares e uma grande variedade de aproximações do ensino de ciências na tentativa do enfoque CTS. Os críticos dessa linha de pensamento acrescentam que falta ao movimento CTS uma base unificadora, o que seria uma camisa de força para a inovação educativa.
Entretanto, na defesa da educação CTS, pode-se usar o argumento de que a heterogeneidade das práticas se explica porque seus propósitos são tantos que seu desenvolvimento depende muito da ênfase em um ou outro objetivo. Os argumentos foram utilizados para relativizar a importância do movimento CTS, mas a diversidade mostra muito mais a sua vitalidade do que sua debilidade. Mas, para além das críticas, cabe dizer que os currículos e livros-texto continuam ignorando a maioria das questões básicas necessárias para o enfoque CTS, enfoque esse capaz de facilitar uma alfabetização científica e tecnológica para todos; isso impede qualquer desenvolvimento que parta da sociedade ou da vida cotidiana para chegar à Ciência ou à Tecnologia.
Aula 17
Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Objetivos:
• Caracterizar as duas abordagens de investigação: concepções alternativas e mudanças conceituais.
• Identificar as concepções alternativas e as mudanças conceituais como campos de pesquisa em ensino de Ciências.
• Avaliar as concepções alternativas e as mudanças conceituais como contribuição à prática docente.
O ENFOQUE CTS E A PESQUISA SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS
A alfabetização científica e tecnológica é importante, seguramente por dois motivos. Primeiro, pela satisfação pessoal de deter um conhecimento; segundo, pelo fato de possibilitar a cada indivíduo a capacidade de apresentar suas críticas às realizações sociais e melhor desempenhar suas atividades profissionais.
Qual a importância da alfabetização científica e tecnológica? Você pode valorizá-la, porque através dela é possível implementar uma educação que constitua indivíduos capazes de:
• entender a realidade em que vivem;
• situar-se no mundo de forma ativa;
• ler um texto de divulgação científica de forma crítica;
• avaliar as questões de ordemsocial e política, implícitas nas inovações e avanços da sociedade.
O ensino de Ciências se baseava na transmissão de conteúdos científicos, sem oferecer aos estudantes oportunidades para reflexões e questionamentos. Por mais antiga que seja a crítica de Paulo Freire à educação bancária, o trabalho pedagógico em geral ainda mantém essa linha de referência e, no caso das Ciências Naturais, o professor pretende transmitir aos seus alunos os conhecimentos produzidos pela Ciência ao longo da história da humanidade. Ao aluno resta a obrigação de assimilar e reproduzir os conteúdos mecanicamente.
O conhecimento surge das relações produzidas no ambiente natural, social, cultural e histórico. E, nesse contexto, o que hoje se preconiza é que o ensino de Ciências deve permitir ao aluno a compreensão dos resultados da produção científica; isso sem perder de vista que o conhecimento científico não é uma verdade única e inquestionável, mas um saber que pode permitir ao aluno ampliar as concepções prévias que ele próprio traz para a escola.
Desde os anos de 1970, as pesquisas no ensino de Ciências acumularam discussões que fortalecem duas abordagens de investigação:
1) as concepções alternativas, espontâneas ou prévias dos alunos e também dos professores sobre tópicos referentes às Ciências; 
2) a mudança conceitual.
A abordagem que se ocupa das investigações sobre as concepções alternativas, espontâneas ou prévias dos alunos e dos professores surgiu de estudos que passaram a se preocupar com a melhor compreensão dos “erros” ou das respostas “erradas” dos alunos, quando se confrontam com questões relacionadas ao conhecimento científico. Por conseqüência, nas décadas entre 1980 e 1990, essas investigações levaram aos questionamentos sobre os procedimentos mais adequados à mudança desses conceitos “errados”.
O campo de pesquisa da mudança conceitual busca a elucidação dos mecanismos e variáveis envolvidas, quando se analisa o empreendimento de um indivíduo no processo de mudança; ou seja, quando ele parte de uma concepção alternativa ou espontânea para o domínio da concepção científica de um determinado conteúdo. Uma preocupação central do campo de pesquisas das mudanças conceituais se refere ao desenvolvimento de metodologias que envolvam os alunos nesse processo, o que implica a compreensão das duas abordagens: concepções alternativas e mudanças conceituais. Ambas, estão diretamente relacionadas.
CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS, PRÉVIAS OU ESPONTÂNEAS
Quando falamos de concepções alternativas, prévias ou espontâneas, estamos nos referindo a uma linha de pesquisa cuja produção indica que os alunos e os professores vêm para a escola com concepções prévias, que podem ser diferentes substancialmente dos conceitos a serem ensinados nas aulas de Ciências. O importante é destacar que essas idéias e conceitos não apenas influenciam a aprendizagem futura, como também, em algumas situações, podem oferecer resistência a mudanças.
MUDANÇA CONCEITUAL
Nesse campo de investigação, o foco central está na questão de como decifrar o processo pelo qual o aluno troca da sua concepção alternativa pelo conceito científico que, na maioria das vezes, é totalmente incompatível com aquela concepção prévia que ele possuía.
Segundo Diniz (1998), alguns estudiosos no assunto, tais como Posner, esboçaram um modelo para explicar esse processo, que se tornou uma referência básica para a investigação na área. Diniz (1998, p. 30-31) sintetiza as quatro condições do modelo para a mudança conceitual de Posner, afirmando que as novas concepções devem:
1. Questionar com os conceitos existentes: o aluno precisa viver situações em que mudanças pequenas não resolvam o seu problema, passando a necessitar de mudanças radicais.
2. Manifestar-se inteligível: o aluno deve ser capaz de construir uma representação coerente e com o significado da nova concepção.
3. Mostra-se plausível: o novo conceito deve ser capaz de resolver problemas.
4. Apresentar caráter frutífero: o conceito deve ser aplicável em outras situações.
CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS, MUDANÇA CONCEITUAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA
As contribuições fundamentais das concepções alternativas e da mudança conceitual, sem dúvida alguma, não estão em um receituário como prescrições previamente estabelecidas. Entretanto, elas abrem um leque de possibilidades para o trabalho docente ao priorizarem uma compreensão dos conceitos, das idéias de alunos e professores e sua articulação com os procedimentos didáticos mais adequados para envolver os alunos no processo de aprendizagem que favoreça a mudança.
Para trabalhar com as concepções alternativas dos alunos e pensar nas mudanças conceituais, antes de qualquer coisa é necessário desenvolver a atitude de pesquisa da própria prática no cotidiano escolar. Isso significa que você deve investigar essas concepções alternativas, pois elas não se encontram em manuais didáticos prontas para serem aplicadas. É um grande desafio. Nunca é demais lembrar que antes de pensar nas concepções de seus alunos, o professor deve se perguntar sobre suas próprias concepções.
Tomemos por exemplo a pesquisa de Jófili e Oliveria (2002). O estudo teve como objetivo investigar a possibilidade de promover a aprendizagem significativa dos conceitos de animal, inseto, dengue e medidas de prevenção contra o dengue. Foi realizado com crianças de 6 e 7 anos, alunos da primeira série do 1º Ciclo do Ensino Fundamental. A primeira verificação feita pelas pesquisadoras foi que os alunos tinham dificuldades de identificar inseto como animal. Além disso, apresentavam justificativas muito peculiares para o seu raciocínio. Eles diziam que insetos eram bichos pequenos que causavam doenças, enquanto animais eram bichos grandes. Apenas um grupo pequeno de alunos achava que insetos eram animais.
A orientação do trabalho foi que os alunos encontrassem semelhanças e diferenças entre todas as coisas que os cercavam. Depois, as atividades escolares seguiram na direção de explorar as características e definir as funções básicas realizadas pelos seres vivos que lhes dão qualidades distintas vitais. Assim, as crianças passaram a ter clareza que os objetos do ambiente explorado se enquadram nos grupos dos seres
vivos ou dos não-vivos. O próximo passo foi comparar os seres vivos para perceber as diferenças entre animais e vegetais. Assim, tornou-se mais fácil caracterizar os insetos como animais.
A pesquisa na área das concepções alternativas confere grande destaque à necessidade de auto-reflexão para alunos e professores, no sentido do exercício permanente de afastamento dos seus próprios conceitos para ser capaz de avaliá-los, localizando inadequações para atingir a mudança conceitual.
As concepções prévias são introdutórias, funcionam como suporte que os alunos já trazem para a nova experiência escolar. A compreensão do conhecimento científico é facilitada quando o professor busca as concepções prévias e estabelece relações diretas com a produção científica.
Dessa forma, se constrói uma aprendizagem significativa. Mas isso só ocorre quando a informação se apóia em conceitos preexistentes e relevantes para o aluno. No que se refere às práticas do professor no ensino de Ciências, as abordagens das concepções alternativas e da mudança conceitual trazem contribuições em dois níveis. O primeiro diz respeito aos processos didáticos, nos quais a exigência é de que o professor se aprofunde no conhecimento dos seus alunos sobre os conteúdos a serem trabalhados.
O segundo está na preocupação permanente do professor com a reflexão sobre sua prática pedagógica, levando-o, então, a refletir sobre seus conceitos de ensino, de aprendizagem e dos papéis de aluno e de professor, visando às mudanças ou às adaptações.
Aula 18
Ensino de Ciências na Educação Infantil
Objetivos:
• Valorizar as perguntas das crianças.
• Estimular a curiosidade da criança na tentativa de compreender o mundo.
• Incluir as propostas CTS para a o ensino de Ciências na Educação Infantil.
A RELAÇÃO ENSINO DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO INFANTIL
Nossa sociedade convive diariamentecom os artefatos produzidos pelo avanço científico e tecnológico. Diante desse fato, consideramos que todos os indivíduos necessitam compreender, discutir e refletir sobre as diversas inovações para se posicionar principalmente no que se refere às conseqüências para a vida das pessoas e do planeta. Não faz sentido que a Educação Infantil fique à margem dos questionamentos e propostas para a Educação em Ciências, principalmente considerando o enfoque CTS. pode parecer uma contradição, mas as ações educativas nas escolas não estão em sintonia com o que é preconizado pela pesquisa e, na maioria das vezes, o professor nem chega a ter conhecimento sobre ela, ou seja, a realidade segue em outra direção. Pesquisas nacionais denunciam que pouco se tem trabalhado na Educação em Ciências para a Educação Infantil, tanto em pesquisas científicas quanto nas práticas escolares. Outra pesquisadora apresenta questionamentos idênticos em artigo de divulgação científica. Rosa (2004, p. 9) declara sua indignação: "quais os obstáculos encontrados pelos professores das séries iniciais no ensino de Ciências – física? Esta questão decorre da observação de que, praticamente, não são desenvolvidas atividades relativas ao estudo da física na pré-escola" (grifos da autora).
Os trabalhos denunciam o mesmo fato em contraposição às investigações no ensino de Ciências, que recomendam que as crianças desde cedo tenham contato com a alfabetização científica e tecnológica. As orientações para se consolidar esse tipo de ensino na Educação Infantil repousam no fato de que as crianças dessa faixa etária são naturalmente curiosas, investigativas e observadoras. Entretanto, não é isso o que se efetiva na prática escolar. As temáticas do ensino de Ciências, freqüentemente, mantêm um caráter disciplinar, fragmentado, vazio de significados, repetindo o que já se observa ao longo de todo o Ensino Fundamental.
As pesquisas novamente nos chamam a atenção para a necessidade de prepararmos professores capazes de realizar práticas pedagógicas de Ciências de forma integrada com as demais áreas do conhecimento escolar. Assim, o professor da Educação Infantil deve assumir, nesse processo, o papel de mediador do conhecimento científico, ao selecionar e organizar práticas mais adequadas ao trabalho pedagógico.
AS CRIANÇAS, SEUS “PORQUÊS” E “COMO”
Na literatura pertinente ao ensino de Ciências, constitui uma referência unânime que o ponto de partida deve ser um tipo de Educação em Ciências fundamentado no caráter questionador, na argumentação, na observação e no espírito investigativo. Tais pressupostos são válidos para o Ensino Fundamental e se justificam ainda mais na Educação Infantil, pela fase de desenvolvimento da faixa etária dessas crianças. A metodologia mais adequada deve cultivar e estimular ainda mais a curiosidade da criança, tão conhecida e
bem caracterizada pelos constantes “porquês” e “como” que elas empregam na tentativa de compreender o mundo e as coisas que estão começando a descobrir.
Você pode convidar a algumas crianças a observar os fenômenos naturais, como a chuva, os rios, as marés, os vulcões, os terremotos ou a neve (mesmo sem terem visto); como elas conhecem as tecnologias modernas – os computadores, a televisão e o vídeo, os satélites, o raio laser, as radiografias etc. – com certeza você obterá respostas muito interessantes. Com base nos estudos de Fumagalli (1998), desde a Educação Infantil, tudo isso deve ser valorizado e estimulado, o que contribuirá para a formação de cidadãos com conhecimento sobre o mundo em que vivem e, portanto, com maior capacidade para exercer criticamente a análise sobre as conseqüências da Ciência e das tecnologias presentes no mundo moderno.
O exemplo da “experiência do feijãozinho”. O problema é que as aulas ministradas acabam, por vezes, valorizando a atividade experimental, mas repete a observação pela observação, como única forma de acesso ao conhecimento científico, banalizando um recurso tão importante para a Educação em Ciências Naturais. Outra questão séria que precisa ser enfocada é não fazer da atividade de Ciências uma eventualidade, que ocorre exclusivamente em determinadas datas do ano, perdendo a valorização específica da alfabetização tecnocientífica e o caráter interdisciplinar que tanto destacamos desde o início do nosso curso.
Há uma tendência do professor em buscar formas de explicações para os fenômenos naturais observados como relacionados ao “mágico”, ao “fantástico” ou ao “milagre”. Dessa forma, as crianças não encontram lógica nas respostas que estão sendo apresentadas para os seus “porquês”. Aliás, elas podem não ter conhecimento científico, mas isso não elimina seu raciocínio lógico e perfeito de acordo com o seu desenvolvimento físico e mental.
Parece difícil entender que simplificar a linguagem não significa apresentar explicações fantasiosas; é muito mais buscar respostas adequadas à linguagem e à capacidade de compreensão da criança, sem perder o compromisso com argumentos que estejam o mais próximo possível do conhecimento científico.
As crianças são curiosas e investigativas sobre o mundo em que vivem. As perguntas que formulam se referem a um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis. Quando chegam à escola, trazem uma experiência anterior na qual, pela interação com o meio natural e social, aprendem coisas sobre o mundo. Não podemos nos esquecer de que elas integram grupos socioculturais, neles vivenciam as mais diversas experiências construindo conceitos, valores, idéias, objetos e representações sobre temas da vida cotidiana. Essas construções, que devem nos orientar na busca de aprendizagens significativas, são exatamente as concepções alternativas, espontâneas ou prévias.
APRENDIZAGEM E CONCEPÇÕES ALTERNATIVAS
O Ministério da Educação divulgou em 1998 um documento sob o título Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, referente às creches, entidades equivalentes e escolas. Ele faz parte do conjunto de orientações que compõem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Todos esses documentos integram a iniciativa do Ministério de apresentar diretrizes que sirvam de orientação para a formulação dos currículos escolares. No que se refere ao conhecimento do mundo, o Referencial para a Educação Infantil propõe eixos de trabalho orientados para a construção das diferentes linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetos de conhecimento. Esses eixos são: Movimento, Música, Artes visuais, Linguagem oral e escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Ainda que seja apenas um guia de orientação
para subsidiar as discussões entre professores na elaboração de projetos educativos diversos, os Referenciais trazem sugestões importantes que você pode utilizar na prática docente.
É de grande valia observar que, no PCN, “Natureza e Sociedade” estão no conjunto das linguagens das Ciências Naturais, Sociais e Humanas a serem construídas pelas crianças. Sendo assim, esse eixo de trabalho congrega temas relacionados ao mundo social e natural, na intenção de as atividades ocorrerem de forma integrada, sem perder de vista as especificidades de cada conhecimento dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais.
Na realidade, os fenômenos naturais e sociais estão associados, mas apresentar o eixo de trabalho de maneira integrada não significa abandonar conceitos, fontes, abordagens e enfoques específicos de cada área do conhecimento. Esta é uma tarefa árdua do trabalho interdisciplinar: “as vivências sociais, as histórias, os modos de vida, os lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um todo integrado” (BRASIL. MEC, 1998, p. 163).
Uma criança diz que a mãe cuida do terçol esfregando a aliança num pedaço de lã. Não foi qualquer pessoa
que apresentou este conhecimento à criança, foi a sua mãe! Da mesma forma, os conhecimentos escolares transmitidos pelo professor têm um peso afetivo muito forte: foi a professora que ensinou, o que significa que não foi qualquer pessoa! A tarefa de identificação dos conhecimentosprévios é realmente difícil. A Educação Infantil exige mais ainda do professor. Mesmo no caso de crianças acima de quatro anos, elas ainda não atingiram plenas condições de verbalização desse conhecimento prévio, exigindo que o professor observe os gestos, os movimentos corporais, sons produzidos, expressões faciais e brincadeiras. Enfim, toda e qualquer forma de expressão e de representação passível de detectar o que a criança sabe e como sabe. Além da observação, o professor deve planejar atividades intencionais, em que esses conhecimentos prévios sejam expressos.
A valorização da curiosidade da criança associada ao trabalho pedagógico adequado desde a Educação Infantil contribuirá tanto para a construção dos conhecimentos científicos e tecnológicos quanto para a formação da criança como cidadã capaz de atuar nas decisões futuras na sociedade.
Aula 19
Atualidades no ensino de Ciências
Objetivos:
• Identificar a importância da divulgação científica feita pelos meios de comunicação.
• Analisar as reportagens de divulgação científica.
• Criticar as conseqüências da divulgação científica para o ensino de Ciências.
As descobertas científicas aparecem o tempo todo nos meios de comunicação. Todos os dias notícias relatam as descobertas de novos remédios, alertam sobre alimentos que causam doenças, divulgam esta ou aquela pesquisa e muito mais. As reportagens e matérias jornalísticas sobre descobertas e inovações da Ciência e da Tecnologia entram na nossa vida e nosso cotidiano sem pedir licença.
A CIÊNCIA ESTÁ NA MODA?
A divulgação científica nos meios de comunicação 
É provável que tenha acompanhado com muita curiosidade uma dessas notícias. Todas guardam em comum o fato de terem sido amplamente divulgadas pelos meios de comunicação – rádio, jornais, revistas, TV, internet. Hoje, as pesquisas científicas são apresentadas de forma corriqueira; quase todos os jornais têm uma seção específica dedicada a esse tema, e algumas revistas também. É rara uma edição de jornal televisivo que não apresente uma notícia científica. Pois, até bem pouco tempo atrás, as descobertas científicas ficavam restritas ao círculo dos cientistas. No Brasil, salvo alguns poucos pioneiros como JOSÉ REIS, a divulgação científica teve seu início na década de 1940 (Ciência Hoje on-line, 2004). Antes disso, o
pesquisador escrevia um livro ou um artigo para uma revista especializada e somente seus próprios colegas, também pesquisadores, tinham acesso a essa leitura. Poucos trabalhos fugiam a essa rotina.
Podemos destacar, como uma exceção, o livro de CHARLES DARWIN, Origem das espécies, publicado em 1849. A primeira edição, com 1.250 exemplares, esgotou-se no mesmo dia do lançamento! Podemos dizer que o trabalho de Darwin provocou uma verdadeira revolução, atingindo não só a Ciência, mas também o
modo de pensar de uma época.
A divulgação científica realizada pela grande mídia tem certos pontos negativos que devem ser observados. Por disputarem o espaço na grande imprensa com os demais assuntos e manchetes, as informações científicas sofrem um tratamento para se tornarem mais interessantes ao público. Dramatização, sensacionalismo, mistificação e banalização são formas utilizadas pela mídia para tornar as notícias mais atraentes, o que muitas vezes descaracteriza a pesquisa científica (BRAGA, 1998).
Meios de comunicação dedicados à divulgação científica. Existem meios de comunicação dedicados especialmente à divulgação científica. São jornais, boletins, revistas, programas de TV e sites que se ocupam em informar ao público leigo as novidades da Ciência. Esses meios têm, em geral, uma preocupação maior com a informação que estão veiculando, utilizando-se de uma linguagem específica, que se caracteriza por garantir facilidade na compreensão aliada ao compromisso com os conceitos científicos.
As publicações científicas, por apresentarem as pesquisas de forma didática e acessível ao público, são a melhor forma de divulgação dos resultados das pesquisas tecnocientíficas para a população leiga.
Por que as descobertas científicas estão nos meios de comunicação?
O apoio à pesquisa científica vem de financiamentos privados e públicos. O patrocínio privado é oriundo de laboratórios, fundações e empresas; a verba pública é viabilizada por órgãos governamentais. A divulgação de uma pesquisa é boa tanto para o pesquisador que a realizou, – pois dessa forma ele terá mais chances de conseguir um novo patrocínio – quanto para os órgãos financiadores. No caso dos financiadores públicos, por exemplo, é importante divulgar que a verba foi utilizada com sucesso, demonstrando que estão trabalhando corretamente. Para os financiadores privados, a vantagem é a possibilidade de divulgação da empresa ou dos produtos que ela comercializa (no caso dos laboratórios). Outros patrocinadores também apostam no marketing social ao anunciarem que estão financiando projetos de pesquisa.
A leitura de Costa (2004) explica um pouco mais sobre a relação entre a pesquisa brasileira e a divulgação científica. Como no Brasil a maior parte das pesquisas é financiada pelos órgãos públicos (por exemplo, no âmbito nacional, CNPQ, CAPES, FINEP; no estadual, FAPERJ, FAPESP, FAPEMIG), divulgar o resultado de um trabalho científico é um modo de prestar contas à sociedade da aplicação dos recursos. Isso cria uma certa cumplicidade de que tudo o que é investido acaba retornando em benefício da população. Por isso, é recomendado que o pesquisador explore modos de divulgar seu trabalho de maneira clara e precisa.
É igualmente bem-vindo que ele compartilhe o seu conhecimento em Ciência básica com jovens em idade escolar, assim como um atleta divide seu tempo ensinando sua prática em iniciativas voluntárias.
AS NOVAS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS NA VIDA COTIDIANA
Com certeza você deve se espantar a cada dia com uma nova divulgação científica veiculada nas manchetes de jornais ou nas chamadas dos noticiários da TV ou do rádio. A gripe do frango assusta a Ásia. De vez em quando, a gripe do frango volta às manchetes dos jornais. O vírus, que matou 24 pessoas em janeiro de 2004, ressurgiu em aviários na Tailândia, China e Vietnã em julho do mesmo ano. Ele é o H5N1, que pode ser transmitido das aves para os seres humanos, algumas vezes, com conseqüências fatais. O homem pode contrair a doença pelo contato com animais infectados vivos, e os sintomas são semelhantes a outros tipos de gripe: febre, mal-estar, dor de garganta, tosse e, em alguns casos, conjuntivite.
O vírus H5N1 foi localizado pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, e reapareceu em 2004, no sudeste asiático. Sempre que o vírus é identificado em criações avícolas, as autoridades determinam o abate dos animais imediatamente, para impedir a transmissão da doença. Ao contrário da gripe comum, o vírus da gripe do frango não é transmitido de pessoa para pessoa. Mas especialistas dizem que esse vírus está sofrendo mutações rápidas e pode adquirir a capacidade de transmissão entre humanos a qualquer momento.
As conseqüências econômicas foram desastrosas para os países asiáticos: o número de aves sacrificadas chegou a 100 milhões, e vários países suspenderam a importação de frangos dessas regiões. A Tailândia,
quarto maior exportador de frango do mundo, registrou oito mortes pela doença no início de 2004 e sacrificou 40 milhões de aves. 
Desodorante pode causar câncer
Muito recentemente, foi divulgado em jornais, revistas e na internet que o desodorante pode causar câncer de mama. A origem da novidade alarmante, principalmente para o Brasil, um país de clima predominantemente quente, foi uma pesquisa britânica que encontrou em tecidos de tumor mamário uma substância normalmente utilizada em desodorantes como conservante, o parabeno (alquil-4-hidroxibenzoato).
Os pesquisadores alertaram que, embora não houvesse provas que a relacionassem ao câncer, a utilização de desodorantes com essa substância deveria ser reavaliada (BBC Brasil, 2004). Entretanto, vários ONCOLOGISTAS, como o Dr. Carlos Gil Ferreira, vice-presidente da seção de PesquisasClínicas da Sociedade Brasileira de ONCOLOGIA Clínica, acharam que a pesquisa não é conclusiva. Segundo o médico, a pesquisa “gera uma hipótese que exige mais estudos” (OLIVEIRA, 2004). Mas os especialistas são unânimes em condenar o uso de desodorantes que bloqueiam o suor (os chamados antiperspirantes ou antitranspirantes), pois podem provocar alterações funcionais benignas, como irritações, abscessos e FOLICULITES nas axilas. “O uso de desodorantes que obstruem a glândula sudorípara pode causar infecções, por isso não recomendamos seu uso, e não por provocar câncer”, diz Diógenes Luiz Basegio, presidente da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de MASTOLOGIA (OLIVEIRA, 2004).
Células-tronco
Várias reportagens foram feitas sobre as células-tronco. Essas células, teoricamente, possuem a capacidade de se diferenciar de uma célula de qualquer tecido especializado. É essa capacidade que tem chamado a atenção dos cientistas. Muitas pesquisas mostram que as células-tronco podem recompor tecidos danificados e assim, teoricamente, tratar um infindável número de problemas, como alguns tipos de câncer, o mal de Parkinson, o mal de Alzheimer, doenças degenerativas e cardíacas ou, até mesmo, fazer com que pessoas que sofreram lesão na coluna voltem a andar.
Há uma grande polêmica sobre os estudos com as células-tronco devido à existência de dois tipos básicos dessas células: as de tecidos maduros, como as do cordão umbilical, e as originadas em embriões. As primeiras são mais especializadas e, por isso, só podem se transformar em alguns tipos de células, não sendo tão eficazes para a pesquisa quanto as de embriões, que podem se transformar em qualquer tipo de tecido.
Filme plástico
Em maio de 2004, vários jornais (O Dia, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo) divulgaram uma pesquisa do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz, concluindo que o filme plástico usado para embalar alimentos (filme de PVC) pode ser prejudicial à saúde. Estudos realizados com ratos de laboratório provaram que os dois aditivos químicos mais usados para dar flexibilidade ao PVC (DEHP e DEHA) contêm substâncias que podem causar câncer de fígado e problemas de fertilidade. Esses aditivos foram encontrados em quantidades até dez vezes superiores ao estipulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os alimentos mais afetados são os mais gordurosos, como o queijo, a carne bovina e o frango, por serem os que mais absorvem as substâncias prejudiciais. Ainda que não existam pesquisas relacionando o filme de PVC com a incidência de câncer em humanos, a divulgação serve como alerta. Isso não quer dizer que devemos parar de comprar alimentos embalados com o filme de PVC.
DE OLHO NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Conflitos entre as pesquisas científicas
Diante do volume de pesquisas divulgadas diariamente e considerando as informações conflitantes, nós, leigos, ficamos sem saber que atitude tomar. Uma hora uma coisa faz mal, mas em outro momento as pesquisas já dizem que não é bem assim. Você também vai recordar, as pesquisas na área revelaram nova descoberta de que existem dois tipos de colesterol: o mau colesterol (LDL) e o bom colesterol (HDL). O que se precisava era evitar os alimentos que aumentam a produção do mau colesterol e consumir os que aumentam a produção do bom colesterol.
Sabe-se que ele contém muitas substâncias importantes para o organismo, tais como proteínas e vitaminas, por isso é até recomendada a sua presença na alimentação, desde que sem exageros. Como o colesterol, outros temas também despertam polêmica e, de vez em quando, retornam ao foco das notícias: é o caso do café, da carne vermelha, dos exercícios físicos, entre outros.
Senso crítico
As frutas e legumes contaminados com agrotóxico são cancerígenos; a emissão de radioatividade dos telefones celulares também provoca essa doença; durante o processo de fritura de alimentos como batatas fritas produz-se uma substância cancerígena; morar em locais próximos a torres elétricas pode ser associado à incidência de câncer etc. Quando vemos pesquisas divulgando notícias como essas, ficamos alarmados e não sabemos o que fazer, não é?
Informação é a palavra-chave. Procurar fontes confiáveis e se certificar do que diz a pesquisa, realmente, é a melhor solução. Um mínimo de bom senso é necessário para acompanhar as pesquisas científicas. Não podemos ignorar as notícias que recebemos e que podem afetar as nossas vidas, mas é preciso pensar bem antes de tomar decisões que mudem os nossos hábitos. O caso dos alimentos que causam câncer é um exemplo.
Acompanhando as pesquisas com cuidado, podemos seguir algumas recomendações que fazem os riscos desaparecerem ou diminuírem bastante. Vejamos alguns exemplos: lavar bem os alimentos, deixá-los de molho, descartar a casca. Então, em vez de nos alarmarmos diante de uma pesquisa, vamos estudá-la com atenção. Pode ser um exagero da imprensa, uma pesquisa divulgada antes de chegar a uma conclusão definitiva ou ser, realmente, algo para nos preocuparmos, mas só saberemos se buscarmos fontes mais seguras de informação.
É importante observar que o levantamento e a discussão de algumas descobertas recentes da Ciência e da Tecnologia, feitos nesta aula, devem orientar a seleção de conteúdos de Ciências, exigindo de você uma atitude de pesquisa permanente. É importante, também, que você explore os diversos meios de divulgação científica.
Aula 20
Ciência e vida cotidiana
Objetivos:
• Relacionar Ciência e cotidiano.
• Explicar o processo científico para alguns acontecimentos do cotidiano.
UM MUNDO CERCADO DE CIÊNCIA POR TODO OS LADOS
Quando você coloca detergente na esponja e começa a lavar um prato engordurado, já teve curiosidade de saber como o detergente funciona? Você sabe que sem detergente (ou sabão) a gordura não sai, certo? Se não sabe, faça o teste. Tente lavar a louça somente com água e esponja. A gordura não se dissolve na água, por isso ela não sai apenas com água. A fórmula química do detergente (e a do sabão também) tem uma parte que se dissolve na gordura (LIPOSSOLÚVEL) e uma que se dissolve na água (HIDROSSOLÚVEL). Assim, o detergente e o sabão se ligam, ao mesmo tempo, à água e à gordura, permitindo que a gordura seja retirada do prato.
A Ciência deixa de ser uma matéria da escola sem nenhuma relação com a nossa vida para ser algo próximo a nós.
A CIÊNCIA POR TRÁS DO COTIDIANO
Por trás de nosso cotidiano, existem muitas coisas interessantes que podem ser desvendadas. Vejamos algumas delas, que citamos no início da aula:
• os relâmpagos e trovões;
• o bicho da goiaba;
• o copo gelado “suando”;
• o abastecimento de água na nossa casa;
• o sal da água do mar.
Relâmpagos e trovões
A chuva ainda não chegou, mas você sabe que ela está vindo porque ouve a trovoada. Um pouco antes de ela cair, já é possível ver os relâmpagos riscando o céu. Relâmpagos são descargas elétricas intensas que ocorrem na atmosfera, podendo provocar vários acidentes graves, inclusive mortes. Entretanto, na maioria das vezes, esse fenômeno da Natureza apenas assusta.
A maior parte dos relâmpagos ocorre em associação com nuvens de tempestade, embora outros tipos de nuvens possam produzi-los, mas isso não é freqüente. As nuvens de tempestade são diferentes porque são mais extensas, no sentido vertical, e apresentam fortes correntes verticais de ar. A formação de nuvens de tempestade depende de muitos fatores, entre eles a umidade do ar e o grau de instabilidade da atmosfera.
As nuvens de tempestade são mais comuns em regiões tropicais e equatoriais durante o verão. Ainda não se sabe muito bem como essas nuvens se tornam carregadas. Entretanto, é fato que cargas intensas são produzidas em seu interior, e elas originam os relâmpagos.
Os relâmpagos duram cerca de um terço de segundo, e a corrente gerada é de aproximadamente de 30 mil ampères. Para você ter uma idéia, isto significa cerca de mil vezes a corrente do chuveiro elétrico da sua casa! A descarga elétrica de um relâmpago passa por um canalque possui alguns centímetros de diâmetro e um comprimento médio de três quilômetros. Nesse canal, a temperatura pode chegar a cinco vezes a da superfície do Sol.
Bicho da goiaba
“O que é pior do que encontrar um bicho na goiaba? É encontrar meio bicho.” Esta piada pode causar uma certa repulsa, mas fala de um assunto interessante. Você olha para aquela goiaba bonita e apetitosa, ela está aparentemente perfeita, sem nenhum buraquinho, mas quando você dá uma mordida, lá está aquele bichinho indesejável. De onde ele veio? O miolo da goiaba se transformou em bicho? Na verdade, foi um INSETO que colocou um ovo pequenininho sobre a casca da goiaba. Desse ovo, que ninguém viu, se desenvolveu uma larva, que fez um buraco minúsculo na goiaba, um buraco tão microscópico que não conseguimos vê-lo a olho nu. É a larva do inseto, popularmente chamada de bicho da goiaba. Durante muito tempo, as pessoas acreditavam (e algumas acreditam até hoje) que a goiaba se transformava em bicho.
Copo gelado “suando”?
Num dia de calor, nada melhor do que tomarmos muitos copos de uma bebida gelada, não é mesmo? Água, refrigerante, suco de fruta, não importa, todos querem que esteja gelado. Enquanto tomamos nossa bebida gelada, vamos observar o copo que seguramos. Note que ele está “suado”. Ele “sua” tanto que até molha a toalha da mesa. É por isso que as donas de casa mais exigentes com seus móveis usam os descansos de copos.
Arco-íris
Quem nunca viu um arco-íris? O arco-íris é um arco multicolorido que aparece no céu quando o sol volta depois da chuva. Ele é formado porque o céu ainda está cheio de gotinhas de água. Quando os raios do Sol passam por elas, sua luz se divide nas sete cores que a compõem. É o fenômeno de decomposição da luz.
Como a água chega até nossa casa?
Depois que a água chega na cisterna, na maioria das casas, é preciso usar uma bomba para jogar a água na caixa-d'água. Mas para chegar até nossa casa, a água não gasta nenhuma energia. Por que será que isso acontece? O abastecimento de água nas cidades é feito obedecendo ao princípio dos vasos comunicantes. A água é acumulada nos reservatórios e bombeada para caixas-d'água muito grandes (reservatórios centrais), localizados na parte mais alta da cidade. A partir daí, através de um sistema de canos, válvulas, caixas e torneiras, temos água nas pias, tanques, chuveiros etc.
Por que a água do mar é salgada?
A água do mar é salgada porque existem nela muitas substâncias dissolvidas. A maior parte delas são sais minerais: 77% de cloreto de sódio (o sal de cozinha que você conhece bem) e 11% de cloreto de magnésio,
que dá o sabor meio amargo da água do mar. Para explicar a composição salina do mar temos que voltar muitos anos no tempo, chegando ao início da formação do planeta. A água do mar é salgada porque rochas do interior da Terra foram expelidas durante erupções vulcânicas. Quando as rochas esfriaram, liberaram água e outras substâncias, inclusive os sais. Calcula-se que os oceanos ganharam a constituição que conhecemos hoje cerca de bilhões de anos atrás. Há pelo menos 100 milhões de anos o sistema oceânico se mantém estável, com a mesma composição química, ou seja, o mar é salgadinho do jeitinho que você conhece há muito tempo. O que chega aos oceanos pelos rios e pelas chuvas volta para a atmosfera por evaporação, retorna aos continentes ou vai para o fundo.
POR QUÊ? POR QUÊ? POR QUÊ? A CURIOSIDADE DAS CRIANÇAS
Quem convive com crianças pequenas sabe que elas têm uma curiosidade natural e vivem insistindo nos “porquês” e “como” de tudo que vêem e ouvem ao redor. Alguns pesquisadores acreditam que a escola é a responsável por essa perda desastrosa. Ela torna as crianças receptoras passivas frente ao conhecimento que recebem e ao próprio mundo que as cerca. Algumas dessas crianças, quando adultas, tornam-se professores e passam a ensinar do mesmo jeito que aprenderam, seguindo o mesmo procedimento a que foram submetidas e matando (literalmente) a curiosidade de seus alunos. Como foram passivos a vida toda, esses professores não conseguem identificar quando ensinam conceitos errados, ainda que sejam de fácil verificação.
CIÊNCIA ESCOLAR E COTIDIANO
Lembre-se de que formar cidadãos críticos numa sociedade em que o conhecimento científico e tecnológico é cada vez mais valorizado é uma das justificativas para o ensino de Ciências. Além disso, os PCNs preconizam que o papel do ensino das Ciências Naturais é colaborar para a compreensão do mundo e suas transformações (BRASIL, MEC, 2000). Sendo assim, o ensino de ciências não pode ser algo restrito à sala de aula. Ele precisa ter um significado social. Uma forma de dar significado ao ensino de Ciências é este que nós estamos vendo nesta aula, descobrindo os mecanismos científicos por trás do nosso dia-a-dia. Com isso, compreenderemos como funcionam as coisas à nossa volta.
Aula 21
Biotecnologia e o admirável novo mundo da Engenharia e da Biologia
Objetivos:
• Identificar os principais temas abordados em pesquisas relativas à Biotecnologia.
• Compreender a inter-relação entre as diversas áreas da Biotecnologia.
É realmente admirável o novo mundo que está sendo desenhado a partir dos avanços da Biotecnologia. Essas conquistas resultam de pesquisas sobre células tronco, animais clonados, biomateriais, alimentos transgênicos etc.
BIOTECNOLOGIA
BIOTECNOLOGIA refere-se às técnicas que utilizam organismos vivos ou partes deles para a criação ou modificação de produtos, melhoria genética de vegetais e animais e, ainda, para o desenvolvimento de microorganismos específicos visando à produção de determinados produtos como medicamentos, por exemplo. A Biotecnologia utiliza conhecimentos de áreas diversas como Biologia Molecular, Biologia Celular, Engenharia Genética etc. 
TIPOS DE PESQUISAS QUE DIZEM RESPEITO À BIOTECNOLOGIA
Os estudos científicos compreendidos no campo da Biotecnologia são:
• células-tronco;
• clonagem;
• genoma humano, de plantas e de animais;
• alimentos transgênicos;
• Engenharia Genética etc.
Utilização da Biotecnologia
As terapias e os produtos desenvolvidos pela Biotecnologia são aplicados em áreas diversas como a Agropecuária, a Medicina, a Farmacologia, o meio ambiente, a energia e o próprio campo da pesquisa científica. Atualmente, negócios milionários envolvem aplicações práticas de conhecimentos biotecnológicos, como a produção de alimentos transgênicos, a produção de novos medicamentos, o uso de sêmen e óvulos de animais da mesma raça, o uso de combustíveis de fontes renováveis nas frotas de veículos etc.
Engenharia Genética
Engenharia Genética pode ser definida como o conjunto de técnicas capazes de permitir a identificação, manipulação e multiplicação de G E N E S dos organismos vivos. É um termo empregado para descrever certas técnicas modernas na área de Biologia Molecular, com finalidades médicas e/ou industriais.
Breve histórico da Genética
Caracterização da Engenharia Genética
A Engenharia Genética possibilita a manipulação do DNA que existe nas células dos seres vivos e a recombinação dos genes, alterando-os ou adicionando outros de diferentes origens, o que gera novas formas de vida.
Essa área da Ciência torna possível também a concretização de uma série de sonhos antigos como: a criação de seres clonados (copiados); o mapeamento de seqüências do genoma das espécies animais, incluindo o ser humano (genoma humano), e das espécies vegetais. Favorece ainda o desenvolvimento da terapia genética, ou seja, o tratamento de doenças hereditárias como o mal de Parkinson e mal de Alzheimer.
Projeto Genoma Humano
O Projeto Genoma Humano consiste no estudo detalhado de toda a estrutura genética do ser humano. Significou uma revolução na Medicina moderna, graças às possibilidades que ele traz consigo no que diz respeito ao diagnóstico antecipado, à prevenção e ao tratamento de doenças incuráveis. Esse monumental projeto de mapeamento do DNA humano custou, aproximadamente, 3 bilhões de dólares e reuniu um consórcio de instituições de pesquisa espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil.A conclusão do Projeto Genoma Humano foi comemorada com muito entusiasmo pela comunidade científica internacional, pois significa a concretização de um dos mais importantes sonhos da Ciência. Esse trabalho constitui o marco inicial de uma nova era de avanços na Biologia e na Medicina.
Utilização da Engenharia Genética
Atualmente, é crescente o uso da Engenharia Genética no desenvolvimento de produtos indispensáveis ao homem, e talvez você não tenha percebido isso ainda. Listaremos, a seguir, as principais aplicações:
• melhoria da qualidade de vacinas conhecidas;
• produção artificial de substâncias originalmente fabricadas pelo corpo humano, como a insulina e o hormônio de crescimento;
• produção de antibióticos de forma mais econômica ou que antes não existiam;
• cultivo de plantas mais resistentes aos pesticidas, às doenças e aos predadores e com melhor qualidade nutricional.
CÉLULAS-TRONCO
As células-tronco são generalistas. Elas têm a importante capacidade de se transformarem nos mais diversos tipos, desde células dos ossos, dos músculos ou da pele, até células complexas como as do cérebro e as do coração.
Conhecendo as células-tronco
As células-tronco encontradas em embriões humanos, cinco dias após a fertilização, formam um conjunto de cerca de 100 células. Aquelas que se encontram na camada externa do embrião formam a placenta e outros órgãos necessários ao pleno desenvolvimento da nova vida no útero materno. Já as células existentes no interior do embrião formam, por sua vez quase todos os tecidos do corpo humano. São elas as células-tronco utilizadas em pesquisas científicas.
O corpo de um ser humano adulto também possui células-tronco, como as que se encontram na medula óssea. Essas células podem apenas se multiplicar e não se diferenciar, sendo mais utilizadas para repor a medula óssea destruída pelo tratamento de doenças graves como os diversos tipos de câncer.
Utilizações das células-tronco
As células-tronco estão sendo utilizadas em pesquisas científicas relacionadas a doenças como: mal de Alzheimer, mal de Parkinson, acidente vascular cerebral, enfarte, doenças do sangue (leucemia) e da medula óssea, câncer etc.
Obstáculos à pesquisa
A produção de células-tronco em quantidades suficientes para aplicação terapêutica é limitada e onerosa em laboratório. São utilizadas células provenientes do cordão umbilical de crianças recém-nascidas e de fetos humanos abortados, bem como embriões armazenados em clínicas especializadas em fertilização humana. Nesse sentido, questões de ordem ética, religiosa e econômica têm dificultado a disseminação dessas pesquisas e a maioria dos países do mundo ainda não regulamentou o uso das células-tronco.
CLONAGEM
A palavra clone é derivada do grego klon, que significa broto, e pressupõe a existência de um indivíduo gerado a partir de reprodução assexuada. Um ser vivo (microorganismo, vegetal ou animal), gerado a partir de células ou fragmentos de uma mesma matriz celular, por meio de reprodução assexuada, constitui uma clonagem, ou seja, uma cópia geneticamente idêntica. Esse processo ocorre artificialmente, através do emprego de técnicas médico-científicas.
Caraterização da clonagem
A clonagem é realizada em laboratório a partir da retirada do núcleo da célula, que é transferido para outra célula desprovida de núcleo; posteriormente, essa nova célula é transferida para um indivíduo, conhecido como barriga de aluguel. O primeiro animal clonado foi a ovelha Dolly, na Grã-Bretanha, em 1997.
ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS (OGM)
Organismos transgênicos são seres vivos, obtidos através de uma nova tecnologia biológica (Biotecnologia) denominada transgênese ou transgenia, a qual consiste numa manipulação genética que adiciona um gene estranho (animal ou vegetal) ao genoma (conjunto dos genes de uma espécie) de um determinado ser vivo.
A legislação sobre transgênicos
O efeito de produtos transgênicos sobre a saúde humana e o ambiente ainda é objeto de debate acalorado entre pesquisadores, governos e sociedade. O Brasil, desde 1995, vem implantando leis que monitoram as pesquisas, o manuseio, o plantio e a comercialização dos transgênicos. Uma lei definitiva a respeito da liberação da produção e comercialização de OGM ainda não foi aprovada pelo Congresso brasileiro até o momento.
Caracterização dos OGM
Alguns cientistas, após inúmeras pesquisas sobre transgenia, encontraram uma forma de alterar a estrutura molecular das plantas, enriquecendo-as com genes de outras plantas ou até mesmo de bactérias, buscando novos alimentos com maior concentração de nutrientes ou mais resistência à ação das pragas, por exemplo.
A partir dessa nova tecnologia, é possível introduzir um gene humano em vírus e bactérias ou em animais de pequeno e médio porte como ratos, porcos e peixes, assim como em espécies vegetais (milho, arroz, soja e trigo).
Utilidade dos transgênicos
A Engenharia Genética, técnica utilizada na criação de produtos transgênicos, representa um grande avanço da Ciência e da tecnologia no final do século XX. Ela pode trazer inúmeros benefícios para a população, desde que seja precedida de testes rigorosos que consigam garantir a segurança do produto final, como já vem acontecendo na fabricação de medicamentos, como a insulina. Os alimentos transgênicos constituem a principal conquista prática dos avanços da Engenharia Genética no que se refere aos OGM, e a expansão de sua produção tende a crescer cada vez mais.
Riscos
Os organismos geneticamente modificados (OGM) trazem alguns riscos para o meio ambiente e a saúde da população.
Riscos para o meio ambiente
A introdução de OGM na Natureza, especialmente os alimentos, pode gerar impacto no meio ambiente: com a presença de genes resistentes aos agrotóxicos, as pragas e as ervas daninhas poderão desenvolver maior resistência, potencializando sua agressividade. Isso pode causar um desequilíbrio nos ecossistemas, implicando aumento de agrotóxicos nos alimentos cultivados, o que acarreta prejuízos ainda maiores ao meio ambiente.
RISCOS PARA A SAÚDE HUMANA
• Aumento dos casos de alergia
Ao ser inserido um gene de um ser em outro, são formadas novas substâncias no organismo transgênico, como proteínas e aminoácidos. Sendo o organismo (modificado geneticamente) um alimento, seu consumo pode vir a desencadear uma série de processos alérgicos em parcelas da população susceptíveis às novas substâncias que o organismo traz consigo.
• Aumento de resistência aos antibióticos
Os cientistas, para terem certeza de que a modificação genética foi acertada, costumam inserir nos alimentos transgênicos genes marcadores, como os de bactérias. O consumo crescente desses alimentos pode conferir aos micróbios, que provocam doenças nos seres humanos, resistência a certos medicamentos, reduzindo ou anulando a eficácia dos remédios à base de antibióticos.
• Aumento das substâncias tóxicas
As plantas possuem substâncias tóxicas que são utilizadas para defesa de seus inimigos naturais, como os insetos. Micróbios também têm essas substâncias que matam os insetos. Entretanto, se o gene de uma das plantas ou de micróbios for utilizado em um alimento, é provável que o nível dessas toxinas aumente consideravelmente, causando algum mal ao homem, aos insetos benéficos e a outros animais.
O futuro do homem
O mundo surgido após a criação dos OGM traz consigo uma série de questionamentos acerca dos danos à saúde e ao meio ambiente, e da intensificação das pesquisas para a produção de novos organismos.
BIOMATERIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS
Os biomateriais são tecidos orgânicos que poderiam reconstruir órgãos do corpo humano. Desenvolvidos especificamente para implantes, eles podem ajudar os tecidos do corpo do homem a se regenerarem, e sua maior vantagem é serem totalmente inertes, não provocando reações do organismo. As próteses biônicas desenvolvidas hoje são capazes de detectar e decifrar os sinais transmitidos pelos neurônios envolvidos na movimentação de um membro do corpo humano. A Interface Cérebro-Computador (ICC) é uma tecnologiaque utiliza como base a leitura dos comandos motores do cérebro e seu direcionamento para a estimulação de músculos de membros paralisados e movimentação de uma prótese como, por exemplo, uma mão mecânica. A movimentação de próteses e membros faz-se através da detecção e interpretação dos sinais enviados pelo cérebro por sistemas eletrônicos. São esses sinais que permitem a movimentação do membro ou da prótese. A citada tecnologia ainda não consegue produzir movimentos naturais, mas os cientistas argumentam que brevemente isso será possível.
Utilização dos biomateriais e da ICC
O crescimento do número de indivíduos portadores de necessidades especiais, devido a acidentes de trânsito, a violência urbana, a ocorrência de conflitos armados (guerras) e a doenças, tem incentivado o desenvolvimento de pesquisas a respeito de elementos artificiais (próteses) que possam se conectar às diversas partes do corpo humano, recuperando parcelas consideráveis de suas funções, perdidas até então.
principais avanços nessa área.
Biomateriais
– Vidro bioativo: utilizado para preencher lacunas de um osso com defeito, estimulando o tecido a se regenerar com rapidez.
– Células humanas cultivadas em espuma porosa: utilizadas em próteses orgânicas.
Próteses biônicas
– Mão biônica, que consegue imitar o movimento das articulações das mãos humanas.
Interface Cérebro-Computador (ICC)
– Braços biônicos controlados por macacos hidráulicos.
– Cursor na tela do computador movimentado pelo pensamento.
Cyborg
As descobertas mencionadas podem trazer inúmeros benefícios a milhares de portadores de necessidades especiais que sofrem de paralisia ou se submeteram a cirurgia de amputação, por exemplo. Ainda é muito caro o custo do desenvolvimento dessas novas tecnologias, podendo chegar à cifra de milhões de dólares. Por isso, apenas grandes instituições, como a Agência Nacional de Espaço e Aeronáutica (Nasa) dos Estados Unidos, estão envolvidas diretamente nas pesquisas, pois os seus resultados têm aplicações práticas no campo aeroespacial. Os homens biônicos do futuro podem não ter a super força dos personagens da televisão, mas conseguirão mover membros paralisados ou próteses mecânicas graças à força do cérebro e à ajuda de mini-computadores.
Aula 22
Biopirataria nos trópicos
Objetivos:
• Identificar conceitos-chave relacionados à biopirataria.
• Verificar os prejuízos que a biopirataria tem causado ao país.
Existe, atualmente, uma nova modalidade de contrabando de espécies animais e vegetais, efetuado por indivíduos denominados biopiratas. Eles atravessam também os oceanos em busca de riquezas nos trópicos. A biodiversidade existente nessas regiões se transformou em milhões de dólares, graças ao desenvolvimento de produtos, frutos de pesquisas efetuadas em laboratórios bem distantes, nos países desenvolvidos do hemisfério norte.
Os biopiratas lembram os piratas do passado; as conquistas de riquezas minerais foram substituídas pela apropriação indevida de espécies da flora e da fauna, principalmente, de países em desenvolvimento. Na era da Biotecnologia, para desenvolvermos produtos alimentícios, farmacológicos, cosméticos etc. são necessárias poucas espécies de animais ou de vegetais que possam ser facilmente contrabandeadas e pesquisadas exaustivamente até a descoberta de novos produtos, que serão devidamente patenteados e comercializados.
DEFINIÇÃO
Biopirataria é o contrabando de diversas formas de vida, seja da flora ou da fauna, de um determinado país. Diz respeito também à apropriação e à monopolização de conhecimentos da população de uma certa região, onde predominam atividades econômicas relacionadas à exploração de recursos naturais. De acordo com o Dicionário Houaiss, biopirataria é a exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização internacional de recursos biológicos que contrariam a legislação internacional. O avanço da Biotecnologia, aliado à fragilidade das leis de proteção dos recursos genéticos, multiplicou as possibilidades desse tipo de comércio, tornando os países detentores de biodiversidade alvos fáceis para a biopirataria e a BIOGRILAGEM.
LEGISLAÇÃO
No Brasil, a legislação sobre biopirataria foi criada ao final da década de 1980. O artigo 225 da Constituição Federal/1988 trata do acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional das populações. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações.
§1° – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
II – Preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético (BRASIL, 1998).
A regulamentação dos recursos genéticos foi determinada pela Lei de Proteção Intelectual, de 1996 e pela Lei de Proteção a Cultivares, da década de 1990. A biodiversidade e os conhecimentos das populações nativas, por sua vez, são protegidos pela Medida Provisória 2.186 de 2001, que condiciona o acesso a recursos naturais à autorização da União e ainda prevê a repartição de benefícios entre as partes interessadas, se houver uso e comercialização dos produtos.
AS LEIS QUE REPRIMEM A BIOPIRATARIA
A legislação transcrita anteriormente demonstra a preocupação em preservar o patrimônio genético do país; na prática, contudo, ela pouco interfere nos mecanismos de retirada de organismos vivos, extratos químicos ou substâncias, através do tráfico internacional e da biopirataria. O combate à biopirataria depende também da existência de leis internacionais que tratem do tema. Especialistas concordam que sem a implementação de acordos e tratados que proíbam o registro e o patenteamento de recursos naturais que não tenham procedência esclarecida, a biopirataria prosseguirá e continuará sendo um grande negócio.
Até o início da década de 1990, o acesso aos recursos genéticos era livre, pois a biodiversidade era considerada um patrimônio da humanidade. Os países só começaram a ter direitos sobre seus recursos biológicos em 1992, quando assinaram a Convenção sobre Diversidades Biológicas (CDB) na Conferência do Rio de Janeiro (ECO 92). Após dez anos, em 2002, os países que elaboraram a CDB estabeleceram um acordo mundial para regulamentar os lucros gerados pelo patenteamento de conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais. Ficou estabelecido que uma parte dos lucros deve ser entregue às comunidades tradicionais que conhecem as propriedades medicinais das plantas e o restante se destinará ao país de origem.
Hoje, o debate trata da compatibilização da CDB com o Acordo sobre a Propriedade Intelectual da Organização Mundial do Comércio (OMC), conhecido como Trips. Esse acordo deveria incluir um dispositivo que privilegiasse a proteção dos conhecimentos tradicionais e dos recursos genéticos de um país. Entretanto, a proposta enfrenta resistência nos países desenvolvidos, que têm pesquisas mais desenvolvidas nas áreas de Biotecnologia e de Engenharia Genética, o que deve consumir, ainda, alguns anos de negociações multilaterais.
A iniciativa dos povos indígenas de reivindicar direitos sobre as riquezas existentes na Amazônia obteve grande repercussão. Em 2002, pajés e representantes de tribos brasileiras elaboraram uma carta a respeito dos direitos indígenas sobre a flora brasileira. Esses povos desejam a adoção de mecanismos internacionais de proteção do conhecimento indígena e o fim da biopirataria. O documento foi entregue à Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2002.
Não devemos também esquecer a figura lendária do ambientalista Chico Mendes, que representou como poucos a luta pelos direitos das populações tradicionais ao ambiente em que vivem há centenas de anos.
Convém não esquecermos outrossim o que está assinalado na lei que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente, em seu artigo 225: A Floresta

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