Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Empréstimos e Financiamentos Prof: Fernando Aprato 1. Introdução Tais contas registram as obrigações da empresa junto a instituições financeiras do País e do Exterior, cujos recursos são destinados para financiar imobilizações ou para capital de giro para ser aplicado na empresa. São operações financeiras que representam um Passivo Exigível para a empresa. Podem ser feitos para pagamento a curto prazo ou a longo prazo. Como regra geral, os empréstimos e financiamentos são suportados por contratos que estabelecem o seu valor, forma e época de liberação, encargos incidentes, forma de pagamento, garantias além de outras cláusulas contratuais. Os empréstimos distinguem-se dos financiamentos pelo fato de que estes representam um crédito vinculado à aquisição de determinado bem, podendo ter a intervenção de instituição financeira ou diretamente com o fornecedor do bem. Por outro lado, os empréstimos são concessões de crédito em espécie, sem vinculação específica, muito embora conste do contrato a finalidade do mesmo. 2. Registro da Obrigação O passivo deve ser contabilizado quando do recebimento dos recursos pela empresa, o que, na maioria das vezes, coincide com a data do contrato. No caso dos contratos com liberação do total em diversas parcelas, o registro do passivo correspondente deve ser feito à medida do recebimento das parcelas, ou seja, não se deve reconhecer um passivo cuja contrapartida ainda não se tenha recebido. Em relação ao montante a ser inicialmente registrado, o item 11 do Pronunciamento Técnico CPC 08 (R1) determina que ele deve corresponder ao seu valor justo, líquido dos custos de transação diretamente atribuíveis à emissão do passivo financeiro. 3. Encargos Financeiros Os encargos financeiros incluem não apenas as despesas de juros, mas todas as despesas (e receitas) incrementais que se originaram da operação de captação, como taxas e comissões, eventuais prêmios recebidos, despesas com intermediários financeiros, com consultores financeiros, com elaboração de projetos, auditores, advogados, escritórios especializados, gráfica, viagens etc. Assim, o Pronunciamento Técnico CPC 08 (R1), item 3, define: “Encargos financeiros são a soma das despesas financeiras, dos custos de transação, prêmios, descontos, ágios, deságios e assemelhados, a qual representa a diferença entre os valores recebidos e os valores pagos (ou a pagar) a terceiros.” Em conformidade com o referido Pronunciamento, o montante a ser registrado no momento inicial da captação de recursos junto a terceiros deve corresponder aos valores líquidos recebidos pela entidade, sendo a diferença para com os valores pagos ou a pagar tratada como encargo financeiro. Os encargos financeiros devem ser contabilizados como despesa financeira, período a período, conforme fluência do prazo, exceto no caso de encargos financeiros incorridos para financiamento de ativos qualificáveis, situação em que devem ser capitalizados. O Pronunciamento Técnico CPC 20 (R1), aprovado pela Deliberação CVM no 672/11, é obrigatório para as companhias abertas a partir de janeiro de 2011. Tal pronunciamento, em seu item 8, menciona: “A entidade deve capitalizar os custos de empréstimo que são diretamente atribuíveis à aquisição, construção ou produção de ativo qualificável como parte do custo do ativo. A entidade deve reconhecer os outros custos de empréstimos como despesa no período em que são incorridos.” No item 5, o referido Pronunciamento define ativo qualificável como “um ativo que, necessariamente, demanda um período de tempo substancial para ficar pronto para seu uso ou venda pretendidos”. O item 7 do mesmo Pronunciamento menciona que os seguintes itens podem ser considerados ativos qualificáveis: estoques, planta para manufatura, usina de geração de energia, ativo intangível, propriedade para investimento e plantas portadoras, desde que demandem tempo razoável para serem produzidos ou construídos. No Balanço Patrimonial, os Empréstimos e Financiamentos são compostos pelas seguintes contas: Passivo Circulante Empréstimos e Financiamentos de curto prazo ( - ) Custos a amortizar de curto prazo ( - ) Encargos financeiros a transcorrer de curto prazo Juros a pagar de Empréstimos e Financiamentos de curto prazo Passivo Não Circulante Empréstimos e Financiamentos de longo prazo ( - ) Custos a amortizar de longo prazo ( - ) Encargos financeiros a transcorrer de longo prazo Juros a pagar de Empréstimos e Financiamentos de longo prazo 4. Encargos Financeiros Prefixados ou Pós-Fixados Os empréstimos e financiamentos podem ser contratados na modalidade de juros prefixados ou pós-fixados. Essa diferenciação é relevante, já que influencia na forma de apuração dos encargos financeiros e, consequentemente, nos montantes que serão desembolsados para a liquidação da dívida. Assim, a forma de contabilização dos encargos financeiros também será diferente dependendo da modalidade do empréstimo. A principal diferença entre juros prefixados e juros pós-fixados é que, enquanto no primeiro caso as taxas de juros são previamente definidas e permanecem fixas durante todo o contrato, permitindo que o contratante conheça exatamente o valor que será pago, no segundo caso a taxa de juros é vinculada a índices de inflação ou outros indexadores, por exemplo, a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Assim, no caso de empréstimos com taxas pós-fixadas, o contratante fica exposto às variações do cenário econômico, como as possíveis oscilações na taxa de inflação. Em decorrência dessa diferenciação na forma de apuração dos juros do empréstimo, a contabilização dos encargos financeiros também é diferente. No caso de empréstimos contratados na modalidade pós-fixada, o valor dos encargos não é conhecido desde o início da operação, mas sim apenas no encerramento de cada mês ou período. Portanto, no encerramento de cada período a empresa deve apurar o valor do encargo financeiro incorrido no período e contabilizar como despesa financeira, tendo como contrapartida a conta de empréstimos e financiamentos. Na modalidade prefixada, os encargos são preestabelecidos em valor prefixado, sendo recebido pela empresa somente o líquido do empréstimo. Assim, a empresa pode registrar o valor total das parcelas que serão pagas no Passivo e reconhecer os encargos financeiros a transcorrer em uma conta redutora de empréstimos e financiamentos, chamada Encargos Financeiros a Transcorrer. Essa conta deverá ser apropriada posteriormente para despesa financeira à medida do tempo transcorrido. 5. Empréstimos e Financiamentos Pós-Fixados Nesse tipo de operação, o contratante assina uma nota promissória do mesmo valor que receberá em sua conta bancária como empréstimo. Nas operações de empréstimos e financiamentos com encargos financeiros pós-fixados, a empresa recebe no momento da operação o valor integral do empréstimo, isto é, o montante do empréstimo sem a dedução dos encargos financeiros referentes ao período de vigência do empréstimo. Os juros pós-fixados incidentes sobre os empréstimos e financiamentos são contabilizados pelo regime de competência, isto é, em função do tempo transcorrido. A empresa “XYZ” S/A, cujo exercício social coincide com o ano calendário, contratou um empréstimo pós-fixado em 01/01/2014 no valor de R$ 100.000,00, a uma taxa de juros composta pós-fixada em 12% a.a., que deverá ser pago em 31/12/2014. Registro da contratação no dia 01/01/2014 D – Banco Conta Movimento (Ativo Circulante) R$ 100.000,00 C – Empréstimos a Pagar (Passivo Circulante) R$ 100.000,00 Registro dos juros em 31/12/2014 D – Despesas Financeiras (Despesa) R$ 12.682,50 C – Empréstimos a Pagar (Passivo Circulante) R$ 12.682,50 Registro da liquidação em 31/12/2014 D – Empréstimos a Pagar (Passivo Circulante) R$ 112.682,50 C – Banco Conta Movimento (Ativo Circulante) R$ 112.682,50 6. Empréstimos e Financiamentos Prefixados São operações em queo devedor já sabe a despesa que terá que pagar ao credor. Nas operações de empréstimos e financiamentos com encargos financeiros prefixados, a empresa recebe no momento da operação o valor líquido do empréstimo, isto é, o montante do empréstimo no vencimento deduzido dos encargos financeiros referentes ao período de vigência do empréstimo. No Balanço Patrimonial, os encargos financeiros referentes ao período de vigência do empréstimo são registrados na conta encargos financeiros a transcorrer (ou juros passivos a transcorrer) que é uma conta de natureza devedora, classificada no Passivo, e que será apropriada para o resultado (despesa financeira) à medida que o tempo transcorrer. A empresa “XYZ” S/A, cujo exercício social coincide com o ano calendário, contratou um empréstimo em 01/10/2017 no valor de R$ 100.000,00, que deverá ser pago em 60 dias, a uma taxa de juros composta pós-fixada em 2% a.m. Registro da contratação no dia 01/10/2017 D – Banco Conta Movimento (Ativo Circulante) R$ 95.960,00 D – Juros a Transcorrer (Passivo Circulante - Redutora) R$ 4.040,00 C – Empréstimos a Pagar (Passivo Circulante) R$ 100.000,00 Registro da apropriação dos encargos financeiros em 31/10/2017 D – Juros Passivos (Despesa) R$ 2.000,00 C – Juros a Transcorrer (Passivo Circulante - Redutora) R$ 2.000,00 Registro da apropriação dos encargos financeiros em 30/11/2017 D – Juros Passivos (Despesa) R$ 2.040,00 C – Juros a Transcorrer (Passivo Circulante - Redutora) R$ 2.040,00 Registro da liquidação do contrato no dia do vencimento D – Empréstimos a Pagar (Passivo Circulante) R$ 100.000,00 C - Banco Conta Movimento (Ativo Circulante) R$ 100.000,00 Os juros a transcorrer ou encargos financeiros a transcorrer é uma conta de natureza devedora que tem origem nas operações de empréstimos e financiamentos com a cobrança antecipada de juros passivos, é uma conta retificadora do Passivo, que será apropriada ao resultado à medida que o tempo transcorrer. Os juros transcorridos correspondem a parcela dos juros a transcorrer que foram apropriados ao resultado proporcional ao tempo transcorrido. 7. Tratamento dos Encargos em Empréstimos e Financiamentos para Construção de Ativos Qualificáveis A entidade deve capitalizar os custos de empréstimo que são diretamente atribuíveis à aquisição, à construção ou à produção de ativo qualificável como parte do custo do ativo (CPC 20). Será considerado ativo qualificável, aquele que for adquirido ou constituído para suprir uma necessidade da empresa, e sua maturação demandará longo período. Podem ser considerados ativos qualificáveis: a) Estoques; b) Plantas Industriais de manufatura; c) Usinas de geração de Energia; d) Ativos Intangíveis; e e) Propriedade para Investimento. Os encargos financeiros têm como contrapartida conta de despesa, exceto no caso de ativos qualificáveis. Se, por exemplo, está sendo construído uma planta industrial, que necessita de recursos de financiamento para a sua fabricação, tendo juros embutidos no valor de R$ 150.000,00. D – Ativos em construção – encargos financeiros (AÑC – Imobilizado) 150.000,00 C – Financiamentos a pagar (PC ou PÑC) 150.000,00 8. Variações Monetárias e Cambiais A variação monetária, espécie de atualização monetária do dinheiro no tempo, não deve ser tratada como encargo financeiro. Enquanto dissemos que os encargos financeiros são compostos pelos juros e demais despesas incorridas e diretamente relacionadas à captação de recursos, a variação monetária se trata, tão-somente, de atualização da dívida, caso essa condição tenha sido acordada. Os empréstimos e financiamentos contratados em moeda corrente nacional podem ser corrigidos monetariamente com base nos índices previstos nos contratos. Já com relação aos empréstimos e financiamentos em moeda estrangeira, consoante o art. 184, II, da Lei n° 6.404/76, as obrigações em moeda estrangeira, com cláusula de paridade cambial, serão convertidas em moeda nacional à taxa de câmbio em vigor na data do balanço. Ou seja, do resultado dessa conversão de moeda estrangeira para a moeda nacional, temos o surgimento das variações cambiais que podem passivas ou ativas. A variação cambial passiva surge quando a moeda nacional desvaloriza-se em relação à moeda estrangeira e essa variação é tratada como despesa financeira (variação cambial passiva). A variação cambial ativa ocorre quando a moeda nacional valoriza-se em relação à moeda estrangeira e essa variação é tratada como receita financeira (variação cambial ativa). O registro contábil da atualização monetária deve ser feito a débito ou a crédito da conta atualizada, tendo como contrapartida contas de resultado, de variações monetárias ativas (receita) ou de variações monetárias passivas (despesa). Na hipótese de a moeda nacional se desvalorizar em relação à moeda estrangeira na qual foi realizado o negócio, as atualizações com base nas taxas cambiais geram variação monetária passiva (despesa) nas obrigações e variação monetária ativa (receita) nos direitos de crédito. Se, no período a que se referir à atualização monetária, a moeda nacional se valorizar diante da moeda estrangeira, o comportamento da variação monetária será ao contrário, isto é, os direitos geram variação monetária passiva e as obrigações geram variação monetária ativa. Para o cálculo das variações cambiais deverão ser utilizadas as taxas cambiais verificadas no fechamento do mercado do mercado de câmbio, no último dia útil do mês, que são fornecidas pelo Banco Central do Brasil – BACEN. ►Na atualização dos direitos de crédito, devem ser utilizadas as taxas de compra; e ►Na atualização de obrigações, devem ser utilizadas as taxas de venda; e Moeda Nacional em relação a Moeda Estrangeira Direitos taxas de compra Obrigações taxas de venda A moeda nacional DESVALORIZA-SE em relação a moeda estrangeira Varia Cambial Ativa Variação Cambial Passiva D – Empréstimos e Financiamentos a Receber (AC ou AÑC) C - Variação Cambial Ativa D - Variação Cambial Passiva C – Empréstimos e Financiamentos a Pagar (PC ou PÑC) A moeda nacional VALORIZA- SE em relação a moeda estrangeira Variação Cambial Passiva Varia Cambial Ativa D - Variação Cambial Passiva C – Empréstimos e Financiamentos a Receber (AC ou AÑC) D – Empréstimos e Financiamentos a Pagar (PC ou PÑC) C - Variação Cambial Ativa 9. Variações Cambiais na Aquisição de Matérias Primas Quando os bens importados (mercadorias ou matérias-primas) forem desembaraçados, será efetuado o registro no estoque do importador, mediante transferência do saldo final da conta transitória para a conta definitiva de Estoques, no Ativo Circulante. As mercadorias e matérias-primas importadas devem ser avaliadas mediante conversão da moeda estrangeira pela taxa de câmbio (valor de venda) vigente na data do desembaraço aduaneiro. As variações cambiais passivas ocorridas até a data do desembaraço aduaneiro serão registradas como custo na conta de "Importação em Andamento". A partir da data do desembaraço aduaneiro devem ser registradas como despesa operacional, mediante obediência ao princípio contábil da competência.
Compartilhar