Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MAT-230: Geometria e Desenho Geométrico I Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. Ricardo Bianconi 2o Semestre de 2001 1. Introdução: O objetivo desta disciplina é discutir os fundamentos da geometria eu- clideana (o quê e o porque das construções geométricas estudadas). Vamos fazer isto introduzindo definições dos vários objetos a serem estudados e postulados, que vão definir e restringir as pro- priedades de tais objetos e “regulamentar” as construções geométricas permitidas. Vai ser muito importante o estudo do Postulado das Paralelas (que diz que dada uma linha ` e um ponto P fora dela, então exite uma única linha passando por P e paralela a `). Desde os tempos de Euclides (em torno de 300 AC) até o século XIX, diversos matemáticos tentaram provar este postulado a partir dos outros. Estas tentativas foram extremamente frut́ıferas no sentido de se descobrirem várias construções geométricas importantes, bem como novas geometrias em que não vale o postulado. Estas novas geometrias é que permitiram Einstein formular a Teoria da Relatividade Geral (como ele mesmo reconheceu). Neste texto estão inclúıdos vários exerćıcios. Os desenhos explicativos irão surgir numa edição posterior deste texto. Convido os leitores a fazerem seus próprios desenhos, tentando entender o que está escrito. 2. Postulados de Incidência: Vamos começar definindo o contexto de nosso tra- balho. Uma geometria (plana) de incidência é um conjunto π que chamamos de plano, cujos elementos são chamados de pontos e com alguns subconjuntos de π chamados de linhas. Os postulados de incidência impõem as primeiras restrições sobre as linhas: Postulado 1: Dados dois pontos distintos P e Q, existe uma única linha contendo P e Q, que podemos denotar como ←→ PQ Postulado 2: Cada linha contém pelo menos dois pontos. Postulado 3: Existem pelo menos três pontos não colineares (ou seja, não numa mesma linha). Com isto ainda temos uma classe muito grande de possibilidades, inclusive geometrias finitas. Por exemplo, π = {A, B, C} um plano com três pontos, tendo como linhas `1 = {A,B}, `2 = {A,C} e `3 = {B,C}. É claro que valem os três postulados para esta geometria. Exerćıcio 1: Dada uma linha `, mostre que existe um ponto P fora de `. (Que postulados garantem isto?) 1 MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 2 Exerćıcio 2: Uma Geometria Projetiva Plana é uma geometria de incidência que também satisfaz mais dois postulados: cada linha tem pelo menos três pontos e, dadas duas linha distintas `1 e `2, existe um único ponto comum às duas linhas. Mostre que π = {A,B, C, D, E, F,G} com `1 = {A,B, C}, `2 = {A,D, E}, `3 = {A,G,F}, `4 = {C,G, D}, `5 = {C,F,E}, `6 = {B,G, E} e `7 = {B,D,F} é uma geometria projetiva. (Verifique se valem todos os postulados.) Exerćıcio 3: O plano da Geometria Anaĺıtica é o conjunto R2 dos pares ordenados de números reais. As linhas são as retas {(x, y) ∈ R2 : ax + by = c}. Mostre que esta é uma geometria de incidência. (Verifique se valem os postulados: para o primeiro, ache a equação da reta que passa pelos pontos P e Q em termos de suas coordenadas, verificando que a reta é única; para o segundo verifique que cada reta tem pelo menos dois pontos, dando exemplos particulares; dê exemplo de três pontos não colineares.) Exerćıcio 4: O plano da Geometria Hiperbólica é o conjunto H = {(x, y) ∈ R2 : y > 0}. As linhas são de dois tipos: verticais `a = {(x, y) ∈ H : x = a} ou arcos de circunferência `p,r = {(x, y) ∈ H : (x − p)2 + y2 = r2}. Mostre que esta é uma geometria de incidência. (Verifique se valem os postulados: para o primeiro, ache a equação da linha que passa pelos pontos P e Q em termos de suas coordenadas, verificando que é única; separe em dois casos, P = (a, b) e Q = (a, c), mesma abscissa e P = (a, b) e Q = (c, d) com a 6= c; para o segundo verifique que cada linha tem pelo menos dois pontos, dando exemplos particulares; dê exemplo de três pontos não colineares.) Exerćıcio 5: O plano de Moulton é o conjunto R2, com linhas das forma `a = {(x, y) ∈ R2 : x = a} (verticais), ou `m,b = {(x, y) ∈ R2 : y = mx + b}, com m < 0 (linhas retas de inclinações negativas) ou da forma `∗m,b = {(x, y) ∈ R2: y = 2mx + b, se x < 0 e y = mx + b se x ≥ 0}, com m ≥ 0, (linhas quebradas e de inclinacoes positivas quando passam pelo eixo Oy). Mostre que esta também é geometria de incidência. Exerćıcio 6: O plano “rasgado” é o conjunto π = {(x, y) ∈ R2: x < 0 ou x ≥ 1} e suas linhas são da forma {(x, y) ∈ π : ax + by = c}. Mostre que esta é uma geometria de incidência. 3. Postulado da Régua - Exemplos: Agora vamos restringir mais nossas ge- ometrias. Vamos impor que cada linha tem uma régua graduada, ou seja, a cada ponto da linha associaremos um número real (o número que aparece na régua, logo abaixo do ponto). Mais formal- mente: Postulado 4: (Postulado da Régua) Para cada linha `, existe (pelo menos) uma função f : `→ R bijetora, chamada de régua de ` (ou seja, f é uma regra que associa a cada ponto P de ` um único número real f(P ) e, dado um número real r ∈ R, existe um único ponto Q de ` associado a r, f(Q) = r.) É como se as linhas fossem traçadas com uma régua graduada (talvez um pouco torta, depen- dendo da geometria). A ponta do lápis em cada instante estará em cima de um ponto de ` e o número que aparece na régua nesse lugar é o valor associado ao ponto. Uma Geometria Métrica é uma geometria com régua graduada em que fizemos a escolha de uma régua para cada linha e usamos estas réguas para definir uma distância d(P,Q) = |f(P ) − f(Q)|, sendo f a régua escolhida para a linha ←→ PQ . MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 3 IMPORTANTE: Daqui em diante, todas as geometrias consideradas serão métricas, ou seja, as réguas já foram previamente escolhidas e uma distância compat́ıvel determinada. Exerćıcio 7: Na geometria anaĺıtica, dada uma reta ` de equação ax + by = c, escolhemos dois pontos arbitrários P = (x0, y0) e Q = (x1, y1) tais que √ (x1 − x0)2 + (y1 − y0)2 = 1; qualquer outro ponto R = (x, y) desta reta é determinado obtendo um número real t tal que (x, y) = (x0, y0) + t(x1−x0, y1− y0). Neste caso, definimos f(R) como o valor t obtido. No caso de R = P , temos que t = 0 e se R = Q, t = 1. Mostre que f é uma régua para `. Verifique que a distância entre os pontos U = (u1, v1) e V = (u2, v2) (definida a partir da régua) nesta geometria é d(U, V ) = dE(U, V ) = √ (u2 − u1)2 + (v2 − v1)2. Solução e/ou Sugestão: Primeiro vamos mostrar que para cada ponto (x2, y2) da reta ax+by = c existe um único t tal que (x2, y2) = (x0, y0) + t(x1 − x0, y1 − y0). Com isto, obtemos um sistema linear de duas equações a uma incógnita t{ (x1 − x0) t = x2 − x0 (y1 − y0) t = y2 − y0 e precisamos mostrar que tem uma única solução. Como P 6= Q, então ou x1 6= x0, ou y1 6= y0. No primeiro caso, podemos isolar t da primeira equação, obtendo t = (x2 − x0)/(x1 − x0). Dáı, substitúımos na segunda equação para ver se é um sistema posśıvel de resolver; usando a equação da reta ax + by = c, como x1 6= x0, a reta não pode ser vertical. Por isso, o coeficiente b 6= 0 e podemos isolar y em função de x, obtendo y = (c − ax)/b; assim temos que y2 = (c − ax2)/b e y0 = (c− ax0)/b. Portanto, substituindo t na segunda equação, temos (y1 − y0)t = (y1 − y0) (x2 − x0) (x1 − x0) = (x2 − x0) (y2 − y0) (x1 − x0) = −a b (x1 − x0) = y2 − y0, ou seja, o sistema é posśıvel e determinado e portanto tem uma única solução. No caso em que x0 = x1, devemos ter que y0 6= y1, e argumentamos de modo análogo. Agora, dado r ∈ R, precisamos mostrar que o ponto R de coordenadas (x3, y3) = (x0, y0)+r(x1− x0, y1 − y0) está na reta ax + by = c, ou seja, ax3 + by3 = c. Substituindo x3 por x0 + r(x1 − x0) e y3 por y0 + r(y1 − y0), e usando o fato que P e Q estão nesta reta, temos ax3+by3 = a[x0+r(x1−x0)]+b[y0+r(y1−y0)] = (1−r)(ax0+by0)+r(ax1+by1)= (1−r)c+rc = c, ou seja, R = (x3, y3) também está na reta. Para verificar a fórmula da distância, sejam r = f(U) e s = f(V ) os valores da régua correspon- dentes. Então U = (u1, v1) = (x0, y0)+r(x1−x0, y1−y0) e V = (v1, v2) = (x0, y0)+s(x1−x0, y1−y0) e d(U, V ) = |r−s|. Subtraindo as duas equações, obtemos (u1−v1, u2−v2) = (r−s)(x1−x0, y1−y0). Elevendo ao quadrado cada coordenada e somando as duas, temos (u1 − v1)2 + (u2 − v2)2 = (r−s)2[(x1−x0)2+(y1−y0)2] = (r−s)2, pois escolhemos P e Q de modo que (x1−x0)2+(y1−y0)2 = 1; tirando as ráızes quadradas, temos d(U, V ) = |r − s| = √ (r − s)2 = √ (u1 − v1)2 + (u2 − v2)2 que é o que queŕıamos mostrar. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 4 Exerćıcio 8: A Geometria do Taxista tem o plano e as linhas da geometria anaĺıtica mas com as réguas definidas por f(P ) = y se ` é uma reta vertical (de equação x = a) e (a, y) são as coordenadas de P e f(P ) = (1 + |m|)x se ` for uma reta não vertical, de equação y = mx + b, e (x, y) forem as coordenadas de P . Verifique que nos dois casos f é realmente uma régua. Verifique que d(P,Q) = |x1 − x0|+ |y1 − y0| nesta geometria, sendo P = (x0, y0) e Q = (x1, y1). Exerćıcio 9: Na geometria hiperbólica, dada uma linha da forma `a = {(x, y) ∈ H : x = a}, defino f(P ) = | ln(y)|, sendo que (a, y) é a coordenada de P , e para uma linha da forma `p,r = {(x, y) ∈ H : (x− p)2 + y2 = r2}, defino f(P ) = ∣∣∣∣ln(x− p + ry )∣∣∣∣ , sendo (x, y) as coordenadas de P . Mostre que em ambos os casos f é uma régua. No caso de `p,r, dado o número real t, o ponto P tal que f(P ) = t tem coordenadas (x, y) com x = p + r tgh (t) e y = r sech (t), sendo que tgh (t) = et − e−t et + e−t e sech t = 2 et + e−t Verifique que a distância nesta geometria é dada por d(P,Q) = | ln(d/b)| se P tem coordenadas (a, b) e Q tem coordenadas (a, d) (estão na mesma linha vertical) e por d(P,Q) = ∣∣∣∣ln(d(a− p + r)b(c− p + r) )∣∣∣∣ , se P tem coordenadas (a, b) e Q tem coordenadas (c, d), com a 6= c (estão na mesma linha `p,r). Exerćıcio 10: No plano de Moulton, definimos f : `→ R por f(P ) = y se ` é uma linha vertical (de equação x = a) e (a, y) são as coordenadas de P , f como na geometria anaĺıtica para `m,b com m < 0 e por f(P ) = { a √ 1 + 4m2 se a < 0 a √ 1 + m2 se a ≥ 0, sendo que P tem coordenadas (a, b) e está na linha quebrada `∗m,b = {(x, y) ∈ R2 : y = 2mx + p se x < 0 e y = mx + p se x ≥ 0} (com m ≥ 0). Verifique que f é régua e, neste caso, a distância entre P = (a, b) e Q = (c, d) é d(P,Q) = { dE(P, (0, p)) + dE((0, p), Q) se ac < 0 dE(P,Q) caso contrário, sendo que dE é a distância da geometria anaĺıtica (ou euclideana). Observe que a condição ac < 0 significa que os pontos P e Q estão em lados opostos do eixo Oy. Exerćıcio 11: No plano rasgado, definimos f : ` → R por f(P ) = y se ` é uma linha vertical (de equação x = a) e (a, y) são as coordenadas de P e por f(P ) = { a √ 1 + m2 se a < 0 (a− 1) √ 1 + m2 se a ≥ 1, MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 5 sendo que P tem coordenadas (a, b) e está na linha quebrada {(x, y) ∈ R2 : y = mx + p e x < 0 ou x ≥ 1}. Verifique que f é régua e, neste caso, a distância entre P = (a, b) e Q = (c, d) é d(P,Q) = { dE(P, (0, p)) + dE((1,m + p), Q) se a < 0 e c ≥ 1, ou c < 0 e a ≥ 1 dE(P,Q) caso contrário, sendo que dE é a distância da geometria anaĺıtica (ou euclideana). Observe que as condições a < 0 e c ≥ 1, ou c < 0 e a ≥ 1 significam que os pontos P e Q estão em lados opostos da faixa {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x < 1}, retirada de R2. 4. Relação de Ordenação de Pontos: Numa geometria métrica, podemos estabelecer uma noção de ordem entre os pontos de cada linha, emprestada da régua correspondente. Sejam P , Q e R três pontos de uma linha ` e seja f : `→ R sua régua. Dizemos que P −Q−R (Q está entre P e R) se f(P ) < f(Q) < f(R) ou f(R) < f(Q) < f(P ). Exerćıcio 12: Mostre que numa geometria métrica, dada uma linha ` e sua régua f : ` → R, então: (a) se A é ponto de ` e g, h : `→ R são definidas por g(P ) = f(P )−f(A) e h(P ) = −f(P )+f(A), então g e h também são réguas de ` compat́ıveis com a distância; (b) se k : `→ R é uma régua compat́ıvel com a distância, então existe um ponto A de ` tal que k = g ou k = h do item anterior; (c) se P −Q−R pela régua f então P −Q−R por qualquer outra régua g de ` compat́ıvel com a distância. Solução e/ou Sugestão: (a) Temos que mostrar que se P e Q estão em `, d(P,Q) = |g(P ) − g(Q)| = |h(P ) − h(Q)|. Sabemos que d(P,Q) = |f(P )− f(Q)|. Com isto, temos |g(P )− g(Q)| = |[f(P )− f(A)]− [f(Q)− f(A)]| = |f(P )− f(Q)| = d(P,Q) e |h(P )− h(Q)| = |[−f(P ) + f(A)]− [−f(Q) + f(A)]| = |f(P )− f(Q)| = d(P,Q), como queŕıamos mostrar. (b) Seja A em ` tal que k(A) = 0. Então, para cada ponto P de `, d(A,P ) = |k(P )− k(A)| = |k(P )| = |f(P )− f(A)|. Tirando os módulos, ou k(P ) = f(P )− f(A) = g(P ) ou k(P ) = −[f(P )− f(A)] = h(P ), como queŕıamos mostrar. (c) Suponhamos que f(P ) < f(Q) < f(R). Então, dado um ponto A de ` e subtraindo o número real f(A) de cada termo, temos f(P ) − f(A) < f(Q) − f(A) < f(R) − f(A), ou seja g(P ) < g(Q) < g(R); se multiplicarmos por −1, invertemos as desigualdades, obtendo −f(R) + f(A) < −f(Q) + f(A) < −f(P ) + f(A), ou seja h(R) < h(Q) < h(P ). Em ambos os casos, permanece a relação P −Q−R, como queŕıamos mostrar. Exerćıcio 13: Dados A e B dois pontos distintos de uma linha `, mostre que existe uma régua f de ` tal que f(A) = 0 e f(B) > 0. Exerćıcio 14: Mostre que se P , Q e R são pontos distintos de uma linha `, então: MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 6 (a) Se P −Q−R então R−Q− P ; (b) Exatamente um dos casos ocorre: P −Q−R, ou P −R−Q, ou Q− P −R; (c) se P −Q−R e Q−R− S, então P −Q− S e P −R− S; (d) P −Q−R se, e somente se, d(P,R) = d(P,Q) + d(Q,R). Solução e/ou Sugestão: (a) Se P −Q−R, então f(P ) < f(Q) < f(R) ou f(R) < f(Q) < f(P ) para a régua de `. Mas isto também se aplica para R−Q− P . (b) sendo os três pontos distintos, os valores f(P ), f(Q) e f(R) são distintos; estes admitem uma única ordem em R; se f(P ) < f(Q) < f(R) ou f(R) < f(Q) < f(P ), então nehuma das desigualdades restantes são posśıveis: nem f(Q) < f(R) < f(P ), nem f(P ) < f(R) < f(Q), nem f(R) < f(P ) < f(Q) e nem f(Q) < f(P ) < f(R). (c) se P − Q − R e f(P ) < f(Q) < f(R), como Q − R − S, a única possibilidade é f(Q) < f(R) < f(S) e portanto f(P ) < f(Q) < f(R) < f(S), donde decorre que P −Q− S e P − R − S; se f(R) < f(Q) < f(P ), como Q− R − S, a única possibilidade é f(S) < f(R) < f(Q) e portanto f(S) < f(R) < f(Q) < f(P ), donde novamente decorre que P −Q− S e P −R− S. (d) se P − Q − R, então f(P ) < f(Q) < f(R), donde decorrem as desigualdades 0 < f(Q) − f(P ) < f(R) − f(P ) e 0 < f(R) − f(Q), e d(P,R) = |f(P ) − f(R)| = f(R) − f(P ) = f(R) − f(Q)+ f(Q)− f(P ) = |f(R)− f(Q)|+ |f(Q)− f(P )| = d(P,Q)+d(Q,R); ou f(R) < f(Q) < f(P ), donde decorrem as desigualdades 0 < f(Q) − f(R) < f(P ) − f(R) e 0 < f(P ) − f(Q) e d(P,R) = |f(P ) − f(R)| = f(P ) − f(R) = f(P ) − f(Q) + f(Q) − f(R) = |f(P ) − f(Q)| + |f(Q) − f(R)| = d(P,Q) + d(Q,R), como queŕıamos mostrar. Para a rećıproca, suponhamos que d(P,R) = d(P,Q) + d(Q,R). Como os três pontos são distintos, as únicas ordens comp-at́ıveis com tal fórmula são f(P ) < f(Q) < f(R) ou f(R) < f(Q) < f(P ), pois, por exemplo, se f(R) < f(P ) < f(Q), então d(P,R) = f(P ) − f(R) < f(Q) − f(R) = d(Q,R) < d(Q,R) + d(P,Q). (Verifique as outras possibilidades.) Exerćıcio 15: Mostre que dados dois pontos distintos A e B numa linha `, existem pontos C, D e E de L tais que C −A−D e D −B − E. (Use uma régua de ` para obter tais pontos.) Exerćıcio 16: Verifique que se P = (−3, 3), Q = (1, 5) e R = (4, 4) estão em H, então P −Q−R na geometria hiperbólica. Exerćıcio 17: Verifique que se P = (−1,−3), Q = (0,−1) e R = (1, 0) então P − Q − R no plano de Moulton. (Ache m > 0 e b ∈ R taisque estes pontos estejam na linha `∗m,b.) Dados dois pontos distintos A e B, seja ` a linha que os contém. Definimos a semi-reta−−→ AB como sendo o conjunto {P ∈ ` : não vale P − A − B} e o segmento AB como o conjunto {P ∈ ` : P = A, ou P = B, ou A− P −B}. Observe que −−→AB = {P ∈ ` : P = A, ou A− P −B, ou P = B, ou A−B − P}. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 7 Exerćıcio 18: Mostre que se A e B são pontos distintos em uma linha `, mostre que exite uma régua f de ` tal que −−→AB = {P ∈ ` : f(P ) ≥ 0}. Exerćıcio 19: Mostre que se A e B são pontos distintos, então: (a) AB = BA; (b) −−→AB 6= −−→BA ; (c) AB = −−→AB ∩ −−→BA ; (d) se C ∈ −−→AB e C 6= A, então −−→AB = −−→AC ; (e) se C −A−B então −−→AB ∩ −−→AC é o ponto A. Solução e/ou Sugestão: (a) Observe que A− P −B é o mesmo que B − P −A. Olhe para a definição de segmento. (b) Mostre que existe um ponto C em −−→AB mas não em −−→BA . Sabemos que existe C tal que A−B − C (por quê?). Mostre que tal C serve. (c) Escreva o que significa P estar em AB e o que significa P estar em cada uma das semi-retas−−→ AB e −−→BA . (d) Escreva o que significa P estar em cada uma das semi-retas −−→AB e −−→AC e mostre que se está em uma, tem que estar na outra, e vice-versa. (e) Novamente, escreva o que significa P estar em cada uma das semi-retas −−→AB e −−→AC . 5. Congruência de Segmentos: Outra noção importante numa geometria métrica é a de congruência de segmentos: dizemos que AB ≡ CD (o segmento AB é congruente ao segmento CD) se d(A,B) = d(C,D). Exerćıcio 20: Mostre que d(A,B) ≥ 0 e d(A,B) = 0 se, e só se, A = B. Solução e/ou Sugestão: Seja f uma régua numa linha ` contendo A e B. Então d(A,B) = |f(B)− f(A)| ≥ 0 (por definição de valor absoluto). Se d(A,B) = 0, então f(A) = f(B) e, como f é uma função bijetora, isto implica que A = B. Reciprocamente, se A = B, então f(A) = f(B) e, portanto d(A,B) = 0. Exerćıcio 21: Mostre que ≡ é uma relação de equivalência, ou seja, mostre que valem as três propriedades que a caracterizam: (a) AB ≡ AB; (b) se AB ≡ CD então CD ≡ AB; (c) se AB ≡ CD e CD ≡ EF , então AB ≡ EF . Solução e/ou Sugestão: Use a definição de ≡ e as propriedades da igualdade. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 8 Exerćıcio 22: Mostre que se A e B são dois pontos distintos, então existe um único ponto C tal que A− C −B e AC ≡ CB (isto é, C é o ponto médio de AB. Solução e/ou Sugestão: Basta tomar uma régua f tal que f(A) < f(B) e tomar o ponto C na linha ←→ AB tal que f(C) = (f(A) + f(B))/2. (Por quê existe tal f e tal ponto C?) Exerćıcio 23: Mostre que se A e B são dois pontos distintos, então existem pontos C, D e E tais que A− C −D, D − E −B, e AC ≡ CD ≡ DE ≡ EB. Exerćıcio 24: Mostre que dados A e B distintos e um segmento CD, então exite um único ponto P em −−→AB tal que AP ≡ CD. Exerćıcio 25: Mostre que dados A e B distintos e um segmento CD, então exitem exatamente dois pontos P e Q em ←→ AB tais que AP ≡ CD e AQ ≡ CD. (Nos dois lados de A.) Exerćıcio 26: Mostre que dados A e B distintos e um segmento CD, então: (a) (Soma de segmentos) exite um único ponto P em −−→AB tal que A−B − P e BP ≡ CD. (Podemos dizer que AP é a soma do segmento AB com CD.) (b) (Diferença de segmentos) exite um único ponto P em −−→BA tal BP ≡ CD. (Podemos dizer que AP é a diferença entre os segmentos AB e CD.) (c) Mostre que dados A e B distintos e um segmento CD, exite uma régua f de ←→ AB tal que f(A) = 0, f(B) > 0 e f(P ) = f(B) + d(C,D), no caso da soma dos segmentos e f(P ) = f(B)− d(C,D), no caso da diferença dos segmentos. Solução e/ou Sugestão: Ache primeiro a régua f tal que f(A) = 0 e f(B) > 0 (exerćıcio anterior) e mostre que os pontos P tais que f(P ) = f(B) + d(C,D) ou f(P ) = f(B) − d(C,D) resolvem o problema. Dados três pontos não colineares A, B e C, definimos o ângulo ∠ABC como o conjunto −−→BA ∪−−→ BC . O ponto B é o vértice do ângulo. Exerćıcio 27: Dados três pontos não colineares A, B e C, mostre que (a) ∠ABC = ∠CBA; (b) ∠ACB 6= ∠ABC e ∠BAC 6= ∠ABC; (c) se P está em −−→BA , P 6= B e Q em −−→BC , Q 6= B, então ∠ABC = ∠PBQ. Solução e/ou Sugestão: (a) ∠ABC = −−→BA ∪ −−→BC = −−→BC ∪ −−→BA = ∠CAB; (b) ∠ABC = −−→BA ∪ −−→BC 6= −−→AB ∪ −−→AC = ∠BAC, etc. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 9 (c) decorrem do fato que −−→BA = −−→BP e −−→BC = −−→BQ . 6. Postulado de Separação do plano: Vamos introduzir agora mais um pos- tulado que restringirá mais as geometrias permitidas. Para isto precisamos definir alguns conceitos. Um conjunto A do plano é convexo se, para todos os pares de pontos P e Q em A, o segmento PQ está todo contido em A. Exerćıcio 28: Mostre que a interseção de dois conjuntos convexos é um conjunto convexo. Solução e/ou Sugestão: Sejam A e B convexos. Para mostrar que A∩B é convexo, precisamos tomar dois pontos arbitrários P e Q na interseção A∩B e mostrar que todos os pontos do segmento PQ etsão nesta interseção. Se P,Q ∈ A∩B, então P,Q ∈ A e, portanto, todos os pontos de PQ estão em A; mas P,Q ∈ B também, portanto todos os pontos do segmento PQ estão em B. Portanto PQ está contido em A ∩B. Exerćıcio 29: Mostre que são conjuntos convexos: (a) o plano todo e o conjunto vazio; (b) uma linha `; (c) uma semi reta −−→AB ; (d) uma semi reta −−→AB menos seu vértice A; (e) um segmento AB; (f) o interior do segmento AB (isto é, o segmento menos os pontos A e B). Postulado 5: (Postulado de Separação do plano) Dada uma linha `, existem conjuntos H1 e H2 (chamados de lados de `) tais que: (a) H1 e H2 são convexos; (b) H1 ∩ ` = ∅, H2 ∩ ` = ∅ e H1 ∩H2 = ∅ e cada ponto do plano está em H1, ou em H2 ou em `; (c) se P ∈ H1 e Q ∈ H2 então o segmento PQ intersecta a linha ` num ponto R. Exerćıcio 30: Mostre que numa geometria métrica satisfazendo o postulado da separação do plano os conjuntos H1 e H2 não são vazios. Solução e/ou Sugestão: Observe que o postulado não garante que H1 e H2 não sejam vazios; o item (c) apenas diz que se existirem pontos P ∈ H1 e Q ∈ H2 então etc. Para mostrarmos que existem tais pontos precisamos apelar para o postulado 3, que diz que existem pelo menos três pontos não colineares. Isto implica que deve existir pelo menos um ponto A fora de `. Então A deve estar em H1 ou H2. Digamos que esteja em H1. Precisamos mostrar que existe pelo menos MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 10 um ponto em H2. Para isto, seja B ∈ ` um ponto qualquer e seja C ∈ ←→ AB tal que A− B − C (tal ponto existe pelo postulado da régua). Como A 6∈ `, ` 6= ←→ AB e portanto C 6∈ `. Como o segmento AC encontra ` no ponto B e sendo H1 convexo, C 6∈ H1. Portanto C ∈ H2, ou seja H2 6= ∅. Exerćıcio 31: Mostre que nas geometrias anaĺıtica, hiperbólica, do taxista e do plano de Moulton vale o postulado da separação do plano. Solução e/ou Sugestão: Para cada uma delas, dada uma linha `, verifique que ela separa o plano em dois conjuntos H1 e H2; mostre que estes conjuntos são convexos; mostre que vale sempre o item (c). Este postulado tem conseqüências importantes. Para expô-las, definiremos algumas figuras geométricas. Um triângulo é um conjunto 4ABC = AB ∪ AC ∪ BC, a união de três segmentos determinados por três pontos A, B e C não colineares, chamados de vértices. Cada segmento AB, AC e BC é um lado do triângulo. Um quadrilátero é um conjunto �ABCD = AB∪BC∪CD∪DA, a união dos quatro segmentos determinados pelos pontos A, B, C e D (seus vértices), três a três não colineares. Cada segmento AB, BC, CD e DA é um lado do quadrilátero e os segmentos AC e BD são suas diagonais. Mais geralmente, um poĺıgono A1A2 . . . An = A1A2∪ . . . An−1An∪AnA1, e cada um destes segmentos é um de seus lados e cada ponto Ai (1 ≤ i ≤ n) seu vértice. Exerćıcio 32: Mostre que 4ABC = 4ACB e que �ABCD 6= �ACBD, ou seja, se o poĺıgono tem mais de três vértices,a ordem destes vértices é importante ao escrever A1A2 . . . An. Exerćıcio 33: Mostre que se vale o postulado da separação do plano: (a) dado o 4ABC, se ` é uma linha que intersecta o lado AB, mas A 6∈ ` e B 6∈ `, então ` intersecta (pelo menos) um dos outros dois lados; (b) dado o 4ABC, se ` é uma linha que intersecta o lado AB, A 6∈ `, B 6∈ `, C 6∈ ` e ` intersecta AC então ` não intersecta BC. Solução e/ou Sugestão: (a) Sejam H1 e H2 os lados de `. Como o segmento AB intersecta ` e A,B 6∈ `, então A e B estão em lados opostos de `. Podemos ter três situações: ou C ∈ ` e, neste caso AC intersecta `, ou A e C estão em lados opostos de ` e, também neste caso ` intersecta AC, ou A e C estão do mesmo lado de ` e, portanto B e C estão em lados opostos de ` e, portanto, ` intersecta o lado BC. (b) Suponhamos que ` intersecte os três lados do 4ABC, sem passar pelos seus vértices. Sejam P ∈ AB, Q ∈ AC e R ∈ BC os pontos de interseção de ` com o 4ABC. Podemos ter três casos, P−Q−R, ou P−R−Q, ou Q−P−R. Vamos apenas considerar o caso em que P−Q−R, deixando os outros como exerćıcio. Então os pontos A, P e R estão do mesmo lado de ←→ BC , pois, sa A e P estivessem de lados opostos, o segmento AP encontraria ←→ BC e o único ponto em que isto ocorreria só pode ser B. Mas isto implicaria que A−B −P , contradizendo o fato de que P ∈ AB. O mesmo tipo de racioćınio garante que R e A também não podem estar em lados opostos de ←→ BC . Como MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 11 cada lado de ←→ BC é convexo e P e R estão do mesmo lado, o segmento PR não poderia encontrar a linha ←→ BC no ponto Q. Esta contradição termina a prova. Exerćıcio 34: Mostre que a geometria do plano rasgado não vale o postulado da separação do plano. Solução e/ou Sugestão: Use o exerćıcio anterior, obtendo um triângulo 4ABC e uma linha ` que não intersecta seus vértices, mas intersecta apenas um de seus lados. Exerćıcio 35: Sem assumir o postulado da separação do plano, mostre que são equivalentes: (a) O postulado da separação do plano; (b) O Postulado de Pasch: Dados uma linha ` e um triângulo 4ABC, se D ∈ ` é um ponto tal que A−D −B, então ou ` intersecta AC ou ` intersecta BC. Solução e/ou Sugestão: Já provamos que (a) implica (b). Vamos mostrar que (b) implica (a). Alguns detalhes serão deixados aos leitores. Suponha (b). Seja P 6∈ ` (que existe pelo postulado 3) e definimos H1 = {Q : Q = P ou PQ ∩ ` = ∅} e H2 = {Q : Q 6∈ ` e PQ ∩ ` 6= ∅}. Então H1 ∩H2 = H1 ∩ ` = H2 ∩ ` = ∅, e todo ponto do plano ou está em ` ou em H1 ou em H2. Falta mostrar que H1 e H2 são convexos e que dados A ∈ H1 e B ∈ H2, o segmento AB intersecta `. Vamos mostrar que H1 é convexo. Para isto, sejam A,B ∈ H1, A 6= B, e suponhamos que A 6= P e B 6= P (os casos em que A = P ou B = P ficam para os leitores). Queremos mostrar que todos os pontos de AB estão em H1. Se A, B e P estão numa mesma linha ←→ AB , então ou A−B − P ou A − P − B ou B − A − P . Mostre que em nenhum destes casos, AB pode ter ponto nem de H2 e nem de `. Se A, B e P não são colineares, seja D ∈ AB tal que A − D − B. Sabemos que ` não intersecta nem AP e nem BP (por quê?). Se D ∈ ` então ` intersectaria AB, e por Pasch, deveria intersectar AP ou BP . Portanto D 6∈ `. Se D ∈ H2, então ` intersecta DP . Por Pasch, aplicado aos triângulos 4ADP e 4BDP , teŕıamos que ` intersectaria AP ou BP (por quê?), uma contradição. Portanto, todos os pontos de AB estão em H1. Vamos mostrar agora que H2 é convexo. Para isto, sejam A,B ∈ H2, A 6= B. Precisamos mostrar que todos os pontos de AB estão em H2. Novamente temos dois casos, a saber, A, B e P são colineares. Então ou A−B − P ou B −A− P . (Mostre que não pode ocorrer A− P −B.) Se A−B−P , pela definição de H2 existe um ponto R ∈ `∩BP , tal que B−R−P . Como ←→ AB = ←→ BP , o único ponto de encontro de ` com ←→ AB é R. Como A − B − R, os pontos de AB estão todos em H2 (por quê?). Suponhamos agora que A, B e P sejam não colineares. Consideremos o triângulo 4ABP . Pela definição de H2, ` intersecta ambos os lados AP , no ponto R e BP , no ponto S. Vamos mostrar que nenhum ponto de AB pode estar em `. Seja T ∈ AB, A − T − B. Se T ∈ `, podemos ter R− S − T , R− T − S ou S −R− T . Vamos considerar o caso R− S − T , deixando os outros dois para os leitores. Consideremos o 4ART , com a linha ←→ BP ; temos que ←→ BP 6= ←→ AT = ←→ AB e ←→ BP 6= ←→ AR= ←→ AP (pois A, B e P não são colineares); portanto ←→ BP não encontra nem AR e nem AT (por quê?); como encontra RT no ponto S, temos uma contradição ao postulado de Pasch. Aplicando Pasch aos triângulos 4ATP e 4TBP , temos que TP intersecta ` (por quê?) e, portanto T ∈ H2, pela definição de H2. Portanto H2 é convexo. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 12 Agora sejam A ∈ H1 e B ∈ H2. Precisamos mostrar que AB intersecta ` num ponto R. Se A = P , pela definição de H2, AB = PB intersecta `. Se A, B e P não são colineares, como BP intersecta ` e AP não intersecta ` (por quê?), por Pasch no triângulo 4ABP , AB intersecta ` num ponto R, como queŕıamos. Se A, B e P são colineares, como BP intersecta ` (pela definição de H2), seja R este ponto em comum. Temos que B − R − P e, como A ∈ ←→ BP , A ∈ H1, A 6= P , A 6= R e A 6= B, temos que, ou P −R−A (que não pode ocorrer, pois A ∈ H1, que é convexo), ou P −A−R, ou A− P −R, o que implica que AB encontra ` em R, como queŕıamos. Importante: Daqui em diante assumimos que as geometrias consideradas são geometrias métricas que satisfazem o postulado da separação do plano. Estas geometrias são chamadas de Geometrias de Pasch. Exerćıcio 36: Dado o 4ABC e pontos D e E, tais que B − C −D e A − E − C, mostre que exite um ponto F ∈ ←→ DE , tal que A− F −B e D − E − F . Exerćıcio 37: Dado o 4ABC e pontos D e F , tais que B − C −D e A − F − B, mostre que exite um ponto E ∈ ←→ DF , tal que A− E − C e D − E − F . Exerćıcio 38: Dado o 4ABC e pontos D e E, tais que B − E − C e A −D − B, mostre que ←→ AE e ←→ CD se intersectam. 7. Interiores e o Teorema das Barras Cruzadas: O resultado mais útil que é uma conseqüência do postulado da separação do plano é o chamado Teorema das Barras Cruzadas. Ele permite provar que diagonais de quadriláteros, ou duas medianas de um triângulo, etc, se intersectam. Para prová-lo, precisamos de alguns conceitos e resultados preliminares. Definimos o interior de uma semi reta −−→AB como o conjunto int (−−→AB ) dos pontos P ∈ −−→AB tais que P 6= A (a semi reta menos o vértice); interior de um segmento AB como o conjunto int (AB) dos pontos P ∈ AB tais que P 6= A e P 6= B; e o interior do ângulo ∠AOB como o conjunto int (∠AOB) obtido pela interseção H1 ∩H1, sendo H1 o lado de ←→ OB contendo A e H1 o lado de ←→ OA contendo B. Exerćıcio 39: Mostre que se ∠AOB = ∠CPD então O = P e −−→OA = −−→PC e −−→OB = −−→PD , ou−−→ OA = −−→PD e −−→OB = −−→PC . Mostre também que, se int (∠AOB) = int (∠CPD), então ∠AOB = ∠CPD. Exerćıcio 40: Mostre que se ∠AOB = ∠CPD então o int (∠AOB) = int (∠CPD). Exerćıcio 41: Seja W um conjunto não vazio e convexo do plano e ` uma linha não encontrando W . Mostre que todos os pontos de W estão do mesmo lado de `. Exerćıcio 42: Mostre que, dados A ∈ ` e B 6∈ ` dois pontos, então todos os pontos de int (−−→AB ) estão do mesmo lado de `. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 13 Exerćıcio 43: Dados A 6= B, C e D em lados opostos de ←→ AB , mostre que −−→AC não intersecta−−→ BD . Solução e/ou Sugestão: Todos os pontos do interior de −−→AC estão do mesmo lado de ←→ AB que C (por quê?); todos os pontos ponto do interior de −−→BD estão do mesmo lado de ←→ AB que D (por quê?), que é oposto a C. Portanto as semi retas não se encontram (por quê?). Exerćıcio 44: Mostre que P ∈ int (∠AOB) se, e somente se, A e P estão do mesmo lado de ←→ OB e P e B estão do mesmo lado de ←→OA . Exerćıcio 45: Dado o 4ABC, mostre que se A−P −C, então P ∈ int (∠ABC) e int (AB) está contido em int (∠ABC). Exerćıcio 46: (O Teorema das Barras Cruzadas) Se P ∈ int (∠ABC) então −−→BP intersecta AC num único ponto F com A− F − C. Solução e/ou Sugestão: Seja E tal que E−B−C (tal ponto existe pelo postulado da régua). A linha ←→ BP cruza o lado EC do triângulo 4ACE pelo ponto B. Portanto deve cruzar outro lado deste triângulo. Os interiores das semi retas −−→BP e −−→AE estão em lados opostos de ←→ AB , portanto não se encontram. Seja Q um ponto tal que P − B − Q. Então A e Q estão em lados opostos de ←→ BC = ←→ EC (por quê?). Portanto as semi-retas −−→BQ e −−→EA não se encontram. Isto é, a linha ←→ BP não intersecta o segmento AE = −−→AE ∩ −−→EA . Portanto existe um único ponto F ∈ AC∩ ←→ BP . Temos que F 6= A, pois ←→ BP não intersecta AB e F 6= C, pois B, P e C não são colineares (por quê isto implica que F 6= C?). Portanto A − F − C. Só falta mostrar que F ∈ −−→BP . Mas isto decorre do fato que P e Q estão em lados opostos de ←→ BC e A e P estão do mesmo lado de ←→ BC (por quê?). O interior do triângulo 4ABC é o conjunto int (4ABC) = H1 ∩H1 ∩ H̃1, sendo que H1 é o lado de ←→ BC contendo A, H1 é o lado de ←→ AC contendo B e H̃1 é o lado de ←→ AB contendo C. Um quadrilátero �ABCD é um quadrilátero convexo se A e B estão do mesmo lado de ←→ CD , B e C estão do mesmo lado de ←→ AD , C e D estão do mesmo lado de ←→ AB e A e D estão do mesmo lado de ←→ BC . Um poĺıgono convexo é definido de modo análogo (todos os outros vértices deverão estar do mesmo lado de ←→ AiAj , se 1 ≤ i < j = i + 1 ≤ n ou i = n e j = 1). Exerćıcio 47: Dados 4ABC e pontos D, E e F , tais que B−C −D, A−E −C e B−E −F , mostre que F ∈ int (∠ACD). Exerćıcio 48: Mostre que se A − D − B e C e E estão do mesmo lado de ←→ AB , então ou−−→ DE ∩AC 6= ∅, ou −−→DE ∩BC 6= ∅. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 14 Exerćıcio 49: Dados ∠ABC e um ponto P , mostre que se −−→BP ∩ int (AC) 6= ∅, então P ∈ int (∠ABC). (Uma rećıproca das Barras Cruzadas.) Exerćıcio 50: Mostre que se `∩ int (4ABC) 6= ∅ então ` encontra 4ABC em exatamente dois pontos. Exerćıcio 51: Mostre que um quadrilátero �ABCD é convexo se, e somente se, cada vértice está no interior do ângulo oposto. (Por exemplo, A está no interior de ∠BCD, etc.) Exerćıcio 52: Mostre que as diagonais de um quadrilátero convexo se intersectam. Exerćıcio 53: Prove a rećıproca, ou seja, se as diagonais de um quadrilátero se intersectam então ele é convexo. 8. Medida de Ângulo: Agora vamos introduzir mais um instrumento de medidas, o transferidor, que mede ângulos. Isto será feito através de um postulado dizendo como ele funciona. Postulado 6: (Postulado do Transferidor) Existe um número real positivo r0 e uma função m que a cada ângulo ∠ABC associa um número real m(∠ABC), tal que (a) 0 < m(∠ABC) < r0; (b) se D ∈ int (∠ABC), então m(∠ABC) = m(∠ABD) + m(∠DBC); (c) se H1 é um lado de ←→ BC e x é um número real tal que 0 < x < r0, então existe um ponto A em H1 tal que m(∠ABC) = x e se P ∈ H1 também satisfaz m(∠PBC) = x, então −−→ BA = −−→BP (ou seja, ∠ABC = ∠PBC). O número r0 vai depender de que medida de ângulo estamos usando. Por exemplo, na geometria anaĺıtica, r0 pode ser 180 (se medirmos em graus) ou π (se medirmos em radianos), ou qualquer outro valor que nos aprouver. Neste texto, vamos usar a medida em graus. Exerćıcio 54: Na geometria anaĺıtica, sejam A = (a1, a2), B = (b1, b2) e C = (c1, c2) não colineares. Definimos m(∠ABC) como o arco α entre 0 e 180 que tem cosseno cos α = (A−B) · (C −B) |A−B| · |C −B| = (a1 − b1)(c1 − b1) + (a2 − b2)(c2 − b2)√ (a1 − b1)2 + (a2 − b2)2 √ (c1 − b1)2 + (c2 − b2)2 Mostre que m é medida de ângulo. (Tem que satisfazer as três condições. Se necessário, consulte um livro de Vetores e Geometria.) Exerćıcio 55: Na geometria do taxista, mostre que a medida m da geometria anaĺıtica é medida de ângulo. Exerćıcio 56: Na geometria hiperbólica, dados P = (a, b) e Q = (c, d), se a = c, P e Q estão na linha `a; neste caso, definimos o vetor vPQ = (Q− P )/|P −Q| = (0,±1) para a semi reta −−→ PQ , sendo |P − Q| = √ (c− a)2 + (d− b)2 = |d − b|; se a 6= c então P e Q estão numa linha `p,r; esta MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 15 linha consiste nos pontos (x, y) que satisfazem x = p + r tgh t e y = r sech t, para algum t; nesta linha temos a régua f que associa ao ponto de coordenadas (x, y) o valor t; seja t0 = f(P ); mostre que neste caso, a semi reta −−→PQ é o conjunto {R ∈ `p,r : f(R) ≥ f(P )}, se f(Q) > f(P ) e, neste caso, definimos o vetor vPQ = u, ou o conjunto {R ∈ `p,r : f(R) ≤ f(P )} e, neste caso, definimos o vetor vPQ = −u, sendo que u = ( sech t0√ (sech t0)2 + (tgh t0)2 ,− tgh t0√ (sech t0)2 + (tgh t0)2 ) lembrando que t0 = f(P ). Agora, dados A, B e C não colineares, definimos a medida de m(∠ABC) como sendo o arco α entre 0 e 180 (graus) cujo cosseno seja vBA · vBC (produto escalar). Mostre que esta medida satisfaz as três condições. Solução e/ou Sugestão: Todo este trabalho em definir os vetores vPQ foi para introduzir a medida do ângulo ∠ABC como a medida entre as retas tangentes às linhas correspondentes, com os vetores apontando na direção das semi retas. O item (a) é fácil. Os itens (b) e (c) exigem mais trabalho. (Se necessário, consulte um livro de Vetores e Geometria.) Outro modo de obter o vetor vPQ no caso em que P = (a, b) e Q = (c, d) estão numa linha `p,r, é definir um vetor auxiliar uPQ = (b, p− a), que é perpendicular ao vetor P − (b, 0) = (a− p, b) (o raio de `p,r, partindo do centro (p, 0) e chegando no ponto P ) e tomar vPQ = uPQ/|uPQ| se c > a (Q está à direita de P ), ou vPQ = −uPQ/|uPQ| se c < a (Q está à esquerda de P ). Exerćıcio 57: No plano de Moulton, definimos m(∠ABC) como sendo a medida da geometria anaĺıtica de ∠PBQ, se B não está no eixo Oy e P e Q estão no mesmo lado que B em relação ao eixo Oy; se B está no eixo Oy, dados b ∈ R e P = (x, y) ∈ R2 um ponto, definimos o ponto Pb por Pb = { (x, 2y − b) se x > 0 e y > b, (x, y) caso contrário. Definimos então m(∠ABC) = mE(∠AbBCb), sendo mE a medida euclideana de ângulo. Observe que nesta medida de ângulo nós “desentortamos” as linhas l∗m,b que suportam as semi retas −−→ BA e −−→ BC que definem o ângulo ∠ABC. Verifique que esta medida satisfaz os três itens do postulado. 9. Congruência de Ângulos e Perpendiculares: Tendo uma medida de ângulos, podemos comparar ângulos. Dizemos que ∠ACB ≡ ∠DEF (o ângulo ∠ABC é congruente ao ângulo ∠DEF ) se m(∠ACB) = m(∠DEF ). Dados A−B −D e C fora da linha ←→ AB , dizemos que os ângulos ∠ABC e ∠DBC são suplementares. Exerćıcio 58: Sejam C e D dois pontos do mesmo lado de ←→ AB , com A 6= B; mostre que m(∠ABC) < m(∠ABD) se, e somente se, C ∈ int (∠ABD). MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 16 Solução e/ou Sugestão: Suponha que C ∈ int (∠ABD); então, pelo postulado, m(∠ABC) + m(∠DBC) = m(∠ABD) e, como m(∠DBC) > 0, m(∠ABC) < m(∠ABC) + m(∠DBC) = m(∠ABD). Se C 6∈ int (∠ABD), ou −−→BC = −−→BD e, neste caso, m(∠ABC) = m(∠ABD), pois ∠ABC = ∠ABD, ou D ∈ int (∠ABC) e, neste caso, m(∠ABD) < m(∠ABC). Portanto, se m(∠ABC) < m(∠ABD), então C ∈ int (∠ABD). Exerćıcio 59: Dados A− B −D e C fora de ←→ AB , mostre que m(∠ABC) + m(∠CBD) = 180 (ou seja, a soma das medidas de ângulos suplementares é o número r0 do postulado, o que neste caso é 180). Solução e/ou Sugestão: Sejam H1 o lado de ←→ AB contendo C, α = m(∠ABC) e β = m(∠CBD). Temos que mostrar que α + β = 180. Para isto, vamos mostrar que tanto α + β < 180 quanto α + β > 180 implicam uma contradição. Se α + β < 180, então existe uma única semi reta −−→BE , cujo interior está em H1, tal que m(∠ABE) = α + β. Como α < α + β, C ∈ int (∠ABE). Como m(∠ABC) + m(∠EBC) = m(∠ABE), m(∠EBC) = β. Como E∈ int (∠DBC) (por quê?), m(∠DBE) + m(∠EBC) = m(∠DBC), ou seja, m(∠DBE) + β = β, o que implica que m(∠DBE) = 0, contradizendo o item (a) do postulado do transferidor. Portanto α + β ≥ 180. Agora suponha que α+β > 180. Como α, β < 180, temos que α+β < 360. Dáı, se γ = α+β−180, então 0 < γ < 180. Pelo postulado do transferidor, existe E ∈ H1 tal que m(∠ABE) = γ. Como β < 180, temos que β − 180 < 0 e, portanto, γ = α + β − 180 < α. Portanto E ∈ int (∠ABC). Mas α = m(∠ABC) = m(∠ABE)+m(∠EBC) = γ+m(∠EBC), portanto m(∠EBC) = α−γ = α−(α+ β−180) = 180−β, o que implica que m(∠DBE) = m(∠DBC)+m(∠EBC) = β +(180−β) = 180, o que contradiz o item (a) do postulado do transferidor. Portanto α + β = 180. Observação: Como conseqüência disto temos que “ângulos opostos pelo vértice são congru- entes”, ou seja, se A−B−D, E−B−C e A, B e C não são colineares, então m(∠ABC) = m(∠DBE), pois m(∠ABC)+m(∠DBC) = 180 = m(∠DBC)+m(∠EBC) e, portanto, m(∠ABC) = m(∠EBD). O caso em que m(∠ABC) = 90 é muito interessante, pois todos os quatro ângulos formados assim são congruentes (todos medem 90). Neste caso, dizemos que as linhas ←→ AB e ←→ BC são per- pendiculares , que a semi reta −−→BC , ou mesmo o segmento BC, é perpendicular a ←→ AB e chamamos o ponto B de pé da perpendicular; nestes casos, denotamos ←→ AB⊥ ←→ BC , −−→AB ⊥ ←→ BC e AB ⊥ ←→ BC , etc. Exerćıcio 60: Mostre que, se m(∠ABC) + m(∠CBD) = m(∠ABD), então C ∈ int (∠ABD). Solução e/ou Sugestão: Mostre primeiro que C e D estão do mesmo lado de ←→ AB , mostrando que não podem estar em ←→ AB e nem em lados opostos de ←→ AB (para este caso, considere as possibil- idades A e D do mesmo lado de ←→ BC e em lados opostos de ←→ BC ). MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 17 Exerćıcio 61: Mostre que, se A e D estão em lados opostos de ←→ BC e m(∠ABC)+m(∠CBD) = 180, então A−B −D. (Ou seja, mostre que neste caso os ângulos são suplementares.) Exerćıcio 62: Na geometria hiperbólica, dada a linha `0,5 = {(x, y) ∈ H : x2 + y2 = 25} e o ponto B = (3, 4) ∈ `0,5, ache a linha ` contendo B e perpendicular à linha `0,5. Solução e/ou Sugestão: A resposta é a linha `p,r, com p = 25/3 e r = 20/3. 10. O Postulado LAL: Até então não temos nenhuma relação entre as várias réguas e transferidores de nossa geometria. Vamos agora fazer isto por meio do postulado LAL (o conhecido critério de “congruência de triângulos” Lado-Ângulo-Lado). Para isto precisamos definir certos conceitos. Dadas duas triplas ordenadas de pontos não colineares (A,B, C) e (D,E, F ), dizemos que a correspondência A 7→ D, B 7→ E, C 7→ F é uma congruência de triângulos entre 4ABC e 4DEF (aqui a ordem em que aparecem os pontos é importante), se AB ≡ DE, AC ≡ DF , BC ≡ EF , ∠BAC ≡ ∠EDF , ∠ABC ≡ ∠DEF e ∠ACB ≡ ∠DFE. Denotamos este conceito por 4ABC ≡ 4DEF e insistimos que dizer 4ABC ≡ 4DEF é diferente de dizer 4ACB ≡ 4DEF . Postulado 7: (LAL) Dadas duas triplas ordenadas de pontos não colineares (A,B, C) e (D,E, F ), se AB ≡ DE, AC ≡ DF e ∠BAC ≡ ∠EDF , então 4ABC ≡ 4DEF . Exerćıcio 63: Mostre que a geometria anaĺıtica satisfaz o postulado LAL. Solução e/ou Sugestão: Defina os vetores u1 = B−A, v1 = C −A, u2 = E−D, v2 = F −D, w1 = u1− v1 = B −C e w2 = u2− v2 = E −F . Relembremos o produto escalar u · v = |u| |v| cos α, sendo α o ângulo entre os vetores. A hipótese do LAL implica que |u1| = |u2|, |v1| = |v2| e u1 · v1 = u2 · v2. Então |w2|2 = w2 · w2 = (u2 − v2) · (u2 − v2) = u2 · u2 − u2 · v2 − v2 · u2 + v2 · v2 = |u2|2 − 2 u2 · v2 + |v2|2 = |u1|2 − 2 u1 · v1 + |v1|2 = |w1|2, ou seja, BC ≡ EF . Para as congruências ∠ABC ≡ ∠DEF e ∠ACB ≡ ∠DFE, basta então verificar que u1 · w1 = u2 · w2 e v1 · w1 = v2 · w2 (por quê?), o que é uma conta simples. Observação: É posśıvel, mas bem trabalhoso, mostrar que a geometria hiperbólica também satisfaz o postulado LAL. Para isto, precisamos fazer as contas do exerćıcio a seguir. Isto é um tópico opcional (ou seja, não cai na prova!). Para fazer isto, identificamos cada par (x, y) ∈ H com o número complexo z = x + iy (sendo i = √ −1). Dada uma matriz M = ( a b c d ) com ad− bc 6= 0 e um número complexo z = x + iy, definimos as transformações w = ϕM (z) = ( a b c d ) z = az + b cz + d ; e w̃ = ϕ∗M (z) = ( a b c d ) z̄ = az̄ + b cz̄ + d sendo que z̄ = x− iy. (Estas são chamadas de Transformações de Möbius.) MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 18 Exerćıcio 64: Verifique que se w = M1z e v = M2w, então v = Mz, sendo M o produto de matrizes M1M2. Exerćıcio 65: Verifique que se c 6= 0,( a b c d ) = ( (ad− bc)/c a/c 0 1 )( 0 −1 1 0 )( c d 0 1 ) Exerćıcio 66: Verifique que, dados A, B e C em H não colineares, se D = M A, E = M B e F = M C (transformações de Möbius), então d(A,B) = d(D,E) e ∠ABC ≡ ∠DEF . Para isto, use a decomposição do exerćıcio anterior e verifique apenas nos casos em que M tem uma das duas formas M = ( 0 −1 1 0 ) , ou M = ( c d 0 1 ) e considere os dois tipos de transformações, ϕM e ϕ∗M . Exerćıcio 67: Para finalizar, mostre que dados os triângulos 4ABC e 4A′B′C ′ em H, tais que AB ≡ A′B′, AC ≡ A′C ′ e ∠BAC ≡ ∠B′A′C ′, então existe uma transformação ϕM ou ϕ∗M levando A em A′, B em B′ e C em C ′. (Para isto, construa primeiro uma transformação que leve A em A0 = (0, 1), B em B0 = (0, b), b = d(A,B); com isto C é levado a algum C0 ∈ H; faça o mesmo com A′, B′ e C ′; com isto, obtemos 4ABC ≡ 4A0B0C0 ≡ 4A′B′C ′.) Com isto acabamos de esboçar a prova de que vale o LAL na geometria hiperbólica. (Com isto também acabou o tópico especial; o que vem daqui por diante cai em prova!) Exerćıcio 68: Mostre que no plano de Moulton não vale LAL. Solução e/ou Sugestão: Considere os pontos A = (1, 0), B = (0, 0) e C = (1, 1). Mostre que a correspondência A 7→ A, B 7→ C, C 7→ B satisfaz as hipóteses mas não a conclusão do postulado LAL. Exerćıcio 69: Mostre que na geometria do taxista não vale LAL. Solução e/ou Sugestão: Considere os pontos A = (1, 0), B = (0, 0) e C = (1/2, 1/2). Mostre que a correspondência A 7→ A, B 7→ C, C 7→ B satisfaz as hipóteses mas não a conclusão do postulado LAL. Exerćıcio 70: Na geometria hiperbólica, sejam A = (−1, 1), B = (0, 1), C = (1, 1), D = (−2, 2), E = (0, 2) e F = (2, 2). Mostre que 4ABC ≡ 4DEF . (Use o LAL.) Exerćıcio 71: Na geometria hiperbólica, dado o segmento AB, em que A = (a, b) e B = (c, d) e dado um número real t > 0, sejam C = t A = (t a, t b) e D = t B = (t c, t d). Mostre que AB ≡ CD. (Para isto, calcule d(A,B) e d(C,D).) Exerćıcio 72: Na geometria hiperbólica, dados A, B e C não colineares e t > 0, sejam D = t A, E = t B e F = t C. Mostre que ∠ABC ≡ ∠DEF . (Para isto, ache os vetores vAB, etc.) MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 19 Exerćıcio 73: Mostre que se vale LAL então também valem (a) ALA (Ângulo-Lado-Ângulo) Dados os triângulos4ABC e4DEF , se AB ≡ DE, ∠BAC ≡ ∠EDF e ∠ABC ≡ ∠DEF então 4ABC ≡ 4DEF . (b) Dado o triângulo 4ABC, mostre que AC ≡ BC se, e somente se, ∠BAC ≡ ∠ABC. (Tal triângulo é chamado de isósceles.) (c) LLL (Lado-Lado-Lado) Dados os triângulos 4ABC e 4DEF , se AB ≡ DE, AC ≡ DF e BC ≡ EF então 4ABC ≡ 4DEF . Observação: Também vale o LAAo (Lado-Ângulo-ângulo oposto), mas isto vais ser feito mais adiante. Solução e/ou Sugestão: (a) Constrúımos um triângulo 4DEG ≡ 4ABC, com AC ≡ DG e ∠BAC ≡ ∠EDG e G e F do mesmo lado de ←→ DE . Queremos mostrar que G = F . Como ∠BAC ≡ ∠EDG, G ∈ ←→ DF . Então ou D−G−F , ou D−F −G, ou G = F . Vamos mostrar que não podem ocorrer nem D−G−F e nem D−F −G. Se D−G−F , então G está em int (∠DEF ) e, portanto m(∠DEG) < m(∠DEF ) uma contradição à hipótese de que ∠ABC ≡ ∠DEF e ∠ABC ≡ ∠DEG (esta última por LAL). O mesmo tipo de coisa acontece se supusermos que D − F −G (faça isto). Portanto G = F , como queŕıamos mostrar. (b) Se ∠BAC ≡ ∠ABC, por ALA, 4ABC ≡ 4ACB (perceba a ordem dos pontos) e, portanto AC ≡ BC.Se AC ≡ BC, por LAL (considerando o ângulo ∠ACB entre os lados AC e BC, que é congruente a si mesmo), 4ABC ≡ 4ACB, e portanto ∠BAC ≡ ∠ABC. (c) Dados os triângulos 4ABC e 4DEF tais que AB ≡ DE, AC ≡ DF e BC ≡ EF , seja C ′ oposto a C em relação a ←→ AB tal que AC ′ ≡ DF e ∠BAC ′ ≡ ∠EDF . Ou seja, constrúımos um triângulo 4ABC ′ congruente ao 4DEF , “do lado de baixo” do 4ABC. Vamos mostrar que 4ABC ≡ 4ABC ′, o que implica que 4ABC ≡ 4DEF . Seja G ∈ ←→ AB o ponto de encontro de ←→ AB com BB′ (por quê existe tal ponto?). Então, ou G−A−B, ou G = A, ou A−G−B, ou G = B, ou A−B−G. Vamos considerar apenas o caso em que G−A−B, deixando os outros como exerćıcio. Neste caso, os pontos C, C ′ e G não são colineares. Pelo item (b) deste exerćıcio, 4BAB′ é isósceles (pois AC ≡ DF ≡ AC ′) e, portanto, ∠ACG ≡ ∠AC ′G. Também temos que 4CBC ′ é isósceles (pois BC ≡ EF ≡ BC ′) e, portanto, ∠BCG ≡ ∠BC ′G, donde segue que ∠BCA ≡ ∠BC ′A (por quê?). Por LAL, 4ABC ≡ 4ABC ′ (por quê?). Exerćıcio 74: Dado o quadrilátero convexo �ABCD, mostre que, se AB ≡ CD e BC ≡ DA, então ∠DAB ≡ ∠BCD e ∠ABC ≡ ∠CDA. (Considere os triângulos 4ABD e 4BCD, etc.) Exerćıcio 75: Dado o quadrilátero convexo �ABCD, mostre que, se AB ≡ CD ≡ BC ≡ DA e AC ≡ BD, então ∠DAB ≡ ∠BCD ≡ ∠ABC ≡ ∠CDA. Exerćıcio 76: Dado o poĺıgono convexo ABCDEF (um hexágono), suponha que AB ≡ DE, BC ≡ EF , CD ≡ FA e ∠FAB ≡ ∠CDE, mostre que ∠ABC ≡ ∠DEF e ∠BCD ≡ ∠EFA. (Considere os triângulos 4FAB e 4CDE, etc.) MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 20 Exerćıcio 77: Dados A e B dois pontos distintos, `1 e `2 duas linhas perpendiculares a ←→ AB e tais que A ∈ `1 e B ∈ `2, mostre que `1 e `2 são paralelas (isto é, não têm ponto comum). (Para isto, suponha que exista um ponto C ∈ `1 ∩ `2; então mostre que C 6∈ `, tome D ∈ `1 tal que D−A−C e AC ≡ AD; mostre que 4ABC ≡ 4ABD, e conclua que C −B −D, uma contradição a alguma hipótese.) Exerćıcio 78: Dados os pontos A, B, C e D, tais que A 6= B, C e D estão em lados opostos de ←→ AB e ∠ABC ≡ ∠BAD. Mostre que ←→ AC e ←→ BD são paralelas. (Novamente, suponha que não são paralelas e considere os triângulos pertinentes.) Exerćıcio 79: Mostre que dada uma linha ` e um ponto P fora de `, então existe pelo menos uma linha `′ contendo P e paralela a `. (Olhe o exerćıcio anterior.) Exerćıcio 80: Ainda não é posśıvel provar a unicidade da paralela: Mostre que as linhas `0 = {(x, y) ∈ H : x = 0} e `0,1 = {(x, y) ∈ H : x2 + y2 = 1} contêm o ponto P = (0, 1) e são paralelas à linha `1 = {(x, y) ∈ H : x = 1}. (É só mostrar que as linhas não se intersectam, mostrando que as equações pertinentes não têm solução comum em H.) Exerćıcio 81: Dada uma linha ` e um ponto P fora de `, mostre que existe uma única linha passando por B e perpendicular a `. Solução e/ou Sugestão: Seja A ∈ ` um ponto qualquer. Se ←→ AB for perpendicular a `, então ←→ AB é a linha procurada. Caso contrário, seja C o ponto do lado de ` oposto a B e tal que AB ≡ AC e ∠DAB ≡ ∠DAC, sendo D um outro ponto de `. Seja G o ponto de encontro entre BC e `. Então 4AGB ≡ 4AGC, por LAL e, portanto, ∠AGB ≡ ∠AGC. Como B − G − C, m(∠AGB)+m(∠AGC) = 180, donde m(∠AGB) = 90, ou seja, ←→ BC⊥ `. A unicidade segue do fato que se `1 ⊥ ` e `2 ⊥ ` e `1 6= `2, então `1 e `2 são paralelas. Exerćıcio 82: Dados os pontos A, B, C e D tais que A−B −D e C fora de ←→ AB , mostre que m(∠DBC) > m(∠BAC) e m(∠DBC) > m(∠BCA). (Isto é, cada ângulo externo de um triângulo é maior que os dois ângulos internos não adjacentes.) Solução e/ou Sugestão: Seja E do mesmo lado que C em relação a ←→ AB e tal que ∠BAC ≡ ∠DBE. Então ←→ AC e ←→ BE são paralelas (por quê?). Portanto C e A estão do mesmo lado de ←→ BE e E e A estão em lados opostos de ←→ BC (por quê?), ou seja, E ∈ int (∠DBC), donde segue que m(∠DBC) > m(∠DBE) = m(∠BAC). Agora, seja D′ tal que C − B − D′. Então ∠ABD′ ≡ ∠CBD, pois são opostos pelo vértice. Seja F do mesmo lado que D′ em relação a ←→ AB e tal que ∠D′BF ≡ ∠BCA. Pela mesma argumentação acima, conclúımos que m(∠DBC) > m(∠BCA) (preencha os detalhes). Exerćıcio 83: LAAo (Lado-Ângulo-Ângulo oposto) Dados os triângulos 4ABC e 4DEF , tais que AB ≡ DE, ∠BAC ≡ ∠EDF e ACB ≡ ∠DFE, mostre que 4ABC ≡ 4DEF . MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 21 Solução e/ou Sugestão: Seja G ∈ ←→ DF , do mesmo lado de F em relação a ←→ DE e tal que DG ≡ AC. Por LAL, 4ABC ≡ 4DEG e, protanto ∠DGE ≡ ∠ACB. Queremos mostrar que G = F . Para isto, temos que descartar as possibilidades D−G−F e D−F−G (por quê só estas?). Se D−G−F , o ângulo ∠DGE é externo ao triângulo 4GFE e, portanto, m(∠ACB) = m(∠DGE) > m(∠DFE), mas, por hipótese, m(∠ACB) = m(∠DFE), uma contradição à desigualdade. Se D − F − G, o ângulo ∠DFE é externo ao triângulo 4GFE e, portanto, pelo mesmo racioćınio, chegamos a uma contradição. Portanto G = F , como queŕıamos mostrar. Exerćıcio 84: Dado o triângulo 4ABC, mostre que d(A,B) > d(B,C) se, e somente se, m(∠ACB) > m(∠BAC). Solução e/ou Sugestão: Se d(A,B) > d(B,C), seja D tal que A − D − B e BC ≡ BD. Então m(∠ACB) > m(∠BCD), pois D ∈ int (∠ACB) e m(∠BCD) > m(∠BAC), pois ∠BCD é externo ao triângulo 4ADC. Portanto m(∠ACB) > m(∠BAC). Reciprocamente, suponha que m(∠ACB) > m(∠BAC). Então d(A,B) = d(B,C) implica que m(∠ACB) = m(∠BAC), pois 4ABC seria isósceles e d(A,B) < d(B,C) implica que m(∠ACB) < m(∠BAC), pela argumentação acima. Ou seja, d(A,B) ≤ d(B,C) leva a contradições à hipótese m(∠ACB) > m(∠BAC). Portanto d(A,B) > d(B,C). Exerćıcio 85: Mostre que ALA implica LAL. Exerćıcio 86: Mostre que para todo triângulo 4ABC são equivalentes: (a) Todos os lados são congruentes entre si. (b) Todos os ângulos internos são congruentes entre si. Observação: A bissetriz de um ângulo ∠AOB é a semi reta −−→OC tal que C ∈ int (∠AOB) e ∠AOC ≡ ∠COB. Dado o triângulo 4ABC, seja M o ponto médio de BC; o segmento AM é chamado de uma mediana de4ABC; a linha ` contendo M e perpendicular ao lado BC é chamada de mediatriz de BC. Exerćıcio 87: Mostre que as três bissetrizes dos ângulos de um triângulo 4ABC se encontram num ponto no interior de 4ABC. (Para isto, mostre que duas bissetrizes se encontram num ponto P no interior de 4ABC, desça perpendiculares de P aos três lados de 4ABC e use congruência com os triângulos convenientes.) Exerćıcio 88: Mostre que se duas mediatrizes se encontram num ponto P , então e terceira mediatriz também passa por P . (Ligue P ao ponto médio do terceiro lado e use congruência de triângulos, com os triângulos convenientes. O próximo exerćıcio mostra que precisamos da hipótese de que duas das mediatrizes se encontram.) Exerćıcio 89: Mostre que as mediatrizes do triângulo 4ABC na geometria hiperbólica são paralelas, sendo que A = (0, 4), B = (−6, 4) e C = (6, 4) são pontos de H. (Para isto, mostre que as mediatrizes são as linhas `0, `3 e `−3.) MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 22 Exerćıcio 90: Mostre que num triângulo isósceles as três medianas se encontram num ponto. (Mostre que duas se encontram num ponto P e ligue este ponto ao ponto médio do terceiro lado, etc.) Exerćıcio 91: Dados A−B − C e D e E do mesmo lado de ←→ AB , mostre que se m(∠EBC) < m(∠DAC), então as semi retas −−→AD e −−→BE não se encontram. (Construa um ângulo ∠FBC ≡ ∠DAC com F do mesmo lado que E em relação a ←→ AC , etc.) Exerćıcio 92: Dado o triângulo 4ABC, seja P ∈ ←→ BC o pé da perpendicular a ←→ BC , passando por A. Mostre que, se m(∠ABC) < 90 e m(∠ACB) < 90, então B − P − C. Exerćıcio 93: Mostre que num triângulo isósceles, cujos ângulos internos não sejam maiores que 90, as três alturas se encontram num ponto no interior do triângulo. Exerćıcio 94: Mostre que existe em H um triângulo isósceles com um ângulo maior que 90, cujas alturas não se encontram em H. (Considere 4ABC, A = (0, 2), B = (−1, 1) e C = (1, 1);quais são suas alturas?) Exerćıcio 95: Dado o quadrilátero convexo �ABCD, tal que AB ≡ AD e BC ≡ CD, mostre que ←→ AC é perpendicular a ←→ BD . Exerćıcio 96: Dado o quadrilátero convexo �ABCD, tal que AB ≡ CD e m(∠BAD) = m(∠CDA) = 90, sejam M e N os pontos médios de AD e BC, respectivamente. Mostre que MN é perpendicular a AD e a BC. (Para isto, primeiro mostre que ∠ABC ≡ ∠DCB. Este tipo de quadrilátero é chamado de quadrilátero de Saccheri e vai ser importante posteriormente, quando formos estudar paralelismo.) 11. Desigualdades Geométricas: Vamos desenvolver algumas desigualdades envolvendo ângulos e medidas de segmentos. Para facilitar o entendimento, vamos estabelecer algumas notações relativas a comparações de tamanhos de segmentos e ângulos. NOTAÇÕES: Se d(A,B) < d(C,D), escreveremos AB < CD (sem as barras); se d(A,B) ≤ d(C,D), escreveremos AB ≤ CD; se AB ≡ CD, escreveremos AB = CD; se d(A,B) = d(C,D) + d(E,F ), escreveremos AB = CD+EF ; se m(∠AOB) < m(∠CPD), escreveremos ∠AOB < ∠CPD e se m(∠AOB) ≤ m(∠CPD), escreveremos ∠AOB ≤ ∠CPD. Exerćıcio 97: Dados A − B −D, e C fora de ←→ AB , mostre que ∠BAC < ∠DBC e ∠ACB < ∠DBC. Solução e/ou Sugestão: Seja M o ponto médio de BC, e seja E tal que A − M − E e AM ≡ ME. Então 4AMC ≡ 4EMB (por quê?) e E está no interior de ∠DBC (por quê?). Como ∠ACB ≡ ∠EBC, ∠ACB < ∠DBC. Para a outra desigualdade, seja F tal que C − B − F . Então ∠DBC ≡ ∠FBA. Pelo mesmo argumento acima, mostramos que ∠BAC < ∠DBC (faça isto!). MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 23 Exerćıcio 98: Mostre que se dois lados de um triângulo não são congruentes, então os dois ângulos opostos a estes lados também não são congruentes. Mostre que o maior entre estes dois ângulos é oposto ao maior entre os dois lados em questão. Solução e/ou Sugestão: Dado o triângulo 4ABC, suponha que AB > AC. Seja D o único ponto tal que A − C −D e AD ≡ AB. Então o triângulo 4ABD é isósceles e ∠ADB ≡ ∠ABD. Como C está no interior de ∠ABD, ∠ABC < ∠ABD ≡ ∠ADB < ∠ACB (por quê?). Exerćıcio 99: Mostre a rećıproca do exerćıcio anterior, ou seja, se dois ângulos de um triângulo não são congruentes, então os lados opostos a estes ângulos também não são congruentes e o maior destes lados é oposto ao maior destes ângulos. Exerćıcio 100: (Desigualdade Trangular I) Dado o triângulo4ABC, mostre que d(A,C) < d(A,B) + d(B,C) (ou seja AC < AB + BC). Solução e/ou Sugestão: Seja D tal que C − B − D e AB ≡ BD. Então ∠BAD ≡ ∠BDA. Como B está no interior de ∠CAD, ∠BDA ≡ ∠CAD > ∠BAD e, portanto, pelo exerćıcio acima, AC < AD = CB + BD = AB + BC. Exerćıcio 101: (Desigualdade Trangular II) Dados os pontos A, B, e C, mostre que d(A,C) ≤ d(A,B) + d(B,C). (Considere os vários casos em que A, B e C são colineares, etc.) Exerćıcio 102: Dado os triângulos4ABC e4DEF tais que AB ≡ DE, BC ≡ EF e ∠ABC > ∠DEF , mostre que AC > DF . Solução e/ou Sugestão: Para isto, constrúımos o triângulo 4HBC ≡ 4DEF , com H do mesmo lado que A em relação a ←→ BC (por quê podemos constrúı-lo e por quê é único?). Como ∠ABC > ∠DEF , temos ∠ABC > ∠HBC. Pelas barras cruzadas, a semi reta −−→BH cruza AC num ponto K. Podemos ter três casos, a saber, B−H −K, ou H = K, ou B−K−H. Constrúımos um triângulo auxiliar4ABM tal que M é o ponto em AK que está na bissetriz do ângulo ∠ABH (pelas barras cruzadas). Por LAL e usando a hipótese AB ≡ DE ≡ BH, temos que 4ABM ≡ 4HBM e, portanto AM ≡ HM . Pela desigualdade triangular, HC ≤ HM + MC. Nos casos em que K 6= H, temos HC < HM + MC, ou seja, DF = HC < AM + MC = AC. No caso em que H = K, a desigualdade DF = HC < AC decorre do fato que A−H − C. Exerćıcio 103: Dado um triângulo 4ABC, tal que AC ≤ AB, se B − D − C, mostre que AD < AB. (Para isto, mostre que ∠ABC < ∠ADB, etc.) Exerćıcio 104: Dado o triângulo isósceles4ABC (tal que AB ≡ AC), mostre que m(∠ABC) < 90. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 24 Exerćıcio 105: Mostre que qualquer triângulo tem pelo menos dois ângulos internos agudos (isto é, medem menos que 90). 12. Triângulos Retângulos: Um triângulo é chamado de triângulo retângulo se um de seus ângulos internos for reto (ou seja, se medir 90). Os lados adjacentes ao ângulo reto são os catetos e o lado oposto a hipotenusa. Veremos que o famoso teorema de Pitágoras só vale na geometria euclideana. Exerćıcio 106: Mostre que o Teorema de Pitágoras vale na geometria anaĺıtica, isto é, mostre que dado o triângulo retângulo 4ABC, com ângulo reto ∠BAC, mostre que BC2 = AB2 + AC2. (Use o produto escalar de vetores.) Exerćıcio 107: Mostre que o Teorema de Pitágoras não vale na geometria hiperbólica. (Con- sidere o triângulo 4ABC em H tal que A = (0, 5), B = (0, 7) e C = (3, 4); calcule d(A,B), etc.) Exerćıcio 108: Mostre que a hipotenusa é maior do que os catetos. Use isto para mostrar que o ponto de uma linha ` mais próximo de um ponto P fora de ` é o pé da perpendicular a ` que passa por P . Observação: Definimos a distância do ponto P à linha ` como d(P, `) = d(P,Q), sendo que P = Q, se P ∈ `, ou Q é o pé da perpendicular a ` passando por P . Dado um triângulo 4ABC qualquer, seja D ∈ ←→ AB o pé da perpendicular a ←→ AB passando por C. O segmento CD é uma altura de 4ABC. Exerćıcio 109: Mostre que d(P, `) ≤ d(P,R), se R ∈ ` e d(P, `) = d(P,R) se, e somente se, ←→ PQ⊥ `. Exerćıcio 110: Mostre que se AB é o maior lado de 4ABC e CD é uma altura sobre o lado AB, então A−D −B. (Compare ângulos opostos aos lados convenientes.) Exerćıcio 111: (LLA para triângulos retângulos) Dados os triângulos 4ABC e 4DEF , tais que ∠BAC e ∠EDF sejam retos, AB ≡ DE e BC ≡ EF , mostre que 4ABC ≡ 4DEF . Solução e/ou Sugestão: Seja G ∈ ←→ DF tal que G−D − F e GD = AC. Por LAL, 4ABC ≡ 4DEG (por quê?). Como BC = EF , EF = BC = EG e, portanto, o triângulo 4EFG é isósceles, com ∠DFE ≡ ∠DGE. Por LAAo, 4DEF ≡ 4DEG ≡ 4ABC (por quê?). Exerćıcio 112: Nem sempre vale o critério LLA para triângulos não retângulos, isto é, dado o triângulo 4ABC não retângulo e tal que BC < AC, existe um triângulo 4DEF , tal que ∠BAC ≡ ∠EDF , AB ≡ DE e BC ≡ EF , mas 4ABC 6≡ 4DEF . Em que casos vale este critério? Basta acrescentar a hipótese de que BC > AB? MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 25 Solução e/ou Sugestão: Para isto, seja AG uma altura, com G ∈ ←→ BC . Então, ou A−G−C, ou A − C − G, pois G 6= A e G 6= C, por não ser triângulo retângulo, e G − A − C implicaria que BC > AC (por quê?). Seja E ∈ ←→ AC tal que E − G − C e EG = CG. Então E ∈ −−→AC , pois se E 6∈ −−→AC , novamente teŕıamos BC > AC (por quê?). Também temos que E 6= A (por quê?). Os triângulos 4ABC e 4ABE satisfazem as hipóteses ∠BAC ≡ ∠BAE, AB ≡ AB e BC ≡ BE, mas não são congruentes (por quê?). Exerćıcio 113: Dados os triângulos 4ABC e 4DEF , tais que ∠BAC e ∠EDF sejam retos, BC ≡ EF e ∠ABC ≡ ∠DEF , mostre que 4ABC ≡ 4DEF . Solução e/ou Sugestão: Use LAAo. Exerćıcio 114: Dados A 6= B, seja M ∈ AB o ponto médio e seja ` contendo M e perpendicular a ←→ AB e seja P um ponto qualquer. Mostre que AP = BP se, e somente se, P ∈ `. (Isto é, a mediatriz do segmento AB é o conjunto dos pontos do plano equidistantes de A e B.) Solução e/ou Sugestão: Mostre que se P ∈ ←→ AB então P = M ∈ ` e se P 6∈ ←→ AB , desça uma perpendicular a ←→ AB passando por P , seja N ∈ ←→ AB o pé da perpendicular. Mostre que 4PNA ≡ 4PNB e conclua que N = M e, portanto P ∈ `. Exerćıcio 115: Seja −−→BD a bissetriz de ∠ABC e sejam E ∈ −−→BA e F ∈ −−→BC os pés das perpendiculares passando por D. Mostre que DE = DF . Exerćıcio 116: Mostre que 4ABC é isósceles se, e somente se, quaisquer duas das seguintes figuras são colineares: (a) uma mediana de 4ABC; (b) uma altura de 4ABC; (c) uma mediatriz de 4ABC; (d) uma bissetriz de 4ABC. Solução e/ou Sugestão: São seis casos a serem considerados, (a) e (b), ou (a) e (c), ouetc. Por exemplo, seja M o ponto médio de BC e suponha que a mediana AM também é uma altura. Por LAL, 4AMB ≡ 4AMC, etc. 13. Circunferências: Dado um ponto C e um número real r > 0, o conjunto C = {P : d(P,C) = r} é chamado de circunferência, sendo C chamado de seu centro e r o seu raio. Se A,B ∈ C são tais que A − C − B, então o segmento AB é chamado de diâmetro de C e CA de segmento radial ou, por um abuso de linguagem, também chamaremos de raio de C; o interior de C é o conjunto int (C) = {P : d(P,C) < r}; o exterior de C é o conjunto MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 26 ext (C) = {P : d(P,C) > r}. Vamos estudar algumas propriedades de circunferências usando apenas os postulados até agora listados (isto é, até o LAL). NOTAÇÃO: Caso precisemos especificar o centro e o raio de C, escreveremos CC,r. Exerćıcio 117: Mostre que o conjunto A = {(x, y) ∈ H : x2 + (y − 5)2 = 16} é a circunferência de centro (0, 3) e raio ln 3 na geometria hiperbólica. Ou seja, a circunferência hiperbólica coincide com a euclideana, mas com seu centro deslocado para baixo. (Para isto, tome um ponto (a, b) ∈ A e mostre que d((a, b), (0, 3)) = ln 3; divida em casos a = 0 e a 6= 0; neste último, ache `p,r tal que (a, b) ∈ `p,r e (0, 3) ∈ `p,r, para calcular a distância; não esqueça de usar a equação x2 +(y−5)2 = 16 para o ponto (a, b).) Exerćıcio 118: Esboce a circunferência de centro (0, 0) e raio 1 na geometria do taxista. (Mostre que a equação que a define é |x|+ |y| = 1.) Exerćıcio 119: Verifique que a circunferência de centro (−1, 0) e raio 2 no plano de Moulton é descrita por {(x, y) ∈ R2 : (x + 1)2 + y2 = 4, se x ≤ 0 ou y ≤ 0 e 4x + 8 = √ (x + 2)2 + 4y2 +√ x2 + y2(2− x)2, se x > 0 e y > 0}. Exerćıcio 120: Voltando às geometrias que satisfazem LAL, dados três pontos P , Q e R não colineares e tais que as mediatrizes de PQ e QR se encontram, mostre que existe uma única circunferência C contendo estes pontos. Solução e/ou Sugestão: Seja C o ponto de encontro das mediatrizes e r = d(C,P ). Por congruênciade triângulos (quais?), CP = CQ = CR e, portanto P,Q,R ∈ C = CC,r. Para mostrar a unicidade de C, suponha que P,Q,R ∈ CD,s, para um ponto D e um número real s > 0. Sejam M o ponto médio de PQ e N o ponto médio de QR. Então, por congruências de triângulos (quais?), DM é perpendicular a PQ e DN é perpendicular a QR. Portanto D = C e s = r (por quê?). Exerćıcio 121: Mostre que se A e B são dois pontos da circunferência CC,r, mostre que C está na mediatriz de AB. Exerćıcio 122: Mostre que uma circunferência C pode ser circunscrita num triângulo 4ABC (isto é, seus vértices A, B e C estão em C) se, e somente se, suas mediatrizes se encontram num ponto (e este ponto é chamado de circuncentro de 4ABC). Observe que na geometria hiperbólica existem triângulos em que isto não acontece. Exerćıcio 123: Mostre que int (CC,r) é convexo. (Para isto, sejam A,B ∈ int (CC,r), A 6= B, e seja D ∈ AB; mostre que D ∈ int (CC,r); considere dois casos: C ∈ AB e compare distâncias; C 6∈ AB e considere os triângulos 4ABC e 4ABD e compare os lados.) Exerćıcio 124: Uma linha ` é dita uma tangente à circunferência C se `∩C contém um único ponto. Mostre que se A ∈ C e C é o centro de C, então a linha ` perpendicular a CA e passando por A é uma tangente a C. (Para isto, mostre que se B ∈ ` e B 6= A, então CB > CA.) MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 27 Exerćıcio 125: Uma linha ` é dita uma linha secante de C, se ela intersecta C em mais de um ponto. Mostre que neste caso ` encontra C em exatamente dois pontos A e B. (Separe em dois casos: ` contém o centro e ` não contém o centro.) Exerćıcio 126: Mostre que se ` é uma tangente à circunferência C passando pelo ponto A ∈ C, então ` é perpendicular a AC, sendo C o centro de C. Exerćıcio 127: Mostre que para qualquer triângulo 4ABC, existe uma única circunferência C inscrita em 4ABC (isto é, C é tangente aos três lados de 4ABC). (Mostre que o centro desta circunferência, chamado de incentro de 4ABC, é o ponto de encontro das bissetrizes de 4ABC.) Exerćıcio 128: Seja f : `→ R uma régua e P 6∈ ` um ponto. Seja h : R→ R a função definida por h(x) = d(P,Q), sendo que Q ∈ ` e f(Q) = x. Mostre que h é cont́ınua. Solução e/ou Sugestão: Precisamos mostrar que para cada x ∈ R, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que, para todo t ∈ R tal que 0 < |t| < δ, temos |h(x + t) − h(x)| < ε. (Lembre-se que isto é a definição de continuidade de uma função.) Sejam x ∈ R, Q ∈ `, tal que f(Q) = x, ε > 0, R,S ∈ ` tais que R−Q−S e d(R,Q) = d(S, Q) = ε. Se T ∈ int (RS), então d(T,Q) < ε (Q é o ponto médio de RS). Pela desigualdade triangular aplicada aos pontos P , Q e T , temos PQ+TQ ≥ PT e PT +TQ ≥ PQ. Destas duas desigualdades obtemos PT − PQ ≤ TQ e PQ − PT ≤ TQ, donde segue que |PQ − PT | ≤ TQ. Traduzindo isto em termos da função h, temos |h(Q) − h(T )| < d(T,Q). Seja t = f(T ) − f(Q); então f(T ) = x + t e d(T,Q) = |t|; portanto |h(Q) − h(T )| < |t|. Se fizermos δ = ε, obtemos que se |t| < δ = ε então |h(Q)− h(T )| < ε, como queŕıamos mostrar. Exerćıcio 129: Dados A, B e C não colineares e tais que ←→ AC⊥ ←→ AB , e dado r ∈ R tal que d(A,C) < r, mostre que existe um ponto D ∈ −−→AB tal que d(C,D) = r. (Para isto, seja E ∈ −−→AB tal que d(A,E) = r; mostre que d(C,E) > r; use a função do exerćıcio anterior para obter o resultado desejado; lembre-se do Teorema do Valor Intermediário, que diz que se f : [a, b] → R é cont́ınua, e f(a) < f(b), se f(a) ≤ r ≤ f(b) então existe c ∈ [a, b] tal que f(c) = r.) Exerćıcio 130: Mostre que se ` contém algum ponto do interior da circunferência C, então ` é uma linha secante de C. (Para isto, desça uma perpendicular do centro C de C a `; seja A o pé da perpendicular; use o exerćıcio acima.) Exerćıcio 131: Mostre que dada a circunferência C = CC,r e P ∈ ext (C), então existem exatamente duas linhas passando por P e tangentes a C. Solução e/ou Sugestão: Seja A o ponto de interseção entre o segmento PC e a circunferência C. Seja s = d(P,C); observe que s > r. A linha ` perpendicular a PC pelo ponto A contém o ponto A, que está no interior de D = CC,s e, portanto intersecta D em exatamente dois pontos R e S. Seja B o ponto de interseção de C e CR e D o ponto de interseção de C e CS. Por LAL, 4CBP ≡ 4CDP ≡ 4CAR (por quê?). Portanto ←→ PB⊥ CB e ←→ PD⊥ CD, ou seja, ←→ PB e ←→ PD são tangentes a C e são duas linhas distintas. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 28 Vamos mostrar agora que não existe outra linha tangente a C, passando por P . Para isto, observe que se X ∈ C, X 6= A e X 6= B, então X ∈ int (∠BPD) (por quê?). Portanto, se ` contém P mas não intersecta int (∠BPD), então também não intersecta C. Se ` intersecta int (∠BPD), pelas barras cruzadas, ` intersecta BD, num ponto F tal que B − F − D. Mas F ∈ int (C) (por quê?) e, portanto ` é uma linha secante de C. Portanto, só ←→ PB e ←→ PD são tangentes a C. Exerćıcio 132: Sejam 4ABC e 4DEF dois triângulos retângulos, com ângulos retos nos vértices A e D, respectivamente, tais que BC = EF , AB > DE. Mostre que AC < DF . Solução e/ou Sugestão: Sejam G ∈ −−→DE e H ∈ −−→DF tais que 4ABC ≡ 4DGH. Como AB > DE, temos que D−E−G. Queremos mostrar que D−H−F e, portanto AC = DH < DF . Para isto, vamos mostar que tanto H = F quanto D − F −H levam a uma contradição. Suponha que H = F ; como ∠DEH é agudo (por quê?), o ângulo suplementar ∠GEH é obtuso e, portanto é o maior ângulo de 4GEH, o que implica que o lado oposto GH é o maior dos lados de 4GEH. Mas isto contradiz o fato que GH = GF = BC = EF . Se D − F −H, usando o triângulo 4GFH, pelo mesmo tipo de argumentação, obtemos uma contradição (como?). Exerćıcio 133: Dada a linha `, A ∈ `, r > 0 e H1, um dos lados de `, seja h a função h(x) = d(P,X), sendo que X ∈ ` é tal que f(X) = x, sendo f : ` → R uma réguade ` tal que f(A) = 0 e P ∈ C = CA,r está em H1 ou em ` e também na linha perpendicular a `, passando por X. Mostre que o domı́nio de h é o intervalo fechado [−r, r] e que h é cont́ınua neste intervalo. Solução e/ou Sugestão: Se P ∈ C, P 6∈ `, e X é o pé da perpendicular a ` passando por P , então X está no interior de C (por quê?) e, portanto, |f(X)| = |f(X) − f(A)| = d(X, A) < r. Se P ∈ C ∩ `, então |f(P )| = r; finalmente, se X ∈ ` e d(X, A) > r, então a linha perpendicular a ` e contendo X não intersecta a circunferência C. Portanto o domı́nio de h é [−r, r]. Sejam B,C ∈ ` tais que f(B) = −r e f(C) = r. Para mostrar que h é cont́ınua em cada x ∈ [−r, r], dividiremos em dois casos, a saber, −r ≤ x ≤ 0 e 0 ≤ x ≤ r. Consideremos o caso em que −r ≤ x ≤ 0. Observe que se −r ≤ t < u ≤ 0, então h(t) < h(u), pois se T,U ∈ ` são tais que f(T ) = t, f(U) = u, sejam P,Q ∈ C ∩ H1, tais que PT ⊥ ` e QU ⊥ `. Pelo exerćıcio anterior, considerando os triângulos retângulos 4ATP e 4AUQ, temos que TP < UQ (por quê?). Portanto h(t) = d(T, P ) < d(U,Q) = h(u). Por outro lado, dado s ∈ R, tal que 0 = h(−r) < s < h(0) = r, existe X ∈ ` tal que h(x) = s, pois se D ∈ H1 é tal que DA ⊥ ` e d(D,A) = s, seja X ∈ −−→AB tal que d(X, D) = r (por quê tal ponto existe?). Então, considerando o triângulo retângulo 4DAX, temos que AX < DX = AB (por quê?), ou seja, B −X − A. Seja R ∈ C ∩ H1 tal que RX ⊥ `. Por LAL, 4DAX ≡ 4RXA e, portanto h(x) = d(X, R) = s, sendo x = f(X). Ou seja, provamos que h é estritamente crescente em [−r, 0] e que, para cada s ∈ [0, r] = [h(−r), h(0)], existe algum x ∈ [−r, 0], tal que h(x) = s. Vamos usar isto para mostrar que h é cont́ınua em cada x ∈ [−r, 0]. Primeiro, consideremos x ∈]−r, 0[. Dado ε > 0, sejam a, b ∈]−r, 0[, a < h(x) < b, |h(x)−a| < ε, |h(x)− b| < ε e t, u ∈]− r, 0[, tais que h(t) = a e h(u) = b. Então, como provamos que h é crescente em [−r, 0], temos que t < x < u. Seja δ = min{|x − a|, |x − b|}. Então se |x − w| < δ, temos que a < w < b, e portanto, |h(x)− h(w)| < max{|h(x)− a|, |h(x)− b|} < ε (por quê?). Ficam para os leitores tratarem dos casos em que x = −r, x = 0 e x ∈ [0, r]. MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 29 Exerćıcio 134: Mostre que se 0 < r, s < d(A,B) < r + s, então as circunferências A = CA,r e B = CB,s se encontram em dois pontos. Solução e/ou Sugestão: Escolhemos um lado H1 de ` e definimos funções hA : [−r, r] → R e hB : [b − s, b + s] → R (com domı́nio deslocado de b = f(B), sendo f uma régua de ` tal que f(A) = 0 e f(B) > 0), hA(x) = d(X, P ), sendo x = f(X), P ∈ A ∩ (H1 ∪ `) e PX ⊥ ` e hB(y) = d(Y, Q), sendo y = f(Y ), Q ∈ B ∩ (H1 ∪ `) e QY ⊥ `, como no exerćıcio anterior. Como 0 < r, s < d(A,B) = b < r + s, temos b− s < r, ou seja, a função h(x) = hA(x)−hB(x) está definida no intervalo [b − s, r]. Neste intervalo, hA é decrescente e hB é crescente (por quê?). Temos que h(b− s) = hA(b− s)− hB(b− s) = hA(b− s) > 0 e que h(r) = hA(r)− hB(r) = −hB(r) < 0. Como h é cont́ınua (pois é diferença de duas funções cont́ınuas) e muda de sinal, existe x ∈ [b − s, r], tal que h(x) = 0. Se x = f(X), X ∈ `, então os pontos P ∈ A ∩H1 e Q ∈ B ∩H1, tais que PX ⊥ ` e QX ⊥ ` são tais que d(P,X) = d(Q,X). Portanto P = Q. O outro ponto de encontro de A e B é o ponto R ∈ ←→ PX tal que P −X −R e PX = XR (por quê?). Observação: O exerćıcio anterior descreve uma propriedade importante do instrumento de desenho que traça circunferências, que é o compasso. De certo modo, podemos dizer que uma circunferência é uma curva cont́ınua. Sua utilidade será explorada nos exerćıcios a seguir. 14. Primeiras Construções com Régua e Compasso: Um ponto im- portante em geometria, principalmente em aplicações práticas, são construções com réguas não grad- uadas e compassos. Alguns dos problemas mais famosos de tais tipos de construções são construções de poĺıgonos regulares (isto é, todos os lados são congruentes e todos os ângulos são congruentes). Muitas das construções são válidas apenas na geometria anaĺıtica ou na geometria hiperbólica e out- ras são imposśıveis. Por exemplo, na geometria anaĺıtica, o matemático francês E. Galois descobriu um critério geral de construtibilidade, estudado em cursos sobre a Teoria de Galois (por exemplo, Álgebra III do bacharelado). Vamos apenas descrever algumas construções posśıveis comuns a todas as geometrias em que valem os postulados enunciados até agora (até LAL). ATENÇÃO: Nesta seção, descrever as construções usando apenas uma régua não graduada e um compasso. Por exemplo, para construir uma linha, contruir dois pontos dela. Descrever as construções e mostrar que são corretas. Exerćıcio 135: (Construção de Triângulos) Dados a, b, c ∈ R, a > 0, b > 0, c > b e a < c < a + b, mostre que existe um triângulo 4ABC, tais que seus lados medem a, b e c. (Para isto, seja ` uma linha, A,B ∈ ` dois pontos tais que d(A,B) = c e seja H1 um dos lados de `. Sejam A = CA,b e B = CB,a as circunferências de centros A e B e raios b e a, respectivamente; etc.) Exerćıcio 136: (Construção de Perpendiculares I) Dada uma linha ` e um ponto P ∈ `, construir com compasso e régua uma linha ←→ AP ⊥ `. (Para achar um ponto A tal que ←→ AP ⊥ `, seja r ∈ R, r > 0, sejam B,C ∈ `, tais que B −P −C e B,C ∈ CP,r; seja A ∈ CB,2r ∩CC,2r; por quê tal A existe e ←→ AP ⊥ `?) MAT-230: Notas de Aula e Exerćıcios - Prof. R. Bianconi 30 Exerćıcio 137: (Construção de Perpendiculares II) Dada uma linha ` e um ponto P 6∈ `, construir com compasso e régua uma linha ←→ AP ⊥ `. (Escolha um ponto C ∈ ` e trace a circunferência de centro P , contendo C, etc.) Exerćıcio 138: Dado o segmento AB, construir com régua não graduada e compasso o ponto médio de AB. Exerćıcio 139: Dado o triângulo4ABC, achar o ponto D tal que �ABCD seja um quadrilátero convexo com CD = AB e AD = BC. Exerćıcio 140: Dado o ângulo ∠AOB, achar sua bissetriz. Observação: Nos Elementos de Euclides, os instrumentos de desenho são uma régua não grad- uada e um compasso que colapsa (se o tiramos do papel, perdemos sua abertura). Portanto só podemos construir uma circunferência se conhecermos seu centro e um ponto dela. Com isto, não é imediato construir um ponto B na semi-reta −−→AP tal que AB seja congruente a um segmento CD dado. Por isso, as três primeiras Proposições dos Elementos, descrevem como obter tal segmento. A primeira descreve como obter um triângulo equilátero 4ABC, conhecendo seu lado AB; a segunda descreve como obter um segmento AB, dado o ponto A e congruente ao segmento CD também dado; por fim, a terceira descreve como construir AB ≡ CD, com B ∈ −−→AP , sendo dados CD e−−→ AP . Vamos descrever tais construções no exerćıcio seguinte. Exerćıcio 141: São dados o segmento CD e a semi-reta −−→AP . Construir um ponto E tal que 4ACE seja equilátero (usando o exerćıcio acima). Com centro em C, traçar a circunferência A = CC,r, sendo r = d(C,D). Seja G o ponto de encontro entre −−→ EC e A (por tal ponto quê existe e é único?). Seja B = CE,s, sendo que s = d(E,G). Seja F ∈ −−→ EA ∩ B (por tal ponto quê existe e é único?). Mostre que AF ≡ CD. Seja D = CA,t, sendo t = d(A,F ) e seja B ∈ −−→ AP ∩ D. Observe que AB ≡ CD. 15. Geometria Absoluta: A teoria de geometria baseada nos postulados 1 a 7, enunciados até agora é chamada de Geometria Absoluta ou Geometria Neutra. Estes postulados ainda não são suficientes para caracterizar a geometria euclideana (ou anaĺıtica), pois vimos que tanto na geometria euclideana, como na hiperbólica, valem os postulados 1 a 7. Veremos mais adiante que o postulado das paralelas é o que falta para tal caracterização. Mas antes, vamos apresentar a primeira formulação da geometria absoluta, feita por D. Hilbert em 1900, que é equivalente á geometria métrica (com Pasch e LAL), apresentada nestas notas e que foi desenvolvida por G. D. Birkhoff em 1933. São postulados:
Compartilhar