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07 - I CO RÍN TIO S

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I CORÍNTIOS
Anthony Palma
INTRODUÇÃO
1. Paulo e a Igreja em Corinto
Em sua Segunda Viagem Missionária, Paulo 
visitou Corinto (At 18.1-18) depois de pregar 
nas principais cidades da Macedônia e em 
Atenas. Ele permaneceu na cidade por um 
ano e meio (18.11). Pode ter chegado a 
Corinto na primavera do ano 50 d.C. e partido 
no outono de 51 d.C.
Logo depois de chegar a Corinto, Pau­
lo encontrou Áquila e Priscila, com quem 
permaneceu. Ele testemunhou a respeito 
de Cristo a cada sábado na sinagoga, até 
que a resistência judia forçou-o a se reti­
rar, mas não antes que Crispo, o principal 
da sinagoga, se convertesse juntamente com 
sua casa. Paulo então voltou-se aos genti­
os; em meio aos convertidos haveriam 
prosélitos do judaísmo e pessoas temen­
tes a Deus, como também idólatras pagãos.
A oposição judaica culminou na acusa­
ção dos judeus contra Paulo diante de Gálio, 
o procônsul da Acaia. Gálio expulsou os judeus 
do tribunal (At 18.16) porque julgou que 
este era um assunto interno do judaísmo, 
que deveriam resolver entre si mesmos. A 
menção de Gálio fornece uma das poucas 
datas do Novo Testamento que pode ser 
averiguada com precisão razoável. Basea­
do em uma inscrição encontrada em Delfi, 
seu proconsulaclo provavelmente começou 
em julho de 51 d.C. Os judeus provavelmente 
apelaram a ele logo depois de sua posse.
Depois de deixar Corinto no outono 
de 51 cl.C., Paulo fez uma breve parada 
em Éfeso antes de retornar a Antioquia 
na Síria. Visitou novamente Éfeso no ve­
rão de 52, e permaneceu ali por cerca de 
três anos (At 20.31).
2. A Correspondência Coríntia
Sabemos que Paulo escreveu pelo menos 
quatro cartas aos coríntios.
1) Durante sua longa permanência em Éfeso,
escreveu uma carta anterior a 1 Coríntios,
à qual faz alusão em 5.9. Esta carta foi perdida 
a menos que, como alguns acreditam, parte 
dela esteja em 2 Coríntios 6.14—7.1.
2) Mais tarde escreveu 1 Coríntios, possivel­
mente na primavera de 55 d.C., algum tempo 
antes do Pentecostes (1 Co 16.8).
3) Em 2 Coríntios ele se refere a uma carta 
que escrevera “em muita tribulação e an­
gústia do coração, com muitas lágrimas” 
depois de ter escrito 1 Coríntios (2 Co 2.3- 
9; 7.8).
4) Sua última carta era 2 Coríntios, escrita 
possivelmente no outono de 56 d.C.
3. Ocasião da Escrita
A Epístola de 1 Coríntios é provavel­
mente a mais “ocasional” de todas cartas 
de Paulo, principalmente por causa das 
circunstâncias sob as quais foi escrita. 
O apóstolo foi motivado a escrever a 
carta depois de receber relatórios so­
bre condições perturbadoras na assem­
bléia coríntia. Uma das fontes de infor­
mação eram os membros de casa do Cloe
( 1 .11); os capítulos 1— 6 são uma res­
posta aos seus relatórios. Outra fonte 
principal de informação era Estéfanas, 
Fortunato, e Acaico, membros da igreja 
coríntia, que entregaram uma carta da 
igreja a Paulo em Éfeso (16.15-17). A 
maior parte dos capítulos 7— 16 responde 
a perguntas que foram formuladas na­
quela carta. A variedade de problemas 
que Paulo era c
ompelido a tratar causaram as mudan­
ças às vezes abmptas de um tópico a outro.
Os numerosos e sérios problemas na 
igreja coríntia provavelmente não eram 
típicos de todas as igrejas que Paulo fun­
dou. Servem, não obstante, para evitar que 
o crente contemporâneo tenha alguma visão 
idealizada ou romantizada em relação à 
igreja primitiva. Os tipos de problemas, 
se não os próprios problemas específicos, 
vieram à tona na Igreja ao longo de sua 
história.
927
I CORÍNTIOS
Norte
Para Lechaion
Corinto
N o t e m p o d e P a u l o
A cidade de Corinto, posicionada como os olhos 
de um titã caolho, transversalmente sobre o estrei­
to istmo que liga o continente grego ao Peloponeso, 
já era um dos centros comerciais dominantes do 
mundo Helenístico no oitavo século a.C.
Nenhuma cidade na G récia era mais favo­
ravelm ente situada para o com ércio por terra 
e mar. Com uma alta e im ponente cidadela à 
sua retaguarda, situa-se entre o golfo Sarônico 
e o mar Jônio aportando em Lechaion e Cencréia. 
Um diolkos, ou uma linha de pedra, para o trans­
porte terrestre de navios, ligava os dois m a­
res. No topo do A crocorinto estava o templò 
de Afrodite, que era servido, de acordo com 
Strabo, por mais de 1.000 sacerdotisas-pros- 
titutas pagãs.
Quando o evangelho alcançou Corinto, na pri­
mavera de 52 d.C., a cidade possuía uma orgulhosa 
história de liderança na Liga Acaia e um espírito de 
helenismo reavivado sob a dominação romana, após 
a destruição da cidade por Múmio em 146 a.C.
A longa estada de Paulo em Corinto colocou- 
o diretamente em contato com os principais mo­
numentos da Ãgora, muitos dos quais ainda per­
manecem. A casa da nascente, na fonte Peirene, 
o templo de Apoio, o m acellum ou o mercado de 
carne (1 Co 10.25), o teatro, o bema (At 18.12) e 
a inexpressiva sinagoga, todos estes tiveram sua 
participação na experiência do apóstolo. Uma ins­
crição no teatro traz o nome do oficial da cidade, 
Erasto, provavelmente o amigo de Paulo menci­
onado em Romanos 16.23.
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M ar M ed iterrâneo
Após pregar na Macedônia e em Atenas, Paulo 
visitou Corinto e permaneceu ali por cerca de um 
ano e meio.
Os vários problemas na assembléia 
coríntia resultaram em um tremendo be­
nefício para a Igreja como um todo. Se 
não fossem os seus problemas, estaríamos, 
por exemplo, sem um tratamento teoló­
gico da Ceia do Senhor, sem o grande 
capítulo do amor, sem o tratamento es­
tendido aos dons espirituais, sem a clás­
sica passagem a respeito da ressurreição 
do corpo, e sem as instruções relaciona­
das à disciplina da Igreja, ao casamento, 
e à ética Cristã.
4. A Cidade de Corinto
Nos tempos do Novo Testamento, Corinto 
era provavelmente a terceira maior ci­
dade do Império Romano, aproximan­
928
I CORÍNTIOS
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Paulo visitou a cidade romana de 
Corinto em sua segunda viagem. 
Seu marco mais visível, o 
Acrocorinto, eleva-se a uma altura 
de cerca de 600metros e teve um 
templo para Afrodite no topo. As 
colunas no primeiro plano fazem 
parte das ruínas do Templo de 
Apoio, do quinto-século a.C. 
Corinto teve a reputação de uma
do-se de Roma e Alexandria. Sua popu­
lação foi variavelmente estimada, mas 
pode ter chegado a aproximadamente 
meio milhão de pessoas. Era localiza­
da no Peloponeso, uma pequena área 
de terra ligada a principal ilha grega por 
um istmo estreito. Situava-se a uma milha 
e meia ao sul do istmo.
Corinto alcançou o ápice de sua gló­
ria e prosperidade por volta do ano 600
a.C, Foi destruída pelos romanos em 146
a.C. Em 46 a.C. foi reconstruída por Júlio 
César, que designou-a como uma colô­
nia romana e povoou-a com muitos ci­
dadãos romanos livres. Augusto, o primeiro 
imperador romano (que morreu em 14 d.C.) 
fez de Corinto a capital da província da 
Acaia. Quando Paulo visitou a cidade pela 
primeira vez em 50 d.C., a população 
consistia em gregos nativos, romanos, judeus 
e também escravos.
Por causa de sua localização ideal, 
Corinto era o cruzamento de muitas ro­
tas de comércio e daqueles que viajavam 
entre Roma e o Leste. Não era uma cida­
de à beira-mar, porém estava próxima a 
dois portos localizados no istmo-Cencréia, 
em direção ao mar Egeu (At 18.18; Rm
16.1) e Lechaeum para o Mar Adriático. 
Os capitães das embarcações escolheram 
tomar sua carga através do istmo em lugar 
de viajarem em torno do Peloponeso. Os 
navios menores seriam arrastados atra­
vés do istmo estreito por meio de dispo­
sitivos especiais - a uma distância de apro­
ximadamente três milhas e meia. A car­
ga de navios maiores seria descarregada
em um lado e recarregada sobre outro 
navio no outro lado. Um canal, cujas obras 
foram concluídas em 1893, agora corta 
através do istmo.
O marco mais proeminente da cida­
de é o Acrocorinto, que sobe para o sul 
a uma altura de cerca de 600 metros. Serviu 
como uma fortaleza efetivacontrolando 
as rotas de comércio em e através do 
Peloponeso. O templo de Afrodite esta­
va situado ali. Outros templos notórios 
na cidade eram dedicados aos deuses Apoio 
e Asclépios. As “prostitutas do templo” 
eram comuns, o que em parte contribuía 
para a reputação de Corinto como uma 
cidade imoral. Costumava-se empregar 
o verbo kor in th iazom ai (corintianizar), 
para se descrever um estilo de vida li- 
cencioso.
Os artigos arqueológicos de interesse 
incluem.
1) Uma inscrição contendo a palavra latina 
macellum (“mercado”, veja 1 Co. 10.25);
2) Uma loja no mercado cujo degrau trazia a 
inscrição “Lúcio, o Açougueiro”;
3) Uma estrutura ornamentada onde os fun­
cionários públicos atendiam as pessoas;
4) Uma inscrição próxima a um edifício que 
portava a palavra latina rostra, equivalente 
ao termo grego bema (“assento de julga­
mento”, At, 18.12) - provavelmente o lu­
gar para onde Paulo foi trazido à presen­
ça de Gálio, o procônsul da Acaia.
Os Jogos do Istmo, que honravam a 
Posseidon, o deus grego do mar, eram 
realizados a cada dois anos. Ocupavam 
o segundo lugar em importância, só per
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I CORÍNTIOS
dendo para os Jogos Olímpicos. Sua pro­
ximidade a Corinto é a causa das referências 
que Paulo faz ao atletismo nas cartas aos 
coríntios.
ESBOÇO
1 .Introdução (1.1-9)
1.1. Saudação (1 .1 -3)
1.2. A ção de G raças (1.4-9)
2. Resposta às Notícias de Corinto (1.10-
6 .20)
2.1. Sabedoria e D ivisão em Corinto 
(1 .10 -4 .21 )
2.1.1. Divisões na Igreja (1 .10-17)
2.1.2. A Sabedoria e o Poder de Deus 
(1 .18-31)
2.1.3. O Testem unho do Paulo (2 .1 -5)
2.1.4. A Falsa e a Verdadeira Sabedoria 
( 2 .6- 16)
2.1.5. A Im aturidade Espiritual (3 .1 -4)
2.1.6. Paulo e Apoio. Com panheiros no 
Serviço ao Senhor (3 .5 -15)
2.1.7. O Tem plo de Deus (3 .16 ,17)
2.1.8. O Pensam ento Tolo e o 
Pensam ento Sábio (3-18-23)
2.1.9. A Obra dos Servos do Senhor (4.1-5)
2.1.10. Os Verdadeiros Apóstolos (4.6-13)
2 .1 .1 1 .P a u lo : Seu Pai Espiritual (4 .14-21)
2 .2 . A Imoralidade Sexual e a Igreja (5.1-13)
2.2.1. O Irm ão Incestuoso (5.1-8)
2.2.2. A A ssociação com Crentes Imorais
(5 .9 -13)
2.3. D em andas Entre Crentes (6 .1 -11)
2.3.1. Os Cristãos e os Tribunais Cíveis 
( 6 .1 -6)
2.3.2. A Atimde Correta quando Alguém 
Sofre um Prejuízo (6 .7 ,8 )
2.3.3. Herdeiros do Reino (6 .9 -11)
2 .4 . O Ensino Sobre a Im oralidade Sexual 
(6 .12-20)
2.4.1. A Natureza da Im oralidade Sexual 
(6 .12-17)
2.4.2. O Tem p lo do Espírito Santo 
(6 .1 8 -2 0 )
3- A Resposta a uma Carta de Corinto
(7 .1 — 1 6 .4 )
3.1. O Casam ento e as Q uestões Rela­
cionadas (7 .1-40)
3.1.1. O Com portam ento Adequado 
dentro do Casam ento (7 .1-7)
3.1.2. O s Solteiros e as Viúvas (7 .8 ,9)
3.1.3. O Casal Cristão (7 .10 ,11)
3.1.4. Casam entos Mistos (7 .12-16)
3.1.5. A Perm anência no Estado Presente 
(7 .17-28)
3.1.6. Razões para Perm anecer no Estado 
Presente (7 .29-35)
3.1.7. As Virgens e as Viúvas (7 .36-40)
3.2. Os Alim entos Sacrificados a ídolos 
(8.1— 11.1)
3.2.1. A Superioridade do Amor Acima da 
“C iência” (8 .1 -8)
3.2.2. O Pecado Contra um Irm ão Fraco 
(8 .9 -13)
3.2.3. Os Direitos de um Apóstolo (9-1-27)
3.2.4. A História de Israel. Uma 
Advertência (10 .1-13).
3.2.5. A Ceia do Senhor e as Festas 
Idólatras (10 .14-22)
3.2.6. Com er Aquilo que se Vende no 
M ercado (10 .23— 11.1)
3.3. A A doração Cristã (11 .2-34)
3.3-1. O véu das Mulheres (11 .2-16)
3.3.2. A Ceia do Senhor (11 .17-34)
3.4. Os D ons Espirituais (12 .1— 14.40)
3.4.1. O Ensino Básico Sobre os Dons 
( 12.1-11)
3.4.1.1. O Critério Geral para D eterm inar 
os D ons (12 .1-3)
3.4.1.2. A Variedade e a B ase dos Dons 
(12 .4 -6)
3.4.1.3. A Lista de Exem plos de Dons 
(12 .7 -11)
3.4.2. Um Corpo, Muitos M em bros 
(12 .12-27)
3.4.3. D ons Adicionais (12 .28-31a)
3.4.4. O Amor e sua R elação com os 
Dons (12 .31b— 13.13)
3.4.4.1. Com entários Introdutórios sobre 
o Amor (12 .31b — 13.3)
3.4.4.2. Características do Amor (13 .4-7)
3.4.4.3. O Amor em um Contexto Escato- 
lógico (13-8-13)
3.4.5. A N ecessidade de Inteligibilidade 
na A doração (14.1-25)
3.4.5.1. O Fundam ento (14 .1-5)
3-4.5.2. Fortalecendo o Argum ento 
(1 4 .6 -1 2 )
3.4.5.3* A Necessidade da Interpretação 
das Línguas (14.13-19)
3.4.5.4. O Apelo aos Coríntios (14 .20-25)
3.4.6. A Necessidade de uma M etodologia
930
I CORÍNTIOS 1
nu Adoração (14.26-40)
3-4.6.1. A Variedade e a Espontaneidade 
na Adoração ( l4 .2 6 -3 3 a )
3.4.6.2. As m ulheres na Adoração 
(l4 .3 3 b -3 5 )
3-4.6.3- A Conclusão sobre os D ons Espi­
rituais (14 .36-40)
Artigo A. Jesu s se Tornou Maldito?
Artigo B. Os D ons Espirituais 
Artigo C. A O peração de Milagres 
Artigo D . O D om da Profecia com o 
R evelação
Artigo E. O D iscernim ento dos Espíritos 
Artigo F. G lossolália - Lucas e Paulo 
Estão de Acordo?
Artigo G. Batizado Pelo e N o Espírito Santo 
Artigo H . Os G em idos de Rom anos 8 .26
3.5. A Ressurreição (15 .1-58)
3.5.1. O s E lem entos do Evangelho 
(15 .1 -1 1 )
3.5.2. A N egação da R essurreição 
(1 5 .1 2 -1 9 )
3.5.3- Cristo, as Primícias (15 .20-28)
3.5.4. O s Argum entos da Experiência 
(15 .29-34)
3.5.5- A Natureza da Ressurreição do 
Corpo (15 .35-49)
3.5.6. O Triunfo dos Crentes sobre a 
Morte (15 .50-58)
3.6. A O ferta (16 .1 -4)
4 . Conclusão (1 6 .5 -2 4 )
4.1. O s Planos Pessoais de Paulo (16 .5 -9)
4.2. R ecom end ações a Respeito de 
Alguns Crentes (16 .10-18)
4.3. Saudações Finais e a Bênção (16.19-24)
COMENTÁRIO
1. Introdução (1 .1-9)
1.1. Saud ação (1.1-3)
As palavras de abertura da carta possu­
em os elementos essenciais de uma sau­
dação comum às cartas do primeiro sé­
culo: identificação do escritor, identificação 
dos destinatários e votos de bem-estar.
Paulo lembra aos crentes de Corinto 
que foi “chamado apóstolo dejesus Cristo” 
(apostolos significa “enviado”). Ele não 
é um apóstolo por sua própria escolha,
mas “pela vontade de Deus”. Deve ter 
recordado muitas vezes que antes de sua 
conversão, havia sido designado pelos 
anciões judeus em Jerusalém como seu 
“enviado” a Damasco para investigar e 
perseguir os seguidores de Cristo (At 9.1-
3). Aqui há uma ironia divina. O “envi­
ado” dos sacerdotes judeus contra os cris­
tãos se tornou o “enviado” de Cristo Je ­
sus. Como apóstolo de Cristo, ele tem o 
completo apoio, endosso, e a autorida­
de de Cristo. Ele retornará a este tema 
de seu apostolado em vários pontos crí­
ticos da carta.
Paulo é acompanhado por “nosso ir­
mão Sóstenes” (literalmente, “Sóstenes, 
o irmão”). “O artigo implica que ele era 
bem conhecido por alguns coríntios” 
(Robertson e Plummer, 2). Ele possivel­
mente é o Sóstenes, principal da sinago­
ga em Corinto quando Paulo pregou na­
quela cidade, e que foi agredido pelos judeus 
que eram hostis a Paulo (At 18.17). Os 
primeiros cristãos identificaram-se freqüen­
temente como irmãos, que destacaram tanto 
a sua associação uns com os outros quanto 
a sua filiação a Deus (cf. Rm 16.23; 1 Co 
16.12; 2 Co 1.1; Cl 1.1; Fm 1; Hb 13.23). o 
termo, porém, também foi usado em um 
sentido religioso em círculos judaicos e 
pagãos.
Os termos empregados por Paulo cos­
tumam identificar que os destinatários da 
carta são importantes. Eles são “a igreja 
de Deus”, “santificados em Cristo Jesus”, 
e “chamados santos”. Mais adiante na carta, 
ele trata de vários aspectos da Igreja. A 
palavra grega traduzida como “igreja” 
(ek.klesia) era comumente usada no mundo 
grego. Já havia sido usada na Septuaginta 
como uma designação para Israel (Dt 4.10; 
veja também At 7.38). Era geralmente 
empregada para designar uma reunião de 
pessoas, ou especificamente para o ajun­
tamento de funcionários da comunidade 
com o objetivo de administrar assuntos 
cívicos (At 19-32,39,41). Os primeiros crentes 
adotaram esta palavra como uma desig­
nação comum para um ajuntamento lo­
cal de cristãos (por exemplo, 1 Co 4.17; 
7.17; 11.16; 14.33; Gl 1.22) ou para o cor­
po universal de crentes (por exemplo, 1
931
I CORÍNTIOS 1
Co 15.9; Ef 5.25). É a Igreja “de Deus”; isto 
é, pertence a Ele. Devidoao apego dos 
coríntios a vários líderes, Paulo pode estar 
insinuando que a Igreja não pertence a 
qualquer deles.
Os crentes são também “chamados para 
ser santos”. Da mesma maneira que Pau­
lo foi especificamente chamado por Deus 
para o apostolado, assim também todos 
os crentes são chamados para a santida­
de. A expressão referente àqueles que 
haviam sido santificados, no grego, está 
no tempo perfeito, indicando tanto uma 
ação passada quanto um estado contínuo. 
A designação de cristãos como santos é 
freqüentemente mal entendida. O termo 
“santo” no grego (hagios) é um adjetivo 
e significa “santo”. Quando descreve uma 
pessoa e nenhum substantivo é usado, quer 
dizer “um santo” ou “santo”. Deriva do verbo 
bagiazo, cujo significado básico é “separar”.
Conseqüentemente, os cristãos são aqueles 
que foram separados por Deus de sua vida 
de pecado e rebelião para uma vida de serviço 
e devoção a Ele. Paulo mais tarde diz aos 
coríntios que estes foram santificados, jun­
tamente com as expressões paralelas “la­
vados” e “justificados” (6.11). O Israel antigo 
era “uma nação santa” [separada] (Êx 19.5,6) 
apesar de suas imperfeições. Os crentes 
também são santos, apesar de suas imper­
feições. De fato, Pedro refere-se aos cren­
tes como “uma nação santa” (1 Pe 2.9).
Os crentes de Corinto não só foram 
chamados por Deus; eles, com todos os 
crentes em todos os lugares, foram cha­
mados pelo nome do Senhor Jesus Cris­
to, e deste modo foram salvos (1.2; cf. Jl 
2.32; Rm 10.13). Ser chamado pelo nome 
do Senhor quer dizer confessar fé nEle e 
destacar tudo que Ele é, pois na lingua­
gem bíblica o nome designa freqüente­
mente a natureza ou o caráter da pessoa.
Paulo deseja “graça e paz” à Igreja, 
saudações gregas não-cristãs normalmente 
enviadas (ch a ire in ) a um amigo — uma 
palavra encontrada na saudação da carta 
que o conselho de Jerusalém enviou às 
igrejas dos gentios (At 15.23; cf. também 
Tg 1.1). A palavra de Paulo, “graça” (charis), 
deriva-se desta. O conceito de graça do 
Novo Testamento pode ser freqüentemente
traçado a partir da idéia do Antigo Testa­
mento, de um amor firme (ou mansidão); 
seu significado básico é o da bênção 
imerecida que é dada por Deus. O dese­
jo de “paz” reflete a saudação judaica comum; 
sbalom , que incorpora a idéia de inteire­
za e bem-estar. De acordo com Barrett (35), 
quando os cristãos desejam graça e paz a 
outro crente, estão orando para que “este 
possa apegar-se mais firmemente à gra­
ça de Deus em que já se encontra, e à paz 
de que já desfruta”. Robertson e Plummer 
(4) sugerem que esta graça é a fonte, e a 
paz é a consumação.
Graça e paz vêm ambas de “Deus nos­
so Pai e do Senhor Jesus Cristo”, seu Fi­
lho. O Pai é a fonte e Cristo é o mediador 
ou o agente pelo quais estas vêem a nós.
1.2. Ação de G raças (1.4-9)
Nesta seção de ação de graças, Paulo antecipa 
assuntos sobre os quais logo escreverá, 
tais como os sermões, o conhecimento, 
os dons espirituais, o conceito da Igreja 
e a Vinda do Senhor. Ele elogia os cren­
tes coríntios, embora grande parte da carta 
seja de natureza corretiva. Procura nova­
mente levá-los à sua experiência de con­
versão, menciona os dons espirituais com 
que haviam sido enriquecidos, e enfatiza 
a capacidade que Deus possui de mantê- 
los firmes até a Vinda do Senhor.
Paulo agradece a Deus pela vida dos 
coríntios, por causa da graça de Deus que 
estes experimentaram. Vale a pena notar 
vários pontos a respeito da graça divina.
1) E dada por Deus; não é algo que alguém 
alcance por seus próprios méritos (Rm 12.3, 
6; 15.15; 1 Co 3.10; Gl 2.9; Ef 2.8; 3.7).
2) Está “em Cristo Jesus” — uma lembrança 
de que todas as bênçãos de Deus estão 
centralizadas em seu Filho. Nesta conexão, 
eles foram enriquecidos em todos os sen­
tidos. Em várias outras ocasiões Paulo fala 
sobre a riqueza espiritual da vida cristã (2 
Co 6.10; 8.2,7, 9; 9.11).
3) Eles não tinham falta de qualquer dom 
espiritual (charisma). Um carisma é um 
dom recebido como o resultado da graça 
de Deus (charis).
932
I CORÍNTIOS 1
Os crentes coríntios estavam colocando 
importância considerável em assuntos 
relacionados a “falar” e “conhecer” (v.
5), especialmente naquilo que estava 
relacionado aos dons espirituais. Eram 
cativados pelo dom de línguas e apa­
rentemente avaliaram-no acima dos de­
mais dons. Também tinham na mais alta 
conta o dom de profecia, outro dom de 
expressão. Além disso, orgülhavam-se 
por terem conhecimento (gnosis), uma 
palavra que recebe muita atenção na cor­
respondência de Paulo a eles (8.1, 7,10- 
11; 12.8; 13.2,8; 14.6; 2 Co 2.14; 4.6; 6 .6 ; 
8.7; 10.5; 11.6). Quando retorna a estes 
temas, não fala com desprezo dos dons 
ligados à fala e ao conhecimento, mas 
fornece um ensino corretivo porque os 
coríntios se excederam na ênfase, e os 
compreenderam de modo equivocado. 
Seria anacrônico dizer que os coríntios 
foram influenciados pelo sistema filo­
sófico que veio a ser conhecido como 
gnosticismo, mas pode-se certamente 
detectar a influência incipiente do pen­
samento gnóstico, que “pode ser des­
crito como ‘gnostizante’, em lugar de 
‘gnóstico’” (Bruce, 31).
A declaração de que aos coríntios não 
falta nenhum dom espiritual (v. 7) tem sido 
entendida de vários modos.
1) Pode significar que eles, como uma congre­
gação, possuíam todos os dons espirituais.
2) De um relacionamento próximo é a idéia 
que, potencialmente, se não de fato, todos 
os dons poderiam ser seus (cf. Robertson 
e Plummer [6], que entendem que a manu­
tenção dos pontos de construção grega 
conduzem a um resultado contemplado).
3) Pode ainda significar que os coríntios jac­
tavam-se de possuírem todos os dons, e 
que Paulo estivesse sendo sarcástico re­
petindo a sua reivindicação. Mas é improvável 
que Paulo reprove-os a este respeito. Tendo 
em vista o que escreveu nos capítulos 12- 
14, a segunda opção é a melhor
“O dia de nosso Senhor Jesus Cristo” 
(v. 8) se refere à volta de Cristo, que Pau­
lo chama de “a revelação de nosso Senhor 
Jesus Cristo” (v. 7) e que fala de sua vin­
da em glória (4.5; 15.23). Isto pode ser con­
siderado como um corretivo para a idéia
equivocada de alguns coríntios, de que 
já haviam experimentado a plenitude do 
final dos tempos, um assunto ao qual Paulo 
retorna por várias vezes. No Antigo Tes­
tamento, este fato é às vezes menciona­
do como “o dia do Senhor” (Jl 2.31; Am
5.18). Em lugar de serem aterrorizados pela 
idéia do julgamento próximo, os cristãos 
podem ser encorajados pelo pensamen­
to de que o Senhor os manterá fortes, ou 
firmes, até o fim (v. 8). A palavra paralela 
de Paulo aos filipenses é: “Tendo por certo 
isto mesmo: que aquele que em vós co­
meçou a boa obra a aperfeiçoará até ao 
Dia dejesus Cristo” (Fp 1.6).
Ser inocente ou irrepreensível na Vin­
da do Senhor (Cl 1.22) não depende do 
mérito dos cristãos, mas da fé que têm em 
Cristo, que se tomou “nossa justiça” (1 Co
1.30). Isto é alicerçado na verdade de que 
“Deus é fiel” — uma expressão favorita 
de Paulo (10.13; 1 Ts 5-24; 2 Ts 3-3; 2 Tm 
2.13; veja também Hb 10.23; 11.11). “Se 
eles falharem, não será sua culpa” (Robertson 
e Plummer, 7). Uma bênção final que cada 
cristão desfruta é a de ser chamado por 
Deus “à comunhão” (ko in on ia) com seu 
Filho, que significa partilhar em e com Cristo.
2. Resposta às Notícias de Corinto
( 1.10— 6 .20)
Ao longo da carta Paulo lida com pro­
blemas na congregação coríntia. Uma 
fonte de seu conhecimento dos problemas 
eram os membros de casa do Cloe, que 
o visitaram em Éfeso. Havia também sido 
visitado por vários irmãos de Corinto 
(16.15-18).
2.1. Sabedoria e Divisão em 
Corinto (1.10— 4.21)
2.1.1.DivisõesnaIgreja(1.10-17).Pau-
lo trata primeiramente do problema das 
divisões dentro da congregação, mas Fee 
(47) alerta corretamente que pelo fato das 
divisões e disputas serem “o primeiro tópico 
de que Paulo fala, a maioria das pessoas 
tende a ler o restante da carta à luz dos 
capítulos 1-4”. Paulo dirige-se aos cren­
tes coríntios como “irmãos” (adelphoi,uma 
palavra que ele usa trinta e nove vezes
933
I CORÍNTIOS 1
nesta carta). Indica sua própria identifi­
cação espiritual com eles, em sua filiação 
ao Pai. Mas o utiliza para salientar ainda 
mais que um espírito fraterno deveria 
prevalecer no meio dos membros da Igreja, 
em lugar das divisões que existiam. Esta 
palavra é utilizada como uma inclusão (veja 
a obra de Fee, 53, fn.22).
Nos versos 10-12 Paulo declara a na- 
aireza do problema, que ele identifica como 
“dissensões” e “contendas”. Embora a palavra 
grega para divisões (schism a) possa su­
gerir fragmentação, a idéia é de dissen- 
são. O problema poderia ser expresso pelos 
grupos exclusivos de linguagem mais 
“contemporânea”. A palavra grega empre­
gada para contendas (eris) significa dis­
cussão ou discórdia. Paulo lista isto como 
um dos atos ou trabalhos da natureza 
pecaminosa (Gl. 5.19-21). Ele é o único 
escritor do Novo Testamento que utiliza 
esta palavra.
No verso 10, Paulo apela aos coríntios 
para que todos estivessem de acordo uns 
com os outros (“Rogo-vos, porém, irmãos, 
pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, 
que digais todos uma mesma coisa”), porque 
dividiram-se em grupos ligados a diferen­
tes líderes. Falar a “mesma coisa” traria dois 
resultados. Eliminaria as divisões que existiam, 
e os crentes seriam unidos em um mesmo 
sentido e em um mesmo parecer. O ter­
mo empregado para união (katartizo) é 
apropriado. Foi usado quando se falou em 
reparar ou restaurar redes (Mt 4.21; Mc 1.19), 
e referindo-se ao desejo de Paulo de pro­
ver ou completar o que estava faltando à 
fé dos Tessalonicenses (1 Ts 3.10; veja também
2 Co 13-11; Gl 6.1; Hb 13.21).
A unidade a que Paulo apela é de natu­
reza interior. Falar a mesma coisa significa 
mais que simplesmente articular as mesmas 
palavras; é estar“unidos, emummesmosentido 
e em um mesmo parecer” (1 Co 1.10). Isto 
somente é possível à medida que os cren­
tes relacionam-se não somente uns com os 
outros, mas com o Senhorjesus Cristo, para 
cuja comunhão foram chamados (v. 9) e em 
cujo nome Paulo faz o seu apelo (v. 10).
A identidade de Cloe (v. 11.) é incerta. 
Ela era aparentemente rica, uma vez que 
as pessoas de sua casa provavelmente eram
escravos ou empregados. Podem ter sido 
membros da congregação coríntia ou talvez 
a tenham visitado. Não está claro se Cloe 
viveu em Corinto ou em Éfeso, ou ainda 
se ela mesma era cristã, mas o relatório 
dos mensageiros era claro e preocupante. 
A natureza específica do problema envolvia 
uma propensão comum que os cristãos 
têm de identificar-se comum líder humano. 
Literalmente, as declarações dos grupos 
eram: “eu sou de Paulo”, “eu de Apoio”, 
etc. Algumas versões traduzem “eu sigo 
Paulo”, etc.; outras, “eu pertenço a Pau­
lo”, etc. O problema não era que alguns 
preferiam um líder acima dos outros; a sua 
atitude era de divisão.
Alguns se identificaram com Paulo, 
provavelmente sentindo uma ligação espe­
cial a ele como o fundador da congrega­
ção. Mas tal ligação implica que existiam 
na igreja coríntia pessoas que se opunham 
a ele. A oposição a Paulo torna-se mais 
tarde evidente na carta, à medida que alguns 
desafiaram sua reivindicação ao apostolado 
(cap. 9). Ficou “completamente patente 
que a disputa quanto aos seus líderes não 
era somente fav oráv e l a Paulo ou Cefas, 
mas era, ao mesmo tempo, decididamente 
contra Paulo” (Fee, 49). Paulo rejeita por 
completo o espírito partidário, evidente 
em um “Partido Paulino” (veja w . 13-17).
Apoio aparece pela primeira vez em 
Atos 18.24-28. Ele era um judeu de Alexan­
dria, Egito, que visitou Éfeso e ali encontrou 
Priscila e Áquila. Era um homem instru­
ído e eloqüente, e que possuía um com­
pleto conhecimento das Escrituras (v. 24). 
Tornou-se anteriormente um cristão, mas 
tinha um conhecimento incompleto do 
evangelho. Havia sido instruído no ca­
minho do Senhor e ensinou com preci­
são o que sabia a respeito de Jesus (v. 
25). Priscila e Áquila, porém, “lhe decla­
raram mais pontualmente o caminho de 
Deus” (v. 26). Devemos notar que “o 
caminho” era uma designação especial 
para o movimento cristão no livro de Atos 
(9.2; 19-9, 23; 22.4; 24.14, 22).
De Éfeso, Apoio viajou para Corinto, 
onde muito ajudou os cristãos refutando 
poderosamente os oponentes judeus da 
Igreja, provando através das Escrituras que
934
I CORÍNTIOS 1
Jesus era realmente o Messias, o Cristo. 
Não é de se maravilhar, então, que alguns 
na congregação sentissem uma comunhão 
especial com este defensor eloqüente da 
fé. Contudo, Paulo não sugere em parte 
alguma que existissem quaisquer diferenças 
teológicas ou pessoais entre ele e Apoio. 
Mais tarde diz que ele e Apoio são traba­
lhadores e conservos do Senhor (3-5-9). 
Porém, uma vez que Paulo não era um 
orador eloqüente (2 Co 10.10; 11.6) e 
considerando que alguns dos coríntios 
tenham provavelmente sido convertidos 
através do ministério de Apoio, um gru­
po dentro da congregação ligou-se a Apoio.
Cefas é a forma aramaica do nome grego 
Pedro. Quando referindo-se a ele, Paulo 
normalmente opta por seu nome aramaico 
(por exemplo, 3.22; 9-5; 15.5; Gl 1.18; 2.9,
11,14). Não existe nenhuma indicação clara 
de que Pedro tenha ido a Corinto. Porém, 
os partidários de Cefas podem tê-lo pre­
ferido acima de Apoio e Paulo, devido ao 
seu convívio com Jesus e sua liderança 
reconhecida no meio dos primeiros após­
tolos, e no início de Igreja (At 1.15-17; 2.14, 
etc.). Pedro era reconhecido como o apóstolo 
aos judeus, e Paulo como o apóstolo aos 
gentios (Gl 2.7,8). Em Gálatas 2.11-21, Paulo 
conta como confrontou Pedro em Antioquia 
por causa da questão dos cristãos judeus 
que comiam com cristãos gentios. Mas não 
existia nenhuma diferença teológica signi- 
ficante entre os dois homens. Pode ser que 
alguém na igreja coríntia tenha preferi­
do Pedro a Paulo porque, em seu julga­
mento, as reivindicações de Pedro quan­
to ao apostolado eram irrefutáveis. Tal­
vez este gaipo representasse uma tendência 
judaizante, que insistia nas restrições ali- 
mentares mencionadas em Atos 15.28,29 
(cf. 1 Co 8; 10.25). Héring (5) diz que “este 
partido deve ter sido formado por cris­
tãos judeus da Palestina, que provavel­
mente tenha sido batizado por Peclro”.
O que podemos dizer sobre o quarto 
grupo, que é caracterizado por dizer: “eu 
sou de Cristo”? Talvez este grupo repre­
sente aqueles que olharam desdenhosa­
mente para os outros três e, baseado em 
sua justiça própria, proclamou-se o seguidor 
de Jesus (Fee, 59). Mas assim fazendo,
criaram um quarto partido e, deste modo, 
somavam-se ao espírito divisor que invadiu 
a congregação. Além disso, este grupo pode 
ter tido alguns ensinos distintivos sobre 
Cristo, por ter sido influenciado pela cul­
tura helenística em que viveu (Bruce, 33). 
Leon Morris (41) resume habilmente es­
tes poucos versos dizendo que Paulo não 
ataca o ensino de quaisquer destes parti­
dos, mas simplesmente expõe o fato de 
existirem tais partidos. Não existe nada 
inerentemente errado com cristãos que 
identificam-se com líderes humanos. O 
perigo espiritual está em julgar que alguém 
é inferior, para ser superior a todos os outros. 
Alguém pode sentir uma afinidade com 
Lutero, Calvino, Wesley ou Menno Simons. 
Isto é compreensível, mas a soberba es- 
piriaial não. Devemos considerar os cristãos 
que têm tradições diferentes das nossas 
próprias como tão crentes quanto nós, 
mesmo reconhecendo pontos de diferença. 
No corpo de Cristo, a diversidade é per- 
missível; as divisões não (veja também 1 
Co 12 sobre este assunto).
Nos versos 13-17 Paulo reforça o que 
disse com a pergunta: “Está Cristo dividi­
do?” (1 Co 1.13). Alguns o entendem como 
uma declaração ao invés de uma pergunta. 
“Cristo está dividido!” Isto seria possível 
se os manuscritos não tivessem a devida 
pontuação. Nesse caso, indicaria a exas­
peração de Paulo com a situação, dizen­
do aos coríntios que eles, na realidade, 
dividiram Cristo. Esta interpretação, po­
rém, é improvável. O verbo m erizo sig­
nifica “dividir” (cf. Rm12.3; 1 Co 7.17; 2 
Co 10.13; Hb 7.2). Paulo está apontando 
para o absurdo que é pensar que Cristo 
seja divisível; sua resposta à pergunta é 
um sonoro não. Mais adiante ele falará a 
respeito da indivisibilidade de Cristo e da 
Igreja (1 Co 12).
“Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes 
vós batizados em nome de Paulo?” (1 Co
1.23). Estas são traduções mais precisas das 
próximas duas perguntas, ambas implicando 
uma resposta negativa. Ele falará um pouco 
mais adiante sobre “Cristo crucificado”. No 
Novo Testamento, o batismo era normal­
mente administrado no nome de Jesus Cristo 
(veja At 2.38; 8.16). As pessoas eram batizadas
935
I CORÍNTIOS 1
em (en) ou no (eis) seu nome; as preposi­
ções sugerem a entrada em comunhão com 
Ele. O batismo estava baseado na autori­
dade do nome de Jesus, porque, confor­
me o uso bíblico, o nome de uma pessoa 
estava freqüentemente relacionado àquilo 
que ela era. O próprio Jesus ordenou que
o batismo fosse realizado no nome do Pai, 
do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28.19). O 
batismo retrata também a participação do 
crente na morte e ressurreição de Cristo 
(Rm 6.3,4). É possível, baseado na discus­
são de Paulo em 1 Coríntios 10.1-6, que 
os coríntios tivessem uma visão altamen­
te mística do batismo (veja Héring, 7).
Devido à situação partidária que se 
desenvolveu, Paulo expressa gratidão por 
ter batizado poucos membros da congre­
gação coríntia. Na melhor hipótese, so­
mente estes poucos poderiam erronea­
mente reivindicar haver sido batizados em 
nome de Paulo (v. 17), uma idéia detes­
tável para o apóstolo. Crispo era prova­
velmente o principal da sinagoga que se 
tornou um dos primeiros convertidos em 
Corinto (At. 18.8). Várias pessoas no Novo 
Testamento mencionam o nome Gaio (At 
19-29; 20.4; Rm 16.23; 3 Jo 1); o Gaio aqui 
mencionado provavelmente é o homem 
que era hospitaleiro a Paulo e a toda a Igreja 
(Rm 16.23). Paulo recorda que batizou 
tambéma casa deEstéfanas (veja 1 Co 16.15-
18); este possivelmente esteve presente 
na ocasião em que esta carta foi escrita.
Quem estava incluído na “família” (oikos) 
de Estéfanas? A palavra grega não é pre­
cisa; podia incluir todos os membros de 
uma família, além dos servidores ou es­
cravos. Isto implica que Paulo batizou bebês 
ou crianças? Não é dado nenhum deta­
lhe, porém, uma referência posterior ao 
conceito doméstico é instrutiva. Paulo diz 
que a casa de Estéfanas (oikia, um sinô­
nimo) havia se “dedicado ao ministério 
dos santos” (16.15). Esta frase, é claro, exclui 
bebês e crianças do significado de casa 
nesta passagem.
Será que Paulo pensou que o batismo 
era relativamente sem importância, uma 
vez que batizou tão poucos convertidos 
e também diz: “Porque Cristo enviou-me 
(apostello, isto é, comissionou-me) não para
batizar, mas para evangelizar”? (v. 17) As 
evidências indicam o contrário. Atos 19.1- 
6 registra como Paulo explicou o batis­
mo cristão para certos homens em Éfeso 
que já haviam participado do batismo 
associado a João Batista. Eles concorda­
ram em ser batizados no nome dejesus, 
e Paulo fez o batismo. Em 1 Coríntios 1.13- 
16 ele usou o verbo baptizo cinco vezes. 
Em 10.1,2 ele fala dos Israelitas sendo 
“batizados em Moisés”, cuja realização 
tipológica é o batismo cristão. O batismo 
era realmente central para sua doutrina 
de salvação, pois ele diz que fomos se­
pultados com Cristo através do batismo 
em sua morte (Rm 6.3,4; Cl 2.12). Além 
disso, em algumas passagens é difícil separar
0 pensamento de ser batizado em Cristo, 
pelo que os crentes se tornam membros 
de seu corpo, do que algumas vezes é 
chamado de “batismo nas águas” (Gl 3 ■ 27;
1 Co 12.13; Ef 4.5).
Em outras palavras, Paulo, como Jesus, 
dava considerável importância ao batis­
mo. Ainda que o próprio Jesus não tenha 
batizado seus seguidores, contudo, delegou 
o batizar a seus discípulos (Jo 4.1,2). Igual­
mente Paulo deve ter tido ajuda conside­
rável (por exemplo, de Silas e Timóteo) 
para assegurar que aqueles novos con­
vertidos fossem batizados. O batismo não 
exigia qualquer dom especial ou pesso­
al, mas a pregação sim. A ausência deste 
requisito não deprecia o batismo, que deve 
ser precedido pela pregação do evange­
lho (Robertson e Plummer, 15).
Cristo enviou Paulo para “pregar o 
evangelho” (eu an g elizom ai). Esta pala­
vra quer dizer “trazer boas novas”. Foi usada 
no anúncio do anjo aos pastores: “eis aqui 
vos trago novas de grande alegria” (Lc 2.10), 
e é encontrada ao longo do Novo Testa­
mento como a mensagem do evangelho 
divulgada por todo o mundo mediterrâ­
neo. Paulo enfatiza que esta pregação não 
era “com palavras de sabedoria humana” 
(“em inteligência de fala”; “com sabedo­
ria eloqüente”; “com sabedoria de pala­
vras”). Ele não reivindica ser um orador, 
nem aspira ser. O apóstolo fala deste modo 
por causa da alta consideração dos gre­
gos para com a sabedoria, a qual ele mostrará
936
I CORÍNTIOS 1
resumidamente que é extraviada, e real­
mente um impedimento para que rece­
bessem o evangelho. Sua preocupação pri­
mária é comunicar o conteúdo das boas 
novas, e não a maneira como é comunicada.
As boas novas são a mensagem da “cruz 
de Cristo”. Esta expressão não se refere 
ao instrumento de madeira de execução, 
em quejesus foi pendurado. É uma figu­
ra de linguagem — uma metonímia, em 
que uma palavra ou termo é usado para 
algo que está prontamente associado. É 
como uma “taquigrafia teológica” que se 
refere à morte redentora dejesus e acontece 
freqüentemente nos escritos de Paulo, ou 
como “a cruz” ou “a cruz de Cristo, ou a 
cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 5.11;
6.12, 14; Ef 2.16; Fp 2.8; 3-18; Cl 1.20; 2.14; 
Hb 12.2; veja como referências paralelas 
At 5.30; 10.39; 13.29; Gl 3.13; 1 Pe 2.24).
2.1.2. A Sabedoria e o Poder de Deus 
(1 .1 8 -3 1 ).Nos versos 18-25, Paulo divi­
de a humanidade descrente em dois gru­
pos: judeus e gregos. Freqüentemente no 
Novo Testamento, a designação “os gre­
gos” é um modo de referir-se a todos os 
gentios (cf. v. 23), uma vez que o mundo 
do Novo Testamento era largamente um 
mundo de fala grega (veja Rm 1.16; 10.12; 
Gl 3.28; Cl 3-11). Ao longo do parágrafo 
Paulo coloca o enfoque em judeus e gentios. 
Porém, a designação “os gregos” tem uma 
importância especial, uma vez que Corinto 
era a capital provincial da Acaia, uma parte
A cruz se tornou 
rapidamente um 
“figura” que repre­
sentava a mensa­
gem de Cristo. Esta 
cruz está em uma 
das colunas de 
uma capela em 
Kursi, que é o local 
onde se deu a 
história da “legião" 
de demônios que 
Jesus expulsou e 
que por sua permis­
são entrou em uma 
manada de porcos 
que se precipitou no 
mar da Galiléia, 
afogando-se.
da Grécia atual, sendo bastante provável 
que a maioria de seus cidadãos fossem 
de etnia grega.
A mensagem da cruz tem um efeito duplo 
nos ouvintes. Para aqueles que a aceitam, 
significa salvação; para aqueles que a 
rejeitam, significa destruição. Não existe 
nenhum meio termo; uma pessoa é salva 
ou não. Paulo fala com mais precisão 
daqueles que “perecem” e dos “salvos”. 
A salvação não é experimentada em sua 
plenitude nesta vida, nem a destruição es­
piritual é irreversível nesta vida. Existe um 
aspecto escatológico para cada situação; 
tanto a salvação quanto o julgamento têm 
aspectos presentes e futuros.
Para os judeus e gregos, a mensagem 
era “loucura” (v. 18). Era loucura para os 
gregos incrédulos porque não coincidiu 
com sua noção de sabedoria. Era debili­
dade e uma pedra de tropeço para os judeus 
incrédulos porque não coincidiu com sua 
noção de poder. Para um judeu, um Messias 
crucificado era uma contradição de ter­
mos, pelo fato de alguém ser pendurado 
ou crucificado indicar a maldição de Deus 
sobre si (Gl 3.13; cf. Dt 21.23).
Os coríntios atribuíam uma conside­
rável importância à sabedoria; a Grécia 
antiga orgulhou-se de sua história de fi­
lósofos ilustres (ou literalmente eram 
“amantes da sabedoria”). Note o comentário 
de Lucas sobre a preocupação dos gre­
gos com a sabedoria em Atos 17.21:“Pois 
todos os atenienses e estrangeiros resi­
dentes de nenhuma outra coisa se ocu­
pavam senão de dizer e ouvir alguma 
novidade”. A idéia de um Salvador cru­
cificado não fazia sentido para eles, uma 
vez que não se adequava à idéia que ti­
nham de um líder. “Onde está o sábio? 
Onde está o escriba? Onde está o inquiridor 
deste século?” O homem sábio é o filó­
sofo grego; o escriba é o judeu estudio­
so da lei; o termo inquiridor ou debatedor 
é aplicável tanto para gregos quanto para 
judeus. “Deste século” [aion] era uma de­
signação judaica que se referia ao tem­
po que precedia a “era vindoura”, isto 
é, a era messiânica (Lc 18.30; 20.35). Paulo 
fala “deste século” somente em termos 
negativos (1 Co 2.6; 2 Co 4.4; Ef 2.2).
937
I CORÍNTIOS 1
A sabedoria humana é a sabedoria “do 
mundo”— uma frase sinônima à frase “deste 
século”. Tal sabedoria não conduz a Deus. 
A diferença fundamental entre religião e 
fé cristã, reside no fato de que a religião 
é a tentativa da humanidade de elevar-se 
e conhecer a Deus; porém o mundo, através 
de sua própria sabedoria, não pode conhecê- 
lo (v. 21; veja Rm 1.18-31). As Escrituras 
enfatizam que Deus tomou a iniciativa de 
alcançar a humanidade, através da cruz, 
para levar-nos a si mesmo.
O evangelho de João registra um inci­
dente em que alguns gregos pediram para 
conversar com Jesus (Jo 12.20-25). Não 
existe qualquer indicação de quejesus tenha 
concedido a petição. Ao invés disso, Ele 
falou sobre sua morte iminente. Pode-se 
inferir quejesus tenha respondido deste 
modo, porque estes gregos (possivelmente 
judeus heleriísticos) eram atraídos a Ele 
por considerarem-no somente como um 
filósofo e grande mestre.
Os judeus incrédulos exigem sinais 
milagrosos como prova de que Jesus era 
realmente o Messias. Após Jesus ter alimen­
tado os quatro mil, os fariseus pediram-lhe 
um sinal do céu (Mc 8.11,12), mas Jesus 
não os atendeu. Em outra ocasião alguns 
fariseus e doutores da lei disseram a Jesus: 
“Mestre, quiséramos ver da tua parte algum 
sinal” (Mt 12.38; veja também 16.4; Jo 4.48;
6.30). Novamente Jesus não atendeu aos 
seus desejos. Ao invés disto, disse que o 
único sinal que seria dado a “uma gera­
ção má e adúltera” era o sinal do profeta 
Jonas, que apontou para sua morte e se­
pultamento (Mt 12.39-41). A lição é clara: 
Nenhuma quantidade de milagres convencerá 
uma pessoa que se recusa a crer. O judeu 
de coração endurecido julgou impossível 
acreditar em um Messias crucificado.
O meio pelo qual os indivíduos são salvos 
é a “loucura da pregação” (1.21). Loucos, 
sim, a partir de um ponto de vista huma­
no. Paulo não está falando aqui sobre o 
ato de pregar, mas a respeito do tema da 
pregação — Cristo crucificado (v. 23; veja 
2.2; Gl 3-1)- “Cristo não era pregado como 
um conquistador que agradasse ao judeu, 
nem como um filósofo que agradasse ao 
grego” (Robertson e Plummer, 22). Aprouve
a Deus (eudokeo) ordenar a morte de Cristo 
como o meio pelo qual as pessoas podem 
ser salvas (v. 21). O tema relacionado àquilo 
que aprouve a Deus (o verbo eu d okeo ; e 
o substantivo, eudokid) é encontrado nos 
demais escritos de Paulo (Gl 1.15; Ef 1.5; 
Fp 2.13; Cl 1.19); e enfatiza a soberania 
de Deus, como também seu bom prazer 
em ordenar certas coisas.
Concluindo os versos 18-25, Paulo diz 
que aos gregos que Cristo é “a sabedoria 
de Deus”, e aos judeus que Cristo é “o po­
der de Deus”. A cruz é uma demonstração 
da sabedoria divina por trazer tanto a justi­
ça quanto o amor de Deus. Por meio da cruz, 
Deus se mostra tanto justo quanto o que 
“justifica aquele que tem fé em Jesus” (Rm 
3.26). A cruz é também uma demonstração 
do poder divino que triunfou acima das forças 
do mal,-fornecendo redenção e libertação 
para todo aquele que responde em fé.
Nos versos 26-31 Paulo continua a 
demonstrar sua compreensão a respeito 
da composição da congregação coríntia. 
Para ilustrar a verdade daquilo que aca­
bou de escrever, Paulo exorta os coríntios 
a considerarem a composição de sua Igreja. 
No momento em que foram chamados, 
não eram chamados “muitos sábios segundo 
a carne” ou pessoas “influentes” (literal­
mente, “poderosas”), nem muitos “nobres” 
por nascimento. A igreja primitiva não estava 
desprovida destes tipos de convertidos (veja 
At 17.4, 12, 34; Rm 16.23), mas esta não 
era a composição da maioria dos mem­
bros da igreja em Corinto (1 Co7.21). Embora 
pessoas de todos os níveis sociais e eco­
nômicos tenham se tornado crentes, os 
registros históricos dão conta de que nos 
tempos do Novo Testamento o evange­
lho era mais prontamente recebido pe­
las classes mais baixàs da sociedade.
A soberania de Deus aparece novamente, 
por três vezes, na ocorrência da palavra 
“escolheu” (w . 27,28) “... Mas Deus es­
colheu as coisas loucas deste mundo para 
confundir as sábias; e Deus escolheu as 
coisas fracas deste mundo para confun­
dir as fortes. E Deus escolheu as coisas 
vis deste mundo, e as desprezíveis, e as 
que não são para aniquilar as que são”. 
Seu propósito em tudo isso é que “nenhuma
938
I CORÍNTIOS 1
carne se glorie perante ele”. Deus deter­
minou que somente Ele receberá a gló­
ria pela salvação da humanidade, pois esta 
é uma demonstração de sua graça e não 
se baseia em esforços humanos (Ef 2.8,9).
Os crentes são tanto de Deus quanto 
de Cristo Jesus (v. 30). Deus é a fonte de 
sua vida espiritual Qo 1.12,13; 2 Co 5.17,18). 
Além disso, desfrutam uma relação ínti­
ma com Cristo. A expressão “em Cristo” 
é uma das favoritas de Paulo, e está inti­
mamente associada ao conceito de ser parte 
do corpo de Cristo.
A íntima identificação dos crentes com 
Cristo faz com que recebam sabedoria, justiça, 
santidade e redenção. Cristo é realmente 
a “sabedoria de Deus” (v. 24), e nEle “es­
tão escondidos todos os tesouros da sa­
bedoria e da ciência” (Cl 2.3). Podemos dizer 
que Ele é a própria personificação da sa­
bedoria de Deus. Em Provérbios, a sabe­
doria é personificada e está intimamente 
associada à criação (Pv 8.22-31). Este conceito 
é notavelmente paralelo ao que João diz 
sobre o papel do Logos na criação (Jo 1.1,
3). A sabedoria não é mais uma abstração 
ou uma busca humana, conforme muitas 
vezes declarado por Paulo (1 Co 1.17,19, 
21). Os cristãos agora possuem uma pes­
soa, Cristo, que representa a própria sa­
bedoria de Deus.
As palavras sabedoria (soph ia), jus­
tiça (dikaiosyne), santidade (hagiasm os), 
e redenção (apolytrosis) (v. 30) podem 
coordenar-se umas com as outras, e re­
presentar os vários benefícios que um 
crente recebe. Mas é também possível 
aceitar a tradução da NIV, que toma as 
últimas três como uma elaboração de 
Cristo com o a sabedoria de Deus 
(Robertson e Plummer, 27).
Cristo é realmente a “justiça” do cris­
tão porque “àquele que não conheceu 
pecado, o fez pecado por nós; para que, 
nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 
Co 5.21). Cristo é o Justo (At 3-14; 22.14; 
2Tm4.8; 1 Pe3.18; lJo 2 .1 ,29; 3.7). Devido 
à nossa identificação com Ele, participa­
mos em sua justiça. A justiça é um termo 
legal ou forense que lembra a imagem da 
sala do tribunal, onde um transgressor está 
diante de um juiz. O transgressor é tido
por culpado e deve ser punido, mas um 
terceiro intervém e paga a penalidade. Assim 
acontece com os pecadores na presença 
de Deus. A justiça de Cristo lhes é aplica­
da, de forma que passam a ter o direito 
de permanecer na presença de Deus. 
Quando aceitam a oferta de Cristo pela 
fé, sua fé lhes é imputada como justiça 
(Rm 1.17; 4.3; Gl 3.6).
Cristo tornou-se também a “santidade” 
ou a santificação do crente. Paulo chamou 
os crentes de “santificados em Cristo Je ­
sus, chamados santos” ( 1.2). O apóstolo 
tem muito a dizer nesta carta sobre a conduta 
santa que Deus exige dos cristãos (veja 
também 1 Ts 4.37), mas a palavra aqui refere- 
se à identificação de um crente com Cris­
to, como àquEle que é Santo (Mc l!24; Lc 
1.35; 4.34; Jo 6.69; At 3.14; 4.27; Ap 3-7). 
Paulo fala de nossa experiência inicial de 
santidade, no momento da conversão,por 
meio da qual compartilhamos a santida­
de de Cristo (1 Co. 6.11). Quando se fala 
em santidade, lembramo-nos do templo 
como o lugar santo de Deus.
Finalmente, Cristo também é a “redenção” 
para o crente. A redenção envolve duas 
idéias: ser liberto de algo e o preço pago 
por esta liberdade. Posteriormente, Pau­
lo escreve nesta carta: “fostes comprados 
por bom preço” (6.20; 7.23). Em outra 
passagem diz: “Em quem [Cristo] temos 
a redenção pelo seu sangue” (Ef 1.7). Pedro 
também enfatiza o altíssimo custo da re­
denção quando diz que não fomos redimidos 
com coisas perecíveis como prata ou ouro, 
mas com o precioso sangue de Cristo (1 
Pe 1.18,19). O aspecto de libenação ou 
liberdade remonta à libertação de Israel 
da escravidão egípcia; lembra também a 
provisão do Antigo Testamento para a alforria 
de escravos. Paulo faz alusão a estas ver­
dades em Gálatas 4.3-7, quando lembra 
aos crentes que outrora estavam em es­
cravidão, mas agora foram redimidos, de 
forma que não são mais escravos, mas filhos 
de Deus. A imagem trazida à mente é de 
uma feira em uma cidade da antiguida­
de, onde os escravos eram freqüentemente 
vendidos em leilões.
Tendo em vista tudo o que disse, Pau­
lo apela aos crentes para que reconheçam
939
I CORÍNTIOS 2
completamente a dívida de gratidão 
que cada um tem para com o Senhor. 
Nada daquilo que possuem em sua vida 
espiritual é motivo de jactância pes- 
soal(1.31). Pelo contrário, o único motivo 
possível para a jactância é “no Senhor” 
(veja Jr 9.23,24).
2.1.3- O Testem unho do Paulo 
(2 .1-5) .Por causa da preocupação dos 
coríntios com a sabedoria humana, Paulo 
agora deixa claro sua posição quanto 
à relação entre a sabedoria humana e 
a pregação do evangelho. Cita a si mesmo 
como um exemplo de alguém que con­
fiou no Espírito Santo, e não na elo­
qüência ou na sabedoria humana, para 
que sua mensagem fosse efetiva. De 
acordo com o que disse no fim do 
capítulo 1, o apóstolo se gloria no Senhor.
A primeira palavra do texto grego é 
enfática: kago (literalmente, “e eu”). Paulo 
não veio aos coríntios procurando de­
monstrar uma sabedoria superior (re­
ferindo-se aos processos envolvidos no 
pensamento) ou, semelhantemente, uma 
eloqüência exagerada (referindo-se à 
maneira de expressão). A natureza de 
sua mensagem era uma proclamação 
do “testemunho de Deus” (cf. “o teste­
munho de Cristo confirmado entre vós” 
em 1.6). Deus e Cristo estavam no centro 
de sua mensagem, e não a especula­
ção humana ou filosófica.
Paulo falara previamente sobre a pre­
gação do evangelho (euangelizom ai,
1.17) e do (keryssó) Cristo crucifica­
do (1.23). Agora usa outro sinônimo: 
“fui ter convosco, anunciando-vos 
(katangello) o testemunho de Deus”. 
A primeira palavra grega incorpora a 
idéia das boas novas da salvação; a 
segunda, a atividade de um arauto ao 
fazer uma proclamação; e o terceiro, 
a idéia de que a comunicação é uma 
mensagem.
Paulo enfatiza novamente que o cen­
tro de sua mensagem é Jesus Cristo, 
especialmente sua crucificação (v. 2). 
“Crucificado” é um particípio perfei­
to em grego (cf. também 1.23). Esta 
forma do verbo é significativa porque 
retrata Cristo como crucificado no
passado, com os benefícios de sua morte 
continuando no tempo presente. “A 
crucificação é permanente em sua 
eficácia” (Morris, 46).
Paulo visitou Corinto (At 18.1) logo 
após deixar Atenas, onde encontrou 
oposição e ridicularização. Lá os re­
sultados eram pequenos comparados 
àqueles em outras cidades que visitou. 
Por isso alguns interpretaram seus 
comentários em 1 Coríntios 2.3,4 como 
defensivos, implicando que chegou a 
Corinto deprimido e derrotado, ten­
do percebido o fracasso de sua tenta­
tiva de ser sábio e persuasivo em Ate­
nas. Deste modo, determinou não repetir 
tais erros. Esta interpretação, porém, 
é desnecessária e incorreta. Paulo está 
contrastando sua disposição mental e 
seu modo de se expressar, não com 
sua experiência em Atenas, mas com 
a arrogância e a aparente sabedoria e 
eloqüência que agradavam a muitos 
dos coríntios. Para ele, a pregação do 
evangelho era uma responsabilidade 
temerosa e assustadora; há uma pe­
quena chance de que tenha feito isto 
com um sentimento de “fraqueza, te­
mor, e tremor”. Estas palavras descrevem 
seu modo habitual de pensar, quan­
do pregava (cf. 1 Ts 1.5). Era um sen­
timento de completa inadequação diante 
da tarefa de evangelizar cidades como 
Corinto. “Esta é a base do encorajamento 
que lhe foi dado pelo Senhor em Atos 
18.9 e seguintes” (Bruce, 37).
Longe de depender de seus próprios 
recursos ou de sua capacidade de per­
suasão, Paulo contava com o Espírito 
Santo. Sua mensagem não era trans­
mitida por “palavras persuasivas de 
sabedoria humana”. Antes, era uma “de­
monstração [apodeix is] do Espírito e 
de poder” (tradução literal). O termo 
apodeixis pode ser traduzido como “ma­
nifestação” (NASB); seu significado aqui 
é “prova do espírito e poder, isto é, uma 
prova que consistia em ter o Espírito 
e o poder de Deus” (BAGD, 89; cf. At 
2.22; 25.7, onde a forma do verbo deste 
grupo de palavras aparece significando 
“provar” ou “atestar”).
940
I CORÍNTIOS 2
Várias outras passagens do Novo Tes­
tamento ligam o Espírito Santo ao poder 
(por exemplo, At 1,8; 10.38; Rm 15.13; 1 
Ts 1.5). A frase “do Espírito e de poder’' 
(aqui e em At 10.38) pode ser entendida 
de diversas maneiras. “Poder do espíri­
to”, “Espírito, isto é, poder”, ou “Espírito 
poderoso”. Os escritores não estão falando 
de duas idéias separadas, mas certamen­
te estão formulando um pensamento em 
que dois substantivos podem estar tão re­
lacionados a ponto de formarem uma única 
idéia (o termo técnico é hendiadys). Note 
que esta identificação do Espírito com o 
poder é paralela à frase “poder de Deus” 
(1 Co 2.5), implicando que o Espírito Santo 
é Deus. Esta identificação do Espírito com 
Deus recorda as declarações de Pedro a 
Ananias em Atos 5.3,4. “... para que mentisses 
a o Espírito Santo..." e “Não mentiste aos 
homens, mas a Deus".
Paulo conclui o parágrafo fazendo uma 
proclamação efetiva do evangelho dizendo 
que o poder do Espírito Santo produzirá 
a “fé” nos ouvintes. Tal fé não repousará 
na sabedoria humana, que pode mudar 
e que de fato muda constantemente, mas 
no poder de Deus. Estes versos contêm a 
primeira referência ao Espírito Santo nesta 
carta. Paulo falará muito mais sobre Ele 
no restante deste capítulo e em outros pontos 
chave da carta.
2.1 .4 . A Falsa e a Verdadeira Sabe­
d oria (2 .6 -1 6 ). A palavra “sabedoria” 
{sophia) ocorre quinze vezes nos dois pri­
meiros capítulos da carta e somente duas 
vezes em outras passagens (3 -19; 12.8). 
Em 3.19, a frase “a sabedoria deste mun­
do” está de acordo com os comentários 
de Paulo, aqui, em contraste com a sabe­
doria de Deus na cruz; em 12.8, ela é 
considerada como um dos dons espirituais.
Os versos 6-9 trazem vários tópicos de 
suma importância. Paulo e outros verda­
deiros proclamadores do evangelho (notem 
o pronome “nós” no verso 6) falam de 
sabedoria “entre os perfeitos [teleioi]”. 
Quem são os perfeitos? [ou maduros]. Sob 
certo ponto de vista, este gmpo está sendo 
diferenciado dos “meninos em Cristo” (3-1), 
e então se refere a cristãos que atingi­
ram um grau mais elevado de espiritua­
lidade (Héring, 15,16; Robeitson e Plummer, 
35). Se esta era a intenção de Paulo, então 
está reprovando os coríntios por seus con­
ceitos errôneos sobre a maturidade es­
piritual, de forma que se colocaram aci­
ma dos outros cristãos. A verdadeira ma­
turidade, segundo o apóstolo, é a acei­
tação não da sabedoria humana, mas da 
sabedoria da cruz. Alternativamente, a 
frase pode se referir a todos os que aceitaram 
a cruz como a sabedoria de Deus. Neste 
caso, o contraste não está entre os cris­
tãos espiritualmente superiores e infe­
riores, mas entre aqueles que aceitam e 
aqueles que rejeitam a mensagem da cruz 
(Fee, 101-3). Destas duas interpretações, 
a segunda é a preferível.
A sabedoria humanamente gerada é 
negativamente caracterizadasob dois 
aspectos, é “deste mundo [aion]’’ e pro­
vém “dos príncipes deste mundo”. Estas 
frases provavelmente se referem à origem 
desta sabedoria. Paulo já caracterizou a 
sabedoria humana como pertencente a este 
mundo [aion] (1 .20). O apóstolo usou uma 
palavra sinônima (kosm os) ao falar sobre 
os mesmos tópicos(l.20,21,27). Em outra 
parte, caracteriza “este munclo” como per­
verso (Gl 1.4). Como um judeu, às vezes 
contrastou “este mundo” com “o mundo 
vindouro” o qual o judaísmo identificou 
como a era messiânica. Mas como para 
Paulo o Messias já tinha vindo, podia fa­
lar dos cristãos como aqueles “para quem 
já são chegados os fins dos séculos” (1 Co 
10.11; veja também Hb 6.5).
Que são “os sábios [archontes] deste 
mundo? As opiniões estão divididas. Alguns 
os identificam como forças demoníacas ou 
espiritualmente negativas. O próprio Senhor 
Jesus chamou Satanás de “príncipe [archon] 
deste mundo [kosmosf (Jo 12.31; 14.30; 16.11); 
Paulo o chama de “o Deus deste século [aion]” 
(2 Co 4.4) e “príncipe das potestades [archon] 
do ar” (Ef 2.2; cf. a palavra arche que está 
relacionada às forças demoníacas mencio­
nadas em Rm 8.38; Ef 1.21; Cl 2.15). Héring 
os vê como poderes sobrenaturais, que não 
são perversos por natureza (16,17; cf. tam­
bém Baice, 38,39). Por outro lado, a frase 
é especificamente usada para autoridades 
terrenas em Atos3-17;4.5,8,26; 13-27; 14.5;
941
I CORÍNTIOS 2
e Romanos 13.3. Além disso, o verso 8 deste 
capítulo diz que os “príncipes deste mun­
do” não entenderam a sabedoria de Deus, 
e conseqüentemente cmcificaramjesus (cf. 
At 3-17; 13-27). Isto não pode ser dito dos 
demônios, já que estes sabiam quem era Jesus 
(Mc 1.24). É possível, porém, perceber uma 
conexão entre estas duas interpretações quan­
do se observa o que Paulo disse: “...o deus 
deste século cegou os entendimentos dos 
incrédulos, para que não lhes resplandeça 
a luz do evangelho da glória de Cristo” (2 
Co 4.4).
Os príncipes deste mundo “se aniqui­
lam” (2.6). A palavra que Paulo usa aqui, 
katargeo, consta nove vezes nesta carta 
e dezesseis vezes em seus outros escri­
tos. Nesta passagem, este termo significa 
“levar a nada, tornar-se ineficaz, invali­
dar” (como em 1.28). É importante notar 
que os príncipes deste mundo estão em 
um processo que não os levará a lugar algum. 
Seu fim, juntamente com a sabedoria que 
representam, é certo. Paulo está confiante 
de que a mensagem da cruz triunfará em 
última instância acima da sabedoria e dos 
príncipes deste mundo.
“A sabedoria de Deus, oculta em mis­
tério” (v. 7) é literalmente a sabedoria de 
“Deus em um mistério”. Notamos vários 
tópicos que se relacionam a esta expres­
são.
1) Existe uma qualidade secreta na sabedo­
ria de Deus; é algo enigmático, impossí­
vel de ser compreendido. É oculto para 
aqueles que rejeitam o evangelho (2 Co 
3.14; 4.3).
2) Isto estava nos planos de Deus. Era pré- 
ordenado, ou pré-destinado por Ele “antes 
dos séculos” (literalmente, “antes do mun­
do”). O propósito redentor de Deus em Cristo 
não era uma reflexão tardia (Ef 3-2-6).
3) Geralmente o uso da palavra mistério 
(mysterion) nos escritos de Paulo é algo 
que havia sido ocultado e agora estava sendo 
revelado por Deus (Rm 16.25,26; Ef 3-2-6; 
Cl 1.26,27). Ele atribui esta revelação ao 
Espírito Santo (1 Co 2.10).
O propósito de Deus em tudo isso é “nossa 
glória” (v. 7), uma expressão relacionada 
ao final dos tempos. No final, seremos trans­
formados para ser conforme a imagem do 
Filho de Deus (Rm 8.29), que é o Senhor 
da glória (1 Co 2.8; cf. Tg 2.1). A expres­
são “Senhor da glória” consta diversas vezes 
no livro não canônico de 1 Enoque, como 
uma expressão que se refere a Deus (22.14; 
25.3,7; 27.3,4; 63.2; 75.3); Paulo aplica esta 
expressão a Cristo. A completa transfor­
mação dos salvos na imagem do glorioso 
Filho de Deus acontecerá por ocasião de 
seu retomo (1 Jo 3.2), e incluirá a trans­
formação do coipo do crente de forma que 
será como o corpo glorioso de Jesus (Fp 
3.20,21; veja também Rm8.18,21; 2 Co 4.17). 
Paulo desenvolve este tema em 1 Coríntios 
15; entretanto, mesmo no presente, os crentes 
estão no processo de serem transforma­
dos à semelhança de Cristo “de glória em 
glória”, refletindo “a glória do Senhor” (2 
Co 3.18).
Paulo agora apela para as Escrituras 
como seu apoio (v. 9). “As coisas que o 
olho não viu, e o ouvido não ouviu, e 
não subiram ao coração do homem são 
as que Deus preparou para os que o amam”. 
A fórmula recorrente “está escrito” indi­
ca o quão profundamente amigado o Novo 
Testamento está no Antigo — entretan­
to, às vezes é difícil para nós hoje ver­
mos uma conexão entre um texto do Antigo 
Testamento citado no contexto do Novo 
Testamento. Não se sabe ao certo qual é 
a resposta para a pergunta “Que passa­
gem do Antigo Testamento é citada no 
verso 9?” “É mais provável que a ‘cita­
ção’ seja uma amalgamação de textos do 
Antigo Testamento que já tenham sido 
unidos e refletidos no judaísmo apocalíptico 
(Fee, 109; vejais 64.4; 65.17; também 52.15). 
Os escritores do primeiro século não se 
sentiram obrigados a transcrever literal­
mente as Escrituras; para eles o impor­
tante era não cometer alguma violação 
ao texto original”.
Para o leitor do primeiro século, a fra­
se: “o olho não viu, e o ouvido não ou­
viu, e não subiram ao coração [tradução 
literal] do homem”, representava vários 
processos internos, dos quais um era a mente 
humana. O pensamento geral de Paulo 
está claro aqui. A humanidade, separada­
mente da ajuda do Espírito, é incapaz de
942
I CORÍNTIOS 2
compreender física ou intelectualmente 
a glória que Deus preparou para aqueles 
que o amam. Uma significativa mudança 
acontece em uma discussão de Paulo com 
os coríntios, cuja ênfase estava em conhe­
cimento, sabedoria, e na habilidade em 
oratória; a ênfase de Paulo está em amar 
a Deus. O amor é o mais importante (8.1;
13.2). “Não ag n osis [conhecimento], mas 
o amor é a máxima da maturidade e es­
piritualidade cristã” (Barrett, 73)-
Os versos 10-16 enfocam mais adian­
te o papel do Espírito Santo em tudo que 
aconteceu anteriormente. Ele é mencio­
nado seis vezes nestes versos.
1) O Espírito é o meio pelo qual Deus revela 
a si mesmo e a seus propósitos (v. 10). 
Sozinhos, como seres humanos, somos 
incapazes de descobrir a Deus ou seus 
propósitos.
2) O Espírito penetra as profundezas de Deus 
(v. 10); não existe nada além de seu co­
nhecimento. O fato de o Espírito conhe­
cer os pensamentos de Deus (v. 11) de­
monstra novamente a sua divindade. A 
analogia de um ser humano e seus pen­
samentos é apropriada. Além do próprio 
Deus, ninguém é capaz de conhecer o in­
terior de uma pessoa; somente o próprio 
espírito da pessoa. O mesmo ocorre com 
Deus e seu Espírito.
3) O ministério do Espírito está diretamente 
relacionado à habilitação dos crentes a 
compreender o que Deus lhes deu gratui­
tamente. Estas coisas já estão ocorrendo; 
o Espírito Santo as revela.
Muito do que Paulo diz sobre o Espí­
rito Santo lembra um dos pensamentos 
dejesus sobre a atividade do Paracleto, 
o Espírito de verdade. “[Ele] vos ensina­
rá... e[Ele] vos fará lembrar...” (Jo 14.26). 
“Ele vos guiará em toda a verdade” (16.13). 
“Ele me glorificará” (16.14). O Espírito “há 
de receber do que é meu e vo-lo há de 
anunciar” ( 16.15).
Os cristãos receberam “o Espírito que 
provém de Deus” (Rm 8.14-16; Gl 3-2; 4.6), 
não “o espírito do mundo” (cf. também 
Rm8.15; 2 Tm 1.7). “O espírito do mun­
do” às vezes é entendido como sendo 
Satanás, especialmente porque dois es­
píritos estão sendo contrastados nestas
passagens (veja notas em 1 Co 2.6, aci­
ma). Paulo certamente acreditava na exis­
tência de Satanás e dos demônios, po­
rém é mais provável que a frase se refira 
à atitude característica daqueles que 
confiam nos recursos e na sabedoria 
humana. A palavra grega para espírito 
(pn eu m a ) pode significar, como no in­
glês e no português, uma entidade no reino 
não-físico, uma atitude ou disposição. Os 
cristãos sãoaqueles que idealmente não 
permitem que sua vida seja influencia­
da pelas atitudes que prevalecem no mundo 
incrédulo. Barrett (75) acrescenta que “o 
espírito do mundo” é quase indistinguível 
da sabedoria deste mundo” (1 Co 2.6). 
Ambas as expressões “sugerem uma re­
ferência à sabedoria” que é “egocêntrica”, 
e que é uma condição que impede que 
alguém entenda a verdade divina mani­
festada no Cristo crucificado.
As palavras finais do verso 13 foram 
traduzidas de várias maneiras. Por exemplo:
— Expressando verdades espirituais com 
palavras espirituais (NIV)
— Comparando as coisas espirituais com 
espirituais (NKJV)
— Combinando pensamentos espirituais 
com palavras espirituais (NASB)
— Interpretando as coisas espirituais para 
aqueles que são espirituais (NRSV)
Duas palavras gregas são os pontos de 
discussão desta variação. A primeira é 
synkrino , que a NIV traduz como “expres­
sando”, e que pode significar:
1) Trazer consigo, combinar;
2) Comparar;
3) Explicar, interpretar (BAGD, 774).
A segunda palavra épneum atikos, que 
a NIV traduz como “palavras espirituais”. 
Devido à forma específica da palavra (dativo- 
plural), ela pode ser masculina ou neu­
tra, e pode ser variavelmente traduzida 
como “para/por coisas espirituais”, “pessoas 
espirituais”, ou até “palavras espirituais” 
(já que o termo “palavra” [logos} é mas­
culino). O ponto principal é que estas 
verdades são atribuídas ao Espírito San­
to, e são comunicadas:
1) Por meio de palavras espirituais; ou
943
I CORÍNTIOS 2
2) A pessoas espirituais. Se de fato as pesso­
as “espirituais” realmente forem os desti­
natários destas verdades, então isto leva 
naturalmente aos versos que se seguem. 
Nos versos 14-16, Paulo contrasta “o 
homem espiritual” (pn eu m atikos , uma 
palavra baseada empneurna [espírito] ) com 
“o homem que não tem o Espírito San­
to!”. A frase “sem o Espírito”, porém, é uma 
interpretação da NIV e não uma tradução 
da palavra grega psychikos, uma palavra 
baseada em psique (alma, vida). Os léxi­
cos sugerem o significado de “um homem 
que não é espiritual, alguém que vive 
unicamente no plano material e que nunca 
foi tocado pelo Espírito de Deus” (BAGD, 
894). “Opsychikos é o ‘homem não reno­
vado’, o ‘homem natural’”, é “diferente do 
homem que é movido pelo Espírito” 
(Robertson e Plummer, 49) ■ Em passagens 
como esta,psyche epneum a são antitéticos. 
A pessoa natural vive separada do Espí­
rito de Deus e, conseqüentemente, é in­
capaz de aceitar as coisas que vêm do 
Espírito, considerando-as como tolice. Além 
disso, estas pessoas são incapazes de 
entender porque são “espiritualmente 
discernidas” (anakrino ). Este verbo ocorre 
dez vezes em 1 Coríntios, freqüentemente 
com o significado de “avaliar, estimar, 
examinar, esmiuçar, julgar” (como em 14.24).
A pessoa espiritual, em contraste, tem 
a capacidade de julgar ou avaliar todas 
as coisas por causa do poder do Espírito 
Santo, que habita em seu interior, e que 
a dirige na tomada de decisões. Isto não 
implica infalibilidade ao fazer julgamen­
tos, mas destaca que em assuntos espiri­
tuais tal pessoa entra em uma esfera com­
pletamente diferente daquela da pessoa 
natural. Paulo diz que a pessoa espiritu­
al não está sujeita a qualquer julgamento 
humano: “... deninguémédiscemido”(v.l5). 
Isto, porém, não faz com que o indivíduo 
se coloque acima das críticas. Mais tarde, 
Paulo enfatizará que as expressões ver­
bais presumivelmente inspiradas devem 
ser julgadas por outros crentes (14.29). Deste 
modo, na passagem presente, qualquer 
julgamento do homem deve ser entendi­
do como julgamento do homem natural, 
ou seja, qualquer um que vive separado
do Espírito de Deus é incapaz de avaliar 
assuntos que estão no plano do Espírito.
Para sustentar este ponto, Paulo apela 
a Isaías 40.13, onde o texto hebraico fala 
do “Espírito do Senhor [Yahweh]”. Mas 
no texto grego de 1 Coríntios 2.16 lê- 
se: a “mente do Senhor!”, seguindo o grego 
da Septuaginta, ao invés do texto hebraico. 
A transição de Espírito para mente é fá­
cil, já que em 2.10 Paulo disse: “Porque 
o Espírito penetra todas as coisas, ain­
da as profundezas de Deus”, que é outro 
modo de falar sobre a mente de Deus 
(cf. Rm 11.34).
A conclusão é que “nós [enfatizado no 
grego] temos a mente de Cristo”. O Espí­
rito/consciência de Jeov ã na passagem de 
Isaías torna-se agora a mente de Cristo. Aqui 
está uma equação implícita de Cristo como
o Deus/Senhor do Antigo Testamento; sendo 
assim, esta passagem está falando de sua 
divindade. O Espírito Santo é o Espírito de 
Deus; é também o Espírito de Cristo (Rm
8.9), que vive nos crentes (1 Co 3:16) e que 
revela Cristo. Pelo fato de cada crente ser 
interiormente habitado pelo Espírito e por 
Cristo, não têm a mente ou o espírito do 
mundo. No plano ideal são controlados pela 
mente ou Espírito de Cristo.
A doutrina da Trindade está implícita neste 
capítulo com sua menção de Deus, de Cristo 
e do Espírito Santo. Freqüentemente noNovo 
Testamento, e especialmente nas passagens 
que se referem implícita ou explicitamen­
te à Trindade, o termo Deus se refere ao Pai 
e o termo Senhor se refere ao Filho (por exem­
plo, veja 12.4-6; 2 Co 13-13; Ef 4.4-6).
2.1.5. AInraturidade Espiritual (3.1-4)
Paulo atribui os problemas da igreja 
coríntia — especificamente seu fascínio 
pela sabedoria mundana e seu espírito 
divisor — à imaturidade espiritual. Para 
não atrapalhar a exposição seguinte, a 
atenção deve ser primeiramente dada a 
três adjetivos importantes usados para 
descrever pessoas espiritualmente defi­
cientes: psychikos, sarkinos, e sarkikos.
Psychikos consta em 2.14 para descre­
ver a pessoa que é incapaz de receber ou 
entender as coisas que vêm do Espírito 
de Deus (veja a discussão acima). Esta palavra 
é contrastada com o “espírito” em várias
944
I CORÍNTIOS 3
passagens. No contexto da ressurreição 
dos crentes, o “corpo natural \psychikos]” 
é contrastado com o “corpo espiritual 
[pneumatikos]" (15.44,46). Tiago diz que 
a sabedoria humana “não é a sabedoria 
que vem do alto, mas é terrena, animal 
[psychikos] e diabólica” (Tg 3-15). Judas 
usa a palavra para descrever pessoas que 
“não têm o Espírito” (Jd 19). Este adjeti­
vo, quando aplicado a pessoas, diz res­
peito àqueles que não experimentaram 
a regeneração, a obra renovadora do Espírito 
Santo — isto é, são incrédulos.
Os adjetivos sarkinos e sarkikos deri­
vam do substantivo sarx, freqüentemen­
te traduzido como “came”. O termo sarkinos 
ocorre quatro vezes no Novo Testamen­
to (Rm 7.14; 1 Co 3.1; 2 Co 3.3; Hb 7.16), 
e é encontrado em seis passagens (Rm 15.27;
1 Co 3-3; 9.11; 2 Co 1.12; 10.4; 1 Pe 2.11). 
Alguns não vêem nenhuma distinção entre 
eles em 1 Coríntios 3.1,3 (por exemplo, 
Barrett, 79, fn. 1; Héring, 22). Outros sus­
tentam que uma distinção deveria ser 
observada (por exemplo, Morris, Fee, 
Robertson e Plummer), alegando que 
sarkinos é um termo neutro, que signifi­
ca “feito de carne, carnal, pertencente ao 
reino da carne” (cf. 2 Co 3-3, onde é tra­
duzido como “humano”). Sarkikos, por 
outro lado, tem freqüentemente implicações 
éticas referindo-se a algo que é fraco ou 
pecaminoso (cf. 1 Pe 2.11, “peço-vos... que 
vos abstenhais das concupiscências 
[sarkikos] carnais”). Esta distinção será 
observada aqui.
P neum atikos (espiritual) é o adjetivo 
contrastado com os três acima (1 Co 2.13- 
15; 3 -1). O incrédulo épsychikos-, os crentes 
podem ser tanto sarkinos como sarkikos, 
embora possam consiáenr-scpnemnatikos. 
O termo pn eu m atikos é aplicável a todos 
os crentes, embora na prática alguns podem 
não demonstrar que são completamente 
controlados pelo Espírito.
Paulo se dirige novamente a seus lei­
tores como “irmãos” (cf. 1.10), o que faz 
vinte vezes nesta carta. Em três exemplos 
diz “meus irmãos” ( 1.11; 11 .33 ; 14.39), e 
em uma ocasião diz “meus amados irmãos” 
(15.58). Isto é especialmente significati­
vo em vista de seu tom corretivo, às ve­
zes severo na carta. Não levando em con­
sideração as faltas doscrentes coríntios, 
estes ainda são seus irmãos.
Os cristãos espirituais são cristãos ma­
duros; são primeiramente distintos dos 
carnais (sarkinos), que são crianças em 
Cristo (v. 1). Paulo está aqui apontando 
para a primeira ocasião em que partilhou 
o evangelho com eles. O problema não 
é que os crentes espiritualmente imatu­
ros estejam na igreja, porque todos os 
novos convertidos começam como cri­
anças espirituais. Como tais, precisam de 
leite e não podem ser culpados por ain­
da não estarem prontos para ingerir o 
alimento sólido (cf. a metáfora do leite 
em Hb 5.11,12; 1 Pe 2.2). Mas o proble­
ma surge porque certos coríntios são 
culpados pela estagnação do desenvol­
vimento espiritual. Ainda não estão prontos 
para o alimento sólido porque são “car­
nais” [sarkikos] (1 Co 3-2,3).
Sua imaturidade espiritual é eviden­
ciada pela “inveja, contendas e dissen- 
sões” (v. 3). A palavra grega zelos pode 
ter tanto um significado positivo quan­
to negativo. Positivamente, quer dizer 
cuidado ou fervor (Rm 10.2; 2 Co 7.7, 
ll;9 .2 ;F p 3 .6 ); negativamente quer dizer 
ciúme ou inveja (Rm 13-13; 2 Co 12.20). 
O ciúme forma uma dupla com a dis- 
sensão (em , cf. 1 Co 1.11). “Ambos os 
termos apontam para a auto-asserção e 
rivalidades insalubres” (Morris, 62). Paulo 
inclui ambas as palavras nos atos da 
natureza pecadora do homem (“dissen- 
sões, inveja” Gl 5.20; veja também Rm 
13-13; 2 Co 12.20). As contendas repre­
sentam o resultado de uma disposição 
pessoal e interior (zelos).
O vocabulário grego da questão de Paulo 
no verso 3 requer uma resposta afirmativa. 
“Não sois, porventura, carnais [sarkikos] e 
não andais segundo os homens? O apósto­
lo está fazendo a mesma pergunta de duas 
maneiras diferentes. O andar é uma metá­
fora comum para a conduta de alguém (7.17; 
Gl 5.16; Ef 2.2; 4.1) Andar ou agir “como 
meros homens” (NIV, NASB) mostra o sentido 
da pergunta de Paulo. Aconduta destas pessoas 
está em um plano terreno ou humano, e não 
em um plano espiritual.
945
I CORÍNTIOS 3
O termo “quando” (hotan no v. 4), no 
original grego, implica que as expressões 
de divisão como “eu sou de...” mostram 
um problema contínuo. Paulo não men­
ciona Cefas aqui porque:
1) Está somente dando um exemplo do Es­
pírito de divisão; e
2) Tanto ele como Apoio estavam envolvi­
dos no ministério em Corinto, um assun­
to que será discutido a seguir.
2.1.6. Paulo e Apoio: Companheiros 
no Serviço ao Senhor (3 .5 -15). Paulo 
agora enfatiza que nem ele, nem Apoio, 
nem qualquer outra pessoa separada de 
Cristo deve ser seguida, porque ninguém 
pode levar o mérito pelo nascimento e 
crescimento da congregação de Corinto. 
Esta ênfase é seguida por uma forte lem­
brança do dia do juízo final, quando a obra 
de cada um será provada.
Os versos 5-9 enfocam os ministérios 
de Paulo e Apoio, e servem como diretri­
zes para aqueles que estão envolvidos com 
o ministério. “Quem é Paulo e quem é 
Apoio?” São “servos” (d iakon o i), segui­
dores dos passos de Jesus, vieram não para 
ser servidos, mas para servir (Mc 10.45; 
Lc 22.25-27). O termo diakonosrepresentava 
originalmente alguém que servia as me­
sas (por exemplo, um garçom) e impli­
cava uma posição inferior à daqueles que 
estavam sendo servidos. É um termo fre­
qüentemente utilizado nas Escrituras re­
ferindo-se ao serviço (d iakon ia ) que deve 
ser prestado a Deus. Paulo e Apoio são, 
então, primeiramente servos do Senhor 
(1 Co 3-5), embora também exista um 
significado pelo qual são também servos 
do povo de Deus (2 Co 4.5). Foi por meio 
deles que os coríntios primeiramente oneram.
Podemos perceber a implicação de que 
tanto Apoio como Paulo eram instrumentos 
de evangelizaçâo. A visita inicial de Paulo 
a Corinto está registrada em Atos 18.1- 
18, e a de Apoio em Atos 18.27— 19.1. A 
frase “... conforme o que o Senhor deu a 
cada um [hekastos]” (que é uma paráfra­
se da NIV, para a frase literal: “o Senhor 
deu a cada um”), provavelmente seja a 
correta compreensão do intento de Paulo, 
e está de acordo com o que vem a se­
guir. Isto lembra os diferentes ministéri­
os da Palavra que Paulo menciona em 
outras passagens, onde diz que o Senhor 
“deu uns para apóstolos... profetas... 
evangelistas... pastores e doutores” (Ef 
4.11). Robertson e Plummer<57> observam 
que hekastos (cada um ou todos) ocorre 
cinco vezes nos versos 5-13, enfatizando 
que Deus lida separadamente com cada 
indivíduo.
Paulo enfatiza que o seu ministério e 
o de Apoio eram complementares, não 
havendo competição, pois eram “coope- 
radores de Deus” (v. 9), não no sentido 
de trabalharem junto com Deus (embora 
isto fosse certamente a verdade), mas tra­
balhando um com o outro p a r a o Senhor 
em sua obra (Bruce, 43). O apóstolo es­
clarece completamente este ponto usan­
do duas metáforas — “lavoura de Deus” 
e “edifício de Deus”. As metáforas da la­
voura e do edifício são combinadas em 
Jeremias 18.9; 24.6; e Ezequiel 36.9- Ocorrem 
também juntas na literatura de Qumran. 
“O conselho da comunidade deve ser 
fundamentado na verdade, como uma etema 
lavoura, uma casa santa para Israel” (1QS 
8.5; cf. 8.7).
A resposta para as perguntas “Quem é 
Paulo e quem é Apoio? (v. 5) é n ad a (v.7). 
O mérito pela existência da congregação 
pertence somente a Deus, pois na análi­
se final, o povo de Deus é a “plantação 
do Senhor” (Is 6l .3). Tendo a imagem agrária 
da Igreja como uma lavoura de Deus, Paulo 
se considera o semeador e Apoio o rega­
dor (v. 6). Ele é o evangelista que planta 
a semente, enquanto Apoio é o profes­
sor que cuida das plantas. Porém, esta 
aplicação nâo pode ser generalizada, já 
que Paulo foi freqüentemente um ensinador 
e Apoio também serviu como um evan­
gelista. O principal é que ambos têm 
ministérios complementares em relação 
ao povo de Deus, mas a vida da semente 
vem de Deus, não deles. Deus é quem efetiva 
a germinação e o crescimento da semen­
te (v. 6,7).
Paulo enfatiza a unidade e a interde­
pendência de um servo para com o ou­
tro. Eles têm ministérios diferentes, mas 
“um mesmo propósito” (literalmente, “são 
um”). “Um” é neutro em gênero (hen ) e
946
I CORÍNTIOS 3
pode significar também que são unidos 
em espírito. A mesma palavra consta na 
declaração dejesus de que Ele e o Pai são 
um(Jo 10.30). Deste modo, Paulo e Apoio 
são companheiros de trabalho e conservos, 
amigos, não rivais. Estes temas relacionados 
à diversidade e unidade serão desenvol­
vidos mais tarde, no tratamento estendi­
do à Igreja como o corpo de Cristo (1 Co
12.12-27).
Outro princípio importante é que cada 
um receberá uma recompensa (misthos) 
de Deus “segundo o seu trabalho” (v. 8). 
Esta recompensa não é baseada em qualquer 
conceito humano de sucesso. Sua natu­
reza não é especificada, mas o significa­
do básico da palavra grega é pagamento 
ou salário. Não é revelado o momento em 
que a recompensa ou o salário serão pagos, 
mas certamente inclui a bênção aguardada 
por aqueles que são servos fiéis do Se­
nhor (cf. Mt 25.19-23).
Os versos 10-15 desenvolvem a metá­
fora da Igreja como o “edifício de Deus” 
(v. 9). Em alguns aspectos esta é análoga 
à metáfora do campo. Paulo plantou a 
semente; lançou os alicerces. Apoio regou 
a semente; edificou sobre os alicerces.
Paulo atribui à “graça de Deus” (charis) 
tudo aquilo que realizou em seu ministé­
rio (v. 10). Em um sentido geral, o termo 
graça refere-se à benevolência de Deus 
para com aqueles que não a merecem. Em 
um sentido mais restrito é a capacitação 
dada por Deus quando nos encontramos 
sob pressão (“A minha graça te basta” [2 
Co 12.91). O poder capacitador de Deus 
é parte do significado desta passagem. Além 
disto, este termo às vezes está ligado ao 
termo charism a (dom), cuja principal idéia 
é algo que tenha sido recebido como o 
resultado de uma graça (veja Rm 12.6; e 
também o verso 3). O dom de Paulo, nesta 
passagem, é o de um evangelista que está 
preparando o alicerce espiritual sobre o 
qual será construída uma Igreja (notamos 
nesta passagem que Paulo não costuma­

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