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CAPÍTULO as Plantas A vida na atmosfera da Terra apresenta um formidável desafio para as plantas de ambientes terrestres. Por um lado, a atmosfera é a fonte de dióxido de carbono, necessário para a fotossíntese. Por outro, a atmosfera é geralmente bastante seca, levando a uma perda líquida de água devido à evaporação. Como as plantas care- cem de superfícies que permitam a difusão para seu interior de C02 e que ao mes- mo tempo impeçam a perda de água, a absorção de C02 expõe as plantas ao risco de desidratação. Esse problema é aumentado porque o gradiente de concentração para a absorção de C02 é muito menor do que o gradiente de concentração que regula a perda de água. Para satisfazer às demandas contraditórias de maximizar a absorção de dióxido de carbono enquanto limitam a perda de água, as plantas desenvolveram adaptações para controlar a perda de água das folhas e repor a água perdida para a atmosfera . Neste capítulo, serão examinados os mecanismos e as forças motoras que ope- ram no transporte de água dentro da planta e entre a planta e seu ambiente. Inicia- remos nossa investigação do transporte de água enfocando a água no solo. A água no solo O conteúdo de água e a sua taxa de movimento no solo dependem em grande parte do t ipo e da estrutura do solo. Em um extremo está a areia, cujas partículas podem medir 1 mm de diâmetro ou mais. Solos arenosos têm uma área de super- fície por unidade de grama de solo relativamente pequena e grandes espaços ou canais entre as partículas. 86 Lincoln Taiz & Eduardo Zeiger No outro extremo está a argila, cujas partículas são menores que 2 µm de diâmetro. Solos argilosos têm áreas de superfície muito maiores e canais menores entre as par- tículas. Com o auxílio de substâncias orgânicas como o húmus (matéria orgânica em decomposição), as partículas de argila podem agregar-se em "torrões", possibilitando a formação de grandes canais que ajudam a melhorar a aeração e a infiltração de água do solo. Quando um solo é pesadamente aguado por chuva ou irrigação (ver Tópico 4.1 na internet), a água percola por gravidade através dos espaços entre as partículas de solo, parcialmente deslocando e, em alguns casos, aprisionando ar nestes canais. Em razão de a água ser puxada para den- tro dos espaços entre as partículas do solo pela capilarida- de, os menores canais são preenchidos primeiro. Depen- dendo da quantidade de água disponível, a água no solo pode existir como uma lâmina que se adere à superfície das suas partículas; ela pode preencher os canais menores, mas não os maiores ou pode preencher todos os espaços entre as partículas. Em solos arenosos, os espaços entre as partículas são tão grandes que a água tende a drenar a partir deles e a per- manecer somente nas superfícies das partículas ou nos in- terstícios entre elas. Em solos argilosos, os canais são tão pe- quenos que muita água é retida contra a força da gravidade. Poucos dias após ser saturado pela chuva, um solo argiloso pode reter 40°/o da água por unidade de volume. Por outro lado, os solos arenosos, em geral, retêm somente -15°/o de água por volume depois de completamente molhado. Nas seções seguintes, será examinado como a estru- tura física influencia o potencial hídrico, como a água movimenta-se no solo e como as raízes absorvem a água necessária às plantas. Uma pressão hidrostática negativa na água do solo diminui o seu potencial hídrico Da mesma forma que o potencial hídrico nas células vege- tais, o potencial hídrico dos solos pode ser decomposto em três componentes: o potencial osmótico, a pressão hidros- tática e o potencial gravitacional. O potencial osmótico ('1' ~ ver Capítulo 3) da água do solo é geralmente despre- zível, pois, excetuando os solos salinos, as concentrações de soluto são baixas; um valor típico pode ser -0,02 MPa. Em solos que contêm uma concentração substancial de sais, no entanto, 'IJf 5 pode ser significante, talvez -0,2 MPa ou menor. O segundo componente do potencial hídrico é a pressão hidrostática ('1' P) (Figura 4.1 ). Para solos úmidos, ' '1'P é muito próximo de zero. A medida que o solo seca, '1'P decresce e pode tomar-se muito negativo. De onde vem a pressão negativa da água do solo? Lembre-se da discussão sobre capilaridade no Capí- tulo 3, em que a água tem uma alta tensão superficial que tende a minimizar as interfaces ar-água. No entanto, devi- do às forças de adesão, a água também tende a se prender às superfícies das partículas do solo (Figura 4.2). Linha do solo Espaços intercelulares na folha (Licwv) --r-Xilema (ão/) Através da raiz (Li 1Jr w> FIGURA 4.1 Principais forças propulsaras do movimento de água do solo através da planta para a atmosfera: diferenças em concen- tração de vapor de água (Licwv), pressão hidrostática (tlo/P) e poten- cial hídrico (tl 1Jr w). ' A medida que o conteúdo de água do solo decresce, a água retrocede para os interstícios entre partículas do solo, formando superfícies ar-água cujas curvaturas repre- sentam o balanço entre a tendência de minimizar a área de superfície da interface ar-água e a atração da água às partículas do solo. A água sob uma superfície curva desen- volve uma pressão negativa, que pode ser estimada pela seguinte fórmula: 'ljrp - 2T r (4.1) Raiz ~ Q o o Pelo Água da raiz Q t o e> /} ~ Partícula Partícula de areia de arg ila Ar (solo úmido) ~QAr (solo secando) FIGURA 4.2 Os pelos da raiz fazem um contato íntimo com as partí- culas do solo e amplificam grandemente a área de superfície uti lizada para a absorção de água pela planta. O solo é uma mistura de partí- culas (areia, argila, silte e material orgânico), água, solutos dissolvidos e ar. A água é adsorvida à superfície das partículas do solo. A medida que a água é absorvida pela planta, a solução do solo recua para pe- quenos compartimentos, canais e fissuras entre as partículas do solo. Nas interfaces ar-água, este recuo faz a superfície da solução do solo desenvolver um menisco côncavo (interfaces curvas entre ar e água, marcadas na figura por flechas), desenvolvendo uma tensão (pressão negativa) na solução por meio da tensão superficial. A medida que mais água é removida do solo, a curvatura dos meniscos ar-água au- menta, gerando tensões maiores (pressões mais negativas). onde T é a tensão superficial da água (7,28 X 10...s MPa m) e ré o raio de curvatura da interface ar-água. Observe que esta é a mesma equação de capilaridade discutida no Tó- pico 3.1 na internet (ver também Figura 3.5), sendo que aqui as partículas de solo são consideradas como comple- tamente molháveis (ângulo de contato 0 =O; cos 0 = 1). ' A medida que o solo seca, a água é removida primeiro dos espaços maiores entre as suas partículas e, então, su- cessivamente dos menores espaços entre e dentro das par- tículas do solo. Neste processo, o valor de 1Jt P na água do solo pode se tomar muito negativo devido às curvaturas crescentes das superfícies ar-água em poros de diâmetros sucessivamente menores. Por exemplo, uma curvatura de r = 1 µm (mais ou menos o tamanho das maiores partícu- las de argila) corresponde a um valor de 1Jl'P de-0,15 MPa. O valor de 1Jl'P pode atingir facilmente de -1 a -2 MPa à medida que a interface ar-água recuar para dentro dos es- paços menores entre as partículas de argila. O terceiro componente é o potencial gravitacional (1Jtg). A gravidade exerce um papel importante na drena- gem. O movimento para baixo da água é devido ao fato de que 1Jtg é proporcional à elevação: maior em elevações • • maiores e vice-versa. A água move-se pelo solo por fluxo de massa Fluxo de massa é o movimento conjunto de moléculas em massa*, na maioria das vezes em resposta a um gradien- * N. de T.: No original, do francês em masse. Fisiologia Vegetal 87 te de pressão. Exemplos comuns de fluxo de massa são a água movendo-se ao longo de uma mangueira de jar- dim ou rio abaixo. O movimentoda água pelos solos é, na maior parte das vezes, por fluxo de massa. Como a pressão na água do solo se deve à existên- cia de interfaces ar-água curvas, a água flui de regiões de maiores conteúdos de água no solo, onde os espaços preenchidos por água são maiores, para regiões com me- nores conteúdos de água no solo, em que o menor tama- nho dos espaços preenchidos por água está associado às interfaces ar-água mais curvas. Algum movimento de água também ocorre por difusão de vapor de água, o que pode ser importante em solos secos. ' A medida que absorvem água do solo, as plantas a esgotam junto à superfície das raízes. Esse esgotamento reduz o 1Jl'P da água próxima à superfície das raízes e esta- belece um gradiente de pressão em relação às regiões vizi- nhas do solo, que possuem valores altos de 1Jl'P. Uma vez que os espaços porosos preenchidos com água se interco- nectam no solo, a água se move obedecendo a um gradien- te de pressão em direção à superfície das raízes por fluxo de massa através destes canais. A taxa de fluxo de água nos solo depende de dois f a- tores: tamanho do gradiente de pressão pelo solo e condu- tividade hidráulica do solo. A condutividade hidráulica do solo é uma medida da facilidade com que a água se move pelo solo, e varia com o tipo de solo e com o seu con- teúdo de água. Solos arenosos, os quais têm grandes espa- ços entre as partículas, têm alta condutividade hidráulica quando saturados, enquanto solos argilosos, com somente diminutos espaços entre suas partículas, têm condutivida- de hidráulica apreciavelmente menor. ' A medida que o conteúdo de água (e, por consequên- cia, o potencial hídrico) de um solo decresce, sua conduti- vidade hidráulica diminui drasticamente. Esse decréscimo na condutividade hidráulica do solo deve-se principal- mente à substituição da água por ar nos espaços do solo. Quando o ar se desloca para dentro de um canal do solo previamente preenchido por água, o movimento de água ' por meio daquele canal restringe-se à periferia dele. A me- dida que mais espaços do solo são preenchidos por ar, o fluxo de água é limitado aos canais menos numerosos e mais estreitos, e com isto a condutividade hidráulica cai. (O Tópico 4.2 na internet mostra como a textura do solo influencia tanto a capacidade dos solos em reter água como a sua condutividade hidráulica.) Absorção de água pelas raízes Um contato íntimo entre a superfície das raízes e o solo é essencial para a absorção efetiva de água pelas raízes. Esse contato proporciona a área de superfície necessária para a absorção de água** e é maximizado pelo crescimento das raízes e pelos destas no solo. Pelos das raízes são projeções ** N. de T.: Esse contato reduz a chamada resistência da interface solo- -raiz à passagem de água e permite melhor absorção de água pela área de superfície das raízes. 88 Lincoln Taiz & Eduardo Zeiger (A) o +' e: Menos suberizada ~ .., Mais suberizada QJ E C'I 1,6 QJ Ápice em "' ..... crescimento o a. l'O - 1,2 ::::> - Regiões de não 1 C'I .e: •l'lJ ....J crescimento da raiz QJ "' -o 6 o .... •l'O - 0,8 V" ..... o "' 0,4 .e l'O • QJ • • • -o • l'O X o ~ 40 80 120 160 200 240 Distância do ápice da raiz (mm) (B) "-H O 2 Toda a superfície igualmente permeável (C) Apenas a zona próxima ao ápice da raiz é permeável foo FIGURA 4.3 Taxa de absorção de água em várias posições ao lon- go de uma raiz de abóbora (Curcubita pepo) (A). Diagrama da absor- ção de água, onde toda a superfície da raiz é igualmente permeável (B) ou é impermeável em regiões mais velhas devido à deposição de suberina (C) . Quando as superfícies das raízes são igualmente per- meáveis, a maior parte da água entra junto ao topo do sistema de raízes, com as regiões mais distais sendo hidraulicamente isoladas à medida que a sucção no xilema é al iviada devido ao influxo de água. A diminuição da permeabilidade das regiões mais velhas da raiz permite que as tensões no xilema se estendam além no sistema de raízes, permitindo a absorção de água pelas suas regiões distais (A, segundo Kramer & Boyer, 1995). filamentosas das células da epiderme, que aumentam sig- nificativamente a área de superfície das raízes, proporcio- nando, assim, maior capacidade para a absorção de íons e água do solo. O exame de indivíduos de trigo de três meses de idade mostrou que os pelos constituíam mais de 60°/o da área de superfície das raízes (ver Figura 5.6). A água penetra mais prontamente na raiz próximo aos ápices dela. Regiões maduras da raiz são menos permeá- veis à água, em razão de desenvolverem uma camada ex- terna de tecido de proteção denominado exoderme, ou hipo- derme, que contém material hidrofóbico em suas paredes. Embora, inicialmente, possa parecer contraintuitivo que qualquer porção do sistema de raízes seja impermeável à água, as regiões mais velhas das raízes precisam ser lacra- das se houver necessidade de absorção de água (e, assim, fluxo de massa de nutrientes) a partir de regiões do siste- ma de raízes que estão explorando ativamente novas áreas no solo (Figura 4.3) (Zwieniecki et al., 2002). O contato íntimo entre a superfície das raízes e o solo é facilmente rompido quando este é perturbado, razão pela qual as plantas e as plântulas recentemente transplan- tadas precisam ser protegidas da perda de água durante os primeiros dias após o transplante. A partir daí, o novo crescimento das raízes no solo restabelece o contato solo- -raiz e a planta pode suportar melhor o estresse hídrico . A partir de agora, será considerado como a água se move dentro da raiz e os fatores que determinam a sua taxa de absorção por esse órgão. A água se move na raiz pelas rotas apoplástica, simplástica e transmembrana No solo, a água flui entre as suas partículas. Entretanto, da epiderme até a endoderme, existem três rotas pelas quais a água pode fluir (Figura 4.4): a rota apoplástica, a simplás- tica e a transmembrana. 1. O apoplasto é o sistema contínuo de paredes celula- res, espaços intercelulares de aeração e os lumes de células não vivas (i.e., condutos do xilema e fibras). Nesta rota, a água move-se pelas paredes celulares e por espaços extracelulares (sem atravessar qualquer membrana), à medida que ela se desloca ao longo do parênquima cortical da raiz. 2. O simplasto consiste da rede de citoplasmas celula- res interconectados por plasmodesmos. Nesta rota, a água se desloca através do parênquima cortical via plasmodesmos (ver Capítulo 1). 3. A rota transmembrana é a via pela qual a água entra em uma célula por um lado, sai pelo outro lado, entra na próxima célula da série e assim por diante. Nesta rota, a água atravessa a membrana plasmática de cada célula no seu caminho duas vezes (uma na entrada e outra na saída). O transporte pelo tonoplasto também pode estar envolvido. Apesar da importância relativa das rotas apoplástica, simplástica e transmembrana não ter sido ainda completa- mente estabelecida, experimentos com a técnica da sonda de pressão (ver Tópico 3.6 na internet) indicam um papel importante para as membranas celulares no movimento de água através do parênquima cortical de raízes (Frensch et al., 1996; Steudle & Frensch, 1996; Bramley et al., 2009). E, apesar de existirem três rotas, a água não se move de acordo com um único caminho escolhido, mas onde quer que os gradientes e resistências a dirijam. Uma molécu- la de água determinada movendo-se no simplasto pode atravessar a membrana e se mover no apoplasto por um momento, e então retornar para o simplasto novamente. Na endoderme, o movimento da água através do apoplasto é obstruído pela estria de Caspary (ver Figura 4.4). A estria de Caspary é uma banda dentro das paredes ~ Rotas simplástica e t ransmembrana celulares radiais da endoderme que é impregnada com uma substância cerosa e hidrofóbica, a suberina. A endo- derme toma-se suberizada na porção da raiz que não está em crescimento, de vários milímetrosa vários centímetros do ápice da raiz, aproximadamente ao mesmo tempo em que os primeiros elementos do protoxilema amadurecem (Esau, 1953). A estria de Caspary quebra a continuidade da rota apoplástica, forçando a água e os solutos a passarem pela membrana a fim de atravessarem a endoderme. A necessidade da água em se mover simplasticamente através da endoderme ajuda a explicar por que a permea- bilidade das raízes à água depende tão fortemente da pre- sença de aquaporinas. A repressão da expressão de genes de aquaporinas reduz marcantemente a condutividade hi- dráulica de raízes e pode resultar em plantas que murcham facilmente (Siefritz et al., 2002) ou que compensam pela pro- dução de sistemas de raízes maiores (Martre et al., 2002). A absorção de água decresce quando as raízes são sub- metidas a baixas temperaturas ou condições anaeróbias ou tratadas com inibidores respiratórios. Até recentemente não havia explicação para a conexão entre respiração da Periciclo Parênquima cortical ~Epiderme Fisiologia Vegetal 89 Endoderme Estria de Caspary Xi lema Floema FIGURA 4.4 Rotas de absorção de água pela raiz. Através do parênquima cortica l, a água pode se movimentar pelas rotas apo- plástica, transmembrana e simplástica. Na rota simplástica, a água flui entre células pelos plasmodesmos, sem atravessar a membrana plasmática. Na rota transmembrana, a água se move através das membranas plasmáticas, com uma curta permanência no espaço da parede celular. Na endoderme, a rota apoplástica é bloqueada pela estria de Caspary. raiz e absorção de água, ou para a enigmática murcha de plantas em locais alagados. Sabe-se agora que a permeabi- lidade das aquaporinas pode ser regulada em resposta ao pH intracelular (Toumaire-Roux et al., 2003). Taxas redu- zidas de respiração, em resposta à baixa temperatura ou a condições anaeróbias, podem levar a aumentos no pH intracelular. Esse aumento no pH citoplasmático altera a condutância das aquaporinas nas células da raiz, resultan- do em raízes que são marcantemente menos permeáveis à água. O fato de as aquaporinas poderem ser abertas ou fechadas em resposta ao pH proporciona um mecanismo pelo qual as raízes podem alterar ativamente sua permea- bilidade à água em resposta a seu ambiente local. O acúmulo de solutos no xi/ema pode gerar 11pressão de raiz 11 ' As vezes, as plantas exibem um fenômeno referido como pressão de raiz. Por exemplo, se o caule de uma plântula é seccionado logo acima do solo, o coto normalmente ex- sudará seiva do xilema cortado por muitas horas. Se um 90 Lincoln Taiz & Eduardo Zeiger manômetro é selado sobre o coto, pressões positivas na ordem de 0,05 a 0,2 MPa podem ser medidas. Quando a transpiração é baixa ou ausente, uma pressão hidrostática positiva se estabelece no xilema por- que as raízes continuam a absorver íons do solo e trans- portá-los para o xilema. O acúmulo de solutos na seiva do xilema leva a um decréscimo no potencial osmótico (1/1'5) do xilema e, portanto, a um decréscimo no potencial hídri- co (1/1' w) dele. Essa diminuição do 1/1' w proporciona a força propulsora para a absorção de água, que, por sua vez, gera uma pressão hidrostática positiva no xilema. De fato, o te- cido multicelular da raiz comporta-se como uma membra- na osmótica, acumulando uma pressão hidrostática positi- va no xilema em resposta ao acúmulo de solutos. A probabilidade de ocorrência de pressão de raiz é maior quando os potenciais hídricos do solo são altos e as taxas de transpiração são baixas. Quando as taxas de transpiração são altas, a água é absorvida pelas folhas e perdida para a atmosfera tão rapidamente que uma pressão positiva resultante da absorção de íons nunca se desenvolve no xilema. As plantas que desenvolvem pressão de raiz frequen- temente produzem gotículas líquidas nas margens de suas folhas, fenômeno conhecido como gutação (Figura 4.5). Pressão positiva no xilema provoca exsudação da seiva do xilema por poros especializados chamados hidatódios, que estão associados às terminações de nervuras na margem da folha. As "gotas de orvalho" que podem ser vistas nos ápices de folhas de gramíneas pela manhã são, na verda- de, gotículas de gutação exsudadas dos hidatódios. A gu- tação é mais evidente quando a transpiração é suprimida , e a umidade relativa é alta, como à noite. E possível que a pressão de raiz reflita uma consequência inevitável das altas taxas de acumulação de íons. No entanto, a existência de pressões positivas no xilema à noite pode ajudar adis- solver bolhas de gás anteriormente formadas e, assim, de- sempenhar uma função importante na reversão de efeitos deletérios da cavitação descrita na próxima seção. Transporte de água através do xilema Na maioria das plantas, o xilema constitui a parte mais longa da rota de transporte de água. Em uma planta de 1 m de altura, mais de 99,So/o da rota de transporte de água encontra-se dentro do xilema; em árvores altas, o xilema representa uma fração ainda maior da rota. Comparado com o movimento de água por camadas de células vivas, o xilema é uma rota simples, de baixa resistência. Nas seções seguintes, será examinado como a estrutura do xilema contribui para o movimento de água das raízes às folhas e como a pressão hidrostática negativa gerada pela transpi- ração foliar puxa a água através do xilema. O xi/ema consiste em dois tipos de elementos traqueais As células condutoras no xilema têm uma anatomia es- pecializada que lhes permite transportar grandes quanti- FIGURA 4.5 Gutação em folhas de morangueiro (Fragaria grandi- flora). De manhã cedo, as folhas secretam gotículas de água pelos hidatódios, localizados nas margens das folhas. Flores jovens tam- bém podem exibir gutação (cortesia de R. Aloni). dades de água com grande eficiência. Existem dois tipos principais de elementos traqueais no xilema: traqueídes e elementos de vaso (Figura 4.6). Os elementos de vaso são encontrados somente em angiospermas, em um pequeno grupo de gimnospermas chamado Gnetales e em algu- mas pteridófitas. As traqueídes estão presentes tanto em angiospermas quanto em gimnospermas, assim como em pteridófitas e outros grupos de plantas vasculares. A maturação tanto de traqueídes quanto de elementos de vaso envolve a produção de paredes celulares secun- dárias e a subsequente morte da célula: a perda do cito- plasma e de todos os seus conteúdos. O que permanecem são paredes celulares lignificadas e espessas, que formam tubos ocos pelos quais a água pode fluir com resistência relativamente baixa. Traqueídes são células fusiformes alongadas (ver Figura 4.6A) organizadas em filas verticais sobrepostas (Figura 4.7). A água flui entre traqueídes por meio de nu- merosas pontoações em suas paredes laterais (ver Figura 4.6B). Pontoações são regiões microscópicas nas quais a parede secundária está ausente e somente a parede primá- ria está presente (ver Figura 4.6C). As pontoações de uma traqueíde estão geralmente localizadas em oposição às pontoações de uma traqueíde adjacente, formando pares de pontoações. Os pares de pontoações constituem uma rota de baixa resistência para o movimento de água entre traqueídes. A camada permeável à água entre os pares de pontoações, que consiste em duas paredes primárias e uma lamela média, é denominada membrana de pontoação. As membranas de pontoação em traqueídes de algu- mas espécies de coníferas têm um espessamento central (A) o o o o oº o o o o o o o o ºo o o o o o o o o o o o o 8 o o o o @ @ @ @@ @ @@@ @ @ @ @ @@ @ o @ @ @ @@ @ @ @ @@ @ @ o Traqueídes (C) Coníferas Par de pontoações ~ 1 1 == '5% 8 = = = =s = = == = 8= =8 = = = = FIGURA 4.6 Elementos traqueais e suas intercone- xões. (A) Comparação estrutural de traqueídes e ele- mentos de vaso, duas classes de elementos traqueais envolvidos no transporte de água no xilema. Tra-queídes são célu las mortas, ocas e alongadas, com paredes altamente lignificadas. As paredes contêm numerosas pontoações - reg iões onde não há pare- de secundária, mas a parede primária permanece. As formas das pontoações e o padrão das pontoações de parede variam com a espécie e o t ipo de órgão. As traqueídes estão presentes em todas as plantas vasculares. Os vasos consistem em empilhamento de dois ou mais elementos. Da mesma forma que as tra- q ueídes, os elementos de vaso são células mortas e são conectadas umas com as outras através de placas de perfuração - regiões da parede onde poros ou ori- fícios se desenvolveram. Os vasos são conectados a outros vasos e às traqueídes através de pontoações. Os vasos são encontrados na maioria das angiosper- mas e não estão presentes na maioria das gimnos- permas. (B) Micrografia ao microscópio eletrônico de varredura mostrando dois vasos (d ispostos em diago- nal do canto inferior esquerdo para o canto superior direito). Pontoações são visíveis nas paredes laterais, assim como as paredes terminais escalariformes entre Placa de perfuração (composta) o o o o o o ºº o o o o o o o o o ~ o §> o ~o ~o Placa de perfuração g (simples) '6 ~~º ººº ººº ºº o°<> ~ o ºº "O d'o ºº o 0'6 d'o ºº ºº d'o O'b Qo ººo ºo ..... ... ··. Pontoações Elementos de vaso (B) Paredes celulares secundárias (D) Outras plantas vasculares Par de pontoações Fisiologia Vegetal 91 os elementos de vaso (200x). (C) Diagrama de uma pontoação areolada de coníferas, com o toro centra- do na câmara da pontoação (esquerda) ou deslocado para um lado da câmara (direita). Quando a diferen- ça de pressão entre duas traqueídes é pequena, a membrana da pontoação vai se alojar perto do cen- tro da pontoação areolada, permitindo que a água f lua por meio da região da margem da membrana da pontoação; quando a diferença de pressão entre duas traqueídes é grande, como acontece quando uma está cavitada e a outra permanece preenchida com água sob tensão, a membrana da pontoação é deslocada de modo que o toro fica alojado contra as paredes arqueadas sobre ele, impedindo assim que a embolia se propague entre traqueídes. (D) As mem- branas da pontoação de angiospermas e de outras plantas vascu lares não coníferas, ao contrário, são relativamente homogêneas em suas estruturas. Essas membranas da pontoação têm poros muito peque- nos em comparação com aquelas das coníferas, os quais previnem a propagação de embolia, mas tam- bém impõem uma resistência hidráulica sign ificativa, comparadas às pontoações de coníferas (B, © Steve Gschmeissner/Photo Researchers, lnc.; C, segundo Zimmermann, 1983). ~ 11 \ Paredes celulares - Ç7 secundárias 1.1 1 1 ~Membrana da pontoação Toro ~ 71---.. Câmara da pontoação 1 1 r---l--_ Membrana fl da pontoação n-Câmara da pontoação Paredes celulares primárias Paredes celulares primárias
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