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1 Aulas - Teoria Geral do Direito Privado Prof. Dr. Jorge Morais Carvalho João Duarte 2018/2019 – 1º semestre Agradecimentos especiais: • À inexcedível Joana Agostinho; e a eventuais outros que - por eu chegar sistematicamente atrasado às aulas… - me possam, também, ter fornecido, simpaticamente, apontamentos • À Joana Nunes e aos seus fantásticos Vol. I e II do Código Civil Anotado (Cord. Ana Prata). Sem elas, existiria, sem dúvida, uma sebenta muito mais pobre. 1. Direito Público vs. Direito Privado: a summa divisio A divisão suprema tradicional do universo jurídico é aquela que distingue Direito Público e Direito Privado. 1) A distinção começou por ser feita através do critério do interesse, segundo o qual: Direito Público comporta normas que prossigam direta, predominante ou essencialmente o interesse geral da comunidade, os interesses públicos; Direito Privado comporta normas que prossigam direta, predominante ou essencialmente interesses particulares, privados. Este critério revela-se impotente dado que não há linha radical de fratura entre o interesse público e o interesse privado. O interesse público corresponde, pelo menos indiretamente, aos interesses particulares, e os interesses particulares são protegidos porque há um interesse público nesse sentido. Não há interesses públicos que não tenham em conta interesses privados. Todo o direito visa proteger simultaneamente interesses públicos e privados. Aponte-se, por exemplo, o art. 875.º CC, que sujeita a venda de imóveis a escritura publica como requisito de validade do ato. Ora, aqui, além de se defender as partes da ligeireza ou precipitação, realizam-se interesses públicos de segurança do comércio 2 jurídico, da prova fácil da realização do ato, da fácil distinção entre o conteúdo dos atos jurídicos e as meras negociações. O contrário também sucede: normas de direito público também visam proteger interesses privados (adequada tutela a interesses dos particulares - Mota Pinto). Exemplo: normas que definem a condição de promoção dos funcionários públicos – têm em vista, para além do interesse público do eficaz funcionamento dos serviços, uma proteção justa dos legítimos interesses das pessoas singulares a que se dirigem. Para além disto, pode afirmar-se que todas as normas, acima de interesses e objetivos específicos, comportam um fundamental interesse: o da realização do Direito, do ideal de Justiça e ainda da segurança jurídica. 2) Numa fase ulterior, pensou-se no critério da qualidade dos sujeitos. Este critério coloca a tónica na relação ou situação regulada pela norma jurídica em causa, pelo que: é de Direito Privado a norma que regula relações jurídicas cujos sujeitos sejam unicamente particulares; de Direito Público a norma que regula relações jurídicas caso algum dos sujeitos da relação for o Estado ou qualquer outra pessoa coletiva pública. Ora, este critério revela-se, também, inaceitável, porque há frequentemente situações em que o Estado e demais entes públicos podem atuar nos mesmos termos que qualquer outro sujeito: o direito público pode regular relações entre entidades numa ótica de equivalência, como é o caso das relações entre as autarquias locais; pelo contrário, o direito privado também disciplina relações compostas de supra e infra-ordenação, como são as relações parentais, maxime o poder parental (art. 1878.º CC). Não é pelo facto de os entes públicos celebrarem compras e vendas que as respetivas regras deixam de ser Direito Privado e passam a ser Direito Público. 3) Atualmente, tende a adotar-se um critério mais sensato – o critério da posição dos sujeitos. Este critério relaciona-se com o jus imperii – uma prerrogativa de Direito Público, que designa “posição de autoridade” - faculdade de emitir comandos, gerais ou individuais, que se imponham a outrem, mesmo sem ou contra a vontade desses destinatários. Segundo este critério: é Direito Público o sistema de normas que, tendo em vista a prossecução de um interesse coletivo, confere para esse efeito a um dos sujeitos da relação jurídica poderes de autoridade sobre o outro (jus imperii)- assim, serão de Direito Público as normas que regulam a organização e a atividade do Estado e de outros entes públicos menores, as relações desses entes públicos entre si no exercício dos poderes que lhes competem, bem como as relações dos entes públicos enquanto revestidos de poder de autoridade com os particulares; é Direito Privado o sistema de normas que, visando regular a vida privada das pessoas, não confere a nenhuma delas poderes de autoridade, mesmo quando pretendam proteger um interesse público considerado relevante – os sujeitos estão em posição de paridade: são relações entre particulares, ou entre os particulares e os entes públicos, quando estes não intervenham revestidos de jus imperii, fazendo com que atuem como se fossem particulares (exemplo: o Estado compra um prédio para nele instalar um serviço de saúde; adquire um automóvel; etc…). 3 Ramos do Direito Público: Direito Constitucional; Direito Administrativo; Direito Penal; Direito Fiscal; Direito Processual Civil; Direito Internacional Público; … Ramos do Direito Privado: Direito Civil; Direito Comercial; Direito Internacional Privado; … Em suma, esta é e sempre foi uma distinção polémica, havendo hoje quem considere que há ramos do Direito que não se encaixam em nenhum dos dois tipos (exemplos: Direito Comercial, Direito do Trabalho – incluem normas de Direito Público: no caso do Direito do Trabalho, normas sobre intervenção administrativa na disciplina coletiva das relações de trabalho, por exemplo; e normas de Direito Privado: normas reguladoras do contrato individual de trabalho ou a própria aplicação de sanções). Um outro exemplo assaz interessante é o do Direito da U.E.: mistura direito público, quando falamos das instituições da União, e direito privado, no caso das diretivas e dos regulamentos. 2. O Direito Privado Fontes do Direito Privado: 1) legislação - a mais importante, na medida em que é a principal fonte de produção de normas jurídicas; 2) costume; 3) fontes mediatas - jurisprudência e doutrina. Principais normas legais: 1) CRP (a parte dos Direitos Fundamentais tem uma forte correspondência no direito Privado - reconhecimento da personalidade, direitos dos trabalhadores, direitos dos consumidores, etc…) 2) Código Civil 3) Numerosa legislação avulsa A CRP é fonte do direito privado essencialmente pela parte que trata dos direitos fundamentais - um dos princípios fundamentais do direito privado é o direito de propriedade (“anexado” à livre iniciativa económica). 2.1. Direito Privado Comum vs. Direito Privado Especial O Direito Civil constitui o núcleo fundamental do direito privado. Historicamente, o direito privado confunde-se com o direito civil; acontece que, com o passar dos séculos, o desenvolvimento das sociedades fez emergir novos setores deste ramo do direito para proteger as necessidades que daquele facto advieram. Surgem ramos autónomos do direito. Podemos apontar o direito comercial, ou o direito do trabalho. São direito privado especial, por oposição ao direito privado comum – o direito civil. A distinção sinaliza que estes novos setores do direito vêm dar às particulares relações jurídicas a que se aplicam, uma disciplina diferente da que o direito civil dava (dá) às relações jurídicas em geral. São um conjunto de normas com relevância especial, obedecendo a uma racionalidade própria para se autonomizarem – 4 sendo, quanto a casos omissos na legislação comercial ou laboral (apenas para dar continuidade aos setores exemplificados), aplicável o direito civil. É, portanto, o direito civil um direito privado comum com aplicabilidade subsidiária face a estes novos ramos autónomos. A questão é relevante dado que estesdireitos especiais também tocam no âmbito do direito civil: o direito comercial também regula relações de caráter patrimonial, fazendo-o, em alguns aspetos, diferentemente da disciplina civilística, devido à questão de serem relações patrimoniais especiais, que merecem outra regulação que não a regulação geral do direito civil. A aplicabilidade subsidiária do direito civil constitui-se através de: - remissão expressa (exemplo: arts. 14.º, 26.º ou 94.º/2 do Código do Trabalho); - por meio da observação de uma lacuna, devendo, nesse caso, aplicar-se a disciplina geral, nessa matéria, constante do CC (o Código do Trabalho não regula tudo…). 2.2. Princípios Fundamentais do Direito Privado 1) Reconhecimento da pessoa humana e dos direitos de personalidade 2) Autonomia privada 3) Propriedade privada 4) Boa-fé 5) Responsabilidade Civil 1) Este princípio tem consagração constitucional – art. 1.º CRP 2) Subprincípio da autonomia privada: liberdade contratual. 3) Consagração constitucional – art. 62.º CRP. 4) Um princípio que constitui um conceito indeterminado, uma espécie de “válvula de escape do sistema. É, pois, importante analisar a jurisprudência para descortinar o seu sentido e o seu âmbito de aplicação. É uma figura de forte criação jurisprudencial e um dos conceitos indeterminados mais relevantes do direito privado. (Este é o sentido objetivo de boa-fé… porque:) Temos dois sentidos de boa-fé - boa-fé em sentido subjetivo e boa-fé em sentido objetivo. a) sentido subjetivo: estado em que a pessoa se encontra relativamente a determinado facto. Desconhecimento de uma determinada situação/facto. Está de boa fé aquele que não sabia/desconhecia. Estar de má-fé, neste sentido, significa que a pessoa sabia e acaba por ser penalizada. Em sentido subjetivo não é em si um conceito indeterminado. b) sentido objetivo: regra de conduta. A norma impõe um determinado dever ser - um comportamento honesto, esperado relativamente à pessoa colocada na posição que se trata. Um comportamento segundo “os ditames/as regras/os princípios da 5 boa-fé”. Se a pessoa, neste sentido, segue a boa-fé, comportou-se corretamente, da forma prevista, perante determinado caso. Exemplos: - Boa-fé em sentido subjetivo - arts. 179.º, 184.º/2, 259.º, 274.º/2, 291.º/1, 612.º, 765.º, 892.º CC. - Boa-fé em sentido objetivo – arts. 227.º, 239.º, 272.º, 275.º, 334.º, 437.º/1, 475.º, 762.º/2 CC. Comparação: por exemplo, enquanto que no art. 179.º CC se indica a boa-fé para referir o direito que o terceiro adquiriu antes de saber que as deliberações da assembleia iriam ser anuladas (desconhecimento); no art. 227.º CC, a boa-fé serve para imputar ao sujeito o cumprimento de um conjunto de regras (imposição de um dever ser esperado) atinentes à formação do contrato. Art. 1260.º CC – importante: “posse de boa-fé”. Nota: não confundir boa-fé ou má-fé com culpa! São figuras distintas. 5) Este princípio indica que, em traços gerais, quem causa danos a outrém responde por tais danos. Cinco pressupostos: - existência de um facto jurídico (ação ou omissão); - ilícito (esse facto tem de ser ilícito); - culpa (tem de haver um facto ilicito e culposo): pode haver responsabilidade objetiva, ou seja, independente de se verificar o pressuposto de culpa. Exemplo: responsabilidade objetiva do produtor - porque a prova da sua culpa seria muito difícil. Há casos também em que a culpa é presumida - se há ilícito, se há dano, se há nexo causal então há culpa. Exemplo: presume-se que agiu com culpa quem incumpriu a obrigação. Altera-se o ónus da prova, não se afasta a culpa. - danos (se não houver danos não há responsabilidade civil); - nexo de causalidade (entre o facto ilícito e os danos) Nota: como se percebeu, responsabilidade civil não é igual a culpa! 3. A Relação Jurídica Conceito: Relação da vida social disciplinada pelo Direito mediante a colocação de uma pessoa numa situação jurídica ativa e de outra numa situação jurídica passiva correspondente (por exemplo, direito subjetivo e dever jurídico, respetivamente). 6 Elementos da relação jurídica: - sujeito (a relação jurídica estabelece-se entre pessoas - pessoas singulares ou coletivas) - objeto (a relação jurídica incide sobre um objeto - uma coisa, um serviço, um direito...) - facto jurídico (origem da constituição, modificação ou extinção da relação jurídica - casamento, divórcio, contrato, ...) - garantia (que o ordenamento jurídico dá ao respeito pelas situações jurídicas estabelecidas). Conjunto de providências coercitivas postas à disposição do titular ativo de uma relação jurídica, em ordem a obter a satisfação do direito lesado através de uma obrigação ao próprio que o infringiu ou ameaça infringir. Trata-se da possibilidade de o seu titular ativo por em movimento o aparelho sancionatório estadual para reintegrar a situação correspondente ao seu direito, em caso de infração, ou para impedir uma violação receada. A garantia da relação jurídico- privada só entra em movimento sob o impulso do titular do direito subjetivo violado ou ameaçado, sendo a sua forma mais frequente a indemnização dos danos patrimoniais ou não patrimoniais, causados ao titular do direito. 3.1. As situações jurídicas a) situações juridicas ativas – quem tem uma situação jurídica ativa tem uma vantagem face ao outro sujeito da relação jurídica b) situações jurídicas passivas – quem tem uma situação jurídica passiva tem uma desvantagem vace ao outro sujeito da relação jurídica Na mesma relação jurídica, um sujeito pode ter uma situação jurídica ativa e o outro tem uma situação jurídica passiva. 3.2. Situações jurídicas ativas 1) direitos subjetivos (dividem-se em direitos comuns e direitos potestativos). Aqui, importante ter presente a distinção entre direitos subjetivos e direito objetivo. 2) poderes e faculdades 3) proteções reflexas ou indiretas 4) expectativas 5) poderes funcionais 6) exceções Conceito de direito subjetivo (pela professora Ana Prata): Poder conferido pela ordem jurídica a um sujeito para tutela de um seu interesse juridicamente relevante, isto é, merecedor da tutela do direito. Direito Potestativo (novamente pela professora Ana Prata): Direito que se caracteriza por o seu titular o exercer por sua vontade exclusiva, desencadeando efeitos na esfera jurídica de outrem independentemente da vontade deste. 7 Sinteticamente: possibilidade de produzir efeitos jurídicos na esfera de outra pessoa independentemente da sua vontade. O direito potestativo é o produto de normas que conferem poderes. Trata-se, no entanto, de poderes atribuídos ao beneficiário através do intermédio de normas permissivas, i.e.: ao titular cabe atuar ou não consoante o poder que a norma lhe confere. Por essa via, o poder que a lei confira ao titular é visto como um bem, que ele aproveitará, ou não, como quiser. Ao direito subjetivo comum corresponde um dever jurídico (situação jurídica passiva); ao direito potestativo corresponde a situação jurídica passiva sujeição. Veremos mais adiante o que isto significa. Classificação dos direitos potestativos: - direitos potestativos autónomos - não integrados numa relação jurídica autónoma mais alargada, isto é: surgem desligados de qualquer relação jurídica preexistente (exemplo: direito do destinatário da proposta contratual). Já o direito potestativo integrado, pelo contrário, surge no âmbito de relação jurídica preexistente (exemplo do direito de preferência do comproprietário – art. 1403º e ss. CC). Correspondem a uma parte da relação jurídica em que estão inseridos. É um efeito que faz parte do universo relação jurídica - direitos potestativos com destinatário - exercidos perante determinada pessoa; direitos potestativos sem destinatário - não têm destinatário concreto - direitos potestativos de exercício judicial- é necessário recorrer aos tribunais, só produzem efeitos por declaração do tribunal; direitos potestativos de exercício extrajudicial - não é necessário recorrer a tribunal para ver concretizado o seu exercício - direitos potestativos constitutivos - constituem relações jurídicas; direitos potestativos modificativos – modificam relações jurídicas; direitos potestativos extintivos – extinguem relações jurídicas Exemplos: - x faz uma proposta contratual a y. Há aqui um direito subjetivo, mais concretamente um direito potestativo, pertencente ao destinatário da proposta, uma vez que o proponente fica sujeito (sujeição) à vontade do destinatário. O direito de aceitar uma proposta contratual é um direito potestativo autónomo, com destinatário, de exercício extrajudicial, constitutivo - Direito de preferência – artigo 1409.º do Código Civil. Direito potestativo integrado, com destinatário, de exercício extrajudicial, constitutivo - Direito de ocupação – artigo 1318.º do Código Civil. Direito potestativo autónomo, sem destinatário, de exercício extrajudicial, constitutivo - Art. 1550.º CC. Nota: definição de prédio em sentido jurídico: prédio em sentido rústico (terrenos) e em sentido urbano (edifícios). b encontra-se encravado, logo só sai do seu terreno através do terreno de a. O b tem o direito real de fazer uma passagem (servidão). A partir do momento em que a servidão esteja construída, 8 há um direito, que é potestativo, porque produz efeitos jurídicos na esfera jurídica de a, independentemente da sua vontade. (Art. 1551.º/1: o sujeito a pode evitar a servidão - adquirindo o terreno de b. À situação de encargo sobrepõe-se o direito potestativo de adquirir o terreno). - o professor Jorge Morais Carvalho espera ansiosamente na fila online de um site para comprar bilhetes para os concertos do artista musical Ed Sheeran no Estádio da Luz, sábado e domingo, dias 1 e 2 de junho de 2019. Qual a sua situação jurídica? Direito potestativo: o site emitiu uma proposta contratual, proposta essa que o professor tem o direito potestativo de a aceitar, ainda que sujeito à condição de haver ou não bilhetes para si. Classificação dos direitos subjetivos: a) Direitos absolutos – Direitos que impõem a todos os outros sujeitos um dever geral de respeito, sendo assim oponíveis erga omnes (perante todos). Todos têm o dever de respeitar um direito absoluto, assim como todos o podem invocar. Exemplos: direito à vida, direitos de personalidade (p.ex. direito à imagem, art. 79.º CC), direitos reais (p.ex. direito de propriedade, art. 1302.º CC), … b) Direitos relativos – Direitos que só produzem efeitos entre as partes, só podendo ser exercidos perante o sujeito passivo (que tem o correspondente dever) Exemplos: direitos de crédito (o credor exige ao devedor o cumprimento do contrato), art. 437.º/1 CC: o lesado tem uma situação jurídica ativa, algo positivo na sua esfera jurídica - um direito relativo potestativo. Poderes: Disponibilidade de meios para a obtenção de um fim. (Menezes Cordeiro). Ligação ao direito subjetivo, como seu elemento, isto é: exercemos um direito subjetivo através destes poderes para o efeito conferidos. Exemplo: tenho o poder de vender o meu telemóvel. Porque é que o posso vender (porque é que tenho esse poder)? Porque sou o proprietário do bem (direito de propriedade – direito subjetivo). Faculdades: Divergência na doutrina. Alguns autores equiparam poderes e faculdades, outros consideram que a faculdade é um conjunto de poderes. O professor Menezes Cordeiro, tal como o professor J.M. Carvalho alinham por esta segunda opção: Conjunto de poderes ou de outras posições ativas - Menezes Cordeiro. Exemplo: faculdade de construir. Integra vários poderes: poder de terraplanar, poder de edificar, ... Proteções reflexas ou indiretas: Situação jurídica ativa que corresponde a um dever que não vise a proteção direta do seu titular. Exemplo: Prática comercial desleal (a lei que as proíbe protege diretamente o consumidor e indiretamente os concorrentes). Expectativas: Posição do sujeito jurídico que lhe pode permitir ser titular de um direito subjetivo. A pessoa ainda não é titular de um direito mas pode vir a ser. Exemplo: Expetativa do titular de um direito de preferência, do adquirente sob condição ou do herdeiro legitimário (aquele a quem a sucessão não pode ser afastada). 9 Poderes funcionais: estão no limite entre as situações jurídicas ativas e as passivas. São também designados poderes-deveres ou direitos-deveres. São direitos de exercício obrigatório, uma vez que (também) protegem o interesse de terceiros. Exemplo: Responsabilidades parentais, Art. 36.º/5 CRP. Exceção: Ligação ao dever (e a um direito de outrem). Só se encontra em exceção quem simultaneamente tem um dever. Situação jurídica em que quem tem um dever, se tiver também uma exceção, pode licitamente recusar-se ao cumprimento do dever. Exemplo: Exceção de não cumprimento do contrato, art. 428.º CC. - A propósito: o art. 428.º CC comporta a figura do contrato sinalagmático. Um sinalagma acontece quando as obrigações das duas partes têm uma ligação entre si. Uma é a razão da outra. A obrigação de entrega da coisa tem um sinalagma com a entrega do pagamento. Exceção: há contratos não sinalagmáticos como os de constituição de sociedades, ou contratos de doação. Classificação das exceções: - Exceções fortes ou fracas: impedir totalmente o exercício do direito ou apenas parcialmente. Exemplo de exceção forte: exceção de não cumprimento porque paralisa todo o direito de crédito. Exemplo de exceção fraca: direito de retenção, art. 754.º CC. - Exceções fortes perentórias ou dilatórias: impedir definitivamente o exercício do direito ou apenas temporariamente. Só as exceções fortes podem ser perentórias ou dilatórias. Exemplo de exceção forte perentória: Prescrição, art. 300.º CC. Exemplo de exceção forte dilatória: benefício da excussão (executar os bens) prévia, art. 638.º CC. 3.3. Situações jurídicas passivas 1) Deveres e obrigações 2) Sujeições 3) Ónus 4) Deveres genéricos 5) Deveres funcionais Obrigação: definida pelo art. 397.º CC. Fontes das obrigações: contratos (negócio jurídico plurilateral), negócio unilateral, gestão de negócios, enriquecimento sem causa, responsabilidade civil (incumprimento, por exemplo: art. 483.º/1 CC. É fonte da obrigação de indemnizar). Sujeições: situações jurídicas passivas correspondentes aos direitos potestativos. Pode verificar-se unilateralmente uma alteração da posição em que a pessoa se encontra. O dever distingue-se da sujeição consoante a natureza da situação onde a pessoa se encontra. Exemplo: situação jurídica do proponente; direito de preferência – o comproprietário que pretende alienar a coisa encontra-se numa situação de sujeição. Dever - a situação passiva correspondente ao direito subjetivo comum, ou seja o que não é potestativo. 10 Ónus: não é um dever, porque o comportamento não é devido/exigível, como acontece com o dever. Pode recorrer-se ao tribunal para exigir o cumprimento de um dever, o que não acontece com o ónus. Contudo, o ónus tem vantagens: o resultado é facultativo (o titular decide se quer obter a vantagem ou evitar a desvantagem em causa). Exemplos de ónus: ónus da prova (art. 342.º CC) – este é apenas um dos ónus que existem. É um ónus porque não é devido a ninguém fazer prova. E ninguém pode exigir fazer prova de qualquer coisa, a pessoa decide; denúncia, art. 916.º CC. Ainda em relação ao ónus da prova: a prova incide sobre factos (verificou-se ou não se verificou determinado facto?) mas se não é de exercício exigível, por que razão é que se cumpre o ónus? Porque há uma vantagem para quem cumpre: permite sustentar a sua posição. O ordenamento jurídico determina quem tem de fazer a prova. A decisão segundo o ónus da prova está pensadapara os casos em que o juiz tem 50% de certeza, ou seja, está em doses semelhantes inclinado para ambas as versões. O juiz, a seguir, vai decidir, segundo as regras do ordenamento jurídico, sobre quem tem de fazer prova - esse sujeito tem o ónus da prova. O juiz decide contra quem tinha o ónus da prova e não conseguiu provar. Como se decide quem tem o ónus da prova? - regra geral: art. 342.º/1 CC. Exemplo: direito de indemnização - segundo os pressupostos da responsabilidade civil, quem invoca o direito tem de provar o facto ilícito, os danos, a culpa e o nexo de causalidade. - mas, por vezes, existem presunções que alteram o ónus da prova: exemplo - art. 799.º CC - presunção de culpa do devedor no não cumprimento: inverte o ónus da prova. Estabelece que cabe ao devedor provar que não agiu com culpa. Atenção: tem que provar tudo mas não tem que provar a culpa - cabe à contraparte provar que não agiu com culpa (exceção ao art. 342.º/1 CC). Art. 344.º CC - inversão do ónus da prova (por presunção legal, dispensa ou liberação do ónus da prova, convenção válida, …). No caso da responsabilidade civil contratual, se houver incumprimento, a lei considera que é culposo. Faz sentido inverter-se o ónus da prova. Mas, como se disse, não convém encarar todos os ónus existentes como ónus da prova, já que tal não corresponde à verdade. Relativamente ao art. 916.º CC - denúncia do defeito: "o comprador deve...", a palavra aponta para um dever, mas estamos perante um ónus e não perante um dever. Ónus porque apesar de não ter de denunciar, se o consumidor não o fizer irá ficar com uma desvantagem porque não poderá exercer o direito nas condições ótimas. Outro: Art. 1218.º CC - o dono da obra tem um ónus porque não é obrigado a verificar; não o fazendo, resulta numa desvantagem para si: o facto de não poder culpabilizar o empreiteiro pelos defeitos da obra. Atenção: o Art. 1218.º/3 constitui um direito potestativo disponível para todas as partes - exigir uma verificação por peritos. 11 Deveres genéricos: situações jurídicas correspondentes a direitos subjetivos absolutos. Exemplo: respeito pelo direito à vida; respeito pelo direito de propriedade. Deveres funcionais: situações jurídicas resultantes da circunstância da pessoa se encontrar numa determinada posição. Exemplo: dirigente de uma associação (Art. 164.º/2 CC) - os dirigentes associativos são obrigados a votar nas deliberações feitas. É um dever funcional resultante do cargo que ocupam. O cumprimento de deveres funcionais pode ser exigido por terceiros. O dever funcional traduz algo de estruturalmente semelhante aos poderes funcionais, mas com um importante acrescento: os comportamentos que ele postule podem ser exigidos por certas pessoas, mantendo-se embora uma larga margem de discricionariedade por parte do obrigado. 4. Exercício e Tutela de Direitos 4.1. Abuso do Direito Art. 334.º CC - forma de limitar o potencial exercício discricionário de um direito. Ninguém pode usar de um direito que não tem e, por maioria de razão, ninguém pode, também, exercer abusivamente um direito. Para que haja abuso de direito, tem de existir, primeiro de tudo, um direito por parte do titular que dele faz um uso abusivo. Caso contrário, seria uma conduta ilícita, mas não abusiva. O preceito não se aplica apenas a direitos stricto sensu, isto é, direitos subjetivos; cabem na norma as faculdades, os poderes, as liberdades (exemplo: liberdade contratual, art. 405.º CC). O abuso de direito também se pode fixar por omissão – não apenas ação. Limitações ao exercício de um direito: • Boa-fé • Bons costumes (v. ponto 11.2, al. e)) • Fim social ou económico do direito (o que é o fim económico e/ou social? Exemplo: uma pessoa não pode comprar uma t-shirt já sabendo de antemão que a vai devolver depois de a usar uma vez. Quando se compra uma camisola online, há 14 dias para o direito de arrependimento. Mas… este é um direito que tem a finalidade de ter o contacto com o produto. Não se pode abusar do direito em causa naquele primeiro sentido.) Para haver abuso de direito, o excesso em causa tem de se identificar para além de dúvida razoável, o que não quer dizer que tenha de ser especialmente gravoso, como era entendimento tradicional. 4.2. Comportamentos típicos abusivos Venire contra factum proprium - ter um comportamento contraditório. Isto é, num primeiro momento dar a entender uma coisa e, depois, agir no sentido contrário. 12 Pressupostos do venire contra factum proprium: 1. tutela de confiança: o titular do direito criou na outra parte uma situação de confiança 2. justificação para essa confiança (com base em elementos objetivos): a justificação é objetiva, ou seja, de fora; elementos objetivos capazes de provocar uma crença plausível; não é subjetiva porque não se trata daquela pessoa em concreto, face à situação em concreto, se deveria confiar ou não; requer que esta se tenha alicerçado em elementos razoáveis, suscetíveis de provocar a adesão de uma pessoa “normal” 3. investimento de confiança: não basta que seja justificada a situação de confiança em que a pessoa está, é necessário que essa pessoa tenha um comportamento adicional por causa dessa confiança; consiste em, da parte do sujeito, ter havido um assentar efetivo de atividades jurídicas sobre a crença consubstanciada; exige que a pessoa a proteger tenha desenvolvido toda uma atuação baseada na própria confiança, atuação essa que não possa ser desfeita sem prejuízos inadmissíveis. 4. boa-fé daquele que confiou: aquele que quer paralisar o exercício do direito tem de estar de boa-fé, em sentido objetivo Inalegabilidades formais - por vezes, os negócios jurídicos estão sujeitos a formas de celebração formais. Se não for observada essa forma especial prevista, a consequência é a nulidade do contrato. Mas essa nulidade não pode ser alegada sob pena de se verificar um “abuso de direito”, contrario à boa fé. Inalegabilidade – impossibilidade de alegação. Suppressio - quando um direito é exercido de forma desequilibrada, provoca um abuso. Designa, pois, a extinção de um direito por via de um comportamento abusivo do titular do direito. O autor do comportamento abusivo deixa de ser titular do direito. Tu quoque - "tu também". Situações em que se denuncia um abuso do direito, mas o próprio uso do direito a invocar o abuso de direito foi abusivo. Regra geral pela qual a pessoa que viole uma norma jurídica não pode depois, sem abuso: - Ou prevalecer-se da situação daí decorrente; - Ou exercer a posição violada pelo próprio; - Ou exigir a outrem o acatamento da situação já violada. Desequilíbrio excessivo - Corresponde a atuações inadmissíveis, por abuso contrário à boa fé. - Exercício danoso inútil; - Dolo agit quit petit quod statim redditurus est; - Desproporção entre a vantagem do titular e o sacrifício por ele imposto a outrem. 13 4.3. Colisão de Direitos a) Sentido amplo - haverá colisão de direitos quando um direito subjetivo, na sua configuração ou no seu exercício, deva ser harmonizado com outro ou outros direitos b) Sentido estrito - a colisão ocorre sempre que dois ou mais direitos subjetivos assegurarem permissões incompatíveis entre si O fator de colisão é variável. Pode ser tanto o objeto do direito, como o seu conteúdo ou o bem. Podem também ocorrer situações em que temos direitos com o mesmo objeto mas, mesmo assim, são praticáveis em simultâneo. Exemplo: os direitos reais ditos menores com o direito de propriedade. Exemplo clássico de colisão de direitos: o direito à informação dos meios de comunicação social, em colisão com o direito à reserva da vida privada de um cidadão. Art. 335.º CC O nº1 do artigo propõe a cedência mútua equilibrada como forma de resolver a questão. Mas, então, e se não for possível resolver dessa forma o problema em termospráticos? Em última análise, torna-se necessária uma seleção aleatória. Exemplo de cedência mútua equilibrada: deixo cair um brinco do 3º andar para a varanda do meu vizinho do primeiro andar, que não gosta nada de mim e, por isso, não me permite ir procurar o brinco à sua casa. Estão em conflito o direito de propriedade do terreno e o direito de propriedade do brinco. Tem de haver uma cedência mútua equilibrada - o proprietário pode não me deixar entrar na sua propriedade mas ainda assim devolver-me o brinco. (Pode ainda falar-se em indemnização, mas seria excessivo porque apesar de haver um facto ilícito culposo – negligência - não há dano relevante - o esforço de ter de ir abrir a porta...). Em relação ao nº2, diz-nos a regra geral que deve prevalecer o direito considerado superior em caso de colisão de direitos desiguais. Contudo, nem sempre prevalece aquele que, à partida, se afigura como o direito superior: o direito de propriedade de alguém pode prevalecer face ao direito à integridade física de outro. Exemplo: está muito frio e alguém está à porta da minha casa a tremer de frio, mas a sua vida não está em causa. Eu tenho que ceder o meu direito à propriedade e deixá-lo entrar em minha casa? Talvez não… a solução não pode ser excessiva. Possíveis critérios de distinção entre direitos iguais ou da mesma espécie: - momento da constituição de cada direito. Exemplo: a é proprietário de um bem, que vende a b e depois a c. O direito de propriedade é de b porque o bem foi vendido primeiro a si. - Minimização de danos. Perante uma colisão há que interpretar o direito e concretizá-lo de modo a que não se converta em prejuízo. Haverá sempre que perguntar pelas consequências do não-exercício ou do não-exercício pleno, por parte de cada um dos envolvidos. - Maximização das vantagens. O lucro tem uma dimensão individual, todavia, tem um papel social, que interessa a toda a sociedade e que o direito valoriza. Se o 14 exercício de um direito dá, ao seu titular, um bom lucro, ele prevalecerá sobre outro exercício igualmente legítimo, mas sem tais consequências - Superioridade objetiva do direito (no fundo, o que se diz no nº2 do art. 335.º CC). Ponderação abstrata – sendo dois direitos desiguais ou de espécie diferente, poderemos concluir que um deles seja em abstrato mais ponderoso (importante). 4.4. Autotutela Ação Direta, Legítima Defesa e Estado de Necessidade: No contexto da autotutela de direitos, aquilo a que se chama as exceções ao monopólio estatal do uso da força. Ação Direta: Art. 336.º CC - Objetivo de realizar ou assegurar o próprio direito - Não ser possível fazê-lo pelos meios normais - Evitar a inutilização do direito - Recurso à força (exemplos: n.º 2) - Não exceder o que for necessário para evitar o prejuízo (n.º 1) nem sacrificar interesses superiores aos que se vise realizar ou assegurar (n.º 3) Legítima Defesa: Art. 337.º CC - Agressão atual e contrária à lei contra a pessoa ou o património do agente ou de terceiro - Não ser possível fazê-lo pelos meios normais - Prejuízo não seja superior ao que pode resultar da agressão Estado de Necessidade: Art. 339.º CC - Perigo atual de um dano (do agente ou de terceiro) - Dano em coisa alheia destinado a remover o perigo - Manifesta superioridade desse dano face ao dano causado à coisa alheia Diferenças entre as três figuras: - Ação direta: eliminar um obstáculo ao exercício de um direito - Legítima defesa: se esse obstáculo consistir numa agressão (à pessoa ou ao património) - Estado de necessidade: se do obstáculo resultar uma situação de perigo A diferença da Legítima Defesa em relação à Ação Direta prende-se com o facto de se poder defender o direito de terceiros na primeira figura e, também, por ser um princípio de aplicação mais restrita – aplica-se apenas aos casos de agressão (física) atual ou iminente. É tolerado algum eventual excesso de legítima defesa (alínea 2 do art. 337.º CC) – ilícito, mas desculpável. 15 Em relação ao Estado de Necessidade, falamos em situações de tal forma urgentes, prementes, que nos levam a avançar sobre inocentes (ex: partir o vidro de um carro para retirar um extintor de forma a apagar o incêndio que lavra em minha casa). Não requer que o dano em causa seja necessariamente do próprio. Exige-se a presença do princípio da proporcionalidade entre a coisa danificada e o bem jurídico protegido (e em caso algum o interesse sacrificado pode ser, sequer, igual ao interesse protegido, dado que se lida com inocentes – manifesta superioridade do interesse protegido). Em todos os casos, os prejuízos provocados pela atuação em estado de necessidade devem ser ressarcidos (reparados) – indemnização, ao abrigo do art. 339.º/2 CC. 4.5. Consentimento do lesado Art. 340.º CC No caso de se tratar de direitos de personalidade, e de acordo com a possibilidade da proibição legal constante do nº 2, jogar com a disponibilidade do direito – art. 81.º/1 CC. Art. 81.º CC - consentimento relativo aos direitos de personalidade Art. 81.º/2 - a qualquer altura é possível revogar o consentimento dado. Exemplo: cedo os meus direitos de imagem à TVI para participar num reality show, mas a meio do programa decido revogar o consentimento (o contrato). Tenho de indemnizar a estação de televisão porque, entretanto, geraram-se milhões de euros (e muita expectativa na continuidade do fluxo) em torno da minha imagem; consentimento para restringir a minha privacidade - com o novo RGPD, se permitir que os meus dados sejam tratados. Em suma: Ato lesivo de direitos, para ser lícito… 1. tem de ter consentimento por parte do lesado – nº1/340.º. O consentimento pode ser expresso ou tácito, não dependendo, em princípio, de forma especial. 2. o ato pode ser lícito mas ainda assim ilegal devido a proibições legais e/ou aos bons costumes – nº2/340.º 3. mesmo que não haja consentimento, o ato lesivo pode ser lícito, se se tiver por consentido de acordo com aquilo que representa o interesse do lesado e a sua vontade presumível. Exemplo: cirurgia de urgência. Não há tempo para obter o consentimento do doente. Mas presume-se que a sua vontade é ser submetido à cirurgia em ordem ao salvamento da sua periclitante vida. A lesão tem-se, então, por consentida. 5. Incidência do Tempo Prazo – certo período de tempo. Contagem dos prazos: art. 296.º CC – remissão para o art. 279.º CC. Atenção: o art. 279.º é supletivo quando se aplica diretamente e imperativo quando se aplica por remissão do art. 296.º. 16 O art. 279.º al. b) só se aplica para contagens em dias ou horas. Passagem do tempo e extinção de direitos: O tempo pode ter implicações na extinção de situações jurídicas de que alguém é titular. Prescrição e caducidade no direito civil. Art. 298.º/2 CC - Se a lei nada disser aplicam- se as regras da caducidade para o exercício de um direito dentro de um determinado prazo, regras essas que não são exatamente iguais às da prescrição. As regras sobre a prescrição são imperativas enquanto que as regras sobre caducidade são tendencialmente supletivas. Supletividade de algumas regras sobre caducidade e imperatividade das regras sobre prescrição. No essencial, a prescrição corresponde a interesses gerais, públicos, daí o seu carater imperativo; a caducidade corresponde a interesses privados pelo que as pessoas podem afastar as suas regras (algumas), alterar os regimes correspondentes. 5.1. Caducidade Definição - Caducidade em sentido lato: esquema geral de cessação de situações jurídicas, mercê da superveniência de um facto a que a lei ou outras fontes atribuam a esse efeito. Traduz a extinção de uma posição jurídica pela verificação de um facto dotado de eficácia extintiva. - Em sentido estrito: forma de repercussão do tempo nas situações jurídicas que, por lei ou contrato, devam ser exercidas dentro de umcerto termo. Expirado o respetivo prazo sem que se verifique o exercício, há extinção. Quando as partes, num processo judicial, não invocam a caducidade, tem de existir a chamada apreciação oficiosa da caducidade pelo tribunal - art. 333.º CC - o tribunal tem de apurar se houve caducidade ou não. Mesmo que as partes não invoquem a caducidade, o tribunal tem de a concluir. Mas atenção, em matéria excluída da disponibilidade das partes! Faz sentido, porque se não está na disponibilidade das partes, é porque foi estabelecida por razões que excedem o interesse das partes. Exemplo: uma pessoa vem exigir o cumprimento de um direito. A outra não responde, nada diz no processo. Ninguém invocou a caducidade porque a matéria não é da disponibilidade das partes. O que o tribunal deve, pois, fazer é concluir que caducou, ultrapassou-se o prazo da caducidade. Decidir oficiosamente é decidir sem ter havido pedido prévio (conhecimento oficioso, independentemente de as partes trazerem essa informação ao juiz). Esta apreciação oficiosa apenas pode ocorrer em matérias sobre as quais as partes não podem alterar a regra acerca da aplicação da caducidade - matérias excluídas da 17 disponibilidade das partes. Caso contrário, a caducidade tem de ser invocada (pelas partes). O direito da família, por exemplo, está excluído da disponibilidade das partes, por suportar interesses que vão além dos interesses das partes. Quando a lei veda comportamentos às partes, as partes não têm a capacidade de invocação de caducidade. Portanto tem de ser o tribunal a apreciar oficiosamente. Exemplo: quero exercer ou não as responsabilidades das partes - errado. Está excluída a disponibilidade das partes nesta matéria; ou as partes convencionam em sentido contrário do que está escrito na lei – também não se pode fazer. As normas imperativas, por definição, levam à indisponibilidade das partes. E nos casos em que a invocação é obrigatória, não é necessário invocar porque o tribunal conhece oficiosamente, pressupõe a invocação. Em suma: A parte não podia dispor daquele direito, o tribunal invoca oficiosamente a caducidade; a parte podia dispor daquele direito, a parte ou invoca ou não invoca a caducidade – consoante o seu conhecimento do direito e/ou o que lhe mais aprouver. Atenção: Não confundir invocação com alegação: declaração de invocação significa que o autor da declaração pretende beneficiar dos efeitos jurídicos que resultam da figura em causa. Na prescrição é necessária a invocação. Pode fazer-se perante o titular do direito através de notificação. Não é necessário o recurso ao tribunal ou outra autoridade; a alegação é, ao invés, no tribunal - alego que invoquei a prescrição. Introduzir no processo em tribunal um determinado facto. Se o tribunal puder conhecer oficiosamente de um determinado facto, dispensa-se a alegação pelas partes. Condições da caducidade: O regime da caducidade é supletivo – as partes são livres para estabelecer novos casos de caducidade, e regras diferentes consoante o caso, nos termos do art. 330.º CC (ao contrário do que sucede com a prescrição). Acontece quando o direito é disponível – as partes podem dispor do direito em causa. A maioria das regras legais de direito privado são supletivas – autonomia privada. Começo do prazo da caducidade: momento em que o direito puder legalmente ser exercido – art. 329.º CC. Causas impeditivas da caducidade: art. 331.º CC. Em especial, o reconhecimento do direito (nº 2). Se se tratar de matéria de direito disponível, estabelece o art. 331.º/2 CC que o reconhecimento do direito “por parte daquele contra quem deva ser exercido” é causa interruptiva da caducidade. Diferenças entre a caducidade e a prescrição: - a questão da indisponibilidade das matérias pelas partes. Nesse caso, se as partes nada disserem, o tribunal não pode dizer que prescreveu. É a diferença entre ter 18 de ser invocado (prescrição) e ser de conhecimento oficioso pelo tribunal (caducidade). - Em regra, ao contrário dos prazos de prescrição, os prazos de caducidade não se suspendem nem se interrompem. - Admitem-se estipulações convencionais sobre a caducidade (art. 330.º CC). o mesmo não acontecendo a respeito do regime da prescrição, o qual é inderrogável - a caducidade só é impedida, em princípio, pela prática do ato, enquanto que a prescrição se interrompe pela citação ou notificação judicial de qualquer ato que exprima, direta ou indiretamente, a intenção de exercer o direito, tendo-se, igualmente, por interrompida, cinco dias depois de requerida a citação ou a notificação. Se estas não tiverem sido feitas por causa não imputável ao requerente. A reter: quando a lei impuser um determinado prazo a partir do qual se extingue o direito, e se a mesma lei não dispuser em contrário, regra geral esse prazo é guiado pela caducidade. 5.2. Prescrição - imperatividade total das regras de prescrição: art. 300.º CC. A tentativa de modificar os seus prazos legais ou facilitar/dificultar as suas condições importa a nulidade – o vício mais grave. Renúncia da prescrição – “eu não me quero aproveitar da prescrição” (art. 302.º CC). Só é admitida a renúncia depois de ter prescrito. Ou seja, só se torna renunciável quando se torne também invocável a prescrição, em ligação com o art. 300º CC (basta, aí, que o devedor conhecesse ou devesse conhecer o decurso do prazo). Inderrogabilidade do regime, tanto no prazo anterior ao início do prazo, como no seu decurso. A renúncia é um negocio jurídico unilateral, como se percebe pelo art. 302.º/2. Atenção: aquilo que prescreve é a situação jurídica ativa, o direito; não a obrigação. Na perspetiva do professor J.M. Carvalho o direito já está prescrito, a invocação é apenas um requisito que a torna eficaz. Para outros apenas prescreve com a invocação. Necessidade de invocação da prescrição – art. 303.º CC. Esta possibilidade de invocar ou não invocar a prescrição, sem “voto na matéria” do tribunal pode ser injusta porque abstrai do conhecimento da prescrição. A pessoa só invoca a prescrição quando sabe da sua existência. Contudo, por outro lado, o desconhecimento do direito aplicável não pode ser um argumento (art. 6.º CC). Exemplo: alguém propõe ação judicial para exigir o cumprimento de uma obrigação. Essa obrigação está prescrita, mas aquele a quem aproveita a prescrição não a invoca (só essa parte o pode fazer, como decorre da norma; [pequena exceção no art. 305.º CC]). O tribunal também o não pode fazer, isto é, não pode declará-la oficiosamente. Não há prazo para invocar a prescrição. Mas atenção: a partir do momento em que temos um processo judicial, a pessoa desconhece a possibilidade de invocação e o tribunal condena a pagar, passa a ser vinculativa a decisão do tribunal em vez da 19 possibilidade de invocação da prescrição. A esta parte, a corrente dominante diz que, em processo judicial, se pode invocar a prescrição até às alegações. Início do prazo da prescrição - art. 306.º/1 CC. “O prazo da prescrição começa a correr quando o direito puder ser exercido”. Levanta um problema: quando é que o direito pode ser exercido? É explicitado nos números seguintes do artigo. Efeito da prescrição – art. 304.º/1 CC. Findada a prescrição, o beneficiário pode muito bem recusar o cumprimento da prestação. A prescrição dita, então, a extinção objetiva de direitos (pode, por outro lado, defender-se que o direito não se extingue; apenas deixa de ser judicialmente exigível). Exemplo: um cliente é abordado pelo dono do restaurante que lhe exige que pague a refeição fornecida na semana passada (prazo meramente figurativo). O cliente escuda-se no término da prescrição para afirmar, com propriedade, que não paga “porque já prescreveu”. Cumprimento de obrigação prescrita – 304.º/2. Importa a irrepetibilidade da prestação, ou seja, não pode serexigida a devolução. Exemplo: paguei a prestação mas não sabia que o direito correspondente à obrigação estava prescrito, por isso devolvam- me o dinheiro! -> não é possível, à luz do número 2 do artigo 304.º CC, em ligação, também, com o que é estipulado no art. 403.º CC, que impõe o requisito de espontaneidade do cumprimento para a irrepetibilidade da prestação. Quer isto dizer que se a pessoa foi coagida a cumprir a obrigação prescrita, não há espontaneidade no cumprimento e, por isso, pode exigir a repetição do montante. Releva destrinçar obrigação civil de obrigação natural (402.º CC). Quando o direito associado à obrigação prescreve, a obrigação torna-se natural (passa de civil a natural), na medida em que deixa de ser judicialmente exigível, é apenas, agora, um dever de justiça. Este é um critério a favor de quem entende que a prescrição não resulta na extinção do direito, antes na sua modificação. (A esta parte, a prof. Rita Canas da Silva [v. CC Anotado, Cord. Ana Prata, anotação do art. 304.º CC] tem uma opinião interessante: a prescrição não importa nem a extinção nem a modificação do direito, antes a paralisação do direito, já que este subsiste, sem alteração da sua natureza). Que tipos de coação estão em causa no art. 403.º/2 CC? Coação física (art. 246.º CC) e coação moral (art. 255.º CC). Atenção: a coação moral tem de ser ilícita e determinada pelo receio de um mal. E não constitui ameaça, por exemplo, o “aceno” com o direito de recurso aos tribunais (art. 255.º/3 CC). Prazos da prescrição: - Prazo ordinário de prescrição: 20 anos, de acordo com o art. 309.º CC, não se distinguindo consoante a boa-fé ou má-fé do devedor. E quando é que se começa a contar o prazo? Art. 306.º CC. - Há prazos especiais – 5 anos: art. 310.º CC (razão de ser: prevalência do interesse do devedor em não acumular múltiplos encargos, em face da inércia do credor); 6 meses: art. 316.º (+ Lei 23/96) e 2 anos: art. 317.º CC. 20 Prescrições presuntivas: Art. 312.º CC - o facto conhecido é a passagem do tempo. Se tiver passado determinado tempo, presume-se que foi cumprida a obrigação. São normalmente prazos curtos, pensados para os casos em que não se guarda fatura. As pessoas não têm como, depois, provar que já cumpriram, portanto presume-se que cumpriram. Mas, aqui, a presunção é ilidível (juris tantum). A única forma de ilidir esta presunção é através de confissão do devedor - art. 313.º CC. Pode ser tácita, a confissão - art. 314.º CC. O decurso do prazo não determina, nestes casos, os efeitos associados à prescrição extintiva do art. 304.º CC; antes dita o operar de uma presunção referente ao cumprimento da obrigação. Razão de ser: dificuldade na prova do cumprimento. Nota: Quem paga uma divida confessa-a tacitamente, a menos que tenha sido coagido. Todo e qualquer ato praticado que se mostre contrário à presunção de cumprimento é uma confissão tácita. Exemplo: - O senhor não pagou a lagosta! - A lagosta estava estragada! => confissão tácita, nos termos do art. 314.º CC. A confissão é o reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte contrária. No caso da prescrição presuntiva, a confissão consistirá no reconhecimento de que a dívida não foi paga. A confissão terá ainda de ser feita pelo devedor originário ou por aquele a quem a dívida tenha sido transferida por sucessão (313.º, nº1 CC). A confissão, a ser extrajudicial, exige forma escrita – 313.º, nº2 CC. Diferenças de regime entre a prescrição comum e a presuntiva: - Na prescrição comum, o benificiário só precisa de invocar e demostrar a inércia do titular do direito no seu exercício durante o tempo fixado na lei. O regime comum da prescrição é neutro em relação ao cumprimento ou incumprimento. A prescrição ocorre, quer o devedor tenha já cumprido, quer não. - A prescrição presuntiva é uma presunção juris tantum que pode ser ilidida por prova em contrário (confissão do devedor). Suspensão e interrupção do prazo na prescrição: - suspensão do prazo implica apenas que o prazo não esteja a correr nesse período em que está suspenso - interrupção implica a contagem de um novo prazo quando finda o prazo interrompido, nos termos do art. 326.º CC. No caso de suspensão, terminada a suspensão, o prazo continua a contar no dia em que ficou quando entrou em vigor a suspensão. Exemplo de suspensão: prescreve no dia 100, mas há suspensão entre o dia 40 e 50: sendo assim só prescreve no dia 110. 21 Exemplo de interrupção: prescreve no dia 100, mas no dia 90 interrompe ate ao dia 140. no dia 140 voltam a ser contados 100 dias até ao dia 240. Suspensão da prescrição: art 318.º e ss. CC. Causas bilaterais (duas pessoas particularmente relacionadas), causas subjetivas (suspensão favorável a pessoas que se encontram em situações que o direito tutela) e causas objetivas (circunstâncias em que uma pessoa se encontra, situações jurídicas sensíveis). Interrupção da prescrição: art. 323.º e ss. CC. Art. 323.º/1 – a prescrição é interrompida pela citação ou notificação judicial – por razões de certeza jurídica, a lei impõe forma especial para o ato interruptivo, não sendo admitida uma interrupção extrajudicial; também para dar real conhecimento ao destinatário deste exercício. Quem faz a citação (avisar o réu, chamada do réu ao processo) é o tribunal, o autor inicia ou propõe a ação, o tribunal cita o réu. A ação judicial é o principal ato interruptivo da prescrição. A interrupção inutiliza todo o tempo decorrido até à prática do ato. Art 323.º/2 – se a ação não for iniciada em 5 dias, tem-se a prescrição por interrompida logo após passarem os 5 dias. E deixa de ser necessária notificação. Art. 323.º/3 - A interrupção mantém-se mesmo quando haja anulação da citação ou da notificação: prova de que não se trata de praticar atos judiciais, mas de levar ao conhecimento do devedor, de modo particularmente solene, a intenção de exercer um direito. (A propósito: citação é a primeira vez que o réu é chamado ao processo; notificação é o ato pelo qual se transmite alguma informação depois de já se ter iniciado o processo, notifica-se alguma coisa ao reu, ou a outro alguém. O autor nunca é citado, é sempre notificado.) A prescrição pode ser invocada e alegada em tribunal pelo réu. Quando é que se interrompe o prazo de prescrição? Interrompe-se no momento da notificação da contestação ao autor. A interrupção termina, nos termos do art. 327.º/1 CC, com o trânsito em julgado da decisão, isto é, quando a decisão for insuscetível de recurso ordinário. A partir daqui começa a contar um novo prazo. O reinício da contagem do tempo: arts. 326.º e 327.º CC. Que prazo é o que começa a correr de novo? Há quem defenda que no primeiro caso a fonte do direito é o contrato e no segundo a decisão judicial. Mas a opinião do professor J.M. Carvalho é a de que a fonte é a mesma, caso contrário não poderíamos falar em interrupção. Outros fundamentos da interrupção da prescrição: - art. 324.º-1 do CC – o compromisso arbitral tem como efeito a interrupção do prazo de prescrição. Substitui a defesa judicial do direito. Titular do direito e beneficiário conjunto da prescrição acordam a interrupção da prescrição para sujeição do caso a julgamento arbitral. - art. 325.º CC – reconhecimento do direito. Aquele que beneficiaria com a prescrição, reconhece o direito. No momento em que é reconhecido o direito, 22 interrompe-se o prazo. Exemplo: quando compramos uma casa e notamos infiltrações. Propomos ação judicial ao dono da casa. O dono da casa diz “tem toda a razão” – reconhece o direito. Nos termos gerais, admite-se o reconhecimento tácito: explica o nº2 que, nessa hipótese, ele só é relevante quando resulte de factos que inequivocamente o exprimam. Exemplos de reconhecimento tácito: pagamento de juros, atribuição de garantia,pedido de prorrogação do prazo. 6. Factos Jurídicos Conceito: Ato humano ou acontecimento natural juridicamente relevante (há alguns factos que são irrelevantes para o Direito – juridicamente irrelevantes -, e, por isso, não são factos jurídicos). Factos Jurídicos Factos Jurídicos Voluntários (atos jurídicos) Factos Jurídicos Involuntários/naturais ( Simples atos jurídicos Negócios Jurídicos Negócios Jurídicos Unilaterais Contratos Atos jurídicos quase- negociais Atos materiais Contratos Unilaterais Contratos Bilaterais 23 a) facto jurídico voluntário: vontade como elemento juridicamente relevante; são a manifestação ou atuação de uma vontade; ações humanas tratadas pelo direito enquanto manifestações de vontade. Exemplo: pego numa arma e disparo sobre alguém b) facto jurídico involuntário: são estranhos a qualquer processo volitivo — ou porque resultam de causas de ordem natural ou porque a sua eventual voluntariedade não tem relevância jurídica. Exemplo: nascimento; decurso do tempo Dentro dos factos voluntários: c) negócio jurídico: factos voluntários, cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo da vontade das partes. Nos negócios jurídicos, o comportamento de cada parte aparece exteriormente como uma declaração visando certos resultados prático-empíricos, sob a tutela do ordenamento jurídico, e os efeitos determinados pela lei são os correspondentes aos resultados cuja intenção foi manifestada. Os efeitos dos negócios jurídicos produzem-se — como é comum dizer-se — ex voluntate e não apenas em lege. É o que sucede, p. ex., com o testamento e com os contratos. d) simples atos jurídicos: são factos voluntários cujos efeitos se produzem, mesmo que não tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja concordância entre a vontade destes e os referidos efeitos. Não é, todavia, necessária uma vontade de produção dos efeitos correspondentes ao tipo de simples ato jurídico em causa para essa eficácia se desencadear. Dentro destes últimos: e) ato jurídico quase-negocial: aceitação de uma proposta, interpelação do devedor, gestão de negócios, notificação da cessão de créditos, … f) ato jurídico material: efetivação ou realização de um resultado material ou factual a que a lei liga determinados efeitos jurídicos (exemplo: ocupação de coisa móvel) 6.1. Efeitos dos factos jurídicos - Constitutivos/Aquisitivos (sendo que há diferença entre um e outro: o efeito aquisitivo pressupõe uma transmissão de alguém. Deste modo, e pelo contrário, a ocupação tem efeitos constitutivos. Há vários tipos de aquisição: a aquisição pode ser originária ou derivada. o Aquisição originária - o direito adquirido não depende da existência ou da extensão de um direito anterior, que poderá até não existir: quando o direito anterior exista, o direito não foi adquirido por causa desse direito, mas apesar dele. Exemplos: ocupação de coisa móvel, a aquisição de direitos de autor pela criação literária, artística ou científica, etc; o Aquisição derivada - o direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um direito na titularidade de outra pessoa. A existência anterior desse direito e a sua extinção ou limitação é que geram a aquisição do direito 24 pelo novo titular, é que são a causa dessa aquisição. Exemplos: aquisição do direito de propriedade, ou de outro direito real, por força de um contrato. ▪ A aquisição derivada pode ser translativa, se o direito adquirido é o mesmo que já pertencia ao anterior titular. Assim, se um indivíduo adquire o domínio de um prédio por compra, doação ou sucessão mortis causa; ▪ constitutiva – usucapião, por exemplo; ▪ restitutiva – o inverso, resulta do não uso de uma coisa por um período de tempo que leva à perda do direito correspondente adquirindo outra pessoa o direito em causa. O não uso de uma coisa implica a sua perda para o anterior proprietário. O direito adquirido filia-se num direito do anterior titular. Forma-se à custa dele, limitando-o ou comprimindo-o. Mas não pré-existe como entidade autónoma e específica na esfera jurídica dessa pessoa. Exemplo: o proprietário de um prédio constituir uma servidão. - Modificativos (modificação subjetiva se incidir sobre as pessoas - cessão de créditos, assunção de dívida, cessão da posição contratual, sucessão mortis causa, etc.; modificação objetiva se incidir sobre as coisas - devo um telemóvel, por exemplo. Pode modificar-se esta obrigação e eu passar a dever outra coisa. As partes continuam a ser as mesmas mas altera-se a coisa). Tem lugar a modificação de direitos quando, alterado ou mudado um elemento de um direito, permanece a identidade do referido direito, apesar da vicissitude ocorrida. A perduração do direito, apesar da modificação verificada, significa que o ordenamento jurídico continua a tratar o direito como se não tivesse tido lugar a alteração. O direito é o mesmo e não um direito novo. - Extintivos. A extinção de um direito tem lugar quando deixa de existir na esfera jurídica de uma pessoa. Quebra-se a relação de pertinência entre um direito e a pessoa do seu titular. o A extinção de direitos será uma extinção objetiva, se o direito desaparece, deixando de existir para o seu titular ou para qualquer outra pessoa. Nesta hipótese não há sucessão, transmissão ou aquisição derivada translativa de direitos. É o que acontece se há destruição do objeto do direito (p. ex., consumo do objeto do direito de propriedade, destruição de coisa por um incêndio, etc.), ou se há abandono de um imóvel. o A extinção de direitos traduzir-se-á numa extinção subjetiva ou perda de direitos, se o direito sobrevive em si, apenas mudando a pessoa do seu titular. O direito mudou de titularidade; extinguiu-se para aquele sujeito, mas subsiste na esfera jurídica de outrem. 7. Negócio Jurídico Conceito: Ato jurídico constituído por uma ou mais declarações de vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos conformes à intenção manifestada pelo declarante ou declarantes (C. A. Mota Pinto). 25 O negócio jurídico é o instrumento principal de constituição, modificação e extinção de relações jurídicas. Este ato jurídico assenta na teoria da vontade – um sujeito parte para um negócio jurídico porque é essa a sua vontade. Contudo, têm persistido críticas a esta teoria (o professor J.M. Carvalho é um dos críticos): - Como é que sabemos qual é a vontade um sujeito? Para analisar a sua vontade temos de ir analisar o conteúdo do negócio jurídico; para analisar o conteúdo do negócio jurídico temos de ir analisar a vontade que o fez erguer-se – e ninguém pode conhecer com total grau de fiabilidade a vontade de outrem… é por isso que: - Eu não posso conhecer a vontade de uma pessoa a não ser a partir de uma declaração de vontade. Mas e se a declaração for contraria à vontade? Nesse caso temos um vício da própria declaração. (Mas também há vícios da vontade. Exemplo: declarar determinada coisa pensando que o contexto é x e afinal é y). Com uma declaração, a vontade acaba por ser irrelevante, releva é aquilo que é declarado. Naturalmente que a declaração nem sempre é valida (coação moral e/ou física). Vícios da vontade – arts. 240.º a 257.º CC. Nota: a declaração é aquilo que exterioriza a vontade na realização de um negócio jurídico. Em relação aos negócios jurídicos unilaterais (uma subdivisão dos negócios jurídicos, como já sabemos, em que temos apenas a declaração de vontade de uma parte), é-lhes subjacente o princípio da tipicidade/taxatividade.Quer isto dizer que apenas são admitidos pela ordem jurídica portuguesa os negócios jurídicos unilaterais previstos pela lei – art. 457.º CC. Relativamente aos contratos, temos contratos unilaterais e contratos bilaterais. Atenção: não confundir negócio jurídico unilateral com contrato unilateral; e um negócio jurídico bilateral é um contrato. Contratos unilaterais vs. Contratos bilaterais: Um contrato bilateral é um contrato sinalagmático. Um contrato de compra e venda é um contrato bilateral, por exemplo, porque existe um sinalagma entre a obrigação de entregar a coisa e a obrigação de pagar o preço. Uma obrigação existe em função da outra = sinalagma. Nos contratos unilaterais, pelo contrário, não há sinalagma. Exemplo: contrato de doação. Distingue-se do contrato de compra e venda por não ter entre os seus objetos um preço que tenha de ser pago. A obrigação de pagar não está, naturalmente, ligada à obrigação de doar a coisa. 7.1. Classificações dos negócios jurídicos - Negócios entre vivos vs. Negócios mortis causa: vivos não num sentido apenas biológico - se estivermos a falar de pessoas coletivas é no sentido de estarem ativas. Nesse sentido, um negócio entre 2 empresas é um negocio entre vivos; Negócios mortis causa pressupõem a morte de uma pessoa. Exemplo: testamento. O testamento é um negocio jurídico unilateral. Para produzir efeitos só necessita da declaração de vontade de uma parte, o testador. 26 - Negócios consensuais vs. Negócios formais: tem que ver com a forma do negócio jurídico. Consensuais são os que não carecem de forma especial. Produzem efeitos a partir do momento em que a declaração entra em vigor; formais são os que necessitam de algo mais. Impõem que a declaração tenha determinada forma para que sejam produzidos os efeitos esperados. Atenção: Todos os negócios jurídicos têm uma forma (oral, escrita, …). Não confundir negócio consensual com possibilidade de ser celebrado por via oral. Acontece a maioria das vezes, mas há, por exemplo, um negócio formal que, pelo contrário, se impõe que seja celebrado por via oral – o casamento. - Negócios consensuais vs. Negócios reais: consensual aqui é diferente, embora em ambas as distinções esteja em causa a validade do negócio. Res = coisa. Negócio real é um negócio que para produzir efeitos implica a entrega da coisa. Um negocio não produz efeitos enquanto não for entregue a coisa. O contrato de doação é real - só se considera celebrado o contrato no momento de entrega do bem. O contrato de mútuo civil também é um negocio real. (Contrato de mútuo é o contrato pelo qual se entrega dinheiro a uma pessoa e esta tem de o devolver, acrescido dos juros - Art. 1142.º CC. A propósito, coisa fungível significa substituível. O dinheiro é a coisa mais fungível que existe. A grande maioria nem tem existência física, mas mesmo tendo... esta nota de 20€ ou aquela é totalmente igual. A comida também é algo fungível; o petróleo, etc.); o negócio consensual não pressupõe a entrega da coisa, fica completo independentemente da entrega da coisa. O contrato de compra e venda é um negocio consensual (art. 879.º CC – a obrigação de entregar a coisa, tal como a de pagar o preço, são efeitos decorrentes da celebração do contrato, e não condições para que este seja celebrado). Diferença entre o contrato consensual e o contrato real: no primeiro caso o contrato é celebrado e nasce a obrigação que virá a ser cumprida; no segundo caso o contrato só é celebrado quando a obrigação for cumprida. - Negócios obrigacionais, reais, familiares e sucessórios: classificação relacionada já não com a celebração, mas com os efeitos. Negócios que produzem efeitos familiares – casamento, divórcio, perfilhação, adoção, ...; Sucessórios – testamento; Reais – posse, propriedade, usufruto. Tudo o que produza criação, modificação ou extinção de efeitos reais. Compra e venda por exemplo – implica transmissão do direito de propriedade. (Aqui, temos um negocio real quanto aos efeitos, mas consensual quanto à celebração); Obrigacionais – dos quais nascem obrigações. Contrato de trabalho, por exemplo. O contrato de compra e venda idem - é obrigacional e real (para além de oneroso). - Negócios onerosos vs. Negócios gratuitos: no negócio oneroso existe uma contraprestação, pressupõe atribuições patrimoniais de ambas as partes. Por exemplo, compra e venda; no negócio gratuito temos a doação. o Negócio oneroso comutativo vs. aleatório: no negocio oneroso aleatório o resultado é incerto, depende de fatores não controláveis pelas partes. Exemplo: contrato de jogo e aposta, contrato de seguro, …; o negócio oneroso comutativo é o inverso. As partes, quando partem para o negócio, sabem de antemão os seus fatores, e podem-nos controlar. 27 8. A Autonomia Privada O estudo da autonomia privada é o estudo dos seus limites, nomeadamente os limites de fonte legal e os de fonte contratual. Nota: A noção jurídica de autonomia privada é habitualmente limitada às opções das pessoas que produzem efeitos jurídicos. A razão de ser desta limitação está na conclusão de que apenas os comportamentos que são suscetíveis de gerar efeitos jurídicos interessam ao direito. No entanto, quando tal não se verifique, também estamos perante um ato de autonomia, reforçado, até, pelo facto de que o direito se desinteressa da sua análise, considerando-o exterior ao seu âmbito. A regra geral é a da liberdade de negociar e celebrar contratos, neles incluindo as cláusulas que se entenderem adequadas. 8.1. Limites Contudo, existem, desde logo, os limites de fonte contratual – eu celebro um contrato e, portanto, fico limitado na minha autonomia privada porque fico vinculado a fazer o que está no contrato – apesar de ter sido por minha livre vontade que me vinculei ao contrato e, por isso, me limitei. É curioso que um ato que deriva da autonomia privada limite essa mesma autonomia… Depois, os limites de fonte legal – art. 405.º CC (“dentro dos limites da lei…”) + arts. 280.º, 281.º e 294.º CC. - Art. 280.º CC - Objeto mediato: a coisa ou o direito sobre que incide o negócio; objeto imediato: as cláusulas desse negócio, não apenas a coisa, mas também as cláusulas. Situações jurídicas ativas e passivas que resultam do negócio. - Art. 281.º CC – o fim do negócio é contrário à lei. Exemplo: contrato de arrendamento para instalar uma célula de associação terrorista. Contudo, o negócio só é nulo (só se limita a autonomia privada) quando o seu fim é comum a ambas as partes, i.e., quando ambas as partes conheciam o objetivo do negócio. Ou seja, quando proponente e aceitante estavam de má-fé. Nota: o fim tem de ser ilícito; não o objeto – o contrato de arrendamento é perfeitamente lícito; contudo, o fim destinado a esse contrato, não o é. O fim do negócio é a causa da sua celebração. - Art. 294.º CC – norma residual - Podemos acrescentar a esta lista a boa-fé. Assim sendo temos todos os limites à autonomia privada no direito português. A autonomia privada tem duas vertentes diferentes, segundo o professor J.M. Carvalho: - Livre conformação das relações jurídicas entre as partes (figura do negócio jurídico) 28 - Exercício ou não de um direito (se eu quiser destruir o meu telemóvel, posso destrui-lo – é um ato de autonomia privada) Autonomia privada = autonomia da vontade Autonomia contratual = liberdade contratual Autonomia contratual está incluída na autonomia negocial Liberdade contratual está incluída na liberdade negocial A autonomia privada vem da Revolução Francesa. Nessa altura, com o advento do Code Civil 1804, quase não existiam limites à autonomia privada. Entretanto, com o passar dos séculos, tem-se percebido que a igualdade é mais formal do que material e têm-se introduzido limites à autonomia da vontade para proteger essa mesma igualdade. 8.2. Manifestações da liberdadecontratual - Liberdade de celebração – implícita no art. 405.º CC - Liberdade de estipulação – art. 405.º - Liberdade de estudo ou negociação - Liberdade pós-contratual Liberdade de celebração: - Liberdade de contratar (usar a figura do contrato para regular interesses) e liberdade de escolher o conteúdo do contrato – as partes são livres de negociar quando e como entenderem, é a regra geral - Liberdade de contratar e liberdade de não contratar - Responsabilidade pré-contratual – para os casos em que se age contra a boa-fé na fase de celebração do negócio Dentro da liberdade de estipulação, há as seguintes figuras: - Contratos socialmente típicos - Correspondem a um tipo social. Os socialmente típicos são os que, apesar de não estarem regulados legalmente, existem na realidade social (exemplo: contrato de troca). Existem e vigoram na sociedade, na prática. - Contratos legalmente típicos – correspondem a um tipo legal. Previstos pela lei ao abrigo do princípio da tipicidade. Encontram aí a sua disciplina - Contratos atípicos – pode haver contratos legal e socialmente atípicos quando não correspondam a um tipo legal nem social existente. Ou contratos legalmente típicos e socialmente atípicos nos casos raros em que ao tipo legal não corresponda um tipo social de contrato. - Contratos mistos – por exemplo, ir ao café e pedir um café. Implica vários contratos. Não é somente compra e venda. É uma prestação de serviços na forma 29 de empreitada. O café ainda vai ter de ser tirado. Implica, também, uma espécie de aluguer da chávena e aluguer da mesa onde vai ser bebido o café. o Exemplo #2: adquirir um bilhete para um concerto. Também não é um contrato de compra e venda. É um contrato misto com vertente de prestação de serviços (o espetáculo) e arrendamento da cadeira (coisa imóvel). o Exemplo #3: se eu for comprar uma sandes mista, celebro um contrato misto, de empreitada ou de compra e venda? Depende. Se eu for à máquina, é de compra e venda, porque a sandes já está pronta; se eu for ao bar e pedir é misto – se eu me sentar na mesa a comer, porque inclui o aluguer da mesa e a empreitada porque o empregado teve que ir fazer a sandes (é de compra e venda se já lá estiver empacotada e eu não me sentar na mesa a comer). (Atenção: dizer que se comprou o bilhete para o espetáculo x é errado. Não se compram bilhetes. O objetivo do contrato não é (comprar) o bilhete, o bilhete é apenas a forma de provar que se fez o contrato. Para se comprar um bilhete tem de se ir a uma loja de antiguidades – aí o bilhete já é o objeto do negócio jurídico contrato de compra e venda.) - União de contratos vs. contrato misto: no segundo caso temos apenas um contrato. Exemplo de união de contratos: um contrato de fiança pode estar unido a outro contrato de outro tipo – contrato de compra e venda de um prédio urbano. - Contratos nominados/inominados – têm/não têm nome próprio, designação própria, independentemente de serem típicos ou atípicos. Os contratos típicos normalmente são nominados. É difícil apontar casos de contratos inominados porque, precisamente, não têm nome para os designar. Liberdade de negociação: - Subentendida na liberdade de celebração e na liberdade de estipulação - Convite a contratar, proposta e aceitação Liberdade contratual na CRP: A doutrina diverge. Se se entender que tem consagração constitucional, a limitação à liberdade contratual é mais exigente e tem de ser justificada. O professor é da opinião que não tem consagração constitucional expressa, mas está, naquele sentido, subjacente à conceção de sociedade e ao modelo económico e social consagrado na Constituição. Ou seja, a liberdade contratual pode ser limitada? Sim, na medida em que esteja em confronto com outros direitos fundamentais igualmente relevantes. A solução faz-se tendo em conta os pressupostos para as situações de colisão de direitos. 9. Contratos Conceito: acordo formado por duas ou mais declarações que produzem para as partes efeitos jurídicos conformes ao significado do acordo obtido (C. Ferreira de Almeida). 30 Atenção: temos acordos no mundo do direito que não são contratos… Acordo com efeitos jurídicos: Acordos com eficácia obrigacional bem como todos os acordos que transmitem ou extinguem créditos e obrigações e os que criam, modificam ou extinguem situações jurídicas de outra natureza (pessoais, associativas, familiares, sucessórias, reais e relativas à propriedade intelectual). Notas: acordos em que se transmite o crédito – quando a obrigação já esta constituída e o comprador vende o crédito a outrem; acordos que extinguem créditos – remissão de dívidas; acordos que criam, modificam ou extinguem situações jurídicas de natureza real – quando se transmite a propriedade, p. ex; acordos que criam, modificam ou extinguem situações jurídicas relativas à propriedade intelectual – contrato de cessão de uma patente, p.ex. O contrato é um negócio jurídico plurilateral, com a intervenção de duas ou mais pessoas, através de duas ou mais declarações negociais. Contrato enquanto acordo com efeitos jurídicos performativos (1) e reflexivos (2): 1. acordo que não se limita a verificar situações ou opiniões; produz efeitos jurídicos, altera situações jurídicas em conformidade com esse acordo. 2. Coincidência entre quem participa no acordo e aqueles sobre quem incidem os efeitos do acordo: O acordo por que se forma o contrato reflete-se sempre nas pessoas que nele são parte. 9.1. Fonte do direito dos contratos - Lei - Costume - Jurisprudência - Doutrina Relativamente à lei, aplicam-se normas correspondentes a um tipo (ou subtipo) específico de contrato, bem como a uma categoria específica. Categoria =/= Tipo/subtipo Tipo de contrato: compra e venda, doação, associação, sociedade, prestação de serviços, arrendamento, transporte, etc… Subtipo de contrato: dentro do tipo de contrato prestação de serviços, temos o subtipo de contrato empreitada, e, dentro desse subtipo, temos empreitada de coisa móvel ou de coisa imóvel; dentro do contrato de arrendamento (tipo), temos arrendamento para habitação (subtipo); contrato de transporte, pode ser rodoviário, ferroviário, etc; Compra e venda comercial, civil e compra e venda para consumo, … Categoria de contrato: está ligada a circunstâncias relativas ao contrato. Por exemplo, regras sobre contratos celebrados à distância, aplicadas independentemente do tipo; 31 contratos celebrados em estabelecimento automatizado; contratos celebrados pela internet; … (podem ser contratos de compra e venda, de arrendamento, ou outro qualquer). Cada categoria tem regras especiais, mas se as não houver, a estes contratos vamos aplicar as normas gerais aplicáveis aos contratos em geral. É altamente improvável encontrar todas as regras aplicadas a um tipo especial de contrato num diploma; se não houver normas gerais aplicáveis aos contratos aplicamos normas gerais aplicados aos negócios jurídicos em geral. Contratos internacionais: Qual o direito aplicável? - Se for da disposição das partes, são estas a escolher o ordenamento jurídico que vai regular o contrato, no âmbito do Direito Internacional privado (em matérias como as reguladas pelo direito da família, das sucessões e algumas outras, há menos probabilidade de serem da disponibilidade das partes) - Instrumentos de direito uniforme material – regulamentos europeus que determinam qual o direito aplicável nos contratos privados em determinadas matérias. Exemplo: Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (Convenção de Viena de 1980). Portugal não ratificou esta Convenção. - Normas do direito da União Europeia - Normas muito variadas e em diferentes domínios (direitos das sociedades, setor financeiro, serviços de interesse geral); têm mais extensão e profundidade
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