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Apostila Conhecimentos Pedagógicos Apostila que contempla os principais pontos de concurso para professor CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS História da Educação Brasileira e as relações entre escola, estado e sociedade. ...........................................................................................01 Políticas públicas da Educação no Brasil ..........................................................................................................................................................08 Fundamentos e concepções de gestão e diferentes formas de estruturação na organização da escola .........................................................08 Gestão e instâncias colegiadas na unidade escolar; estrutura, funcionamento e organização. .......................................................................36 Formação do Pedagogo no Brasil .....................................................................................................................................................................45 O financiamento da educação ...........................................................................................................................................................................47 Educação e Pedagogia: bases filosóficas, sociológicas, psicológicas, antropológicas e políticas de educação. .............................................49 A Pedagogia: seu objeto, campo de conhecimento e de trabalho; as correntes pedagógicas .........................................................................73 A relação entre educação/cultura/ética e cidadania. .......................................................................................................................................118 Concepções e teorias curriculares ....................................................................................................................................................................82 O Projeto Político Pedagógico - Papel e função da escola: concepções e diferentes formas de organização do conhecimento e do tempo nos currículos escolares ....................................................................................................................................................................97 A didática e as diferentes formas de organizar o ensino. ................................................................................................................................109 Formação continuada do professor .................................................................................................................................................................116 Escola, violência e cidadania. .........................................................................................................................................................................118 Organização do trabalho pedagógico na escola: o pedagogo como educador e mediador no ambiente de trabalho. ...................................109 SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO EM UM ÚNICO PACOTE: 1 - SIMULADOS CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS (+ DE 2500 QUESTÕES) 2 - MATERIAL DE ESTUDO: 3 - MAIS DE 1000 QUESTÕES DE PORTUGUÊS: 4 - MAIS DE 1000 QUESTÕES DE MATEMÁTICA RESOLVIDAS 5 - NOVE APOSTILAS CONTEMPLANDO VÁRIOS ASSUNTOS: 6 - NOVE APOSTILAS CONTEMPLANDO VÁRIOS ASSUNTOS: 7 - MAIS DE 1000 QUESTÕES DE RACIOCÍNIO LÓGICO 8 - DIVERSAS PROVAS CONCURSOS DE PROFESSORES 9 - LIVROS EM PDF 10 - E TEM MAIS. ACESSO À VARIAS VÍDEOS AULAS CONTEMPLANDO OS CONTEÚDOS (várias horas de aula): CONHEÇA O PACOTE: http://bit.ly/2dYbNPl mundo capitalista subdesenvolvido, entretanto, a coisa ia de mal a pior. Reduzido a poucas e em geral inoperantes iniciativas socio-econômicas recheadas de muito, muito discurso eleitoreiro e uma boa dose de regimes ditatoriais para conter a insatisfação, o liberalismo subdesenvolvido, ao invés de criar prosperidade social e econômica para todos aprofundou o fosso das diferenças sociais. Ricos ficaram mais ricos e cada vez em melhor número; pobres se multiplicavam e viravam miseráveis. A divisão do trabalho social vai ter como consequência a cristalização destas posições. Não a partir do ponto de vista de um ou outro cidadão, mas a partir do ponto de vista de classe. Com efeito, as classes sociais vão balizar o estabelecimento do público e do privado. Mas, também, vão iniciar um relacionamento tenso, em busca da hegemonia - a luta para definir e estabelecer o que é público (seu espaço) e para controlá-lo. Entretanto, uma das classes sociais básicas, a que detém os meios de produção, passa a estabelecer ditatorialmente este espaço do público, uma vez que possui os elementos materiais necessários e indispensáveis à produção. Com isto, esta classe torna-se dominante. Não obstante este controle do espaço público, a classe dominante sabe que precisa mantê-lo, e, para isto, utiliza-se de mecanismos de controle que vão desde a força bruta até o convencimento sutil via Ideologia. Em consequência desta necessidade do controle sutil da sociedade, surge, então uma entidade denominada Estado. O papel do Estado seria como que um mediador entre as classes, procurando evitar conflitos maiores e garantir direitos a todos. Observe que, embora os interesses para a criação do Estado fossem os mais excusos, ele acaba por revelar-se - inicialmente, pelo menos - interessante ao dominado. O primeiro Estado pré-capitalista caracterizava bem esta concepção de coisa arranjada. Era personificado, na França, pelo Rei, que bradava aos quatro ventos: “O Estado sou eu”. No Brasil, D. Pedro I inaugura seu “Poder Moderador”, que na verdade era um Estado de fato dentro de um Estado que se dizia de Direito. Com a evolução do capitalismo, este conceito de Estado também evolui e se aperfeiçoa. Surge o chamado “Estado democrático”, característica do Liberalismo Econômico, que se fortalece a partir o “New Deal”, o pacto de Estado estabelecido pelos Estados Unidos após a grande crise da década de 30. Este Estado Liberal vai inaugurar no mundo o “Welfare State”, ou Estado do bem-estar social. Neste modelo, cabe ao Estado proporcionar a todos os cidadãos condições básicas para uma vida digna, como Educação, Saúde, Habitação, Saneamento, Transportes, etc, tudo de boa qualidade. Os direitos básicos do cidadão seriam preservados, contanto que não se questionasse a forma como a classe dominante obtinha seu poder. Esta forma se manifestou logo, logo, através de mecanismos imperialistas de dominação de países, tornando outros países, geralmente com mão-de-obra barata e vastos recursos naturais a serem explorados, países dependentes. O Estado Liberal vicejou no pós-guerra em todos os países desenvolvidos. No Já na década de 80, este modelo liberal de Estado dava mostras de esgotamento. Na verdade, a própria fórmula capitalista mostra-se esgotada simplesmente porque não sobrevive sem mecanismos intensos e seguros de exploração. Estes mecanismos, que, antes do Welfare State situavam-se em nível interno dos países desenvolvidos e, após este, deslocaram-se para a exploração inter-nacional, também não se encontram seguros no modelo atual. A velocidade com que o capital financeiro gira pelo mundo, passando por países em “bolhas de desenvolvimento” fabricadas para facilitar a exploração (vide o sudeste asiático), torna as criaturas um perigo para seus criadores. É preciso, então dar uma sobrevida ao capitalismo, enquanto se pensa em coisa mais duradoura esegura (e que não afete os interesses dos países poderosos). Surge então o tal de Neoliberalismo. O Estado Neoliberal, em essência, é o mesmo Estado Liberal, mas agora sob nova embalagem. Esta embalagem estabelece o aprofundamento, em função dos interesses dos países centrais, de uma característica básica do capitalismo: a economia de mercado. O “mercado” passa a ditar quase todas as normas das transações pessoais, e institucionais, constituindo o próprio limite (?) ético vigente. Ao enfatizar novamente, agora com mais vigor, a economia de mercado como base da vida econômica dos países, o capitalismo vai mexer também na questão do Estado. Se quase tudo agora é regido pelos contratos econômicos, então os serviços básicos do velho Estado do bem-estar social também serão vertidos à iniciativa privada. O Estado diminui de tamanho, passando a controlar apenas alguns poucos setores da sociedade, geralmente burocráticos e/ou militares. É o Estado Mínimo, característica do Neoliberalismo. Novamente, encontramo-nos às voltas com a questão público x privado. Ao privatizar descontroladamente o público, o Estado Neoliberal aprofunda mais ainda (e a gente que pensava que pior não podia ficar...) nos países periféricos as diferenças sociais, com um agravante: de tanto se “purificar” o capitalismo vira autofágico. Por isto o Neoliberalismo tem perna curta. Ótimo momento econômico para se começar a questioná-lo (desemprego altíssimo, espasmos financeiros), bem como ao capitalismo como um todo, mas péssimo momento político. Os poderosos são espertos, e, ao verem a coisa preta tratam de limpar as mais improváveis ameaças político-ideológicas que possam surgir no futuro. Não existe mais o chamado “mundo comunista”; até um pequeno e desajeitado Sadam Hussein é tido pelos EUA como “ameaça à humanidade”. Entretanto existem focos importantes de descontentamento e o poder não é monolítico, apontando para um futuro imprevisível. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E AS RELA- ÇÕES ENTRE ESCOLA, ESTADO E SOCIEDADE. Que tipo de Educação viceja em um Estado Neoliberal? Para responder a esta pergunta, e’ importante retornarmos aos princípios do Estado capitalista. Observe que a questão público x privado está na base da questão do Estado capitalista. Não é por outro motivo que a Escola Pública vai surgir justamente com o capitalismo: uma tentativa do Estado (ou da classe que controla o Estado) de estender seus domínios a todos os setores da sociedade civil. No entanto é justamente aí, na contraditória escola pública, que vão surgir os mais eficientes focos de resistência a esta concepção de Estado. A palavra chave para compreendermos este caráter contraditório da escola é “Cultura”. Ou, se desejarmos ir mais fundo, “Trabalho”. Observe nossa primeira aula destes resumos e veja o porquê. A Cultura, forjada no Trabalho, é a base da educação. Sendo um processo e um produto social, a cultura é múltipla, dinâmica e contraditória. É impossível controlar a cultura, embora os apocalípticos livros de “Admirável Mundo Novo” (Huxley) e “1984” (Orwell) tentem por vezes nos convencer do contrário. A Educação capitalista, portanto, vai gerar um tipo de escola que possui características contraditórias: reproduz a ideologia dominante, mas também é importante foco propagador de contra-ideologia. A luta de classes (sem trocadilho...) se dá dentro da escola, da mesma forma que fora dela. A escola não é melhor nem pior que outras instâncias sociais, é mais uma delas. O pensamento privatista existente na escola pública não a transforma em bem privado, mas acentua a dominação. Isto é ruim. Com o Neoliberalismo, a escola tende a ser cada vez mais “privatizada” em seus princípios e metas. A educação tende a direcionar- se para o mercado, não para a realização “do homem todo e de todos os homens”. Tende a estabelecer para as pessoas, desde cedo, que devem sufocar seus sonhos em função dos ditames do mercado. Com o acirramento da competição, o aumento do desemprego e a desvalorização das profissões desinteressantes ao Capital, a escola tende a fechar-se em possibilidades e regras que muitas vezes violentam os quereres humanos. Tendência é direção, não é destino. A escola, portanto, não vai morrer em seu caráter público e democrático, simplesmente porque é humana. E porque a Cultura é ato humano. Isto não quer dizer que o Estado Neoliberal não faça um enorme estrago na consciência das próximas gerações. Nas últimas três décadas do século XX ocorreram profundas transformações no mundo, nos planos econômico, político, cultural e social. Uma das principais mudanças refere-se ao papel do Estado- Nação, que, na sociedade global, não só é redefinido, mas perde algumas de suas prerrogativas econômicas, políticas, culturais e sociais, debilitando-se. No Brasil, em especial a partir da década de 80, ocorre uma situação comumente designada como “crise do Estado”. Esta expressão é utilizada muitas vezes sob um falso consenso, por reunir sob o mesmo título diversas crises simultâneas: a) a fiscal, entendida como o excesso de gasto público social; b) a econômica, visando a um Estado regulador, indutor, coordenador e mobilizador dos agentes econômicos e sociais; c) a social, com a crise do Estado de Bem-Estar Social; d) a política, questionando-se a incapacidade de institucionalizar a democracia e prover uma cidadania adequada; e e) a crise do modelo burocrático de gestão pública, tendo em vista os elevados custos e a baixa qualidade dos serviços prestados pelo Estado. Cada perspectiva da crise do Estado vem impregnada de um entendimento específico sobre quais são os principais problemas e sobre o que fazer para que ocorra uma redefinição do papel ideal do Estado, suficiente para superar os problemas indicados. O possível consenso seria quanto ao que se deveria esperar de uma reforma estatal: que ela permitisse ao Estado desenvolver a capacidade administrativa, no sentido de melhorar o desempenho público e a qualidade dos serviços dirigidos às necessidades públicas. Bresser Pereira (2001), analisando as concepções e perspectivas teóricas da reforma do Estado, presentes na literatura, destaca a heterogeneidade de respostas à questão de como reconstruir o Estado no sentido de melhor capacitá-lo a intervir e implementar as políticas econômicas, manter a ordem pública e oferecer serviços sociais com boa qualidade, e indica quatro principais abordagens teóricas da reforma do Estado: a neoliberal, a sociologia institucional, a escolha racional e o modelo principal-agente, caracterizando-as. Especificamente quanto ao caso brasileiro, Barreto (1999), a partir de análise do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, indica a conjugação de quatro processos interdependentes, a saber: a redefinição das funções do Estado, a redução de seu grau de interferência, o aumento da governança e da governabilidade. O aparelho de Estado é entendido como compreendendo quatro setores de atuação: 1) o núcleo estratégico, 2) as atividades exclusivas do Estado, 3) os serviços não-exclusivos do Estado e 4) a produção de bens para o mercado. A atuação direta do governo fica restrita aos dois primeiros. Nos dois últimos setores - entre os quais está a Educação-, o Estado tem uma atuação indireta na sua promoção e financiamento, parcial ou totalmente. Pode-se inferir, pelas características que Pereira indica e pelas que Barreto descreve, que o processo de reforma do Estado que vem sendo desenvolvido no Brasil volta-se para as características do modelo neoliberal. Devido à prioridade que este modeloimprime à questão econômica, as principais críticas que lhe são feitas referem-se às suas consequências no campo social. Mais especificamente, as críticas voltam-se aos seus efeitos negativos sobre o Estado de Bem- Estar Social. No Brasil, aquelas áreas tradicionalmente atendidas e consideradas como parte do Estado de Bem-Estar Social, entre as quais a Educação, são diretamente afetadas pela crise. Segundo Azevedo (2000:17), a Educação no Brasil “se constitui como um setor que se tornou alvo das políticas públicas, em estreita articulação com as características que moldaram o seu processo de modernização e desenvolvimento”. Na década de 80 a ênfase passa a ser a eficiência do funcionamento das instituições escolares e a qualidade de seus resultados. É importante ressaltar a influência de organizações internacionais no estabelecimento destas diretrizes, estabelecidas para o aparelho de Estado como um todo, em seu processo de reforma. Esta tendência permanece na década de 90, em que “... o Estado procurará imprimir maior racionalidade à gestão da educação pública, buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e otimizar seus recursos, adotando em muitos casos o planejamento por objetivos e metas”. A Educação passa por reformas em sua estrutura e orientações, destacando-se as seguintes: • redistribuição de recursos; • descentralização da execução do gasto; • reforço da progressividade e redistributividade dos recur- sos; • reequilíbrio regional da alocação; • descentralização; • desconcentração dos recursos e funções; • participações dos pais; • parcerias com a sociedade civil; • modernização dos conteúdos; • diversificação das carreiras; • criação de sistemas nacionais de capacitação docente; e • criação de um sistema nacional integrado de avaliações educacionais. Um outro elemento que surge, no contexto desse processo de reorganização, racionalização e incentivos às reformas, por parte do Estado, é a avaliação, que consiste em pré-requisito para a criação de mecanismos de controle e responsabilização mais sofisticados. Pestana (2001) indica três razões principais para a eclosão de investimentos e propostas na área de avaliação: a ênfase na qualidade, as políticas de descentralização e a pressão sobre o Estado, cobrando- se insumos para a melhor compreensão dos problemas existentes, para o desenvolvimento de políticas mais adequadas, eficazes e eficientes, para a reorientação dos padrões de financiamento e de alocação de recursos, e ainda para permitir uma maior visibilidade, para a população, quanto ao desempenho dessas políticas, ou seja, sua prestação de contas. Por meio desta breve caracterização do período abordado, da crise do Estado e seu processo de reforma, é possível identificar algumas de suas relações com a Educação, a partir de diretrizes estabelecidas e políticas implementadas. Todo esse processo e relações são fomentadores de questionamentos diversos, por parte da comunidade acadêmica, gerando farto material sobre o tema. Porém, conforme o prisma sob o qual ele estiver sendo observado, a perspectiva adotada para analisá-lo é diferente. Abre-se aqui a possibilidade de análise sobre quais são e como se relacionam (se isso ocorre) estas perspectivas. EDUCAÇAO/SOCIEDADE E PRATICA ESCOLAR A crescente preocupação com educação corporativa exige que cada vez mais os responsáveis pela concepção, desenho e implementação das ações e dos programas educacionais aprofundem seus conhecimentos sobre educação e pedagogia. Sempre é oportuno relembrar que: • Educação diz respeito à influência intencional e sistemática sobre o ser humano, com o propósito de formá-lo e desen- volvê-lo em uma sociedade. • Pedagogia refere-se à reflexão sistemática sobre educa- ção; é a reflexão sobre modelos, métodos e as técnicas de ensino. Pode-se dizer que educação é prática e experiência, enquanto que pedagogia é teoria e pensamento. Ao se analisar a relação entre filosofia e educação, pode-se dizer que não há uma pedagogia que esteja isenta de pressupostos filosóficos. Existem basicamente três grupos de entendimento do sentido da educação na sociedade (Luckesi, 1994), que se revelam em três tendências filosófico-políticas para compreender a prática educacional. Filosóficas, porque compreendem o seu sentido; e políticas, porque constituem um direcionamento para sua ação. São elas: 1. REDENTORA Concebe a sociedade como um conjunto de seres humanos que vivem e sobrevivem num todo orgânico e harmonioso, com desvios de grupos e indivíduos que ficam à margem desse todo. Tem uma visão “não-crítica” da sociedade; o que importa é integrar em sua estrutura tanto os novos elementos (novas gerações), quanto os que se encontram à margem. A educação assume seu papel de manter o corpo social, promovendo a integração e adaptação dos indivíduos, através da correção de seus desvios de comportamento. 2. REPRODUTORA Afirma que a educação faz parte da sociedade e a reproduz. A interpretação da educação como reprodutora da sociedade implica entendê-la como um elemento da própria sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos. Esta segunda, além de ser crítica, é reprodutivista. Através da aprendizagem de alguns saberes, envolvidos na ideologia dominante, é que são reproduzidas as relações do trabalho, as relações de poder e as relações sociais vigentes. 3. TRANSFORMADORA Tem por perspectiva compreender a educação como mediação de um projeto social. Ela nem redime, nem reproduz a sociedade, mas serve de meio para realizar um projeto de sociedade. Propõe-se compreender a educação dentro de seus condicionantes e agir estrategicamente para sua transformação. Propõe-se desvendar e utilizar-se das próprias contradições da sociedade, para trabalhar realística e criticamente pela sua transformação. Tenho enfatizado que a educação corporativa é um dos principais veículos de consolidação e disseminação da cultura empresarial. Por isso, a transposição das ideias apresentadas acima, para um Sistema de Educação Corporativa, parece extremamente útil para aqueles responsáveis pela concepção do programas educacionais, na medida que permitem identificar com clareza como deverão ser trabalhados os aspectos relativos à cultura empresarial. Ou seja, será que através da educação corporativa pretende-se adaptar e integrar os indivíduos aos valores e princípios da cultura vigente? Ou pretende-se reproduzi-los e disseminá-los? Ou não, os programas devem estimular uma leitura crítica da cultura e realidade empresarial, e favorecer a formação de uma nova mentalidade e modo de pensar, que estimule a mudança organizacional? Ou todas as anteriores, dependendo da situação e do público-alvo dos programas? É inquestionável que alguns dos principais objetivos esperados com um Sistema de Educação Corporativa são: • Conscientizar gestores e suas equipes sobre a importância de vivenciar e praticar a cultura empresarial, buscando sempre o equilíbrio construtivo entre a necessidade de ga- rantir a prática dos princípios filosóficos corporativos bási- cos e as especificidades da realidade dos diferentes públi- cos envolvidos. • Ser um instrumento de alinhamento entre a cultura empre- sarial e os colaboradores em todos os níveis, disseminan- do-a em toda a cadeia produtiva onde a empresa opera. • Constituir-se em instrumento para promover e consolidar a integração cultural. É fácil perceber que para cada um dos objetivos apontadosacima existem estratégias educacionais mais adequadas no que se refere à dimensão cultural, embora não sejam necessariamente excludentes. Mas de modo geral poderíamos classificá-las da seguinte forma: • Estratégia de Integração - deve ser aplicada principalmente nas ações e programas educacionais voltados para os no- vos colaboradores da empresa, novos parceiros, novos for- necedores e público-externo em geral; adequada e neces- sárias para todos aqueles (novos ou antigos) que apresen- tem baixo grau de alinhamento cultural. • Estratégia de Reprodução - fundamental nas ações e pro- gramas educacionais dirigidos para os líderes e gestores empresariais, e formadores de opinião, sejam membros in- ternos ou externos; deve enfatizar os traços culturais vigen- tes que são alavancadores do sucesso empresarial. • Estratégia de Transformação - inicialmente deve ser utiliza- da nas ações e programas educacionais para alta direção e lideranças empresariais, estimulando-os a identificar as discrepâncias de percepção entre cultura atual declarada e a praticada na empresa (por exemplo: novos traços a se- rem incorporados, atuais traços que deveriam ser abando- nados, barreiras que impedem a prática qualificada da cul- tura empresarial desejada), para que seja possível formular um projeto de mudança e transformação rumo a uma nova cultura empresarial, que por sua vez fundamentará futuro processo de reeducação. Paulo Freire foi um dos poucos pensadores da educação e da pedagogia que deu prioridade à área político-pedagógica, pensada no âmbito das relações entre a História e a educação. Ele destacou a importância do papel interferente da subjetividade na História que, por si, já implica a requalificação do papel da educação. Assim ele via a educação: “(...) Como processo de conhecimento, formação, política, manifestação ética, procura da boniteza, capacitação científica e técnica... É prática indispensável aos seres humanos e deles específica na História como movimento, como luta. A História como possibilidade não prescinde da controvérsia, dos conflitos que, em si mesmos, já engendrariam a necessidade da educação.” (Política e Educação: 1993, p.14). As diversas teorias que explicam as origens da humanidade mostram vários caminhos pelos quais o homem chegou a elaborar sua capacidade de comunicação verbal. Durante o 1º ano de vida, o cérebro triplica de tamanho, com o passar do tempo aumenta o número de sinapses e o desafio dos pais é manter essa rede de sinapses formadas. Sabemos que quando uma habilidade não é utilizada a sinapse correspondente deixa de acontecer. Estimular é apresentar à criança situações novas com os quais ela possa se relacionar ludicamente . É possível fazer novas conexões (sinapses) para o resto de nossas vidas, só que de uma forma mais difícil do que durante os primeiros anos de formação. Na verdade, todas as descobertas da ciência devem ser encaradas como instrumentos que ajudem a formar indivíduos equilibrados, com espírito crítico e aptos a lidar consigo e com o mundo 5 que os rodeia. Deve colaborar na construção da inteligência das crianças. Um ambiente rico e diverso, que estimula os cinco sentidos e o aspecto emocional, é fundamental na tarefa de estimulação. A teoria construtiva de Jean Piaget baseia-se na premissa de que a inteligência é construída a partir das relações recíprocas do homem com o meio. Existem dentro de teorias de aprendizagem os aprioristas que acreditavam que a origem do conhecimento está no próprio sujeito e os empiristas que acreditavam que as bases do conhecimento estão nos objetos. As teorias de Piaget fundem esses 2 paradigmas e têm 3 conceitos fundamentais: interação/assimilação e acomodação. O construtivismo é um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais. A busca de novos meios é parte do processo de tomada de consciência. A inteligência no seu conjunto é que estrutura as formas de representação (Piaget). A linguagem e a função semiótica permitem a comunicação. O universo da representação não é formado exclusivamente de objetos, mas também de sujeitos. Segundo Piaget as interações sociais se desenvolvem em torno e partir das relações entre 3 aspectos: as normas, a estrutura de vida social, os valores e os sinais. As interações podem ocorrer na forma de coação, autonomia ou anomia. As relações cooperativas implicam em 3 condições inerentes nos processos operatórios: 1º) Os interlocutores estejam de posse de uma escala comum de valores. 2º) Igualdade geral dos valores. 3º) Possibilidade de retornar às validades reconhecidas anteriormente. Segundo Morgan C. T. a aprendizagem apresenta 2 tipos básicos: o condicionamento clássico e o condicionamento operante. A capacidade para aprender depende do aprendiz, do método de aprendizagem e do tipo de material utilizado para a aprendizagem. O aprendiz depende do nível de inteligência, de idade, do estímulo e ansiedade e de transferência de aprendizagem anterior. As estratégias de aprendizagem envolvem o dilema: prática maciça x espaçada; feedbacks, aprendizagem de todo ou aprendizagem de partes e os programas de aprendizagem. O material de aprendizagem tem que apresentar: distinção perceptiva, significado associativo, semelhanças conceituais, hierarquia conceitual, hierarquia associativa. A memória do indivíduo é estruturada em memória de curta duração ou memória de trabalho e memória de longa duração. A aquisição de esquemas e a automação são os fatores principais no desempenho de habilidades e na aprendizagem, porém o ensino raramente é estruturado tendo isto em mente. Segundo Gardner em sua teoria de inteligências múltiplas, o cerne da teoria é a valorização das diferenças individuais. Gardner chama de inteligência muitas outras competências além da lógica, matemática e a linguística, medidas pelos testes de QI. Para ele há pelo menos mais cinco: musical, espacial, corporal, sinestésica, interpessoal e intrapessoal. O conhecimento é a representação mental da experiência adquirida, normalmente registrado na memória através das impressões emitidas pelo corpo associados ao processo cognitivo ocorrido no cérebro. São imagens mentais ligadas intrinsecamente à sensações, emoções e sentimentos, que, quando revividos ativam todo complexo relativo aquela experiência. A Noção de “rede” gerada pelo emaranhado de neurônios é semelhante à rede virtual da Internet. A 4ª geração da Educação está baseada no computador e fundamentada nas teorias construtivistas da aprendizagem. A combinação visual/sonora da informação estimula a aprendizagem construtivista pelas alterações da dinâmica da memória. A aprendizagem cooperativa envolve problemas, para desenvolver novos hábitos de cooperação e de comunicação, mudanças culturais e novas estratégias cognitivas. A cognição é anterior ao conjunto de formas simbólicas. A atividade cognitiva representa sons especificamente humanos de inteligência como a inteligência pré-verbal e a interiorização da imitação em representações. Com o desenvolvimento da tecnologia foram criados novos ambientes de aprendizagem nas escolas. É também nas escolas que as crianças aprimoram sua desenvoltura, social e intelectual. Os cenários educacionais baseados em hipertecnologias representam experiências cooperativas. O construtivismo foi um movimento determinante na história da cultura, cujo legado se faz sentir até hoje. O construtivismo refletia as alterações provocadas pela Revolução Industrial na vida cotidiana e artística.Hoje sentimos e falamos em construtivismo, assunto em voga na vida cultural porque assistimos a transformação profunda da sociedade por efeito da interferência das novas tecnologias em nosso modo de viver: a revolução eletrônica que se opera sobre a era industrial nessa passagem para o terceiro milênio. Os processos de assimilação da realidade são adaptados ao ambiente com o qual o indivíduo interage. 6 A ideia de que o hipertexto se constitui em ambiente que reúne as condições necessárias e suficientes à estrutura do conhecimento é relativizada por vários autores. O hipertexto na opinião de alguns autores seria mais importante para os que elaboram e realizam o projeto do que para os alunos. O primeiro plano de interação pelo ambiente hipertextual é o relativo às relações sujeito-objeto que se expressam no uso de ferramentas individuais e cooperativas de editoração. Os mapas conceituais são representações gráficas semelhantes a diagramas, que indicam relações entre conceitos ligados por palavras. Os mapas conceituais podem ser descritos sob diversas formas: perspectiva abstrata, perspectiva de visualização, perspectiva de conversação. Os mapas conceituais podem ser úteis para a elaboração do material didático em hipermídia. Os mapas conceituais se destinam a hierarquização e a organização. A educação do século XXI deverá preparar os alunos para se integrarem em uma economia globalizada, baseada em conhecimento, no qual o conhecimento será o recurso mais crítico para o desenvolvimento social e econômico. O aluno deverá “aprender a aprender”. Existem três elementos fundamentais para o sucesso do ensino à distância: projeto, tecnologia e suporte. A primeira forma de ensino à distância foram os cursos por correspondência. Atualmente vídeo e tecnologias computacionais são os meios mais empregados. Existe o Netmeeting que são ambientes de aprendizagem que proporcionam encontros virtuais entre usuários o sistema. Em um processo de educação construtivista a avaliação é um elemento indispensável para a reorientação dos desvios ocorridos durante o processo e para gerar novos desafios ao aprendiz. Segundo Rodrigues avaliar é verificar como o conhecimento está se incorporando no educando, e como modificar a sua compreensão de mundo e elevar sua capacidade de participar onde está vivendo. Nos ambientes construtivistas destacam-se a observação, a testagem e a auto-avaliação como as principais técnicas de avaliação. Nos ambientes construtivistas virtuais, as técnicas de avaliação são as mesmas. Nos últimos anos houve uma mudança significativa na pirâmide populacional brasileira. O Brasil deixou de ser um país apenas de jovens. O envelhecimento da população brasileira é um fato. Pretendo viver bastante e com qualidade; o que será que vou encontrar daqui a alguns anos? A sala de aula tradicional behavionista? A sala de aula construtivista.? RELAÇÃO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE A educação, para os clássicos como Durkheim, expressa uma doutrina pedagógica, que se apóia na concepção do homem e sociedade. O processo educacional emerge através da família, igreja, escola e comunidade. Fundamentalmente, Durkheim parte do ponto de vista que o homem é egoísta, que necessita ser preparado para sua vida na sociedade. Este processo é mediatizado pela família e também pelas escolas e universidades: A ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não estãomaduras para a vida social, tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança determinados números de estados físicos, intelectuais e morais que dele reclamam, por um lado, a sociedade política em seu conjunto, e por outro, o meio especifico ao qual está destinado. (DURKHEIM, 1973:44) Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social, e a educação é considerada como o fato social, isto é, se impõe, coercitivamente, como uma norma jurídica ou como uma lei. Desta maneira a ação educativa permitirá uma maior integração do indivíduo e também permitirá uma forte identificação com o sistema social. Durkheim rejeita a posição psicologista. Para ele, os conteúdos da educação são independentes das vontades individuais, são as normas e os valores desenvolvidos por uma sociedade o grupo social em determinados momentos históricos, que adquirem certa generalidade e com isso uma natureza própria, tornando-se assim “coisas exteriores aos indivíduos”: A criança só pode conhecer o dever através de seus pais e mestres. É preciso que estes sejam para ela a encarnação e a personificação do dever. Isto é, que a autoridade moral seja a qualidade fundamental do educador. A autoridade não é violenta, ela consiste em certa ascendência moral. Liberdade e autoridade não são termos excludentes, eles se implicam. A liberdade é filha da autoridade bem compreendida. Pois, ser livre não consiste em fazer aquilo que se tem vontade, e sim em se ser dono de si próprio, em saber agir segundo a razão e cumprir com o dever. E justamente a autoridade de mestre deve ser empregada em dotar a criança desse domínio sobre si mesma (DURKHEIM, 1973:47). Talcott Parsons (1964), sociólogo americano, divulgador da obra de Durkheim, observa que a educação, entendida como socialização, é o mecanismo básico de constituição dos sistemas sociais e de manutenção e perpetuação dos mesmos, em formas de sociedades, e destaca que sem a socialização, o sistema social é ineficaz de manter- se integrado, de preservar sua ordem, seu equilíbrio e conservar seus limites. O equilíbrio é o fator fundamental do sistema social e para que este sobreviva é necessário que os indivíduos que nele ingressam assimilem e internalizem os valores e as normas que regem seu funcionamento. 7 Aqui encontramos uma primeira diferença com o pensamento de Durkheim, que destaca sempre o aspecto coercitivo da sociedade frente ao indivíduo. Parsons afirma que é necessário uma complementação do sistema social e do sistema de personalidade, ambos sistemas tem necessidades básicas que podem ser resolvidas de forma complementar. O sistema social para Parsons funciona harmonicamente a partir do equilíbrio do sistema de personalidade. A criança aceita o marco normativo do sistema social em troca do amor e carinho maternos. Este processo se desenvolve através de mediações primarias: os próprios pais através da internalização de normas, inicia o processo de socialização primaria. A criança não percebe que as necessidades do sistema social estão se tornando suas próprias necessidades. Desta maneira, para Parsons, o indivíduo é funcional para o sistema social. Tanto para Durkheim como para Parsons, os princípios básicos que fundamentam e regem ao sistema social são: - continuidade - conservação - ordem - harmonia - equilíbrio Estes princípios regem tanto no sistema social, como nos subsistemas. De acordo com Durkheim bem como Parsons, a educação não é um elemento para a mudança social, e sim , pelo contrario, é um elemento fundamental para a “conservação” e funcionamento do sistema social. Uma corrente oposta a Durkheim y Parsons estaria constituída pela obra de Dewey e Mannheim. O ponto de partida de ambos autores é que a educação constitui um mecanismo dinamizador das sociedades através de um indivíduo que promove mudanças. O processo educacional para Dewey e Mannheim, possibilita ao indivíduo atuar na sociedade sem reproduzir experiências anteriores, acriticamente. Pelo contrario, elas serão avaliadas criticamente , com o objetivo de modificar seu comportamento e desta maneira produzirmudanças sociais. É muito conhecida e difundida no Brasil a obra de Dewey, razão pela qual não a aprofundaremos em detalhes. Entretanto, é necessário assinalar que para Dewey é impossível separar a educação do mundo da vida: A educação não é preparação nem conformidade. Educação é vida, é viver, é desenvolver, é crescer. (DEWEY, 1971:29). Para Dewey, a escola é definida como uma micro- comunidade democrática. Seria o esboço da “socialização democrática”, ponto de partida para reforçar a democratização da sociedade. Segundo Dewey, educação e democracia formam parte de uma totalidade, definem a democracia com palavras liberais, onde os indivíduos deveriam ter chances iguais. Em outras palavras, igualdade de oportunidades dentro dum universo social de diferenças individuais. Para Mannheim, a educação é uma técnica social, que tem como finalidade controlar a natureza e a historia do homem e a sociedade, desde uma perspectiva democrática. Define a educação como: O processo de socialização dos indivíduos para uma sociedade harmoniosa, democrática porem controlada, planejada, mantida pelos próprios indivíduos que a compõe. A pesquisa é uma das técnicas sociais necessárias para que se conheçam as constelações históricas especificas. O planejamento é a intervenção racional, controlada nessas constelações para corrigir suas distorções e seus defeitos. O instrumento que por excelência põe em pratica os planos desenvolvidos é a Educação. (MANNHEIM, 1971:34) A prática da socialização percorre diversos espaços, como família e outros grupos primários, a escola, clubes, sindicatos, etc. Assim, a pratica democrática emerge horizontalmente permitindo a estruturação duma sociedade igualitária. Concorda com Dewey que essa prática deveria ser institucionalizada. Os alunos, a escola e a sociedade O que querem os alunos? Que oportunidades se lhes apresentam na sociedade em mudança? O que quer a sociedade? Como os jovens se comportam frente às mudanças? A pesquisa “Estudos Sociodemográficos sobre a Juventude Paulista” , da Fundação SEADE, responde em boa parte à questão. O que diz? Vejamos. Os adolescentes dizem, na maioria dos casos, que desejam trabalhar para ajudar financeiramente a família, pelo desejo de autonomia financeira e para adquirir experiência profissional. A família apóia esta decisão, porque atribui ao trabalho um valor ético e protetor. No entanto, no período compreendido entre 1986 e 1996, a taxa de ocupação dos adolescentes diminuiu cerca de 20%. Um dos fatores que favorece a inclusão no mercado de trabalho é o nível educacional. Se as chances de inserção no mercado de trabalho dos jovens e adolescentes na Região Metropolitana da Grande São Paulo diminuíram, entre 86 e 96, o atributo escolaridade tornou-se um critério para obtenção de um emprego ou ocupação, mas não uma garantia. Se o atributo escolaridade passa a fazer diferença, qual escolaridade faz mais diferença, se tomarmos como parâmetro as mudanças na organização do trabalho, em função dos avanços tecnológicos? Como organizar a aprendizagem para que os alunos ganhem melhores condições de inserção na sociedade e no trabalho? Esta é a nossa questão. 8 Há um outro dado importante a considerar: o país e, em especial, o estado de São Paulo, entram no século XXI “com a maior população juvenil de sua história demográfica.” Este contingente jovem é o mais sensível e vulnerável às mudanças e se vê frequentemente excluído, inclusive na esfera educacional, tendo em vista a insuficiência e a inadequação do que lhe é oferecido face às exigências sociais. “ A dificuldade de acesso ao trabalho dos jovens se agrava nos grupos de menos escolaridade e agrava a exclusão , dado que sem emprego não se tem rendimento próprio nem condições de vivenciar a própria juventude, o que impede que se desenvolva a necessária motivação para elaborar projetos de futuro”. (Madeira,Felicia/20 anos no ano 2000, p.9). Os depoimentos não surpreendem; as análises sobre os problemas da juventude no mundo, talvez. Diz Castells: “ a rebeldia dos jovens de antigamente era uma atitude dinâmica sem a qual não haveria mudança social possível, mas o que se observa, atualmente, é uma dissonância cognitiva entre o que os jovens sentem e os valores e as mensagens que a sociedade lhes transmite. É importante definir o conteúdo e o sentimento dessa cultura juvenil, particularmente dos jovens das camadas populares mais pobres.” O desafio é, sem dúvida, muito grande. A definição desse conteúdo e da cultura juvenil é mais uma questão que nos diz respeito e deve se fazer por meio das observações em cada unidade escolar, das relações entre professores e alunos, das relações entre os alunos. Isso significa dizer que não há uma perspectiva pronta, que deva explicar como são os jovens que estão em cada escola e como abordá-los. Os estudos realizados sobre a juventude permitem uma reflexão inicial, mas é preciso verificar de que ponto de vista estão falando, que recortes fazem ao abordar a questão. Muitos desses estudos preocupam-se com a violência ou com o uso de drogas: são reveladores de uma situação cotidiana, valiosos conhecimentos, mas não dão conta de todas as demais questões e nem se propuseram a tal. Precisamos de uma escola que possa responder, também, a outras perguntas.É possível “reinventar” a escola e transformá-la em um espaço de jovens e para jovens? É possível construir essa escola, garantindo uma qualidade diferenciada de aprendizagem? Que características apresenta essa escola? Certamente é possível, por mais que já tenhamos inventado. Que ninguém nos negue o esforço e a vontade de mudar. Mas, como? A nova proposta, expressa nas Diretrizes e Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio, aponta direções. Não deve ser tomada como uma proposta fechada, mas como uma orientação para a elaboração da política de escola, consideradas a história, a experiência e as peculiaridades. A educação nunca deixou de ser a via e o caminho da marcha e crescimento da espécie humana. Afinal, a evolução do homem, se em parte foi biológica, somente se efetivou com o imenso esforço histórico- social que o trouxe até as alturas do presente desenvolvimento científico e cultural. E todo aquele processo histórico pode, em rigor, ser considerado resultado do intercurso entre a condição humana e a educação. Mas uma coisa é tal processo espontâneo e mais ou menos inconsciente do desenvolvimento do homem, e outra o projeto consciente de conquista do saber e de sua aplicação à vista. Este projeto nunca foi geral nem abrangeu toda a espécie. Subordinado à estrutura hierárquica da sociedade, foi, desde seu início na remota. Antiguidade, projeto especial para a educação dos poucos privilegiados, que realmente dominavam a espécie e detinham o poder. Daí a relação, inerente e intrínseca, entre educação e política. A criação de políticas educacionais nacionais deve ser prioridade de qualquer governo comprometido com o desenvolvimento da sociedade brasileira, pois, com certeza, programas e ações isoladas não poderão produzir resultados na escala demandada pelo país. Nesse sentido uma política interessante seria a análise e replicação das ações que já apresentam sucesso em seus objetivos. A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE TODOS Afinal, contudo, nas alturas do século XVIII, amadureceu a possibilidade, e com ela a ideia e disposição, de oferecer a educação a todos. Algumas nações, então, generalizaram a escola para todos, esforço em que agora se debatem as nações subdesenvolvidas.O problema crítico desse período de generalização da escola foi o da quantidade e número das escolas, sendo relativamente secundário o problema do processo de ensino e de sua qualidade. Atingida que foi a expansão da escola para todos, a preocupação pelo processo do ensino tomou vulto e podemos considerá-lo dominante a partir da 2ª metade do século passado. No começo deste século, ocorreu mudança significativa: o puro e simples processo de transmissão do conhecimento e da herança cultural às crianças e aos jovens, com atenção apenas ao corpo de conhecimentos, hábitos e atitudes do passado, a serem inculcados pela endoutrinação - foi considerado insuficiente e inadequado, e o problema da criança, do aluno, surgiu, vindo a se fazer central em nosso século. Já não era só a quantidade de escolas, já não era só o problema de organizar e melhorar o conteúdo do ensino fundado no passado; já agora, o importante é o estudo da criança e de seus problemas e a descoberta do melhor método de acompanhar-lhe o crescimento e a aquisição da cultura de seu tempo e de seu presente e futuro. POLÍTICAS EDUCACIONAIS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL. FUNDAMENTOS E CONCEPÇÕES DE GESTÃO E DIFERENTES FORMAS DE ESTRUTURAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA. 9 A conjuntura das políticas educacionais no Brasil ainda demonstra sua centralidade na hegemonia das ideias liberais sobre a sociedade, como reflexo do forte avanço do capital sobre a organização dos trabalhadores na década de 90. A intervenção de mecanismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial, aliada à subserviência do governo brasileiro à economia mundial, repercute de maneira decisiva sobre a educação. Em contrapartida, a crise do capitalismo em nível mundial, em especial do pensamento neoliberal, revela, cada vez mais, as contradições e limites da estrutura dominante. A estratégia liberal continua a mesma: colocar a educação como prioridade, apresentando- a como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das oportunidades”. Por outro lado, a escola continua sendo um espaço com grande potencial de reflexão crítica da realidade, com incidência sobre a cultura das pessoas. O ato educativo contribui na acumulação subjetiva de forças contrárias à dominação, apesar da exclusão social, característica do descaso com as políticas públicas na maioria dos governos. O propósito do presente texto é apresentar, em síntese, as principais características da educação no contexto neoliberal do Brasil, numa tentativa de contribuir com o debate de conjuntura acerca das políticas educacionais. Neste sentido, iniciamos a discussão com uma breve reflexão sobre a ideologia na educação, para, em seguida, apresentar a dimensão da crise do capitalismo e do pensamento liberal, concluindo com as principais políticas oficiais que vêm sendo propostas para a educação. 1. A IDEOLOGIA E A EDUCAÇÃO A relação da ideologia com a educação foi bastante polêmica ao longo da história. Embora o termo tenha sido primeiramente utilizado em 1801, é com o advento do marxismo que a ideologia assume uma maior importância para o pensamento humano. Conforme Marilena Chauí, o marxismo entende a ideologia como “um instrumento de dominação de classe e, como tal, sua origem é a existência da divisão da sociedade em classes contraditórias e em luta”. Além disso, a utilização do termo confunde-se com o significado de crenças e ilusões que se incorporam no senso comum das pessoas. “A ideologia é ilusão, isto é, abstração e inversão da realidade, ela permanece sempre no plano imediato do aparecer social. (...) A aparência social não é algo falso e errado, mas é o modo como o processo social aparece para a consciência direta dos homens”. Diferente da maioria dos marxistas, para os quais a ideologia consiste na expressão de interesses de uma classe social, para Karl Manheim o que define a ideologia é o seu poder de persuasão, sua “capacidade de controlar e dirigir o comportamento dos homens”. Nicola Abagnano, reforça a teoria de Manheim dizendo que “o que transforma uma crença em ideologia não é sua validade ou falta de validade, mas unicamente sua capacidade de controlar os comportamentos em determinada situação”. A compreensão de ideologia como expressão de interesses e “falsificação da realidade” com vistas ao controle social, permite a conclusão, do ponto de vista marxista, de que a estrutura social dominante constitui “aparelhos ideológicos” em forma de superestrutura, mantendo a opressão. Segundo Louís Althusser a escola é o principal aparelho ideológico da sociedade e, em seu entendimento, como a estrutura determina a superestrutura, não é possível qualquer mudança social a partir da educação. Moacir Gadotti considera a posição de Althusser bastante equivocada do ponto de vista da emancipação humana, pois gera uma situação de passividade e impotência, o que revela um caráter ideológico de sua própria teoria, já que “a subserviência da omissão interessa mais à dominação do que o combate a favor dela”. Para Gadotti, “se aceitarmos a análise de Althusser, certamente a educação enquanto sistema ou subsistema é um aparelho ideológico em qualquer sistema político. Mas se aceitarmos que ela é também ato, práxis, então as coisas se complicam. Não podemos reduzir a educação, a complexidade do fenômeno educativo apenas às suas ligações com o sistema”. De certa forma, Gramsci é que dá um novo rumo ao conceito de ideologia e, com isso, fornece valiosas contribuições para a construção da educação voltada para a transformação social. Um dos conceitos fundamentais adotados por Gramsci é o de hegemonia que, segundo ele, se dá por consenso e/ou coerção. Na sociedade dividida em classes, temos uma constante luta pela hegemonia política e a ideologia assume o caráter de convencimento, o primeiro recurso utilizado para a dominação. Do ponto de vista dos oprimidos, o embate ideológico contra a hegemonia burguesa se dá em todos os espaços em que esta se reproduz, como por exemplo, a escola. Temos então, uma luta de posição na escola, colocando a política, luta pelo poder, como o centro da ação pedagógica. A educação, portanto, é um espaço social de disputa da hegemonia; é uma prática social construída a partir das relações sociais que vão sendo estabelecidas; é uma “contra-ideologia”. Nesta perspectiva, é importante situar a posição do educador na sociedade, contribuindo para manter a opressão ou se colocando em contraposição à ela. Se o educador é um trabalhador em educação, parece coerente que este seja aliado das lutas dos trabalhadores enquanto classe, visto que as suas conquistas sociais, aparentemente mais imediatas, também dependem de vitórias maiores no campo social. Nessa perspectiva, é coerente que a posição do educador seja em favor dos oprimidos, não por uma questão de caridade, mas de identidade de classe, já que a luta maior é a mesma. Qual é a função do educador como intelectual comprometido com a transformação social? Gramsci afirma que o povo sente, mas nem sempre compreende e sabe; o intelectual sabe, mas nem sempre compreende e muito menos sente. Por isso, o trabalho intelectual é similar a um cimento, a partir do qual as pessoas se unem em grupos e constroem alternativas de mudança. Mas isso não é nada fácil: assumir a condição de intelectuais orgânicos dos trabalhadores significa lutar contra o contexto dominante que se apresenta e visualizar perspectivas de superação coletiva sem exclusão. Entender bem a realidade parece ser o primeiro 10 passo no desafio daconstrução de uma nova pesrpectiva social. Que realidade é essa que se apresenta para a educação? 2. A CRISE DO CAPITALISMO E DA IDEOLOGIA LIBERAL O atual contexto traz algumas novidades e um conjunto de elementos já presentes há muito tempo no capitalismo, ambos tentando se articular coerentemente, embora as contradições estejam cada vez mais explícitas. Em termos de estrutura social, vigora a manutenção da sociedade burguesa, com suas características básicas: a) trabalho como mercadoria; b) propriedade privada; c) controle do excedente econômico; d) mercado como centro da sociedade; e) apartheid, exclusão da maioria; f) escola dividida para cada tipo social. Porém, a novidade, em termos estruturais, é que a ordem burguesa está sem alternativa, ou seja, o capitalismo prova sua ineficácia generalizada e a crise apresentada revela seu caráter endógeno, ou seja, o capitalismo demonstra explicitamente ser o gerador de seus próprios problemas. Se o mercado é a causa da crise e se boa parte das soluções apresentadas para enfrentar esta crise prevê a ampliação do espaço do mercado na sociedade, a tendência é que os problemas sejam agravados. O fracasso do capitalismo se comprova internamente, principalmente nos países mais pobres. Além disso, o auge do neoliberalismo da década de 90 mostra suas limitações e começa a ser rejeitado em todo o mundo. Entretanto, os neoliberais, embora a maioria não se assuma como tal, usam a estratégia de atacar quem se propõe a explicitar o que ficou evidente: “Além do ataque à esquerda, como que responsabilizando os outros pelo seu próprio fracasso, alguns liberais têm se manifestado através de artigos na imprensa, afirmando que as pessoas ‘de forma pobre e maniqueista culpam o neoliberalismo e o FMI pela miséria brasileira’. Ora, será que a culpa seria do PT, da CUT, do MST, da intelectualidade e do povo brasileiro?” Nem mesmo crescimento econômico, suposta virtude da qual os intelectuais burgueses ainda se vangloriavam, o capitalismo consegue proporcionar. Conforme o economista João Machado, a economia mundial que se mantinha num crescimento de 4% na década de 60, chegou ao final da década de 90 com apenas 1%. O custo social, por sua vez, é catastrófico: a) a diferença entre países ricos e pobres têm aumentado em 110 vezes, desde a 2ª. Guerra Mundial até a década de 90; b) aumenta consideravelmente a distância entre ricos e po- bres dentro dos países; c) a crise ecológica vem sendo agravada, com a poluição das águas e diversos recursos naturais essenciais à produção. Há uma clara incompatibilidade entre a ordem burguesa e a noção de progresso civilizatório. De maneira mais conjuntural as principais características são as seguintes: a) crise do trabalho assalariado, com acentuada precarização nas relações de trabalho; b) mito da irreversibilidade da globalização, com forte carga de fatalismo; c) mundo unitário sem identidade, trazendo à tona a fragmen- tação, também no que se refere ao conhecimento; d) retorno de “velhas utopias”, principalmente na política, eco- nomia e religião; e) despolitização das relações sociais; f) acento na competitividade com a perspectiva de que al- guns se salvam já que não dá para todos. Nessa realidade está inserida a educação, como um espaço de disputa de projetos antagônicos: liberal X democrático-popular. Por um lado, o caos da ditadura do mercado como regulador das relações humanas e, por outro, a tentativa de manter a democracia como valor universal e a solidariedade como base da utopia socialista. 3. A EDUCAÇÃO NEOLIBERAL Do ponto de vista liberal, a educação ocupa um lugar central na sociedade e, por isso, precisa ser incentivada. De acordo com o Banco Mundial são duas as tarefas relevantes ao capital que estão colocadas para a educação: a) ampliar o mercado consumidor, apostando na educação como geradora de trabalho, consumo e cidadania (incluir mais pessoas como consumidoras); b) gerar estabilidade política nos países com a subordinação dos processos educativos aos interesses da reprodução das relações sociais capitalistas (garantir governabilidade). Para quem duvida da priorização da educação no países pobres, observe o seguinte trecho do vice-presidente do Banco Mundial: “Para nós, não há maior prioridade na América Latina do que a educação. entre 1987 e 1992 nosso programa anual de empréstimos para a educação na América Latina e o Caribe aumentou de 85 para 780 milhões de dólares, e antecipamos outro aumento para 1000 milhões em 1994”. Porém, não vamos nos iludir pensando que a grande tarefa dos mecanismos internacionais a serviço do capital é financiar a educação. Conforme análise de Sérgio Haddad, o principal meio de intervenção é a pressão sobre países devedores e a imposição de suas “assessorias”: “A contribuição mais importante do Banco Mundial deve ser seu trabalho de assessoria, concebido para ajudar os governos a desenvolver políticas educativas adequadas às especificidades de seus países. (...) O Banco Mundial é a principal fonte de assessoramento da política educativa, e outras agências seguem cada vez mais sua liderança”. 11 É evidente que a preocupação do capital não é gratuita. Existe uma coerência do discurso liberal sobre a educação no sentido de entendê-la como “definidora da competitividade entre as nações” e por se constituir numa condição de empregabilidade em períodos de crise econômica. Como para os liberais está dado o fato de que todos não conseguirão “vencer”, importa então impregnar a cultura do povo com a ideologia da competição e valorizar os poucos que conseguem se adaptar à lógica excludente, o que é considerado um “incentivo à livre iniciativa e ao desenvolvimento da criatividade”. Mas, e o que fazer com os “perdedores”? Conforme o Prof. Roberto Lehrer (UFRJ), o próprio Banco Mundial tem declarado explicitamente que “as pessoas pobres precisam ser ajudadas, senão ficarão zangadas” . Essa interpretação é precisa com o que o próprio Banco têm apresentado oficialmente como preocupação nos países pobres: “a pobreza urbana será o problema mais importante e mais explosivo do próximo século do ponto de vista político”. Os reflexos diretos esperados pelo grande capital a partir de sua intervenção nas políticas educacionais dos países pobres, em linhas gerais, são os seguintes: a) garantir governabilidade (condições para o desenvolvimen- to dos negócios) e segurança países “perdedores”; b) quebrar a inércia que mantém o atraso nos países do cha- mado “Terceiro Mundo”; c) construir um caráter internacionalista das políticas públicas com a ação direta e o controle dos Estados Unidos; d) estabelecer um corte significativo na produção do conheci- mento nesses países; e) incentivar a exclusão de disciplinas científicas, priorizando o ensino elementar e profissionalizante. Mas, é evidente que parte do resultado esperado por parte de quem encaminha as políticas educacionais de forma global fica frustrada por que sua eficácia depende muito da aceitação ou não de lideranças políticas locais e, principalmente, dos educadores. A interferência de oposições locais ao projeto neoliberal na educação é o que de mais decisivo se possui na atual conjuntura em termos de resistência e, se a crítica for consistente, este será um passo significativo em direção à construção de um outro rumo, apesar do “massacre ideológico” a que os trabalhadores têm sido submetidos durante a última década. Em função dessa conjuntura política desfavorável, podemos afirmar que,em termos genéricos, as maiores alterações que ultimamente tem sido previstas estão chegando às escolas e, muitas vezes, tem sido aceitas sem maiores discussões a seu respeito, impedindo uma efetiva contraposição. Por isso, vamos apresentar, em grandes eixos, o que mais claramente podemos apontar como consequências do neoliberalismo na educação: 1- Menos recursos, por dois motivos principais: a) diminuição da arrecadação (através de isenções, incentivos, sonegação...); b) não aplicação dos recursos e descumprimento de leis; 2- Prioridade no Ensino Fundamental, como responsabilidade dos Estados e Municípios (a Educação Infantil é delegada aos municípios); 3 - O rápido e barato é apresentado como critério de eficiência; 4 - Formação menos abrangente e mais profissionalizante; 5 – A maior marca da subordinação profissionalizante é a reforma do ensino médio e profissionalizante; 6- Privatização do ensino; 7- Municipalização e “escolarização” do ensino, com o Estado repassando adiante sua responsabilidade (os custos são repassados às prefeituras e às próprias escolas); 8- Aceleração da aprovação para desocupar vagas, tendo o agravante da menor qualidade; 9- Aumento de matrículas, como jogo de marketing (são feitas apenas mais inscrições, pois não há estrutura efetiva para novas vagas); 10- A sociedade civil deve adotar os “órfãos” do Estado (por exemplo, o programa “Amigos da Escola”). Se as pessoas não tiverem acesso à escola a culpa é colocada na sociedade que “não se organizou”, isentando, assim, o governo de sua responsabilidade com a educação; 11- O Ensino Médio dividido entre educação regular e profissionalizante, com a tendência de priorizar este último: “mais ‘mão- de-obra’ e menos consciência crítica”;. 12- A autonomia é apenas administrativa. As avaliações, livros didáticos, currículos, programas, conteúdos, cursos de formação, critérios de “controle” e fiscalização, continuam dirigidos e centralizados. Mas, no que se refere à parte financeira (como infra- estrutura, merenda, transporte), passa a ser descentralizada; 13- Produtividade e eficiência empresarial (máximo resultado com o menor custo): não interessa o conhecimento crítico; 14- Nova linguagem, com a utilização de termos neoliberais na educação; 15 - Modismo da qualidade total (no estilo das empresas privadas) na escola pública, a partir de 1980; 16- Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) são ambíguos (possuem 2 visões contraditórias), pois se, por um lado, aparece uma preocupação com as questões sociais, com a presença dos temas transversais como proposta pedagógica e a participação de intelectuais progressistas, por outro, há todo um caráter de adequação ao sistema de qualidade total e a retirada do Estado. É importante recordar que os PCNs surgiram já no início do 1º. mandato de FHC, quando foi reunido um grupo de intelectuais da Espanha, Chile, Argentina, Bolívia e outros 12 países que já tinham realizado suas reformas neoliberais, para iniciar esse processo no Brasil. A parte considerada progressista não funciona, já que a proposta não vem acompanhada de políticas que assegurem sua efetiva implantação, ficando na dependência das instâncias da sociedade civil e dos próprios professores. 17- Mudança do termo “igualdade social” para “equidade social”, ou seja, não há mais a preocupação com a igualdade como direito de todos, mas somente a “amenização” da desigualdade; 18 - Privatização das Universidades; 19 – Nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) determinando as competências da federação, transferindo responsabilidades aos Estados e Municípios; 20 - Parcerias com a sociedade civil (empresas privadas e organizações sociais). Diante da análise anterior, a atuação coerente e socialmente comprometida na educação parece cada vez mais difícil, tendo em vista que a causa dos problemas está longe e, ao mesmo tempo, dispersa em ações locais. A tarefa de educar, em nosso tempo, implica em conseguir pensar e agir localmente e globalmente, o que carece da interação coletiva dos educadores e, segundo Philippe Perrenoud, da Universidade de Genebra, “o professor que não se preparar para intervir na discussão global, não é um ator coletivo”. Além disso, a produção teórica só tem sentido se for feita sobre a prática, com vistas a transformá-la. Portanto, para que haja condições efetivas de construir uma escola transformadora, numa sociedade transformadora, é necessária a predisposição dos educadores também pela transformação de sua ação educativa e “a prática reflexiva deve deixar de ser um mero discurso ou tema de seminário, ela objetiva a tomada de consciência e organização da prática”. A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DE CADA UM E DA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO Presentemente, nos países desenvolvidos, entramos em nova fase: a ênfase está agora na educação individualizada, em educar não apenas todas as crianças, mas cada uma; e não para simples adaptação ao passado, mas visando prepará-la para o futuro. Opera- se, por isso mesmo, verdadeira revolução nos métodos e técnicas do ensino propriamente dito, e a atenção se volta para medir-se e apurar- se o que realmente se está conseguindo. O aluno continua a ser o problema central, constituindo-se a educação processo individual e único de cada aluno, e o seu desenvolvimento e auto-realização, a indagação maior e absorvente. A organização da escola fez-se complexa e fluida, compreendendo o estudo individual da criança e de seu desenvolvimento; o estudo da cultura em que está imersa e de sua transformação constante; o estudo da herança histórica para incorporá- la a este presente em transição; e tudo isso, com as vistas voltadas dominantemente para os prospectos do futuro. Toda a velha tranquilidade da escola, como instituição devotada ao passado, desapareceu, e a escola é hoje uma perturbada fronteira da vida humana, debruçada sobre o futuro e embaraçada e aflita com as perplexidades e prospectos do presente. A SITUAÇÃO NO BRASIL Entre nós, estamos ainda na fase inicial. O problema dominantemente quantitativo. Mais escolas, maior matrícula. Todavia, os tempos são outros, e já não podemos limitar-nos ao tranquilo esforço de ensinar a ler, escrever e contar, multiplicando rotineiramente as escolas. Temos de realizar a tarefa que as demais nações realizaram nos relativos sossegos do passado, em pleno maelstrom moderno, tudo criando de novo, em condições mais difíceis que as do passado, e obrigados a acompanhar métodos e técnicas para que faltam as condições sociais adequadas e o próprio conhecimento e saber necessário para aplicá-las. O problema fez-se tão difícil e atordoante, que não são de admirar a confusão, o desnorteamento e o extraordinário desperdício e amontoado de erros com que vamos conduzindo nosso esforço educativo. Para nos equilibrarmos no turbilhão das forças e projetos desencadeados, apegamo-nos à simplificação da “educação para o desenvolvimento”, tentando limitar o problema ao treino generalizado para a vocação e o trabalho. Mas também este não é algo simples como o rotineiro trabalho antigo, mas conjunto de técnicas e habilitações complexas, difíceis e especializadas, em permanente transformação e a exigir desenvolvimento mental muito maior do que o do velho artesanato. O GOVERNO BRASILEIRO E A POLÍTICA EDUCACIONAL Embora não administre diretamente a educação básica, o governo federal tem tido papel importante neste nível pela redistribuição de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional - FNDE. O FNDE foicriado como fonte adicional ao financiamento do ensino: é uma contribuição patronal (2,5% da folha de pagamento das empresas) destinada ao financiamento do ensino de primeiro grau, suplementando os recursos públicos orçamentários regulares. Esta contribuição chama- se de salário-educação e constitui um fundo que tem recursos consideráveis: cerca de 1,5 bilhões de dólares por ano 1/3 dos quais constitui a quota federal, (cerca de 500 milhões de dólares) e é utilizado pelo Ministério da Educação, que pode repassá-lo a municípios, estados e até a entidades privadas, devidamente credenciadas. Nos estados mais pobres, a quota federal é muito superior à estadual, e portanto decisiva para a manutenção e melhoria do ensino fundamental. O Ministério da Educação tem, assim, um instrumento potencialmente poderoso para focalizar os recursos aonde eles são mais necessários. É com estes recursos, tanto da quota estadual quanto da Federal, que se constroem e reformam escolas, se compra equipamento escolar e se treinam os professores. É com os recursos do FNDE que se constroem por ano cerca de 10 mil salas de aula, o que corresponde ao crescimento necessário para absorver o aumento 13 anual da população escolar brasileira (cerca de 2% ao ano) e corrigir as distorções na distribuição das escolas e do número de salas de aula que decorrem da movimentação da população. O problema fundamental com a distribuição dos recursos do FNDE é que a demanda por recursos é muito superior (cerca de 2 a 3 vezes) à sua disponibilidade. Além disto, a própria flexibilidade na aplicação dos recursos do Fundo, assim como o seu volume, tornam-no alvo de pressões clientelistas. Deputados e políticos em geral tentam direcionar a aplicação dos recursos de acordo com os seus interesses, seja obtendo do Ministro da Educação boa acolhida para suas propostas, seja incluindo no orçamento da União emendas para beneficiar determinados municípios. Muitas vezes os recursos são orientados para municípios e estados de aliados do Governo, que não são necessariamente os que apresentam maiores “déficits” de escolarização. A racionalização no uso destes recursos buscada pela gestão Goldemberg visava, primeiro, atender aos municípios mais pobres; segundo, direcionar recursos para a formação de professores; terceiro, associar a liberação dos recursos do FNDE ao aumento dos salários dos professores por parte dos estados e municípios. Os programas de merenda escolar e do livro didático são os outros dois instrumentos importantes utilizados pelo governo federal em sua atuação em relação ao ensino básico. Nos dois casos, trata-se de distribuir um grande volume de produtos para todo o país, a partir de estruturas centralizadas responsáveis pela compra das mercadorias e sua distribuição nacional. Estes programas têm sofrido grande instabilidade, pela precariedade de sua fonte de recursos (o FINSOCIAL teve seus recursos diminuídos no início da década de 90 por uma série de questionamentos jurídicos), e sempre sofreram problemas de ineficiência administrativa e de vulnerabilidade à política de patronagem e corrupção associados a grandes programas distributivos. A tendência recente, em relação à merenda escolar, tem sido a de descentralizar o programa, transferindo os recursos diretamente às escolas. Em relação ao livro didático, o programa sofre de gigantismo (220 milhões de livros foram distribuídos entre 1986 e 1991), excesso de títulos (3.500 em 1992), nenhum sistema de avaliação de qualidade, e do marketing agressivo de algumas editoras interessadas em obter grandes contratos de distribuição. O governo Collor instituiu um programa de Centros Integrados de Atendimento à Criança (CIACS), que era muito semelhante, em intenção, ao do Estado do Rio de Janeiro, e estava sujeito às mesmas críticas, inclusive a do potencial de corrupção e clientelismo político implícito em um projeto de construir 5 mil escolas em todo o país a um custo de dois milhões de dólares por unidade, sem que o governo federal dispusesse de meios financeiros e humanos para operá-las. Na gestão Goldemberg no Ministério da Educação houve um esforço no sentido de alterar o projeto inicial, reduzindo seus custos, buscando associações com as secretarias de educação e outros setores da comunidade, e abrindo a possibilidade de utilizar o programa como mecanismo para melhorar a infraestrutura das redes educacionais dos estados. O fim do governo Collor não significou o fim do projeto dos CIACS. Para não perder os investimentos já realizados, da ordem de um bilhão de dólares, o Ministro Maurílio Hingel decidiu dar continuidade ao programa em outros termos, inclusive pela alteração de sua sigla (CAICS, Centros de Atenção Integral à Criança), com gastos previstos de 3 bilhões de dólares para o período 1993-1995. Em junho de 1993 o Ministério da Educação divulgou o Plano Decenal de Educação Para Todos, elaborado em cumprimento das resoluções da Conferência de Educação Para Todos de Jomtien, Tailândia, de 1990. e formalmente apresentado à V Reunião do Comitê Regional Intergovernamental do Projeto Principal de Educação na Região da América Latina e do Caribe da UNESCO em Santiago de Chile no mesmo mês. A declaração foi precedida de um “compromisso nacional de educação para todos”, assinado por representantes do Ministério, das secretarias de educação estaduais e municipais e de associações profissionais de vários tipos. O plano incorpora os objetivos gerais da Declaração de Jomtien, retomando e ampliando iniciativas anteriores. A lista das medidas propostas inclui: o programa nacional de atenção integral à criança e ao adolescente, (os CAICS); o Projeto Nordeste de educação, realizado com o apoio do Banco Mundial; a criação de um sistema nacional de avaliação básica; um programa de capacitação de professores, dirigentes e especialistas; um programa de apoio a inovações pedagógicas e educacionais; uma estratégia de equalização no financiamento de educação; a descentralização dos programas de assistência ao estudante; um programa de assistência e agilização do sistema de financiamento; e participação no Pacto pela Infância, que busca desenvolver o atendimento estudantil nas áreas de educação, saúde e combate à violência. Em seu conjunto, o plano marca a aceitação formal, pelo governo federal brasileiro, das teses e estratégias que vêm sendo formuladas nos foros internacionais mais significativos na área da melhoria da educação básica. Ainda que sua implementação efetiva dependa de recursos econômicos, institucionais, técnicos e políticos ainda incertos, sua importância estratégica deve ser enfatizada. As reformas estaduais tiveram como principal resultado o crescimento extraordinário de um novo setor educacional, o da educação pré-escolar, enquanto que a educação de primeiro e segundo graus cresceu pouco ou até mesmo regrediu, como no caso de Minas Gerais. Este padrão foi observado em todo o país, como mostra o quadro 2. Os dados disponíveis sugerem que a principal inovação pedagógica, que foi a introdução do ciclo básico para os dois primeiros anos do primeiro grau, falhou em seu principal objetivo, que era o de reduzir as altas taxas de repetência no início da vida escolar; os alunos que eram reprovados antes ao final de um ano passaram a ser reprovados ao final de dois. Do ponto de vista administrativo e institucional, a principal meta em alguns dos estados foi reduzir o poder centralizador e burocrático das secretarias de educação, e devolvê-lo à comunidade. Este projeto encontrou, naturalmente, resistênciapor parte das administrações, que em muitos casos restabeleceram seu poder mais tarde. Mas elas servi- ram também para mostrar que este processo de descentralização pode significar, simplesmente, a transferência de poderes para os municí- pios, de uma parte, ou para as associações e sindicatos de professo- 14 res, por outra, e que de nenhum dos dois é possível esperar, necessa- riamente, um envolvimento com reformas que signifiquem uma trans- formação mais profunda das práticas educacionais. Prefeituras podem ser tão ou mais clientelísticas e burocráticas, quanto os governos esta- duais; e professores, frequentemente frustrados por baixos salários e pouco reconhecimento, tendem a resistir à implantação de sistemas de avaliação, assim como a projetos experimentais e inovadores que introduzam diferenciações nos sistemas educacionais. A existência destes problemas nas tentativas de descentralização não significa, no entanto, que a educação possa ser conduzida de forma centralizada ou burocrática, ou a partir de grandes projetos de impacto político e alta visibilidade, em busca de dividendos eleitorais de curto prazo. Em relação ao governo federal, a experiência confirma que a legislação foi sábia ao restringir o papel do Ministério da Educação nas questões da educação básica. Todas as ações centralizadas do governo federal padecem dos mesmos problemas de gigantismo, patronagem política, ineficiência no uso de recursos, e possibilidades de corrupção. Parece claro que o governo federal deveria concentrar seus esforços no desenvolvimento de sistemas adequados de avaliação e acompanhamento do ensino básico no país, na redistribuição de recursos por critérios estritamente técnicos, baseados em diferenciais de renda e projetos pedagógicos de qualidade, e no apoio direto a regiões de carência extrema, que não tenham condições de gerar e administrar minimamente seus próprios recursos. POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS E SUAS IMPLICAÇÕES CURRICULARES Na última década do século XX, alguns (as) educadores (as) brasileiros (as) demonstraram suas preocupações com os resultados da escolarização da maioria da população brasileira e desenvolveram estudos que vem nos mostrar os vínculos entre esses resultados insatisfatórios e as políticas educacionais implementadas no país. Elba Siqueira de Sá Barreto (2000:15) faz uma análise de propostas curriculares implementadas por práticas políticas de governos nas duas últimas décadas do século XX no Brasil. Em seu estudo, ela admite que mesmo as propostas tendo assumido um discurso democrático ”(...) as características de insucesso escolar da maioria da população pouco se alteraram, visto que as mudanças preconizadas e implementadas no período não afetaram profundamente as questões estruturais dos sistemas públicos de ensino, responsáveis, em proporção significativa, pelos seus altos índices de fracasso.” A pesquisadora associa estes resultados às políticas educacionais públicas por serem prescritivas, homogeneizantes e centralizadas no Estado, bem como por seus mecanismos de divulgação (livros didáticos), implementação (capacitação de docentes à distância) e controle (avaliação externa). Apesar da autora não fazer uso da denominação políticas curriculares públicas, entendemos, no entanto, que as mesmas características podem ser igualmente atribuídas a tais políticas. Contudo, a prescrição, a homogeneização e a centralização não têm sido um problema restrito ‘as fronteiras nacionais. Em consonância com as políticas hegemônicas da década de 90, existe aí uma forte relação com as políticas globais. Antonio F. B. Moreira e Elizabeth Macedo (2000:108), em estudo revisionista sobre transferência educacional, somam seus esforços ao estudo de Barreto pois, além de relacionarem a insatisfação no que tange aos resultados da escolarização com o distanciamento entre teoria e prática no campo do currículo, destacam com propriedade a relação existente entre políticas educacionais nacionais e globais. Reconhecem que “(...) ainda que tenhamos avançado na produção de conhecimento teórico, a prática pedagógica, na maioria das nossas escolas, ainda não sofreu modificações mais substantivas.” E, oportunamente, situam essa problemática no contexto de globalização das políticas educacionais, evidenciando a complexidade da questão e suas estreitas relações com o campo do currículo, o que pode ser ilustrado com a seguinte afirmação: “(...) se no plano teórico talvez estejamos menos susceptíveis às importações instrumentais, no âmbito das políticas educacionais sentimos com clareza a força do modelo neoliberal internacional, definindo os rumos do currículo e do processo de escolarização no Brasil.” (Ib:106). Força que, segundo os mesmos, pode ser visualizada pela presença do Banco Mundial na definição de políticas educativas, fazendo prevalecer a lógica financeira sobre a social, subordinando assim a educação `a racionalidade econômica, bem como por medidas que implantam os princípios neoliberais na educação, tornando-a mais competitiva. Anteriormente, Moreira (1998:30), já havia sugerido uma forte relação entre desafios educacionais, teoria curricular e política curricular. Ao fazer um balanço da crise da teoria crítica de currículo, colocando como sintoma dessa crise o distanciamento entre avanços teóricos e avanços práticos, ele recomenda que “(...) os curriculistas atuem nas diferentes instâncias da prática curricular, participando da elaboração de políticas públicas de currículo, acompanhando a implementação das propostas e realizando estudos nas escolas que avaliem essa implementação.” Dessa forma, esse autor coloca em pauta a necessidade não só dos pesquisadores (as) em currículo atuarem em políticas públicas como, fundamentalmente, de direcionarem seus esforços de pesquisa para as políticas curriculares. Na mesma perspectiva desses autores, Corinta M. G. Geraldi (2000) traz contribuições significativas para avançarmos em relação à questão em pauta. Essa pesquisadora reforça a compreensão dos vínculos entre política curricular e globalização, a necessidade de articulação teoria/prática no campo do currículo e de se realizar pesquisas em políticas curriculares, acrescentando porém que essas pesquisas deem ênfase às resistências que ocorrem ao processo de globalização. 15 No estudo ora focalizado, a pesquisadora parte da problemática de que nas três últimas décadas do século XX, as escolas, “mesmo que de forma incompleta, não mecânica nem linear”, têm desencadeado uma educação para a alienação ao trabalho. Ela defende a tese de que são os grandes grupos internacionais que estão planejando a educação através da criação de uma rede de controle da educação; rede que para realizar-se precisa da avaliação, e esta, por sua vez, necessita de “uma referencia básica... [que] ... possa ser efetivada em nível nacional” (Ib,200), daí a existência dos Parâmetros Curriculares Nacionais. É nesse contexto, portanto, que situa os Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental, considerando-os um exemplo de gestão de políticas curriculares oficiais globais. Geraldi, destaca, no entanto, a existência de contradições. No que diz respeito às políticas curriculares, salienta a existência de alternativas às propostas hegemônicas oficiais, entendendo que estas se encontram presentes nas escolas, no “currículo em ação”. Estes estudos indicam, portanto, uma clara insatisfação para com os resultados da escolarização no ensino fundamental no Brasil, sendo que estes resultados insatisfatóriosestão relacionados com a política curricular e esta, por sua vez, com as implicações da globalização na política educacional. Essas contribuições significativas, no entanto, não respondem mais às exigências do atual contexto social e aos avanços no campo do currículo. As abordagens de pesquisa destes estudos, mesmo a de Geraldi que destacam as alternativas produzidas localmente, são desenvolvidas no sentido global/local, mostrando, fundamentalmente, o poder das relações hegemônicas. Alertamos assim para a carência de centralidade dos processos de contra-hegemonia em estudos de política curricular, sem, no entanto, deixar de reconhecer as relações hegemônicas. Necessitamos de uma abordagem que dê visibilidade aos processos contra-hegemônicos e, são as considerações de Santos (2002), que veem nos auxiliar. O referido autor entende a globalização como algo plural, contraditório, complexo, cheio de paradoxos, não monolítico e envolvendo conflitos. Destaca o movimento das relações de poder de hegemonia e contra-hegemonia concluindo que “o global acontece localmente... [e coloca como pauta de luta que] ... é preciso fazer com que o local contra-hegemônico também aconteça globalmente.” (Ib:74). Essa compreensão não dicotomiza, não polariza e nem cria uma hierarquia nas relações global/local.. Em função disso, Santos considera interessante que, para fins analíticos, a definição de tópicos de investigação ocorra em termos locais e não globais. Essas relações entre local/global ficam ainda mais evidentes quando encontramos em Santos (Op cit) e dentro dos chamados estudos pós-colonialistas, mais especificamente o estudo de Said (1978), o entendimento de que as pesquisas que destacam o poder local, o fazem a partir da identificação de forças culturais em configurações históricas particulares. Esse estudo de Said, ao tratar da relação entre ocidente e oriente, nos leva ao entendimento de que não podemos fazer uma oposição binária da relação entre local e global porque as fronteiras geográficas são um tipo de conhecimento imaginativo; a definição dessas fronteiras e oposições entre local e global é fruto de uma geografia imaginativa. Cada vez que se pronuncia que o local é instituído pelo global, aumenta-se a fenda que separa os dois e restringe o espaço do local definindo sua anatomia. Levando-se em conta essas pertinentes contribuições, entendemos que avançar na compreensão e na implementação de políticas curriculares com a perspectiva de enfrentamento dos resultados insatisfatórios da escolarização, significa desenvolvermos estudos que invertam a abordagem hegemônica até hoje presente nesses estudos, com o intuito de se retirar o foco do controle vertical e do sentido global/local para visualizarmos o movimento de hegemonia e contra- hegemonia nas relações de poder estruturadoras dessas políticas curriculares. Entendemos, no entanto, que a inversão deva ocorrer somente no sentido da perspectiva, do ponto de partida, para não cairmos em semelhante equívoco, perdendo com isso os condicionantes globais. Afinal “(...) as revoluções da cultura em nível global causam impacto sobre os modos de viver, sobre os sentidos que as pessoas dão `a vida, sobre suas aspirações para o futuro - sobre a cultura num sentido mais local.” (Hall, 1997: 18). Isto não significa, no entanto, que esses condicionantes sejam inexoráveis, mas que as implicações entre global/local e vice-versa, constituem diferentes processos culturais, não possuindo mais uma identidade nem com o global, nem com o local, resultando assim em culturas híbridas e, possivelmente, em diferentes relações de poder. Significa também que, a partir dessas implicações, não haverá mais um global ou um local legítimo, uma vez que os novos processos culturais e as consequentes relações de poder nelas produzidas passam a interferir em ambas (Hall, 1997; Santos,2003). Construir essa inteligibilidade local/global e hegemonia/contra- hegemonia requer, necessariamente, uma compreensão do que seja política curricular e de uma metodologia analítica para pesquisa em política curricular. Afinal, o que é política curricular? Como ela ocorre? Qual seu processo de construção? Quem são seus agentes? Como investigá-la? É a partir dessas indagações que desenvolveremos o próximo item. POLÍTICA CURRICULAR COMO POLÍTICA CULTURAL O tema das políticas curriculares tem ficado subsumido ao das políticas educacionais. No Brasil, somente a partir da década de 90, através dos estudos expostos anteriormente, é que esse assunto foi ganhando visibilidade na literatura acadêmica. Em consequência, é fora do país que encontramos pesquisadores que tem discutido com mais especificidade e profundidade essa temática. Dispomos assim dos estudos de Suárez (1995), Gimeno Sacristán (1998), Bowe & Ball (1992) e Ball (1997, 1998), para obtermos elementos com o propósito de definição e construção metodológica de pesquisa em política curricular com uma abordagem que favoreça as necessidades anteriormente enunciadas. Suárez (1995:110), ao tratar das relações entre políticas públicas e reforma educacional na Argentina, afirma que: “(...) a formulação e implementação de políticas curriculares não são neutras, nem muito 16 menos são um asséptico processo de elaboração e instrumentação técnicas. No fundamental, são o resultado sintético de um (muitas vezes silenciado e oculto) processo de debate ou de luta entre posicionamentos, interesses e projetos sociais, políticos, culturais e pedagógicos opostos e, sobretudo, antagônicos. O processo de determinação dessas políticas não é, de forma alguma, unívoco, nem tampouco está isento de contradições e de tensões.” A contribuição central desse autor consiste na caracterização da política curricular enquanto síntese de um processo de luta entre projetos sociais com interesses antagônicos implicando em contradições. Do mesmo modo, Gimeno Sacristán (1998:109), ao discutir a reforma curricular ocorrida na Espanha, parte do pressuposto de que as teorias curriculares são elaborações parciais, insuficientes para compreender a complexidade das práticas escolares. Em função dessa análise, propõe uma concepção processual de currículo e procura situar a política curricular como elo entre interesses políticos, teorias curriculares e práticas escolares. Define política curricular como “(...) um aspecto específico da política educativa, que estabelece a forma de selecionar, ordenar e mudar o currículo dentro do sistema educativo, tornando claro o poder e a autonomia que diferentes agentes têm sobre ele (...)” Essa compreensão é importante no momento em que salienta, diferentemente de Suárez, a existência de instâncias distintas que intervém no processo de construção das políticas curriculares. Isso ocorre na medida em que reconhece as relações entre Estado, política educativa, sistema educacional e práticas pedagógicas. Não obstante, é a transposição das características do que Sacristán (1998:101) define como processo curricular para política curricular que ajuda no entendimento desta última. Assim como no sistema curricular, na política curricular (...) as decisões não se produzem linearmente concatenadas, obedecendo a uma suposta diretriz, nem são frutos de uma coerência ou expressão de uma mesma racionalidade. Não são estratos de decisões dependentes umas de outras, em estrita relação hierárquica ou de determinação mecânica e com lúcida coerência para com determinados fins ... São instâncias que atuam convergentemente na definição da prática pedagógica (...)” Dessa elucidaçãosobre política curricular podemos destacar as possibilidades de ruptura nela existente, uma vez que o autor evidencia o caráter conflitivo e contraditório da mesma, destacando a existência de decisões independentes e insubordinação, bem como de práticas convergentes. Apesar das contribuições fornecidas por Suarez e Gimeno Sacristán, o primeiro não discute a política curricular em termos analíticos e o segundo, apesar de avançar ampliando a caracterização, defende uma compreensão de política curricular que ainda possui limites, especialmente no que diz respeito à definição de uma metodologia de pesquisa em política curricular. Isto ocorre porque, ao explorar o processo curricular, Gimeno Sacristán o divide em diferentes níveis ou fases - currículo prescrito, currículo apresentado aos professores, currículo moldado pelos professores, currículo em ação e currículo avaliado -, fragilizando ao nosso ver, o caráter processual e de totalidade da política curricular. Além disso, ressalta o currículo prescrito como um instrumento da política curricular, perdendo novamente o caráter processual desta, passando a compreendê-la como algo externo ao que denomina de currículo prescrito e, do mesmo modo, como algo externo às escolas. Apesar destes autores fornecerem subsídios teóricos em relação à política curricular, entendemos que suas definições e direcionamentos não atendem as exigências presentes na realidade educacional contemporânea, a qual se encontra situada em um contexto onde a centralidade da cultura, tanto em termos substantivos, quanto epistemológicos, se caracteriza por complexas imbricações entre global/local e entre fatores econômico, político e cultural (Santos, 2003). Essas complexas imbricações são visualizadas a partir da ampliação do campo político, desencadeada por Williams (Apud Santos 2002:53). Este entende que a política envolve “(...) uma disputa sobre um conjunto de significações culturais.” Através dessa ampliação, temos o destaque da relevância da cultura para compreensão das relações de poder; relevância que, em tempos de globalizações, “(...) reside no fato de ela ser (...) ‘o campo em que as contradições políticas e econômicas são articuladas’ (Lowe e Lloyd, 1997a: 32, nota 37).” (Santos, 2003: 34). Nessa perspectiva, tanto a política como a cultura perdem suas fronteiras na medida em que são desterritorializadas, configurando-se, assim, uma relação dialética entre ambas, o que pode ser ilustrado com a seguinte citação de Santos (Op cit: 34-35): “(...) ‘a ‘cultura’ obtém uma força ‘política’ quando uma formação cultural entra em contradição com lógicas políticas ou econômicas que tentam refuncionalizá-la para exploração ou dominação’ (Lowe e Lloyd, 1997a). A cultura será, assim, encarada não como ‘uma esfera num conjunto de esferas e práticas diferenciadas’, mas como ‘um terreno em que a política, a cultura e o econômico formam uma dinâmica inseparável’ (Lowe e Lloyd, 1997a).” Essa ampliação do campo político alavancou avanços teóricos no que tange ao campo do currículo. Costa (1999: 37-38) sintetiza com propriedade parte desses avanços definindo currículo “como um campo em que estão em jogo múltiplos elementos, implicados em relação de poder, ...[a escola e o currículo] ...como territórios de produção, circulação e consolidação de significados (...)” Assim como essa autora, não pretendemos estabelecer aqui uma relação entre currículo e cultura na perspectiva de que a escola trabalha com o conhecimento, este é cultura e, portanto, a escola trabalha com cultura; mas, sim, quebrar as fronteiras estabelecidas entre ambos, entendendo o currículo como um terreno privilegiado da política cultural e a cultura como o conjunto de “(...) sistemas de significado que os seres humanos utilizam para definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl relação aos outros ... [que]... dão sentido `as nossas ações.” (Hall, 1997: 16). Entendemos que a cultura tornou-se, em seus aspectos substantivos e epistemológicos, um elemento central na mudança histórica deste milênio. Tanto o é que as relações de poder, cada vez mais, são simbólica e discursivamente travadas. Em função disso, reconhecemos que existe uma conexão entre cultura e política, onde a própria política passa a ser vista como política cultural. (Hall, 1997) Torna-se oportuno, nesse momento, conceituar política curricular a partir da definição de política cultural baseada no entendimento de Álvarez et. al. (Apud Santos 2003: 39) sobre cultural politics: “(...) ‘o processo acionado quando o conjunto de atores sociais formados por, e incorporando, diferentes significados e práticas culturais entram em conflito entre si’.” São, portanto, as concepções de política e de método de pesquisa em política curricular trabalhadas por Bowe & Ball (1992) e Ball (1997,1998) que entram em consonância com as questões anteriormente estabelecidas uma vez que defendem os processos de construção das políticas curriculares como processos cíclicos. Esses autores, em estudo revisionista do campo da política curricular, denunciam as pesquisas desse campo por fragmentarem o processo político ao focalizarem ora a produção, ora a implementação das políticas. Para eles, as pesquisas que focalizam a produção da política ficam restritas a dimensão macro da realidade social, silenciando as vozes daqueles envolvidos na prática pedagógica, deixando-os à margem da política curricular. Já as pesquisas que focalizam a implementação, apesar de sua importância por dar evidência às vozes silenciadas e por colocar seu caráter subversivo, não trabalham os condicionantes históricos dessas vozes. As consequências negativas é que ambas separam produção e implementação, teoria e prática e, consequentemente, constroem uma visão linear do processo político: ora de cima para baixo, ora de baixo para cima. Estes autores também fazem críticas à teoria de controle estatal na política curricular, ou seja, a teoria de que o Estado define linearmente essas políticas. Na crítica, desconstroem a visão de que a produção política seja separada e distante da implementação; de que a política se realiza através de uma cadeia de implementadores legalmente definidos; de que ela seja imposta; e de que os definidores da política educacional estão distantes da realidade educacional e por isso não conseguem controlá-lo. Enfim, rejeitam a concepção linear e fragmentada do processo político. Em contraposição, desenvolvem estudos sobre política curricular e a partir de então mostram que a forma como o processo político ocorre, resulta da combinação entre métodos administrativos, condicionantes históricos e manobras políticas implicando o Estado, a burocracia estatal e os conflitos políticos contínuos ao acesso desse processo político. Desses estudos concluem, ainda, que a política curricular não é imposta, uma vez que seus textos são constantemente contextualizados e recontextualizados de modo subversivo no momento da implementação. Em consequência, entendem também que as políticas definidas em nível nacional são também significativamente modificadas em nível local. Como implicação de seus estudos, definem o processo político como aquele que emerge de uma contínua interação entre contextos inter-relacionados e entre textos e contextos. Dessa definição, propõem um modelo analítico para pesquisa em política curricular que seja representativodo ciclo político, que dê uma representação holística ao processo político e que seja concebido como um processo dialético, conflituoso, ambíguo, plural, contraditório e histórico. Para Bowe & Ball (1992), as análises em política curricular, para terem validade política e teórica, devem considerar os três contextos primários da política curricular: o contexto de influência, o contexto de produção do texto político e o contexto da prática, todos vistos como inter-relacionados. O primeiro consiste no espaço-tempo onde os conceitos chaves são estabelecidos para gerar o discurso político inicial; o segundo tomam a forma de textos legais, oficiais, documentos e textos interpretativos que podem ser contraditórios tanto internamente, quanto na intertextualidade, onde diferentes grupos competem para controlar a representação e o propósito da política e, o terceiro, consiste nas possibilidades e limites materiais e simbólicos, bem como na leitura daqueles que implementam a política; esse contexto é entendido como espaço de origem e de endereçamento da política curricular. Temos, pois, a partir desses autores, um avanço significativo na compreensão do que seja política curricular porque, primeiro, não só definem a política curricular como explicitam seu processo de construção e, o que é mais importante, sem dicotomizá-lo. Segundo, porque dão voz a todos os agentes políticos sem criar hierarquias entre eles. Terceiro, e em consequência dos anteriores, reconhecem no processo político, uma relação dialética entre global/local, destacando não só o movimento do global para o local, mas o inverso também. Quarto, e o que é de fundamental importância para os objetivos propostos em nosso estudo, ao destacar os conflitos políticos existentes nos diferentes contextos de produção da política curricular, liberam não só a visualização de conflitos culturais no processo de construção da política curricular como também de movimentos hegemônicos e contra-hegemônicos no processo político. A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO E AS POLÍTICAS NACIONAIS Após cerca de 15 anos de silêncio na política educacional brasileira para a formação docente, volta-se a viver um intenso debate sobre a legislação que regulamentará a formação dos profissionais da educação no país. Apesar da carência de novas leis para a preparação dos educadores nesse período, a formação de professores tornou-se tema recorrente nas discussões acadêmicas dos últimos 30 anos. Com a criação das faculdades ou centros de educação nas universidades brasileiras, em 1968, a formação docente constitui-se em objeto SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl permanente de estudos nesses espaços. É evidente, também, o crescimento da investigação sobre a profissão docente nas universidades e instituições de pesquisa no Brasil, principalmente a partir da década de 1990, o que tem possibilitado um debate fundamentado em análises empíricas e teóricas e, por conseguinte, uma discussão mais qualificada sobre o tema. Todavia, as licenciaturas, cursos que habilitam para o exercício dessa profissão no país, permanecem, desde sua origem na década de 1930, sem alterações significativas em seu modelo. Como se sabe, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – lei no 9.394/96) foi, sem dúvida alguma, responsável por uma nova onda de debates sobre a formação docente no Brasil. Antes mesmo da aprovação dessa lei, o seu longo trânsito no Congresso Nacional suscitou discussões a respeito do novo modelo educacional para o Brasil e, mais especificamente, sobre os novos parâmetros para a formação de professores. Como consequência, depois de acirrada oposição de interesses, prevaleceram, no texto da LBD, os elementos centrais do substitutivo Darcy Ribeiro, afinado com a política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso, porém, com algumas modificações conseguidas em virtude do embate parlamentar. Sendo assim, a versão final dessa lei foi construída mediante a participação de diferentes sujeitos e atores sociais. Isso fez com que ela assumisse um caráter “polifônico” – segundo expressão usada por Carlos Jamil Cury –, em que distintas vozes podem ser ouvidas a partir da leitura de seu texto. Na parte mais específica sobre formação docente (Título VI – Dos profissionais da educação), por exemplo, essa característica é bastante evidente. Nela convivem termos e expressões que contêm ideias inconciliáveis, como, de um lado, “programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior”, “institutos superiores de educação”, “curso normal superior”, e, de outro, “profissionais da educação” e “base comum nacional”. Para melhor compreender as atuais discussões a respeito da formação de professores e as recentes políticas regulamentadoras dessa atividade, é importante lembrar o contexto mais amplo em que a LDB foi aprovada. Na época, particularmente na América Latina, respirava-se uma atmosfera hegemônica de políticas neoliberais, de interesse do capital financeiro, impostas por intermédio de agências como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), que procuravam promover a reforma do Estado, minimizando o seu papel, e favorecer o predomínio das regras do mercado em todos os setores da sociedade, incluindo as atividades educacionais. É importante também não esquecer, quando se discute a questão da formação docente, as atuais condições da educação brasileira. Isso porque são vários os fatores externos ao processo pedagógico que vêm prejudicando a formação inicial e continuada dos professores no país, destacando-se o aviltamento salarial e a precariedade do trabalho escolar. Sabe-se que o desestímulo dos jovens à escolha do magistério como profissão futura e a desmotivação dos professores em exercício para buscar aprimoramento profissional são consequência, sobretudo, das más condições de trabalho, dos salários pouco atraentes, da jornada de trabalho excessiva e da inexistência de planos de carreira. Finalmente, o conjunto de leis que, há pouco tempo, vem sendo formulado para regulamentar a formação docente no Brasil parece interessado em romper com o atual modelo de preparação dos profissionais da educação. Por outro lado, a urgência em qualificar um grande número de educadores para uma população escolar crescente sem o correspondente investimento financeiro por parte do governo poderá levar à repetição de erros cometidos em um passado próximo e, consequentemente, corre-se o risco de reviver cenários de improvisação, aligeiramento e desregulamentação na formação de professores no país. OS ATUAIS MODELOS DE FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL No Brasil, como se sabe, as licenciaturas foram criadas nas antigas faculdades de filosofia, nos anos 30, principalmente como consequência da preocupação com a regulamentação do preparo de docentes para a escola secundária. Elas constituíram-se segundo a fórmula “3 + 1”, em que as disciplinas de natureza pedagógica, cuja duração prevista era de um ano, justapunham-se às disciplinas de conteúdo, com duração de três anos. Essa maneira de conceber a formação docente revela-se consoante com o que é denominado, na literatura educacional, de modelo da racionalidade técnica. Nesse modelo, o professor é visto como um técnico, um especialista que aplica com rigor, na sua prática cotidiana, as regras que derivam do conhecimento científico e do conhecimento pedagógico. Portanto, para formar esse profissional, é necessário um conjunto de disciplinas científicase um outro de disciplinas pedagógicas, que vão fornecer as bases para sua ação. No estágio supervisionado, o futuro professor aplica tais conhecimentos e habilidades científicas e pedagógicas às situações práticas de aula. Esse modelo de formação docente pode ser descrito, também, segundo a conhecida analogia com o “curso de preparação de nadadores” criada por Jacques Busquet, em 1974: Imagine uma escola de natação que se dedica um ano a ensinar anatomia e fisiologia da natação, psicologia do nadador, química da água e formação dos oceanos, custos unitários das piscinas por usuário, sociologia da natação (natação e classes sociais), antropologia da natação (o homem e a água) e, ainda, a história mundial da natação, dos egípcios aos nossos dias. Tudo isso, evidentemente, à base de cursos enciclopédicos, muitos livros, além de giz e quadro-negro, porém sem água. Em uma segunda etapa, os alunos-nadadores seriam levados a observar, durante outros vários meses, nadadores experientes; depois dessa sólida preparação, seriam lançados ao mar, em águas bem profundas, em um dia de temporal. Parece consenso que os currículos de formação de professores, baseados no modelo da racionalidade técnica, mostram-se inadequados à realidade da prática profissional docente. As principais SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl críticas atribuídas a esse modelo são a separação entre teoria e prática na preparação profissional, a prioridade dada à formação teórica em detrimento da formação prática e a concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos teóricos, sem um estatuto epistemológico próprio. Um outro equívoco desse modelo consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar. Nas universidades brasileiras, esse modelo ainda não foi totalmente superado, já que disciplinas de conteúdo específico, de responsabilidade dos institutos básicos, continuam precedendo as disciplinas de conteúdo pedagógico e articulando-se pouco com elas, as quais, geralmente, ficam a cargo apenas das faculdades ou centros de educação. Além disso, o contato com a realidade escolar continua acontecendo, com mais frequência, apenas nos momentos finais dos cursos e de maneira pouco integrada com a formação teórica prévia (Pereira 1998). Nas demais instituições de Ensino Superior, em especial nas particulares e nas faculdades isoladas, é a racionalidade técnica que, igualmente, predomina nos programas de preparação de professores, apesar de essas instituições oferecerem, na maioria das vezes, apenas a licenciatura e, consequentemente, de a formação docente ser realizada desde o primeiro ano. Trata-se de uma licenciatura inspirada em um curso de bacharelado, em que o ensino do conteúdo específico prevalece sobre o pedagógico e a formação prática assume, por sua vez, um papel secundário. Um modelo alternativo de formação de professores que vem conquistando um espaço cada vez maior na literatura especializada é o chamado modelo da racionalidade prática. Nesse modelo, o professor é considerado um profissional autônomo, que reflete, toma decisões e cria durante sua ação pedagógica, a qual é entendida como um fenômeno complexo, singular, instável e carregado de incertezas e conflitos de valores. De acordo com essa concepção, a prática não é apenas locus da aplicação de um conhecimento científico e pedagógico, mas espaço de criação e reflexão, em que novos conhecimentos são, constantemente, gerados e modificados. Com base na crítica ao modelo da racionalidade técnica e orientadas pelo modelo da racionalidade prática, definem-se outras maneiras de representar a formação docente. As atuais políticas para preparo dos profissionais da educação, no país, parecem consoantes com esse outro modo de conceber tal formação. As propostas curriculares elaboradas desde então rompem com o modelo anterior, revelando um esquema em que a prática é entendida como eixo dessa preparação. Por essa via, o contato com a prática docente deve aparecer desde os primeiros momentos do curso de formação. Desse envolvimento com a realidade prática originam-se problemas e questões que devem ser levados para discussão nas disciplinas teóricas. Os blocos de formação não se apresentam mais separados e acoplados, como no modelo anterior, mas concomitantes e articulados. Contudo, em virtude da necessidade urgente de se habilitar aqueles que, hoje, no país, estão em sala de aula, exercendo o magistério, corre-se o risco de as recentes políticas educacionais para formação docente favorecerem a improvisação no preparo dos profissionais da educação. Em nome dessa urgência, a prática, que deve ocupar um espaço significativo nas grades curriculares dos cursos de licenciatura, pode ser compreendida erroneamente como formação em serviço. As horas trabalhadas em sala de aula, sem, necessariamente, um planejamento e uma intencionalidade formativa, podem, assim, ser contabilizadas nos novos cursos de licenciatura pelos profissionais já em exercício na escola. Como consequência, diminui significativamente a carga horária dos cursos de formação inicial de professores, o que, obviamente, não é desejável e representa um imenso retrocesso em termos da preparação desses profissionais. Do mesmo modo, o descuido com o embasamento teórico na formação de professores, indispensável no preparo desses profissionais, é extremamente prejudicial aos cursos de licenciatura. O rompimento com o modelo que prioriza a teoria em detrimento da prática não pode significar a adoção de esquemas que supervalorizem a prática e minimizem o papel da formação teórica. Assim como não basta o domínio de conteúdos específicos ou pedagógicos para alguém se tornar um bom professor, também não é suficiente estar em contato apenas com a prática para se garantir uma formação docente de qualidade. Sabe-se que a prática pedagógica não é isenta de conhecimentos teóricos e que estes, por sua vez, ganham novos significados quando diante da realidade escolar. Além disso, ainda de acordo com a lógica da improvisação, profissionais de diferentes áreas são transformados em professores mediante uma complementação pedagógica de, no mínimo, 540 horas (LDB, art. 63, inciso I; Parecer CNE no 04/97). Desse total, 300 horas devem ser de prática de ensino (LDB, art. 65) e podem ser contabilizadas mediante capacitação em serviço (LDB, art. 61, inciso I). Ou seja, a legislação atual permite que profissionais egressos de outras áreas, em exercício no magistério, tornem-se professores valendo-se de um curso de formação docente de 240 horas! O que parece inconcebível em outros campos profissionais – como, por exemplo, direito, medicina e engenharia – é possível para o magistério, contrariando a própria denominação do Título VI da LDB, “Dos profissionais da educação”. Diante dessa situação preocupante, perguntar-se-ia: A mesma urgência que justificou, na década de 1970, no Brasil, a criação dos cursos de licenciatura de curta duração está presente nas atuais proposições sobre formação docente? São os programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior uma reedição atualizada dos desastrosos cursos de licenciatura curta? Esse esquema é uma infeliz legitimação do “bico” na profissão docente, uma vez que profissionais egressos de outras áreas, que não optaram, de início, pela carreira de magistério, provavelmente, só estão SIMULADOS + DE 2500QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl na profissão enquanto não conseguem algo melhor para fazer. É inquestionável, portanto, que as atuais mudanças na estrutura jurídico- legal da educação brasileira tornam manifesta a necessidade da criação de um projeto pedagógico para a formação e a profissionalização de professores nas universidades e demais instituições de Ensino Superior brasileiras. Esse novo projeto pedagógico deve estar em consonância com as modificações pretendidas na educação básica. No entanto, uma leitura mais crítica do contexto permite afirmar que, nas recentes políticas educacionais, a formação de professores corre sérios riscos de improvisação, aligeiramento e desregulamentação. AS MUDANÇAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA E A FORMAÇÃO DOCENTE De acordo com a LDB, a educação básica – agora compreendida como Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio (art. 21, inciso I) – deve perder seu caráter primordialmente propedêutico e refletir uma visão mais rica de aprendizagem e desenvolvimento dos educandos, segundo a qual cada idade tem importância em si, como fases de constituição de sujeitos, de vivências e socialização, de processos de construção de valores e identidades. Essa visão está alicerçada na concepção de desenvolvimento e aprendizagem como processos, na ideia de que não se constróem conhecimentos significativos de forma cumulativa e no pressuposto de que os conhecimentos se produzem nas interações e vivências, em empreendimentos, na busca de respostas às perguntas que os educandos se fazem. À medida que a reforma na educação básica se consolida, percebe-se que a tarefa de coordenar processos de desenvolvimento e aprendizagem é extremamente complexa e exige, já a partir da própria educação infantil, profissionais com formação superior. Esse, aliás, parece ter sido o entendimento dos legisladores quando escreveram o art. 62 da LDB, apesar de este continuar admitindo a formação em nível médio, na modalidade Normal, como a exigência mínima para exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do Ensino Fundamental. Se, por um lado, é possível admitir-se que a concepção de educação básica se tornou mais avançada na legislação atual, por outro, quanto à obrigatoriedade desse nível da educação escolar, os progressos ainda são pequenos, pois o Ensino Fundamental é o único assegurado pelo Estado (LDB, art. 32). A Educação Infantil e o Ensino Médio, ainda que desejáveis para o conjunto da população, continuam sendo facultativos para uma grande maioria. Segundo o art. 32 da LDB, a educação fundamental passa a ter duração mínima de oito anos e está voltada para a formação básica do cidadão. Esse nível de ensino escolar pode organizar-se de diferentes modos e, com isso, superar a clássica separação entre as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental e seus quatro anos subsequentes (de 5ª a 8ª série). A realidade, porém, apresenta enormes dificuldades para a articulação desses dois momentos, tanto pela estrutura diferenciada quanto pelo tipo de professor que atende a cada uma dessas etapas do Ensino Fundamental. Essa diferenciação, ainda carregada de características do antigo modelo do “primário” e do “ginásio”, cria uma fragmentação muito significativa nas práticas escolares e nas vivências dos alunos. Em relação aos profissionais, por exemplo, lembre-se que as professoras das séries iniciais se caracterizam por um perfil mais generalista e os professores do segundo segmento, por uma formação mais específica. Além disso, as professoras das primeiras séries têm habilidades que os professores de disciplinas não possuem, e vice-versa, o que cria descontinuidades não só no desenvolvimento das aprendizagens de conceitos essenciais, mas também no trato de processos mais globais. Nesse sentido, para uma coerência com as mudanças pretendidas na educação brasileira e com as incumbências que são atribuídas aos docentes pela LDB (art. 13), torna-se necessário pensar a formação de um profissional que compreenda os processos humanos mais globais, seja ele um professor da educação infantil, dos primeiros ou dos últimos anos da escola básica. Um profissional capaz de refletir sobre as seguintes indagações: • Como um indivíduo se desenvolve e aprende na infância, na adolescência e na fase adulta? • Como a biologia, a sociologia, a psicologia, a antropologia, enfim, as diversas áreas do conhecimento vêm abordando essas fases de formação próprias da vida humana? • Que interferência exercem as dimensões cognitivas, corpo- rais, sociais, culturais e emocionais, bem como as múltiplas dimensões existenciais, na construção dos conhecimentos dos educandos? É preciso, então, imaginar a formação de um profissional que tenha vivências na escola básica, desde a infância, com a adolescência e jovens/adultos, e conheça seu cotidiano, suas construções, sua realidade. É interessante conceber um profissional que, ao assumir seu trabalho com alunos adolescentes, por exemplo, possa compreender questões da infância e da fase adulta, pois, apesar de agir em um momento específico da escolarização, essa etapa faz parte de um conjunto maior: a educação básica. É importante, ainda, pensar a formação de um professor que compreenda os fundamentos das ciências e revele uma visão ampla dos saberes. Segundo um grupo de professores da Universidade de Brasília – UnB, em um documento sobre formação docente, as “licenciaturas estão condenadas à interdisciplinaridade”. Para tanto, ao contrário do que se pensa, o profissional deve realizar estudos aprofundados em uma área específica do conhecimento e, paralelamente, contemplar as SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl reflexões sobre o ensino-aprendizagem dos conceitos mais fundamentais dessa área. Em termos da atuação profissional, significa projetar alguém que trabalhe preferencialmente em uma determinada área do conhecimento escolar, a que se dedique mais, mas que, necessariamente, esteja em contato permanente com outros campos do saber. Além disso, é fundamental investir na formação de um professor que tenha vivenciado uma experiência de trabalho coletivo e não individual, que se tenha formado na perspectiva de ser reflexivo em sua prática, e que, finalmente, se oriente pelas demandas de sua escola e de seus alunos, e não pelas demandas de programas predeterminados e desconectados da realidade escolar. É fundamental criar, nos cursos de licenciatura, uma cultura de responsabilidade colaborativa quanto à qualidade da formação docente. Para isso, a familiaridade com os processos e os produtos da pesquisa científica torna-se imprescindível na formação docente. A imersão dos futuros educadores em ambientes de produção científica do conhecimento possibilita-lhes o exame crítico de suas atividades docentes, contribuindo para aumentar sua capacidade de inovação e para fundamentar suas ações. É o mergulho em tal atividade que permite a mudança de olhar do futuro docente em relação aos processos pedagógicos em que se envolve na escola, à maneira de perceber os educandos e suas aprendizagens, ao modo de conceber e desenvolver o seu trabalho em sala de aula. Pesquisa: Imperativo ou aperitivo na formação profissional docente? Em discussão recente sobre a formação docente4, realizada na UFMG, intelectuais brasileiros e estrangeiros, de reconhecida produção acadêmica no campo educacional,expuseram a necessidade de uma articulação efetiva entre pesquisa, formação inicial e formação continuada dos profissionais da educação. Um dos consensos resultantes desse debate foi o reconhecimento de que as universidades e as demais instituições de ensino superior precisam repensar seu atual modelo de formação de professores e buscar, segundo definiu Carlos Jamil Cury, uma nova cultura institucional das licenciaturas. Essa noção de nova cultura institucional dos cursos de formação de professores deve ser entendida como a capacidade de as universidades, especialmente as públicas, responderem, de maneira qualitativa, aos desafios propostos pela nova conjuntura política e socioeconômica brasileira. De acordo com o professor acima referido, cabe às universidades públicas assumir o desafio e o compromisso social de formar, de maneira diferenciada, profissionais da educação capazes de atuar como agentes de mudança na escola básica, no Brasil. Concordando com esse ponto de vista, Magda Becker Soares ressaltou que as universidades cumprem sua função pública ao preparar um tipo diferenciado de professor, e não, necessariamente, ao atender às demandas de mercado. Na opinião dessa professora, as universidades, na qualidade de instituições de ensino, pesquisa e extensão, devem formar professores, sem contudo dissociar essas atividades, ou seja, é necessário haver uma articulação – entendida, aqui, como junção, fusão, união – da formação docente com a pesquisa – compreendida como processo de produção do conhecimento. Concretamente, isso significa que as universidades devem assumir a formação do “professor investigador”, um profissional dotado de uma postura interrogativa e que se revele um pesquisador de sua própria ação docente. A formação do “professor investigador”, para Magda Becker Soares, deve resultar da vivência do licenciando, durante sua trajetória na universidade, da pesquisa como processo, o que faz com que o futuro professor não só aprenda mas também apreenda o processo de investigação e, o mais importante, incorpore a postura de investigador em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula. Para que tal formação aconteça efetivamente, a mesma professora ressalta a importância de os professores-pesquisadores das universidades, formadores de educadores, assumirem, também, uma postura investigativa no que diz respeito à sua própria ação docente. Por desempenharem, nessas instituições, o papel de produtores do conhecimento, eles têm condições de ultrapassar a função de simples mediadores entre a ciência, o conhecimento, os produtos da pesquisa e o licenciando. Assim sendo, as instituições formadoras do professor da escola básica devem estar atualizadas nos resultados da pesquisa em sua área, para poderem trabalhar o conhecimento, em sala de aula, no estado em que ele se encontra e no momento em que ele está sendo ensinado. Devem estar, também, atualizadas nos processos de aprendizagem desse conhecimento específico. Quem forma o professor – tanto a instituição quanto as pessoas – precisa estar diretamente envolvido com a atividade de pesquisa. Os formadores precisam ser, também, pesquisadores, para poderem tratar o conteúdo como um momento no processo de construção do conhecimento, ou seja, trabalhar o conhecimento como objeto de indagação e investigação. Precisam ser, finalmente, investigadores de sua própria ação de formadores, dos processos de aprendizagem que ocorrem durante o processo de formação, investigadores de seu próprio processo de ensino. A propósito, Fernando Hernández acrescenta que todo programa de formação de educadores deve constituir-se em objeto de pesquisa na instituição formadora. Projetos de investigação sobre a formação docente permitem não só refletir sobre a preparação que está sendo realizada nessas instituições, mas, fundamentalmente, reconstruir a proposta de formação delas. O professor Hernández lembra ainda que a avaliação assume um papel essencial nesse tipo de pesquisa e constitui um componente importante na reconstrução do próprio processo de formação de professores. O princípio da pesquisa como um imperativo na formação docente propõe questões importantes a respeito da definição do lócus de preparação dos profissionais da educação no Brasil. Esse tem sido um tema polêmico nas atuais discussões sobre a formação de professores. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl O LOCUS DA FORMAÇÃO DOCENTE A lei no 9.394/96, conforme estabelecido no art. 62, autoriza apenas duas instituições para promover a formação dos profissionais da educação básica no Brasil: as universidades e os Institutos Superiores de Educação. A novidade são esses institutos, recém- criados no cenário educacional brasileiro e inspirados em modelos de formação docente de outros países. A essa nova instituição foi destinado todo um artigo da LDB, o art. 63, com três incisos, no qual se estabelece que programas de formação inicial e continuada de profissionais para a educação básica, em todos os níveis, também devem ser mantidos por ela. Além disso, dois pareceres – CP no 53/99 e CP no 115/99 – foram aprovados pelo Conselho Nacional da Educação (CNE), e sugerem diretrizes gerais para os Institutos Superiores de Educação (ISE). O último parecer emitido pelos conselheiros do CNE – CP no 115/ 99 – define os Institutos Superiores de Educação como (...) centros formadores, disseminadores, sistematizadores e produtores do conhecimento referente ao processo de ensino e de aprendizagem e à educação escolar como um todo, destinados a promover a formação geral do futuro professor da educação básica. De acordo com a interpretação dos conselheiros dessa instituição do art. 62 da LDB, “as licenciaturas mantidas fora das universidades e centros universitários devem ser incorporadas a institutos superiores de educação”. Assim sendo, apesar de não estar vedada às instituições universitárias a organização desses institutos em seu interior, os ISE foram pensados como um locus de formação docente para funcionamento fora das universidades. Como se sabe, em decorrência da expansão do ensino superior brasileiro sobretudo por via da iniciativa privada, há muito essa formação vem se desenvolvendo em instituições não-universitárias, por meio de cursos de preparação docente de qualidade bastante questionável, que, com raríssimas exceções, se limitam a reproduzir, de maneira empobrecida e piorada, os modelos de formação de professores das universidades. Nessas instituições, conhecidas como “faculdades isoladas”, comprova-se uma extrema dificuldade em formar profissionais que atuem em todas as áreas do conhecimento escolar, particularmente nas ciências naturais – biologia, física e química –, pois, nelas, são os gastos com a manutenção de cursos que determinam as áreas que devem ser privilegiadas. Sendo assim, novamente perguntar-se-ia: qual é a diferença entre as atuais “faculdades isoladas” e os novos “Institutos Superiores de Educação”? Estão esses “institutos” apenas legitimando as “faculdades isoladas” como um dos espaços destinados à formação docente no país? Ou são os ISE uma versão revista e atualizada dos Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (Cefams)? Os ISE representam a desejada solução para a carência de profissionais habilitados para todas as áreas do conhecimento escolar? Já que não são definidos como instituições de pesquisa, ensino e extensão, de que modo os ISE contemplam o princípio da articulação entre investigaçãocientífica, formação inicial e formação continuada dos profissionais da educação? Uma vez que a pesquisa não faz parte de seu cotidiano, como esses institutos vão cumprir aquilo que os define como centros “produtores do conhecimento referente ao processo de ensino e de aprendizagem e à educação escolar como um todo”? Finalmente, os novos cursos de formação de professores no Brasil deverão ser organizados com base em diretrizes curriculares nacionais, de acordo com o estabelecido na LDB. Apesar de tais referências para os cursos que preparam os profissionais da educação ainda não estarem concluídas, são apresentados alguns comentários sobre o processo de construção dessas diretrizes e algumas tendências que já se observam. DIRETRIZES CURRICULARES PARA OS CURSOS DE FORMAÇÃO DOCENTE Antes mesmo de que a LDB fosse sancionada, a lei no 9.131/95, que criou o Conselho Nacional de Educação – CNE, já explicitava, entre as atribuições desse órgão, a deliberação sobre as diretrizes curriculares para os cursos de Graduação (art. 9, parágrafo 2, alínea c). A regulamentação dessa ideia de diretrizes aconteceu, então, com a aprovação da LDB, que estabeleceu como um dos deveres das universidades “fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes” (art. 53, inciso II). Além disso, a nova LDB, em seu art. 48, acabou com a vinculação entre certificados de conclusão de curso e exercício profissional, definindo que os diplomas se constituem apenas em prova da formação recebida por seus titulares. Consequentemente, a figura do currículo mínimo, instrumento legal que determinou a organização dos cursos superiores no Brasil a partir da lei 5.540/71 e conduziu os concluintes desses cursos a diplomas profissionais, foi revogada com a nova lei. Segundo interpretação dos conselheiros do CNE, expressa no parecer CES no 776/97, o espírito da nova LDB está voltado para uma maior flexibilidade na organização dos cursos na educação, em geral, e no Ensino Superior em particular. Dessa maneira, os currículos mínimos e sua excessiva rigidez foram considerados extemporâneos, algo que atrapalharia as instituições na busca de inovações e diversificações em suas propostas curriculares. Nos termos desse parecer, “toda a tradição que burocratiza os cursos (...) se revela incongruente com as tendências contemporâneas de considerar a boa formação no nível de graduação como uma etapa inicial da formação continuada”. Em 3 de dezembro de 1997, a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação – SESu/MEC publicou o edital SESu no 4, convidando as diferentes organizações, entidades e instituições a enviar propostas de diretrizes curriculares para os cursos de graduação superior. Para análise e sistematização dessas propostas, a SESu/MEC compôs uma comissão de especialistas por curso de graduação, com base em indicação de nomes pelas instituições. Todavia não foi criada SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl uma comissão que se responsabilizasse por diretrizes curriculares comuns a todas as licenciaturas. Como consequência, as versões finais dos documentos dos cursos que, além do bacharelado, têm a licenciatura contemplaram distintas concepções da formação de professores. Esses documentos usaram diferentes termos para se referir às licenciaturas – entre outros, curso, modalidade, módulo e habilitação –, o que denota, na verdade, divergências epistemológicas em relação à formação dos profissionais da educação. No caso da matemática, por exemplo, foram construídas duas diretrizes curriculares: uma para a licenciatura, outra para o bacharelado. Já na química, apesar de os especialistas escreverem um único documento, a licenciatura foi explicitamente considerada um curso com características próprias. Por outro lado, a maior parte dos documentos considerou a licenciatura uma modalidade, um módulo ou uma habilitação. Nesse caso, a ênfase recaiu na formação do bacharel. Curiosamente, em alguns desses mesmos documentos previa-se a preparação dos professores em determinada área do conhecimento, porém, sem uma formação básica em educação! Quando o processo de construção das diretrizes curriculares já estava bastante avançado na maioria das comissões de especialistas, a SESu/MEC resolveu nomear um “grupo-tarefa”, composto por cinco professores ligados à área de educação, com a finalidade de elaborar um documento norteador para as diretrizes curriculares das licenciaturas. Nessa oportunidade, as instituições não foram solicitadas a indicar nomes para esse grupo, nem a enviar propostas para serem analisadas e sistematizadas. Na estratégia montada por essa secretaria, tal documento deveria ser encaminhado a um outro grupo de professores, de áreas específicas, que se encarregaria de coordenar a construção das diretrizes das licenciaturas em cada uma dessas áreas, responsabilizando-se por articular o texto produzido pelo “grupo-tarefa” e as diretrizes das comissões de especialistas. Espera-se que, apesar de muito tardio e de seguir um trajeto diferente daquele realizado pelas comissões de especialistas, esse processo de construção das diretrizes curriculares dos cursos de formação de professores consiga promover mudanças significativas nas licenciaturas. E que, enfim, essas alterações representem uma superação do atual modelo de preparação dos profissionais da educação e um salto qualitativo para a formação docente no país. Formar professores é uma tarefa bastante complexa. Justamente por isso, não são medidas simplistas e banalizadoras, apresentadas como uma fórmula mais eficiente e produtiva de preparar os profissionais da educação, que irão resolver os problemas atuais das licenciaturas. Ademais, a não-valorização do profissional da educação, os salários aviltantes, as precárias condições de trabalho e a falta de um plano de carreira para a profissão continuam sendo questões fulcrais sem solução, que afetam diretamente a formação docente no Brasil. Os problemas centrais das licenciaturas apenas serão resolvidos, na verdade, com a implantação de mudanças drásticas na atual condição do profissional da educação. Ao mesmo tempo, fazem-se necessários estudos e pesquisas que respondam a questões essenciais, como “O que é formar professores?” ou “Como formar professores?”. Além disso, as universidades e demais instituições de ensino superior precisam continuar trocando informações e buscando, em experiências mais significativas, a chave para as questões que dizem respeito aos cursos de formação docente no país. LEGISLAÇÃO DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS E DA LDB A educação é direito de todos e dever do Estado e da Família. Deve ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade (Art. 205 da Constituição Federal). A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem; • na vida familiar • na convivência humana • no trabalho • nas instituições de ensino e pesquisa • os movimentos sociais e organizações da sociedade civil • nas manifestações culturais (LDB art. 1º). A finalidade da educação escolar é: • o desenvolvimento pleno do educando, • o preparo para o exercício da cidadania • a qualificação para o trabalho (LDB, art. 2º) O ensino, na educação brasileira, é orientado por 7 princípios: • igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, • liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen- samento, a arte e o saber, • pluralismode ideias e de concepções pedagógicas e coe- xistência de instituições públicas e privadas de ensino, • gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, • valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na for- ma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, • gestão democrática do ensino público, na forma da lei, • garantia de padrão de qualidade (art. 206 da CF). SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl O Estado tem o dever de garantir: • ensino fundamental inclusive para aqueles que não tiveram acesso a ele na idade própria, • universalização progressiva do ensino médio gratuito, • atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, • atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade, • acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um, • ensino regular noturno, adequado às condições do edu- cando, • programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 208 da CF). O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito pú- blico subjetivo • o não atendimento integral desse direito importa em res- ponsabilidade da autoridade competente (crime de respon- sabilidade): da autoridade pública pela não oferta e atendi- mento e dos pais por não matricular ou permitir aos filhos frequentar a escola (art. 208, § 1º e 2º da CF); • qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comuni- tária, organização sindical, entidade de classe ou outra legi- timamente constituída e o Ministério Público acionar o Po- der Público para exigi-lo (art. 5º da LDB). O poder público deve recensear os educandos no ensino fundamental, fazer a chamada deles e zelar para que frequentem a escola, envolvendo nessa tarefa, os pais e responsáveis (art. 208, § 3º da CF). Os sistemas de ensino devem ser organizados em regime de colaboração. União, Estados, Distrito Federal e Municípios tem (ou terão) sistemas de ensino. • os sistemas de ensino têm liberdade de organização • os Municípios podem optar por se integrar aos sistema es- tadual ou compor, com ele, um sistema único de educação básica (Art. 11, V, parágrafo único da LDB) A União: • coordena a política nacional de educação, articulando os sistemas e os níveis de ensino; • organiza o sistema federal, • financia as instituições de ensino públicas federais; • exerce função normativa, redistributiva e supletiva, de tal forma que garanta equalização das oportunidades educaci- onais e padrão mínimo de qualidade do ensino; Para garantir a equalização e o padrão de qualidade do ensino, compete-lhe dar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (art. 211 da CF e art. 9º da LDB). Os Estados e o Distrito Federal têm como campo de atuação prioritária o ensino fundamental e o ensino médio, devem dar assistência técnica e financeira aos Municípios quanto ao ensino fundamental e à educação infantil (art. 30, VI da CF). Os Municípios: • têm como campo de atuação prioritária o ensino fundamen- tal e a educação infantil; • devem manter, com a cooperação técnica e financeira da União e dos Estados, programas de educação pré-escolar e ensino fundamental (art. 30, VI da CF); • podem atuar em níveis ulteriores (médio e superior) quando o ensino fundamental e a educação infantil estiverem ple- namente atendidos e forem utilizados recursos que estejam além dos mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino (25% da receita de impostos, incluídos os de transferência) (LDB, art. 11, V). O ensino público na educação básica é gerido democraticamente, incluindo nas formas dessa gestão: • a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola • a participação da comunidade escolar e local nos conse- lhos escolares ou equivalentes (art. 14 da LDB). Os estabelecimentos públicos de educação básica possuem graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira progressivamente maiores, que lhes asseguram os sistemas de ensino (art. 15 da LDB). As instituições de ensino se classificam em • públicas (as criadas, incorporadas, mantidas e administra- das pelo Poder Público • privadas (as mantidas e administradas por pessoa física ou jurídica de direito privado): • particulares em sentido estrito • comunitárias (as que incluem em sua entidade mantenedo- ra representantes da comunidade) • confessionais (as que atendem a orientação confessional e ideologia específica e tenham representantes da comuni- dade em sua entidade mantenedora) filantrópicas (defini- das pela lei) (LDB, art. 20). O ensino é financiado com re- cursos de impostos: • a União aplica, no mínimo, 18% da receita resultante de impostos os Estados, o DF e os Municípios aplicam, no mí- SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl nimo, 25% da receita de impostos, inclusive transferências (art. 212 da CF). Os programas de alimentação e assistência à saúde do educando são mantidos com recursos de contribuições sociais e outros orçamentários, vedada a utilização nessas atividades de parcela dos percentuais mínimos de impostos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino (art. 212, § 4º da CF). Os recursos públicos são aplicados nas escolas públicas, podendo ser dirigidos a esolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas (obedecidas quatro condições estabelecidas no art. 77 da LDB) e a bolsas de estudo para a educação básica (segundo restrições legais, § 1º do art. 77, IV da LDB) . II - Indicadores do cenário educacional brasileiro: • 18 milhões de pessoas com 15 anos e mais que não sa- bem ler e escrever - 12% da população • 1 milhão e 140 mil crianças de 7 a 14 anos estão fora da escola - 4% da população nessa faixa etária • 8 milhões e 400 mil crianças são reprovadas a cada ano no ensino fundamental obrigatório - 23,4% dos alunos • 4 milhões e 300 mil crianças matriculadas no ensino obriga- tório abandonam a escola a cada ano, não voltando a ela no ano seguinte -12% dos alunos • 44% dos alunos do ensino fundamental estão com idade superior (em geral) ou inferior (a minoria) à série que lhes corresponde • a escolaridade média do brasileiro é de 6,5 anos de estudo, inferior ao mínimo obrigatório, que é de 8 anos • 10% das crianças de 0 a 3 anos têm acesso a uma creche • 48% das crianças de 4 a 6 anos frequentam um estabele- cimento de educação pré-escolar • 45,2% dos jovens entre 15 e 17 anos estão matriculados no ensino médio - 3.565 mil alunos. • o ensino médio tem 8,2 milhões de alunos, sendo a maior parte deles com idade superior à correspondente a esse nível de ensino - 54,8% • a taxa de repetência no ensino médio é de 18,7% - 1.452.000 alunos a cada ano 528 mil alunos do ensino mé- dio abandonam o curso a cada ano. III - Para mudar esse quadro O Plano Nacional de Educação estabeleceu 4 objetivos gerais que sinalizam para um panorama educacional recuperado das atuais mazelas: • elevação global do nível de escolaridade da população; • melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis;• redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública; • democratização da gestão do ensino público, nos estabele- cimentos oficiais. Esses objetivos serão buscados, ao longo do tempo, atendendo a prioridades em função da capacidade administrativa e financeira, tendo em vista, sempre, a necessidade de atender a todos os objetivos e metas estabelecidos em cada nível e modalidade de ensino e no capítulo sobre o magistério da educação básica, da forma mais ampla possível. As prioridades definidas pelo PNE são: • garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu in- gresso e permanência na escola e a conclusão desse nível de ensino; • garantia de ensino fundamental a todos os que a ele não ti- veram acesso na idade própria ou que não o concluíram; • ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino - a educação infantil, o ensino médio e a educação superior; • valorização dos profissionais da educação; • desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino. LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL A declaração do Direito à Educação aparece no artigo 6º da Carta Magna: “São direitos sociais a educação, (...) na forma desta Constituição”, onde pela primeira vez em nossa história Constitucional, explicita-se a declaração dos Direitos Sociais, destacando-se, com primazia, a educação. Na artigo 205, afirma-se que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família]”. No 206, especifica-se que: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:”(...) IV gratuidade do ensino público nos estabelecimentos oficiais.” Inova-se a formulação da gratuidade, assegurando-a em todos os níveis, ampliando-a para o ensino médio, tratada nas Constituições anteriores como exceção e, também, para o ensino superior, nunca contemplada em Cartas anteriores. O artigo que detalha o Direito à Educação é o 208, formulado nos seguintes termos: “O dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequada às condições do educando; VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.” A primeira novidade aparece no inciso I, ao precisar que o dever do Estado para com o ensino estende-se mesmo aos que “a ele não tiveram acesso na idade própria.” Este Texto aperfeiçoa o de 1967/69, que especificava a gratuidade e obrigatoriedade dos 7 aos 14 anos, criando a possibilidade de se restringir o atendimento aos indivíduos fora desta faixa etária. Avança, também, ao especificar o atendimento dos que não mais se encontram na idade considerada “ideal” para o ensino fundamental. No inciso II, retoma-se um aspecto importante do Texto de 1934, que aponta a perspectiva de “progressiva extensão da gratuidade e obrigatoriedade do ensino médio.” Este dispositivo (re)equacionou o debate sobre esse ensino para além da polaridade ensino propedêutico x profissional. A ideia era ampliar o período de gratuidade/obrigatoriedade, tornando-o parte do Direito à Educação. É a tendência mundial, decorrente do aumento dos requisitos formais de escolarização para um processo produtivo crescentemente automatizado. Praticamente todos os países desenvolvidos universalizaram o ensino médio, ou estão em vias de fazê- lo. A mencionada alteração introduzida pela EC 14, torna menos efetivo o compromisso do Estado na incorporação futura deste nível de ensino à educação compulsória. A prescrição do inciso III, “atendimento especializado aos portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino”, especifica uma orientação mais geral em que se prioriza o atendimento dos portadores de necessidades educativas especiais na rede regular de ensino. (Cf. Mazzotta, 1987:3, 5, 115 e 118) No inciso IV, “atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade”, além da extensão do Direito à Educação a essa faixa etária, abre-se a possibilidade de considerá-la como fazendo parte da educação “básica”. Com isto, pode-se incorporar este nível de ensino ao sistema regular, exigindo, portanto, sua regulamentação e normatização na legislação educacional complementar, o que não ocorria na vigência da Constituição anterior, pois este nível de ensino era “livre”. Outra consequência é a mudança na concepção de creches e pré- escolas, passando-se a entendê-las como instituições educativas e SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl não de assistência social. Entretanto, há um problema indiretamente gerado por esse processo: ao se incorporar este nível de ensino ao sistema educacional, as despesas decorrentes passam a ser consideradas como de “manutenção e desenvolvimento do ensino”, sem que, ao mesmo tempo, se aporte um percentual maior da receita de impostos para a educação, tendência agravada pelo FUNDEF (Lei 9424/96), que concentra recursos no ensino fundamental. O inciso VI, “oferta de ensino noturno regular, adequado às condições de cada um”, é o reconhecimento do dever do Estado para com o ensino noturno, dispositivo de grande relevância, pois garante, ao jovem e ao adulto trabalhador, a possibilidade de frequentar o ensino regular, além de especificar a necessidade de adequação deste ensino “às condições de cada um”. O inciso VII, trata do “atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Nos Textos anteriores, esta prescrição era remetida para a parte de assistência ao estudante. Incorpora-se ao rol de deveres do Estado relativos à garantia do Direito à Educação, pois, para parcelas significativas do alunado, tais serviços são pré-requisito para a frequência à escola. Tem-se teorizado sobre a necessidade de uma efetiva concepção de gratuidade que comporte tais encargos. Melchior (1979:202) formulou a noção de “gratuidade ativa”, como aquela em que, além da escola gratuita, garantiria estes serviços, chegando-se mesmo à uma bolsa- salário que remuneraria os “salários não recebidos” pelos estudantes. A garantia constitucional destes serviços, ainda que sua formulação no Texto Constitucional seja incipiente, possibilita ampliar a luta pela sua efetivação, podendo, futuramente, possibilitar sua extensão de forma a abarcar os salários não recebidos.. Os principais mecanismos destinados a detalhar e reforçar a importância da declaração do Direito à Educação na Carta Magna são os três parágrafos do artigo 208. “O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo”. Esta afirmação está contida no §1° do aludido artigo. Este reconhecimento poupalonga discussão jurídica, presente nas obras de comentaristas da CF/1946, qual seja, se o Direito à Educação constituía direito público subjetivo, mesmo que isto não fosse explicitado como tal na Lei Maior. Pontes de Miranda, nos seus comentários à CF/1946, afirma: “Quanto à estrutura do Direito à Educação, no estado de fins múltiplos, ou ele é um direito público subjetivo, ou é ilusório.” (1953:151) Quanto ao sentido da expressão “direito público subjetivo”, Cretella afirma que “O art. 208, §1º, da Constituição vigente não deixa a menor dúvida a respeito do acesso ao ensino obrigatório e gratuito que o educando, em qualquer grau, cumprindo os requisitos legais, tem o direito público subjetivo, oponível ao Estado, não tendo este nenhuma possibilidade de negar a solicitação, protegida por expressa norma jurídica constitucional cogente.” (Cretella, 1993, V. 8:4418). No comentário à declaração do Direito à Educação enquanto o primeiro dos Direitos Sociais, afirma: “(..) todo cidadão brasileiro tem o subjetivo SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl público de exigir do Estado o cumprimento da prestação educacional, independentemente de vaga, sem seleção, porque a regra jurídica constitucional o investiu nesse status, colocando o Estado, ao lado da família, no poder-dever de abrir a todos as portas das escolas públicas e, se não houver vagas, nestas, das escolas privadas, pagando as bolsas aos estudantes.” (Cretella, 1991, V. 2:881-2) Os dispositivos introduzidos permitem a exigência de cumprimento desse direito ao Poder Público. O §2º. do artigo 208 afirma que: “(...) o não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.” A novidade é a possibilidade de responsabilizar, pessoal e diretamente, a autoridade incumbida da oferta deste direito, e não apenas o Poder Público em geral. O §3º do artigo 208 prescreve que: “compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.”. A responsabilização do Poder Público pela realização do Censo Escolar, pela chamada à matrícula e de “zelar, junto aos pais ou responsáveis pela frequência” já constava da legislação ordinária. A realização de um levantamento consciencioso que procure localizar o conjunto da população em idade escolar, e não apenas aquela que já se encontra nos Sistemas de Ensino, permitirá avaliar, de fato, as necessidades de expansão da rede física, bem como dimensionar a exclusão e avaliar o perfil de escolarização da população de uma maneira mais acurada. 1. A Constituição de 1988 persegue um fim último para o Estado brasileiro, que é o de torná-lo, juridicamente, uma República Federativa. A primeira providência jurídica nessa direção é a seguinte: a União, no Brasil, é um componente do Estado Federal. 2. Não é demais afirmar que a federação brasileira não resultou, como insistimos no presente trabalho, da união dos estados soberanos num Estado Federal como ocorreu com a federação norte-americana. Aqui, antes de proclamada a República, éramos províncias sem nenhuma autonomia político-administrativa. 3. A tradição republicana e constitucional consagrou a federação brasileira, mas a questão central da Federação, isto é, a repartição das competências dos entes federativos e o estabelecimento de suas fronteiras legislativas sempre foram o nó górdio do nosso federalismo. 4. Assim, dizer que a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende as quatro entidades federativas é uma espécie de sentença jurídica, mas seu dogma é, historicamente, destituído de sentido. Há, ainda, um processo de construção do modelo de Estado Federal efetivamente federativo e democrático. 5. Claro, no fundo, os constitucionalistas acabam por aceitar todas as intenções e manifestações do modelo federativo historicamente imposto e, juridicamente posto, na evolução constitucional do país; enfim, não há como negar que somos uma Federação e que temos um ordenamento jurídico que busca alcançar todos os princípios do federalismo internacional. 6. Este Estado brasileiro, assim juridicamente construído, inviabiliza a existência de uma verdadeira Federação, que se efetiva por necessidades reais e práticas e não por simples proclamações jurídicas? E qual a repercussão desse modelo de Estado Federal para o setor educacional? 7. Comecemos pela primeira questão. A primeira consequência que apontaríamos e a que nos interessa, em particular, é a de termos a União (ou pelo menos aquela “união indissolúvel”) como um ente federativo e autônomo, que participa do Estado Federal e que se confunde, na prática, por sua longa tradição de centralização política, com o próprio Estado Federal. 8. A União e os Municípios, previstos na arquitetura federativa, não têm, rigorosamente, federatividade, ou melhor, uma imanência de autonomia e de descentralização política plena. É uma questão de ordem histórica. Nós não construímos nossa Federação a partir da existência real dos entes federativos. 9. Arquitetamos primeiro o Estado Federal para depois prescrevermos as competências constitucionais (residuais e não reservadas) de seus entes. A União é descaracterizada, historicamente, como ente federado por não resultar da soma de “soberanias parciais”, isto é, da autonomia prévia e reservada dos Estados-membros. A União soberana é que gera Estados autônomos. 10. No caso dos municípios, a situação não é menos curiosa: a questão do poder local lembra historicamente autonomia, desde o período colonial, mas é incompatível com o conceito doutrinário de Federação. Nem teríamos, com os municípios, uma “federação de municípios” nem com a União temos uma “federação de União”. 11. Agora, responderemos ao segundo questionamento, com base na reflexão acima. O Estado Federal sempre tendeu à centralização política, mas a União, como ente deste Estado, por não ser, efetivamente, uma entidade federada, não centralizou, nas constituições brasileiras, notadamente a de constituição Federal de 1988, a competência legislativa exclusiva da educação nacional. 12. Aliás, no caso brasileiro, a educação nacional nunca foi, a rigor, um monopólio do Estado Federal, pelo menos, estruturalmente, o que não quer dizer, no entanto, que não tenha tido iniciativa de projeto de lei no campo educacional. 13. Na estrutura de poder em que a educação fosse monopólio do Estado, o caráter de abrangência repercutiria no conjunto de Ministérios, no Legislativo e no Judiciário. Destaquemos que o ensino superior, em que pese ter sido, historicamente, priorizado pela União, não caracterizou monopólio estatal posto que os Estados ofertaram, no âmbito de sua autonomia, o ensino superior estadual. 14. Entre as constituições nacionais, a de 1988 foi a única a tomar deliberadamente a Educação, enquanto dispositivo SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl constitucional, como um elemento tipificador da Federação, manifesta no âmbito das competências legislativas das entidades federativas. 15. Ao nos depararmos com a norma jurídica na Constituição Federal de 1988 que determina: “Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional” (Artigo 22, XXIV) poderíamos fazer duas leituras: (a) uma leitura descentralistae (b) uma leitura centralista. 16. Uma leitura federalista, como quer aparentemente o texto constitucional, e outra leitura unitarista, esta, resultante da secular tradição constitucional do País.[5] Em outras palavras, a educação nacional como competência exclusiva ou particular da União produziria um regime unitarista, unilateral e autocrático, ao contrário do regime federativo em que há, como princípio, a participação dos entes federativos ou a intergovernabilidade. 17. A educação enquanto matéria constitucional manifesta-se, no âmbito dos dispositivos constitucionais, sem exclusividade na matéria por parte das entidades federativas, consequentemente, não há monopólio do Estado Federal ou centralização política e, por outra consequência, não se fala em descentralização da educação no âmbito das entidades federativas. 18. A privatividade (normas privativas), a comunilidade (normas comuns) e a concorrencialidade (normas concorrentes) são indicativos, no âmbito das competências constitucionais, de descentralização política, uma vez que, nessa repartição de competências, há repartição de poder, de autoridade, posto que “na teoria do federalismo costuma- se dizer que a repartição de poderes autônomos constitui o núcleo do conceito do Estado federal” (SILVA: 1992, p. 433). As leis que regem a Educação Brasileira são: PNE - PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ProLei - Programa de Legislação Educacional Integrada. Para pesquisas na lei a partir da LDB de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoInstituída pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, promove a descentralização e a autonomia para as escolas e universidades, além de instituir um processo regular de avaliação do ensino. Ainda em seu texto, a LDB promove autonomia aos sistemas de ensino e a valorização do magistério.Lei n.º 9.475, de 22 de julho de 1997.Lei nº 9.536, de 11 de dezembro de 1997 Regulamenta o parágrafo único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996Lei nº 9.131 de 24 de novembro de 1995 Altera dispositivos da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e dá outras providênciasLei nº 9.192 de 21 de dezembro de 1995 Altera dispositivos da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que regulamentam o processo de escolha dos dirigentes universitários.Educação FundamentalFundef - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do MagistérioEnsino Médio Lei Lei nº. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).Parecer Parecer CEB/CNE nº. 05/97, de 11 de março 1997. Proposta de regulamentação da LDB nº. 9.394/96. Parecer CEB/CNE nº. 15/98, de 1 de junho de 1998. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM). Parecer CEB/CNE nº. 01/99, de 29 de janeiro de 1999. Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores na modalidade normal em nível de Ensino Médio.Resolução Resolução CEB/CNE nº. 03/98, de 26 de junho de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM). Resolução CEB/CNB nº. 02/99, de 19 de abril de 1999. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade normal. Educação a DistânciaDecreto Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998. Regulamenta o Art. 80 da LDB (Lei n.º 9.394/96): Decreto n.º 2.561, de 27de abril de 1998. Altera a redação dos artigos 11 e 12 do Decreto n.º 2.494: Portaria Portaria n.º 301, de 7 de abril de 1998. Normatiza os procedimentos de credenciamento de instituições para a oferta de cursos de graduação e educação profissional tecnológica a distância: Educação Profissional Decreto Decreto n.º 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamentação da Educação Profissional:Portaria Portaria n.º 646, de 14 de maio de 1997. Regulamentação do disposto nos artigos 39 a 42 da LDB e no Decreto nº 2.208/97 e outras providências: Educação Superior Estatutos e Regimentos das IES - Adaptação à LDB Decretos Decreto Nº 3.276, de 6 de dezembro de 1999: Dispõe sobre a formação em nível superior de professores para atuar na área de educação básica, e dá outras providências. Retificação do Decreto Nº 3.276 SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Decreto n.º 2.306, de 19 de agosto de 1997. Regulamentação das instituições de ensino superior:Decreto 2.026, de 10 de outubro de 1996: Estabelece procedimentos para o processo de avaliação dos cursos e instituições de ensino superior: Editais Edital SESu nº 02/97, de 8 de setembro de 1997 (instrumento convocatório à participação na consulta) Edital SESu nº 04/97, de 10 de dezembro de 1997. Convocação das Instituições de Ensino Superior para apresentação de propostas para as novas Diretrizes Curriculares dos cursos superiores: Edital SESu nº 6/99, de 29 de dezembro de 1999. Regras e prazo para as IES enviarem indicações para renovação das comissões de especialistas da SESu Portarias Portaria nº 1787, de 26 de dezembro de 1994. Institui o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros - CELPE-Bras. Portaria n.º 637, de 13 de maio de 1997. Credenciamento de universidades Portaria n.º 639, de 13 de maio de 1997. Credenciamento de centros universitários, para o sistema federal de ensino superior: Portaria n.º 640, de 13 de maio de 1997. Credenciamento de faculdades integradas, faculdades, institutos superiores ou escolas superiores:Portaria n.º 641, de 13 de maio de 1997. Autorização de novos cursos em faculdades integradas, faculdades, institutos superiores ou escolas superiores em funcionamento:Portaria n.º 752, de 2 de julho de 1997. Autorização para funcionamento de cursos fora da sede em universidades:Portaria 880, de 30 de julho de 1997 Cria Comissão Interministerial com a finalidade de definir procedimentos, critérios, parâmetros e indicadores de qualidade para orientar a análise de pedidos de autorização de cursos de graduação em Medicina, em Odontologia e em Psicologia:Portaria 877, de 30 de julho de 1997 Estabelece procedimentos para o reconhecimento de cursos/habilitações de nível superior e sua renovação: Portaria n.º 971, de 22 de agosto de 1997. Definição dos procedimentos para o cumprimento do disposto no art. 18, do Decreto nº. 2.306 (Informação da instituições de ensino superior sobre condições de ensino-aprendizagem): Portaria 946, 15 de agosto de 1997 Fixa valores de recolhimento, para ressarcimento de despesas com a análise de processos de autorização de cursos de graduação e credenciamento de instituições de ensino superior:Portaria Ministerial nº 972 de 15 de agosto de 1997. Renovação das Comissões de Especialistas de Ensino:Portaria nº 2040 de 22 de outubro de 1997: Define critérios adicionais aos já estabelecidos na legislação vigente, de organização institucional para Universidades.Portaria nº 2.041 de 22 de outubro de 1997: Define critérios adicionais aos já estabelecidos na legislação vigente, de organização institucional para Centros Universitários. Portaria nº 2.175, de 27 de novembro de 1997 O Ministro de Estado da Educação e do Desporto, no uso de suas atribuições e considerando o disposto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na Lei nº 9.391 de 24 de novembro de 1995, e no Decreto nº 2020 de 10 de outubro de 1996, e considerando ainda que os resultadosdas avaliações realizadas pelo MEC constituem-se em indicadores de qualidade e de desempenho de cursos e instituições de ensino superior, resolve: Portaria nº 0302, de 07 de abril de 1998 Normatiza o procedimentos de avaliação do desempenho individual das instituições de ensino superior.Portaria 612, de 12 de Abril de 1999. Dispõe sobre a autorização e o reconhecimento de cursos sequenciais de ensino superior.Portaria nº 2297 de 08 de novembro de 1999: Dispõe sobre a constituição de comissões e procedimentos de avaliação e verificação de cursos superiores.Portaria nº 1679 de 02 de dezembro de 1999: Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reco- nhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições. PRINCÍPIOS DA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA Na história brasileira, as formas de gestão da sociedade (legislação, plano de governo, medidas econômicas etc.) têm se caracterizado por uma “cultura personalista”, isto é, o poder governamental é personalizado, como se a pessoa que detém o cargo fosse a responsável solitária pelas decisões. Quando as pessoas referem-se ao governo, elas se referem quase sempre ao presidente, ao governador, ao prefeito. Se atrasa o salário, os professores dizem: “O governador não nos paga”. A relação política transforma-se numa relação entre indivíduos, em detrimento da relação entre grupos, organizações, entidades, interesses coletivos. Com isso, as pessoas SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl ficam na espera de que as decisões venham “de cima”, mesmo porque tem sido essa a prática das elites políticas e econômicas dominantes. As formas convencionais de representação política (escolha de representantes pelo voto) continuam em vigor, mas sabemos que as camadas populares levam desvantagem na efetivação da participação política em relação às classes dominantes. Esses são alguns dos obstáculos à organização dos movimentos populares e, em consequência, à participação popular nos processos decisórios, inclusive na escola. Essa capacidade de mobilização dos grupos sociais economicamente privilegiados (as classes média e alta) e, por outro lado, as dificuldades de mobilização das camadas populares em torno de seus interesses, acabam por ressaltar diferenças entre o tipo de relações que as famílias de alunos das escolas particulares mantêm com os profissionais da escola e as relações que as famílias de alunos de escolas públicas com seus respectivos profissionais. Evidentemente, as camadas populares levam aí desvantagem considerável, inibindo as reivindicações, as práticas de participação e controle, em relação às ações praticadas pelas escolas. A conquista da cidadania requer um esforço dos educadores em estimular instâncias e práticas de participação popular. A participação da comunidade possibilita à população o conhecimento e a avaliação dos serviços oferecidos e a intervenção organizada na vida da escola. De acordo com Gadotti e Romão, a participação influi na democratização da gestão e na melhoria da qualidade de ensino. Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalham, intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação ali oferecida. Entre as modalidades mais conhecidas de participação estão os Conselhos de classe – bastante difundidos no Brasil – e os Conselhos de Escola, Colegiados ou Comissões que surgiram no início da década de 80, funcionando em vários estados. Em resumo, participação significa a intervenção dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si. Há a participação como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo-se como prática formativa, como elemento pedagógico, metodológico e curricular. Há a participação como processo organizacional em que os profissionais e usuários da escola compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão. No primeiro sentido, a participação é ingrediente dos próprios objetivos da escola e da educação. A escola é lugar de aprender conhecimentos, desenvolver capacidades intelectuais, sociais, afetivas, ética, estéticas. Mas é também lugar de formação de competências para a participação na vida social, econômica e cultural. No segundo sentido, por meio de canais de participação da comunidade, a escola deixa de ser uma redoma, um lugar fechado e separado da realidade, para conquistar o status de uma comunidade educativa que interage com a sociedade civil. Vivendo a prática da participação nos órgãos deliberativos da escola, os pais, os professores, os alunos, vãoaprendendo a sentir- se responsáveis pelas decisões que os afetam num âmbito mais amplo da sociedade. A DIREÇÃO COMO PRINCÍPIO E ATRIBUTO DA GESTÃO DEMOCRÁTICA A direção da escola, além de ser uma das funções do processo organizacional, é um imperativo social e pedagógico. O significado do termo direção, tratando-se da escola, difere de outros processos de direção, especialmente os empresariais. Ele vai além daquele de mobilização das pessoas para a realização eficaz das atividades, pois implica intencionalidade, definição de um rumo, uma tomada de posição frente a objetivos sociais e políticos da escola, numa sociedade concreta. A escola, ao cumprir sua função social de mediação, influi significativamente na formação da personalidade humana e, por essa razão, não é possível estruturá-la sem levar em consideração objetivos políticos e pedagógicos. Essa peculiaridade das instituições educativas vem do caráter de intencionalidade presente nas ações educativas. Intencionalidade significa a resolução de fazer algo, dirigir o comportamento para algo que tem significado para nós. A intencionalidade se projeta nos objetivos que, por sua vez, dão o rumo, a direção da ação. Na escola isso leva, por parte da equipe escolar, à busca deliberada, consciente, planejada, de integração e unidade de objetivos e ações, e de um consenso em torno de normas e atitudes comuns. O caráter pedagógico da ação educativa consiste precisamente na formulação de objetivos sócio-políticos e educativo e na criação de formas de viabilização organizativa e metodológica da educação (tais como a seleção e organização dos conteúdos e métodos, a organização do ensino, a organização do trabalho escolar), tendo em vista dar uma direção consciente e planejada ao processo educacional. O processo educativo, portanto, pela sua natureza, inclui o conceito de direção. Sua adequada estruturação e seu ótimo funcionamento constituem fatores essenciais par se atingir eficazmente os objetivos de formação. Ou seja, o trabalho escolar implica uma direção. Não é preciso insistir que as práticas da gestão e da direção participativas convergem para a elaboração e execução do projeto pedagógico e assunção de responsabilidades de forma cooperativa e solidária. ALGUNS PRINCÍPIOS DA ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA A escola é uma instituição social que apresenta unidade em seus objetivos (sócio-políticos e pedagógicos), interdependência entre a necessária racionalidade no uso dos recursos (materiais e conceituais) e a coordenação de esforço humano coletivo. Qualquer modificação em sua estrutura ou no funcionamento de um dos seus elementos, projeta- se como influênciabenéfica ou prejudicial nos demais. Por ser um trabalho complexo, a organização e gestão escolar requerem o conhecimento e a adoção de alguns princípios básicos, cuja aplicação deve estar subordinada às condições concretas de cada escola. São SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl propostos os seguintes princípios da concepção de gestão democrática-participativa: AUTONOMIA DAS ESCOLAS E DA COMUNIDADE EDUCATIVA A autonomia é o fundamento da concepção democrático- participativa de gestão escolar, razão de ser do projeto pedagógico. Ela é definida como faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino. Autonomia de uma instituição significa ter poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, manter-se relativamente independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. Sendo assim, as escolas podem traçar seu próprio caminho envolvendo professores, alunos, funcionários, pais e comunidade próxima que se tornam co-responsáveis pelo êxito da instituição. É assim que q organização da escola se transforma em instância educadora, espaço de trabalho coletivo e aprendizagem. Certamente trata-se de uma autonomia relativa. As escolas públicas não são organismos isolados, elas integram um sistema escolar e dependem das políticas públicas e da gestão pública. Os recursos que asseguram os salários, as condições de trabalho, a formação continuada não são originados na própria escola. Portanto, o controle local e comunitário não pode prescindir das responsabilidades e da atuação dos órgãos centrais e intermediários do sistema escolar. Isso significa que a direção de uma escola deve ser exercida tendo em conta, de um lado, o planejamento, a organização, a orientação e o controle de suas atividades internas conforme suas características particulares e sua realidade; por outro, a adequação e aplicação criadora das diretrizes gerais que recebe dos níveis superiores da administração do ensino. Essa articulação nem sempre se dá sem problemas. O sistema de ensino pode estar desprovido de uma política global, pode estar mal organizado e mal administrado. As autoridades podem atribuir autonomia às escolas para, com isso, desobrigar o poder público de suas responsabilidades. Se, por sua vez, os critérios e diretrizes de organização são estabelecidos dentro de marcos estreitos de articulação com a sociedade. Ou, ainda, subordinando-se às diretrizes dos órgãos superiores, pode acontecer que as escolas as apliquem mecanicamente, sem levar em conta as condições reais de seu funcionamento. Por isso mesmo, a autonomia precisa ser gerida, implicando uma co- responsabilidade consciente, partilhada, solidária, de todos os membros da equipe escolar, de modo a alcançar, eficazmente, os resultados de sua atividade – a formação cultural e científica dos alunos e o desenvolvimento das potencialidades cognitivas e operativas. Relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe escolar. Esse princípio conjuga o exercício responsável e compartilhado da direção, a forma participativa da gestão e a responsabilidade individual de cada membro da equipe escolar. Sob supervisão e responsabilidade do diretor a equipe escolar formula o plano ou projeto pedagógico- curricular, toma decisões por meio de discussão com a comunidade escolar mais ampla, aprova um documento orientador. A partir daí, entram em ação os elementos (instrumentos eprocedimentos) do processo organizacional em que o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega as responsabilidades decorrentes das decisões aos membros da equipe escolar conforme suas atribuições específicas, presta contas e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente. Nesse princípio está presente a exigência da participação de professores, pais, alunos, funcionários e outros representantes da comunidade bem como a forma de viabilização dessa participação: a interação comunicativa, a busca do consenso em pautas básicas, o diálogo intersubjetivo. Por outro lado, a participação implica os processos de gestão, os modos de fazer, a coordenação e a cobrança dos trabalhos e, decididamente, o cumprimento de responsabilidades compartilhadas dentro de uma mínima divisão de tarefas e alto grau de profissionalismo de todos. Conforme temos ressaltado, a organização escolar democrática implica não só a participação na gestão mas a gestão da participação. Desse modo, a gestão democrática não pode ficar restrita ao discurso da participação e às suas formas externas: as eleições, as assembleias e reuniões. Ela está a serviço dos objetivos do ensino, especialmente da qualidade cognitiva dos processos de ensino e aprendizagem. Além disso, a adoção de práticas participativas não está livre de servir à manipulação e ao controle do comportamento das pessoas. As pessoas podem ser induzidas a pensar que estão participando quando, na verdade, estão sendo manipuladas por interesses de grupos, facções partidárias etc. Envolvimento da comunidade no processo escolar O princípio da autonomia requer vínculos mais estreitos com a comunidade educativa, basicamente os pais, as entidades e organizações paralelas à escola. A presença da comunidade na escola, especialmente dos pais, tem várias implicações. Prioritariamente, os pais e outros representantes participam do Conselho de Escola, da Associação de Pais e Mestres (ou organização correlatas) para preparar o projeto pedagógico-curricular e acompanhar e avaliar a qualidade dos serviços prestados. Adicionalmente, usufruem das práticas participativas para participarem de outras instâncias decisórias no âmbito da sociedade civil (organizações de bairro, movimentos de mulheres, de minorias étnicas e culturais, movimentos de educação ambiental e outros), contribuindo para o aumento da capacidade de fiscalização da sociedade civil sobre a execução da política educacional (Romão, 1997). Além disso, a participação das comunidades escolares em processos decisórios dão respaldo a governos estaduais e municipais para encaminhar ao Poder Legislativo projetos de lei que atendam melhor às necessidades educacionais da população (Ciseski e Romão, 1997). Planejamento das tarefas O princípio do planejamento justifica-se porque as escolas buscam resultados, as ações pedagógicas e administrativas buscam SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl atingir objetivos. Há necessidade de uma ação racional, estruturada e coordenada de proposição de objetivos, estratégias de ação, provimento e ordenação dos recursos disponíveis, cronogramas e formas de controle e avaliação. O plano de ação da escola ou projeto pedagógico, discutido e analisado publicamente pela equipe escolar, torna-se o instrumento unificador das atividades escolares, convergindo na sua execução o interesse e o esforço coletivo dos membros da escola. A formação continuada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos integrantes da comunidade escolar A concepção democrática-participativa de gestão valoriza o desenvolvimento pessoal, a qualificação profissional e a competência técnica. A escola é um espaço educativo, lugar de aprendizagem em que todos aprendem a participar dos processos decisórios, mas é também o local em que os profissionais desenvolvem sua profissionalidade. A organização e gestão do trabalho escolarrequerem o constante aperfeiçoamento profissional – político, científico, pedagógico – de toda a equipe escolar. Dirigir uma escola implica conhecer bem seu estado real, observar e avaliar constantemente o desenvolvimento do processo de ensino, analisar com objetividade os resultados, fazer compartilhar as experiências docentes bem sucedidas. O processo de tomada de decisões deve basear-se em informações concretas, analisando cada problema em seus múltiplos aspectos e na ampla democratização das informações Este princípio implica procedimentos de gestão baseados na coleta de dados e informações reais e seguras, na análise global dos problemas (buscar sua essência, suas causas, seus aspectos mais fundamentais, para além das aparências). Analisar os problemas em seus múltiplos aspectos significa verificar a qualidade das aulas, o cumprimento dos programas, a qualificação e experiência dos professores, as características sócio- econômicas e culturais dos alunos, os resultados do trabalho que a equipe se propôs a atingir, a saúde dos alunos, a adequação de métodos e procedimentos didáticos etc. A democratização da informação implica o acesso de todos às informações e canais de comunicação que agilizem a tomada de conhecimento das decisões e de sua execução. Avaliação compartilhada Todas as decisões e procedimentos organizativos precisam ser acompanhados e avaliados, a partir do princípio da relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da equipe escolar. Além disso, é preciso insistir que o conjunto das ações de organização do trabalho na escola estão voltados para as ações pedagógico-didáticas, em função dos objetivos básicos da escola. O controle implica uma avaliação mútua entre direção, professores e comunidade. Relações humanas produtivas e criativas assentadas na busca de objetivos comuns Esse princípio indica a importância do sistema de relações interpessoais em função da qualidade do trabalho de cada educador, da valorização da experiência individual, do clima amistoso de trabalho. A equipe da escola precisa investir sistematicamente na mudança das relações autoritárias para relações baseadas no diálogo e no consenso. Nas relações mútuas entre direção e professores, entre professoras e alunos, entre direção e funcionários técnicos e administrativos, há que combinar exigência e respeito, severidade e tato humano. DEMOCRATIZAR A GESTÃO DA EDUCAÇÃO Permitir que a sociedade exerça seu direito à informação e à participação deve fazer parte dos objetivos de um governo que se comprometa com a solidificação da democracia. Democratizar a gestão da educação requer, fundamentalmente, que a sociedade possa participar no processo de formulação e avaliação da política de educação e na fiscalização de sua execução, através de mecanismos institucionais. Esta presença da sociedade materializa-se através da incorporação de categorias e grupos sociais envolvidos direta ou indiretamente no processo educativo, e que, normalmente, estão excluídos das decisões (pais, alunos, funcionários, professores). Ou seja, significa tirar dos governantes e dos técnicos na área o monopólio de determinar os rumos da educação no município. A criação de mecanismos institucionais deve privilegiar os organismos permanentes, que possam sobreviver às mudanças de direção no governo municipal. Os órgãos colegiados, como conselhos, são os principais instrumentos. Alguns elementos facilitam a implantação de medidas de democratização da gestão: a educação é uma política de muita visibilidade, atingindo diretamente grande parte das famílias e não é difícil mobilizar profissionais, pais e alunos. É necessário que os mecanismos de democratização da gestão da educação alcancem todos os níveis do sistema de ensino. Devem existir instâncias de participação popular junto à secretaria municipal de educação, junto a escolas e, onde for o caso, em nível regional. Também é possível imaginar instâncias de participação especializadas, correspondentes aos diferentes serviços de educação oferecidos (creches, ensino de primeiro e segundo graus, alfabetização de adultos, ensino profissionalizante). Em qualquer instância, os mecanismos institucionais criados devem garantir a participação do mais amplo leque de interessados possível. Quanto mais representatividade houver, maior será a capacidade de intervenção e fiscalização da sociedade civil. DIFICULDADES Os governos municipais, mesmo quando desejam, muitas vezes não conseguem transformar em ações concretas as diretrizes políticas de ampliação da participação popular na gestão municipal. Há uma série de dificuldades, de caráter geral (descaso da população, conflitos de interesses, manipulação de grupos da sociedade, problemas de comunicação, etc.). No caso específico da educação, adicionam-se SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl dificuldades como o desconhecimento das discussões e questões colocadas frente à política de educação do município. É necessário conseguir que pais, funcionários e outros atores envolvidos disponham de capacitação técnica mínima para participar do processo de planejamento e avaliação. Momentos especiais de formação dos representantes populares devem fazer parte das atividades normais dos órgãos. O PAPEL DOS CONSELHOS NA EDUCAÇÀO Os Conselhos Escolares são constituídos por uma representação paritária de pais, professores, alunos e funcionários. Têm a função de adequar as diretrizes e metas estabelecidas pelo Sistema Municipal de Educação às necessidades específicas de cada escola. As Comissões Regionais de Educação receberam a atribuição de avaliar o ensino municipal de cada região político-administrativa e formular propostas de diretrizes e metas para o Sistema Municipal de Educação. São compostas por representantes dos Conselhos Escolares, das Escolas Comunitárias e das organizações populares voltadas à defesa do direito à educação. A Conferência Municipal de Educação conta com representação da prefeitura, Legislativo Municipal, grêmios estudantis, associações de pais, organizações não-governamentais, sindicatos e associações. Como tem caráter deliberativo, é responsável pela formulação das diretrizes para a política educacional e a avaliação dos resultados da sua implementação. As diretrizes, formuladas a partir de propostas de todos os atores envolvidos, são sistematizadas pelos técnicos da prefeitura. A primeira Conferência, realizada em outubro de 1993, empreendeu uma discussão estratégica sobre a melhoria da qualidade do ensino da rede pública municipal, aberta a todos os interessados. O Conselho Municipal de Educação é constituído por uma representação paritária dos Poderes Públicos e da sociedade civil. É responsável pela aprovação, em primeira instância, do Plano Municipal de Educação, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, a partir das conclusões da Conferência Municipal de Educação. Responsabiliza- se também por estabelecer critérios para a destinação de recursos e pela avaliação dos serviços prestados pelo Sistema Municipal de Educação. A aprovação final do Plano Municipal de Educação cabe à Câmara Municipal. A formulação do sistema de gestão democrática da educação de Recife contou com a participação de entidades da sociedade civil. Este procedimento confere maior representatividade às instâncias criadas. Para divulgar as modificações implantadas, a prefeitura lançou os “Cadernos de Educação”, esclarecendo a proposta juntoà população. A democratização da gestão - especialmente quando se dá através de ações estruturadas - permite que os setores interessados participem da elaboração da política municipal de educação. São gerados, assim, ganhos em qualidade das decisões, pois estas podem refletir a pluralidade de interesses e visões que existem entre os diversos atores sociais envolvidos. As ações empreendidas passam a um patamar de legitimidade mais elevado. A criação de instâncias participativas na gestão da educação diminui os lobbies corporativistas, por aumentar a capacidade de fiscalização da sociedade civil sobre a execução da política educacional. Força um aumento da transparência das ações do governo municipal, através da ampliação do acesso à informação. Como a educação é uma política e um serviço público de grande visibilidade, a democratização de sua gestão traz resultados positivos para a ampliação da cidadania, por oferecer a um grande contingente de cidadãos a oportunidade de participar da gestão pública. O governo municipal pode valer-se da estrutura do sistema de gestão democrática da educação para ampliar sua capacidade de comunicação com a população. Neste ponto, os Conselhos de Escolas, por atingirem diretamente grande parte das famílias, têm papel fundamental. A democratização da gestão da educação atua sempre como um reforço da cidadania, constituindo-se em fator de democratização da gestão municipal como um todo. A obtenção destes resultados, no entanto, depende da vontade política da administração de ampliar os espaços de participação da sociedade na gestão municipal. Depende, também, da adoção de outras medidas visando a democratização do ensino. Um governo que não se preocupar com estes dois pontos dificilmente conseguirá implantar um verdadeiro sistema de gestão democrática da educação. A AVALIAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO ESCOLAR E DO PROJETO PEDAGÓGICO A avaliação do Plano de Gestão Escolar deve ser tarefa coletiva da direção, equipe técnica, professores, alunos e comunidade, representada, principalmente, pelos pais. Para avaliar, é necessário elaborar indicadores, o que também pode ser feito coletivamente. Os resultados positivos e negativos devem subsidiar a formulação de novas propostas. Como avaliar o Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico em todas as suas etapas ? A avaliação do Plano de Gestão Escolar e do Projeto Pedagógico deve abranger três aspectos centrais: - a avaliação do processo de elaboração; - a avaliação dos efeitos diretos na aprendizagem dos alu- nos; - a avaliação dos efeitos indiretos na aprendizagem dos alu- nos e no desenvolvimento da escola. É importante avaliar: - a articulação entre o Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico; SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl - a articulação entre todos os componentes dos Planos; - a adequação dos objetivos e das ações desenvolvidas. Destacar: - as ações, programas e projetos que apresentaram conse- quências positivas; - as ações, programas e projetos que apresentaram dificul- dades no desenvolvimento para alunos e professores; - as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação entre a escola e a comunidade; direção, professores e alu- nos, e entre os alunos; - as consequências do Plano de Gestão Escolar na relação entre a escola e demais parceiros. A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto Pedagógico na aprendizagem dos alunos, implica verificar: - a melhoria de aprendizagem dos alunos da escola e, em particular, dos grupos que receberam tratamento diferenci- ado; - o nível de envolvimento dos professores, alunos e comuni- dade com as propostas desenvolvidas; - o progresso de cada aluno e, particularmente, o dos alunos que apresentavam dificuldades por meio de trabalhos e produções individuais; dos exercícios, situações-problema’’, tarefas realizadas; da observação da evolução do compor- tamento no que se refere à participação de cada aluno nas atividades em classe e em outros ambientes. A avaliação dos efeitos do Plano de Gestão Escolar e do Projeto Pedagógico sobre a equipe escolar e os professores e analisa como eles contribuíram para a formação continuada dos professores e como se pode aperfeiçoar ambos os processos de gestão, no que se refere: - à disposição para utilizar plenamente o tempo, os espaços educativos e os materiais; - à coordenação das atividades e à divisão de tarefas; - à qualidade e à compreensão das informações sobre o Plano de Gestão Escolar e o Projeto Pedagógico; - ao aperfeiçoamento dos Conselhos de Classe e dos pro- cedimentos de avaliação, usados pelos professores; - ao envolvimento da comunidade; - ao envolvimento dos alunos; - à melhoria do relacionamento da equipe escolar, técnicos, professores e comunidade; - ao aperfeiçoamento da prática docente; - à aquisição de conhecimentos teóricos e pedagógicos pe- los professores por meio de esforço pessoal, do trabalho em equipe ou da formação continuada.A avaliação do Projeto Pedagógico deve verificar: - se as competências, conhecimentos e os métodos corres- pondem ao diagnóstico realizado; - se os professores elaboram coletivamente as ações, pro- gramas e/ou projetos; - se os professores experimentam novos materiais e se inte- ressam por experiências bem-sucedidas; - se os professores introduziram mudanças na prática peda- gógica; - se a seleção de materiais e estratégias mostrou-se ade- quada aos objetivos propostos. A avaliação da participação dos alunos deve verificar: - se os alunos demonstram maior interesse pelas (e nas) au- las; - se os alunos estão alcançando os objetivos propostos nos Planos Pedagógicos. A avaliação da etapa final do Projeto Pedagógico deve: - identificar as ações que tiveram efeito positivo; - analisar os indicadores de desempenho dos alunos para verificar em que aspectos apresentam melhora; - analisar os indicadores de desempenho dos alunos para verificar as dificuldades que persistem; - identificar os obstáculos que se colocaram durante o de- senvolvimento do Projeto Pedagógico. Considerando que Gestão Escolar Democrática implica: a) a utilização, racional e eficaz, dos recursos humanos, mate- riais e financeiros destinados à realização da ação instituci- onal; b) a necessidade de erradicar as práticas hierarquizadas, au- toritárias e excessivamente burocráticas do sistema educa- cional; c) democratizar as práticas de gestão administrativa, financei- ra e pedagógica da escola; FICAM ESTABELECIDOS, ENTÃO OS SEGUINTES PRINCÍPIOS DE GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA: 1 A Democracia tem que ser um exercício de cidadania na prática da escola cidadã, e deverá ser revista periodicamente por meio de avaliação do trabalho gestor e do Conselho Escolar, além de outras atitudes e métodos democráticos. 2 A autonomia em uma gestão escolar democrática deve ser SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl garantida a partir da eleição direta para diretor e vice-diretor, reconhecendo-se que a escola faz parte de um sistema educacional formador de cidadãos críticos que implica, necessariamente, um processo de interdependência entre toda a rede escolar e a sociedade. 3 A gestão, para ser democrática, deve priorizar a busca da igualdade de direitos e deveres, propiciando uma participação ativanas decisões tomadas no Conselho Escolar, nas eleições diretas e em outros espaços estabelecidos para essa finalidade. 4 Na Gestão Democrática os gestores da escola devem demonstrar competência administrativa e pedagógica, bom senso, coerência política com o P.P.P. da Escola e conquistar criticamente o respeito da comunidade escolar de acordo com as prioridades da escola cidadã e desta comunidade, definidas pelo Conselho Escolar e não tendo influência político-partidária. 5 A gestão democrática escolar deve considerar todos os segmentos envolvidos na vida escolar importantes para a efetivação do processo educativo, visto que, todos são sujeitos históricos, atores sociais responsáveis pela efetivação do mesmo. 6 A gestão escolar democrática deve promover discussões e ações coletivas, para garantir o desenvolvimento e a transformação das pessoas e da instituição, uma vez que a escola é um espaço público de permanente construção e vivência da cidadania. 7 A gestão escolar democrática deve pautar-se no diálogo e na busca constante da participação ativa de pais, alunos, corpo docente e administrativo, pois além de proporcionar a oportunidade de conviver, de planejar e de resolver problemas juntos, favorece a construção da solidariedade e compromisso entre a comunidade escolar de forma crítica e reflexiva. 7.1 A escola cidadã precisa criar e programar estratégias para conscientizar aos pais sobre os problemas reais da escola e sobre a atuação dos mesmos no Conselho Escolar. 8 A gestão democrática da escola deve, além de valorizar, incentivar e fazer acontecer o trabalho em equipe na escola, garantir a abertura de espaços de integração da comunidade, que contribuam para a construção da gestão democrática. 9 A gestão deve valorizar os projetos condizentes com a realidade da escola, buscando consenso em torno das propostas que sejam comuns e representem, em primeira instância, as necessidades da maioria. 10 A gestão escolar democrática deve ser transparente nas suas ações administrativa, pedagógica e financeira, socializando as informações. Neste sentido: 10.1 A comunidade deve ser incentivada a conhecer as leis que regem a administração pública escolar; 10.2 devem ser criadas estratégias no sentido de oferecer condições e horários adequados à comunidade escolar, dentro da carga horária do professor, para que possam participar dos processos de tomadas de decisões, onde o diálogo e a busca de consenso devem nortear as discussões;as decisões tomadas devem se tornar públicas e conhecidas de todos, onde as discussões das prioridades devem levar em consideração as intenções da comunidade escolar. 11 A gestão democrática, com liberdade de expressão, deve organizar as condições objetivas para desburocratizar os processos administrativos internos, lutando politicamente junto às instâncias superiores na criação e/ou modificação de critérios, na busca da autonomia (administrativa, pedagógica e financeira) da escola, sem eximir o Estado2 de suas obrigações para com o ensino público. 12 A gestão democrática deve lutar pelo envolvimento da comunidade nas ações da instituição como um todo, de acordo com os princípios de avaliação estabelecidos no presente documento; lutando pela inclusão social, pelo acesso e a permanência do aluno na escola, com sucesso. 13 A gestão democrática escolar deve buscar caminhos para a realização do trabalho pedagógico, comprometidos com uma convivência prazerosa entre profissionais, alunos e familiares, dentro dos princípios de justiça, cooperação, igualdade e compreensão. 14 A gestão democrática deve garantir a viabilização do PPP e da proposta pedagógica da escola, incentivando e contando, efetivamente, com a participação dos profissionais da educação, dos alunos e de seus familiares, realizando periodicamente diagnósticos necessários para melhoria de seus projetos. 15 Os gestores da escola devem comprometer-se e fazer acontecer as metas estabelecidas, tanto no Projeto Político-Pedagógico da escola, bem como na Proposta Pedagógica da mesma. 16 A gestão deve incentivar e viabilizar a formação permanente dos vários segmentos da comunidade escolar, articulando-se politicamente com a Secretaria Municipal de Educação, de modo a possibilitar a realização de estudos e outros espaços coletivos para a reflexão e o debate político-pedagógico e científico, sempre que possível. 17 O Conselho Escolar deve participar nas decisões administrativas, pedagógicas e financeiras que envolvem a vida da escola, contribuindo democraticamente para legitimação das mesmas. 18 Na Gestão democrática a ética, tal como caracterizada nos princípios de convivência, é fundamental no sentido de estabelecer a humanização, o respeito, a valorização profissional e o compromisso com a educação. 19 O gestor da escola, juntamente com os órgãos municipais competentes, devem oferecer condições para que o processo de inclusão da criança portadora de necessidades especiais na escola esteja alicerçado com recursos humanos especializados na área em questão, assim como recursos materiais e físicos para um melhor atendimento. 20 A gestão democrática deve buscar a melhoria da qualidade do ensino onde o conhecimento seja instrumento para a compreensão e intervenção na realidade. Um espaço efetivo do crescimento humano, SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl do diálogo, das diferenças e da flexibilidade, formadora de cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e deveres. 21 A gestão democrática escolar deve trabalhar a diversidade humana, comprometendo-se em combater todas as formas de preconceito e discriminação. 22 Atendendo aos legítimos interesses de nossa categoria, os princípios aqui contidos poderão ser acrescentados, suprimidos ou modificados; desde que previamente propostos, votados e aprovados em congresso oficialmente convocado para tal. O foco da escola de boa qualidade deve ser a possibilidade de apropriação, pelos alunos, do conhecimento socialmente relevante, em que o saber acadêmico, valores e tradições culturais sejam respeitados, de modo que todos se sintam identificados, ao mesmo tempo que instrumentalizados para compreender o mundo contemporâneo, co- participando da construção da ordem democrática. O alcance desses objetivos não é tarefa apenas da escola, mas dos diferentes atores sociais diretamente conectados com ela: educadores, pais, associações, empresas etc. Descentralizar as decisões de forma que a escola tenha maior autonomia implica, por um lado, permitir a interpretação e operacionalização local das políticas centrais e, por outro, levar em conta a multiplicidade dos atores e interesses presentes. Para lograr isso, o projeto da escola que visa uma efetiva gestão participativa busca coerência entre as diferentes instâncias: • no interior da própria escola, entre os diferentes atores, respeitando identidades e valores, de modo a desenvolver o trabalho coletivo em torno de objetivos comuns; • entre a escola e a comunidade, incluindo pais, lideranças, políticos, empresas etc.; e • entre as demandas em nível local, regional e nacional. O projeto de escola dá coerência às atividades em todos os níveis e possibilita aos diferentes atores e grupos de trabalho agirem na mesma direção. Ele implica um conjunto de consensos, a abertura para a comunidade e a agregação de diferentes parceiros, fornecendo os meios para que estes conheçam o sentido da ação comum a ser conduzida. Na verdade, implicaa gestão participativa. Para delinear tal projeto, é fundamental conhecer as expectativas dessa comunidade, suas necessidades, formas de sobrevivência, valores, costumes, manifestações culturais e artísticas. É através desse conhecimento que a escola pode atender a comunidade e auxiliá-la a ampliar seu instrumental de compreensão e transformação do mundo. INSTÂNCIAS COLEGIADAS NA UNIDADE ESCOLAR A escola é uma organização que, como muitas outras, lida com pessoas. Sua peculiaridade está em ser a primeira instituição que os cidadãos, ainda crianças, conhecem. Mais ainda, uma instituição que complementa as famílias por ter a missão de educar. A experiência na escola pode desenvolver ou não, os sentimentos de confiança e de satisfação em pertencer à sociedade maior, como cidadão. A escola toma uma parte importante do tempo de nossa infância e deveria representar uma experiência rica, cheia de significados, daquelas que gostamos de passar aos nossos filhos e que eles gostarão de passar para a geração seguinte. A boa escola não resulta apenas da competência específica de suas diretoras, professoras e funcionários, porque depende de como as famílias tratam da educação dos filhos; de como elas ajudam seus filhos a gostar e valorizar os estudos, a perceber que têm futuro e que este já começa a ser construído ali, na sua escola. Se para a criança, a escola é um castigo ou é um mundo do qual os pais não tomam muito conhecimento, a experiência escolar não será proveitosa. A equipe escolar depende dos pais de alunos para ter sucesso, assim como os pais de alunos dependem da equipe escolar para que seus filhos tenham uma experiência satisfatória de convívio com crianças e adultos fora do circulo familiar e para que desenvolvam a curiosidade e a capacidade de aprender. O sucesso da escola depende do clima institucional, da competência didático-pedagógica da escola e da resposta dos alunos. Mas a verdade é que todos esses três fatores estão condicionados ao entrosamento entre escola e famílias. A autonomia melhora muito as condições de integração dessas duas metades da educação porque institui a gestão participativa, que submete os processos decisórios às diferentes perspectivas dos professores, dirigentes, funcionários e pais de alunos. Com isso, ela não só aumenta a sintonia entre as varias partes, como melhora a qualidade das decisões. A gestão participativa abrange diferentes níveis e áreas da administração escolar. O nível mais alto tem estatura equivalente à da Diretoria da escola e é o do Colegiado Escolar (também chamado de Conselho de Escola, Associação de Pais e Mestres, Círculo de Pais e Professores, ou outras denominações). Este é o tema central deste módulo. Outros dois colegiados são os Conselhos de Classe, que acompanham as atividades pedagógicas da escola, e os Conselhos Fiscal e Deliberativo da Unidade Executora, responsável pela administração dos recursos financeiros da escola. Além deles, há as Assembleias Gerais onde se definem as candidaturas aos postos eletivos e se aprovam regimentos e estatutos ou as revisões desses documentos. Nada impede que a escola crie outros órgãos coletivos para funções consultivas e/ou deliberativas, temporárias ou permanentes (por exemplo, uma comissão para melhorar e supervisionar a qualidade e valor nutritivo da merenda escolar, ou um colegiado que supervisione GESTÃO E INSTÂNCIAS COLEGIADAS NA UNIDADE ESCOLAR; ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E ORGANIZAÇÃO. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl e desenvolva o acervo e a utilização de materiais didáticos _ livros, vídeos, revistas e equipamentos de ensino, etc.). Veja o conceito de alguns termos amplamente empregados nas escolas: Colegiado Escolar: O colegiado escolar é um órgão coletivo, consultivo e fiscalizador, e atua nas questões técnicas, pedagógicas, administrativas e financeiras da unidade escolar. Como órgão coletivo, adota a gestão participativa e democrática da escola, a tomada de decisão consensual visando à melhoria da qualidade do ensino.. Conselho Escolar: órgão colegiado que tem como objetivo promover a participação da comunidade escolar nos processos de administração e gestão da escola, visando assegurar a qualidade do trabalho escolar em termos administrativos, financeiros e pedagógicos. Associação de Pais e Mestres: instituição auxiliar às atividades da escola, formada por pais, professores e funcionários. Tem como objetivo auxiliar a direção escolar na promoção das atividades administrativas, pedagógicas e sociais da escola, bem como arrecadar recursos para complementar os gastos com o ensino, a educação e a cultura. Caixa Escolar: A caixa escolar é uma instituição jurídica, de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como função básica administrar os recursos financeiros da escola, oriundos da União, estados e municípios, e aqueles arrecadados pelas unidades escolares. Veja, a seguir, detalhes de cada uma dessas instâncias: O COLEGIADO DA ESCOLA O Colegiado Escolar corresponde a um Conselho de Administração presidido pelo Diretor da Escola e composto por representantes dos professores e funcionários, dos pais de alunos e dos alunos com 16 anos ou mais, além de representantes da comunidade, se houver interesse. Normalmente, metade de seus membros é composta por representantes dos professores e funcionários e a outra metade, por representantes dos pais de alunos, alunos maiores de 16 anos e líderes da comunidade. O Colegiado tem funções consultivas (de assessoria à Diretoria da Escola) e deliberativas (de decisão) sobre matérias financeiras, administrativas e pedagógicas. A direção da escola é compartilhada entre a Diretoria e o Colegiado Escolar. Ambos são responsáveis pelos resultados da escola. A Caixa Escolar, também conhecida como Unidade Executora, é uma “sociedade civil” com personalidade jurídica de direito privado, criada para administrar os recursos recebidos da Secretaria de Educação e de outras fontes. Embora conte com seu próprio Conselho (o Conselho Fiscal), ela também se subordina à autoridade da Diretoria e do Colegiado da Escola. O Conselho de Classe toma decisões no âmbito pedagógico e supervisiona o trabalho dos professores. AS COMPETÊNCIAS E FUNÇÕES DO COLEGIADO As funções do Colegiado podem ser consultivas e deliberativas e englobam as áreas financeira, administrativa e pedagógica da unidade de ensino. Seu objetivo maior é ajudar a escola. Reproduzimos abaixo um exemplo de Colegiado, contendo funções deliberativas e consultivas adotadas pela rede estadual mineira. A relação de itens do quadro na página seguinte serve de ilustração e não de demarcação fixa e definitiva das funções do Colegiado. A legislação permite flexibilidade. As escolas podem decidir sobre outros assuntos, bastando prevê-los no estatuto do Colegiado. Mas há um princípio fundamental que precisa orientar todas as definições e ações do Colegiado e da Escola como um todo: o da centralidade dos alunos. Como a educação do aluno é a razão de ser da escola, nada mais lógico que as ações da escola busquem, direta ou indiretamente, o melhor atendimento possível de seus alunos. Para isso, deve-se ter em mente que os alunos não estão na escola apenas para receber estímulos. Eles devem ter um papel ativo; de interpretar e aplicar os conteúdos adquiridos, construindo o seu próprio conhecimento e desenvolvendo suas aspirações, valores e comportamentos. Os “defeitos” que apresentem _ sejam de aprendizagem ou de conduta_ podem indicar falhas da escola e depor contra os que participam da direção. Isto inclui tanto a equipe escolar quanto as famílias dos alunos. Em vista disso, as funções administrativas e financeiras devem estar voltadas para aquela que é o objetivo principal de uma escola: a função pedagógica, a que se ocupa diretamente com a aprendizagem do aluno. A função pedagógica não se restringe à sala de aula, pois inclui outras atividades, como visitas e passeios, e projetos desenvolvidos por grupos de alunos que requerem materiais, como jornais, revistas e vídeos. AS REGRAS DE COMPOSIÇÃO DO COLEGIADO O Colegiado é presidido pelo Diretor da Escola e reune representantes de dois grandes segmentos: o dos funcionários e o dos usuários da escola. No segmento dos funcionários estão três subgrupos: o dos professores, o dos especialistas de educação e o da equipe administrativa da escola. No outro segmento, estão os pais de alunos e o subgrupo de alunos maiores de 16 anos, e, eventualmente, representantes da comunidade. Segundo as definições da SEE-MG, a representação do segmento de funcionários e a dos pais de alunos devem ter o mesmo tamanho (de 4 a 6 representantes cada). A escolha dos representantes segue os seguintes critérios e procedimentos: • Qualquer pessoa que faça parte da comunidade escolar pode se tornar membro do Colegiado através de eleição ocorrida na 1a. Assembleia Geral, no mês de março de ca- da ano. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl • Para se lançar candidato, a pessoa deverá manifestar sua vontade de se candidatar durante a Assembleia. Caso você conheça alguém que julgue possuir as qualidades para o cargo, você pode indicá-la na Assembleia e pedir que ela se manifeste, aceitando ou não a candidatura. • O mandato dos membros é de 1 ano _ de março a março _ e o Estatuto do Colegiado deve prever se poderá haver reeleição ou não. • A escolha dos membros obedece a quantidade de votos que cada candidato obteve na eleição de seu segmento. Os mais votados tornam-se membros-titulares e cada um deles tem um suplente, também escolhido segundo o nú- mero de votos obtidos. Se o segmento de pais e alunos tem 4 representantes; o suplente do titular mais votado é o candidato que chegou em 5o. lugar na contagem dos votos, o suplente do titular que foi o segundo mais votado, será o candidato que chegou em 6o. lugar na contagem dos votos e assim por diante. • Os suplentes são portanto escolhidos dentro do mesmo segmento que elegeu os titulares. Eles podem estar pre- sente nas reuniões do Colegiado e manifestar suas opini- ões, mas não têm direito de voto, quando o titular estiver presente. • O Vice-Diretor é o suplente do Diretor na Presidência do Colegiado e não pode representar nenhum segmento da escola. • Quando o Colegiado perde definitivamente um membro titu- lar, o suplente assume o cargo de membro-titular em cará- ter definitivo e o Colegiado preenche a vaga com o candi- dato que obteve mais votos entre os que não chegaram a assumir nenhuma suplência ou, se não houver excedentes, convoca eleição no segmento para eleger o suplente. • Como medida preventiva, os resultados completos da elei- ção devem ser registrados na Ata da 1a Assembleia do ano. Todos os candidatos devem estar listados com o número de votos obtidos, de modo a que se possa recorrer a esta relação em caso de necessidade de substituição. Há algumas situações concretas que merecem comentário. Por exemplo, se a escola só possui um especialista, ele deve ser automaticamente incorporado como membro do Colegiado. Se um funcionário for também pai de aluno, ele deve buscar se eleger pelo segmento dos funcionários para permitir que os representantes dos pais tragam perspectivas de fora da escola. O Colegiado só existe quando está reunido. Ele não possui funções executivas ou administrativas permanentes. Por isso, todos os seus membros têm a mesma função e o mesmo direito de participação. COMO FUNCIONA O COLEGIADO? O Colegiado é um fórum democrático e suas decisões devem ser aprovadas pela maioria dos membros. Ele deve ter uma programação de reuniões ordinárias, quer dizer, reuniões regulares, previstas, e pode também ter reuniões extraordinárias, especiais e convocadas por motivos e segundo regras de convocação previstas no Estatuto do Colegiado. Por exemplo, se a escola é vítima de um ato de vandalismo grave, por parte de um grupo significativamente numeroso de alunos, cabe convocar uma reunião extraordinária para avaliar o fato e decidir qual seria a reação exemplar que prevenisse repetição de um evento dessa ordem (talvez punir os alunos com a responsabilidade de recuperar o que estragaram, dedicando um certo número de horas adicionais à escola). Na rede estadual de Minas Gerais, as reuniões do Colegiado devem ocorrer mensalmente. Se o Presidente (Diretor da Escola) insistir em não convocá-las, a maioria dos membros do Colegiado, representada pela metade mais um, poderá tomar a iniciativa de convocação. Os membros-titulares e suplentes do Colegiado têm uma grande responsabilidade. São eleitos em uma Assembleia Geral e devem representar, nas reuniões, o segmento que os elegeu, sem perder nunca de vista o interesse maior da escola que é o de atender às necessidades de seus alunos. Para isso, devem se preparar para as reuniões e consultar os seus “pares” (o segmento que os elegeu) antes e depois das reuniões. Além disso, é fundamental que conheçam profundamente a escola e seus usuários - os alunos e suas famílias. Devem consultar a legislação e outros textos que sirvam de orientação do que é exigido; devem estar informados sobre outras escolas e a Secretaria Municipal de Educação. É muito importante que o Diretor entregue a pauta das reuniões com bastante antecedência para que haja tempo de os membros se prepararem e convocarem uma reunião prévia com os seus respectivos segmentos. A Direção da escola deve oferecer o espaço para essas reuniões. Quais são os textos legais mais importantes? Todas as ações escolares devem ser condizentes com os seguintes textos legais: • a Constituição Estadual, • as normas do Conselho Nacional de Educação • as normas do Conselho Estadual da Educação • o Estatuto da Criança e do Adolescente • a Constituição Federal; • a política (resoluções, portarias, programas) da Secretaria de Estado de Educação e/ou da Secretaria Municipal da Educação Todos esses textos devem estar arquivados para consulta do Colegiado e outros membros da comunidade interna e externa da SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl escola. Em caso de dúvidas sobre a legislação, os membros do Colegiado devem consultar a Secretaria de Educação e buscar especialistas habilitados a trazer mais informações e esclarecimentos. O ESTATUTO DO COLEGIADO O Estatuto do Colegiado é um documento de alcance mais restrito do que o Regimento da Escola. Ele reúne um conjunto de normas e regras que regulamentam o funcionamento do Colegiado da Escola baseado na vontade da comunidade escolar interna e externa e na legislação. Não existe um modelo único e geral de Estatuto. Cada Estatuto é único porque aborda aspectos importantes para a realidade de cada escola. Após analisar o texto proposto do Estatuto, ele deve ser aprovado por toda a comunidade escolar em Assembleia Geral. Os membros da Comunidade Escolarpodem propor mudanças no Estatuto e elas serão incorporadas se forem também aprovadas em Assembleia Geral e não violarem a legislação. Muitos conflitos podem ser evitados ou ter solução facilitada se a comunidade escolar for capaz de prever e tratar dessas situações no Estatuto. Vejamos algumas das questões que podem estar contempladas no Estatuto: • de quantos membros será composto o Colegiado da Esco- la? qual o número de representantes de cada segmento? • se um membro titular não comparecer a um número X de reuniões, que providências devem ser tomadas? • quais são os critérios de desempate nas eleições do Cole- giado? • de que modo um membro da comunidade escolar que não pertence ao Colegiado pode incluir um assunto na pauta da próxima reunião do Colegiado? • quem pode convocar reuniões do Colegiado além de seu presidente (o diretor da escola)? Em que circunstâncias is- so poderá ocorrer? A IMPORTÂNCIA DAS ATAS A implantação da gestão colegiada, pela qual o diretor divide responsabilidades e compartilha decisões, torna muito importante os Editais de Convocação das reuniões e o registro em Atas das discussões, sugestões e resoluções tomadas pelo Colegiado da Escola. O Edital de Convocação deve conter a data, o local e o horário da reunião, além do objetivo e assuntos a serem tratados. A Ata, por sua vez, é o registro resumido, porém claro e fiel, das opiniões, votações e resoluções de uma reunião convocada com antecedência de pelo menos 24 horas. A importância das Atas é que elas permitem consultar fatos e decisões tomadas em reuniões, esclarecendo seu contexto e dúvidas que podem surgir posteriormente. Ela é um registro formal e oficial das reuniões do Colegiado.A Ata deve ter páginas numeradas e rubricadas pelo responsável por sua elaboração _ em geral, o diretor ou vice-diretor ou um secretário indicado. Na abertura, o texto da Ata deve identificar quem está elaborando e em que data. Registra também a relação nominal de todos os presentes, a pauta ou objetivos da reunião e resume os principais resultados, tudo isso, sem deixar espaços livres que possam permitir adulteração. Acréscimos posteriores devem ser precedidos da expressão “Em tempo,”. Se elaborada em computador, a Ata deve ser arquivada como “documento de leitura”, bloqueado para edição ou revisões, e deve ter cópia em papel com páginas rubricadas. ASSEMBLEIAS E REUNIÕES Assembleia Geral é uma reunião aberta a toda comunidade escolar, que precisa ocorrer pelo menos uma vez por ano, para eleger os membros do Colegiado Escolar. As convocações extraordinárias ocorrem quando a escola precisa aprovar alterações de seu Regimento ou do Estatuto do Colegiado. As Assembleias Gerais são soberanas nas suas decisões, por isso é importante que haja bom senso nas decisões de convocação e que, enquanto participante, você se inteire daquilo que está sendo objeto de discussão e aprovação. Troque ideias, certifique-se de que a decisão não viole o Estatuto da Escola ou a legislação pertinente. Não assine nada sem ter certeza do que se trata. Na rede estadual de Minas Gerais as Assembleias Gerais têm a seguinte programação: 1a Assembleia Geral _ em março, tem o objetivo de esclarecer o que é o Colegiado Escolar e de realizar a eleição por cada segmento de seus representantes. 2ª Assembleia Geral _ ainda no 1o semestre, para divulgar as propostas de trabalho da escola. 3ª Assembleia Geral _ no 2o semestre, para fazer um balanço das atividades desenvolvidas pela escola durante o ano. Caso haja necessidade de outras assembleias, o diretor ou a maioria do Colegiado poderá convocá-las, em caráter extraordinário, durante o ano letivo, para resolver assuntos urgentes do interesse da escola. O Colegiado Escolar reúne os representantes eleitos de todos os segmentos da comunidade escolar e divide com a Diretoria a responsabilidade maior pelos resultados da escola. Ele é o lugar de encontro e de desenvolvimento das aspirações e da inteligência coletiva da escola. A gestão colegiada é o regime de funcionamento mais adequado para a “escola que aprende”; aquela que não se contenta com a rotina, com reprodução do que sempre fez. A gestão colegiada estará funcionando bem se servir para aprofundar o auto-conhecimento da escola e para mobilizar a capacidade de seus membros para pensar, julgar, imaginar, propor e resolver o que for necessário. É assim que ela vai aprender a concretizar as vontades coletivas. CONSELHO ESCOLAR SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl O Conselho de Escola é um colegiado, de natureza consultiva e deliberativa, constituído por representantes de pais, professores, alunos e funcionários. A função do Conselho de Escola é de atuar, articuladamente com o núcleo de direção, no processo de gestão pedagógica, administrativa e financeira da escola. A eleição do Conselho de Escola é feita anualmente, durante o primeiro mês letivo. Os representantes de professores, especialistas de educação - diretor, vice diretor, coordenador - , funcionários, pais e alunos serão eleitos pelos seus pares, através de assembleias distintas, convocadas pelo Diretor de Escola. A eleição dos membros do Conselho de Escola será lavrada em ata, registrada em livro próprio e com a assinatura de todos os participantes, devendo ser afixada em local visível para toda a comunidade escolar. Todas as unidades escolares deverão encaminhar às Diretorias de Ensino, a composição do Conselho de Escola até 31 de março de cada ano letivo. O Conselho de Escola é presidido pelo Diretor da Escola e terá um total mínimo de 20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes. O número de componentes é fixado proporcionalmente ao número de classes da unidade escolar. (Veja quadro a seguir) A composição do Conselho de Escola segue a seguinte proporção: • 40% de docentes; • 5% de especialistas de educação, excetuando-se o Diretor de Escola; • 5% dos demais funcionários; • 25% de pais de alunos; • 25% de alunos. Para compor o Conselho de Escola é importante saber também as seguintes informações: Com relação ao número de conselheiros: O número de conselheiros é determinado pelo número de classes ou turmas. Assim sendo: • UE de até 10 classes ou turmas: 09 conselheiros. • UE de 11 a 20 classes ou turmas: 19 conselheiros. • UE de 21 a 30 classes ou turmas: 29 conselheiros. • UE de mais de 30 classes ou turmas: 39 conselheiros. Com relação à proporção dos conselheiros: A proporção dos conselheiros é variável de acordo com a natureza da U E. Em caso de percentuais que não correspondam a números inteiros, arredondar para o número inteiro mais próximo. Com relação a algumas condições de participação: • O Diretor é membro nato; • Compõe também o Conselho de Escola um representante de Associação ou Associações de Moradores do/s bairro/s atendidos pela Unidade, eleito em Assembleia; e • Nenhum conselheiro é remunerado por sua participação. A convocação para reunião extraordinária do Conselho de Escola não é feita apenas pelo Diretor da Escola. Ela poderá ser feita por proposta de, no mínimo, 1/3 (um terço) de seus membros. Quando a eleição do Conselho de Escola não for feita com a participação de todos os membros da comunidade escolar, através de eleição realizada entre eles, poderá ser solicitada a sua anulação. Esta solicitação deverá ser feita por escrito e protocolada junto à direção da escola. Quem escolhe os representantes dosalunos no Conselho de Escola são os próprios alunos, através de eleição entre os seus pares. Para participar do Conselho de Escola não é necessário contribuir com a APM. Lembramos que a contribuição para a APM é sempre voluntária. O Conselho de Escola se propõe a: • propiciar a mais ampla participação da comunidade, reco- nhecendo o seu direito e seu dever; • garantir a democracia plena da gestão financeira da unida- de, naquilo em que ela tem autonomia em relação à receita e despesa; • contribuir para a qualidade do ensino ministrado na unida- de; • integrar todos os segmentos da unidade na discussão pe- dagógica e metodológica; • integrar a escola no contexto social, econômico, cultural em sua área de abrangência; • levar a unidade a interagir em todos os acontecimentos da relevância que ocorreram ou que venham a ocorrer em sua área de abrangência; e • ser uma das instâncias da construção da cidadania. O Conselho de Escola delibera sobre: • as diretrizes a serem seguidas e metas a serem alcança- das na unidade; • a captação e o investimento de recursos próprios da unida- de; • a criação de normas regulamentares dos organismos auxi- liares que venham a ser criados; • os projetos, a ação e prioridades dos organismos auxiliares SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl que existem na unidade; • os projetos de atendimento integral ao aluno no campo ma- terial, psico-pedagógico, social e de saúde; • os programas que visem a integração escola-família- comunidade; • as soluções para os problemas administrativos e pedagógi- cos; • as atividades extra-curriculares e extraclasses que visem um maior aprimoramento ao educando; • a organização e funcionamento de escola, de acordo com as orientações da SME sobre: a. o atendimento e acomodação da demanda, turnos, distribuição de séries e classes, utilização do espaço físico; b. a fixação de critérios para ocupação do prédio e suas instalações, condições para sua preservação, cessão para outras atividades que não de ensino e de interesse da comunidade; e c. a análise, aprovação e acompanhamento de projetos propostos pelos professores. O Conselho de Escola dá parecer sobre: • a ampliação e reformas no prédio; • os problemas entre o corpo docente, entre alunos, entre funcionários que estejam prejudicando o projeto pedagógi- co da unidade; • as posturas individuais de qualquer segmento que colo- quem em risco as diretrizes e metas deliberadas; e • as penalidades a que são sujeitos funcionários, alunos, sem prejuízo de recorrência a outras instâncias. O Conselho de Escola, ainda: • elabora, conjuntamente com a equipe de educadores, o ca- lendário escolar e projeto pedagógico da unidade, observa- das as normas oficiais; • aprecia os relatórios anuais da Unidade; e • acompanha o desenvolvimento do projeto pedagógico. Como se organizam as reuniões do conselho de escola Com relação ao seu tipo: Há dois tipos de reunião de Conselho de Escola: ordinárias e extraordinárias: As reuniões ordinárias ocorrem de dois em dois meses (com datas marcadas no ato da posse); e As reuniões extraordinárias ocorrem quando necessário, por convocação da direção ou de 1/3 dos membros. Com relação ao funcionamento das reuniões: • Em todas as reuniões deverá ter pauta, aprovada no início, e redigida a ata que será afixada em lugar visível na unida- de;As reuniões serão realizadas em primeira convocação com a presença da maioria simples dos membros e em segunda convocação (30 minutos depois) com qualquer número de membros; e • O conselheiro que faltar a duas reuniões em seguida, sem justificativa, deverá ser substituído. ASSOCIAÇÃO DE PAIS E MESTRES A APM, instituição auxiliar da escola, é uma associação civil, com personalidade jurídica própria e, portanto, responsável pelos seus atos. É representada pelo seu Diretor Executivo. Este responde pela Associação, até mesmo em Juízo. A APM não se confunde com o Diretor de Escola. Entretanto, este é o presidente nato do seu Conselho Deliberativo e, nessa qualidade, bem como na qualidade de diretor da escola, tem o dever de zelar pelo bom andamento dos trabalhos da associação, observando seus funcionários, orientando seus membros e prestando colaboração, sem, porém, assumir, sozinho, as funções de seus membros. Portanto, nem pode alienar-se e nem pode, assumir, sozinho, funções que não lhe competem. Se forem constatadas fraudes nas atividades da APM, o Diretor poderá pedir, aos órgãos competentes, a intervenção na APM. Esse processo será desenvolvido pelo Grupo de Verificação e Controle das Atividades Administrativas e Pedagógicas da Secretaria da Educação. Quem determina a intervenção é o Secretário da Educação. A APM precisa ser registrada. Portanto, verificar se a Associação e, também, a ata da eleição, foram registradas em cartório de títulos e documentos. O documento que indica como cadastrar a APM no Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental é a Resolução 5 de 06/04/98 do Conselho Deliberativo da FNDE. A APM é obrigada a expor seus balanços e balancetes, na escola, em local de fácil acesso à comunidade. Esses balanços deverão estar devidamente verificados e assinados pelos membros do Conselho Fiscal, pelo Diretor Executivo, Diretor Financeiro, Diretor de Escola. Ao final do mandato da Diretoria Executiva, que é de um ano, a prestação de contas deverá ser feita diretamente em Assembleia Geral (após a apreciação do Conselho Fiscal). Manter funcionário sem registro em carteira é um descumprimento das leis trabalhistas, do que advirá, em algum momento, multas em eventuais fiscalizações. Por outro lado, a dispensa de funcionários, sem registro em carteira, mesmo quando a APM tenha pago todos os direitos, poderá gerar reclamações trabalhistas, obrigando a instituição a pagar pesadas indenizações. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Se a APM possui recursos suficientes, é recomendável a contratação de um escritório para executar os serviços de contabilidade. Pais de ex-alunos, ex-alunos maiores de 18 anos, ex- professores, demais membros da comunidade, podem ser sócios da APM na categoria de sócios admitidos. Um Conselheiro da APM poderá ser reconduzido por duas vezes, além do primeiro mandato. Ou seja, ele poderá ser eleito conselheiro por três mandatos consecutivos. e)- a execução de pequenas obras de construção em prédios escolares, que deverá ser acompanhada e fiscalizada pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE. IV - colaborar na programação do uso do prédio da escola pela comunidade, inclusive nos períodos ociosos, ampliando-se o conceito de escola como “Casa de Ensino” para “Centro de Atividades Comunitárias”; V - favorecer o entrosamento entre pais e professores possibilitando: cargo. Cada Diretor só poderá ser reconduzido uma vez, para o mesmo O membro da Diretoria perderá o mandato se faltar a 3 (três) a)- aos pais, informações relativas tanto aos objetivos educacionais, métodos e processos de ensino, quanto ao aproveitamento escolar de seus filhos; reuniões consecutivas, sem causa justificada (art. 33, § 1°). O CNPJ (ex-CGC) para a APM poderá ser obtido da seguinte forma: leva-se ao órgão da Receita Federal a ata de eleição da diretoria, com firma reconhecida e registrada em Cartório de Registro de Títulose Documentos, anexando cópia do Estatuto Padrão da APM. A APM pode cobrar mensalidade dos alunos? Compulsoriamente, não. Pode solicitar, no entanto, a contribuição espontânea, desde que não a vincule à matrícula ou frequência dos alunos. O cargo de Diretor Financeiro será sempre ocupado por pai de aluno. b)- aos professores, maior visão das condições ambientais dos alunos e de sua vida no lar. 3 - RECURSOS Os meios e recursos para atender os objetivos da APM, serão obtidos através de: I - contribuição dos associados (Contribuições facultativa de matriculas e sua renovação) - O caráter facultativo das contribuições não isenta os associados do dever moral de, dentro de suas possibilidades, cooperar para a constituição do fundo financeiro da Associação. II – convênios (com outras associações, por exemplo) (APM) Resumo do Estatuto Padrão das Associações de Pais e Mestres 1 - MISSÃO DA APM III - subvenções diversas; IV – doações ( de instituições públicas e de pessoas físicas ou jurídicas); SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl A APM, instituição auxiliar da escola, terá por finalidade colaborar no aprimoramento do processo educacional, na assistência ao escolar e na integração família-escola-comunidade. Como entidade com objetivos sociais e educativos, não terá caráter político, racial ou religioso e nem finalidades lucrativas. 2 – OBJETIVOS DA APM I - colaborar com a Direção do estabelecimento para atingir os objetivos educacionais colimados pela escola; II - representar as aspirações da comunidade e dos pais de alunos junto à escola; III - mobilizar os recursos humanos, materiais e financeiros da comunidade, para auxiliar a escola, provendo condições que permitam: a)- melhoria do ensino; b)- o desenvolvimento de atividades de assistência ao escolar, nas áreas sócio-econômica e de saúde; c)- a conservação e manutenção do prédio, do equipamento e das instalações; d)- a programação de atividades culturais e de lazer que envolvam a participação conjunta de pais, professores e alunos;V - promoções diversas ( festas etc); 4 - DOS ASSOCIADOS O quadro social da APM, constituído por número ilimitado de associados, será composto de: I - associados natos; II - associados admitidos; III - associados honorários. Serão associados natos: o Diretor de Escola, o Vice-Diretor, os professores e demais integrantes dos núcleos de apoio técnico- pedagógico e administrativo da escola (Funcionários), os pais de alunos e os alunos maiores de 18 anos, desde que concordes. Serão associados admitidos os pais de ex-alunos, os ex-alunos maiores de 18 anos, os ex-professores e demais membros da comunidade, desde que concordes e aceitos conforme as normas estatutárias. Serão considerados associados honorários, a critério do Conselho Deliberativo da APM, aqueles que tenham prestado relevantes serviços à Educação e a APM da Unidade Escolar. 5 - DOS DIREITOS DOS SÓCIOS Constituem direitos dos associados: I - apresentar sugestões e oferecer colaboração aos dirigentes dos vários órgãos da APM; II - receber informações sobre a orientação pedagógica da escola e o ensino ministrado aos educandos; III - participar das atividades culturais, sociais, esportivas e cívicas organizadas pela APM ; IV - votar e ser votado nos termos do Estatuto; V - solicitar, quando em Assembleia Geral, esclarecimentos a respeito da utilização dos recursos financeiros da APM; 1. - apresentar pessoas da comunidade para ampliação do quadro social.Serão afixados em quadro de avisos, os planos de atividades, notícias e atividades da APM, convites e convocações. 2. No exercício de suas atribuições, a APM manterá rigoroso respeito às disposições legais, de modo a assegurar a observância dos princípios fundamentais que norteiam a filosofia e política educacionais do Estado de São Paulo. 3. A APM terá prazo indeterminado de duração e somente poderá ser dissolvida, por deliberação da Assembleia Geral, especialmente convocada para este fim, obedecidas as disposições legais. 4. A APM poderá ser extinta nas hipóteses abaixo indicadas: • Desativação da unidade escolar; • Transferência da Unidade Escolar para o município (muni- cipalização). APM; 6 – DOS DEVERES DOS SÓCIOS Constituem deveres dos associados: I - defender, por atos e palavras, o bom nome da Escola e da II - conhecer o Estatuto da APM; III - participar das reuniões para as quais foram convocados; IV - desempenhar, responsavelmente, os cargos e as missões CAIXA ESCOLAR A caixa escolar é uma instituição jurídica, de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como função básica administrar os recursos financeiros da escola,oriundos da União, estados e municípios, e aqueles arrecadados pelas unidades escolares, ou seja, são unidades financeiras executoras, na expressão genérica definida pelo Ministério da Educação. A caixa escolar é uma sociedade civil, sem personalidade jurídica que lhes forem confiados; V - concorrer para estreitar as relações de amizade entre todos os associados e incentivar a participação comunitária na escola; VI - cooperar, dentro de suas possibilidades, para a constituição do fundo financeiro da APM; VII - prestar à APM, serviços gerais ou de sua especialidade SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl profissional, dentro e conforme suas possibilidades; VIII - zelar pela conservação e manutenção do prédio, da área do terreno e equipamentos escolares; IX - responsabilizar-se pelo uso do prédio, de suas dependências e equipamentos, quando encarregados diretos da execução de atividades programadas pela APM. 7 - DOS ÓRGÃOS DA APM: A. Assembleia Geral; B. Conselho Deliberativo; C. Diretoria Executiva; D. Conselho Fiscal. Observações Finais: 1. É vedado aos Conselheiros e Diretores da APM: • Receber qualquer tipo de remuneração; • Estabelecer relações contratuais com a APM. e de direito privado, sem finalidade lucrativa, criada pelo executivo estadual e sediada na escola para administrar os recursos recebidos da Secretaria de Educação e da comunidade e os por ela própria arrecadados. É indispensável para que a escola possa receber recursos e administrá-los. A caixa escolar não integra a administração pública estadual. Tem como função administrar recursos transferidos pela Secretaria de Estado da Educação (recursos vinculados e não- vinculados) e outros provenientes do município, da comunidade, das entidades públicas ou privadas e da promoção de campanhas feitas pela própria escola. Os recursos recolhidos por ela destinam-se à aquisição de bens e serviços necessários à melhoria das condições de funcionamento da escola, incluídos no seu plano de desenvolvimento. Para a organização da caixa escolar, o diretor e/ou o coordenador deve tomar a iniciativa para a sua criação. São sete os passos que devem ser seguidos: 1) convocação, através de edital, de servidores, professores, pais de alunos, para, em assembleia geral, deliberarem so- bre a constituição da caixa escolar; 2) escolha dos membros da diretoria e seus suplentes; 3) posse dos membros eleitos; 4) elaboração do estatuto da caixa escolar; SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO:http://bit.ly/2dYbNPl 5) envio do extrato do estatuto da caixa escolar para a direto- ria de suprimento escolar, para publicação; 6) registro da caixa escolar em cartório de pessoas jurídicas, sendo, para isto, necessários os seguintes documentos: edital de convocação da assembleia geral; ata da assem- bleia geral de constituição da caixa escolar ou cópia auten- ticada e o requerimento, solicitando o registro; e 7) obtenção, na Receita Federal, do número do CGC e a de- vida comunicação à diretoria de suprimento escolar. A estrutura da caixa escolar é constituída de um presidente, que é o diretor ou o coordenador da escola, de um tesoureiro e do conselho fiscal. Recomenda-se que o conselho fiscal seja integrado por membros do colegiado. Ela é composta de três órgãos: • assembleia geral, • diretoria e • conselho fiscal. A assembleia geral é o órgão de deliberação da caixa escolar, que elege os membros efetivos e suplentes do conselho fiscal. A diretoria da caixa é constituída de um presidente (o diretor da escola), um secretário e um tesoureiro. O presidente é, necessariamente, o diretor ou o coordenador da escola. O tesoureiro é escolhido entre os funcionários da escola e o secretário é um representante da comunidade. O conselho fiscal compõe-se de três representantes de pais de alunos e de outras pessoas da comunidade. Recomenda-se que ele seja composto de membros do colegiado escolar. A caixa escolar e o colegiado escolar, juntos, se complementam, cabendo ao colegiado escolar aprovar as prioridades propostas pela escola para a alocação de recursos e a prestação de contas de sua aplicação. A caixa escolar viabiliza a aplicação dos recursos, observando os instrumentos legais em vigor e de acordo com as prioridades aprovadas pelo colegiado. Seus associados natos são os funcionários e o pessoal do magistério da escola, bem como os pais dos alunos ou responsáveis. Outras pessoas da comunidade podem ser aceitas como associadas, desde que assinem a ficha de admissão. Embora já venha se instituindo historicamente, ancorada nos movimentos sociais desde a década de 70, a Caixa Escolar passou a ter maior importância a partir de meados da década de 90, quando o MEC passou a transferir recursos financeiros diretamente para as unidades escolares, de acordo com o princípio da escola autônoma, estabelecido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996. Outras estruturas de gestão colegiada que podem atuar no lugar ou em conjunto com a Caixa Escolar são a Associação de Pais e Mestres (APM), o Colegiado Escolar e o Conselho de Escola. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl As Instâncias Colegiadas da Unidade Escolar são estabelecidas pela Deliberação CEE nº 016/99, em seu capítulo II, artigos 4º e seguintes, conforme transcrito a seguir: DELIBERAÇÃO N º 016/99 CEE CAPÍTULO II DA ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR Art. 4.° - A comunidade escolar é o conjunto constituído pelos corpos docente e discente, pais de alunos, funcionários e especialistas, todos protagonistas da ação educativa em cada estabelecimento de ensino. Parágrafo único – A organização institucional de cada um desses segmentos terá seu espaço de atuação reconhecido pelo regimento escolar. Art. 5.° - A direção escolar tem como principal atribuição coordenar a elaboração e a execução da proposta pedagógica, eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida pelo estabelecimento. Parágrafo único – É recomendável a adoção de órgão colegiado de direção, em atenção ao princípio da democratização da gestão escolar. Ar. 6.º - A gestão escolar da escola pública, como decorrência do princípio constitucional da democracia e colegialidade, terá como órgão máximo de direção um colegiado. § 1.º - O órgão colegiado de direção será deliberativo, consultivo e fiscal, tendo como principal atribuição estabelecer a proposta pedagógica da escola, eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida no estabelecimento de ensino. § 2.º O órgão colegiado de direção será constituído de acordo com o princípio da representatividade, devendo abranger toda a comunidade escolar, cujos representantes nele terão, necessariamente, voz e voto. § 3.º Poderão participar do órgão colegiado de direção representantes dos movimentos sociais organizados, comprometidos com a escola pública, assegurando-se que sua representação não ultrapasse 1/5 (um quinto) do colegiado. § 4.º - O órgão colegiado de direção será presidido pelo diretor do estabelecimento, na qualidade de dirigente do projeto político- pedagógico. Art. 7.º - A organização pedagógica será constituída pelo corpo docente, pelos profissionais atuantes nas áreas de supervisão e de orientação educacional e na biblioteca, pelas coordenações de áreas ou de disciplinas e pelo conselho de classe. Art. 8.º - A organização administrativa será instituída de forma a atender às finalidades da escola, expressas em sua proposta pedagógica, e a ela se subordinará. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Art. 9.° - A organização didática será constituída dos seguintes componentes: a) níveis e modalidades de ensino; b) fins, objetivos, duração e carga horária dos cursos; c) critérios de organização curricular; d) verificação do rendimento escolar, formas de avaliação, classificação e reclassificação, aproveitamento de estudos recuperação e promoção; e) controle de frequência; f) matrícula e transferência; g) estágios; h) expedição de históricos escolares, declarações, certificados e diplomas, guarda da documentação escolar. Como cenário geral para as políticas educacionais, a década de 90 viveu um quadro de reformulação política e econômica do sistema e, consequentemente, de ajuste das políticas sociais à reformulação em curso. Destaca-se aí a redução do papel do Estado, por um lado; por outro, o seu papel controlador e regulador dos sistemas sociais. A discussão que acompanhou o longo processo de formulação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, aprovada em 1996, foi iniciada na década de 80, com a participação dos educadores. Suas formulações e propostas, no entanto, logo se revelaram incompatíveis com as políticas de ajuste assumidas pelos idealizadores do modelo imposto aos governos latino-americanos pelo Banco Mundial e foram rejeitadas pela maioria subordinada ao grupo governamental. Instaurou-se, assim, ao final, com esta lei, uma reforma autoritária e consoante com o ajuste neoliberal. A educação, de direito social e subjetivo de todos, passa a ser encarada cada vez mais como um serviço a ser prestado e adquirido no mercado, ou oferecido como filantropia. Daí, a dominância do pensamento privatista como diretriz educacional e frequentes campanhas filantrópicas substituindo políticas efetivas de educação. O ideário crítico sobre o que deveria ser um projeto nacional de educação, que foi se constituindo ao longo das últimas décadas e que encontrou em vários locais do país algumas possibilidades de implementação não teve na formulação final da nova LDB o mesmo destino. Esta lei, apresentada como uma legislação moderna para o século XXI, ressignificou vários consensos do rico debate dos anos 80; traduziu-os, no entanto, para uma outra lógica de desenvolvimento, na qual descentralização significa principalmente uma desconcentração da responsabilidade do Estado; autonomia,passa a ser compreendida como liberdade de captação de recursos; igualdade, como equidade; cidadania crítica, como cidadania produtiva; e a melhoria da qualidade, como adequação ao mercado (Shiroma et al., 2000). Mediante os parâmetros curriculares e diversos mecanismos de avaliação, entre outras medidas, a reforma no ensino pós-LDB elegeu como perspectiva ou eixo central a pedagogia das competências para a empregabilidade, assumindo assim claramente, no plano da concepção educativa, o ideário do mercado como perspectiva geral do Estado. Esta perspectiva pedagógica, individualista na sua essência, imediatista em relação ao mercado de trabalho, é coerente com o desmonte dos direitos sociais ordenados por uma perspectiva de compromisso social coletivo, e, portanto, contrária à perspectiva de uma “qualificação como relação social” (Ramos, 2001), que situa a relação trabalho-educação no plano das contradições que são engendradas pelas relações sociais de produção. A reforma de ensino proposta para a formação dos profissionais da educação, área estratégica para as mudanças pretendidas, propôs- se a introduzir no cenário brasileiro uma nova compreensão do professor e da sua formação, determinando para isto, entre outras medidas, a criação de novas instâncias para a formação (como o Instituto Superior de Educação e o Curso Normal Superior) e o desenvolvimento de competências profissionais como conteúdo. No plano epistemológico, dos processos e concepções de construção e socialização do conhecimento, a noção das competências reduz a formação a um “receituário genérico e abstrato. Treinar professores para esse receituário é mais barato e rápido do que lhes oferecer condições para fazerem cursos onde se articula ensino com a análise e pesquisa da realidade” (Frigotto, 2001, p. 1). Segundo Kuenzer (2000) é preciso reconhecer neste conceito o significado que o mesmo adquire no interior das novas demandas do mundo do trabalho. A autora recorre a Tanguy e Roupé (apud Kuenzer, 2000), para identificar a competência, nas atuais circunstâncias, como fortemente vinculada à ações mensuráveis através da aferição dos seus resultados imediatos. O forte apelo ao conceito de competência, presente em todas as diretrizes que deverão nortear o ensino nas próximas décadas, vincula-se, segundo a autora, a uma concepção produtivista e pragmatista onde a educação é confundida com informação e instrução, com a preparação para o trabalho, distanciando-se do seu significado mais amplo de humanização, de formação para a cidadania. O modelo dos Institutos Superiores de Educação (ISE) coloca uma clara desresponsabilização às instituições universitárias, pela formação de professores. No interior de uma política que diferenciou e hierarquizou formalmente o Ensino Superior, os ISEs foram instituídos como local preferencial para a formação destes profissionais, em cursos com menores exigências, para a sua criação e manutenção, do que aquelas inerentes às instituições universitárias. Os critérios que orientam a proposta dos Institutos Superiores de Educação diferenciam-se dos parâmetros que orientam uma formação universitária, esta necessariamente vinculada à pesquisa e produção de conhecimento. Considerando que a formação inicial é momento-chave da construção de uma socialização e de uma identidade profissional, esta determinação é desqualificadora para a profissionalização docente no país. FORMAÇÃO DO PEDAGOGO NO BRASIL. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Após um longo período de expectativa e de mobilização da comunidade acadêmica na tentativa de influir em suas definições, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em Nível Superior, Curso de Licenciatura, de Graduação Plena (Resolução CNE/CP 1/2002), com base no Parecer do CNE/CP 009/2001. A partir de proposta inicial elaborada por uma comissão oficial de colaboradores/assessores do Ministério da Educação, tais diretrizes foram aprovadas pelo CNE quase na sua totalidade, num processo mais homologatório do que propriamente de discussão. Apesar de terem sido realizadas várias audiências públicas e outras reuniões nacionais e regionais com as mais diversas entidades educacionais do país, como resposta à pressão do movimento dos educadores, não abriu-se um autêntico diálogo nestas oportunidades. Entre as questões mais polemizadas que foram sendo apontadas na análise das diretrizes delineadas neste período pós-LDB, podemos citar: - a noção de competências como concepção nuclear para orientar a formação profissional dos educadores, em lugar dos saberes docentes; esta opção mostra seu vínculo com um determinado projeto societário que, conforme a visão de vários autores (Frigotto, 2001; Kuenzer, 2000; Shiroma et al, 2000), em nome da globalização, ajusta as questões educacionais às regras da mercantilização com toda exclusão que tal escolha produz. - a intenção de extinguir gradativamente o curso de Pedagogia. Os preceitos legais atualmente estabelecidos, embora contraditórios, indicam para o curso de Pedagogia a condição de um Bacharelado Profissionalizante, destinado a formar os especialistas em gestão administrativa e coordenação pedagógica para os sistemas de ensino (LDB/96, Art. 64). Depois de muitos embates ocorridos por ocasião da formulação de normas complementares à LDB, a atribuição da formação de professores para a educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental ficou assegurada também para o curso de Pedagogia, mas apenas para aqueles que se situam em instituições universitárias (Parecer CNE-CES 133/2001). Este é um percalço que deriva da decisão já colocada pela LDB/96 e que foi reforçado pelas regulamentações posteriores, que optou pelo modelo dos Institutos Superiores de Educação, formação técnico-profissionalizante de professores, que se contrapõe ao modelo das Faculdades de Educação, onde a formação destes profissionais é vista de forma mais acadêmica, mediada pelas possibilidades de maiores interfaces na formação. A proposta de diretrizes apresentada pela CEEP - Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia/SESU/MEC - defende para este curso, responsável pela formação acadêmico-científica do campo educacional na graduação, uma graduação plena na área, que não se realiza concretamente sem que seja considerada a sua dimensão intrínseca, que é a da docência. A tese defendida por esta proposta procura garantir a formação unificada do Pedagogo, profissional que, tendo como base os estudos teórico-investigativos da educação, é capacitado para a docência e consequentemente para outras funções técnicas educacionais, considerando que a docência é a mediação paraoutras funções que envolvem o ato educativo intencional. Não se considera, neste sentido, aplicável para a o Curso de Pedagogia, dicotomizar, na formação, carreiras diferenciadas conforme a categorização - Bacharelado Acadêmico, Bacharelado Profissionalizante e Licenciatura. A formação do pedagogo envolve estas três dimensões, podendo, no seu aprofundamento, dar maior relevo a uma destas dimensões. - O comprometimento da desejável integração entre a formação do bacharel e aquela do licenciado. Dado o modelo institucional que passa a ser privilegiado, qual seja o dos Institutos Superiores de Educação, que autonomiza o local de formação de professores, desvinculando institucionalmente as licenciaturas dos bacharelados, fica comprometida a desejável integração na formação destas duascategorias de carreiras, com sérias consequências presumíveis para a formação do professor.O fosso entre a formação do bacharel e a do licenciado precisa ser evitado para que a formação deste último, ao avançar na sua qualificação técnico-científica, não seja comprometida na sua formação. - A duração do Curso e Carga-horária do Curso: comprometimento do tempo necessário para uma sólida formação profissional. Uma organização curricular inovadora deve contemplar uma sólida formação profissional acompanhada de possibilidades de aprofundamentos e opções realizadas pelos alunos e propiciar, também, tempo para pesquisas, leituras e participação em eventos, entre outras atividades, além da elaboração de um trabalho final de curso que sintetize suas experiências. A carga horária deve assegurar a realização das atividades acima especificadas. Para atingir este objetivo, além de cumprir a exigência de 200 dias letivos anuais, com 4 horas de atividades diárias, em média, é desejável que a duração de um curso de licenciatura seja de 4 anos, com um mínimo de 3.200 horas, para que se possa contemplar de forma mais aprofundada tanto a carga teórica necessária para a formação, como o desenvolvimento das práticas que aproximam o estudante da realidade social e profissional. Há, nesse sentido, modalidades de prática que são complementares e necessárias para a formação do profissional da educação, quais sejam: a prática como instrumento de integração e conhecimento do aluno com a realidade social, econômica e do trabalho de sua área/curso; como instrumento de iniciação à pesquisa e ao ensino e a prática como instrumento de iniciação profissional. A “Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Darci Ribeiro” de número 9394/96 (documento maior da legislação educacional brasileira), no Título VI -Dos Profissionais da Educação - em seu artigo 64, reproduzido literalmente abaixo, nos elenca: “Art. 64. A formação de profissionais de educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.” SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl A existência legal do curso de Pedagogia e de seu campo epistêmico está garantida por lei, pela lei maior da Educação de nosso país. Confundem-se os menos avisados e pouco esclarecidos de que a Pedagogia esteja apenas relacionada à formação de professores e que tal formação seria então substituída pelos Institutos Superiores de Educação -ISES-, que mantêm em sua estrutura administrativa e pedagógica os Cursos Normais Superiores, que deverão também formar os professores multidisciplinares (ou polivalentes) para atuarem na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino fundamental. Esclarecendo, os cursos de Pedagogia formam os profissionais de Educação que terão por foco de estudo e objeto de preocupação o fenômeno educativo, a Educação do cidadão, ocorra ela dentro ou fora dos limites da instituição escolar. Neste sentido, tem sido princípio da área que para se tornar pedagogo, profissional que irá atuar na gestão, inspeção, orientação, dentro, sobretudo das instituições escolares, este deverá ser por excelência um professor, um docente que conhece a finalidade maior da existência da escola, que é oferecer acesso ao conhecimento pelas vias de participação no processo de ensino para que o outro possa aprender e se tornar/formar pessoa-cidadão. Cabe esclarecer, portanto, que a academia sempre defendeu e continua defendendo o princípio lógico de que para se tornar pedagogo este profissional deveria ter a docência enquanto eixo da sua formação, porém a Pedagogia não se esgota na formação docente. Vai além em termos de referencial e profundidade teórica e em termos da abrangência com que se analisa, estuda e desenvolve o fenômeno educativo. A questão que pode suscitar dúvidas reside no fato de que a LDB estabelece uma nova estrutura institucional, que são os ISES e suas diversas modalidades de formação, enquanto espaço privilegiado para a formação de qualquer licenciado, buscando tornar-se um espaço específico de formação de professores, tal como foi pensado e posteriormente reforçado pelo Decreto Presidencial nº 3.276, de 06 de dezembro de 1999 (já reformulado pela força do movimento dos profissionais da Educação) . Tal intenção esbarra na autonomia didático-pedagógica que a Constituição Federal atribui para as instituições universitárias -Centros Universitários e Universidades-, que podem gerir seus projetos pedagógicos com autonomia, respeitando as orientações e definições das Diretrizes instituídas (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação dos Professores da Escola Básica, já aprovada e das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Pedagogia, em estudo). O que pode ser entendido é que estão tentando descaracterizar a Pedagogia enquanto licenciatura, tentando colocá-la como bacharelado, definindo que os professores tenham formação em instituição única. Esquecem-se, porém, de colocar que o mesmo pode não ocorrer frente ao fato da autonomia dos Centros Universitários e Universidades, que poderão insistir, inclusive judicialmente, na isonomia entre profissionais que terão a mesma formação para o mesmo campo e área de atuação, profissionalidade e profissionalização. Portanto, cabe aqui ressaltar que os Cursos Normais Superiores formam os professores que irão atuar na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental e a Pedagogia forma o Pedagogo, profissional da Educação que entende do fenômeno educativo de maneira profunda e que poderá atuar na gestão, inspeção, orientação educacional entre outros tantos cargos e espaços educativos. O financiamento da educação, a partir da Constituição Federal (CF) de 1988, passou a sofrer menos intempéries, visto que o legislador garantiu o mínimo necessário, ou seja, 18% para a União e 25% de Estados e Municípios. Além disso, no artigo 211, parágrafo primeiro, está dito que “ A União organizará o sistema federal de ensino e financiará as instituições de ensino públicas, federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.” O que significa isso de fato? 18% e 25% sobre o que? A CF estabelece em seus artigos de 157 a 162, que o sistema tributário deve ser partilhado pelas esferas de governo, visto que no Brasil é o governo federal quem mais arrecada. Desta forma, parte da arrecadação da União é transferida para Estados e Municípios e parte da arrecadação dos Estados é transferida aos Municípios, porque esse último ente federado é quem menos arrecada. No entanto, é exatamente nos Municípios, os que menos arrecadam, que as políticas públicas acontecem, pois é onde vivem as pessoas. E mesmo após a partilha dos recursos, a União fica com mais da metade da arrecadação, por isso, em muitos lugares, caso não haja complementação, os locais não têm condições de investimento, visto que a transferência dá apenas para os salários dos profissionais de ensino. Mas a partir de que bolo são calculados os 18%? No Brasil há três categorias de tributos, impostos, taxas e contribuições. Os impostos são muito importantes, pois por meio deles ogoverno obtém recursos que custeiam quase todas as políticas públicas. As taxas são tarifas públicas cobradas para fornecimento de algum serviço, tal como documento, ou segunda via de certidões e passaportes, por exemplo. As contribuições de melhoria são cobradas do contribuinte que teve, por exemplo, seu imóvel valorizado por alguma benfeitoria. E as contribuições sociais e econômicas, de competência da União. As sociais são para cobrir gastos da Seguridade Social e as econômicas para fomentos de certas atividades econômicas. Para o cálculo dos 18% são computados apenas os impostos, conforme estabelecido pelo parágrafo 212 da CF, que diz que a União O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl aplicará nunca menos de 18% e os Estados e Distrito Federal e os Municípios, nunca menos que 25% da receita resultante dos impostos e transferências constitucionais. E, ainda neste mesmo artigo, está dito que o ensino fundamental terá o acréscimo da contribuição social do salário-educação, recolhidos pelas empresas. (a emenda 53 de 2006 modificou isso, acrescentando as outras etapas de ensino). A fórmula de cálculo é a seguinte: Após os repasses obrigatórios para os fundos de participação de Estados e Municípios e dos Estados para os Municípios (esses repasses são feitos para diminuir o impacto das grandes diferenças de arrecadação e para aumentar o poder de investimento de Estados e Municípios, levando em consideração que a União arrecada aproximadamente 70% dos tributos, os Estados perto de 25% e os Municípios em torno de 5%) , as porcentagens são retiradas do bolo restante. Isso ocorre para não haver dupla contabilização. Os recursos transferidos são destinados à Manutenção e Desenvolvimento do Ensino, conforme o disposto no artigo 212 da CF, regulamentado pela LDB, ou seja, para o grupo de ações que estão dentro deste critério. As atividades suplementares, tais como merenda, uniformes, dinheiro direito na escola são financiados com outros recursos administrados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com recursos provenientes, dentre outras fontes, do salário- educação, recolhido pela União, que uma parte para Estados e Municípios. O que significa a Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE) ? O que está dentro disso? Apesar de vaga a expressão MDE, ela diz respeito a ações específicas, que focam diretamente o ensino. Ações estas especificadas pela LDB, artigo 70. São elas: · Remunerar e aperfeiçoar os profissionais da educação; · Adquirir, manter, construir e conservar instalações e equipamentos necessários ao ensino (construção de escolas, por exemplo); · Usar e manter serviços relacionados ao ensino tais como aluguéis, luz, água , limpeza etc. · Realizar estudos e pesquisas visando o aprimoramento da qualidade e expansão do ensino, planos e projetos educacionais. · Realizar atividades meio necessárias ao funcionamento do ensino como vigilância, aquisição de materiais... · Conceder bolsas de estudo a alunos de escolas públicas e privadas. · Adquirir material didático escolar. · Manter programas de transporte escolar. Além dessas receitas, há outras fontes, tais como o salário- educação, que é recolhido das empresas, sobre o cálculo de suas folhas de pagamento. Essa receita é dividida entre União, Estados e Municípios. Quem arrecada a contribuição é o INSS, que fica com 1% a título de administração e repassa o restante para o FNDE, que desconta 10% e dividi os 90% da seguinte forma: A União fica com um terço dos recursos mais os 10% do FNDE. Os outros dois terços dos 90% ficam com Estados e Municípios, em razão direta ao número de matrículas de cada ente federado, de acordo com o censo escolar do ano anterior. Além do salário-educação o FNDE possui verbas oriundas de outras contribuições sociais. O Fundo desenvolve alguns projetos importantes, tais como: Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Brasil Alfabetizado, Apoio ao Atendimento à Educação de Jovens e Adultos (Fazendo escola/PEJA) e Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate). Os fundos, criados em 1996 – para manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental- Fundef- e em 2007 – substituindo o anterior e visando à educação básica como um todo- Fundeb- representam uma tentativa de racionalização do gasto educação. Podemos dizer que além da vinculação de recursos, conforme explicado acima, há a subvinculação. O Fundef, criado com inspiração no que estava registrado nas Disposições transitórias da CF, que dizia que em 10 anos o poder público deveria aplicar 50% do total de recursos para educação na universalização do ensino fundamental e na drástica redução do analfabetismo. No entanto, o Fundef só seria aprovado 8 anos depois, estendendo por mais dez anos o disposto na disposições transitórias, mas retirando a meta da alfabetização, pois partiam do perverso princípio de que universalizando o ensino fundamental estariam resolvendo por inércia o analfabetismo. A Educação de jovens e adultos também não foi retirada do Fundef. Podemos dizer que o Fundo foi um avanço para o ensino fundamental, que está praticamente universalizado, mas o fato de os outros níveis de ensino terem ficado fora do bolo, fez com que, especialmente, a educação infantil e o ensino médio ficassem com um prejuízo enorme. Pois cada ente federado deveria separar 60% do bolo de recursos para o Fundef e o restante aplicar em suas prioridades, ou seja, Estados em ensino médio e municípios em educação infantil (creche e pré- escola). No caso da União, após o repasse ela deveria aplicar o restante no ensino superior e cumprir a função redistributiva, ou seja, aqueles Estados que não conseguissem atingir o mínino de recursos para o Fundo teria complementação da União, o que nunca ocorreu como deveria. O Fundef, apesar de seus avanços, trouxe um grande prejuízo ao desenvolvimento do ensino médio e educação infantil, conforme podemos observar hoje, com os grandes déficits de oferta destes níveis. Isso foi um dos motivos que levaram às instituições que lutam por uma educação de qualidade para todos, se movessem para substituir o Fundef, pelo Fundeb. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Três anos após a implantação do Fundef, vários segmentos sociais já percebiam que o fundo não era suficiente para suprir as grandes necessidades da política e em 1999 foi apresentada uma nova proposta ao Parlamento. A Proposta de Emenda Constitucional que criava o Fundeb. No entanto, só em 2006 ela foi aprovada e passou a valer a partir de 2007. Como sempre houve um sub-financiamento da educação, ao Fundeb foram acrescidos novos recursos, como os oriundos do IPVA, por exemplo, ampliou o financiamento, mas ampliou, também o número de alunos atendidos, não equacionando, ainda, a questão do sub- financiamento. O cálculo do Fundeb também é feito de acordo com o número de matrícula na educação básica pública de acordo com os dados do último censo escolar, feito anualmente. Dividi-se o montante pelo número de matriculados para se obter o valor aluno e em seguida repassar aos Estados e municípios a parte que cabe a cada um. Aqueles que não atingirem o valor mínimo por aluno deverão ter complementação da União. Já se verificou que a União, em muitos momentos, subdimensiona o custo por aluno para não terde efetuar a complementação para os diversos estados que não conseguiriam atingir o piso. Os Estados receberão recursos de acordo com o número de matrículas no ensino fundamental e médio e os Municípios com base no ensino fundamental e educação infantil Fonte: www.criancanoparlamento.org.br Aspectos Filosóficos da Educação LUCKESI, Cipriano (1990). Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Este livro foi elaborado com o propósito de servir como material de apoio para cursos de formação do magistério. O autor objetivou discutir a Filosofia da Educação vinculada diretamente com a prática docente, refletindo-a e buscando ter clareza do seu significado, discutindo a didática como um elemento articulador dos aspectos teóricos e filosóficos da educação com o exercício docente. I - DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO À PEDAGOGIA Filosofia e Educação: elucidações conceituais e articulações Segundo Luckesi, a educação é norteada por uma concepção teórica, ou seja, a prática educacional é estruturada em uma concepção filosófica que direciona os elementos envolvidos neste processo. Em primeiro lugar, discute o que é filosofia, articulando-a, posteriormente, com a educação. 1 - Filosofia A palavra filosofia é correntemente utilizada no nosso dia-a-dia, como por exemplo, nas expressões seguintes: “Esta é a minha filosofia de vida.”, ou “Pela minha filosofia, considero esta postura inadequada.”. Sabemos, ou já ouvimos dizer, que ela significa “amigo da sabedoria” (filon = amigo / sofia = sabedoria), e também já ouvimos referências aos famosos filósofos gregos, como Aristóteles, Sócrates e Platão. Mas afinal, sabemos realmente o que é filosofia e para que ela serve? No decorrer da nossa história, muitas foram as definições atribuídas à Filosofia, das mais simples as mais complexas, levando a pessoas, muitas vezes, a descartar a sua importância, retrucando que “é um jogo inútil e estéril de palavras” ou que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. Uma frase muito popular, que diz respeito a Filosofia, é que “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”, referindo-se que não precisamos dela para resolver os nossos problemas. Buscando uma outra vertente, o autor aborda que “... a Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.” (p.22). Podemos explicar melhor a colocação acima nos reportando ao trabalho do filósofo, que consiste em sistematizar as aspirações humanas, sendo elas que dão o sentido ao cotidiano e a suas implicações, ou seja, ninguém vive sem um sentido para a vida, e o filósofo busca o entendimento desse sentido norteador, reflete o destino da humanidade. “A Filosofia se manifesta ao ser humano como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão da sua existência, em termos de significado, como lhe oferece um direcionamento para a sua ação, um rumo para seguir ou, ao menos, para lutar por ele. Ela estabelece um quadro organizado e coerente de “visão de mundo” sustentando, consequentemente, uma proposição organizada e coerente para o agir. Nós não “agimos por agir”. Agimos, sim, por uma certa finalidade, que pode ser mais ampla ou mais restrita. As finalidades restrita são aquelas que se referem à obtenção de benefícios imediatos, tais como: comprar um carro, assumir um cargo. As finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência: buscar o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, lutar pela emancipação de um povo, etc.. Isso tudo, por quê? Certamente devido ao fato de que a vida só tem sentido se vivida em função de valores dignos e dignificantes. Desse modo, a Filosofia é um corpo de entendimentos que compreende a direciona a existência humana em suas mais variadas dimensões.” (p. 23) A Filosofia deve propiciar um modo coerente de agir, já que parte de uma forma coerente de interpretar o mundo. EDUCAÇÃO E PEDAGOGIA: BASES FILOSÓFICAS, SOCIOLÓGICAS, PSICOLÓGICAS, ANTROPOLÓGI- CAS E POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Segundo Leôncio Basbaum, “a filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ela é, ao contrário, a própria manifestação da vida humana e a sua mais alta expressão. Por vezes, através de uma simples atividade prática, outras vezes no fundo de uma metafísica profunda e existencial, mas sempre dentro da atividade humana, física ou espiritual, há filosofia (...) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, ele não se alimenta da filosofia, mas, sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia.”. Todos nós temos necessidade de compreender o mundo, sendo uma necessidade natural do ser humano, não sendo este um aspecto somente do filósofo. Todos nós, seres viventes, segundo Arcângelo Buzzi, possuímos uma filosofia de vida, uma concepção de mundo, uma significação inconsciente que emprestamos à vida, sendo que podemos dizer que todo homem é filósofo no sentido usual da expressão. O sentido crítico do termo fica reservado àqueles que consciente e deliberadamente se põem a filosofar. A filosofia é uma reflexão crítica sobre o significado e sentido das coisas e do mundo, e é orientada por valores oriundos do cotidiano, que podem ser adquiridos espontaneamente, através de um direcionamento diário inconsciente, decorrente de massificação, do senso comum. Sobre direcionamento é que deve desenvolver-se o filosofar. Quem não pensa, é pensado por outros, portanto, se não buscarmos refletir criticamente a nossa existência, damos espaço para que o setor dominante pense e decida por nós. Luckesi (p. 25) retoma alguns autores para evidenciar a importância de uma compreensão da existência: “Os filósofos exprimem sempre, em cada instante, o pensamento de um grupo social, de classe ou povo a que pertencem ou representam. Eles são os teoristas, os que explicam e interpretam os desejos, as tendências e as reivindicações desses grupos, classes ou povos. Seu pensamento depende da situação de domínio ou submissão em que se encontra o seu grupo, classe ou povo, em relação a outros povos, grupos ou classes. Depende de estar no poder ou em luta pelo poder, em ascensão ou em decadência.” (Leôncio Basbaum) “O ato de filosofar versa sobre o ato de viver, a Filosofia e a História . Por outro lado, isso não significa que a história, que o puro viver, seja anterior à filosofia. Não há anterioridade da filosofia sobre a história nem da história sobre a filosofia. O ato de viver já está posto na percepção do ser, a vida é filosofia. Ao filósofo resta extrair essa filosofia, dizer o pensamento pressuposto de um tal viver, indicar a partir de qual horizonte, de qual dimensão, um tal viver se constitui.” (Arcângelo Buzzi) “As ideias ou os princípios dos homens provêm da experiência, quer se trate de princípios especulativos, quer de princípios práticos de moral. Os princípios morais variam segundo os tempos e lugares. Quando os homens condenam uma determinada ação é porque ela os prejudica; quando a enaltecem é porque ela lhes é útil. Ointeresse (não o interesse pessoal, mas o interesse social) determina, assim, os julgamentos do homem no domínio da vida social.” (Plekanov) Como já dissemos, a filosofia busca a interpretação dos anseios humanos, ou seja, não preocupa-se só com o presente, mas com o que está por vir, sendo que é condicionada pelo momento histórico e, ao mesmo tempo, condicionante do momento histórico subsequente. Mas como? A filosofia manifesta-se como impulsionadora da ação, refletindo as aspirações do homem e, consequentemente influenciando os acontecimentos futuros, que já não serão os mesmos partindo-se do pressuposto que já foram influenciados por uma reflexão anterior. Pode- se considerá-la como um sustentáculo de um determinado modo de agir, uma arma política. Em função disto, podemos identificar contradições no decorrer da história humana. Ao mesmo tempo em que governantes exorcizam a filosofia, concebendo-a como uma subversão, buscam fundamentar o seu poder em concepções que lhe deem a garantia da administração política do povo e da nação e justifiquem a sua totalidade. Como aborda o autor (p. 27), “não há como negar a filosofia sem fazer filosofia, porque para se negar o valor da filosofia dentro do mundo é preciso ter uma concepção do mundo que sustente esta negação”. O pensamento filosófico não é neutro, mas contaminado por interesses e aspirações, e podemos identificar no decorrer de sua história estas evidências de forma bem clara, tanto servindo para impor uma ideologia dominante como para alçar transformações sócio- culturais. 2 - O Processo de Filosofar É de suma importância evidenciarmos como se constitui esse corpo de entendimento a qual nos referimos, e que dá significado ao mundo. Mas, muitas indagações pairam no ar: Filosofar é inútil? É difícil e complicado? Como se constitui a filosofia? Como é filosofar? Para discutir estas questões, o autor reporta-se a Gramsci (p.28): “deve-se destituir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos”.. Há uma grande tendência em assumirmos o senso comum, ou seja, quando não refletimos a respeito de determinado aspecto, deixamo- nos levar pelo que é comum e hegemônico socialmente. O primeiro passo para o processo de filosofar é assumir a necessidade de conhecer os valores que nos norteiam, tomando consciência das ações, lugares e direções que permeiam a nossa vida. Um segundo passo, o momento crítico, consiste em submeter esses valores a uma crítica profunda, identificando o seu significado em nosso cotidiano, a sua essência, desvendando-lhes o segredo. O terceiro momento consiste na construção crítica dos valores que venham a ter SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl um significado norteador de nossa existência, valores estes válidos para orientar nossas ações no sentido que desejarmos seguir. Estes momentos acima referidos não são fragmentados, como nos foi exposto. O processo de filosofar é uma constante tomada de consciência, reflexão e reconstrução de valores, simultaneamente. Um momento é, ao mesmo tempo, dependente e propiciador do outro. 3 - Filosofia e Educação A educação não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento social de manutenção ou transformação. Caracteriza-se por uma preocupação, uma finalidade a ser atingida, necessitando, portanto, de pressupostos que a norteiem. É a reflexão filosófica quem instrumentaliza a educação em uma sociedade. A educação preocupa-se em propiciar o desenvolvimento das novas gerações, enquanto que a filosofia é reflete o que e como deve ser este desenvolvimento. Segundo Anísio Teixeira (p.31), abordando filosofia como forma de vida de um povo, “muito antes que as filosofias viessem expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da cultura, nada mais era do que o meio de se transmitir a visão do mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse.” Percebemos uma preocupação com o aspecto educacional desde os pré-socráticos. Citamos os sofistas, que foram educadores, e os primeiros a receberem uma remuneração para ensinar. O próprio Sócrates morreu em função do seu ideal de educar e estabelecer uma moralização grego-ateniense. Tanto a Filosofia como a Educação estão presentes em todas as sociedades, de forma sistematizada ou não, a primeira refletindo as aspirações humanas e a outra como instrumento veiculador dessa reflexão. Luckesi (p. 32) releva que “a Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia - e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel o mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. Assim sendo, não há como processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica...”. Quando a educação não é refletida, efetua-se de foram cristalizada, reproduzindo valores do meio de produção, acomodando- nos em uma única interpretação de mundo, não possibilitando uma lapidação adequada a cada realidade. Não temos como desvincular filosofia e educação, sendo-nos muito mais rico e eficaz propiciarmos esta parceria de forma consciente e inovadora. 4 - Pedagogia Os processos sócio-culturais, a concepção psicológica do educando, a forma de organização do processo educacional, e outros, permeiam a pedagogia, e devem estar articulados a partir de pressupostos filosóficos. Somente através de uma reflexão filosófica sobre a educação é que devemos estruturar a ação pedagógica, pois esta permite a compreensão dos valores envolvidos, possibilitando-nos direcionar a prática educacional vigente e orientando a posterior. Educação e Sociedade: redenção, reprodução e transformação Para que possamos entender que sentido devemos dar à educação dentro de uma sociedade, num primeiro momento, devemos buscar compreendê-la bem como ao seu direcionamento. São três as tendências filosófico-políticas da educação necessárias a nossa compreensão: a educação como redenção, como reprodução e como transformação da sociedade. Filosóficas, porque compreendem o seu sentido, e políticas porque constituem um direcionamento para sua ação. 1 - Educação como redenção da sociedade Esta tendência concebe a sociedade como composta por indivíduos que convivem em um todo orgânico e harmonioso, ocorrendo alguns desvios, sejam eles grupais ou individuais. Para a manutenção desta sociedade, deve-se integrar os indivíduos novos (novas gerações) ou que estão a sua margem, adaptando-os aos seus parâmetros. O papel da educação seria o de redentora da sociedade, sendo quase que exterior a ela, tendo como finalidade a (re) integraçãoharmônica do indivíduo ao seu meio, ou seja, no todo social. Deve, segundo referência do autor a Saviani (p. 38) ”reforçar os laços sociais, promover a coesão social e garantir a integração de todos os indivíduos no corpo social.”. A educação, neste contexto, assume-se como autônoma na medida em que se configura como mantenedora do corpo social, sendo que ela é quem interfere na sociedade, e não o contrário. Um grande exemplo desta concepção de educação está na obra de Comênio “Didática Magna: Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, onde fica evidente que para ele havia uma ordem, uma harmonia primitiva, no Paraíso Terrestre, instituída por Deus, e a qual o SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl homem quebrou, através do pecado, cabendo à educação a recuperação dessa ordem. Somente através da educação das crianças e dos jovens (gerações novas) a sociedade será redimida, não havendo possibilidades através do adulto Comênio ressalta que “um dos primeiros ensinamentos que a Sagrada Escritura nos dá é este: sob o sol não há nenhum outro caminho mais eficaz para corrigir as corrupções humanas que a reta educação da juventude.”. Esta concepção de educação permaneceu durante muito tempo, influenciando a Pedagogia Tradicional bem como os pedagogos do final século XIX na Pedagogia Nova. Ainda hoje podemos identificar sequelas desta tendência em práticas onde não há um compromisso político e sim uma proposta de “por ordem na sociedade”. A esta tendência, Dermeval Saviani denomina de “teoria não- crítica da educação”, em função da não contextualização crítica dentro da sociedade na qual está inserida. 2 - Educação como reprodução da sociedade A educação faz, integralmente, parte da sociedade e a reproduz. Desta forma é concebida a educação para esta segunda tendência, abordando-a como uma instância dentro da sociedade e exclusivamente a seu serviço, determinada pelos condicionantes econômicos, sociais e políticos. A visão desta abordagem é “crítica”, pois condiciona a educação aos seus determinantes, porém reprodutivista, pois destina-se a reproduzir seus próprios condicionantes, sendo denominada por Saviani de ”teoria crítico-reprodutivista da educação”. Reportemo-nos ao livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, de Louis Althusser, onde, a partir de pressupostos marxistas, aborda o papel da escola como um dos aparelhos do Estado, como umas das instâncias da sociedade que veicula a sua ideologia dominante, para reproduzi-la. Luckesi (p. 42), discorre que “toda sociedade, para perenizar-se, necessita reproduzir-se em todos os seus aspectos; caso contrário, desaparece. Parafraseando Marx, Althusser no diz que se ‘uma formação social não reproduz as condições de produção ao mesmo tempo em que produz, não conseguirá sobreviver um ano que seja’. E, para que isso aconteça, tanto economistas marxistas como burgueses reconhecem ‘que não há produção possível sem que seja assegurada a reprodução das condições materiais da produção: a reprodução dos meios de produção’. Assim, a cada momento, os administradores da produção deverão estar atentos, verificando o que necessita ser suprido e/ou substituído, para a manutenção do teor de produção ou para o seu incremento e aumento. É impossível manter a produção sem que ocorra a reprodução dos meios materiais que garantam a manutenção ou o incremento da produção, assim como torna-se necessária a ‘reprodução cultural’ da sociedade. É este o tema de abordagem de Althusser. Vamos seguir seu raciocínio. Não há como continuar a produzir sem a entrada de matérias- primas e sem a reprodução das condições técnicas da produção. Os equipamentos desgastam-se ou tornam-se obsoletos. Todavia, não nos interessa aprofundar, aqui, o estudo da reprodução dos bens materiais. Basta-nos, por enquanto, saber que sua reprodução é condição indispensável para manter a sua produção. No entanto, a produção de bens materiais e sua reprodução não se realizam sem outro elemento básico: a força de trabalho. Como qualquer outro elemento, ela não é infinita e inesgotável, o que exige, também, a sua reprodução (...) torna-se necessária a formação profissional, segundo os diversos níveis e necessidades da divisão social do trabalho.”. A partir deste quadro, a escola passou a atuar como instrumento para a reprodução qualitativa da força de trabalho da qual necessitava a sociedade capitalista, sendo que para Althusser ela atua em dois sentidos: 1. Ensinando saberes práticos, para os diferentes alunos (operários, técnicos, engenheiros, etc.) de acordo com os diferentes lugares de produção onde deveriam ser utilizados. 2. Ensinando as regras dos bons costumes (regras de respeito pela divisão social do trabalho), de acordo com o lugar que o aluno estava destinado a ocupar. Para Althusser, a escola, e também outras instituições, ensinam os saberes práticos, mas em moldes que asseguram a sujeição à ideologia dominante. Todos devem desempenhar eficientemente a sua tarefa, seja ela de dominante ou de dominado, devendo, para isto, estar inserido adequadamente na ideologia. Não basta “saber fazer”, mas essencialmente também “saber comportar-se”. “O termo ‘formação’, muito utilizado para definir os fins da atividade escolar, expressa bem o papel de reprodutora do sistema que desempenha a escola. ‘Formar’ quer dizer ‘dar forma a’, padronizar segundo um modelo. Segundo o autor (p. 47), “a prática escolar que perpassa a vida das pessoas, da infância à maturidade, deixa sua marca indelével na personalidade de cada um reproduzindo a força de trabalho; reproduzindo mais propriamente as relações de produção de uma dada sociedade. Os papéis definidos pela divisão social do trabalho se especificam conforme a escolaridade de cada um”. Se reportando a Althusser, “Cada massa que fica pelo caminho está praticamente recheada da ideologia que convém ao papel que ela deve desempenhar na sociedade de classes: • papel de explorado (com consciência profissional, moral, cívica, nacional e apolítica altamente desenvolvida); • papel de agente da exploração (saber mandar e falar aos operários; as relações humanas); • de agentes de repressão (saber mandar e ser obedecido sem discussão ou saber manejar a demagogia da retórica dos dirigentes políticos); SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl • ou (de) profissionais (que saibam tratar as consciências com respeito, isto é, com o desprezo, a chantagem, a demagogia que convém, acomodados às sutilezas da Moral, da Virtude, da Transcendência, da Nação, do papel da França no mundo, etc..)”. Nesta concepção, é a sociedade quem institui a escola a seu serviço, sendo esta apenas um instrumento de reprodução e manutenção do sistema vigente. 3 - Educação como transformação da sociedade Esta terceira tendência tem como objetivo compreender a educação como uma mediadora de um projeto social, seja ele conservador ou transformador, não colocando a educação como mantenedora da sociedade, a serviço da conservação. Busca compreender a educação dentro da sociedade, com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização efetiva e concreta, atingindo os aspectos não só políticos, mas também sociais e econômicos, podendo ser denominada de “crítica”. Luckesi (p. 49) enfoca que “para tanto, importa interpretar a educação como uma instância dialética que servea um projeto, a um modelo, a um ideal de sociedade. Ela medeia esse projeto, ou seja, trabalha para realizar esse projeto na prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a conservação; contudo, se o projeto for transformador, medeia a transformação; se o projeto for autoritário, medeia a realização do autoritarismo; se o projeto for democrático, medeia a realização da democracia.” A educação, para esta tendência, está a serviço de um projeto de libertação das maiorias dentro da sociedade. Não se restringe a um trabalho simples, sendo que muitas barreiras podem ser encontradas dentro de uma sociedade capitalista, onde há uma ideologia dominante impondo as regras, mas devemos lutar contra a discriminação, contra o rebaixamento do ensino das camadas populares e contra a apropriação da escola pelos interesses dominantes. 4 - Conclusão Após discorrermos sobre estas três tendências interpretativas da educação, traçamos um parâmetro para que você possa identificar os principais pontos de cada uma. Aspectos Filosóficos da Educação LUCKESI, Cipriano (1990). Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Este livro foi elaborado com o propósito de servir como material de apoio para cursos de formação do magistério. O autor objetivou discutir a Filosofia da Educação vinculada diretamente com a prática docente, refletindo-a e buscando ter clareza do seu significado, discutindo a didática como um elemento articulador dos aspectos teóricos e filosóficos da educação com o exercício docente. I - DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO À PEDAGOGIA Filosofia e Educação: elucidações conceituais e articulações Segundo Luckesi, a educação é norteada por uma concepção teórica, ou seja, a prática educacional é estruturada em uma concepção filosófica que direciona os elementos envolvidos neste processo. Em primeiro lugar, discute o que é filosofia, articulando-a, posteriormente, com a educação. 1 - Filosofia A palavra filosofia é correntemente utilizada no nosso dia-a-dia, como por exemplo, nas expressões seguintes: “Esta é a minha filosofia de vida.”, ou “Pela minha filosofia, considero esta postura inadequada.”. Sabemos, ou já ouvimos dizer, que ela significa “amigo da sabedoria” (filon = amigo / sofia = sabedoria), e também já ouvimos referências aos famosos filósofos gregos, como Aristóteles, Sócrates e Platão. Mas afinal, sabemos realmente o que é filosofia e para que ela serve? No decorrer da nossa história, muitas foram as definições atribuídas à Filosofia, das mais simples as mais complexas, levando a pessoas, muitas vezes, a descartar a sua importância, retrucando que “é um jogo inútil e estéril de palavras” ou que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. Uma frase muito popular, que diz respeito a Filosofia, é que “a filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”, referindo-se que não precisamos dela para resolver os nossos problemas. Buscando uma outra vertente, o autor aborda que “... a Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.” (p.22). Podemos explicar melhor a colocação acima nos reportando ao trabalho do filósofo, que consiste em sistematizar as aspirações humanas, sendo elas que dão o sentido ao cotidiano e a suas implicações, ou seja, ninguém vive sem um sentido para a vida, e o filósofo busca o entendimento desse sentido norteador, reflete o destino da humanidade. “A Filosofia se manifesta ao ser humano como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão da sua existência, em termos de significado, como lhe oferece um direcionamento para a sua ação, um rumo para seguir ou, ao menos, para lutar por ele. Ela estabelece um quadro organizado e coerente de “visão de mundo” sustentando, consequentemente, uma proposição organizada e coerente para o agir. Nós não “agimos por agir”. Agimos, sim, por uma certa finalidade, que pode ser mais ampla ou mais restrita. As finalidades restrita são aquelas que se referem à obtenção de benefícios imediatos, tais como: comprar um carro, assumir um cargo. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl As finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência: buscar o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, lutar pela emancipação de um povo, etc.. Isso tudo, por quê? Certamente devido ao fato de que a vida só tem sentido se vivida em função de valores dignos e dignificantes. Desse modo, a Filosofia é um corpo de entendimentos que compreende a direciona a existência humana em suas mais variadas dimensões.” (p. 23) A Filosofia deve propiciar um modo coerente de agir, já que parte de uma forma coerente de interpretar o mundo. Segundo Leôncio Basbaum, “a filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente da vida. Ela é, ao contrário, a própria manifestação da vida humana e a sua mais alta expressão. Por vezes, através de uma simples atividade prática, outras vezes no fundo de uma metafísica profunda e existencial, mas sempre dentro da atividade humana, física ou espiritual, há filosofia (...) A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem. Evidentemente, ele não se alimenta da filosofia, mas, sem dúvida nenhuma, com a ajuda da filosofia.”. Todos nós temos necessidade de compreender o mundo, sendo uma necessidade natural do ser humano, não sendo este um aspecto somente do filósofo. Todos nós, seres viventes, segundo Arcângelo Buzzi, possuímos uma filosofia de vida, uma concepção de mundo, uma significação inconsciente que emprestamos à vida, sendo que podemos dizer que todo homem é filósofo no sentido usual da expressão. O sentido crítico do termo fica reservado àqueles que consciente e deliberadamente se põem a filosofar. A filosofia é uma reflexão crítica sobre o significado e sentido das coisas e do mundo, e é orientada por valores oriundos do cotidiano, que podem ser adquiridos espontaneamente, através de um direcionamento diário inconsciente, decorrente de massificação, do senso comum. Sobre direcionamento é que deve desenvolver-se o filosofar. Quem não pensa, é pensado por outros, portanto, se não buscarmos refletir criticamente a nossa existência, damos espaço para que o setor dominante pense e decida por nós. Luckesi (p. 25) retoma alguns autores para evidenciar a importância de uma compreensão da existência: “Os filósofos exprimem sempre, em cada instante, o pensamento de um grupo social, de classe ou povo a que pertencem ou representam. Eles são os teoristas, os que explicam e interpretam os desejos, as tendências e as reivindicações desses grupos, classes ou povos. Seu pensamento depende da situação de domínio ou submissão em que se encontra o seu grupo, classe ou povo, em relação a outros povos, grupos ou classes. Depende de estar no poder ou em luta pelo poder, em ascensão ou em decadência.” (Leôncio Basbaum) “O ato de filosofar versa sobre o ato de viver, a Filosofia e a História . Por outro lado, isso não significa que a história, que o puro viver, seja anterior à filosofia. Não há anterioridade da filosofia sobre a história nem da história sobre a filosofia.O ato de viver já está posto na percepção do ser, a vida é filosofia. Ao filósofo resta extrair essa filosofia, dizer o pensamento pressuposto de um tal viver, indicar a partir de qual horizonte, de qual dimensão, um tal viver se constitui.” (Arcângelo Buzzi) “As ideias ou os princípios dos homens provêm da experiência, quer se trate de princípios especulativos, quer de princípios práticos de moral. Os princípios morais variam segundo os tempos e lugares. Quando os homens condenam uma determinada ação é porque ela os prejudica; quando a enaltecem é porque ela lhes é útil. O interesse (não o interesse pessoal, mas o interesse social) determina, assim, os julgamentos do homem no domínio da vida social.” (Plekanov) Como já dissemos, a filosofia busca a interpretação dos anseios humanos, ou seja, não preocupa-se só com o presente, mas com o que está por vir, sendo que é condicionada pelo momento histórico e, ao mesmo tempo, condicionante do momento histórico subsequente. Mas como? A filosofia manifesta-se como impulsionadora da ação, refletindo as aspirações do homem e, consequentemente influenciando os acontecimentos futuros, que já não serão os mesmos partindo-se do pressuposto que já foram influenciados por uma reflexão anterior. Pode- se considerá-la como um sustentáculo de um determinado modo de agir, uma arma política. Em função disto, podemos identificar contradições no decorrer da história humana. Ao mesmo tempo em que governantes exorcizam a filosofia, concebendo-a como uma subversão, buscam fundamentar o seu poder em concepções que lhe deem a garantia da administração política do povo e da nação e justifiquem a sua totalidade. Como aborda o autor (p. 27), “não há como negar a filosofia sem fazer filosofia, porque para se negar o valor da filosofia dentro do mundo é preciso ter uma concepção do mundo que sustente esta negação”. O pensamento filosófico não é neutro, mas contaminado por interesses e aspirações, e podemos identificar no decorrer de sua história estas evidências de forma bem clara, tanto servindo para impor uma ideologia dominante como para alçar transformações sócio- culturais. 2 - O Processo de Filosofar É de suma importância evidenciarmos como se constitui esse corpo de entendimento a qual nos referimos, e que dá significado ao mundo. Mas, muitas indagações pairam no ar: Filosofar é inútil? É difícil e complicado? Como se constitui a filosofia? Como é filosofar? Para discutir estas questões, o autor reporta-se a Gramsci (p.28): “deve-se destituir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos”.. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Há uma grande tendência em assumirmos o senso comum, ou seja, quando não refletimos a respeito de determinado aspecto, deixamo- nos levar pelo que é comum e hegemônico socialmente. O primeiro passo para o processo de filosofar é assumir a necessidade de conhecer os valores que nos norteiam, tomando consciência das ações, lugares e direções que permeiam a nossa vida. Um segundo passo, o momento crítico, consiste em submeter esses valores a uma crítica profunda, identificando o seu significado em nosso cotidiano, a sua essência, desvendando-lhes o segredo. O terceiro momento consiste na construção crítica dos valores que venham a ter um significado norteador de nossa existência, valores estes válidos para orientar nossas ações no sentido que desejarmos seguir. Estes momentos acima referidos não são fragmentados, como nos foi exposto. O processo de filosofar é uma constante tomada de consciência, reflexão e reconstrução de valores, simultaneamente. Um momento é, ao mesmo tempo, dependente e propiciador do outro. 3 - Filosofia e Educação A educação não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento social de manutenção ou transformação. Caracteriza-se por uma preocupação, uma finalidade a ser atingida, necessitando, portanto, de pressupostos que a norteiem. É a reflexão filosófica quem instrumentaliza a educação em uma sociedade. A educação preocupa-se em propiciar o desenvolvimento das novas gerações, enquanto que a filosofia é reflete o que e como deve ser este desenvolvimento. Segundo Anísio Teixeira (p.31), abordando filosofia como forma de vida de um povo, “muito antes que as filosofias viessem expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da cultura, nada mais era do que o meio de se transmitir a visão do mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse.” Percebemos uma preocupação com o aspecto educacional desde os pré-socráticos. Citamos os sofistas, que foram educadores, e os primeiros a receberem uma remuneração para ensinar. O próprio Sócrates morreu em função do seu ideal de educar e estabelecer uma moralização grego-ateniense. Tanto a Filosofia como a Educação estão presentes em todas as sociedades, de forma sistematizada ou não, a primeira refletindo as aspirações humanas e a outra como instrumento veiculador dessa reflexão. Luckesi (p. 32) releva que “a Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia - e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência.O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel o mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. Assim sendo, não há como processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica...”. Quando a educação não é refletida, efetua-se de foram cristalizada, reproduzindo valores do meio de produção, acomodando- nos em uma única interpretação de mundo, não possibilitando uma lapidação adequada a cada realidade. Não temos como desvincular filosofia e educação, sendo-nos muito mais rico e eficaz propiciarmos esta parceria de forma consciente e inovadora. 4 - Pedagogia Os processos sócio-culturais, a concepção psicológica do educando, a forma de organização do processo educacional, e outros, permeiam a pedagogia, e devem estar articulados a partir de pressupostos filosóficos. Somente através de uma reflexão filosófica sobre a educação é que devemos estruturar a ação pedagógica, pois esta permite a compreensão dos valores envolvidos, possibilitando-nos direcionar a prática educacional vigente e orientando a posterior. Educação e Sociedade: redenção, reprodução e transformação Para que possamos entender que sentido devemos dar à educação dentro de uma sociedade, num primeiro momento, devemos buscar compreendê-la bem como ao seu direcionamento. São três as tendências filosófico-políticas da educação necessárias a nossa compreensão: a educação como redenção, como reprodução e como transformação da sociedade. Filosóficas, porque compreendemo seu sentido, e políticas porque constituem um direcionamento para sua ação. 1 - Educação como redenção da sociedade Esta tendência concebe a sociedade como composta por indivíduos que convivem em um todo orgânico e harmonioso, ocorrendo alguns desvios, sejam eles grupais ou individuais. Para a manutenção desta sociedade, deve-se integrar os indivíduos novos (novas gerações) ou que estão a sua margem, adaptando-os aos seus parâmetros. O papel da educação seria o de redentora da sociedade, sendo quase que exterior a ela, tendo como finalidade a (re) integração harmônica do indivíduo ao seu meio, ou seja, no todo social. Deve, segundo referência do autor a Saviani (p. 38) ”reforçar os laços sociais, promover a coesão social e garantir a integração de todos os indivíduos no corpo social.”. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl A educação, neste contexto, assume-se como autônoma na medida em que se configura como mantenedora do corpo social, sendo que ela é quem interfere na sociedade, e não o contrário. Um grande exemplo desta concepção de educação está na obra de Comênio “Didática Magna: Tratado da Arte Universal de Ensinar Tudo a Todos, onde fica evidente que para ele havia uma ordem, uma harmonia primitiva, no Paraíso Terrestre, instituída por Deus, e a qual o homem quebrou, através do pecado, cabendo à educação a recuperação dessa ordem. Somente através da educação das crianças e dos jovens (gerações novas) a sociedade será redimida, não havendo possibilidades através do adulto Comênio ressalta que “um dos primeiros ensinamentos que a Sagrada Escritura nos dá é este: sob o sol não há nenhum outro caminho mais eficaz para corrigir as corrupções humanas que a reta educação da juventude.”. Esta concepção de educação permaneceu durante muito tempo, influenciando a Pedagogia Tradicional bem como os pedagogos do final século XIX na Pedagogia Nova. Ainda hoje podemos identificar sequelas desta tendência em práticas onde não há um compromisso político e sim uma proposta de “por ordem na sociedade”. A esta tendência, Dermeval Saviani denomina de “teoria não- crítica da educação”, em função da não contextualização crítica dentro da sociedade na qual está inserida. 2 - Educação como reprodução da sociedade A educação faz, integralmente, parte da sociedade e a reproduz. Desta forma é concebida a educação para esta segunda tendência, abordando-a como uma instância dentro da sociedade e exclusivamente a seu serviço, determinada pelos condicionantes econômicos, sociais e políticos. A visão desta abordagem é “crítica”, pois condiciona a educação aos seus determinantes, porém reprodutivista, pois destina-se a reproduzir seus próprios condicionantes, sendo denominada por Saviani de ”teoria crítico-reprodutivista da educação”. Reportemo-nos ao livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, de Louis Althusser, onde, a partir de pressupostos marxistas, aborda o papel da escola como um dos aparelhos do Estado, como umas das instâncias da sociedade que veicula a sua ideologia dominante, para reproduzi-la. Luckesi (p. 42), discorre que “toda sociedade, para perenizar-se, necessita reproduzir-se em todos os seus aspectos; caso contrário, desaparece. Parafraseando Marx, Althusser no diz que se ‘uma formação social não reproduz as condições de produção ao mesmo tempo em que produz, não conseguirá sobreviver um ano que seja’. E, para que isso aconteça, tanto economistas marxistas como burgueses reconhecem ‘que não há produção possível sem que seja assegurada a reprodução das condições materiais da produção: a reprodução dos meios de produção’. Assim, a cada momento, os administradores da produção deverão estar atentos, verificando o que necessita ser suprido e/ou substituído, para a manutenção do teor de produção ou para o seu incremento e aumento. É impossível manter a produção sem que ocorra a reprodução dos meios materiais que garantam a manutenção ou o incremento da produção, assim como torna-se necessária a ‘reprodução cultural’ da sociedade. É este o tema de abordagem de Althusser. Vamos seguir seu raciocínio. Não há como continuar a produzir sem a entrada de matérias- primas e sem a reprodução das condições técnicas da produção. Os equipamentos desgastam-se ou tornam-se obsoletos. Todavia, não nos interessa aprofundar, aqui, o estudo da reprodução dos bens materiais. Basta-nos, por enquanto, saber que sua reprodução é condição indispensável para manter a sua produção. No entanto, a produção de bens materiais e sua reprodução não se realizam sem outro elemento básico: a força de trabalho. Como qualquer outro elemento, ela não é infinita e inesgotável, o que exige, também, a sua reprodução (...) torna-se necessária a formação profissional, segundo os diversos níveis e necessidades da divisão social do trabalho.”. A partir deste quadro, a escola passou a atuar como instrumento para a reprodução qualitativa da força de trabalho da qual necessitava a sociedade capitalista, sendo que para Althusser ela atua em dois sentidos: 1. Ensinando saberes práticos, para os diferentes alunos (operários, técnicos, engenheiros, etc.) de acordo com os diferentes lugares de produção onde deveriam ser utilizados. 2. Ensinando as regras dos bons costumes (regras de respeito pela divisão social do trabalho), de acordo com o lugar que o aluno estava destinado a ocupar. Para Althusser, a escola, e também outras instituições, ensinam os saberes práticos, mas em moldes que asseguram a sujeição à ideologia dominante. Todos devem desempenhar eficientemente a sua tarefa, seja ela de dominante ou de dominado, devendo, para isto, estar inserido adequadamente na ideologia. Não basta “saber fazer”, mas essencialmente também “saber comportar-se”. “O termo ‘formação’, muito utilizado para definir os fins da atividade escolar, expressa bem o papel de reprodutora do sistema que desempenha a escola. ‘Formar’ quer dizer ‘dar forma a’, padronizar segundo um modelo. Segundo o autor (p. 47), “a prática escolar que perpassa a vida das pessoas, da infância à maturidade, deixa sua marca indelével na personalidade de cada um reproduzindo a força de trabalho; reproduzindo mais propriamente as relações de produção de uma dada sociedade. Os papéis definidos pela divisão social do trabalho se especificam conforme a escolaridade de cada um”. Se reportando a Althusser, “Cada massa que fica pelo caminho está praticamente recheada da ideologia que convém ao papel que ela deve desempenhar na sociedade de classes: SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl • papel de explorado (com consciência profissional, moral, cívica, nacional e apolítica altamente desenvolvida); • papel de agente da exploração (saber mandar e falar aos operários; as relações humanas); • de agentes de repressão (saber mandar e ser obedecido sem discussão ou saber manejar a demagogia da retórica dos dirigentes políticos); • ou (de) profissionais (que saibam tratar as consciências com respeito, isto é, com o desprezo, a chantagem, a demagogia que convém, acomodados às sutilezas da Moral, da Virtude, da Transcendência, da Nação, do papel da França no mundo, etc..)”. Nesta concepção, é a sociedade quem institui a escola a seu serviço, sendo esta apenas um instrumento de reprodução e manutenção do sistema vigente. 3 - Educação como transformação da sociedade Esta terceira tendência tem como objetivo compreendera educação como uma mediadora de um projeto social, seja ele conservador ou transformador, não colocando a educação como mantenedora da sociedade, a serviço da conservação. Busca compreender a educação dentro da sociedade, com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização efetiva e concreta, atingindo os aspectos não só políticos, mas também sociais e econômicos, podendo ser denominada de “crítica”. Luckesi (p. 49) enfoca que “para tanto, importa interpretar a educação como uma instância dialética que serve a um projeto, a um modelo, a um ideal de sociedade. Ela medeia esse projeto, ou seja, trabalha para realizar esse projeto na prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a conservação; contudo, se o projeto for transformador, medeia a transformação; se o projeto for autoritário, medeia a realização do autoritarismo; se o projeto for democrático, medeia a realização da democracia.” A educação, para esta tendência, está a serviço de um projeto de libertação das maiorias dentro da sociedade. Não se restringe a um trabalho simples, sendo que muitas barreiras podem ser encontradas dentro de uma sociedade capitalista, onde há uma ideologia dominante impondo as regras, mas devemos lutar contra a discriminação, contra o rebaixamento do ensino das camadas populares e contra a apropriação da escola pelos interesses dominantes. 4 - Conclusão Após discorrermos sobre estas três tendências interpretativas da educação, traçamos um parâmetro para que você possa identificar os principais pontos de cada uma. Aspectos Psicológicos da Educação DAVIS, Cláudia e OLIVEIRA, Zilma (1990). Psicologia da Educação. INTRODUÇÃO: Contribuições da psicologia para a aprendizagem escolar “Sabemos que quanto mais informações os educadores tiverem sobre o processo de aprendizagem dos conteúdos escolares, maiores serão as chances de melhoria das práticas pedagógicas. Compreende- se, assim, a relevância teórica dos estudos psicológicos para a área da educação e a necessidade de se efetivar maior intercâmbio entre a Psicologia e a Pedagogia, à medida que aumentam os problemas que as escolas tem que enfrentar” (DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z.). O programa ora apresentado pelas duas autoras parte de uma concepção distinta daquela que, em geral, é adotado em cursos introdutórios de Psicologia aplicada à educação em cursos de formação de professores a nível de 2º e 3º graus. A concepção prevalecente nos programas de tais cursos pretende-se eclético, no sentido de fornecer uma ampla visão da área. Procura-se transmitir ao aluno um acervo de conhecimentos que abarca uma variedade de teorias de aprendizagem, desenvolvimento e personalidade, muitas das quais, em essência, irreconciliáveis. O objetivo dessas orientações é propiciar ao futuro professor uma ampla gama de informações, na suposição de que ele saberá, futuramente, selecionar aquelas que melhor lhe sirvam no exercício da profissão. O objetivo do presente livro, portanto, não é apresentar ao futuro professor um conjunto de práticas de ensino, materiais e informações teóricas, dizendo-lhe, em seguida, o que fazer na sala de aula para ser um bom professor. Antes, procura-se, sobretudo, “desequilibrar” as ideias arranjadas, discutir suposições, criar espaço para as novas reflexões. Conhecendo os seus alunos e a maneira através da qual se dá o seu desenvolvimento no ambiente concreto em que vivem, entendendo os mecanismos que propiciam e facilitam a apropriação de conhecimentos e, sobretudo, tendo consciência da importância da ação docente, o professor poderá avaliar criticamente os conteúdos a ação docente, o professor poderá avaliar criticamente os conteúdos escolares e os métodos de ensino, de modo que a aprendizagem escolar conduza a um desenvolvimento efetivo. Unidade I - A Psicologia na Educação 1- A construção social do sujeito “Na Índia, onde os casos de meninos-lobos foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha uma ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinha nada de humano, e o seu comportamento era exatamente semelhante àquele dos seus irmãos lobos. “Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl “Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choravam ou riam. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de 50 palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. “Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras com as quais conviveu. “A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.” A partir do relato acima poderemos entender em que medida as características humanas dependem do convívio social. Amala e Kamala, as meninas-lobos da Índia por terem sido privadas do contato com outras pessoas, não conseguiram se humanizar: não aprenderam a se comunicar através da fala, não foram ensinadas a usar determinados utensílios e instrumentos sociais, não desenvolveram processos de pensamento lógico. Esse caso Amala e kamala representa, no entanto, uma exceção. Em geral, o bebê nasce, cresce, vive e atua em um mundo social. É por intermédio do contato humano que a criança adquire a linguagem e passa, por meio dela, a se comunicar com outros seres humanos e a organizar seu pensamento. Como cita DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), é no convívio social, através das atividades práticas realizadas, que se criam as condições para o aparecimento da consciência, que é a capacidade de distinguir entre as propriedades objetivas e estáveis da realidade e aquilo que é vivido subjetivamente. Através do trabalho, os homens se organizam para alcançar determinados fins, respondendo aos impasses que a natureza coloca à sobrevivência. Para tanto, usam do conhecimento acumulado por gerações e criam, a partir do trabalho, outro conhecimentos. O papel da Psicologia é investigar as modificações que ocorrem nos processos envolvidos na relação do indivíduo com o mundo (cognitivos, emocionais, afetivos, etc), analisando os seus mecanismos básicos. Para realizar sua proposta, a Psicologia interage com outras ciências tais como a Medicina, a Biologia, a Filosofia, a Genética, a Antropologia, a Sociologia, além da Pedagogia. Estes ramos do conhecimento estão imbricados uns aos outros, de tal forma que, muitas vezes, é difícil saber em que domínio se está atuando. Ao se dedicar ao estudo de tantos e diferentes aspectos, a Psicologia acaba por desenvolver campos de investigações mais específicos e delimitados. Importam, para a educação, os conhecimentos advindos da Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, áreas específicas da ciência psicológica. E é disto que se tratará a seguir.APsicologia do Desenvolvimento Segundo DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), desenvolvimento é o processo através do qual o indivíduo constrói ativamente, nas relações que estabelece com o ambiente físico e social, suas características. Ao contrário de outras espécies, as características humanas não são biologicamente herdadas, mas historicamente formadas. De geração em geração, o grau de desenvolvimento alcançado por uma sociedade vai sendo acumulado e transmitido, indo influir, já desde o nascimento, na percepção que o indivíduo vai construindo sobra a realidade, inclusive no que se refere às explicações do eventos e fenômenos do mundo natural. Para que a apropriação das características humanas se dê, é preciso que ocorra atividade por parte do sujeito: é necessário que sejam formadas ações e operações motoras e mentais. A formação dessas habilidades se dá ao longo da interação do indivíduo como o mundo social, Ele deve dominar o uso de um número cada vez maior de objetos e aprender a agir em situações cada vez mais complexas, buscando identificar os significados desses objetos e situações. O que pretende estudar a Psicologia do desenvolvimento, é como se desenvolvem as funções psicológicas que distinguem o homem de outras espécies. Ela estuda a evolução da capacidade perceptual e motora, das funções intelectuais, da sociabilidade e da afetividade do ser humano. Descreve como essas capacidades se modificam e busca explicar tais modificações. 2- A Psicologia da Aprendizagem. Segundo DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), a aprendizagem é o processo através do qual a criança se apropria ativamente do conteúdo da experiência humana, daquilo que o seu grupo social conhece. Para que a criança aprenda, ela necessitará interagir como outros seres humanos especialmente com os adultos e com outras crianças mais experientes. Nas inúmeras interações em que se envolve desde o nascimento, a criança vai gradativamente ampliando suas formas de lidar com o mundo e vai construindo significados para as suas ações e para as experiências que vive. Com o uso da linguagem, esses significados ganham maior abrangência, dando origem a conceitos, ou seja, significados partilhados por grande parte do grupo social. A linguagem, além disso, irá integrar-se ao pensamento, formando uma importante base sobre a qual se desenvolverá o funcionamento intelectual. O pensamento pode ser entendido, desta forma, como um diálogo interiorizado. A Psicologia da Aprendizagem estuda o complexo processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes numa sociedade são apropriados pela criança. Para que se possa entender esse processo é necessário reconhecer a natureza social da aprendizagem. Como já foi dito, as operações cognitivas (aquelas envolvidas no processo de conhecer) são sempre ativamente SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl construídas na interação com outros indivíduos. Reconhece-se, dessa maneira, que as pessoas, em especial as crianças, aprendem através de ações partilhadas mediadas pela linguagem e pela instrução. A interação entre adultos e crianças, e entre crianças, portanto, é fundamental na aprendizagem. A Psicologia da Aprendizagem, aplicada à educação e ao ensino, busca mostrar como, através da interação entre professor e alunos, e entre os alunos, é possível a aquisição do saber e da cultura acumulados, sendo o papel do professor fundamental neste processo. 3- A Psicologia na Educação Como comenta DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), comete-se o erro de pensar que a aprendizagem começa apenas na idade escolar. Consequentemente, parte-se do princípio de que os ensinamentos que ocorrem na escola principiam na sala de aula. Na verdade muitos anos antes de entrar na escola, a criança já vem desenvolvendo hipóteses e construindo um conhecimento sobre o mundo, o mesmo mundo que as matérias ditas escolares procuram interpretar. No início da alfabetização, por exemplo, ela já tem uma concepção de escrita, uma ideia do que se pode ou não escrever, uma concepção sobre o sistema de representação gráfica. Coisa semelhante ocorre com a Matemática. Antes de entrar na escola, a criança já se deparou inúmeras vezes com a noção de quantidade, realizando, inclusive, operações de cálculo. Um conjunto de noções e de conceitos já se encontra, portanto, estabelecido. Deste modo, a tarefa de ensinar, em nossa sociedade, não está concentrada apenas nas mãos dos professores. O aluno não aprende apenas na escola, mas também através da família, dos amigos, de pessoas que ele considera significativas, dos meios de comunicação de massa, da experiência do cotidiano, dos movimentos sociais. Entretanto, a escola é a instituição social que se apresenta como responsável pela educação sistemática das crianças, jovens e até mesmo de adultos. Daí a importância de se colocar a serviço da educação e do ensino o conjunto de conhecimentos psicológicos sobre as bases do desenvolvimento e da aprendizagem. Com eles, o professor estará em posição mais favorável para planejar a sua ação. Unidade II - A criança enquanto ser em transformação 1- Concepções de desenvolvimento: correntes teóricas e repercussões na escola. As diversas teorias de desenvolvimento apresentadas a seguir apoiam-se em diferentes concepções do homem e do modo como ele chega a conhecer. Tais teorias , como em qualquer estudo científico, dependem da visão de mundo existente em uma determinada situação histórica e evoluem conforme se mostram capazes ou incapazes de explicar a realidade. A visão de desenvolvimento enquanto processo de apropriação pelo homem da experiência histórico-social é relativamente recente. Durante longos anos, o papel da interação de fatores internos e externos no desenvolvimento não era destacado. Enfatizava-se ora osprimeiros , ora os segundos. Os filósofos e os cientistas criaram, assim, teorias ou abordagens denominadas inatistas - que salientam a importância dos fatores endógenos - e teorias ou abordagens chamadas ambientalistas - onde especial atenção se dá à ação do meio e da cultura sobre a conduta humana. 1.1. A Condição Inatista Essa concepção parte do pressuposto de que os eventos que ocorrem após o nascimento não são essenciais e/ou importantes para o desenvolvimento . As qualidades e capacidades básicas de cada ser humano - sua personalidade, seus valores, hábitos e crenças, sua forma de pensar, suas relações emocionais e mesmo sua conduta social - já se encontrariam basicamente prontas e em sua forma final por ocasião do nascimento, sofrendo pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma transformação ao longo da existência . O papel do ambiente ( e, portanto, da educação e do ensino) é tentar interferir o mínimo possível no processo do desenvolvimento espontâneo da pessoa. As origens da posição inatista podem ser encontradas, de um lado, na Teologia: Deus, de um só ato, criou cada homem em sua forma definitiva. Após o nascimento, nada mais haveria a fazer, pois o bebê já teria em si os germes do homem que viria a ser. O destino individual de cada criança já estaria determinado pela “graça divina”. Do outro lado, a posição inatista apóia-se num entendimento errôneo de algumas contribuições importantes ao conhecimento biológico, tais como a proposta evolucionista de Darwin, a Embriologia e a Genética. A evolução para Darwin, biólogo inglês que viveu no século passado, resulta de mudança graduais e cumulativas no desenvolvimento das espécies. Essas mudanças,por sua vez, decorrem de variações hereditárias que fornecem vantagens adaptativas em relação às condições ambientais prevalecentes. O papel do ambiente é bastante limitado. Cabe-lhe apenas determinar, dentre as possibilidades naturais de variação, quais são as mais adaptativas para a espécie, isto é, as que melhor permitem à espécie sobreviver num ambiente específico. Só os mais aptos de uma determinada espécie - aqueles capazes de se adaptar ao meio - sobreviveram. Aplicada ao desenvolvimento humano, essa teoria foi frequentemente mal interpretada. A teoria darwiniana acabou, sendo erroneamente entendida como postulando aquilo que nunca pretendeu: que os fatores ambientais eram incapazes de exercer um efeito direto tanto na espécie quanto no organismo. Em relação à espécie, deixou-se de lado a influência da experiência individual de cada pessoa; equiparou-se, consequentemente, o complexo comportamento sócio-cultural do homem àquele que é típico de organismos inferiores, onde se observa pouca ou nenhuma diferenciação. Os primeiros conhecimentos produzidos na embriologia também forneceram subsídios para as teorias inatistas. Na verdade, esses SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl primeiros dados apontaram para sequências de desenvolvimento praticamente invariáveis que seriam, em grande parte, reguladas por fatores endógenos, ou seja, de origem interna. Dados mais recentes da Embriologia indicam que o ambiente interno tem um papel central no desenvolvimento do embrião, assim como o ambiente externo é fundamental para o desenvolvimento pós- natal. Não há, pois, bases empíricas ou teóricas que sirvam de apoio para a visão inatista no âmbito da Psicologia. Tal visão, no entanto, gerou uma ideia de homem que produziu uma abordagem rígida, autoritária e, sobretudo, pessimista para a educação de crianças e adolescentes. Como , na concepção inatista, o homem “já nasce pronto”, pode-se apenas aprimorar um pouco aquilo que ele é ou, inevitavelmente, virá a ser. Em consequência, não vale a pena considerar tudo o que pode ser feito em prol do desenvolvimento humano. O ditado popular “pau que nasce torto morre torto” expressa bem a concepção inatista, que ainda hoje aparece na escola, camuflada sob disfarce das aptidões, da prontidão e do coeficiente de inteligência. Tal concepção gera preconceitos prejudiciais ao trabalho em sala de aula. 1.2. A concepção Ambientalista Essa concepção atribui um imenso poder ao ambiente no desenvolvimento humano. O homem é concebido como um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em função das condições presentes no meio em que se encontra. Esta concepção deriva da corrente filosófica denominada empirismo, que enfatiza a experiência sensorial como fonte do conhecimento. Ainda segundo o empirismo, determinados fatores encontram-se associados a outros, de modo que é possível , ao se identificar tais associações, controlá-las pela manipulação. Na psicologia , o grande defensor da posição ambientalista é um norte-americano, B.F. Skinner. A teoria proposta por ele preocupa-se em explicar os comportamentos observáveis do sujeito , desprezando os seus desejos e fantasias, os seus sentimentos. Na concepção do comportamento defendida por Skinner e seus seguidores, o papel do ambiente é muito mais importante do que a maturação biológica. Na verdade, são os estímulos presentes numa dada situação que levam ao aparecimento de um determinado comportamento. Segundo os ambientalista , os indivíduos buscam maximizar o prazer e minimizar a dor. Manipulando-se os elementos presentes no ambiente - que por , esta razão, são chamados de estímulos - é possível controlar o comportamento: fazer com que aumente ou diminua a frequência com que ele aparece; fazer com que ele desapareça ou só apareça em situações consideradas adequadas; fazer com que se atribui à concepção ambientalista uma visão do indivíduo enquanto ser extremamente reativo à ação do meio. Mudanças no comportamento podem ser provocadas de diversas maneiras. Uma dela requer uma análise das consequências ou resultados que o mesmo produz no ambiente. As consequências positivas são chamadas de reforçamento e promovemum aumento na frequência com que o comportamento aparece. Por exemplo, se após arrumar os seus brinquedos ( comportamento ) , a criança ouvir elogios da mãe ( consequência positiva ), ele procurará deixar os brinquedos arrumados mais vezes, porque estabeleceu uma associação entre esse comportamento e aquele da sua mãe. Já em consequências negativas recebem o nome de punição e levam a uma diminuição na frequência com que certos comportamentos ocorrem. Por exemplo, se cada vez que João quebrar uma vidraça ao jogar bola ( comportamento ), ele for obrigado a pagar pelo estrago ( consequência negativa ) , ele passará a tomar mais cuidado ao jogar , diminuindo os estragos em janelas. Quando um comportamento é absolutamente inadequado e se considera desejável eliminá-lo totalmente do repertório de comportamentos de um certo indivíduo, usa-se o procedimento dito de extinção. Nele o objetivo é quebrar o elo que se estabeleceu entre o comportamento visto como indesejável e determinadas consequências do mesmo. Para tanto, é preciso que se retire do ambiente as consequências que o mantém. Mais recentemente , outros teóricos afirmaram que o comportamento humano também se modifica em função da observação de como agem outras pessoas, que se tornam modelos a serem copiados. Quando os comportamentos dos modelos são reforçados, tende-se a imitá-los e quando são punidos , procura-se evitá-los. Na visão ambientalista, a atenção de uma pessoa é, portanto, função das aprendizagens que realizou ao longo de sua vida , em contato com estímulos que reforçaram ou puniram seus comportamentos anteriores. Para explicar o surgimento de novos comportamentos ou daqueles valorizados em uma dada sociedade é preciso prestar atenção aos estímulos que provocam o aparecimento do comportamento desejado. De igual modo, a eliminação de modos de ser visto como impróprios também exige atenção aos estímulos que desencadeiam a conduta tida como inadequada. Pode-se assim , dizer que o comportamento é sempre o resultado de associações estabelecidas entre algo que provoca ( um estímulo antecedente) e algo que segue e o mantém (um estímulo consequente ). Quando um comportamento for associado a um determinado estímulo, ele tende a reaparecer quando estiveram presentes estímulos semelhantes. Este fenômeno é chamado de generalização. Quando os estímulos são objetos, a cor, a forma e o tamanho são aspectos importantes para que haja percepção de semelhança e generalização de comportamentos. Após a aquisição da linguagem pela criança, as palavras tornam- se a base para generalizações. Mas não só isso. Além de a criança aprender a perceber semelhanças entre estímulos e a generalizar comportamentos, ela também aprende o inverso, ou seja, a discriminar estímulos a partir das suas diferenças. Uma criança que aprendeu a palavra “cachorro” associando-a a um animal de quatro patas, pode usa- la, inicialmente, para nomear outros animais de quatro patas, como gatos e coelhos. Rapidamente, contudo, ela aprende a distinguir as SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl características definidoras de um cachorro - como o latido - e passa a discriminar corretamente as várias espéciesde animais. A aprendizagem na concepção , pode assim ser entendida como o processo pelo qual o comportamento é modificado com resultado da experiência. Além das condições já mencionadas para que a aprendizagem se dê - estabelecimento de associações entre um estímulo e uma resposta e entre uma resposta e um reforçador - é importante que se leve em conta o estado fisiológico e psicológico do organismo. Para que a aprendizagem ocorra é preciso, portanto, que se considere a natureza dos estímulos presentes na situação, tipo de resposta que se espera obter e o estado físico e psicológico do organismo. É ainda importante aquilo que resultará da própria aprendizagem: mais conhecimento , elogios, prestígios , notas altas etc. Na visão ambientalista, a ênfase está em propiciar novas aprendizagens, por meio da manipulação dos estímulos que atendem e sucedem o comportamento. Para tanto, é preciso uma análise rigorosa da forma como indivíduos atuam em seu ambiente, identificando os estímulos que provocam o aparecimento do comportamento-alvo e as consequências que o mantém. A esta análise dá-se o nome de análise funcional do comportamento. Nela defende-se o planejamento das condições ambientais para a aprendizagem de determinados comportamentos. A introdução de teorias ambientalistas na sala de aula teve o mérito de chamar a atenção dos educadores para a importância do planejamento de ensino. A organização das condições para que a aprendizagem ocorra exige clareza a respeito dos objetivos que se quer alcançar, a estipulação da sequência de atividades que levarão ao objetivo proposto e a especificação dos reforçadores que serão utilizados. A concepção ambientalista da educação valoriza o papel do professor, cuja importância havia sido minimizada na abordagem inatista . Coloca em suas mãos a responsabilidade de planejar, organizar e executar - com sucesso - as situações de aprendizagem. Por outro lado, as teorias ambientalistas tiveram também efeitos nocivos na prática pedagógica. A educação foi sendo entendida como tecnologia, ficando de lado a reflexão filosófica sobre a sua prática. A ênfase na tecnologia educacional exigia do professor um profundo conhecimento dos fatores a serem considerados numa programação de ensino, contudo tal conhecimento não era transmitido a eles. Programar o ensino deixou de ser uma atividade cognitiva de pesquisar condições de aprendizagem para se tornar uma atividade meramente formal de colocar os projetos de aula numa fórmula-padrão. A principal crítica que se faz ao ambientalismo é quanto à própria visão de homem adotada: a seres humanos como criaturas passivas face ao ambiente, que podem ser manipuladas e controladas pela simples alteração das situações em que se encontram. Nesta concepção , não há lugar para a criação de novos comportamentos. Na sala de aula , ela acarretou um excessivo diretivismo por parte dos adultos. Deixou-se de valorizar e fazer uso de situações onde a aprendizagem pode se dar de modo espontâneo, como aquelas onde as crianças cooperam entre si para alcançarem um fim comum.. Não há, na concepção ambientalista, preocupação em explicar os processos através dos quais a criança raciocina e que estariam presentes na forma como ela se apropria de conhecimentos. 1.3 A Concepção Interacionista: Piaget e Vygotski Para os psicólogos interacionistas o organismo e o meio exercem ação recíproca. Um influencia o outro e essa interação acarreta mudanças sobre o indivíduo. É, pois, na interação da criança com o mundo físico e social que as características e peculiaridades desse mundo vão sendo conhecidas. Para cada criança, a construção desse conhecimento exige elaboração , ou seja, uma ação sobre o mundo. A concepção interacionista de desenvolvimento apoia-se , portanto, na ideia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adquirido passivamente graças às pressões do meio. Tomaremos duas correntes teóricas no interacionismo: a elaborada por Piaget e seus seguidores e a defendida por teóricos soviéticos, em especial por Vygotski. Estas duas correntes serão brevemente analisadas, apontando-se suas semelhanças e diferenças. A Teoria de Jean Piaget Jean Piaget ( 1896-1980) é o mais conhecido dos teóricos que defendem a visão interacionista de desenvolvimento. Formado em biologia e Filosofia, dedicou-se a investigar cientificamente como se forma o conhecimento. Ele considerou que se estudasse cuidadosa e profundamente a maneira pela qual as crianças constroem as noções fundamentais de conhecimento lógico - tais como as de tempo, espaço, objeto, causalidade, etc. - poderia compreender a gênese ( ou seja, o nascimento ) e a evolução do conhecimento humano. Inicialmente, Piaget trabalhou com dois psicólogos franceses, Binet e Simon, que, por volta de 1905, tentavam elaborar um instrumento para medir a inteligência das crianças que frequentavam as escolas francesas. Tal instrumento - o teste de inteligência Binet-Simon - foi o primeiro teste destinado a fornecer a idade mental de um indivíduo e é o primeiro teste destinado a fornecer a idade mental de um indivíduo, e é até hoje utilizado, depois de ter sofrido sucessivas adaptações. Ao analisar as respostas das crianças do teste, Piaget começou a se interessar pelas respostas erradas das crianças, salientando que estas só “erravam” porque as respostas eram analisadas a partir de um ponto de vista do adulto. Na verdade as respostas infantis seguiam uma lógica própria. Piaget concebeu, então, que a criança possui uma lógica de funcionamento mental que difere - qualitativamente - da lógica do funcionamento mental do adulto. Propôs-se consequentemente a investigar como, através de quais mecanismos, a lógica infantil se transforma em lógica adulta. Nessa investigação, Piaget partiu de uma SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl concepção de desenvolvimento envolvendo um processo contínuo de trocas entre o organismo vivo e o meio ambiente. Equilíbrio / Equilibração A noção de equilíbrio é o alicerce da teoria de Piaget. Para este autor, todo organismo vivo procura manter um estado de equilíbrio ou de adaptação com seu meio, agindo de forma a superar perturbações na relação que ele estabelece com o meio. O processo dinâmico e constante do organismo buscar um novo e superior estado de equilíbrio é denominado processo de equilibração majorante. Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo do indivíduo ocorre através de constantes desequilíbrios e equilibrações . O aparecimento de uma nova possibilidade orgânica no indivíduo ou na mudança de alguma característica do meio ambiente, por mínima que seja, provoca a ruptura do estado de repouso - da harmonia entre organismo e meio - causando um desequilíbrio. Dois mecanismos são acionados para alcançar um novo estado de equilíbrio. O primeiro recebe o nome de assimilação. Através dele o organismo sem alterar suas estruturas - desenvolve ações destinadas a atribuir significações , a partir da sua experiência anterior, aos elementos do ambiente com os quais interage. O outro mecanismo, através do qual o organismo tenta restabelecer um equilíbrio superior com o meio ambiente, é chamado de acomodação. Agora , entretando, o organismo é impelido a se modificar, a se transformar para se ajustar às demandas impostas pelo ambiente. As etapas do desenvolvimento cognitivo: I - A etapasensoriomotora Vai do nascimento até, aproximadamente, os dois anos de idade. Nela, a criança baseia-se exclusivamente em percepções sensoriais e em esquemas motores para resolver seus problemas, que são essencialmente práticos; bater numa caixa, pegar um objeto, jogar uma bola etc. Nesse período, muito embora a criança tenha já uma conduta inteligente, considera-se que ela ainda não possui pensamento. Isto porque, nessa idade, a criança não dispõe ainda da capacidade de representar eventos, de evocar o passado e de referir-se ao futuro está presa ao aqui-e-agora da situação. Para conhecer, portanto, lança mão de esquemas sensoriomotores: pega, balança, joga, bate, morde objetos e atua sobre os mesmos de uma forma “pré-lógica” colocando um sobre o outro, um dentro do outro . Forma, assim, “conceitos sensoriomotores” de maior, de menor, de objetos que balançam e objetos que não balançam etc. Ocorre, como consequência, uma “definição” do objeto por intermédio do seu uso. A criança pequena também aplica esquemas sensoriomotores para se relacionar e conhecer outros seres humanos. Dentre as principais aquisições do período sensoriomotor, destaca-se a construção da noção de “eu”, através da qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo. O bebê o explora, percebe suas diversas partes, experimenta emoções diferentes, formando a base do seu autoconceito. Mas não é só isso. Ao longo desta etapa, a criança irá elaborar a sua organização psicológica básica, seja no aspecto motor, no perceptivo, no afetivo, no social e no intelectual. Além de perceber a diferença entre si mesma e os objetos ao seu redor, a criança será capaz de estabelecer também diferenças entre tais objetos, chegando, finalmente, à concepção de uma realidade estável , onde a existência dos objetos é independente da percepção imediata. Esta é uma grande conquista . Após ter sido capaz de identificar um objeto, separando-o dos demais, o bebê, todavia, age em relação a esse objeto apenas se ele estiver visível à sua frente . Se um bebê de cinco meses de idade estiver brincando com um objeto e se este for coberto por um pano, imediatamente ele volta sua atenção para outra coisa, agindo como se o primeiro objeto, por ter sido coberto, tivesse deixado de existir. Só mais tarde, aos oito meses, o bebê se apercebe que o objeto está ali, debaixo do pano. Experimenta grande satisfação com este fato, escondendo o objeto com o pano e descobrindo-o , varias vezes. Nesse mesmo período, as concepções de espaço, tempo e causalidade começam a ser construídas , possibilitando à criança novas formas de ação prática para lidar com o meio. Aos poucos, o período sensoriomotor vai-se modificando. Esquemas cada vez mais complexos são construídos, de forma a preparar e dar origem ao aparecimento da função simbólica, portanto, do universo restrito do aqui-e-agora. O aparecimento da função simbólica altera drasticamente a forma como a criança lida com o meio e anuncia uma nova etapa, denominada pré- operatória. II - A etapa pré-operatória A etapa pré-operatória é marcada, em especial, pelo aparecimento da linguagem oral, por volta dos dois anos. Ela permitirá à criança dispor - além da inteligência prática construída na fase anterior - da possibilidade de ter esquemas de ação interiorizados , chamados de esquemas representativos ou simbólicos, ou seja, esquemas que envolvem uma ideia preexistente a respeito de algo. É capaz de formar, por exemplo, representações de avião, de papai, de sapato, de que não se deve bater em outra criança etc. A partir dessas novas possibilidades de lidar com o meio , dos dois anos em diante a criança poderá tomar um objeto ou uma situação por outra, por exemplo, pode tomar um boneco por um bebê ou pode tomar uma bolsa, colocando-a no braço e agindo como se fosse sua mãe preparando-se para sair de casa. O pensamento pré-operatório indica, portanto, inteligência capaz de ações interiorizadas, ações mentais. Ele é, entretanto , diferente do pensamento adulto, como é fácil de se constatar. Em primeiro, depende das experiências infantis, refere-se a elas, sendo portanto um pensamento que a criança centra em si mesma. Por esta razão, o pensamento pré-operatório recebe o nome de pensamento egocêntrico. É um pensamento rígido, que tem como ponto de referência a própria criança. Outra característica do pensamento desta etapa é o animismo. Este termo indica que a criança empresta a “alma” ( “anima” em latim ) SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl às coisas e animais, atribuindo-lhes sentimentos e intenções próprios do ser humano. Assim, é frequente ouvi-la dizer que a mesa é má quando ela machuca a sua cabeça, de que o vento “quer” embaraçar o seu cabelo penteado. O pensamento da criança de dois a sete anos apresenta, ainda, uma outra característica, bastante similar ao animismo. É o antropomorfismo ou a atribuição de uma forma humana a objetos e animais. As nuvens, por exemplo, podem ser concebidas como grandes rostos que sopram um hálito forte. As ações no período pré-operatório, embora internalizadas, não são ainda reversíveis. III - A etapa operatório-concreta Por volta dos sete anos de idade, as características da inteligência infantil, a forma como a criança lida com o mundo e o conhece, demonstram que ela se encontra numa nova etapa de desenvolvimento cognitivo: a etapa operatório-concreta. Ao se comparar as aquisições deste período com o anterior, observa-se que grandes modificações ocorreram. Essa etapa é a etapa do pensamento lógico, objetivo, adquire preponderância. Ao longo dela, as ações interiorizadas vão-se tornando cada vez mais reversíveis e, portanto, móveis e flexíveis. O pensamento se torna menos egocêntrico, menos centrado no sujeito. Agora a criança é capaz de construir um conhecimento mais compatível com o mundo que a rodeia. O real e a fantástico não mais se misturarão em sua percepção. O pensamento é denominado operatório porque é reversível: o sujeito pode retornar, mentalmente, ao ponto de partida. A criança opera quando tem noção, por exemplo, de que 2+3=5, pois sabe que 5- 3=2. De igual modo, a compreensão de que uma dada quantidade de argila não se altera, se eu emprego a mesma porção para fazer uma salsicha e a seguir para transformar a salsicha em bola, também constitui uma operação. A construção das operação possibilita, assim a elaboração da noção de conservação. O pensamento agora baseia-se mais no raciocínio que na percepção. Neste período de desenvolvimento o pensamento operatório é denominado concreto porque a criança só consegue pensar corretamente nesta etapa se os exemplos ou materiais que ela utiliza para apoiar seu pensamento existem mesmo e podem ser observados. A criança não consegue ainda pensar abstratamente, apenas com base em proposições e enunciados. Pode então ordenar, seriar, classificar, etc. IV- A etapa operatório-formal A principal característica da etapa operatório-forma, por sua vez, reside no fato de que o pensamento se torna livre da limitações da realidade concreta. O que significa isso? Como já foi assinalado, a criança que se encontra no período operatório-concreto só consegue pensar corretamente, com lógica, se o conteúdo do seu pensamento estiver representado fielmente a realidade concreta. Por exemplo, a SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPlpartir de diversas situações envolvendo observações de cavalos, fotos de cavalos e histórias sobre cavalos, a criança constrói a noção de cavalo como sendo um animal de porte grande, de quatro patas, que gosta de comer capim e que é utilizado no transporte de coisas e pessoas. No nível operatório-forma, a partir dos 13 anos de idade, a criança se torna capaz de raciocinar logicamente mesmo se o conteúdo do seu raciocínio é falso. Por exemplo, é possível combinar com duas crianças de idades diferentes, uma no período operatório- concreto e outra no operatório-formal, que a figura de uma coruja desenhada em um papel receberá o nome de “cavalo”. A seguir, pede- se a elas que identifiquem oralmente qual é o nome de um animal de porte grande, que comem capim e transporta pessoas e coisas. A criança do período operatório-concreto irá ignorar o que foi anteriormente combinado e dirá que o nome do animal proposto é cavalo. Já a mais velha, que já apresenta um pensamento operatório- formal, irá afirmar que o animal em questão poderia receber qualquer nome, à exceção de cavalo, uma vez, por definição (e não concretamente), “cavalo” é o nome que, na situação, se convenciou dar à uma coruja. A libertação do pensamento das amarras do mundo concreto, adquirido no operatório - formal, permitirá ao adolescente pensar e trabalhar não só com a realidade concreta, mas também com a realidade possível. Como consequência, a partir de treze anos, o raciocínio pode, pela primeira vez, utilizar hipóteses, visto que estas não são, em princípio, nem falsas nem verdadeiras: são apenas possibilidades. Uma vez de posse dessa faculdade de produzir e operar com base em hipóteses, é possível derivar delas todas as consequências lógicas cabíveis. A construção típica da etapa operatório-forma é, assim, o raciocínio hipotético-dedutivo: é ele que permitirá ao adolescente estender seu pensamento até o infinito. Ao atingir o opertório-formal, o adolescente atinge o grau mais complexo do seu desenvolvimento cognitivo. A tarefa, a partir de agora, será apenas a de ajustar, solidificar e estofar as suas estruturas cognitivas. Piaget acredita que existem, no desenvolvimento humano, diferentes momentos: um pensamento, uma maneira de calcular, uma certa conclusão, podem parecer absolutamente corretos em um determinado período de desenvolvimento e absurdos num outro. As etapas de desenvolvimento do pensamento são, ao mesmo tempo, contínuas e descontínuas. Elas são contínuas porque sempre se apoiam na anterior, incorporando-a e transformando-a. Fala-se em descontinuiade no desenvolvimento, por outro lado, porque cada nova etapa não é mero prolongamento da que lhe antecedeu: transformações qualitativas radicais ocorrem no modo de pensar das crianças. As etapas de desenvolvimento encontram-se, assim, funcionalmente relacionadas dentro de um mesmo processo. As diferentes etapas cognitivas apresentam, portanto, características próprias e cada uma delas constitui um determinado tipo de equilíbrio. Ao longo do desenvolvimento mental, passa-se de uma para outra etapa, buscando um novo e mais completo equilíbrio que depende, entretanto, das construções passadas. Não é possível passar, por exemplo, da etapa sensoriomotora para a operatório-concreta, “pulando” a pré-operatória. A sequência das etapas é sempre invariável, muito embora, como já foi visto, a época em que as mesmas são alcançadas possa não ser a mesma para todas as crianças. De igual modo, as etapas do desenvolvimento cognitivo não são reversíveis: ao se construir uma determinada capacidade mental, não é mais possível perdê-la. Temos quatro fatores básicos responsáveis pela passagem de uma etapa de desenvolvimento mental para a seguinte - a maturidade do sistema nervoso, a interação social (que se dá através da linguagem e da educação), a experiência física com os objetos e, principalmente, a equilibração, ou seja, a necessidade que a estrutura cognitiva tem de se desenvolver para enfrentar as demandas ambientais - o do menor peso, na teoria piagetiana, é a interação social. Desta maneira, a educação - e em especial a aprendizagem - tem, no entender de Piaget, um impacto reduzido sobre o desenvolvimento intelectual. Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem não se confundem: o primeiro é um processo espontâneo, que se apóia predominantemente no biológico. Aprendizagem, por outro lado, é encarada como um processo mais restrito, causado por situações específicas (como a frequência à escolar) e subordinado tanto à equilibração quanto a maturação. A teoria de Vygostski Um outro tipo de interacionismo é proposto por Lev Seminovitch Vygostski (1896-1934). Nascido na Rússia, ele escreveu, em sua curta vida, uma ampla e importante obra, da qual apenas alguns livros foram traduzidos para o português. Em seu trabalho e nos dos seus seguidores, especialmente no dos seus compatriotas Luria e Leontiev, encontra-se uma visão de desenvolvimento baseado paulatinamente num ambiente que é histórico e, em essência, social. Nessa teoria é dado destaque às possibilidades que o indivíduo dispõe a partir do ambiente em que vive e que dizem respeito ao acesso que o ser humano tem a “instrumentos” físicos (como a enxada, a faca, a mesa, etc) e simbólicos (como a cultura, valores, crenças, costumes, tradições, conhecimentos) desenvolvidos em gerações precedentes. Vygostski defende a ideia de contínua interação entre as mutáveis condições sociais e a base biológica do comportamento humano. Partindo de estruturas orgânicas elementares, determinadas basicamente pela maturação, formam-se novas e mais complexas funções mentais, a depender da natureza das experiências sociais a que as crianças se acham expostas. A forma como fala é utilizada na interação social com adultos e colegas mais velhos desempenha um papel importante na formação e organização do pensamento complexo e abstrato individual. O pensamento infantil, amplamente guiado pela fala e pelo comportamento dos mais experientes, gradativamente adquire a capacidade de se auto-regular. Por SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl exemplo, quando a mãe mostra a uma criança de dois anos um objeto e diz “a faca corta e dói”, o fato de ela apontar para o objeto e de assim descrevê-lo provavelmente provocará uma modificação na percepção e no conhecimento da criança. O gesto e a fala materna servem como sinais externos que interferem no modo pelo qual o menino ou a menina age sobre seu ambiente: com o tempo, ocorre uma interiorização progressiva das direções verbais fornecidas à criança pelos membros mais experientes de uma ambiente social. O processo de interiorização progressiva das orientações advindas do meio social é um processo ativo, no qual a criança apropria-se do social de uma forma particular. Reside aí, na verdade, o papel estruturante do sujeito: interiorização e transformação se integra no social, é capaz de posicionar-se frente ao mesmo, ser seu crítico e seu agente transformador. Assim, à medida que as crianças crescem, elas vão internalizando a ajuda externa que se torna cada vez mais necessária: a criança mantém, agora, o controle sobre sua própria conduta. Através da fala, o ambiente físico e social pode ser melhor apreendido, aquilatado e equacionado: a fala modifica, assim a qualidade do conhecimento e pensamento que se tem do mundo em que se encontra. Ao interiorizar instruções, as crianças modificam suas funções psicológicas: percepção, atenção,memória, capacidade para solucionar problemas. É dessa maneira que formas historicamente determinadas e socialmente organizadas de operar com informação influenciam o conhecimento de mundo e as consequentes formas de interagir com as crianças adotadas pelos adultos no século XV diferem substancialmente das utilizadas hoje em dia, especialmente se as comparamos com as do mundo urbano moderno, fortemente influenciado pelos meios de comunicação de massa. Traduzem formas diferentes de organizar, planejar e atuar sobre a realidade. Deste modo, as funções mentais superiores - como a capacidade de solucionar problemas, o armazenamento e o uso adequado da memória, a formação de novos conceitos, o desenvolvimento da vontade - aparecem, inicialmente, no plano social (ou seja, na interação envolvendo pessoas) e apenas elas surgem no plano psicológico (ou seja, no próprio indivíduo). A construção do real pela criança, ou seja, a apropriação que esta faz da experiência social, parte, pois, do social (da interação com os outros) e, paulatinamente, é internalizada por ela. Segundo Vygostski, a aquisição de um sistema linguístico reorganiza, pois, todos os processos mentais infantis. A palavra dá forma ao pensamento, criando novas modalidades de atenção, memória e imaginação. Vygostski adota a visão de que pensamento e linguagem são dois círculos interligados. É na interseção deles que se produz o que se chama pensamento verbal, o qual não inclui, assim, nem todas as formas de pensamento, nem todas as formas de linguagem. Existem, portanto, áreas do pensamento que não têm relação direta com a fala, como é o caso da inteligência prática, em geral. Por outro lado, Vygostski dá uma importância tão grande ao pensamento verbal que chega a afirmar que as estruturas de linguagem dominadas pela SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl crianças passam a constituir as estruturas básicas de sua forma de pensar. Ao reconhecer a imensa diversidade nas condições histórico- sociais em que as crianças vivem, Vygotski não aceita a possibilidade de existir uma sequência universal de estágios cognitivos, como propões Piaget. Para Vygotski, os fatores biológicos preponderam sobre os sociais apenas no início da vida das crianças e as oportunidades que se abrem para cada uma delas são muitas e variadas, adquirindo destaque, em sua teoria, as formas pelas quais as condições e as interações humanas afetam o pensamento e o raciocínio. A construção do pensamento complexo e do abstrato Para Vygotski, o processo de formação de pensamento é, portanto, despertado e acentuado pela vida social e pela constante comunicação que se estabelece entre crianças e adultos, a qual permite a assimilação da experiência de muitas gerações. Como foi citado por DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), a linguagem segundo Vygotski intervém no processo de desenvolvimento intelectual da criança praticamente já desde o nascimento. Quando os adultos nomeiam objetos, indicando para a criança as várias relações que estes mantêm entre si ela constrói formas mais complexas e sofisticadas de conceber a realidade. Sozinha, não seria capaz de adquirir aquilo que obtém por intermédio de sua interação com os adultos e com as outras crianças, num processo em que a linguagem é fundamental. Desenvolvimento e aprendizagem Vygotski considera três teorias principais que discute a relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Na primeira, desenvolvimento é encarado como um processo maturacional que ocorre antes da aprendizagem, criando condições para que esta se dê. É preciso haver um determinado nível de desenvolvimento para que certos tipos de aprendizagem sejam possíveis. Esta é, em essência, a posição defendida por Piaget. Na segunda teoria, a comportamentalista ou behaviorista, a aprendizagem é desenvolvimento, entendido como acúmulo de respostas aprendidas. Nessa concepção, o desenvolvimento ocorre simultaneamente à aprendizagem, ao invés de precedê-la. O terceiro modelo teórico sugere que desenvolvimento e aprendizagem são processos independentes que interagem, afetando- se mutuamente: aprendizagem causa desenvolvimento e vice-versa. Para Vygotski, no entanto, nenhuma das propostas acima é satisfatório, muito embora ele reconheça que aprendizagem e desenvolvimento sejam fenômenos distintos e interdependentes, cada um tornando o outro possível. Questionando a interação entre estes dois processos, Vygotski aponta o papel da capacidade do homem de entender e utilizar a linguagem. Assim vê a inteligência como habilidade para aprender, desprezando teorias que concebem a inteligência como resultado de aprendizagens prévias, já realizadas. Para ele, as medidas tradicionais de desenvolvimento, que se utilizam de testes psicológicos padronizados, focalizam apenas aquilo que as crianças são capazes de realizar sozinhas. Para Vygotski, o processo de desenvolvimento nada mais é do que a apropriação ativa do conhecimento disponível na sociedade em que a criança nasceu. É preciso que ela aprenda e integre em sua maneira de pensar o conhecimento da sua cultura. O funcionamento intelectual mais complexo desenvolve-se graças a regulações realizadas por outras pessoas que, gradualmente, são substituídas por auto-regulações. Em especial, a fala é apresentada, repetida e refinada, acabando por ser internalizada, permitindo à criança processar informações de uma forma mais elaborada. Piaget e Vygotski: Diferenças e semelhanças Do ponto de vista de DAVIS, C. e OLIVEIRA, Z. (1997), tanto Piaget com o Vygotski concebem a criança como um ser ativo, atento, que constantemente cria hipóteses sobre o seu ambiente. Há, no entanto, grandes diferenças na maneira de conceber o processo de desenvolvimento. As principais delas, em resumo, são as seguintes: a) Quanto ao papel dos fatores internos e externos no desenvolvimento Piaget privilegia a maturação biológica; Vygotski, o ambiente social. Piaget, por aceitar que o fatores internos preponderam sobre os externos, postula que o desenvolvimento segue uma sequência fixa e universal de estágios. Vygotski, ao salientar o ambiente social em que a criança nasceu, reconhece que, em se variando esse ambiente, o desenvolvimento também variará. Neste sentido, para este autor, não se pode aceitar uma visão única, universal, de desenvolvimento humano. b) Quanto à construção real Piaget acredita que os conhecimentos são elaborados espontaneamente pela criança, de acordo com o estágio de desenvolvimento em que esta se encontra. A visão particular e peculiar (egocêntrica) que as crianças mantêm sobre o mundo vai, progressivamente, aproximando-se da concepção dos adultos; torna-se socializada, objetiva. Vygotski discorda de que a construção do conhecimento proceda do individual para o social. Em seu entender a criança já nasce num mundo social e, desde o nascimento, vai formando uma visão desse mundo através da interação com adultos ou crianças mais experientes. A construção do real é, então, mediada pelo interpessoal antes de ser internalizada pela criança. Desta forma, procede-se do social para o individual, ao longo do desenvolvimento. c) Quanto ao papel da aprendizagem Piaget acredita que a aprendizagem subordina-se ao desenvolvimento e tem pouco impacto sobre ele. Com isso, ele minimiza o papel da interação social. Vygotski, ao contrário, postula que desenvolvimento e aprendizagem são processos que se influenciam reciprocamente, de modo que, quantomais aprendizagem, mas desenvolvimento. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl d) Quanto ao papel da linguagem no desenvolvimento e à relação entre linguagem e pensamento Segundo Piaget, o pensamento aparece antes da linguagem, que apenas é uma das formas de expressão. A formação do pensamento depende, basicamente, da coordenação dos esquemas sensoriomotores e não da linguagem. Esta só pode ocorrer depois que a criança já alcançou um determinado nível de habilidades mentais, subordinando- se, pois aos processos de pensamento. A linguagem possibilita à criança evocar um objeto ou acontecimento ausente na comunicação de conceitos. Piaget, todavia, estabeleceu uma clara separação entre as informações que podem ser passadas por meio da linguagem e os processos que não parecem sofrer qualquer influência dela. Este é o caso das operações cognitivas que não podem ser trabalhadas por meio de treinamento específico feito com o auxílio da linguagem. Por exemplo, não se pode ensinar, apenas usando palavras, a classificar, a seriar, a pensar com reversibilidade. Já para Vygotski, pensamento e linguagem são processos interdependentes, desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela criança modifica suas funções mentais superiores: ela dá uma forma definida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o planejamento da ação. Neste sentido, a linguagem, diferentemente daquilo que Piaget postula, sistematiza a experiência direta das crianças e por isso adquire uma função central no desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos que nele estão em andamento. 2. Crescimento e desenvolvimento: o biológico em interação com o psicológico e o social Peter Pan (O menino que não queria crescer), sabia que crescer significava tornar-se adulto, implicava ter que mudar sua aparência física e assumir novos papéis. Por isso Peter Pan queria continuar menino. Essa era a maneira de não enfrentar as mudanças que necessariamente viriam com o crescimento. Ora, quando se fala em crescimento, em geral as pessoas estão se referindo ao aspecto quantitativo da evolução humana. As razões que provocam o crescimento e ocasionam tantas modificações não são de todos conhecidas. Até hoje, por exemplo, não há consenso entre os biólogos a respeito de por que as células crescem e se organizam. No entanto toda matéria viva tem necessidade de manter um equilíbrio entre meio interno e meio externo, o crescimento pode ser entendido como uma das consequências das trocas entre organismo e meio. A alimentação, a luz, a temperatura e a composição química do meio contribuem para a dinâmica de crescimento. De igual maneira, também os hormônios são importantes para o equilíbrio dos diferentes órgãos e tecidos. O crescimento humano não é, desta maneira, mera manifestação do biológico, mas também expressão da condições existentes no mundo social, em especial, dos avanços técnicos e das conquistas culturais. O crescimento humano ocorre dentro de um espaço em contínua transformação pela ação social. Nele, o psíquico e o biológico estão em constante interação, de modo que o primeiro impulsiona o segundo em direção a constantes e sucessivas modificações. Na criança, as possibilidades de crescimento existem como capacidade biopsicológicas potenciais. Dessa maneira, a realização efetiva dessas capacidades depende das condições sócio-culturais disponíveis. É diferente se a mesma criança for colocada para viver num ambiente com boa alimentação e condições sanitárias adequadas, onde existem oportunidades para viver situações de trabalho e de prática de esportes, ou em outro ambiente onde estas características não se encontram presentes. É importante salientar que um menino ou menina desnutrida, por sofrer uma diminuição sensível em seu tônus muscular, apresentem características tais como apatia, menor capacidade de concentração e de atenção etc. Como consequência, o padrão de interação estabelecido com ele/ela é menos estimulante do que aquele que se mantém com uma criança robusta, alerta e atenta. Com isto, as trocas cognitivas e efetivas que a criança desnutrida poderia ter com seu ambiente empobrecem-se, perdem o vigor. Por isso é possível considerar que o crescimento e o desenvolvimento são processos praticamente inseparáveis, ainda que distintos. A curva do crescimento nem sempre coincide com o do desenvolvimento. A primeira tende a atingir seu ponto mais alto quando a maturação biológica é alcançada. A curva do desenvolvimento, por outro lado, é contínua, acompanhando o homem durante toda a sua vida. O processo de crescimento culmina com o aparecimento de um tipo de adulto previsto geneticamente. Já o processo de desenvolvimento propicia a construção do padrão de individualidade que caracteriza cada sociedade. Ambos os processos produzem, no indivíduo, mudanças físicas, mentais, emocionais e sociais. Compreender o crescimento e o desenvolvimento humano exige, assim que se pense no homem - e em si mesmo - não apenas do ponto de vista biológico mas, principalmente, como alguém que é historicamente determinado. 3. Questionando o caráter inato da aptidão, prontidão e inteligência A teoria da aptidão é amplamente defendida pela ideologia das diferenças individuais. A aptidão é vista como um “dom”, uma certa habilidade inata, que se refere a um estado específico presente no ser humano. Todavia, muito embora seja verdade que existem diferenças no potencial biológico dos indivíduos, não se pode aceitar a noção de que aptidão seja uma “disposição natural”, inata e herdade. Na verdade, se os educadores adotarem essa visão, estarão prejudicando as crianças e adolescentes que frequentam a escola numa sociedade desigual como é a brasileira, onde as oportunidades de se desenvolver através da educação escolar não são uniformes. Justificar o fracasso ou o sucesso dos alunos através da teoria da aptidão - da crença de que uns são mais capazes do que outros para o estudo - é desconsiderar o grande peso exercido pelas condições de vida da família e pela própria instituição escolar sobre a aprendizagem. SIMULADOS + DE 2500 QUESTÕES CONCURSO PROFESSOR: http://bit.ly/2dqsG1e MATERIAL COMPLETO: http://bit.ly/2dYbNPl Defender tal visão significa, sobretudo, ocultar a determinação econômica que se encontra na base do desenvolvimento humano. É mais adequado entender a aptidão como uma disposição vaga e imprecisa do indivíduo, sobre a qual a educação atua no sentido de promover o desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor, social, linguístico, etc. Vista dessa ótica, a aptidão não passa de uma tendência para adquirir e aprofundar novos padrões de ação e de pensamento. Indica possibilidades de aprendizagem, onde preferências naturais se mesclam e se complementam com preferências adquiridas, garantindo os refinamentos e mobilidades necessárias à vida em sociedade. Assim, só se deve considerar as aptidões à luz do meio físico e social em que as crianças vivem, uma vez que este pode ser favorável ou desfavorável àquelas. A teoria da aptidão não serve, pois, para orientar uma prática que beneficie os alunos, auxiliando-os a dominar e a superar as suas dificuldades de aprendizado. Pelo contrário, ela tem sido usada muitas vezes para esconder atuações inadequadas da escola, deslocando um problema, que é do ensino, para a aprendizagem. Além do mais, quem decide se a aptidão está ou não presente? O uso de “testes de aptidão” pode ser enganoso. Tais