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OS CONCEITOS DE SCHULD E HAFTUNG E SUAS CORRELAÇÕES COM A SOLUÇÃO DO CASO CONCRETO PREVISTO NO INFORMATIVO Nº 567 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Alice Maria C. L. Bitencourt A partir da superação da teoria monista ou unitária da obrigação e a consequente prevalência da teoria dualista ou binária, a obrigação passou a ser aferida por uma relação de débito e crédito. Segundo Tartuce1, a desarticulação da antiga teoria pode ser observada pela discussão dos dois elementos básicos da obrigação: o débito (schuld) e a responsabilidade (haftung). Nesse sentido, tem-se a obrigação como uma relação jurídica resultante da vontade humana ou do Estado, por meio da lei, e que deve ser cumprida voluntariamente. Nos casos em que há inadimplemento, surge a responsabilidade, qual seja “a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional” (GONÇALVES, 2020)2. Nesse contexto, infere-se o schuld como o dever legal, por parte do devedor, de realizar a prestação, isto é, de cumprir a obrigação; e haftung como a consequência do não cumprimento da obrigação. Dessa forma, se houver o adimplemento, não surgirá o último elemento, a responsabilidade. Além disso, é possível observar a existência de schuld sem haftung e também o contrário, como nas situações que envolvem obrigações naturais e outras que envolvem fiança, respectivamente. Na solução de caso concreto prevista no Informativo de Jurisprudência nº 567 do Superior Tribunal de Justiça3, em resposta ao REsp 1.442.840-PR, nota-se a presença e relevância das concepções acima retratadas. A situação apresentada à Terceira Turma configura-se em torno de uma ação de cobrança de débitos condominiais. Na decisão, consolidou-se o entendimento de que o débito (schuld) deve ser atribuído ao proeminente comprador, na medida em que este se beneficia dos serviços condominiais. Contudo, o proprietário e proeminente vendedor, uma vez não transferida a titularidade, não se exime da obrigação, sendo o responsável (haftung) pelas dívidas do imóvel enquanto estiver na condição de proprietário. O Ministro Paulo Tarso Sanseverino4, relator, destaca, ainda, que essa distinção entre obrigação e responsabilidade é fundamental para preservar a essência da obrigação propter rem. 1 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil, 2021. 2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil esquematizado; vol.1, 2020. 3 Informativo de Jurisprudência nº 567; Brasília, 2015. 4 Informativo de Jurisprudência nº 567; Brasília, 2015.
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