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POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Autora: Angela Maria Mesquita Fontes Dados Pessoais Nome: _________________________________________________________ Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: __________________ Endereço: _____________________________________________________ Cidade: _____________________________________ UF: _______________ CEP: ________________ Telefone: _________________________________ E-mail: ________________________________________________________ CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000 INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281- 9090 - www.uniasselvipos.com.br Programa de Pós-Graduação EAD Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra Bárbara Götzinger Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Equipe Pedagógica do IBAM: Mara Darcy Biasi Márcia Costa Alves da Silva Anna Marina Fontes Ribeiro Dora Apelbaum Revisão de Conteúdo: Alexandre Carlos de Albuquerque Santos Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci 320 F683p Fontes, Angela Maria Mesquita Fontes Políticas públicas e desenvolvimento sustentável / Angela Maria Mesquita Fontes. Indaial: Uniasselvi, 2011. p. 147 : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-490-4 1. Políticas públicas I. Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2011 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. PARCERIA ENTRE IBAM E UNIASSELVI No momento atual, em todos os países, em qualquer instância de governo, observa-se um movimento de revisão do papel do Estado, somado à exigência das populações por atuação governamental de qualidade. Esta tendência conduz à demanda expressiva para que se consolide a existência e o funcionamento de um sistema qualificado de Gestão para a implementação de políticas públicas. A institucionalização dos processos de gestão e a profissionalização dos servidores públicos passam a ser instrumentos estratégicos para alavancar condições de melhor execução de atividades e projetos, bem como dos meios de controle necessários para avaliação de resultados da atuação governamental. Inúmeras iniciativas são implementadas para dar consistência a este modelo de gestão governamental que se apoia na valorização da transparência, da participação e do controle social, que não podem existir sem instrumentos adequados e pessoas qualificadas. É neste contexto que se forma a parceria do IBAM com a UNIASSELVI. Aprimorar o sistema de gestão pública, apoiar a formação de profissionais que queiram ser ou já são do quadro do setor público e ampliar a informação para o cidadão sobre como deve funcionar o governo são os propósitos iniciais do MBA em Gestão Pública que passa a integrar o programa de pós-graduação da UNIASSELVI. A equipe de Professores Autores que o compõe se destaca pelo desempenho profissional em projetos da Administração Pública e como docentes universitários. A experiência da UNIASSELVI em processos educacionais em nível superior, aliada à do IBAM, que há 60 anos atua, em nível nacional e internacional, para o aprimoramento da administração pública, é composição de excelência para enriquecer o cenário que se quer alcançar. O IBAM e a UNIASSELVI desejam a todos os participantes uma boa jornada de estudos. Aos que se dirigem ao setor público, que consolidem sua formação; e, aos demais, que ampliem o nível de informação sobre governo e aprendam a articular-se com ele como cidadãos. Paulo Timm Superintendente Geral do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM Prof. Carlos Fabiano Fistarol Pró-Reitor de Pós-Graduação a Distância Grupo UNIASSELVI Angela Maria Mesquita Fontes Economista, Mestre em Planejamento Urbano e Regional e Doutora em Geografia, na área de Gestão do Território. Consultora e Diretora da Resiliens Consultoria e Pesquisa Organizacional, realiza consultoria nas áreas de relações de gênero e desenvolvimento sustentável. Nos últimos anos atuou como: Coordenadora do Programa Interagencial de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia, de 2009 a 2010, tendo como agência líder o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher – UNIFEM, atualmente ONU-Mulheres; Subsecretária de Planejamento de Políticas para as Mulheres, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República – SPM/PR, no período de 2004 a 2007; Superintendente de Desenvolvimento Econômico e Social do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, de agosto de 2000 a abril de 2004, tendo sido Coordenadora do Núcleo de Economia Local – NEL, da Área de Desenvolvimento Econômico e Social do IBAM, 1996 a 2000. Participa da Articulação de Mulheres Brasileiras Rio - AMB Rio e do Fórum Feminista do Rio de Janeiro desde a criação, em 1994, de ambas as organizações. Participa de seminários, oficinas e encontros de trabalho nas áreas de políticas públicas, planejamento governamental, planejamento urbano e transportes. Apresenta palestras, conferências e estudos relativos às políticas públicas, planejamento para o gênero, produção do espaço urbano, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento econômico local, trabalho, emprego, empreendedorismo e geração de renda, com olhar particularizado para as relações de gênero. Em sua produção acadêmica destacam-se as teses de Mestrado “Gardênia Azul: o trabalho feminino na produção do espaço urbano” (1984) e de Doutorado “Território e estratégias de desenvolvimento: alternativas de gestão no Médio Paraíba” (2000). Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Globalização: DeScentralização e concentração De PoDer ............................................................. 9 CAPÍTULO 2 Democratização DaS relaçõeS entre o eStaDo e a SocieDaDe ................................................................ 31 CAPÍTULO 3 DeSenvolvimento SuStentável: o Global e o local ................... 55 CAPÍTULO 4 aGenDaS locaiS e GlobaiS ......................................................... 79 CAPÍTULO 5 o PaPel DaS PolíticaS PúblicaS Frente ao DeSenvolvimento SuStentável .............................................107 7 APRESENTAÇÃO Estimada e estimado Pós-Graduando, Pensar o nosso dia a dia, e nossas vivências nos mundos real e virtual, exige uma compreensão dos desafios que nos cercam tanto nas ações do cotidiano quanto no que fomos impactados, assim como da forma como estamos interagindo diretamente com as variáveis tempo e espaço. Essas variáveis foram modificadas conceitualmente na atualidade, alteraram e alteram o nosso viver, sejam os diferentes meios para comprar ingressos para cinemas, teatros ou outro tipo de lazer, sejam as ações dos movimentos sociais organizadas pelas redes sociais, sejam as políticas, programas e projetos governamentais que buscam atuar no ritmo imposto ao mundo pelo processo de globalização. É disso que trataremos nesta disciplina – Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável – que será apresentada em cinco capítulos, que se complementam no propósito de avançar no entendimento conceitual e prático, partindo sempre da perspectiva do saber fazer para alcançar os objetivos do compreender as diferentes etapas dos processos do viver. O primeiro capítulo – Globalização: Descentralização e Concentração de Poder – procura conhecer os processos mundiais de transformações ocorridos nas últimas décadas, explicitando as consequências da globalização no cotidiano daspessoas. Em seguida vamos discutir a Democratização das Relações entre o Estado e a Sociedade, apresentando a constituição das relações entre Estado e Sociedade e seus desafios, distinguindo os posicionamentos do Estado e da sociedade nos diferentes momentos históricos no Brasil. A discussão sobre o tema Desenvolvimento Sustentável: o Global e o Local é abordada no terceiro capítulo, e tem por objetivo compreender a importância do desenvolvimento sustentável e a interação local/global para a sobrevivência do nosso planeta ao mesmo tempo em que propõe o debate sobre os impactos da sustentabilidade da vida em seus aspectos econômicos, sociais e ambientais. Trabalhar as questões relacionadas com as Agendas Locais e Globais nos remete aos problemas das esferas de articulação internacional e nacional, em que se propõem a análise da interrelação das agendas à luz dos papéis desempenhados pelos atores globais e locais. E, por fim, o último capítulo da disciplina – O Papel das Políticas Públicas Frente ao Desenvolvimento Sustentável – busca compreender os processos de negociação política, necessários à formulação de políticas públicas, entre os diferentes atores frente a igual número de interesses econômicos, sociais, culturais, étnicos/raciais e ambientais. Esperando levar para vocês os questionamentos que nos impulsionam, vamos dar início aos nossos estudos. Bom trabalho para todos e todas. A Autora. CAPÍTULO 1 Globalização: DeScentralização e concentração De PoDer A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Conhecer os processos mundiais de transformações ocorridos nas últimas décadas. 3 Identificar os impactos provocados por transformações decorrentes da globalização. 3 Analisar criticamente informações recebidas por diferentes mídias, como impressa, televisiva e Internet. 3 Explicar as consequências da globalização no cotidiano das pessoas. 11 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 contextualização Na era de big brother, em que tudo se sabe tudo se vê, a ideia da globalização está presente no nosso dia a dia. Ao mesmo tempo em que ficamos sabendo dos últimos resultados dos jogos de todos os campeonatos em andamento no mundo, sabemos também do sobe e desce das bolsas de valores, do número de vítimas nos acidentes aéreos, marítimos ou terrestres que venham a ocorrer tanto nos países ocidentais como nos orientais. Tomamos conhecimento das vidas de pessoas famosas, suas vitórias e derrotas, assim como em geral das destruições que se abatem sobre seres anônimos que povoam o planeta seja por conta de eventos naturais como vulcões que entram em erupção, tsunamis que varrem os litorais, enchentes, furacões, seja por conta de sequestros, assassinatos, crimes passionais e outras mazelas da humanidade. Compreender os processos que permitiram esse olhar global do mundo sobre o mundo significa procurar compreender os mecanismos de concentração e desconcentração que levaram a esse grau de transformação ocorrido a partir da metade do século passado. Ao escolher o MBA em Gestão Municipal e Políticas Públicas provavelmente suas preocupações seguem o caminho do entendimento do “pensar global agir local”, representando o desafio inerente aos governos municipais de compreender os papéis e responsabilidades próprias dessa esfera de governo, assim como reconhecer os atores – homens e mulheres - que constituem o poder local. Neste capítulo vamos apresentar: as características do processo da globalização; o que passou a significar a noção de tempo e espaço; como vem ocorrendo a reestruturação tecnológica, econômica, produtiva e organizativa; a integração de grandes mercados; os impactos sociais, culturais e ambientais; e os aspectos políticos da descentralização e da concentração de poder. caracteríSticaS Do ProceSSo Da Globalização Globalização não é um conceito fechado. Alguns estudiosos defendem que o processo de globalização teve início com a expansão marítima europeia, processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, conhecido como a Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos. Nesses termos, 12 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável também seria necessário, para se falar em globalização, ressaltar que toda a produção intelectual marxista, e a luta que pautou o movimento socialista no mundo, foram internacionalistas em sua essência. Entretanto, no âmbito deste curso, vamos considerar como globalização o processo ocorrido nos últimos 30 anos. O processo da globalização possui caráter econômico, social, cultural, político e ambiental. O processo de globalização consiste em uma integração entre os diferentes países, ocorrendo em escala global, tendo por sustentação as sucessivas evoluções nos meios de transportes e telecomunicações combinadas com as possibilidades de acesso às tecnologias da informação e das telecomunicações. A principal característica dos processos de globalização é a velocidade. Estamos vivenciando uma era de unificação do planeta pela velocidade e é como se o mundo fosse ficando pequeno, “encurtando as distâncias”. O termo globalização se populariza a partir de meados de 1980 e passou a ser associado aos aspectos financeiros inerentes a esse processo, passando a ser considerado como uma constante do mundo moderno. Alvin Toffler discute, em seus trabalhos, a revolução digital, a revolução das comunicações, a revolução das organizações e a singularidade tecnológica. Seus livros o “Choque do Futuro” (1970) e a “Terceira Onda” (1980) deram destaque à tecnologia e seus efeitos, como a sobrecarga de informação. Comparou a atual revolução da informação com a agrícola e a industrial do passado. Atualmente, tem estudado o crescente poderio militar do século XXI, suas armas, a proliferação da tecnologia e do capitalismo. Thomas L. Friedman, em seu livro “O Lexus e a Oliveira”, apresenta a globalização como uma vertente da fragmentação da política a partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, culminando em 1989, com a queda do muro de Berlim, simbolizando o insucesso do Socialismo. Giovanni Alves, no prefácio do livro “Perspectivas da Globalização. E das suas contradições no Brasil e na América Latina”, nos fala da “crise da globalização” a partir da crise financeira de 2008, O processo da globalização possui caráter econômico, social, cultural, político e ambiental. A principal característica dos processos de globalização é a velocidade. Estamos vivenciando uma era de unificação do planeta pela velocidade e é como se o mundo fosse ficando pequeno, “encurtando as distâncias”. 13 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 caracterizando a dupla face da crise da globalização na década de 2000 por meio dos exemplos das novas experiências políticas pós- neoliberais na América Latina e do estouro da bolha imobiliária nos EUA em 2008, repercutindo na Europa Ocidental e Japão. Por outro lado, fica bastante evidente que nem todos os países estão inseridos, ou se inserem, na mesma frequência, no mesmo ritmo, do mesmo modo, no cenário mundial. Alvin Toffler chama nossa atenção para o fato de que se antes a diferença se dava entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos agora essa diferença se coloca entre os países rápidos e países lentos. Da mesma forma, como ressalta Milton Santos, nem todos os pontos do território desses países são igualmente rápidos ou igualmente lentos, levando a uma diferenciação interna entre os territórios de um mesmo país. Obviamente, que a inserção em tempo real na dinâmica globalizada transfere aos países rápidos poder, progresso e riqueza. Neste momento é importante apresentar diferentes concepções como Território pode ser compreendido. Territórios tanto podem ser compreendidos como o território político-administrativodos países, no caso brasileiro também os territórios estaduais e municipais, como também os territórios formados por cidades, bairros, aldeias indígenas e quilombos, entre outras expressões de territorialidade. Território pressupõe “a existência de relações de poder, sejam elas definidas por relações jurídicas, políticas ou econômicas. Nesse sentido é uma mediação lógica distinta do conceito de espaço, que representa um nível elevado de abstração, ou de região, que manifesta uma das formas materiais de expressão da territorialidade, como o é, por exemplo, a nação” (EGLER, 1995, p. 215). Território não necessariamente significa o território nacional e sua associação com a figura do Estado, mas que “territórios A inserção em tempo real na dinâmica globalizada transfere aos países rápidos poder, progresso e riqueza. 14 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas, da mais acanhada [...] à internacional [...]: territórios são construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter uma existência periódica, cíclica”. (SOUZA, 1995, p. 81). Portanto, vale chamar a atenção para o fato de que nem todos os pontos dos territórios estão igualmente inseridos no processo de globalização. É necessário considerar os avanços tecnológicos aos quais estão submetidos. Num mesmo país temos áreas com maior acessibilidade aos meios de comunicação do que outras, levando a diferenças internas, diferenças essas que ficam refletidas, registradas, nos territórios sob a forma de maior ou menor grau de desenvolvimento socioeconômico. Por outro lado, a partir da crise financeira de 2008 o mundo vem enfrentando o que se considerou chamar de uma “crise da globalização”. Como falamos acima, a globalização é um fenômeno que não se restringe ao mundo econômico dos grandes interesses do capitalismo, atingindo pela facilidade de comunicação a cultura e a vida política de todos os cantos do planeta. A Internet tem se mostrado como um poderoso inimigo para os regimes fechados, as ditaduras. Mesmo sendo objeto de controle, as redes sociais espraiadas pela Internet se reinventam a cada momento. O fluxo de informação no mundo tem a mesma velocidade do fluxo de capital, mas fica o questionamento sobre a potencialidade dos movimentos sociais, a sociedade civil organizada, de se contrapor à hegemonia do capitalismo globalizado. No Capítulo 2 deste caderno trataremos sobre esse questionamento. Atividade de Estudos: 1) Pesquise nos jornais de sua cidade quais os países mais atingidos pela crise internacional de 2008 e por que o foram? Observe que você pode obter essas informações tanto nos jornais impressos, em geral constantes nos arquivos das bibliotecas, quanto nas versões online dos principais jornais de âmbito nacional, como O Globo, Folha de São Paulo, Valor Econômico, Estado de Minas, entre outros. 15 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 Quando pesquisamos temos um tema a ser verificado e sua ocorrência em um determinado período histórico. No nosso caso, vale limitar a pesquisa para o período de 2005 a 2010. Sua pesquisa pode ser iniciada selecionando o jornal do seu interesse e acessando seu site. Com o site aberto, procure o campo de busca e digite o que está procurando, por exemplo, notícias da crise internacional de 2008. Em seguida aparecerão diversas notícias e o seu trabalho de pesquisa começa a acontecer. Abaixo apresentamos um exemplo do que você poderá encontrar. Seu trabalho é ter clareza do que está fazendo e selecionar o que te interessa, tendo por base a pergunta que terá que ser respondida sob a forma de redação livre. MANTEGA AFIRMA QUE CRISE INTERNACIONAL PODE AFETAR CRESCIMENTO EM 2008 Publicada em 12/03/2008 às 13h38m Martha Beck - O Globo BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quarta-feira que a crise internacional desencadeada pela economia americana pode afetar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2008. Segundo ele, a previsão do governo para este ano é de 5% - abaixo dos 5,4% de 2007 - porque as turbulências internacionais trazem preocupação em relação ao cenário brasileiro. • Nós vivemos hoje uma crise internacional de grande magnitude. Pode ser que essa crise afete um pouco a aceleração do crescimento. Então nós preferimos trabalhar com uma previsão de 5% para 2008 tendo em vista que existe esse fator que traz alguma intranquilidade dentro do cenário econômico. Se não houvesse essa crise, eu poderia afirmar vamos continuar acelerando, mas com a crise, 5% está de bom tamanho - afirmou Mantega. O ministro ressaltou que o bom desempenho da economia no segundo semestre do ano passado teve efeito positivo sobre este ano. Segundo ele, a economia está crescendo hoje a um ritmo de 6%, mas a crise, que se agravou os últimos dias, pode comprometer esse desempenho. • A crise é de grande proporções e está se tornando mais séria, então, temos que ter prudência - disse Mantega. 16 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Mesmo assim, o ministro fez questão de dizer que a economia brasileira está mais forte hoje para enfrentar essas turbulências: • A crise começou em agosto de 2007 e mesmo assim não afetou o crescimento como teria ocorrido em outras. Fonte: BECK, Martha. Mantega afirma que crise internacional pode afetar crescimento em 2008. O Globo, Rio de Janeiro, 13 mar. 2008. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/mat/2008/03/12/ mantega_afirma_que_crise_internacional_pode_afetar_crescimento_ em_2008-426193582.asp>. Acesso em: 25 ago. 2011. Repetindo a pergunta: Pesquise nos jornais de sua cidade quais os países mais atingidos pela crise internacional de 2008 e por que o foram? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Como classificaria o Brasil no que diz respeito à inserção diferenciada dos territórios no processo de globalização? (redação livre). ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Inicie um novo trabalho de pesquisa, ainda nos jornais, e reflita sobre o lugar onde mora e a relação estabelecida entre sua cidade e o país como um todo. ____________________________________________________ 17 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ noção De temPo e eSPaço Nesta seção vamos nos apoiar em Milton Santos, geógrafo brasileiro, que inova ao abordar as categorias de análise tempo e espaço. Procure entrar em contato com a obra de Milton Santos, em especial com seus livros: Espaço e Sociedade; Espaço & Método; A Natureza do Espaço, Técnica e Tempo, Razão e Emoção; O Espaço Dividido; Por uma Outra Globalização. Neste último, em uma abordagem crítica, Milton adverte sobre o processo perverso de globalização atual na lógica do capital, apresentado como um pensamento único. Transformando o consumo em ideologia de vida, fazendo de cidadãos apenas consumidores, massificando e padronizando a cultura e concentrando a riqueza nas mãos de poucos. A produção de Milton Santos é densa e, após sua morte em junho de 2001, foi objeto de reedição pela Editora da UnB - Universidade de Brasília. Trabalhar as categorias de análise tempo e espaço implica no reconhecimento da importância da dimensão espacial junto com a econômica, a político institucional e a ideológico-cultural na articulação da sociedade e seu papel fundamental na explicação dos processos sociais. O espaço “é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não O espaço “é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”. (SANTOS, 1996, p. 51). 18 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”. (SANTOS, 1996, p. 51). É importante que percebam que a abordagem de Santos transporta o território, onde todos se encontram em seus limites geográficos, para esse quadro único, prenhe de articulações econômicas e sociais, como uma tela que não está em branco e sobre a qual se formatam, se desenham, se constroem, tanto os projetos pessoais quanto os coletivos. Vale chamar atenção novamente que a tela não está em branco, mas sim prenhe dos fluxos econômicos, sociais, culturais e políticos. Continuando com Santos (1996, p. 52), ele nos mostra a necessidade de contextualizarmos as novas relações estabelecidas em sociedade, isto porque, hoje as chamadas forças produtivas são, também, relações de produção. E vice-versa. A interdependência entre forças produtivas e relações de produção se amplia, suas influências são cada vez mais recíprocas, uma define a outra cada vez mais, uma é cada vez mais a outra. Quando falamos de modo de produção estamos falando de parte do conjunto do viver em sociedade – produção, distribuição e consumo. O avanço tecnológico e as inovações tecnológicas, que objetivam diluir as barreiras espaciais e adquirem formas concretas na racionalidade da organização espacial, provoca a reestruturação do sistema produtivo e a formulação, criação, de novas técnicas administrativas, com ênfase nas formas de gestão. Quando vamos a um supermercado e fazemos compras estamos adquirindo bens. Da mesma forma, quando pagamos a passagem do ônibus ou uma consulta médica, estamos pagando um serviço. Vivendo em sociedade, participamos diretamente da produção, da distribuição e do consumo de bens e serviços, ou seja, participamos da vida econômica da sociedade. Assim, o conjunto de indivíduos que participam da vida econômica de uma nação é o conjunto de indivíduos que participam da produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Participam, também, da vida em sociedade. Vale dizer, quando trabalhamos estamos ajudando a produzir, quando, com o dinheiro que recebemos pelo nosso trabalho, compramos algo, estamos participando da distribuição, pois estamos comprando bens e consumo. E quando consumimos os bens e os serviços que adquirimos, 19 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 estamos participando da atividade econômica de consumo de bens e serviços. Trabalho – é a atividade realizada pela pessoa que, utilizando os instrumentos de produção, transforma a matéria-prima num bem. Produção – é a transformação da natureza da qual resulta bens de consumo que vão satisfazer as necessidades do homem. Produzir é dar uma nova combinação aos elementos da natureza. O processo de produção compõe-se de três elementos associados: trabalho, matéria-prima e instrumentos de produção. Fonte: Baseado na obra de: OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2002. A simultaneidade de estruturas produtivas coexistindo no tempo exige que se atente para a questão da temporalidade. Temporalidade, essa considerada por Santos (1996, p. 213), “como uma interpretação particular do tempo social por um grupo, ou por um indivíduo” [ressaltando que] “o tempo rápido não cobre a totalidade do território nem abrange a sociedade inteira” [e que, como resultante dos efeitos locais da globalização] “os tempos lentos são referidos ao tempo rápido, mesmo quando este não se exerce diretamente sobre lugares ou grupos sociais”. É importante compreender o que significa no nosso cotidiano o correr simultâneo de tempos diferenciados configurando uma dualidade de tempos presentes em um mesmo lugar. Ocorre uma mudança na relação espaço/tempo, com a tendência de se ter a variável tempo igual a zero. Nesse sentido, as diversas redes – tanto as de deslocamentos tradicionais, como as malhas viárias, ferroviárias, aeroviárias quanto as infovias, com as transmissões de informações pelas estradas de comunicação da internet – estabelecem relações diferenciadas do lugar com um espaço mais amplo. Atividade de Estudos: 1) O que nos leva a perceber a dualidade de tempos presentes em um mesmo lugar? ____________________________________________________ O tempo rápido não cobre a totalidade do território nem abrange a sociedade inteira. 20 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Como compreender a tendência de se ter a variável tempo igual a zero? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Vamos olhar a nossa volta e registrar como os novos meios de comunicação tendem a eliminar o tempo de deslocamento e não o espaço onde ocorre o deslocamento. Apresente sua pesquisa em forma de redação no espaço que segue ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A expressão “ocupar um lugar no espaço” é determinante na nova espacialidade e no jogo da inclusão-exclusão. Lugar é o resultado da combinação entrehorizontalidade e verticalidade. “Cada ponto local da superfície terrestre globalizada em rede vai ser o resultado desse encontro entrecruzado de horizontalidade e de verticalidade. E é isso o lugar”. (MOREIRA, 1997, p. 4). 21 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 É importante, também, entendermos que cada lugar nasce diferente do outro. “E isto dá ao todo da globalização um cunho nitidamente fragmentário”. (MOREIRA, 1997, p. 4). A globalização reúne em cada lugar todos os lugares, mas o que existe, como observa Milton Santos, é o lugar e não o mundo, uma vez que são as coisas e os lugares que se mundializam e não o mundo. reeStruturação tecnolóGica, econômica, ProDutiva e orGanizativa Como vimos até aqui, com a nova fase do capitalismo iniciada no final dos anos de 1970, marcada pela mundialização do capital, com o aprofundamento do processo de internacionalização e hegemonia do capital financeiro, a lógica dessa fração do capital passou a condicionar as demais formas do capital, indicando um forte entrelaçamento entre elas. Também como já vimos anteriormente, esse processo reafirmou a tendência do desenvolvimento desigual e combinado. É possível compreendermos a reestruturação do sistema capitalista, que marcou o período como uma resposta à crise estrutural aberta em 1974 e à crescente contestação social. Assim, o processo de globalização surge para atender ao capitalismo e, principalmente, os países desenvolvidos, de modo que pudessem buscar novos mercados, tendo em vista que o consumo interno encontrava-se saturado. A nova fase representa um profundo processo de mudança social, institucional e cultural, pode ser caracterizada por: • movimentos de desestruturação e reestruturação do tecido produtivo e empresarial preexistentes, estabelecendo um processo de desinversão e reinversão de capitais; • mudanças na direção de novas formas de produção mais eficientes, que concretizam, dão forma, à revolução tecnológica e organizacional; • introdução da microeletrônica abrindo a possibilidade de comunicação entre as diferentes fases dos processos econômicos; • alta volatilidade e mobilidade da produção, ciclos produtivos cada vez mais curtos, que aumentam a vulnerabilidade das formas de produção tradicionais; • existência de mudanças radicais nos métodos de gestão empresarial; • importância da qualidade e diferenciação dos produtos como estratégia de competitividade dinâmica; O processo de globalização surge para atender ao capitalismo e, principalmente, os países desenvolvidos, de modo que pudessem buscar novos mercados, tendo em vista que o consumo interno encontrava-se saturado. A globalização reúne em cada lugar todos os lugares, mas o que existe, como observa Milton Santos, é o lugar e não o mundo, uma vez que são as coisas e os lugares que se mundializam e não o mundo. 22 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável • renascimento de preferências regionais e locais como um contra movimento, favorecendo novas oportunidades e nichos de mercado; • no plano político, pressões para que governos locais e regionais mudem de “autoridade administrativa” para “gerente empreendedor”; • novas formas de administração, favorecendo o fortalecimento do setor das pequenas empresas vinculadas à grande empresa num esquema de terceirização. (COELHO, 1995 apud, OLIVEIRA, 2006, p. 24-25). Fenômeno intrínseco ao processo de globalização, a reestruturação produtiva veio com a chamada “Terceira Revolução Industrial” que tem como paradigma o modelo Toyotista, desenvolvido no Japão na empresa Toyota de 1950 a 1970. Afirma-se como oposição ao modelo de produção Fordista-Taylorista e começa a se desenvolver no Ocidente a partir da década de 70. Na reestruturação produtiva as empresas para obterem maior competitividade globalmente se reestruturam. A reestruturação produtiva se caracteriza por dois elementos: inovação tecnológica e inovação organizacional. Quadro 1 – Reestruturação Produtiva Fonte: A autora. A partir das informações a seguir faça sua pesquisa visando aprofundar seus conhecimentos sobre o processo de reestruturação produtiva. CRISE DO FORDISMO • Ocorre a partir dos anos 70. • Inflação gerada pela disputa distributiva. • Fim do padrão-ouro e da conversibilidade do dólar (1972 – presidente Nixon – EUA). • 1973 e 1979 : aumento do preço do petróleo. Na reestruturação produtiva as empresas para obterem maior competitividade globalmente se reestruturam. A reestruturação produtiva se caracteriza por dois elementos: inovação tecnológica e inovação organizacional. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA Inovação Tecnológica Tem por base a microeletrônica (chips) como computadores, máquinas de controle numérico computadorizado, robôs, CAD-CAM (de Computer Aided Design e Computer Aided Manufacturing) - desenho e produção industrial com auxílio de computadores, entre outros; Inovação Organizacional Tem por base os processos de terceirização, just-in-time, kanban, ilhas de produção, trabalho em equipe, condomínio ou pólo industrial, CCQ (círculo de controle de qualidade), qualidade total, etc. 23 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 • 1979: elevação dos juros norte-americanos. • Reaparição, em 1974-75, da primeira crise “clássica” de superprodução e de superacumulação depois da Segunda Guerra Mundial. • A reconstituição das bases econômicas e sociais de um capital financeiro poderoso, que não tolerou a força dos sindicatos e os gastos sociais pelos diversos governos. • A chegada de governos conservadores ao poder em fins da década de 70: Reagan nos EUA, Margareth Thatcher na Inglaterra. QUATRO FASES QUE LEVARAM AO ADVENTO DO TOYOTISMO • A introdução, na indústria automobilística japonesa, da experiência do ramo têxtil, dada especialmente pela necessidade de o trabalhador operar simultaneamente com várias máquinas. • A necessidade de a empresa responder à crise financeira, aumentando a produção sem aumentar o número de trabalhadores. – A importação das técnicas de gestão dos supermercados dos EUA, que deram origem ao kanban. Conforme Toyoda Sakichi, presidente fundador da Toyota, “o ideal seria produzir somente o necessário e fazê-lo no melhor tempo”, tomando por base o modelo dos supermercados, de reposição dos produtos somente depois da sua venda. Segundo Benjamin Coriat, o método kanban já existia desde l962, de modo generalizado, nas partes essenciais da Toyota, embora o toyotismo, como modelo mais geral, tenha sua origem a partir do pós-guerra. – A expansão do método kanban para as empresas subcontratadas e fornecedoras. O MODELO TOYOTISTA • Origem: Japão. • Quando: 1950 a 1970. • Como foi criado? – importação de técnicas de gestão dos supermercados dos EUA = kanban; – introdução da experiência do ramo têxtil – trabalho com várias máquinas. • Características principais: – produção conduzida pela demanda e pelo consumo: o consumo determina a produção; – produção variada pronta para suprir o consumo; 24 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável – produção flexível: “polivalência” do trabalhador = trabalho com várias máquinas; – trabalho em equipe: rompe-se com o trabalho parcela do Fordismo; – horizontalização: contra a verticalização fordista; – intensificação do trabalho; – flexibilização dos trabalhadores: horas extras, trabalho temporário e subcontratação. Fonte: ALMEIDA, Angélica. O Mundo do Trabalho: o fim do trabalho? Disponível em: <http://www.rexlab.ufsc.br:8080/more/ formulario10>. Acesso em: 2 ago. 2011. A questão do desemprego estrutural nos é trazida por Antunes, (1995), quando observa que há no universo do mundo do trabalho no capitalismo contemporâneo, uma múltipla processualidade: • de um lado verificou-se uma desproletarização do trabalho industrial fabril,nos países de capitalismo avançados com maior ou menor repercussão em áreas industrializadas do Terceiro Mundo; • ressalta, em outras palavras, que houve uma diminuição da classe operária industrial tradicional; paralelamente, efetivou-se uma expressiva expansão do trabalho assalariado, a partir da enorme ampliação do assalariamento no setor de serviços. • verificou-se uma significativa heterogeneização do trabalho, expressa também através da crescente incorporação do contingente feminino no mundo operário; • vivencia-se também uma subproletarização intensificada, presente na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado, “terceirizado”, que marca a sociedade dual no capitalismo avançado. Atividade de Estudos: 1) Com base nas informações recebidas ao longo desta seção, analise a situação do trabalho na sua cidade, considerando a reestruturação produtiva sintetizada no quadro abaixo. 25 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ inteGração De GranDeS mercaDoS Como você está acompanhando, a era da globalização tem se mostrado a fase mais avançada do capitalismo. Com o declínio do socialismo, o sistema capitalista tornou-se predominante no mundo e os processos globais, principalmente, os econômicos com as inovações tecnológicas e o incremento no fluxo comercial mundial se impuseram. Por outro lado, como chamamos atenção anteriormente, desde 2008 estamos vivendo uma crise da globalização onde os agentes econômicos se movimentaram no primeiro momento negando a existência da crise. Em seguida, o momento de caça aos culpados. Vislumbrados os culpados, começam os processos de negociação em busca da saída. A aceitação da crise se concretiza na consequente busca real para sua saída. Assim, o que parecia ser um consenso quase aceito universalmente, ou seja, as vantagens do livre comércio e da crescente integração entre os países, começa a ser debatido. Conceitos tidos como em obsolescência no mundo globalizado como nacionalismo, xenofobia e protecionismo ameaçam se reerguerem, colocando o mundo como o conhecemos hoje em questionamento. Medidas claras de protecionismo estão sendo tomadas e a primeira delas proposta pelos agentes econômicos é o “fechamento das fronteiras”, a antítese do processo de globalização. Ao mesmo tempo, a difusão de informações entre empresas e instituições financeiras, ligando os mercados do mundo, continua ocorrendo graças a permanente busca pelas inovações tecnológicas, principalmente Medidas claras de protecionismo estão sendo tomadas e a primeira delas proposta pelos agentes econômicos é o “fechamento das fronteiras”, a antítese do processo de globalização. Reestruturação Produtiva do Emprego ao Trabalho Como problema fundamental da reestruturação produtiva, temos: - o crescimento do desemprego e a separação entre crescimento econômico e a criação de emprego (transformando emprego em trabalho). Único Múltiplo Formal Informal Estável Mutante Industrial Serviços Masculino Gênero Assalariado Autônomo 26 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável nas telecomunicações e na informática. Inovações essas que continuam promovendo encontros e desencontros, em especial a partir do conjunto dos meios oportunizados pela rede de telecomunicação, como internet, telefonia fixa e móvel, computadores, televisão, aparelhos de scanner ou fax, entre outros. É necessário também ressaltar que o incremento no fluxo comercial mundial, com a troca efetiva de mercadorias, encontra na modernização dos transportes, especialmente o marítimo, forte fator indutor das transações comerciais, importação e exportação. O transporte marítimo possui uma elevada capacidade de carga, que permite também a mundialização das mercadorias, permitindo que um mesmo produto seja encontrado em diferentes pontos do planeta. O processo de globalização estreitou as relações comerciais entre os países e as empresas. Acirrou a formação de blocos econômicos, que buscam se fortalecer no mercado que está cada vez mais competitivo. As multinacionais ou transnacionais contribuíram fortemente para a efetivação do processo de globalização, tendo em vista que essas empresas desenvolvem atividades em diferentes territórios. As empresas transnacionais, instrumentos de concentração e acumulação, respondem a um duplo objetivo: utilizar a mão-de-obra barata dos países subdesenvolvidos para produzir a baixo custo produtos de exportação, e elevar as taxas de lucros, que desceram a um nível bastante baixo nos países que integram o centro do sistema. Esses dois objetivos não poderiam ser atingidos sem uma mundialização da produção e do consumo, das trocas e do mercado, do capital sob todas as suas formas e do trabalho. O próprio Estado torna-se internacionalizado, não apenas por suas funções externas, mas também por suas funções internas, como a de assegurar as condições do crescimento em nível mundial. (SANTOS, 2004, p. 17). Neste sentido, Milton Santos nos chama atenção para o fato de que as empresas transnacionais, consideradas “centros-frouxos”, fogem ao controle dos Estados, desorganizam os territórios e não se comprometem com a realidade social dos países. Essa produção descentralizada pode ser exemplificada com o caso da empresa estadunidense Boeing que recebe componentes de seus aviões de mais de 300 fornecedores do mundo inteiro. A fábrica perde seus muros e pátios físicos de produção e o mundo adquire características de uma fábrica global. 27 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 imPactoS SociaiS, culturaiS e ambientaiS Quais seriam, então, os impactos sociais, culturais e ambientais da globalização? Alguns aspectos já foram abordados ao longo das seções anteriores. Entretanto, é necessário chamar a atenção para o fato de que as pessoas habitam o planeta terra, mas vivem no seu local, no seu município. Não vivemos no global. Sofremos os impactos da globalização. Vale dizer, vivemos na nossa cidade, no nosso bairro, que sofrem os impactos econômicos da reestruturação produtiva e as consequentes mudanças no mundo do trabalho, como vimos na seção anterior. Como a sociedade vivencia esses impactos e como os governantes das esferas federal, estadual e municipal são responsáveis por minimizar os impactos tanto na vida das pessoas - no que diz respeito às políticas sociais e culturais - quanto no respeito ao meio ambiente - com uma política ambiental condizente com esse respeito. E nesse sentido, tendo em vista maior cobertura das redes de informação e comunicação no território nacional, a participação social, no Brasil, tem ocorrido de forma consistente nos últimos anos. É possível considerar que tal fato vem ocorrendo, seja pelo crescimento do número e da qualidade de atuação das organizações da sociedade civil, seja pela ação dos meios de comunicação de massa, que produzem efeitos sobre os indivíduos comuns, induzindo-os a participar política e efetivamente de assuntos que os afetam diretamente. (IBAM, 2009, p. 70). Entretanto, trataremos destes temas com maior aprofundamento nos capítulos seguintes do nosso caderno de estudos. aSPectoS PolíticoS Da DeScentralização e concentração Ao abordarmos os aspectos políticos da descentralização e concentração nos processos de globalização, é preciso reconhecer que declina o papel do Estado-Nação e o das próprias metrópoles, em benefício de centros de decisão dispersos em empresas e conglomerados. Centros esses que se movem por Não vivemos no global. Sofremos os impactos da globalização. Vivemos na nossa cidade, no nosso bairro, quesofrem os impactos econômicos da reestruturação produtiva e as consequentes mudanças no mundo do trabalho. 28 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável países e continentes, de acordo com as conveniências dos negócios, movimentos do mercado e exigências de reprodução ampliada do capital. O processo de concentração e centralização de capital recrudesce, afetando cidades, nações, continentes, formas de trabalho e de vida, maneiras de ser e pensar e produções culturais. Descentralização envolve a redefinição de centros de poder, assegurando-lhes a pluralidade. Em contrapartida, a concentração de poder pode ocorrer com a mudança para as “mãos” de outros grupos de interesse, configurando ou não transferência de poder intra ou intergrupos sociais. De qual descentralização estamos falando? Qual a possibilidade de se evidenciar os graus de influência mútua entre os processos de descentralização e de concentração? É possível afirmar, como vimos ao longo deste capítulo, que o processo de globalização gera impactos sobre o papel do Estado- Nação e, em consequência, sobre as estratégias de organização do Estado e suas relações com a sociedade – como no caso da exigência da democracia. No Capítulo 2 trataremos especificamente da democratização das relações entre o Estado e a sociedade. É possível, também, esperar uma relação entre a globalização e os esforços de reorganização do Estado – inclusive os de descentralização. Neste sentido, é possível apresentar as potencialidades dos processos de descentralização, considerando sua natureza e a esfera de poder a qual estará referenciada, conforme o quadro a seguir. Quadro 2 - Potencialidades dos Processos de Descentralização Descentralização envolve a redefinição de centros de poder, assegurando-lhes a pluralidade. Em contrapartida, a concentração de poder pode ocorrer com a mudança para as “mãos” de outros grupos de interesse, configurando ou não transferência de poder intra ou intergrupos sociais. POTENCIALIDADES DOS PROCESSOS DE DESCENTRALIZAÇÃO Natureza econômica • maior conhecimento dos problemas, limitações, recursos e potencial econômicos; • maior possibilidade de uso desses recursos de uma forma social, ambiental e eticamente adequada; • clareza quanto ao economicismo que caracteriza a lógica de mercado e que quando aplicado às políticas e aos serviços sociais tende a excluir a população mais pobre Natureza social • percepção dos problemas sociais em toda a sua pluralidade, complexidade e heterogeneidade, assim como aumento da sensibilidade para elegê-los como prioridade para a formatação de políticas públicas; • maior acesso da população à máquina governamental, especialmente os gru- pos em situação de desvantagem ou marginalização social; 29 Globalização: Descentralização e concentração De PoDer Capítulo 1 Fonte: A autora. Por outro lado, é importante lembrar que descentralização pode ser compreendida por diferentes significados: desregulamentação da economia, associada à “nova direita”, numa visão mais competitiva, com a privatização de agências e serviços públicos; democratização da administração pública e ao desenvolvimento de modelos econômicos menos concentradores e excludentes, numa posição tida como “progressista” e com afinidade com uma “maior divisão do poder decisório entre os entes federados. Caracterizando-se como um processo em que o Estado não abre mão de suas funções provedoras e reguladoras, nem transfere para o setor privado responsabilidades e competências que não lhe cabem” (PEREIRA,1998, apud LUSTOSA). alGumaS conSiDeraçõeS Ao longo deste capítulo demonstramos que habitamos um mundo constituído por circuitos sensíveis, pertencentes a um universo de relações no qual se cruzam as causas e os efeitos, cujas transformações ocorridas em um país, uma região, provocam alterações em outras, independente de sua localização geográfica. Vimos, também, que o poder de interferência não é simétrico, ou seja, nem todas as regiões têm capacidade de afetar a outras, visto que isso depende do grau de poder ali concentrado pelo desenvolvimento de certos pontos do território, que são capazes de expandir os efeitos positivos ou negativos a outros pontos. Lembramos que os pontos – que reconhecemos enquanto países, regiões, ou a escala com a qual estivermos trabalhando – sofrem de modo diferenciado os efeitos da globalização. Entretanto, apesar da globalização, ou quem sabe exatamente por causa dela, os habitantes do planeta seguem se referenciando a um lugar o qual vinculam seus interesses primários e vitais como indivíduos e como seres sociais. As pessoas pertencem ao longo de suas vidas a espaços determinados • possibilidade de adequação das políticas e serviços públicos às especifici- dades, aos padrões culturais e ao estilo de vida local Natureza política • pluralidade e partilha de poder; • incorporação da participação popular na tomada de decisões, nas ações e no controle social da gestão pública; • contribuição para a constituição dos movimentos sociais como sujeitos coletivos; • atribuição de parcelas de poder a grupos e áreas territoriais até então mar- ginalizados; • aumento da representatividade e legitimidade das instituições e agentes políti- cos, bem como do seu enraizamento social; 30 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável em que os diferentes fluxos ali presentes não são apagados pelas relações de interdependência, mas, sim, afetados. reFerênciaS ALVES, Giovanni. Prefácio. In: CARVALHO, Edemir de (Org.). Perspectivas da Globalização: e das suas contradições no Brasil e na América Latina. São Paulo: LCTE Editora, 2010. ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? Rio de Janeiro: Cortez Editora, 1995. EGLER, Claudio Antônio Gonçalves. Questão Regional e Gestão do Território no Brasil. In: CASTRO, I.; GOMES, P.; CORREA, R. (Orgs.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal. GONÇALVES, Marcos Flávio R. (Coord.). Manual do prefeito. 13 ed. Rio de Janeiro: IBAM, 2009. LUSTOSA, Paulo Henrique. Descentralização e Centralização em um Ambiente em Globalização. Disponível em: <http://www.ibrad.org.br/site/Upload/Artigos/9. pdf>. Acesso em: 02 ago. 2011. MOREIRA, Ruy. Da região à rede e ao lugar: a nova realidade e o novo olhar geográfico sobre o mundo. Revista Eletrônica de Ciências Humanas e Sociais e outras coisas: ETC, espaço, Tempo e Crítica, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 55-70, 1 jul. 2007. Ssss. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/44540934/Da-regiao-a- rede-e-ao-lugar>. Acesso em: 02 ago. 2011. OLIVEIRA, Patrícia de. As relações entre as indústrias de três lagoas-MS no contexto de territorialidade: um estudo com perspectivas de desenvolvimento local. 2006. 102 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós- graduação em Desenvolvimento Local, Universidade Católica Dom Bosco - Ucdb, Campo Grande, 2006. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/cp046348.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2011. PEREIRA, Potyara Amazoneida Pereira. Centralização e exclusão social: duplo entrave à Política de Assistência Social. Ser Social, Brasília, n.3, 1998. Disponível em: <http://http://seer.bce.unb.br/index.php/SER_Social/article/ view/201/2263>. Acesso em: 02 ago. 2011. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço, Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996. SANTOS, Milton. Pensando o Espaço do Homem. 5 ed. São Paulo: Edusp, 2004. CAPÍTULO 2 Democratização DaS relaçõeS entre o eStaDo e a SocieDaDe A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Apresentar a constituição das relações entre Estado e sociedade e seus desafios. 3 Distinguir os posicionamentos do Estado e da sociedade nos diferentes momentos históricos no Brasil. 33 Democratização Das relações entre o estaDoe a socieDaDe Capítulo 2 contextualização Como vimos no capítulo anterior, os processos de globalização mudaram radicalmente o olhar do mundo sobre o próprio mundo. A crise financeira, que vem afetando as economias avançadas desde 2008, ganha novos contornos no início do segundo semestre de 2011 diante das decisões tomadas pela União Europeia, ou seja, a aprovação do “pacote” para a economia grega, país periférico da zona do euro. Tal situação ocorre de modo concomitante às discussões e debates nos Estados Unidos - EUA sobre o “teto” do endividamento público da maior economia do planeta. A análise desses dois fatos mostra que ainda são reflexos, de modo mais ou menos direto, da crise financeira mundial que seguiu o “estouro da bolha” imobiliária norte-americana em meados de 2007. Os acontecimentos nos EUA atingiram a economia europeia devido à exposição de bancos europeus aos ativos imobiliários que causaram a crise financeira americana. As decisões políticas que embasam as ações de enfrentamento da severa recessão sofrida pelos países periféricos da zona do euro têm, no mínimo, dois fatores: (i) a crise financeira mundial rompeu as bases do padrão de crescimento anterior daqueles países periféricos; (ii) os governos dos países periféricos da zona do euro carecem da autonomia político- econômica necessária para induzir a recuperação macroeconômica. É sabido que governos tentam o enfrentamento de crises a partir de combinações de políticas fiscal, monetária e cambial. Entretanto, os países periféricos da zona do euro perderam a possibilidade de recorrer a essas opções. Adotam políticas de bases neoliberais, desenhadas a partir do projeto monetário europeu, que excluem a autonomia do Estado. No caso do debate sobre o limite do endividamento nos EUA, ficou claro à comunidade mundial que não se trata de um limite técnico, mas sim de um limite legal imposto pelo Congresso. A elevação desse limite, desde 1960, ocorreu tanto em governos republicanos quanto democratas. Entretanto, o que diferencia o momento atual dos anteriores é a grave recessão por que passam os EUA. Porém, como a divisa internacional é a própria moeda americana, significando que importações e outras obrigações são pagas em dólar, o governo federal americano, como detentor de uma moeda soberana, estabelece uma política fiscal com grande grau de flexibilidade frente aos mercados mundiais. Essa reflexão sobre a democratização das relações entre o Estado e a sociedade é importante frente ao cenário de incertezas que estamos vivenciando, que, no limite, questiona se essas incertezas poderiam levar ao desaparecimento dos Estados, tendo em vista a expansão crescente de um mundo aparentemente sem fronteiras. 34 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável De que Estado estamos falando? Falamos de Estados representados por seus respectivos governos, com pesos diferenciados no cenário internacional, como atores principais nas relações internacionais. Esses Estados passam, em ritmos também diferenciados, a ser substituídos por entidades de caráter transnacional, como a União Europeia. Entretanto, os Estados-Nações perduram apesar do grau de intensa globalização em que se encontra a sociedade mundial, que parece suprimir muitos dos valores inerentes ao conceito clássico de nação e paradoxalmente permite a manutenção de traços típicos do nacionalismo dos séculos passados. Ao mesmo tempo, o século XXI pressupõe a diversidade cultural representada pela imensa variedade cultural, étnica e religiosa que supostamente deve conviver em paz no interior do Estado. Essa pretensão está relacionada ao ideal de multiculturalismo que prevalece na atualidade e que exige o convívio harmonioso com aquilo que é diferente. Justamente por isso, como concluímos no capítulo 1, é que se valoriza o pertencimento das pessoas aos seus lugares próprios, aos seus espaços determinados, sendo afetadas pelas relações interdependentes que ali ocorrem. Ou seja, que ocorrem em seu espaço de vivência, em sua cidade, em seu Município. o PaPel Do eStaDo Para se pensar o papel do Estado é preciso, antes de tudo, ressaltar que Estado é diferente de Governo. Estado é a nação politicamente organizada na composição de seus estados e territórios e de seu arcabouço legal, composto pela Constituição, sua lei máxima, e pelo conjunto de leis que orientam seus cidadãos. O Estado é composto por um povo, um território e um governo. Governo é administração, gestão, direção e é formado por todas as instituições dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 35 Democratização Das relações entre o estaDo e a socieDaDe Capítulo 2 Para entender melhor: “políticas de Governo” são aquelas que têm a duração dos mandatos dos seus governantes; “políticas de Estado” perduram por vários governos. De acordo com Höfling (2001), podemos considerar: Estado como o conjunto de instituições permanentes - como os órgãos legislativos, tribunais, exército e outras que não formam necessariamente um bloco monolítico – que possibilitam a ação do governo; Governo, como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período. Reafirmando, o Estado é uma instituição política, social e juridicamente organizada, que ocupa território definido, onde a lei máxima é a Constituição, sendo dirigida por um governo que possui soberania reconhecida, tanto internamente, como externamente. O Estado representa a forma mais acabada de organização humana, somente transcendendo a ela a concepção em construção de Comunidade Internacional, que agrupa vários Estados em torno de interesses comuns. Na última década do século passado, nos anos de 1990, conforme apresentado no capítulo anterior, estudiosos procuraram compreender as difíceis relações entre a reestruturação neoliberal em curso nos mais diversos países e o funcionamento das instituições da democracia representativa. A segunda metade do século XX é considerada como uma das mais dinâmicas e revolucionárias da história universal, só comparável com o período do Renascimento. Conforme Dallari (1995), o estudo dos fenômenos do Estado desde sua origem, formação, estrutura, organização, funcionamento e suas finalidades, é objeto da teoria geral do Estado, compreendendo-se no seu âmbito tudo o que considera existindo no Estado ou influindo sobre ele. A teoria geral do Estado sistematiza conhecimentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos e psicológicos. Ela corresponde à parte geral do Direito Constitucional e é a base do ramo do Direito Público. Busca o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça. Dallari (1995) considera os múltiplos aspectos de abordagem teórica em três diretrizes fundamentais: uma que procura encontrar justificativa para o Estado a partir dos valores éticos humanos e se identifica com a Filosofia do Estado, outra que foca totalmente em fatos concretos e que se aproxima da Sociologia Estado como o conjunto de instituições permanentes que possibilitam a ação do governo. Governo como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade propõe para a sociedade como um todo. 36 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável do Estado e, finalmente, uma terceira perspectiva, que analisa seu objeto de acordo com um entendimento puramente normativo de Estado em seus aspectos técnicos e formais. Göran Therborn compreende as teorias do Estado como um momento no desenvolvimento das ciências sociais. Considera que o período entre 1965 e 1985 foi de enorme crescimentodo Estado em praticamente todo o mundo, especialmente nos países capitalistas avançados. “O momento de grande difusão das teorias do Estado está diretamente vinculado a esse crescimento do próprio aparato estatal, assim como à expansão de seu caráter social e não apenas repressivo”. (THERBORN, 2009, p. 80). A partir da leitura do texto abaixo, sobre as três principais correntes da teoria geral do Estado distinguidas por Therborn, aprofunde seus conhecimentos sobre o tema. Procure ler mais. Tome por base as referências bibliográficas ao final do capítulo, em especial o artigo de Göran Therborn. AS TRÊS PRINCIPAIS CORRENTES DA TEORIA GERAL DO ESTADO A perspectiva marxista abordou três problemáticas específicas. Por um lado o reconhecimento do papel do Estado no sistema de poder da classe dominante. A ênfase na qual o poder da classe dominante reside não somente na exploração econômica e na repressão física, mas também nas ações e instituições do Estado consideradas no seu conjunto. O segundo subtema marxista dirigiu- se à análise do Estado no funcionamento da economia capitalista e dos processos de acumulação de capital. Finalmente a mencionada corrente destacou sua preocupação com os limites da democracia burguesa e do reformismo estatal. O enfoque estatista apresentou e tratou de responder a algumas perguntas básicas: Como funciona e que efeitos sociais produz o Estado como organização e como agente autônomo? A afirmação de sua autonomia e o reconhecimento do Estado como “agente” foi possivelmente a característica fundamental desta corrente a qual também se interessava pela formação histórica do aparato estatal, um denominador comum com alguns dos pesquisadores marxistas. A perspectiva da decisão pública abordou a problemática da 37 Democratização Das relações entre o estaDo e a socieDaDe Capítulo 2 tomada da decisão na esfera do Estado, quer dizer, que utilidades estão maximizando os políticos e os burocratas. Tal enfoque derivou suas principais ferramentas analíticas da economia liberal. [...] Fonte: Therborn (2009, p. 80-81). É possível afirmar que as perspectivas apresentadas por Therborn representaram, nas palavras do autor, um novo enfoque na história das ciências sociais, ao destacar um interesse empírico e analítico sobre o funcionamento e a formação histórica do Estado. Entretanto, ressalta que a teoria do Estado significou um momento na história intelectual contemporânea e hoje está deslocada “por causa da própria marginalização das problemáticas que lhes deram origem, não porque fossem equivocadas, especialmente no caso da marxista, mas porque suas questões foram-se tornando periféricas” (THERBORN, 2009, p. 81). Atílio Boron, em seu artigo “Os “novos Leviatãs” e a pólis democrática: neoliberalismo, decomposição estatal e decadência da democracia na América Latina”, chama nossa atenção para uma das consequências dessas transformações: o surgimento de pequenos conglomerados de gigantescas empresas transnacionais, os “novos Leviatãs”, cuja escala planetária e gravitação social os torna atores políticos de primeiríssima ordem, quase impossível de controlar e causadores de um desequilíbrio dificilmente reparável no âmbito das instituições e das práticas democráticas das sociedades capitalistas. Paradoxalmente, ao passo que alguns ideólogos celebram o “triunfo final” do capitalismo, ou garantem que chegamos ao “fim da história” e está assegurada a vitória da democracia – o que com maior propriedade deveria ser denominado o laborioso advento dos “capitais democráticos” – as ameaças que pairam sobre esta forma estatal adquiriram uma gravidade sem precedentes em sua história. Antes, na conjuntura crítica da entreguerra, aquelas provinham “de fora”: os fascismos e as ditaduras assediavam as escassas e relativamente frágeis ilhas democráticas que sobressaíam num oceano de despotismo. Agora as ameaças estão no próprio interior dos capitalismos democráticos. Não são externas ao sistema e, o que é pior, têm um rosto “democrático”. (BORON, 2009, p. 7 e 8). E esta época, em que o capitalismo experimentou uma reestruturação em escala planetária, está dominada por uma ideologia, o neoliberalismo; os governantes declaram com vigor a adesão aos princípios do livre mercado. Agora as ameaças estão no próprio interior dos capitalismos democráticos. Não são externas ao sistema e, o que é pior, têm um rosto “democrático”. (BORON, 2009, p. 7 e 8). 38 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Entretanto, como vimos no capítulo anterior, o sistema está em crise. Atividade de Estudos: Após a leitura do artigo transcrito a seguir, e apoiado pelas reflexões apresentadas anteriormente, elabore um texto no qual responderá, sob o seu ponto de vista, quais são os desafios presentes na atualidade a serem enfrentados pelos Estados, representados por seus respectivos governos. (Roteiro para os tutores/tutoras a ser construído) O CAPITALISMO PERDEU SEU CORAÇÃO J. Carlos de Assis, economista e professor, autor de “A Crise da Globalização” (12/11/2009) Os próximos dez anos serão radicalmente diferentes dos dez últimos por força dos novos rumos que tomará a civilização mundial. Não me refiro apenas a mudanças de padrão tecnológico, que se tornaram triviais ao longo das últimas três décadas. Refiro-me a uma mudança de paradigma na estrutura básica do sistema capitalista ocidental, apoiada essencialmente no princípio de propriedade privada e de livre iniciativa, pretensamente sob restrição única de forças “impessoais” do mercado. Entre a década passada e a que virá se destacará, para os pósteros, a catástrofe sem precedentes da crise financeira de 2008. Ela continua em curso, sem indicação segura de uma recuperação a curto prazo das principais economias ocidentais e do Japão. No epicentro dela está a crise bancária e financeira dos Estados Unidos, igualmente sem solução à vista. E é justamente aí que podem ser detectados sinais antecedentes de uma mudança de paradigma. O sistema bancário comercial esteve presente desde os primórdios do capitalismo como uma força de apoio ao aparato produtivo e ao desenvolvimento nacional (ou imperial). Seu papel fundamental, mais do que converter poupança financeira de longo prazo em investimento de risco, consiste em “criar” dinheiro a partir de um fluxo recorrente de depósitos à vista. É este dinheiro “novo”, atuando ao lado de dinheiro corrente, que duplica a liquidez e permite à economia crescer. 39 Democratização Das relações entre o estaDo e a socieDaDe Capítulo 2 Essa máquina de crescimento parou nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Alemanha. No caso norte-americano, ela está sob o bloqueio de títulos podres impagáveis, da ordem de mais de 3,6 trilhões de dólares. Uma solução de emergência para o sistema consistiu em injetar trilhões de dólares de recursos públicos para mantê-lo boiando. Outra, a autorização para que os empréstimos podres, mesmo impagáveis, sejam mantidos em carteira até o vencimento nominal. Na realidade, o sistema bancário comercial norte-americano está estatizado pelo lado do passivo, através de capitalização pelo Tesouro, empréstimos a juros de zero por cento pelo FED, e garantias públicas a aplicações da clientela. No entanto, continua privado pelo lado do ativo. Seus executivos têm ampla liberdade para decidir sobre o que fazer com o dinheiro público que lhe é repassado de forma quase graciosa pelo Governo, além de se premiarem com bônus bilionários. O que faz um executivo de banco “eficiente” nessa situação? Em lugar de emprestar à produção, que é uma atividade arriscada e de longo prazo, ele se concentra em operações diárias de câmbio (afinal, 2 trilhões de dólares mudam de mão todos os dias), intermediação de bônus e commercial papers (o risco fica com as grandes corporações emissoras e ele retém uma comissão) e derivativos (o risco ficacom a contraparte). Dessa maneira, consegue altos lucros com dinheiro público, sem risco, para ir abatendo com eles os títulos podres. O único problema com esse sistema é que ele não é capitalismo. O risco é inerente à atividade capitalista, e sua avaliação prévia pelo banqueiro ajuda no processo de seleção das melhores iniciativas no processo produtivo. Ademais, a atividade bancária, em si, é um jogo de risco, e se o banqueiro erra, ele é punido com perda de capital ou falência. É, pois, inconcebível conceitualmente que um banco que tem grandes lucros seja protegido pela cláusula não escrita de que é “grande demais para quebrar”. Pois isso é justamente o que se tornaram os 19 principais bancos comerciais dos Estados Unidos, “grandes demais para quebrar”. Os maiores deles, Citigroup e Bank of America, estavam no topo da lista de quebra iminente, logo depois que o Lehman Brothers foi deixado ir à lona, quando as autoridades financeiras de Bush recuaram assustadas com as consequências internas e mundiais do colapso, e determinaram um plano geral de salvação que acabou protegendo todo o sistema com dinheiro público. 40 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável Esse caso típico de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos, por mais repugnante que seja, não tinha como ser evitado em situação de emergência. Fosse Obama no lugar de Bush, faria a mesma coisa. Caso contrário, todo o sistema capitalista mundial desabaria, com efeitos devastadores sobre a organização da própria sociedade. Contudo, um repto muitas vezes maior está pela frente: se o Governo tirar do sistema os recursos públicos e as garantias, ele quebra; se mantiver as concessões, ele continuará fazendo grandes lucros, distribuindo dividendos e pagando bônus bilionários (US$ 20 bilhões só do Morgan este ano) com base em recursos do contribuinte geral. Até 2012 a banca mundial terá de substituir 7 trilhões de dólares de passivo de curto prazo por aplicações de mais longo prazo. Grande parte dessa massa gigantesca de dinheiro está sob garantia de tesouros públicos. Se as garantias forem retiradas, muitos bancos não conseguirão fazer a rolagem dos passivos. Se o fizerem, será de forma bem mais onerosa. Poderão compensar os maiores custos cobrando mais por serviços ou aumentando as taxas dos empréstimos. Em qualquer hipótese, a economia real será estruturalmente afetada. Não há perspectiva de volta ao padrão normal de financiamento à produção na medida em que os bancos aprenderam a ganhar muito dinheiro sem isso. A consequência pode ser uma longa recessão nos países industrializados de ponta. Enquanto isso, do outro lado do mundo, China e Índia são praticamente as duas únicas grandes economias em processo de crescimento rápido. Elas têm em comum dois fatores essenciais, que faltam aos países avançados ocidentais e ao Japão: planejamento centralizado, sistema bancário estatal descentralizado, e um mercado interno com forte potencial de crescimento. Na interação da Geopolítica e da Geoeconomia mundiais, é a dinâmica do processo, não sua fotografia estática, que deve ser levada em conta. Os Estados Unidos e a sociedade norte- americana podem perfeitamente aceitar três ou quatro anos de crise na expectativa de uma recuperação forte posterior. O que se tem em vista, porém, com o novo padrão bancário e financeiro, é uma estagnação indefinida. Nos próximos três anos o máximo que a China pode fazer é tornar-se uma economia equivalente à metade da norte-americana. Contudo, nos próximos dez, considerando que ela deverá continuar crescendo a altas taxas e os Estados Unidos estarão ainda flutuando no fundo do poço, poderá equiparar-se a ela. 41 Democratização Das relações entre o estaDo e a socieDaDe Capítulo 2 E poderá ultrapassá-la em seguida. E seguir adiante. Seus instrumentos para isso continuarão sendo muito poderosos: planejamento e sistema bancário estatal descentralizado, no campo do financiamento da produção; e iniciativa privada, no campo da produção propriamente dita. Os chineses e em grande parte os indianos conseguiram isso vindo do socialismo para o capitalismo. Deu certo. Num plano abstrato, para que os Estados Unidos dêem certo, devem refazer o caminho na direção oposta, isto é, do capitalismo para o socialismo. Numa palavra, estatizar seus bancos e adotar o planejamento centralizado. Marx não deveria admirar-se desse resultado na medida em que se enquadra perfeitamente em suas leis dialéticas. Contudo, seria como um terremoto revolvendo as próprias bases da sociedade norte-americana (embora não a europeia, nem a japonesa). Para os Estados Unidos, o país da livre iniciativa por excelência, aceitar a presença do Estado como planejador central e como árbitro dos financiamentos produtivos constitui uma violência sem paralelo. O Congresso resistiria até o último neoliberal, mesmo que à custa do colapso da potência norte-americana sob os escombros de uma cidadania aniquilada por lobistas. Fonte: ASSIS, José Carlos de. O capitalismo perdeu seu coração. Corecon, Rio de Janeiro, 12 nov. 2009. Disponível em: <http://www.corecon-rj. org.br/artigos_det.asp?Id_artigos=74>. Acesso em: 24 out. 2011. É importante lembrar que nosso país é parte do todo que significa esse processo que estamos relatando e que você vem estudando. Segundo o Manual do Prefeito, vale destacar que o Estado brasileiro e, como parte integrante e indissolúvel dele, o Município foram profundamente afetados por processos de mudanças justamente decorrentes da inserção do país na economia global. A partir da Constituição de 1988, novos processos de descentralização intergovernamental e de participação cidadã em relação à coisa pública foram claramente sinalizados. (IBAM, 2009, p.69) Na Constituição de 1988 o papel do Município é realçado, conforme o Manual do Prefeito: Ao Governo Federal, no mesmo contexto, vem cabendo o papel de gerente e apoiador de processos de gestão, tendo o equilíbrio monetário e financeiro O Estado brasileiro e, como parte integrante e indissolúvel dele, o Município foram profundamente afetados por processos de mudanças justamente decorrentes da inserção do país na economia global. 42 Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável como meta principal, com a focalização de investimentos em infraestrutura econômica no território, sobretudo em função do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e a progressiva redução em investimentos locais. Seja em decorrência dessa retração, seja por força de determinações normativas da Constituição de 1988, substanciais parcelas de responsabilidade na prestação de serviços públicos e no equacionamento dos impactos resultantes dos ajustes estruturais no nível macroeconômico têm ficado a cargo dos Governos municipais. A esse aumento de responsabilidade, contudo, não correspondeu igual ampliação dos meios à disposição do Município, o que limita o efeito de políticas públicas implementadas de forma tradicional e potencializa as necessidades de planejamento nas administrações municipais e a adoção de fórmulas inovadoras de gestão que contemplem, por exemplo, parcerias com o setor privado ou o estabelecimento de consórcios intermunicipais. (IBAM, 2009, p. 69). Como podemos constatar, o papel dos municípios está no equilíbrio monetário e financeiro como meta principal, e com foco em investimentos em infraestrutura, mas tudo isso com responsabilidade. Dinâmica inStitucional Da SocieDaDe civil É possível pensar o papel do Estado a partir das políticas originadas da sociedade civil, que se formam tendo em vista o exercício da cidadania? Responder afirmativamente a esse questionamento implica reconhecer que a política social não alcança seus objetivos se for concebida e administrada privadamente, ou seja, apenas pelo setor privado da sociedade. Significa, também, reconhecer que cabe ao Estado papel decisivo tanto
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