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0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA JÚLIO CÉSAR PORTO DA PAZ ENTRE AVANÇOS E RECUOS: O ENSINO DE GEOGRAFIA NA E. M. SIMÕES FILHO TERESINA-PI 2012 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA JÚLIO CÉSAR PORTO DA PAZ ENTRE AVANÇOS E RECUOS: O ENSINO DE GEOGRAFIA NA E. M. SIMÕES FILHO Monografia exigida como trabalho final de conclusão do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí, sob orientação do professor esp. Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho. TERESINA-PI 2012 2 JÚLIO CÉSAR PORTO DA PAZ ENTRE AVANÇOS E RECUOS: O ENSINO DE GEOGRAFIA NA E. M. SIMÕES FILHO Monografia Defendida em ___, ___, _____. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Prof. Esp. Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho Presidente ___________________________________________ Profa. MSc. Teresinha de Jesus dos Santos Sousa 1º MEMBRO ___________________________________________ Profa. MSc. Marly Cipriano Feitosa de Melo 2º MEMBRO 3 Dedico este trabalho primeiramente a Deus e a minha família, que muito contribuíram para tornar-me o ser humano que sou. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por me permitir vivenciar este momento. Agradeço a minha família: meus pais (José e Dalvimar), irmãos Josélia, Jacqueline, Josenildo, Jailson); sobrinhos (João Pedro e Ana Luísa) e cunhada (Sandra). Agradeço à Universidade Estadual do Piauí, por me permitir cursar esta graduação. Agradeço a você Geografia, pois não fui eu que lhe escolhi, foi você que me escolheu! Agradeço a minha grande amiga Kelly Diane do Nascimento Silva, que sempre esteve comigo em todos os momentos, minha amiga de todas as horas! Agradeço também a meu amigo Francisco Magalhães Pinheiro Neto, que também esteve comigo no decorrer deste curso. Agradeço a meu digitador Diego Rodrigo, que muito colaborou durante todo esse período! Agradeço ainda a todos aqueles que foram meus professores: da Educação Infantil até o Ensino Superior, de todas as disciplinas, não lembrarei o nome de todos, mas se cheguei até aqui, também devo isso a vocês! Agradeço a meu orientador: o professor Werton, por sua paciência e conhecimento, além de ter sido uma grata surpresa ter reencontrado o meu professor de Geografia do 2º Ano do Ensino Médio. Agradeço também a minha professora Teresinha de Jesus dos Santos Sousa, pelo seu conhecimento e compreensão. 5 Cada um de nós possui um fogo no coração para alguma coisa, é nossa meta na vida encontrá-lo e mantê-lo aceso. Mary Lou Retton 6 RESUMO A presente pesquisa tem como tema: Entre avanços e recuos: o ensino de Geografia na escola municipal Simões Filho. Apresenta como objetivo geral: analisar o processo de ensino-aprendizagem na disciplina de Geografia. Os objetivos específicos foram: retratar historicamente a evolução do ensino de Geografia; caracterizar as metodologias empregadas pelos docentes no processo de ensino- aprendizagem da ciência geográfica; identificar os problemas relacionados à prática docente no ensino da ciência geográfica; descrever a visão do aluno em relação à ciência geográfica. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, tendo como embasamento os teóricos: Vesentini (2004); Almeida (2007); Carvalho (2004); Castellar (2010); Kaercher (1999); dentre outros. Foi realizada ainda uma pesquisa de campo na E. M. Simões Filho, situada no bairro Cristo Rei. Os sujeitos da pesquisa foram 4 (quatro) professores que correspondem a todos os docentes que ministram Geografia do Ensino Fundamental do 3º e 4º ciclos e 30 alunos do respectivo nível de ensino – o que corresponde a 10% (dez por cento) do total de alunos deste estabelecimento de ensino. O instrumento utilizado foi à aplicação de questionários. Os dados coletados relevaram que existe uma divergência de opiniões entre docentes e discentes, no que se refere ao incentivo da leitura e escrita e na diversificação da bibliografia. Verificou-se a permanência de metodologia de ensino tradicional, em pleno século XXI, considerando a existência de recursos e estratégias inovadoras que passam a ser utilizadas pelos docentes, como debates, trabalhos em grupo, aulas de campo, práticas estas importantes tanto no que se refere à interação dos alunos, ao próprio aprendizado da ciência geográfica. Palavras-chave: Ensino de Geografia. Práticas docentes. Metodologias. 7 ABSTRACT This research has as its theme: Among advances and retreats: the teaching of geography in public school Simões Filho. Displays general objective is to analyze the process of teaching and learning in the discipline of Geography. The specific objectives were: to depict the historical evolution of the teaching of geography; characterize the methodologies employed by teachers in the teaching-learning of geographical science, to identify problems related to teaching practice in the teaching of geographical science, to describe the vision of the student in relation geographical science. For this, we performed a literature search, having as basis the theorists: Vesentini (2004), Almeida (2007), Carvalho (2004); Castellar (2010); Kaercher (1999), among others. We also carried out field research in E. M. Simões Filho, located in the district Christ the King The subjects were 4 (four) teachers that correspond to all teachers of Geography Elementary School 3rd and 4th cycles and 30 students of their education level - which corresponds to 10% (ten percent) of all students in this school. The instrument used was the use of questionnaires. The data collected reveal that there is a divergence of opinions between teachers and students with regard to the incentives of reading and writing and diversification of the literature. It is the permanence of the traditional teaching methodology, in the XXI century, considering the existence of resources and innovative strategies that are being used by teachers, such as debates, group work, field lessons, practice these important both in refers to the interaction of students, and in their own learning of geographical science. Keywords: Teaching Geography. Teaching practices. Methodologies. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1 REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO DE GEOGRAFIA ................................ 1.1 A Perspectiva Tradicional no Ensino de Geografia ................................. 1.2 Metodologias para o Ensino de Geografia ............................................... 1.3 O Ensino de Geografia: avanços e limitações ......................................... 2 AVANÇOS E LIMITAÇÕES DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA MUNICIPAL SIMÕES FILHO .............................................................................. 2.1 Caracterização da Área de Estudo ............................................................ 2.2 Metodologia ................................................................................................. 2.3 Análise dos resultados ............................................................................... CONCLUSÃO ..................................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................9 12 12 16 19 27 27 27 28 52 54 APÊNDICES 9 INTRODUÇÃO É do conhecimento de todos que o ensino da Geografia vem passando por algumas alterações desde sua constituição, ou seja, desde quando a Geografia surgiu enquanto disciplina escolar no século XIX. A partir do surgimento da Geografia escolar até a maior parte do século XX, temos uma disciplina voltada para a descrição, isto é, baseada na memorização, centrada principalmente na Geografia Física, com suas formas de relevo, bacias hidrográficas, seus tipos climáticos, suas formações vegetais, sendo essa a chamada Geografia Tradicional. Entretanto, já no final do século XX, com o advento das discussões acerca da Geografia Crítica (décadas de 1980 e 1990), fruto do movimento de renovação ocorrido na ciência geográfica. Essa nova corrente do pensamento geográfico, tem entre seus princípios, o de trabalhar os conteúdos de forma reflexiva, buscando sempre a contextualização dos mesmos, ou seja, ensina o aluno dentro de seu espaço de vivência, proporcionando ao mesmo a conscientização enquanto cidadão, do seu papel na sociedade atual, com as contradições e mazelas. O ensino de Geografia na atualidade, baseado na perspectiva critica - reflexiva, busca uma analogia entre o conteúdo abordado e o meio em que o aluno está inserido, o que despertou o interesse em saber se essa corrente do pensamento geográfico é trabalhada na E. M. Simões Filho, local onde a pesquisa foi realizada, sendo uma conceituada escola da rede municipal de Teresina, sendo considerada ainda uma “escola modelo”. Nesse sentido, lançamos as seguintes questões: como se encontra a criticidade dos alunos da escola municipal Simões Filho? Até que ponto os professores desta escola contribuem para que os alunos possuam uma postura crítica no ensino de Geografia? Para respondermos as questões norteadoras, foram levantados os objetivos (geral e específicos). Dentre estes, o objetivo geral: foi analisar o processo de ensino-aprendizagem na disciplina Geografia. Já os objetivos específicos foram retratar historicamente a evolução do ensino de Geografia; caracterizar as metodologias empregadas pelos docentes no processo de ensino-aprendizagem da ciência geográfica; identificar os problemas relacionados à prática docente no ensino da ciência geográfica; e descrever a visão do aluno em relação à ciência geográfica. Para a realização do presente trabalho, utilizou-se dois questionários, sendo um destinado aos professores e aos alunos. Realizou-se a aplicação dos questionários da seguinte maneira: trabalhamos com todos os professores de 10 Geografia da escola (total de 4 professores); trabalhamos com um total de 30 (trinta) alunos, o que corresponde a 10% (dez por cento) dos alunos do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano). O trabalho foi realizado através da pesquisa explicativa e a documentação indireta.Diversos autores foram consultados para a constituição deste trabalho, dentre eles: José William Vesentini; Nídia Nacib Pontuschka; André Nestor Kaercher; Ariovaldo Umbelino de Oliveira; Sônia Castellar, Rosângela Doin de Almeida; Maria Inês Carvalho, sendo autores que discutem acerca do ensino de Geografia. Foram utilizados ainda, autores referentes a outras áreas do conhecimento, tais como Anne Marie Chartier; Cipriano Luckesi; Edigar Morin; Selva Guimarães, que muito contribuíam com seus posicionamentos sobre o ensino de modo geral. Avaliou-se ainda um documento oficial: os Parâmetros Curriculares Nacionais, onde foram analisados alguns pontos que dizem respeito tanto ao ensino de modo geral, quanto ao ensino de Geografia. Observou-se ao longo da construção deste trabalho, que o ensino de Geografia na sua constituição, até boa parte do século XX, estava centrado na perspectiva tradicional, voltado para a memorização e descrição, privilegiando a vertente física. Vale ressaltar a questão da memorização/descrição é característica típica do ensino tradicional de modo geral, sendo que o mesmo pode ser encontrado também em outras disciplinas. A partir dos anos 1970, houve um retrocesso do ensino de Geografia: a criação da disciplina Estudos Sociais, e a consequente extinção das disciplinas Geografia e História, o que acabou por prejudicar esta disciplina, gerando um “esvaziamento” das ciências humanas. Outro retrocesso do ensino de Geografia foi a criação dos cursos de Licenciatura Curta, com o objetivo de atender a demanda de profissionais. Constatou-se assim, que as primeiras mudanças dentro do ensino de Geografia só vieram a ocorrer após dois acontecimentos: o movimento de renovação da ciência geográfica e a realização do Congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que posicionaram- se contra a disciplina dos Estudos Sociais, e a favor do retorno da Geografia e da História. Percebeu-se ainda, que existem divergências em relação ao posicionamento de professores e alunos, entretanto constato-se, que os professores já realizam práticas muito proveitosas no ensino de Geografia, tais como: as aulas de campo, debates em sala de aula, trabalhos, programas de computador, recursos como o 11 data-show, a utilização de revistas, outros livros didáticos, práticas estas que contribuem para diversificar as metodologias utilizadas no ensino da Geografia. O presente estudo tem sua relevância no sentido de realizar um apanhado histórico do ensino de Geografia, retratando os avanços e limitações ocorridas neste componente curricular, além de constatar as falhas referentes aos procedimentos metodológicos dos docentes e diagnosticar a visão dos alunos acerca da Geografia. Esta monografia está estruturada em dois capítulos, no primeiro realizou-se uma análise da Geografia escolar, retratando a perspectiva tradicional da mesma; as metodologias utilizadas pelos professores de Geografia; e as permanências e rupturas existentes dentro desta disciplina. No segundo capítulo, busco-se verificar questões referentes à bibliografia, metodologias, incentivo à leitura, incentivo à escrita, tendo estas sido construídas com a aplicação de questionários com professores e alunos. 12 1 REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO DE GEOGRAFIA 1.1 A Perspectiva Tradicional no Ensino de Geografia Para realizarmos uma reflexão sobre o ensino de Geografia, é necessário que se faça uma análise do próprio ensino de maneira geral, ou seja, de uma abordagem macro para uma micro. Essa torna-se necessária para se identificar os problemas existentes dentro do ensino de Geografia, procurando saber se os mesmos partem desta disciplina ou do ensino de forma geral. Para José William Vesentini (2004, p.163): O sistema escolar, a escola tal como a conhecemos hoje, é algo relativamente recente na história; foi construído a partir do século XVIII, no contexto de desenvolvimento do capitalismo com a industrialização e urbanização, de ascensão da burguesia como classe dominante com o correlato enfraquecimento do poderio e da visão-de-mundo aristocráticos. Nessa perspectiva, podemos concluir que o surgimento da escola está diretamente relacionado com a emergência do capitalismo industrial e da classe burguesa, sendo que esses buscavam trabalhadores que se adequassem à nova realidade, priorizando questões como a pontualidade, a metodicidade, a valorização do tempo, dentre outras. É nesse contexto que se dá a formação da Geografia enquanto disciplina escolar no século XIX, dentro da perspectiva tradicional, baseada na memorização. Segundo Carvalho (2004) os currículos plenamente tradicionais descrevem o espaço geográfico. Um espaço criado a partir das premissas positivistas de neutralidade e objetividade, espaço esse que é uma abstração e, portanto, não retrataa realidade. Dessa forma, constatamos que a Geografia a partir de sua constituição no século XIX até boa parte do século XX era uma disciplina voltada para a memorização e descrição, sem análise crítica, considerada uma disciplina “decoreba”.Vale ressaltar que na Geografia Tradicional, o professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem, o livro didático é o principal instrumento, e o aluno um agente passivo. Outro problema da chamada Geografia Tradicional, é o privilégio a Geografia Física, em detrimento da Geografia Humana, isto é, a disciplina de Geografia fica reduzida à memorização de nomes de rios, tipos de climas, vegetações, formações de relevo, quando na verdade sabe-se que o ideal é que a Geografia retrate conjuntamente os elementos físicos e humanos, para uma melhor compreensão da mesma. É importante destacar ainda, o fato de que a Geografia Tradicional dominou o sistema escolar brasileiro durante a maior parte do século XX. 13 Outro ponto que merece atenção dentro dessa discussão sobre a Geografia enquanto disciplina escolar, é o ano de 1971, quando o Ministério da Educação declara a extinção das disciplinas Geografia e História, e a criação de uma nova disciplina: os Estudos Sociais, assim como afirmam os Parâmetros Curriculares Nacionais: A consolidação dos Estudos Sociais em substituição a História e a Geografia ocorreu a partir da lei Nº 5692/71, durante o governo militar [...].Com a substituição por Estudos Sociais os conteúdos de História e Geografia foram esvaziados ou diluídos, ganhando contornos ideológicos de ufanismo nacionalista destinado a justificar o projeto nacional organizado pelo governo militar implantado no pais a partir de 1964 (BRASIL, 1998, p.60). Dessa forma, podemos constatar que a nova disciplina – os Estudos Sociais – tinha dois objetivos básicos: legitimar o novo regime e formar o cidadão nacional. É com esses objetivos que os Estudos Sociais iriam dominar a educação brasileira durante as décadas de 1970 e 1980. Deve-se ressaltar ainda que essa substituição da Geografia e da História pelos Estudos Sociais é fruto do contexto histórico nacional – Regime Militar – onde o Brasil alinhou-se com os Estados Unidos. Outro ponto polêmico a ser destacado sobre os Estudos Sociais, diz respeito à polivalência, o que vem a proporcionar um esvaziamento das ciências humanas, na medida em que estas são transmitidas conjuntamente – neste caso a Geografia e a História – havendo então uma superficialidade no que diz respeito aos cursos de Licenciatura Curta, que foram criados pelo governo com o objetivo de suprir a demanda de profissionais na área, mas também geraram muitas críticas, como afirmam os PCNs: Para atender à demanda de profissionais da área dos Estudos Sociais, os governos militares permitiam a criação dos cursos de Licenciatura Curta o que contribuiu para o avanço das entidades privadas no ensino superior e uma desqualificação profissional do docente. Além disso, os Estudos Sociais, que praticamente ignoravam as áreas de conhecimentos específicos em favor de saberes puramente escolares, contribuíram para um afastamento entre as universidades e as escolas de primeiro e segundo grau. Isso prejudicou o diálogo entre pesquisa acadêmica e o saber escolar, bem como atrasou as necessárias introduções e reformulações do conhecimento histórico e das ciências pedagógicas no âmbito escolar (BRASIL, 1998, p.27). Desse modo, observamos que a criação dos Estudos Sociais veio promover uma separação entre a academia e os antigos ensinos de 1º e 2º graus. Na verdade, essa nova disciplina prejudicou a parceria entre a escola e a universidade, o que poderia ter permitido maiores avanços tanto na pesquisa, quanto no ensino. Dentro dessa discussão sobre o ensino de Geografia Tradicional, devemos fazer uma observação acerca do ensino tradicional (de forma geral), destacando as 14 tendências pedagógicas, que influenciaram a nossa educação como a pedagogia liberal tradicional. Para Luckesi (1994, p. 56-57): Os métodos baseiam-se na exposição verbal da matéria e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto à análise são feitas pelo professor, observados os seguintes passos: a) preparação do aluno; b) apresentação; c) associação; d) generalização; e) aplicação. A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas, na memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos. A partir dessa visão, constatamos a existência de uma metodologia baseada na exposição verbal, dando-se ênfase à repetição e simultânea memorização dos conteúdos, refletindo um ensino estritamente tradicional, logo, o que comprova o fato desta tendência ser tradicional, é a relação entre docente e discentes. Segundo Luckesi (1994 p. 57): Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em consequência a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção, o silêncio. Desse modo, percebemos a existência de um ensino centrado na figura do professor, onde o mesmo impõe a sua autoridade sobre os alunos (fato corriqueiro no ensino tradicional), observando-se, também, a maneira como o conteúdo é transmitido, como um “dogma”, uma ‘’verdade absoluta”, não sendo possível questioná-lo, pois o docente não abre possibilidades para que isso ocorra. Outra tendência que pode ser percebida em nosso sistema educacional é a liberal tecnicista, que dentre seus objetivos está a preparação para o mundo do trabalho, presente principalmente no Ensino Médio. Para Luckesi (1994, p.62): São relações estruturadas e objetivas, com papéis bem definidos o professor administra as condições de transmissão da matéria, conforme um sistema institucional eficiente e efetivo em termos de resultados da aprendizagem, o aluno recebe, aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno, cabendo- lhe empregar o sistema instrucional previsto. Dessa forma, percebemos a estreita ligação existente entre esta tendência e a tendência liberal tradicional, na medida em que ambas tem o professor como o “centro” do processo de ensino-aprendizagem, e o aluno é apenas um agente passivo, cabendo ao docente repassar/transmitir o conteúdo e ao discente receber o mesmo. 15 Dentro dessa discussão sobre o ensino tradicional, é necessário que se realize uma análise da Geografia Tradicional, suas implicações no ensino, principalmente na vertente tradicional. A Geografia Tradicional possui várias manifestações que a fundamentam, dentre elas a seguinte: “A Geografia é uma ciência de síntese”, conceito este que ainda é muito trabalhado mesmo nos dias atuais em que vivenciamos as novas discussões fruto do movimento de renovação da Geografia. Segundo Moraes (1999, p.25): Na verdade, a idéia de ‘ciência de síntese’ serviu para encobrir a vaguidade e a identificação do objeto. Tal idéia, que postulava um conhecimento excepcional, desvinculava tal ciência de uma exigência do próprio positivismo - a definição precisa do objeto de estudo. Assim, esta máxima serviu para legitimar o estudo geográfico com base num fundamento, do qual não se cumpria uma exigência central. Dessa forma, constatamos que o conceito de “ciência de síntese” na realidade não objetivava dar um “status’ a ciência geográfica, mas sim, “fugir” da obrigação imposta pelos pressupostos do positivismo, em outras palavras, a Geografia Tradicional acaba por revelar uma identificação dentro do seu próprio objeto de estudo, na medida em que essa perpassa por todas as ciências e acaba por não identificar/apropriar seu objeto de estudo. É dentro dessa discussão sobre a Geografia Tradicional, que retomamosuma análise sobre o ensino de Geografia Tradicional, ressaltando a questão do livro didático, que é motivo de muitas controvérsias. Deve-se acrescentar que os livros didáticos de Geografia vêm sofrendo alterações significativas nos últimos anos, dentre essas alterações, pode-se citar o fato dos mesmos buscarem retratar conjuntamente os conceitos físico e humano, algo que não era visto nos manuais antigos. Entretanto, apesar dos livros didáticos terem sofrido um processo de renovação, os mesmos devem ser utilizados com reservas, pois ainda apresentam problemas. Outra questão a ser levantada sobre o livro didático, é o fato deste ser utilizado como único instrumento pelo docente de Geografia – principalmente nas escolas da rede pública. Para Vesentini (2004, p.34): O professor pode e deve encarar o manual não como o definidor de todo o seu curso, de todas as suas aulas, mas fundamentalmente como um instrumento que está a seu serviço, a serviço de seus objetivos e propostas de trabalho. Trata-se de usar criticamente o manual, relativizando-o, confrontando-o com outros livros, com informações de jornais e revistas, com a realidade circundante. Ao invés de aceitar a ‘ditadura’ do livro didático, o bom professor deve ver nele não somente um apoio ou 16 complemento para a relação ensino-aprendizagem que visa a integrar criticamente o educando ao mundo. Nesse sentido observamos a necessidade/urgência do docente tentar ampliar/diversificar a sua bibliografia, não ficando restrito somente ao livro adotado pela escola; o objetivo dessa prática é promover o ‘’confronto de ideias entre os autores, proporcionando, assim, um debate/discussão em sala de aula. 1.2 Metodologias para o Ensino de Geografia É do conhecimento de todos, que um dos fatos mais comuns existentes dentro do processo de ensino-aprendizagem é a utilização de metodologias, a prática visa diversificar as aulas ministradas, além de procurar “prender” a atenção dos alunos. Foi dentro dessa perspectiva que tomamos por base um dos objetivos gerais propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Geografia: “fazem leituras de imagens de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens (BRASIL, 1998, p. 13). Desse modo, percebemos a necessidade/importância da utilização de tais recursos para o ensino de Geografia, buscando uma melhor compreensão do aluno em relação a dois dos conceitos- chave da ciência geográfica: o espaço e a paisagem. Um dos procedimentos metodológicos mais utilizados pelos professores de Geografia são os mapas, porém é importante ressaltar que muitas vezes, os docentes não os utilizam em sala de aula da maneira correta. Segundo Kaercher (1999) as escolas nem sempre estão bem equipadas. Outra característica: trabalha- se mais “projeções cartográficas” do que o significado, interpretação e/ou construção dos mapas. Mapa vira um “conteúdo” cristalizado, um produto “pronto”. A partir dessa visão contatamos os principais motivos que fazem com que o ensino dos mapas acabe não saindo como o desejado: a falta/pouca estrutura da maioria das escolas, e a forma como os docentes ministram tal conteúdo. Isto é algo preocupante, tendo em vista que o ensino dos mapas constitui elemento fundamental para o ensino de Geografia. Dentro dessa discussão acerca da utilização de mapas pelos docentes de Geografia, abordamos a questão da interpretação que nossos alunos realizam diante dos mapas. Esta é de grande importância para a compreensão que os educandos têm em relação ao espaço a sua volta. 17 Para Castellar (2010, p.24): Em Geografia, a leitura que se faz do entorno ou dos mapas e das imagens tem a mesma finalidade para olhar e para ler, mas a possibilidade de utilizar diferentes linguagens proporciona aos alunos meios para comparar o que é do nível da sua imaginação com os fenômenos reais que organizam o espaço geográfico. Dessa forma, percebemos a importância/necessidade de se trabalhar mapas em nossas aulas, pois podem proporcionar aos discentes, uma visão melhorada do espaço geográfico, na medida em que têm a possibilidade de compreensão ampliada. Um outro problema que pode ser percebido em relação a este assunto, se refere à própria forma como os mapas são trabalhados havendo uma espécie de padronização, principalmente em relação às crianças. Segundo Almeida (2007, p.18): O que geralmente se observa é o emprego direto do mapa usado pelo geógrafo, ou o extremo oposto: o uso de mapas excessivamente simplificados para a criança. Os mapas escolares são reproduções dos mapas geográficos. O que ocorre é que os pequenos ‘lêem’ os mapas dos grandes, os quais são generalizações da realidade que implicam uma escala, uma projeção e uma simbologia espaciais e que não têm significação para as crianças. Assim, podemos constatar a urgência de haver uma reformulação em relação a produção de mapas, no que se refere as crianças, pois necessitam de instrumentos (mapas), adequados para sua faixa etária, incluindo ainda aspectos lúdicos, que facilitem a sua compreensão em relação aos mesmos. Destacamos aqui, uma outra questão, que acaba sendo muito discutida pelos estudiosos em educação: o aspecto lúdico, logo imprescindível que no processo de ensino- aprendizagem o professor busque metodologias/recursos que auxiliem sua prática docente. Para Nidelcoff (1991, p.21-22): Parece que, um nosso afã de que os alunos descubram e analisem a realidade, enfatizamos exclusivamente o que é sério os aspectos duros e criticáveis, e não valorizamos suficientemente o prazeroso, o agradável, o divertido, o lúdico, como parte dos temas ou parte da relação em classe e dos mil e um incidentes que nela ocorrem. Nesse sentido, percebemos a grande deficiência por parte dos professores em utilizar o lúdico em seu cotidiano de sala de aula, na medida em que segue a linha do ensino tradicional, em que se trabalha apenas o conteúdo pelo conteúdo, sem levar em conta a aprendizagem do aluno, ou seja, sem utilizar uma metodologia que favoreça a compreensão do educando. 18 Um outro recurso que é pouco utilizado pelos professores, mas que também abre inúmeras possibilidades de exploração em sala de aula são os jornais escritos. Estes tanto possibilitam a análise de conteúdos, como o desenvolvimento da leitura. Para Archela e Cavalcante (2008, p.147): A utilização de jornais em sala permite ao aluno relacionar o conteúdo da disciplina de Geografia, que muitas vezes é considerado, por ele, um conhecimento apenas abstrato ou decorativo. Com esse trabalho do cotidiano, o interesse e a participação na aula aumentam. Desse modo, percebemos a importância do jornal escrito em sala de aula, na medida em que o mesmo pode despertar o interesse do aluno, a partir do momento em que o discente associa o conteúdo trabalhado pelo professor com a matéria publicada no jornal. É nesse contexto de apresentação de recursos úteis aos professores, que comentamos mais um: a realização de trabalhos/aulas de campo. A disciplina Geografia permite a realização de inúmeros trabalhos de campo: trabalhos de Geografia Urbana, Geografia Agrária, Geografia da População, Climatologia, Hidrografia, dentre outros. Segundo Archela e Cavalcante (2008, p.147): A utilização de trabalhos de campo com alunos é uma forma de propiciar a eles a interação com o objeto de estudo, permitindo a construção do conhecimento pelo aluno mediado pelo professor. O trabalho de campo é uma atividade bastante adequada as propostas de educação de cunho socioconstrutivistas, além de ser fundamental aos estudos geográficos. A partir dessa visão, observamos a importância/necessidade da realização de trabalhos de campo com os alunos, na medida em que os mesmos ampliamas possibilidades de compreensão dos discentes a partir do contato destes com o objeto de estudo em questão. É dentro dessa discussão sobre os recursos utilizados pelos docentes de Geografia que apresentamos um outro recurso, que também pode ser utilizado:os filmes/documentários. A utilização destes pode vir a enriquecer a aula de Geografia, no sentido de promover a aproximação do discente com o conteúdo da disciplina. Segundo Oliveira e Pontuschka (2009, p.52): É nessa perspectiva de tratamento da informação que é possível transformá-la em conhecimento, ou seja, ela só gera conhecimento quando submetida a um tratamento adequado. O professor tem um papel importante nesse processo, como mediador entre o aluno e a informação recebida, promovendo o ‘pensar sobre’ e desenvolvendo a capacidade do aluno de contextualizar, estabelecer relações e conferir significados as informações. A partir dessa visão, observamos que o filme pode ser bem utilizado, desde que seja aplicado de forma correta, promovendo a compreensão do aluno, que pode ser alcançada a partir do momento em que o docente abre a possibilidade da 19 reflexão, da analogia do conteúdo com o filme. Um outro recurso que o professor de Geografia também pode utilizar em suas aulas é a televisão. Dentre as vantagens que este recurso apresenta, está o fato deste possuir grande alcance entre a população, ou como afirma Penteado (1991, p. 111): Como a TV é feita para atingir diferentes camadas da população, diferentes aspectos da realidade social são por ela retratados. Se a escola quiser seguir outra lição que o método Paulo Freire ensina - a importância da representação iônica da realidade existencial – não precisa sequer cuidar da elaboração de material visual. Ele já existe, independente dela, e a ela praticamente toda a população se expõe de forma regular e prazerosa. A partir dessa visão, observamos que a televisão ao retratar as diversas realidades das diferentes camadas populacionais, também pode ser explorada pelo docente, independente de estar na sala de aula, na medida em que o mesmo pode pedir ao aluno que ele assista em casa o jornal, ou um determinado programa, proporcionando assim uma discussão na aula seguinte. 1.3 O Ensino de Geografia: avanços e limitações Na atualidade o ensino de Geografia passa por um processo de mudanças, dentre elas podemos citar a emergência das discussões da Geografia Crítica, que se fundamenta contrária aos conceitos formulados pela Geografia Tradicional. Devemos ressaltar , o fato dessas discussões dentro do ensino de Geografia serem fruto das mudanças ocorridas na ciência geográfica, em outras palavras,do movimento de renovação da Geografia. Para Vesentini (1989, p.27): Pode-se dizer que os pressupostos básicos dessa ‘revolução’ ou reconstrução do saber geográfico consideram e consistem na criticidade e no engajamento. Criticidade entendida como uma leitura do real – isto é do espaço geográfico que não omita as suas tensões e contradições, tal como fazia a geografia tradicional que ajude a esclarecer a espacialidade das relações de poder e de dominação. E engajamento visto como uma categoria não mais ‘neutra’ e sim comprometida com a justiça social, com a correção das desigualdades socioeconômicas e das disparidades regionais. Desse modo, constatamos o fato do ensino de Geografia buscar novas concepções/novos olhares, visando um ensino esclarecedor/dinâmico, que possibilite ao aluno uma forma de inserção em seu cotidiano, em seu espaço de vivência. É nesse sentido que a Geografia Tradicional torna-se insuficiente para explicar os novos paradigmas em vigor na ciência geográfica, como afirma o PCN (1998) o levantamento feito através de estudos apenas empíricos tornou-se insuficiente. Era preciso realizar estudos voltados para a análise das relações mundiais, de ordem econômica, social, política e ideológica. Assim, observamos que 20 as técnicas iniciais empregadas já não contemplam as novas abordagens da Geografia. Essas abordagens/conteúdos advém também da atual fase em que vivemos: a globalização, que muito influencia o espaço, e é fruto de inúmeros estudos na ciência geográfica. Uma outra discussão presente acerca da Geografia Crítica é a questão de como trabalhamos os conteúdos. É bem verdade, que os conteúdos nos livros didáticos de Geografia sofreram algumas mudanças, principalmente no que diz respeito a postura, entretanto ainda encontramos alguns problemas, pois muitos professores não sabem como selecionar e transmitir o conteúdo. Segundo Kaercher (1999 p.36): Num primeiro momento, estudamos a natureza, separadamente em cada um de seus itens (clima, relevo, hidrografia, vegetação, geologia) e sem a presença do homem. Em plena era industrial, estudamos - melhor seria dizer, memorizamos - nomes de rios e relevos sem apreciar as alterações significativas que o homem faz. Somente num segundo momento estudamos o homem - o titulo geral denominado população. Então, as lições quase se transformam em aulas de matemática, tamanha a quantidade de números e fórmulas, pois o homem é visto como um todo homogêneo, sem a mínima menção as diferenças de classe social. É um homem biológico, não um ser social. Dessa forma, percebemos que mesmo com as inovações ocorridas no ensino da Geografia, os conteúdos ainda são trabalhados - na grande maioria das vezes - de forma separada o que acaba por reforçar o velho problema existente dentro da ciência geográfica: a dicotomia físico/humano, aliás, algo muito presente dentro do ensino de Geografia Tradicional. É nesse sentido, que abordamos a importância de trabalhar a questão das escalas: o local e o global, buscando com isso, relacionar o espaço do aluno com o espaço macro. De acordo com Morin (2004) a era planetária necessita situar tudo no contexto e no complexo planetário. O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital. Desse modo percebemos que não se trata apenas de uma forma de facilitar a compreensão do aluno, mas sim de procurar proporcionar ao mesmo, uma nova visão acerca das disparidades existentes entre o espaço mundial e o espaço local. Dentro dessa discussão acerca do ensino de Geografia, é necessário que se realize uma análise sobre as alterações realizadas no ensino, que são fruto do movimento de renovação da ciência geográfica ocorrido nos anos de 1970, onde houve um rompimento com a Geografia Tradicional, e a busca por novas abordagens. 21 Segundo Cavalcanti (1998, p.18): As reformulações da ciência geográfica levaram, então, alterações significativas no campo do ensino de Geografia, mesmo porque alguns dos pesquisadores mais expressivos circulavam nas duas áreas de investigação. Atestam isso os inúmeros trabalhos produzidos, nas últimas décadas, que denunciaram as fragilidades de um ensino com base na Geografia Tradicional e que propuseram o ensino de uma Geografia nova, com base em fundamentos críticos. De acordo com a afirmação observamos que os últimos trabalhos realizados atestam as transformações ocorridas dentro da ciência geográfica, e que, por consequência, repercutiram diretamente no ensino de Geografia, propondo uma nova abordagem para esta disciplina. Dentre as novas abordagens que permeiam a Geografia enquanto disciplina escolar, podemos destacar a interdisciplinaridade, pois a interação da Geografia com outras disciplinas irá proporcionar uma melhor compreensão. Entretanto, é importante ressaltar, que o que ocorre na maioria das escolas é o inverso, ou seja, não ocorre uma interação/aproximação entre as disciplinas, há um distanciamento entre elas, algo prejudicial para o processo de ensino-aprendizagem. Para Oliveira e Pontuschka (2009, p.80): A interdisciplinaridade pode criar novos saberes e favorecer uma aproximação maior com a realidadesocial mediante leituras diversificadas do espaço geográfico e de temas de grande interesse e necessidade para o Brasil e para o mundo. Desse modo, constatamos que a interdisciplinaridade torna-se uma prática cada vez mais necessária em nossas escolas, na medida em que esta amplia as possibilidades de compreensão da Geografia, além de proporcionar uma maior e melhor contextualização social do aluno. Dentro dessa discussão sobre a interdisciplinaridade, devemos ressaltar ainda o fato do ensino de Geografia, desde seus princípios estar preocupado com questões que não estão centradas apenas no ensino desta disciplina. Alguns autores já discutiam questões referentes à Geografia enfatizando a aproximação desta com outras áreas do conhecimento. Segundo Carvalho (1925) em todo e qualquer assunto de Geografia, o meio em que vive o aluno deve ser escolhido como assunto principal de estudo e as noções sobre outras regiões devem ser acrescentadas como informações suplementares e comparativas. A partir dessa visão, observamos que desde o início do século XX, já existia a preocupação com a necessidade de propiciar ao aluno um melhor conhecimento sobre o mundo em que ele está inserido, isto é, a contextualização. 22 Um outro ponto que deve ser destacado é o momento em que a disciplina de Estudos Sociais passa a ser questionada, tanto por setores do ensino de Geografia quanto do ensino de História. Tal fato ocorreu no ano de 1976, com a realização de um importante congresso para as pesquisas no Brasil, onde este coloca-se contra esta disciplina e os cursos criados para atendê-la – os cursos de Licenciatura Curta. Podemos considerar então este movimento como um primeiro passo para o retorno das disciplinas Geografia e História para o sistema escolar brasileiro. Segundo Selva Fonseca (2005, p. 30): Em 1976, o Congresso da ciência coloca-se oficialmente favorável a extinção dos cursos de licenciatura curta e dos Estudos Sociais, da resolução nº 30 do conselho federal de educação, bem como se manifesta contrariamente a participação das instituições universitárias, científicas e profissionais no processo de elaboração das políticas educacionais. A partir dessa visão, observamos o apelo dos profissionais da educação pelo retorno das disciplinas Geografia e História. Em outras palavras percebia-se que a disciplina dos Estudos Sociais não atendia às necessidades tanto do ensino quanto dos profissionais. Sendo assim, é a partir do retorno da Geografia enquanto disciplina escolar, que teremos avanços na mesma. Dentre os avanços que podemos encontrar nesta podemos citar o advento das discussões acerca da Geografia Crítica, que dentre seus preceitos podemos destacar a sua função social. Para Vesentini (1989) ou a Geografia muda radicalmente e mostra que pode contribuir para formar cidadãos ativos, para ajuda-lo a entender as relações problemáticas entre sociedade e natureza e entre todas as escalas geográficas, ou ela vai acabar virando uma peça de museu. Dentro dessa visão constatamos a necessidade/urgência da Geografia possuir um engajamento social, de transformação, para que a mesma contribua com a formação de cidadãos conscientes. A partir dessa discussão sobre o ensino da Geografia crítica, verificamos a estreita ligação existente ente esta corrente e a tendência progressista crítico-social dos conteúdos, na medida em que ambas apresentam muitas afinidades. De acordo com Luckesi (1994, p. 30): Os conteúdos não são abstratos, mas vivos, concretos e, portanto, indissociáveis das realidades sociais. A valorização da escola como instrumento de apropriação do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses populares, já que a própria escola pode contribuir para eliminar a seletividade social, e torná-la democrática. Se a escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela é também agir no rumo da transformação da sociedade. 23 Dentro desse contento, observamos que os conteúdos ministrados têm um objetivo: criar no aluno uma postura crítica, onde possa tomar conhecimento de sua realidade social, sendo este, um dos objetivos do ensino de modo geral: a inserção social do discente. Entretanto, verificamos que para que nosso aluno venha possuir essa postura crítica é essencial que incentivemos os mesmos a escrever sobre os conteúdos. Porém, essa escrita, contudo só pode ser alcançada através de leituras, algo que o professor de Geografia também deve incentivar. Para Seffnner (1998) a leitura dos jovens se inscreve em geral na descontinuidade e na fragmentação: leitura da resposta certa, do aviso do quadro, do questionário, do bilhete do professor, da propaganda, do cartaz, etc. A partir dessa visão, verificou-se que a leitura de nossos alunos é fragmentada, desconexa, sendo esta uma deficiência da sociedade de modo geral. Dentro dessa perspectiva, observamos também que já se inicia, algumas transformações nos livros didáticos de Geografia, e também das outras disciplinas. Para a Geografia, vale destacar que os mesmos buscam uma visão integrada das Geografias Físicas e Humana, objetivando uma visão conjunta do espaço e a consequente criticidade dos alunos. Entretanto, apesar dessa renovação, ainda encontramos características tradicionais nos manuais de Geografia. Segundo Ronca e Amaral (2000, p. 38): Da Geografia a História, do Português a Física, as ciências em geral passam a ser demonstradas e estudadas à farta e a grade, em função da memorização. Prova disto o fato da grande maioria das avaliações e das provas, apresentarem só perguntas sem texto ou contexto, elaboradas sob a sina das palavras quem, onde e porquê. Desse modo, observamos ainda o fato da postura tradicional refletir também nas avaliações, com suas “clássicas” perguntas. Aliás, as provas de Geografia apresentam na sua grande maioria enunciados e expressões como caracterize, cite, comente, relate, descreva, etc. tais expressões acabam por transformar os conteúdos de Geografia em meros conceitos de memorização. A partir dessa discussão sobre as avaliações, inserimos a questão do livro didático, destacando as transformações que estes vêm passando desde os últimos trinta anos. É necessário ressaltar o fato desses manuais serem resultado de seu contexto histórico. De acordo com Vesentini (2004, p. 171): Já na década de 1980, por influência tanto da conjuntura interna quanto da adaptação criativa dos ricos debates que agitam a geografia crítica e a radical da incorporação do(s) Marxismo(s) no discurso geográfico, da 24 assimilação do pensamento da nova esquerda etc, temos uma ruptura mais efetiva com o paradigma tradicional e um delineamento mais preciso das visões-de-mundo que norteiam cada proposta de renovação. Desse modo, constatamos que a emergência de novos paradigmas dentro da ciência geográfica foram fundamentais para que houvessem inovações nos livros didáticos. Em outras palavras, passa à haver uma crítica a sociedade capitalista. Junto á essa crítica ao capitalismo, é necessário que os professores, busquem a caracterização do assunto, como afirma Kaercher (1999) devemos fazer com que o aluno perceba qual a importância do espaço na construção de sua individualidade e da(s) sociedade(s) de que ele faz parte (escola, família, cidade, país, etc). A partir dessa visão, percebemos que é indispensável inserir o aluno em seu contexto, para facilitar sua aprendizagem. É importante fazer uma reflexão acerca das práticas avaliativas. Os professores devem buscar uma flexibilidade, além de propiciar uma diversificação das mesmas, não ficando restrita apenas à prova escrita, ou como afirma Depresbiteris (2009) devem-se estimular situações de avaliação que privilegiem o exercício da capacidade argumentativa dos alunos, evitando penalizar o pensamento divergente. Nesse sentido, observamos queo professor deve realizar atividades que proporcionem o debate/questionamento, e uma consequente postura crítica. Dentro dessa questão a respeito dos instrumentos de avaliação, é necessário fazer uma análise não só da prática do professor mas também do livro didático, na medida em que este possibilite ao docente uma diversidade das avaliações. Para Chartier (1996) façam o que fizerem, os autores não escrevem livros, os livros não são de modo algum escritos, são manufaturados por escribas e outras artesãos, por impressores e outras máquinas. Nesse sentido, observamos que o livro didático está inserido em uma sociedade capitalista como a nossa que objetiva o lucro. A partir do momento em que o livro didático é fabricado, objetiva-se altos índices de vendagem o que acaba por prejudicar o trabalho de professores e alunos. Dentro dessa discussão, tratamos ainda sobre um ponto fundamental, não só para o ensino de Geografia, mas como para o ensino de modo geral: o planejamento, pois o mesmo representa o norteamento das atividades do professor em sala de aula. 25 De acordo com Luckesi (1994, p. 28): Ele nos alerta sobre a necessidade de termos sempre em mente que o plano é um guia de ação, passível de mudanças sempre que necessário. Devemos seguir uma ordem lógica, uma sequência, mas devemos também ser flexíveis sempre que as respostas ou dificuldades dos alunos nos indicarem necessidades de mudanças. Essa flexibilidade mostra a interação entre sujeito e objeto do conhecimento na ação docente. O plano deve ser coerente, ou seja, articular de uma maneira lógica o conteúdo e a forma na perseguição dos objetivos propostos. A avaliação, como parte do processo de ensino e aprendizagem, também deve ser planejada para que consigamos saber se os objetivos estão sendo alcançados. A partir dessa visão, constatamos que o planejamento não é algo pronto e acabado, mas sim um processo em construção, no sentido de que o mesmo deve sempre atender as necessidades dos discentes. Além disso, o plano deve contemplar ainda a avaliação, para proporcionar um melhor entendimento em relação aos objetivos tratados. Segundo Luckesi (1994) o planejamento da aula está intrinsecamente ligado ao plano de ensino, pois nele se faz a conexão entre a atividade escolar e o contexto social dos alunos. Desse modo, observamos a importância do planejamento estar em consonância direta com a proposta curricular, na medida em que ambos proporcionem uma melhor compreensão por parte dos alunos. Partindo deste ponto, abordamos uma outra discussão: os novos temas que a Geografia passa a tratar, e em alguns casos, a nova abordagem que esta disciplina faz sobre conteúdos já tratados anteriormente. Um exemplo disso é a nova abordagem acerca da “clássica” problemática divisão da ciência geográfica: o físico e o humano. Durante muitos anos, os livros didáticos traziam estes dois paradigmas separadamente – período em que a Geografia Tradicional dominava. Atualmente já ocorrem mudanças nos livros didáticos, buscando retratar os conceitos físico e humano paralelamente. Para Oliveira e Pontuschka (2009, p. 142): A apropriação da natureza se dá pelo processo de trabalho, que é um ato social. Portanto, dado é pelo trabalho social que se estabelece a relação sociedade – natureza, é fundamental o entendimento da sociedade para entender a natureza, já que esta é apropriada historicamente. Nesse sentido, constatamos que a relação existente entre o social e o natural se mostra necessária para a compreensão de ambos. Outro ponto a ser destacado é o novo conceito que se dá a Geografia. No período dominado pela vertente tradicional, havia um privilégio do conceito físico. Entretanto, observamos na atualidade a existência de um novo conceito, ou como a firma Oliveira e Pontuschka (2009) nesse sentido, a Geografia explica como as sociedades produzem o espaço, 26 conforme seus interesses em determinados momentos históricos e que esse processo implica uma transformação contínua. A partir desta visão, percebemos que esse conceito já aborda o espaço, o tempo histórico e as transformações ocorridas nesse mesmo espaço. Observamos ainda, que tal conceito é fruto das novas discussões advindas do processo de renovação da ciência geográfica. Ainda tratando sobre os novos conceitos ou redimensionamento dos mesmos dentro da ciência geográfica, abordamos não um conceito, mas uma discussão sobre a conscientização do cidadão, ou como afirma Carlos (2005) o grande dilema do geógrafo e da geografia brasileira é analisar e procurar soluções para alguns problemas fundamentais, como o da pobreza e o do desnível no desenvolvimento regional. A partir dessa afirmação, constatamos a necessidade do professor de Geografia buscar uma analise de cunho crítico-social, proporcionando ao discente a conscientização sobre a realidade brasileira, com suas mazelas e contradições, e também saídas/soluções para solucionar as mesmas. 27 2 AVANÇOS E LIMITAÇÕES DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA ESCOLA MUNICIPAL SIMÕES FILHO. 2.1 Caracterização da Área de Estudo A escola Municipal Simões Filho esta localizada no bairro Cristo Rei, zona sul de Teresina, fica no cruzamento das avenidas Barão de Castelo Branco com Abdias Neves. Esta escola é a mais antiga do bairro Cristo Rei, tendo sido fundada no ano de 1955. A exemplo das outras escolas municipais, ela oferta o Ensino Fundamental – 1º ao 9º ano - possuindo um número de alunos superior a 1000 (1235 alunos) nos três turnos: manhã, tarde e noite. A escola, em termos gerais, apresenta uma boa estrutura, com 18 salas de aula com ar refrigerado, sala dos professores, diretoria, banheiros, cantina, quadra de esportes, biblioteca com razoável numero de livros, laboratório de informática, sala de vídeo. Recentemente esta escola passou por uma reforma (ano de 2010), merecendo destaque a nova pintura e pisos além do teto das salas de aula. A escola municipal Simões Filho é considerada uma das melhores da rede municipal, apresentando o segundo melhor IDEB (índice de desenvolvimento da educação básica), dentre as escolas da rede municipal de Teresina (motivo que levou a pesquisa a ser desenvolvida na escola em questão). O presente trabalho se estruturou com base na abordagem qualitativa, na medida em que pretende-se avaliar algumas amostras, observando-se hábitos, atitudes, tendências de comportamento. A pesquisa identifica-se também como Estudo de Caso, na medida em que trabalhei com uma escola (E. M. Simões Filho), visando analisar se nesse mesmo estabelecimento de ensino (que é muito conceituado), os avanços e limitações do ensino de Geografia. 2.2 Metodologia Este trabalho trata do ensino de geografia, focando a sua trajetória, bem como a visão dos alunos sobre o mesmo e ainda analisando as metodologias utilizadas pelos professores. O tipo de pesquisa a ser utilizada foi a explicativa, na qual se busca justificar os motivos que tornam o ensino de Geografia tradicional ou crítico, tentando esclarecer que fatos contribuem para essa constatação. As técnicas utilizadas foram a documentação indireta, através da pesquisa bibliográfica e ainda a observação direta extensiva, com a elaboração e aplicação de questionários com alunos e professores. Foi utilizada uma escola da rede pública 28 municipal, utilizando a amostragem probabilística, para permitir a utilização de tratamento estatístico, com a utilização de gráficos. Os dados coletados foram analisados a partir dos resultados obtidos com os questionários, procurando diagnosticar a porcentagem de visões dos discentes sobre o ensino de geografia, e a porcentagem de metodologias utilizadas pelos docentes desta disciplina, buscando obter um panorama da situação do ensino deGeografia na escola em questão. Foram pesquisados todos os professores: 4 (quatro); e 30 (trinta) alunos, que representam 10% da amostra. 2.3 Análise dos resultados De acordo com as informações obtidas diante da pergunta nº 1 do questionário destinado ao professor, fez -se a seguinte indagação: as suas aulas ficam restritas a abordagens dos conteúdos do livro didático? Constatou-se que a maioria dos professores deu uma resposta positiva, alegando como principal motivo o tempo reduzido das aulas. Apenas a minoria dos professores deu sua resposta negativa, afirmando que busca ampliar os recursos didáticos em suas aulas. É a partir deste resultado que constatamos um fato, que a maior parte das aulas de Geografia, ficam restritas a um único recurso, o livro didático, algo perigoso e não recomendável, e em pleno século XXI, onde encontramos diversos recursos tecnológicos, tal como o data-show, softwares, que muito tem a contribuir para o ensino de Geografia, seja na Cartografia, seja na Climatologia, seja na Geografia Urbana, dentre outras áreas deste componente curricular, assim como podemos perceber no gráfico a seguir: Gráfico n° 01 Docentes que diversificam as aulas Fonte: Pesquisa direta, nov /2011 29 A respeito da pergunta Nº 2: Caso a resposta da questão anterior tenha sido negativa (caso procure diversificar suas aulas), cite os instrumentos utilizados em suas aulas. Foram utilizadas quatro alternativas: obras literárias, vídeos, aulas de campo e outros. Porém, apenas duas respostas foram assinaladas pelos professores, que foram as aulas de campo e a utilização de vídeos, fato este que reforça o que já havíamos relatado anteriormente: mesmo com os avanços ocorridos tanto no que se refere aos recursos tecnológicos, quanto a outras formas/instrumentos de avaliação, os instrumentos utilizados em sala de aula ainda são reduzidos. Podemos observar também, que uma das alternativas apresentadas aos docentes acabou não sendo utilizada como resposta pelos mesmos: a utilização de obras literárias, algo preocupante, já que é incentivando a leitura, que podemos desenvolver em nossos alunos outro ponto fundamental: a escrita, onde assim, nossos discentes poderão expor os seus posicionamentos/opiniões a respeito de determinado tema, desse modo, estaremos construindo um ensino geográfico crítico. Conforme o gráfico a seguir: Gráfico nº 2: Recursos utilizados pelos docentes Fonte: Pesquisa direta, nov /2011 Em relação a pergunta de nº 3, foi indagado aos professores se os mesmos procuram estimular o senso crítico de seus alunos. Fornecemos aos docentes duas alternativas para respostas: sim, porque é uma forma de despertar a sua cidadania; 34% 66% Vendas Utilização de Vídeo Aulas de Campo 30 e não, pois o modelo de ensino não favorece. Tivemos a seguinte constatação: todos os professores afirmaram incentivar seus alunos a terem um senso crítico. A partir deste resultado percebemos que todos os professores afirmaram incentivar o censo crítico em seus alunos, pois na atual fase do ensino, que exige uma participação maior do aluno no processo de ensino-aprendizagem, tal postura do discente é considerada de grande valia. Trazendo essa discussão para o ensino de Geografia, tal discurso mostra-se também de fundamental importância, pois tomando como exemplo um assunto como meio ambiente, o mais importante não é destacar/elencar os recursos existentes no planeta, mas sim mostrar ao aluno que tais recursos devem ser utilizados de maneira sustentada, proporcionando a manutenção dos mesmos as gerações futuras, ou de acordo com o gráfico a seguir: Gráfico nº 03 Estimulo ao senso crítico Fonte: Pesquisa direta, nov/2011 Com base na pergunta de nº 4, que trata da forma de estímulo ao senso crítico, foram dadas aos docentes quatro possibilidades de resposta: debates, trabalhos em grupo, pesquisa de campo, outros. Verificamos que foram utilizadas três respostas. Devemos ressaltar aqui um ponto positivo: a diversificação das atividades realizadas pelos professores, na medida em que estas permitem, entre outras coisas, proporcionar aos alunos o contato direto com o objeto de estudo, caso da pesquisa de campo, além da integração/interação com os colegas de classe, seja através dos trabalhos em grupo, seja através da realização de debates, pois em 31 ambos os casos ocorrem valiosos posicionamentos dos mesmos. De acordo com o gráfico a seguir: Gráfico nº 04 Metodologia de ensino adotada para estimular o senso crítico dos alunos Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Questionados sobre a utilização de mapas em sala de aula, os docentes informaram, ou pelo menos a maioria afirmou, que utiliza este recurso, pois é de fundamental importância para a disciplina. Apenas a minoria - 25% - afirmou que não utiliza mapas, pois o recurso exige muita habilidade. É nesse sentido, que realizamos a seguinte ressalva: é de fundamental importância que os cursos de graduação de Licenciatura plena em Geografia tragam em suas propostas curriculares, disciplinas que permitam ao professor de Geografia uma maior habilidade no que se refere ao manejo dos mapas. Uma outra solução encontrada pode ser através dos cursos de formação continuada, onde os mesmos permitem sanar tais dificuldades. Para Castellar (2010) a cartografia tem uma técnica de representar os lugares, e todos esses conteúdos são importantes de ser trabalhados. Mas é fundamental entendê-la como uma linguagem e também como uma metodologia na educação geográfica. Desse modo, percebemos que a Cartografia nada mais é do que uma grande aliada da Geografia, fato este que pode ser percebido por sua grande utilização pelos docentes, assim como afirma o gráfico seguinte: 32 Gráfico nº 05 Quantificação dos docentes que utilizam mapas no ensino e Geografia. Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Diante do questionamento nº 6, fizemos a seguinte indagação: caso a resposta da pergunta anterior tenha sido positiva, diga de que forma você trabalha os mapas. Foram dadas três opções de respostas aos docentes: cadernos de mapas, programas de computadores, desenhos no quadro. Contatamos que duas respostas foram utilizadas, sendo as que se referem ao uso do caderno de mapas e a utilização de programas de computador. Nesse sentido, percebemos que mesmo com os avanços da informática, com seus programas de softwares e os equipamentos de hardwares que já começam a ser utilizados pelos professores, e que são de fundamental importância para o ensino de Geografia, nesse caso - o da E.M. Simões Filho - a maioria dos docentes ainda utiliza um método tradicional. Devemos entretanto ressaltar, que a utilização de um método tradicional não é exclusividade da E.M. Simões Filho, mas algo recorrente principalmente nas escolas da rede oficial de ensino, sendo necessários principalmente maiores investimentos por parte dos órgãos públicos e em capacitação dos professores, para que estes possam manusear corretamente esses recursos. Entretanto, verificamos também que uma das alternativas propostas aos docentes não foi utilizada como resposta: os desenhos de mapas no quadro. Observamos nesse sentido, que no caso desta escola, apesar de ainda persistirem metodologias tradicionais, uma metodologia também tradicional não foi apontada, metodologia esta que é muito utilizada pelos docentes de Geografia. De acordo com o gráfico a seguir: 75% 25% professores que utilizam mapas professores que não utilizam mapas 33 Gráfico nº 06 Forma de utilização de mapas Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Questionadossobre a diversificação da bibliografia (pergunta nº 7 do apêndice) as respostas obtidas foram: 50% responderam sim, pois a utilização de demais livros é fundamental para a compreensão dos alunos, 50% responderam não, porque o livro didático utilizado é suficiente. Percebemos assim, que existe um equilíbrio entre a quantidade de docentes que diversificam as suas fontes bibliográficas e os que utilizam como única fonte o livro didático adotado pela escola. A partir destes dados constatamos também um problema que ocorre com todos os componentes curriculares: o uso excessivo do livro didático por parte dos docentes, algo já discutido anteriormente, onde o professor utiliza exclusivamente o livro, não abrindo a possibilidade de consulta para outros livros didáticos, revistas, pesquisas da internet, dentre outros. É importante salientar que o uso excessivo do livro didático pode gerar vários problemas, dentre eles: o acesso do aluno a um único ponto de vista de determinado conteúdo, sendo que com a utilização de outras vias de informação o próprio discente poderia expor ricos posicionamentos, caso de divergências entre as fontes consultadas, caso de um livro com uma revista, ou do mesmo livro com um artigo da internet. Ao mesmo tempo, observamos ainda que uma considerável parcela dos professores (50%) realiza a diversificação de sua bibliografia, fato muito positivo, na medida em que estes incluem para seus alunos outras fontes de informação sobre determinados conteúdos de Geografia, conforme o gráfico a seguir: 34 Gráfico nº 07 Professores que diversificam a bibliografia Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Em relação a questão de nº’ 08, que trata a respeito da forma como os professores procuram ampliar a bibliografia em suas aulas, propusemos aos docentes quatro possibilidades de respostas: outros livros didáticos; obras acadêmicas; revistas e outros. Entretanto, só obtivemos dois tipos de respostas, dentro de um universo de quatro questionamentos. As respostas utilizadas pelos professores foram: a utilização de outros livros didáticos e a utilização de revistas. Observamos nesse sentido, que metade dos professores afirmou utilizar outros livros didáticos em suas aulas, algo positivo, já que a partir dessa prática, é possível realizar uma analogia entre os autores, ou seja, a comparação entre a visão /ponto de vista de um autor com outro, algo que pode gerar ainda uma rica discussão no decorrer da aula. A outra resposta assinalada por metade dos docentes foi a utilização de revistas, outra importante fonte de informações, que muito pode vir a enriquecer as aulas de Geografia, com suas reportagens acerca do aquecimento global, processo de assoreamento dos rios, das mudanças ocorridas na estrutura da população, nos novos rumos das economias nacional e global, dentre outras. Entretanto, observamos que uma das alternativas disponibilizadas aos docentes – obras acadêmicas – não foi utilizada pelos mesmos, algo ruim, pois as mesmas poderiam ser utilizadas pelos alunos, ou como percebemos no gráfico seguinte: 35 Gráfico nº 08 Outras bibliografias utilizadas pelos docentes Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Indagados a respeito do incentivo a leitura para seus alunos, metade dos professores afirmaram que buscam incentivar a mesma. A outra metade afirmou que não procura realizar tal incentivo. Os dados permitem constatar que existe uma séria divisão entre os docentes. Tal resultado mostra ainda que na própria escola, não ocorre o devido estimulo à leitura. Entretanto, sobre a mesma, deve-se ressaltar que essa é uma das maiores deficiências nacionais. Um dos vários motivos que levam a esta deficiência é hábito de realizarmos leituras descontínuas, fragmentadas, ou seja, ao invés de lermos um livro completo, lemos apenas um ou dois capítulos. Para Seffnner (1998) a leitura dos jovens se inscreve em geral na descontinuidade e na fragmentação: leitura da resposta certa, do aviso do quadro, do questionário, do bilhete do professor, da propaganda, do cartaz, etc. assim, observamos que o problema remete ao fato dos alunos se interessarem apenas pelo resumo, sendo este um defeito não só dos alunos, mas de grande parte da sociedade. Ainda no que diz respeito à leitura, o fraco desempenho dos alunos e da sociedade em sua grande maioria revela uma outra deficiência nacional o baixo investimento em educação, pois caso o contrário de priorização e consequentemente maiores investimentos em educação – haveriam também maiores incentivos à prática da leitura. É ainda através do incentivo a leitura que surgirá a escrita onde nossos alunos poderiam expor seus posicionamentos no que diz respeito aos mais variados conteúdos, ou como aponta o gráfico seguinte: 36 Gráfico nº 09 Incentivo a leitura Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 A pergunta de nº 10 trouxe o seguinte questionamento: caso a resposta da questão anterior tenha sido positiva, diga de que forma você incentiva a leitura com seus alunos. Foram dadas quatro alternativas: leitura do conteúdo com a classe, leitura de outros livros didáticos, leitura de revistas, outros. Obtivemos a seguinte conclusão: todos os professores afirmaram que buscam incentivar a leitura com a classe. A partir destes dados, constatamos que mesmo os professores que incentivam a leitura com seus alunos, esse incentivo se resume a apenas uma atividade: a leitura do livro didático com a classe. Devemos ressaltar ainda, que outras formas de incentivo à leitura também poderiam ser adotadas como as que foram propostas: leitura de outros livros didáticos, revistas, artigos científicos, jornais. Estas outras formas de incentivo à leitura, também apresentam o seu grau de importância. No caso da leitura de outro livro didático, é importante destacar que o professor pode ratificar ou não a abordagem de outro autor acerca do mesmo conteúdo. A leitura de revistas com a classe também pode ser utilizada no sentido de levar aos alunos uma reportagem sobre determinado conteúdo de um autor que não seja geográfico. Para a utilização de um artigo científico, por exemplo, é importante que o docente que o professor aborde um tema conhecido pelos alunos com um certo grau de compelxidade, ou como aponta o gráfico a seguir: 37 Gráfico nº 10 Forma de incentivo à leitura Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Sobre a pergunta de nº 11, que trata sobre o incentivo à escrita nas aulas, a partir dos dados coletados, obtivemos o seguinte panorama: a maioria dos professores afirmou incentivar a escrita para seus alunos, algo raro, se comparado a outras realidades, principalmente se lembrarmos, que muitas vezes o professor não pede o posicionamento do educando. Ainda sobre essa questão da escrita, vale destacar que a mesma “anda”, ou pelo menos deve “andar” juntamente com a leitura, na medida em que não se concebe escrita sem leitura, fato este que comprova o mau desempenho de nossos. Tal postura reforça ainda o compromisso de nós enquanto professores, de estarmos comprometidos em incentivar a leitura para nossos alunos, seja através das mais diversas fontes disponíveis na atualidade, proporcionando assim para os mesmos o consequente incentivo à escrita, com seus posicionamentos e posturas críticas. É ainda através do incentivo a escrita, que o professor poderá estar despertando em seu aluno uma outra questão sua inserção na sociedade, isto é a sua cidadania, na medida em que incentivado através da leitura, o aluno irá expor seu posicionamento sobre as mais variadas temáticas, e consequentemente desenvolverá um rico acervo que poderá até mesmo ser utilizado como um artigo científico, ou como podemos observar no gráfico a seguir: 38 Gráfico nº 11 Professores que incentivam a leitura Fonte:Pesquisa direta, nov/ 2011 A respeito da pergunta de nº 12, realizamos o seguinte questionamento: Caso a resposta da questão anterior tenha sido positiva, diga de que forma você incentiva a escrita. Foram dadas três possibilidades de respostas aos professores: alunos interpretem a posição do autor, alunos comparem a posição do autor, alunos comparem a posição do autor com outros autores, alunos criem seus próprios pontos de vista. Percebemos que a maioria dos professores afirmou pedir que seus alunos interpretem a posição do autor, algo extremamente positivo, na medida que tal interpretação irá gerar a postura crítica do aluno. Percebemos também, que a outra resposta dada pelos docentes - minoria - foi a de pedirem/incentivem seus alunos a criarem seus próprios pontos de vista o que é extremamente inovador, pois é a partir do momento em que o aluno expõe sua opinião/ponto de vista, ele está tomando consciência de seu papel na sociedade, isto é, de sua cidadania. É importante ressaltar ainda que duas das alternativas disponibilizadas aos professores não foram utilizadas: alunos comparem a posição do autor e alunos comparem a posição do autor com outros autores. Desse modo, observamos que essas propostas também poderiam ser desenvolvidas pelo professor, pois a partir da analogia, entre posicionamentos, o aluno poderá criar seus posicionamentos/posturas críticas acerca dos mais variados assuntos, ou como podemos observar no gráfico a seguir: 39 Gráfico nº 12 Forma de incentivo a escrita Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Em seguida, realizamos à aplicação de um questionário com alguns alunos – 30 (trinta). Na primeira pergunta, fizemos o seguinte questionamento: você gosta do livro didático de Geografia? Disponibilizamos aos discentes duas respostas: sim e não. A partir dos dados coletados, percebemos que, a maioria dos alunos afirmou não gostar do livro didático de Geografia, algo que não traz tantas surpresas. Observamos ainda que o percentual de alunos que gostam do livro didático, mostrou-se considerável - total de 40%. Percebemos assim, que existe um equilíbrio entre a quantidade de alunos que gostam do livro didático e os que afirmam não gostar do mesmo. É nesse sentido, que retomamos novamente a discussão acerca do livro didático, ou seja, do problema em utilizá-lo excessivamente, ou em muitos casos, como único instrumento no processo de ensino-aprendizagem, não só em Geografia, mas em todos os componentes curriculares. Enfatizamos também que o uso excessivo do livro didático e ainda, a utilização deste como único recurso revela um outro dado: a herança do ensino tradicional, que mesmo em pleno século XXI, ainda se encontra presente em nosso sistema escolar tradicionalismo este onde o professor é considerado o centro do processo de ensino aprendizagem e o aluno sendo apenas um agente um agente secundário. É de fundamental importância que nós enquanto professores ampliemos nossos instrumentos em sala de aula, ou como verificamos no gráfico seguinte: 40 Gráfico nº 13 Opinião dos alunos sobre o livro didático 40% 60% alunos que gostam do livro didático alunos que não gostam do livro didático Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Indagados a respeito do motivo que os leva a não gostar do livro didático de Geografia, foram disponibilizados aos discentes três respostas: linguagem difícil, por ser extenso; outros.Constatamos que a maioria dos alunos respondeu o seguinte: não gostam do livro didático por ele ser extenso. Para Chartier (1996) façam o que fizerem, os autores não escrevem livros, os livros não são de modo algum escritos. São manufaturados por escribas e outros artesãos, por impressores e outras máquinas. A partir dessa visão, percebemos que a fabricação do livro didático objetiva altos índices de vendagem, o que acaba por prejudicar o trabalho de professores e alunos. É necessário ainda que os autores e as editoras tornem o livro mais “atraente” aos olhos dos alunos. É bem verdade que já estão ocorrendo algumas mudanças nos livros didáticos de Geografia, entretanto é preciso que essas transformações ocorram mais ainda. Observamos que a minoria dos alunos - 34% - afirmou que não gostam do livro didático de Geografia pelo fato do mesmo apresentar uma linguagem difícil. Abordamos mais uma vez aqui, o papel dos autores no sentido de que os mesmos procurem trazer uma linguagem cada vez mais acessível para os alunos que são os destinatários dos livros didáticos, proporcionando aos mesmos um melhor entendimento/compreensão dos conteúdos. É a partir do momento em que o livro didático desperta o interesse do aluno, que o mesmo instrumento também criará no discente o interesse pela leitura, essa que pode não ficar limitada somente ao livro didático, mas também a outras fontes, ou como percebemos no gráfico a seguir: 41 Gráfico nº 14 Motivo que leva os alunos a não gostarem do livro didático de Geografia Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Interrogados sobre o questionamento de nº 3: durante as aulas de Geografia, o professor utiliza apenas o livro didático? Nesse sentido, oferecemos aos alunos duas possibilidades de resposta: sim ou não. A partir dos dados coletados, observamos que a maioria dos discentes respondeu sim, e apenas uma minoria - 20% - responderam negativamente. Percebemos aqui uma contradição: no questionário destinado aos professores realizamos a mesma pergunta aos docentes e a maioria afirmou que não, pois procurava diversificar as aulas com outros instrumentos, ou seja, parece não haver um consenso entre alunos e professores. É nesse sentido que observamos como de fundamental importância o papel da escola, no sentido de que esta, por meio de sua gestão – diretores e coordenação pedagógica - devem mostrar-se empenhados em verificar se realmente os professores cumprem com suas propostas pedagógicas previstas em seus planejamentos, sendo estes nas variadas escalas: bimestral ou diária (plano de aula). Nesse momento, abrimos uma discussão acerca do planejamento do professor, sendo este instrumento de grande importância, pois é através do planejamento que o professor alcançará os objetivos para determinada turma. No caso do planejamento bimestral, sua importância se revela na previsão que o docente fará a respeito dos conteúdos que o mesmo ministrará para o plano de aula, o professor realiza um planejamento para a aula diária, para o conteúdo ministrado no cotidiano, como se observa no gráfico seguinte: 42 Gráfico nº 15 Aulas na visão dos alunos Fonte: Pesquisa direta, nov/ 2011 Questionados sobre o recurso utilizado pelo professor em suas aulas, foram disponibilizados quatro respostas aos discentes: obras literárias, data-show, vídeos e outros. Entretanto, apenas duas foram utilizadas pelos discentes, sendo que houve um empate entre o data-show e vídeos. A partir desse resultado, percebemos que mesmo entre os professores que buscam diversificar suas aulas, as possibilidades ainda são restritas, devido a vários fatores. Dentre os fatores que podem ser abordados, apontamos a questão da falta/pouca estrutura da maioria das escolas, algo muito presente principalmente nas escolas, algo muito presente principalmente nas escolas da rede pública de ensino. Outro problema que acaba por contribuir para esta situação e a burocracia, na medida em que os instrumentos existem, mas o seu acesso em muitas das vezes é dificultado ao máximo. A respeito desta questão, verificamos que os docentes da E.M. Simões Filho optam por utilizar dois recursos em sala de aula, sendo estes também muito utilizados por outros professores em outras escolas. Porém deve-se ressaltar que ambos recursos devem ser utilizados de maneira adequada, pois no caso do data- show é preciso que o professor saiba manusear o mesmo de forma adequada, além de procurar utilizar
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