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0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA CURSO LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA IVO DA SILVA COSTA A NOÇÃO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA TERESINA 2012 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI CAMPUS CLÓVIS MOURA COORDENAÇÃO DE GEOGRAFIA CURSO LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA IVO DA SILVA COSTA A NOÇÃO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DO ALUNO DE ENSINO FUNDAMENTAL DO 6º AO 9º ANO Trabalho de conclusão de curso exigido para aprovação e conclusão do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí, sob a orientação do Profº Esp. Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho. TERESINA 2012 2 IVO DA SILVA COSTA A NOÇÃO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO DO ALUNO DE ENSINO FUNDAMENTAL DO 6º AO 9º ANO Trabalho de conclusão de curso exigido para aprovação e conclusão do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual do Piauí, sob a orientação do Profº Esp. Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho. Aprovado em __/__/___ BANCA EXAMINADORA Profº Esp Werton Francisco Rios da Costa Sobrinho Orientador Presidente Prof ª MsC. Teresinha de Jesus dos Santos Sousa Mestre em Educação Profº MsC. Francisco Ribeiro Gomes Filho 3 AGRADECIMENTOS Durante esses anos de alegrias e desafios, o bom foi ter a certeza que o caminho não foi trilhado sozinho. Por isso, esses são os meus sinceros e valorosos agradecimentos. Agradeço a Deus primeiramente, que me deu a sabedoria e a paciência para trabalhar todos os dias com a intenção de fazer o melhor a cada dia. A Jesus Cristo, pelos exemplos de força e determinação que me faziam refletir que poderia me superar todos os dias. Aos meus pais e ao meu irmão, que me apoiaram desde o início nessa luta constante para aprimoramento profissional no meu ramo profissional. A todos meus amigos que estiveram sempre presentes nas minhas dificuldades e alegrias que foram marcados durante esses quatro anos de graduação de muitas coisas boas, momentos inesquecíveis. Ao meu filho, Caio Emanuel, recém nascido, que me deu a última força pra lutar e superar todos os desafios impostos daqui pra frente com a finalidade de superar cada um deles para poder oferecer tudo de melhor a educação dele que constituirá daqui em diante. Aos meus mestres, que ofereceram um melhor aprendizado durante esse tempo de graduação, fornecendo a todos nós subsídio necessário para que possamos daqui pra frente trilhar o caminho do sucesso, abraçando com toda a força a profissão maravilhosa da docência. 4 A Geografia da Saudade está para além da mera distância. Ela comporta a fatídica distribuição dos momentos em espaços que parecem não estar sujeitos ao tempo André de Moraes 5 RESUMO A noção de Espaço no ensino de geografia constitui uma das mais fascinantes buscas pela compreensão do espaço geográfico. Este é um tema que ajuda na construção do conhecimento, a partir do momento que o senso crítico do aluno começa a se fortalecer pela forma como o mesmo, enquanto cidadão, constrói e distingui dentro do seu cotidiano as relações sócio-espaciais e as transformações delas resultantes ao longo do tempo. Desta forma, a importância da formação sobre determinado tema se torna ainda mais relevante a partir do momento que se explora tal conteúdo desde a infância, levando em conta que tais aspectos cognitivos se tornam bem mais fáceis de serem compreendidos e aceitos a partir do instante que a criança distingue bem essa relação de espaço dentro da escola, da casa e no seu próprio cotidiano. Considerando a noção de espaço no ensino de geografia, o objetivo desse trabalho é compreender a importância da noção de espaço para a construção do conhecimento dos alunos de ensino fundamental da Unidade Escolar Júlia Nunes Alves, analisando a construção desta noção no ensino de geografia e verificando a aplicabilidade deste conceito de espaço no cotidiano dos alunos. A metodologia utilizada foi à pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo através da aplicação de questionário. O resultado encontrado indicou que há certa necessidade de trabalhar este conceito com mais veemência nas séries iniciais, a partir do instante que este tema é subjetivo, levando em conta a construção de vários aspectos desde a infância até a maturidade, auxiliando de maneira significativa a construção do senso crítico do cidadão em formação. As transformações decorrentes do dia a dia vão ajudar ao alunado a diferenciar como as mudanças no espaço se processam ao longo do tempo, tendo em vista que a construção deste conceito favorece a compreensão do mundo ou espaço geográfico o qual estes cidadãos estão inseridos. Palavras-chave: Noção de Espaço. Construção do Conhecimento. Ensino de Geografia. 6 ABSTRACT The notion of space in geography teaching is one of the most fascinating search for understanding of geographical space. This is a theme that helps build the knowledge, from the moment that the critical sense of the student begins to strengthen the way the same as a citizen within the building and distinguish their daily socio-spatial relations and transformations resulting over time. Thus, the importance of training on a particular issue becomes even more relevant from the moment that explores such content since childhood, taking into account that such cognitive aspects become much easier to be understood and accepted from the moment that distinguishes the child and the relationship of space within the school, home and in your own daily life. Considering the notion of space in geography education, the aim of this study is to understand the importance of the notion of space to build the knowledge of primary school students of School Unit Julia Nunes Alves, analyzing the construction of this concept in the teaching of geography and checking the applicability of this concept of space in the daily lives of students. The methodology used was literature research and field research through a questionnaire. The results found indicated that there is some need to work this concept more strongly in the early grades, from the moment that this issue is subjective, taking into account the construction of several aspects from childhood to maturity, significantly helping to build critical sense of the citizen in training. The changes arising from day to day will help the pupils to differentiate how changes take place in space over time, given that the construction of this concept leads to understanding the world or geographical area to which these citizens are inserted. Keywords: Concept of Area. Construction of Knowledge. Teaching Geography. 7 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01: Professores, segundo o sexo ............................................................ 32 Gráfico 02: Formação Acadêmica – Professores ................................................ 32 Gráfico 03: Tempo de Atuação ............................................................................. 33 Gráfico 04: Instituição de Origem ......................................................................... 34 Gráfico 05: Séries Trabalhadas ............................................................................ 34 Gráfico 07: Recursos Utilizados ........................................................................... 35 Gráfico 08: Metodologia Adotada .........................................................................36 Gráfico 09: Faixa Etária – Alunos ......................................................................... 37 Gráfico 10: Identidade pela Disciplina .................................................................. 38 Gráfico 11: Definição de Espaço Geográfico........................................................ 39 Gráfico 12: Aborda conteúdo sobre Espaço ......................................................... 40 Gráfico 13: O que representa a Geografia em sua vida ....................................... 41 Gráfico 14: Considera o ensino de geografia importante em sua vida ................. 42 Gráfico 15: Observação do espaço geográfico em que está inserido .................. 43 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 09 1 O CONCEITO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................ 12 1.1 Histórico da noção de espaço ........................................................................ 12 1.2 O conceito de espaço: enfoques pedagógicos ............................................... 15 1.3 A noção de espaço no ensino ........................................................................ 18 1.4 A construção da ideia de espaço: aspectos cartográficos .............................. 21 1.5 Espaço: concepções teóricas. ........................................................................ 23 2 UNIDADE ESCOLAR JÚLIA NUNES ALVES: DIAGNÓSTICO ACERCA DA NOÇÃO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA ........................................ 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 44 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 46 APÊNDICES ........................................................................................................ 47 9 INTRODUÇÃO O debate a respeito da noção de espaço surge desde o período dos grandes pensadores tais como Aristóteles, Descartes, Newton, Kant, levando em consideração que o próprio tema abordava várias concepções no sentido de que o espaço estava interligado ao tempo, no intuito de que grande parte dos estudos relacionados a este tema retratava aspectos de sua própria natureza levando muito em conta a questão da filosofia natural. O espaço geográfico é um tema que pode levar a várias concepções, pois muitos autores procuram abordá-lo no intuito de explorar as devidas transformações existentes neste espaço que pode ser perceptível aos olhos de quem realmente retrata de maneira simples e eficaz este tema, no entanto, coloca-se esta abordagem como algo muito complexo. Definir de maneira direta o próprio objeto de estudo – o espaço geográfico – é algo até então que se torna complexo, mas os autores procuram trabalhar no intuito de tornar este debate inacabável. O ensino do espaço geográfico contribui para que o aluno neste processo de ensino – aprendizagem possa, de maneira positiva, distinguir e conciliar os pontos e transformações ao seu redor a partir do momento que a noção de espaço é vinculada ao seu estudo desde sua infância, pois os aspectos observados na sua vivência tanto em sala de aula como no cotidiano vão se tornar fundamentais para que este mesmo aluno possa construir um senso crítico, levando em conta o seu ponto de vista sobre estas transformações. A Unidade Escolar Júlia Nunes Alves, localizada na Avenida Gilbraltar S/N no bairro Dirceu Arcoverde I, atende alunos do próprio bairro e de região vizinhas. São alunos que se enquadram na classe baixa até a classe média baixa. A escola oferece o Ensino Fundamental, nos turnos manhã e tarde e Ensino médio que somente foi implantado no ano de 2004 nos turnos tarde e noite. A área a qual pertence à escola em questão pode ser caracterizada como um pólo de ensino no qual oferece a comunidade do Dirceu Arcoverde I os Ensinos Fundamental, Médio e Superior. O que nos permite tal afirmação é o fato da Unidade Escolar Júlia Nunes Alves estar localizada no mesmo quarteirão onde se encontram mais duas escolas de Ensino Fundamental e Médio que são elas a Unidade Escolar Odylo de Brito Ramos e Unidade Escolar Maria do Carmo Reverdosa e a Universidade Estadual do Piauí (UESPI). 10 Na unidade escolar Júlia Nunes Alves, onde foi realizada esta pesquisa, pode-se constatar que a respeito do ensino do espaço geográfico ou da noção de espaço no ensino de geografia os alunos em estudo puderam assimilar bem este conceito, pois a partir do momento que a abordagem em questão é colocada no seu cotidiano a aceitação é bem representativa no intuito de estas mesmas transformações passarem a serem observados, por exemplo, no trajeto de casa para a escola. Este estudo foi norteado pelas seguintes problemáticas: qual a importância da noção de espaço para a construção do conhecimento geográfico dos alunos? Como a compreensão desse conceito colabora para a construção do conhecimento dos alunos de ensino fundamental? Como tal conceito interfere no cotidiano destes alunos? Para responder à problemática levantada foi determinado como objetivo geral discutir a importância da noção de espaço para a construção do conhecimento dos alunos de ensino fundamental; e como objetivos específicos, reconhecer a importância da noção de espaço para a construção do conhecimento; retratar a construção da noção de espaço no ensino de geografia; verificar a aplicabilidade do conceito de espaço no cotidiano dos alunos. As escolas estaduais de Teresina constitui o universo desta pesquisa, que teve como área de estudo a unidade escolar Júlia Nunes Alves. A amostra aleatória foi de 349 de alunos e 10 professores. O procedimento metodológico empregado no decorrer da pesquisa constou de pesquisa bibliográfica, coleta e tabulação de dados representados em gráficos. Os métodos utilizados no decorrer da pesquisa foram o método empírico dedutivo, dialético e de análise. Para a coleta de dados, adotou-se como técnica a documentação direta, por meio de pesquisa de campo, com a aplicação de questionários. Na revisão da literatura, os teóricos consultados foram Antônio Carlos Castrogiovanni (2000), Rosangela Doin de Almeida (2001), Lana de Souza Cavalcanti (1998), Antônio Carlos Robert Moraes (1999), Ruy Moreira (2005), os quais defendem a total importância da construção da noção de espaço pelo aluno, tendo em vista que essa nova percepção pelo aspecto geográfico procura fortalecer o fato de este mesmo aluno construir um ponto de vista mais crítico da sociedade que o cerca. 11 O instrumental de pesquisa aplicado constou de questionário com 22 questões, 14 para os professores e 8 para as alunos no qual foram questões aplicadas junto ao corpo discente e docente da Unidade Escolar Júlia Nunes Alves. Um dos problemas verificados na pesquisa foi a de que professores sentem muita dificuldade ao transmitir este conteúdo pelo livro didático, pois muitos deles em questão colocam como um conteúdo muito subjetivo o que em alguns casos dificulta a percepção por parte destes alunos que ainda sentem grande dificuldade até por conta de sua base sobre espaço na infância ainda ser muito deficiente. Esta pesquisa aponta para uma nova maneira de se pensar em espaço geográfico, procurando de maneira sucinta trabalhar o cotidiano deste aluno, para que o mesmo possa de maneira positiva distinguir e coletar o máximo de informações a respeito das mudanças do espaço geográfico no qual está inserido. Este estudo está estruturado em dois capítulos: o primeiro constando toda fundamentação teórica, levando em conta os aspectos de grandes teóricos a respeito do tema abordado. Já o segundo capítulo apresenta osprincipais dados da pesquisa feita em campo para de forma simples demonstrar como tal pesquisa apresenta aspectos relevantes para o cotidiano destes alunos. Em seguida apresenta-se a conclusão diante do estudo realizado e sugestões, que podem contribuir para ampliar, de modo positivo a construir esta noção de espaço desde a infância para que este aluno consiga mais a frente com a formação psicológica bem mais avançada diferenciar alguns aspectos do meio geográfico em questão, colocando sempre seu senso crítico sobre o que pode ser retratado deste tema. 12 1 O CONCEITO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA 1.1 Histórico da noção de espaço O retrato do breve histórico da noção de espaço requer uma interferência multidisciplinar, haja vista ser abordado por várias ciências, além da Geografia, que a utilizam em suas diferentes abordagens e aceitações. Filósofos respeitados, estudiosos em pauta de outras ciências marcarão presença em momentos deste trabalho, mas nessa busca constante podemos perceber que este conceito está ligado diretamente à noção de tempo utilizando sempre tempo – espaço, pois são dois termos fortemente evidenciados pelos grandes filósofos como Aristóteles, Descartes, Newton entre outros. Essa primeira parte transcende a Geografia, portanto, outras ciências abordarão este conceito logo de início. Vale ressaltar que não estamos à busca de uma definição fixa sobre espaço, mas a procura das várias visões/ concepções que levaram a abordagem deste trabalho. Para descrevermos com algum grau de precisão o conceito cartesiano de espaço, é necessário analisarmos sob que circunstâncias surgiram sua filosofia natural. Podemos perceber que esta filosofia surgiu em Aristóteles, naqueles que eram opositores ao pensamento de Aristóteles, mas a tese que mais se destaca é a tese aristotélica de que tudo que tem tamanho é corpo, ou algo semelhante a um corpo, de tal forma que não pode existir em um mesmo lugar mais que um corpo ao mesmo tempo. Levando-se em consideração a visão que Descartes teve sobre esta afirmação ele considera: Indissociável a idéia de um espaço separado dos corpos, e, ao mesmo tempo, refutou a tese dos críticos de Aristóteles que separaram a “extensão corpórea” da “extensão espacial”. Em suma: o filósofo queria defender que a extensão corpórea e a extensão espacial eram a mesma coisa. Nesse sentido, para Descartes, a extensão constituía a própria substância corpórea cujo atributo principal era a própria extensão (A noção de espaço em Descartes e Newton) Em virtude do que está sendo apresentado, vale ressaltar que para existir espaço tem imediatamente que existir um corpo seja ele indissociável ou não, pois será este corpo a ocupar um determinado espaço por mínimo que seja. Ainda seguindo a linha de raciocínio de Descartes ele afirma que: 13 Do mesmo modo que os corpos são concebidos como extensão, o espaço supostamente vazio também teria que sê-lo, uma vez que não haveria diferença entre a extensão de um corpo e a extensão do espaço; ora só pode ter extensão àquilo que contém alguma coisa, isto é, alguma coisa, isto é, alguma substância, e, portanto, o espaço vazio também teria que conter a substância extensa. (A noção de espaço em Descartes e Newton) Podemos dizer que a filosofia natural de Descartes e seu conceito de espaço começariam com a explicação do que seria a substância extensa, o corpo extenso. No entanto Descartes acreditava: Que a substância era a primeira categoria de “ser” existente no mundo e existiriam dois tipos de substâncias: a pensante e a extensa. A substância pensante se revelaria nos modos do pensamento, que são as idéias, a vontade, a imaginação, o entendimento, por exemplo. Por sua vez, a substância extensa se revelaria através da largura, altura e profundidade que pertenceriam ao corpo, isto é, a substância extensa era o próprio corpo e este era uma parte do espaço (A noção de espaço em Descartes e Newton) Alguns aspectos sobre o pensamento de Descartes levam a conclusão que o estudo sobre espaço sempre estar interligado com alguns outros termos. Autores como Newton se utilizam de concepções relevantes para o estudo da geografia como o conceito de lugar, mas não estamos à procura dessas definições, pois concentraremos nosso foco sobre as aceitações de espaço. Newton observa relações importantes, principalmente entre movimento e espaço, mas para compreendermos melhor estas definições e relações entre espaço e movimento na filosofia natural de Newton, acreditamos ser de suma importância resumir algumas bases da mesma. Como já havia mencionado, a concepção de espaço sempre vai estar relacionada à concepção de tempo e na visão de Newton, isso não seria diferente. Este autor retrata de maneira relevante os termos Espaço Absoluto e Tempo Absoluto, mas como colocamos em pauta retratará a visão deste autor sobre a noção de Espaço Absoluto sobre o qual Newton coloca: Espaço Absoluto: é o espaço que não teria relação com as coisas externas, isto é, o espaço que não dependeria dos corpos ou de outra coisa qualquer para existir. Este espaço se caracteriza pela sua imutabilidade eterna. O espaço absoluto é diferente do espaço relativo, cuja existência se dá por contraste com os corpos ou com outra coisa qualquer nele colocada (A noção de espaço em Descartes e Newton) As duas doutrinas, cartesiana newtoniana, faziam uma distinção entre corpos e espaço, porém, a diferença estava relacionada ao movimento, pois Newton 14 determinaria o movimento em relação ao espaço absoluto e não em relação à contigüidade dos corpos, como ditava Descartes. Lembramos que Newton claramente concebia a existência do espaço vazio, que seria incompatível com a possibilidade do espaço ser uma substância ou um acidente. Newton defendia a coerência da idéia de existência de um espaço totalmente vazio, visto que no espaço absoluto, deveriam existir lugares vazios e lugares ocupados. A existência destes lugares vazios era o que permitia o movimento dos corpos, visto que fazia com que o espaço fosse maleável. Deste modo, percebemos que a questão do espaço para Newton não era tão simples assim. Como já dissemos anteriormente, a extensão newtoniana confundia- se aparentemente, com o próprio conceito de espaço e justificava seu controverso atributo de absoluto: para Newton, a extensão enquanto espaço não requereria um sujeito ao qual ela pertenceria, isto é, ela não requereria uma substância extensa. Na visão de Newton o espaço era absoluto, isto é, os acontecimentos físicos que nele ocorriam não o influenciavam em nada. O espaço absoluto existiria independentemente dos corpos que o ocupavam. Portanto, se retirados os corpos, o espaço permaneceria existindo. Para Descartes, ao contrário, o espaço era relativo, o que significaria que os acontecimentos físicos que nele ocorreriam o influenciavam, causando-lhe mudanças. Segundo Newton, o espaço ou extensão, o vazio ou qualquer outra coisa teria que necessariamente estar em algum lugar. Quando o “ser” fosse postulado, o espaço seria postulado. Então, o espaço, de alguma forma, seria o resultado da existência de qualquer ser, mas também teria uma existência independente deste mesmo ser. O espaço ou extensão poderia, então, ser em parte vazio, mas não seria só vazio. Outro tópico relevante é que este conceito de espaço sempre vai destacar um próximo, mas depende muito do ponto de vista como tais estudiosos vão colocar esta concepção teórica, pois podemos perceber que espaço vai interligar-se a tempo, movimento, corpos, lugares. Mas a nossa busca é a de como essa noção se consolidou durante anos para fortalecer o estudo do espaço geográfico. 15 1.2 O conceito de espaço: enfoques pedagógicos. Nesta seção busca - se de forma simplificada como a idéia de espaço surgenos enfoques pedagógicos, levando em consideração que esta abordagem se define de maneira clara desde o nascimento e formação da criança nas primeiras fases de sua vida. Como relata – se neste trabalho, esta concepção de espaço transcende o foco geográfico, explorando de alguma maneira algumas outras ciências que recorrem a este estudo. Neste caso, aborda – se alguns autores do campo da Pedagogia, e um dos exemplos mais claros e trabalhados sobre este assunto são as obras de Jean Piaget que retratam de forma relevante como essas noções de espaço se definem desde a formação do intelecto da criança, sempre considerando como essa construção é formada ao longo dos anos, principalmente auxiliando-se com o trabalho de professores na educação infantil. Este é um dos setores mais complexos, se levarmos em conta que os enfoques sobre o espaço levam a várias diferenciações e divisões para que se possa chegar de maneira positiva a uma conclusão. Desta maneira, vamos observar que o espaço visto por autores da Pedagogia possui um foco diferenciado dos autores da Geografia, pois a formação desse espaço que se constitui desde a criança passa por várias fases, até chegar à constituição na fase mais adulta. Fases essas que consideraremos de espaço sensório-motor, espaço representativo, espaço operatório isso sem contar com as relações espaciais do tipo: topológicas, projetivas e euclidianas. O problema do espaço é muito complexo e pode ser estudado sobre vários pontos de vista. A respeito da construção do espaço pela criança, incluindo como ela percebe e representa o espaço. Como já havia sido colocado, um dos grandes autores a retratarem sobre o tema sobre essa noção de espaço desde a infância, Jean Piaget procura trabalhar em grandes obras sempre a busca de simplificar o entendimento nessa construção conceitual. A respeito das abordagens feitas por este autor, Lívia de Oliveira afirma: Entre todos os trabalhos sobre psicologia infantil, Piaget incluiu desde o inicio da década de vinte do século passado, estudos acerca do espaço: investiga a representação do espaço, assim como a do mundo, e a gênese da geometria espontânea nas crianças. Investiga também como a criança constrói a realidade, mediante o relacionamento do objeto com o espaço, e como desenvolve a formação do símbolo mediante a imitação e o jogo. A 16 preocupação de Piaget se estende aos mecanismos perceptivos e a imagem mental, atribuindo um papel importante, mas não decisivo a esses aspectos, no desenvolvimento da mente (2005, p.106) Mediante esta abordagem de Oliveira podemos reforçar que grande parte dos trabalhos propostos por Piaget confirmam que a construção da idéia de espaço vai muito mais além do que o enfoque geográfico e que esta concepção não tem inicio, nem muito menos um final e que esta noção se constrói na mente humana desde as suas primeiras fases. Seguindo a linha de raciocínio que Oliveira aborda podemos esclarecer que: Ao estudar as relações entre a percepção e a inteligência no que se refere ao espaço, Piaget afirma que inicialmente se observa na criança o aparecimento de uma percepção do espaço, para em seguida o espaço aparecer como noções pré-operatórias, e somente depois como noções operatórias. Acontece que o sujeito, no decorrer de seu desenvolvimento mental, vai estruturando os mesmos conteúdos. O problema que se coloca, portanto, é o de determinar se a noção de espaço deriva ou não da percepção correspondente (2005, p. 110) De maneira sucinta o que se pretende relacionar é a forma como a criança considera o espaço e a percepção como ela vê o que está ao seu redor, principalmente os brinquedos utilizados para reforçar a idéia de espaço. Outro autor que aborda o espaço na concepção da criança é Castrogiovanni, que afirma: A construção da noção de espaço requer longa preparação e está associada à liberação progressiva e gradual do egocentrismo. O espaço apresenta-se para a criança, do nascer aos dois anos, mais ou menos, como sendo o espaço da ação. É o espaço vivido, construído pelos deslocamentos, através do rastejar, engatinhar, andar, procurar, etc, e pelos sentidos, que estruturam as relações de próximo, dentro, fora, acima, embaixo, ao lado de, contém, está contido, etc. O espaço vivido é prático, organizado e equilibrado em nível da ação e do comportamento social (2009, p. 15 e 16) Um dos aspectos mais relacionados é o espaço sensório-motor. Este se constitui nos dois primeiros anos e é uma das conquistas mais importantes da inteligência sensório-motora. Este espaço é estruturado progressivamente, através de uma coordenação de ações cada vez mais complexas e dos deslocamentos da criança, e implica tanto funções perceptivas como motoras. É um espaço prático e vivenciado, no qual o equilíbrio se dá ao nível da ação, apesar de ser a criança, por não possuir ainda a função simbólica, incapaz de representá-lo e reconstruí-lo. O 17 espaço sensório-motor emerge do aspecto operativo do conhecimento e transcende os limites da pura percepção, da qual a criança extrai a orientação espacial. É ao redor dos dois anos de idade, com o aparecimento da função simbólica, que se diferencia o espaço sensório-motor do espaço representativo. Este tipo de espaço é reforçado pela utilização de desenhos que ajudam as crianças a se localizarem dentro de um determinado espaço conhecido também como “espaço gráfico” e não há dúvida de que o desenho constitui certo tipo de representação espacial, e assim o “espaço gráfico” é uma das formas do espaço representativo. Ainda de acordo com Castrogiovanni: O espaço representativo é formado por dois momentos: o intuitivo, manifestado por representações estáticas e irreversíveis e o operatório, que operacionaliza os elementos espaciais, possibilitando a ordenação e a reversibilidade das relações (2009, p. 16) É preciso fazer a distinção entre o espaço da ação ou perceptivo e o espaço representativo: o primeiro se constrói em contato direto com o objeto, ou seja, através dos sentidos. Já o espaço representativo é construído na ausência do objeto, portanto é reflexivo. Inicialmente a construção do espaço se prende a um espaço sensório-motor ligado a percepção e a motricidade. Este espaço sensório- motor emerge dos diversos espaços orgânicos anteriores, como o postural, o bucal, o tátil, o locomotor, etc. O espaço sensório-motor não é constituído por simples reflexos, mas por uma interação entre o organismo e o meio ambiente, durante a qual o sujeito se organiza e se adapta continuamente em relação ao objeto. Em seguida, a construção do espaço passa a ser representativa, coincidindo com o aparecimento da imagem e do pensamento simbólico, que são contemporâneos ao desenvolvimento da linguagem. Seguindo a projeção deste trabalho não podemos desconsiderar os tipos de relações espaciais. Segundo Oliveira: As primeiras operações espaciais engendradas pela criança são topológicas, a partir delas é que são estabelecidas simultaneamente as relações projetivas e euclidianas. O espaço operatório, coerente com todo o desenvolvimento mental, também se apresenta de início baseado em estruturas operatórias concretas e depois em estruturas operatórias formais (2005, p. 115) A criança concebe topologicamente o espaço. Este espaço é para a mesma uma reunião de espaços fragmentários e distintos. Ela ainda não é capaz de situar os objetos uns em relação aos outros segundo um plano de conjunto. As fronteiras 18 deste espaço são fixadas, assim, pelo campo de experiência particular da própria criança. Para que ela disponha de estruturas espaciais acabadas, é preciso que considere as distâncias objetivas e os pontos de vista possíveis, coordenando esses espaços parcelados em espaço total. O processo de construção do espaço, como se deduz do exposto, é um longo caminho que procede da ação para aoperação. 1.3 A noção de espaço no ensino Ao tratarmos da noção de espaço no próprio ensino de geografia não podemos deixar de levarmos em consideração a temática elaborada para a construção do conhecimento em cima das bases do ensino de geografia principalmente no Brasil. De início, segundo alguns levantamentos, visualizamos algumas dificuldades na introdução do estudo da Geografia, pois percebemos que esta disciplina era ministrada juntamente com a História. Ambas formavam uma disciplina em comum chamada de Estudos Sociais. Novamente percebemos que a Geografia está atrelada a outras ciências partindo do fato que o ensino de Estudos Sociais era feito por professoras da Pedagogia, reforçando que durante algum tempo o ensino de Geografia foi prejudicado, pois estas professoras não tinham a formação necessária para a transmissão de algumas concepções geográficas. Só a partir do final dos anos de 1970 é que podemos perceber a mudança nessa grade curricular, isso levando em consideração a extinção gradativa da disciplina Estudos Sociais fazendo, no entanto com que Geografia e História fossem estudadas separadamente. Nessa mesma época intensificam-se os movimentos sociais para que se restabeleça a democracia no país, levando em conta que houve um aumento significativo das discussões relacionadas à educação de forma geral e especificamente com relação à Geografia. Neste período as teorias críticas ficaram em maior evidência. O movimento de renovação geográfica, que já vinha sendo gestado lentamente, toma corpo e as teorias críticas ganham impulso tanto na Geografia como na Pedagogia. Assim, nesse processo de redemocratização os conhecimentos escolares passaram a ser questionados e as lutas de profissionais dentro da sala de aula de todos os níveis educacionais ganham maior expressão. Diante do contexto apresentado sobre o ensino de Geografia durante as últimas décadas do século passado no Brasil, não podemos esquecer nosso foco 19 sobre a construção da noção de espaço que a abordagem principal. Como já havia sido elucidada anteriormente a noção de espaço passa pelo aspecto cognitivo da criança desde seu nascimento até a formação básica deste conceito em um mundo que o circunda. Em alguns aspectos, para melhor compreensão do ensino de Geografia não podemos deixar de lado a questão da percepção do espaço. Esta mesma percepção eleva de forma significativa a maneira como o aluno estuda seu espaço geográfico e da mesma forma procura formar-se enquanto cidadão crítico. A formação de um cidadão crítico também se eleva pela forma como o mesmo visualiza seu espaço, levando em conta que este espaço se torna o espaço vivido onde é transformado segundo as leis vigentes do capitalismo. O educando procura ver de forma clara como seu espaço vivido é transformado ao longo dos anos dentro do aspecto geográfico. Desta forma, além de desenvolver a capacidade de análise pelo educando, o de se compreender como sujeito histórico na organização do espaço geográfico e de forma ativa, contribuir significativamente para torná-lo protagonista do processo de ensino-aprendizagem. A partir do momento que o conhecimento geográfico a ser desenvolvido vem de sua vivência, da sua percepção como sujeito histórico e social em relação à sociedade ou sua comunidade. O conhecimento não é imposto ao educando, mas desenvolvido a partir de sua realidade, de sua vivência. Ensinar Geografia pressupõe desenvolver e ampliar a capacidade de “leitura do mundo”, do espaço geográfico, para que o educando possa compreender através de sua vivência as múltiplas relações sociais e naturais que se estabelecem no espaço geográfico. Alflen e Borsato priorizam bem esta visão sobre a percepção do educando sobre espaço. Segundo os autores: A análise de como o educando compreende o seu espaço de vivência pressupõe uma metodologia que possa, de forma mais afetiva, dar conta de vários fatores que se interpõe no espaço geográfico (sociais, econômicos e políticos) e principalmente na forma como conhecimento subjetivo do aluno, e a percepção deles pode estar permeada pelo aprendizado cultural e pelo imaginário pessoal e coletivo. Neste sentido, uma proposta de geografia que analisa o espaço de vivência do educando contribui de forma mais eficaz para o ensino desta ciência (ALFLEN e BORSATO, p. 5 e 6) A compreensão que os educandos possuem do seu espaço de vivência não é estruturada, pois percebem este espaço de maneira particular e subjetiva, não 20 constituindo uma noção correta desta organização espacial, historicamente construído sob a perspectiva da classe dominante. Para se buscar uma ampla compreensão geográfica do espaço, o ensino da geografia tendo como referência o espaço de vivência é necessário que se tenha a compreensão de como o educando percebe o seu espaço de vivência. Essa compreensão não é tarefa fácil, uma vez que a percepção do espaço e dos objetos espaciais é sempre individual e subjetiva, embora a percepção dos mesmos seja, provavelmente, comum a todos os indivíduos. Seguindo essa linha de raciocínio, Cavalcanti (1998) aborda de maneira clara a temática do ensino de geografia no âmbito da constituição do espaço geográfico. Segundo a renomada pesquisadora: Há um certo consenso entre os estudiosos da prática de ensino de que esse papel é o de prover bases e meios de desenvolvimento e ampliação da capacidade dos alunos de apreensão da realidade sob o ponto de vista da espacialidade, ou seja, de compreensão do papel do espaço nas práticas sociais e destas na configuração do espaço (1998, p. 11) O pensar geográfico contribui para a contextualização do próprio aluno como cidadão do mundo, ao contextualizar espacialmente os fenômenos, ao conhecer o mundo em que vive desde a escala local a regional, nacional e mundial. O conhecimento geográfico é, pois, indispensável à formação de indivíduos participantes da vida social à medida que propicia o entendimento do espaço geográfico e da importância deste espaço nas práticas sociais, pois a construção e reconstrução do conhecimento geográfico pelo aluno ocorrem tanto na escola como fora dela também, ou seja, onde consideramos “espaço de vivência”. A Geografia defronta-se assim, com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. Com o avanço das técnicas, a maior e mais acelerada circulação de mercadorias, homens e idéias distanciam os homens do tempo da natureza e provocam certo encolhimento do espaço de relação entre eles. Cavalcanti (1998) defende a idéia do ensino de geografia ser de fundamental importância para a construção do conhecimento. Isso porque a geografia, assim como as demais ciências ajuda a fortalecer e construir um cidadão cada vez mais crítico. A autora infere que: 21 As propostas de reformulação do ensino de Geografia também têm em comum o fato de explicitarem as possibilidades da Geografia e da prática de ensino de cumprirem papeis politicamente voltados aos interesses das classes populares. Nessa perspectiva, os estudiosos alertam para a necessidade de se considerar o saber e a realidade do aluno como referência para o estudo do espaço geográfico. O ensino de geografia, assim, não se deve pautar pela descrição e enumeração de dados, priorizando apenas aqueles vivíveis e observáveis na sua aparência (na maioria das vezes impostos à memória dos alunos, sem real interesse por parte destes). Ao contrário, o ensino deve propiciar ao aluno a compreensão do espaço geográfico na sua concretude, nas suas contradições (1998, p. 20) O ensino de geografia, assim como das demais ciências, fortalece o saber crítico do cidadão, mas ensinar geografia não é uma tarefa tão fácil, pois levamos em consideração como esse espaço geográfico é percebido pelo aluno diante das várias mudanças ocorridas durante o tempo pela sociedade moderna. Nesta direçãoCavalcanti considera que: A finalidade de ensinar Geografia para crianças e jovens deve ser justamente a de ajudá-los a formar raciocínios e concepções mais articulados e aprofundados a respeito do espaço. Trata-se de possibilitar aos alunos a prática de pensar os fatos e acontecimentos enquanto constituídos de múltiplos determinantes; de pensar os fatos e acontecimentos mediante várias explicações, dependendo da conjugação desses determinantes, entre os quais se encontra o espacial. A participação de crianças e jovens na vida adulta seja no trabalho, no bairro em que moram, no lazer, nos espaços de prática política explícita, certamente será de melhor qualidade se estes conseguirem pensar sobre seu espaço de forma mais abrangente e crítica (1998, p. 24) Saber pensar o espaço é prerrogativa para o desenvolvimento do pensamento crítico e este raciocínio nos coloca diante das possibilidades de atuar de forma consciente. De pensar a realidade a partir de outra lógica, que não seja apenas a da produção capitalista do espaço, mas da construção de um espaço humano e solidário para o desenvolvimento das potencialidades humanas e cidadãs. 1.4 A construção da idéia de espaço: aspectos cartográficos A alfabetização cartográfica consiste no processo de construção de conhecimentos no que se refere ao entendimento do uso de mapas e plantas, ou seja, compreende uma série de aprendizagens para que os alunos prossigam sua formação nos elementos de representação gráfica, para posteriormente, trabalhar com a representação cartográfica. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o 22 objetivo maior é orientar e preparar o aluno para que possa interpretar o mapa, produzir interpretações do mundo através da escrita, como também de imagem, desenhos, plantas, entre outros. O ensino de Geografia é imprescindível na vida do ser humano, pois é de fundamental importância para compreender as transformações que acontecem no mundo levando em consideração a relevância de outras disciplinas. A percepção dos componentes da paisagem local e de outras paisagens pode se ampliar na medida em que o aluno aprende a observar de forma intencional e orientada. Observa-se desta maneira que o estudo cartográfico deveria ser trabalhado desde o início da escolaridade, contribuindo para que os alunos não só compreendam, mas que utilizem os materiais como mapas, bússolas e que também desenvolvam a capacidade de representar o espaço. Assim, a atividade cartográfica nasceu como manifestação de uma utilidade imediata e sobre a pressão de necessidades, tais como a de saber onde está e que relações espaciais pode-se estabelecer. Neste sentido, Almeida e Passini alegam que: O professor deve estar consciente de que o espaço próximo para ser analisado precisa ser abordado em sua relação com outras instâncias espacialmente distantes. Nesse processo, a realidade é o ponto de partida e de chegada. De sua observação o aluno deve extrair elementos sobre os quais deve refletir e a partir disso ser levado à construção de conceitos (2001, p. 12 e 13) Desta maneira, a cartografia se fundamenta na leitura e representação espacial permitindo, pois a visualização maior do espaço, onde ao aluno entenderá como está inserido nele podendo ser local, regional e global. O professor constitui, assim, um ponto fundamental no que diz respeito à construção desse conhecimento, pois se leva em consideração a percepção do aluno sobre o seu meio geográfico. A partir desses levantamentos cartográficos feito por esses alunos percebe-se que um ponto relevante seria o estudo e compreensão de mapas que pode ser feito de maneira gradativa ao longo do processo ensino – aprendizagem. A cartografia representa um recurso fundamental para o ensino e a pesquisa de geografia, pois, possibilita a representação dos diferentes recortes do espaço e na escala que convém para o ensino. Através de mapas e outros recursos saberá distinguir os mais diferentes e distantes locais, possibilitando uma visão mais crítica da realidade a qual pertence. A respeito dessa percepção e estudo de mapas na cartografia Almeida e Passini alertam: 23 Ora, a compreensão do mapa por si mesma já traz uma mudança qualitativamente superior na capacidade do aluno pensar o espaço. O mapa funciona como um sistema de signos que lhe permite usar um recurso externo à sua memória, com alto poder de representação e sintetização (2001, p. 13) Sob este referencial, a representação do espaço através de mapas permite ao aluno atingir uma nova organização estrutural de sua atividade prática e da concepção do espaço, mas isso só ocorrerá se o aluno participar ativamente do processo de (re) construção do conhecimento de forma que esse processo seja acompanhado pelo profissional competente, neste caso o professor. Conhecer como a criança percebe o espaço e como ela se concebe dentro deste espaço, que é onde se dão as relações sociais, é importante nas intervenções em sala, pois possibilitam intervenções significativas no processo de desenvolvimento dessas habilidades espaciais, leitura e construção de mapas, legendas e também outros ramos neste campo do conhecimento. Sendo assim, os conhecimentos cartográficos, a localização e a orientação quando bem direcionada pelo educador, permitirá ao aluno atingir, ou seja, alcançar uma nova organização e configuração do espaço, desde que identifique as diferenças entre os espaços representados através dos mapas, plantas entre outros. O estudo de diferentes imagens, representações e linguagens são formas de provocar hipóteses que levam a manifestações, análises e interpretações da formação do espaço e, portanto, da construção de conceitos geográficos. A cartografia, ferramenta indispensável nos estudos e compreensões geográficas, emprega uma linguagem que possibilita sintetizar informações sempre associada à idéia da produção, organização e distribuição dos elementos que compõem o espaço. A percepção espacial de cada sujeito ou sociedade é resultado também de relações de afetividade e interação sócio – cultural. 1.5 Espaço: concepções teóricas A abordagem deste trabalho levará em conta a concepção que o conceito de espaço poderá contribuir de forma significativa para a construção do conhecimento geográfico do aluno de ensino fundamental. Levando em consideração a visão que alguns autores possuem sobre esta concepção teórica, até a forma como a 24 abordagem deste tema é considerado na prática pedagógica no próprio ensino de geografia. De início procuraremos discorrer sobre o objeto da Geografia e um dos principais obstáculos em definir seu próprio objeto de estudo, mas de fato coloca-se – o que é Geografia? Um termo simples, mas que vêm carregado de enorme polêmica, e isto se manifesta na indefinição do objeto desta ciência. Segundo Moraes: alguns autores definem a geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois a superfície da Terra é a teatro privilegiado de toda reflexão científica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só disciplina. Esta indefinição do objeto apóia-se no próprio significado etimológico do termo Geografia – descrição da Terra (1999, p. 13). Seguindo esta indefinição do objeto, outros autores tais como Antônio Carlos Robert Moraes (1999), Ruy Moreira (2005), Michel Foucher (1989) que aqui será citado por José William Vesentini, vão trazer outras definições ou indefinições sobre seu objeto de estudo. Alguns autores abordam a geografia como o estudo da paisagem, a análise geográfica para estes autores estaria restrita aos aspectos visíveis do real. Já outra proposta encontrada é a daqueles autores que propõem a Geografia como estudo da individualidade dos lugares. Existem ainda autores que buscam definir a Geografia como estudodo espaço e nesse estudo que o trabalho aqui apresentado abordará de forma mais ampla. De acordo com Moraes: [...] Para estes, o espaço seria passível de uma abordagem específica, a qual qualificaria a análise geográfica. Tal concepção na verdade minoritária e pouco desenvolvida pelos geógrafos, é bastante vaga e encerra aspectos problemáticos. O principal deles incide na necessidade de explicitar o que se entende por espaço – questão polêmica, ao nível da própria filosofia (1999, p. 17) Por fim, procura-se definir o objeto da geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, posto de outra forma, entre a sociedade e a natureza. Outros procurarão definir o objeto como a ação do homem na transformação deste meio, invertendo totalmente a concepção anterior, dando o peso da explicação aos fenômenos humanos. No que diz respeito, às várias indefinições do objeto de estudo da geografia, podemos ressaltar que o surgimento desse rótulo é bastante antigo, sua origem remonta à Antiguidade Clássica, mais precisamente ao pensamento grego. Moraes 25 afirma que já se delineavam algumas perspectivas distintas de geografia ao nível do pensamento grego como, por exemplo: com Tales e Anaximandro, privilegia a medição do espaço e a discussão da forma da Terra, englobando um conteúdo hoje definido como da Geodésia; outra com Heródoto se preocupa com a descrição dos lugares, numa perspectiva regional. Isto para não falar daquelas discussões, hoje tidas como geográficas, mas que não apareciam sob esta designação, como a relação entre o homem e o meio, presente em Hipócrates, cuja principal obra se intitula Dos ares, dos mares e dos lugares (MORAES, 1999, p. 32). Até o final do século XVIII, não era possível falar de conhecimento geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática, e de continuidade nas formulações. Segundo Moraes: [...] designam-se como Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, sobre os continentes e os países do Globo (1999, p. 34) A geografia científica, tal como hoje é conhecida e popularizada a partir da escola, nasceu no período de 150 anos que se estende a partir de 1750. Mas é filha, sobretudo do século XIX. Nasceu entre os alemães Kant, Humboldt, Ritter e Ratzel, entre os mais proeminentes. No contexto geral, a geografia segundo Moreira: apresenta-se como ‘ciência de síntese’, participando de seu discurso os processos produtivos como a administração da natureza e dos homens, costurando a unidade da produção e do poder com os fios fornecidos precisamente pelas teorias que os geógrafos consideram estranhas ao seu saber (2005, p. 18). Com Humboldt e Ritter nasce a geografia científica, sendo por isto denominados os precursores da geografia moderna. Nasce a geografia acadêmica, isto é, a geografia produzida a partir dos centros universitários e ensinada nas escolas. A geografia que temos hoje em nossas escolas e universidades é a geografia por eles sistematizada, sob a versão que lhe dará a “escola francesa” nos fins do século XIX e início do século XX. O ensino da geografia é de fundamental importância para a colocação dos conceitos-chave da geografia, principalmente o conceito de espaço, segundo o qual será abordado neste trabalho, mas assim como 26 outras ciências, o ensino de geografia apresenta algumas dificuldades, segundo Foucher: Antes da criação desse bloco ‘ciências humanas’, podíamos facilmente explicar que a crise da geografia se devia a sua dificuldade de se dar conta da organização e da evolução do mundo contemporâneo. A história do século XX, a economia e até mesmo a sociologia eram consideradas mais eficazes pela maioria dos docentes (1989, p. 14). Com os novos programas, o risco de escamotear (furtar/ roubar) a aprendizagem em sala de aula dos raciocínios geográficos é ainda maior. Mesmo que o ajustamento de uma nova tentativa esbarre em dificuldades epistemológicas reais, afirmar posições progressistas e recusar estudar geografia é ignorar que ela é fundamentalmente um saber estratégico, parte importante do exercício dos poderes. Os alunos, futuros cidadãos, encontram-se desprovidos de instrumentos de raciocínio sobre o espaço, isto é, sobre os lugares de vida: os seus, os nossos, os dos outros. Do lado dos alunos existe, incontestavelmente, uma “necessidade” de geografia. Freqüentemente o professor é solicitado a explicar tal ou tal acontecimento da atualidade, que tem como contexto tanto o planeta, quanto a nação, os Estados ou as regiões. Como toda ciência a geografia possui alguns conceitos-chave, capazes de sintetizarem a sua objetivação, isto é, o ângulo específico com que a sociedade é analisada, ângulo que confere à geografia a sua identidade e a sua autonomia relativa no âmbito das ciências sociais. Como ciência social a geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos- chave que guardam entre si forte grau de parentesco, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território. Um dos conceitos trabalhados e o primordial a respeito da geografia é a discussão sobre o espaço. De acordo com Corrêa: a palavra espaço é de uso corrente, sendo utilizada tanto no dia-a-dia como nas diversas ciências, adicionalmente tem o seu uso associado indiscriminadamente a diferentes escalas, global, continental, regional, da cidade, do bairro, da sua casa e de um cômodo no seu interior (2009, p. 15). 27 Entre as duas correntes da geografia, a geografia tradicional e a geografia crítica, destaca-se que a geografia tradicional em suas diversas versões privilegiou os conceitos de paisagem e região, em torno deles estabelecendo-se a discussão sobre o objeto da geografia e a sua identidade no âmbito das demais ciências. De acordo com Moraes (1990) apud Corrêa (2009, p. 18), “o espaço em Ratzel é visto como base indispensável para a vida do homem, encerrando as condições de trabalho, quer natural, quer aqueles socialmente produzidos”. Como tal, o domínio do espaço transforma-se em elemento crucial na história do homem. Ratzel desenvolve assim dois conceitos fundamentais em sua antropogeografia, o conceito de território e de espaço vital. O primeiro vincula-se à apropriação de uma porção do espaço por um determinado grupo, enquanto o segundo expressa às necessidades territoriais de uma sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos recursos naturais. O espaço transforma-se, assim, através da política, em território, em conceito-chave da geografia. “Hartshorne (1939) apud Corrêa (2009, p. 18)”, por sua vez, admite que conceitos espaciais sejam de fundamental importância para a geografia, sendo a tarefa dos geógrafos descrever e analisar a interação e integração de fenômenos em termos de espaço. O espaço na visão hartshorniana é o espaço absoluto, isto é, um conjunto de pontos que tem existência em si, sendo independente de qualquer coisa. Já no âmbito dos debates da geografia crítica o espaço reaparece como o conceito-chave. Debate-se, de um lado, se na obra de Marx o espaço está presente ou ausente e, de outro, qual a natureza e o significado do espaço. A identificação das categorias de análise do espaço é outra preocupação dos geógrafos críticos. O espaço aparece efetivamente na análise marxista a partir da obra de Henri Lefébvre. Em seu Espacio y Política argumenta que o espaço “desempenha um papel ou uma função decisiva na estruturação de uma totalidade, de uma lógica, de um sistema”. “(LEFÉBVRE, 1976 apud CORRÊA, 2009, p. 25)”.O espaço entendido como espaço social, vivido, em estreita correlação com a prática social não deve ser visto como espaço absoluto, “vazio e puro, lugar por excelência dos números e das proporções” (LEFÉBVRE, 1976 apud CORRÊA, 2009, p. 25), nem como um produto da sociedade, “ponto de reunião dos objetos produzidos, o conjunto das coisas que ocupam e de seus subconjuntos, efetuado, objetivado, portanto funcional” (LEFÉBVRE, 1976 apud CORRÊA, 2009, p. 25). 28 O espaço também não é um instrumento político, um campo de ações de um indivíduo ou grupo, ligado ao processo de reprodução da força de trabalho através do consumo. Segundo Lefébvre, o espaço é mais do que isto, engloba esta concepção e a ultrapassa. O espaço é lócus da reprodução das relações sociais de produção. A noção de espaço no que diz respeito à visão de alguns autores leva a um debate sem final exato, pois tal tema se torna relevante para a construção das noções do nosso dia a dia, e um desses autores que procuram abordar de maneira ampla a questão do espaço é Milton Santos. Para o autor: Objeto da preocupação dos filósofos desde Platão e Aristóteles, a noção de espaço, todavia, cobre uma variedade tão ampla de objetos e significações – os utensílios comuns à vida doméstica, como um cinzeiro, um bule, são espaço; uma estátua ou uma escultura, qualquer que seja a sua dimensão, são espaço; uma casa é espaço, como uma cidade também o é. Há o espaço de uma nação – sinônimo de território, de crosta do nosso planeta; e há igualmente, o espaço extraterrestre, recentemente conquistado pelo homem, e, até mesmo o espaço sideral, parcialmente um mistério. (2008, p. 150) Levando em consideração as várias vertentes utilizadas por esses autores a respeito da noção de espaço, isso nos leva a crer que este conceito está sempre em constante mudança e que, no entanto, envolve toda uma questão conjuntural que vai desde o mais simples das funções até a sua totalidade. Santos afirma: O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares. (2008, p.153) Este conceito constitui a base para a construção deste trabalho. Será considerado na sua dimensão de intervenção no nosso cotidiano. Assim, espera-se mostrar de forma sucinta como a geografia é importante no nosso dia-a-dia, e trazer sempre a reflexão a respeito deste tema. De acordo com Moreira (2005, p. 58) “a geografia é um saber vivido apreendido pela própria vivência. Um saber que nos põe 29 em contato direto com nosso mundo exterior, com o seu todo e com cada um de seus elementos, a um só tempo”. Esta pesquisa tem a finalidade de mostrar como a compreensão da noção de espaço se torna importante para a construção do conhecimento geográfico. O objetivo não é trabalhar conceito pronto já definido, mas abordar tal concepção teórica em vários autores e ciências, demonstrando que cada ramo que aborda este tema retrata de maneira complexa a visão sobre espaço. Nesse caso a ciência geográfica contribui de forma significativa para a construção, compreensão e formação do conhecimento geográfico desses alunos, pois de maneira positiva ajuda a fortalecer o aspecto crítico que tais estudantes podem formar como cidadãos, a partir do momento que compreendem de maneira mais fácil como as transformações no seu espaço geográfico acontecem. 30 2 UNIDADE ESCOLAR JÚLIA NUNES ALVES: DIAGNÓSTICO ACERCA DA NOÇÃO DE ESPAÇO NO ENSINO DE GEOGRAFIA O presente trabalho procurará retratar alguns aspectos referentes às escolas de ensino público da rede estadual de ensino, enfocando de que maneira o tema sugerido em questão será trabalhado em sala de aula. As escolas da rede estadual de ensino de Teresina serão o nosso principal foco, trabalhando de maneira mais incisiva com a Unidade Escolar Júlia Nunes Alves. A Unidade Escolar Júlia Nunes Alves, localizada na Avenida Gilbraltar S/N no bairro Dirceu Arcoverde I, atende alunos do próprio bairro e de regiões vizinhas. São alunos que se enquadram na classe baixa até a classe média baixa. A escola oferece o Ensino Fundamental, nos turnos manhã e tarde e Ensino médio que somente foi implantado no ano de 2004 nos turnos tarde e noite. A área a qual pertence à escola em questão pode ser caracterizada como um pólo de ensino o qual oferece a comunidade do Dirceu Arcoverde I os Ensinos Fundamental, Médio e Superior. O que nos permite tal afirmação é o fato da Unidade Escolar Júlia Nunes Alves estar localizado próximo de mais duas escolas de Ensino Fundamental e Médio que são elas a Unidade Escolar Odylo de Brito Ramos e Unidade Escolar Maria do Carmo Reverdosa e a Universidade Estadual do Piauí (UESPI). A escola foi inaugurada em 28 de março de 1978 no governo de Dirceu Mendes de Arcoverde e na gestão do então Secretário de Educação Luis Gonzaga Pires sendo neste período o Secretário de Obra senhor Carlos Burlamaqui da Silva. Sua fundação ocorreu um ano após a inauguração do conjunto Dirceu Arcoverde I, justamente para atender aos anseios da nova comunidade que se formava. A direção da Unidade Escolar Júlia Nunes Alves é composta pelo diretor Tarcízio Pires Soares, Vice-Diretora, Francineth Medeiros S. Melo e a Coordenadora Marlene Lima da Chagas, todos escolhidos de forma democrática por meio de eleições diretas. Essa instituição de ensino também atende nos turnos manhã e tarde alunos que fazem parte do Programa MAIS EDUCAÇÃO do Governo Federal. Em relação a sua infra-estrutura apresenta-se bem definida em 05 blocos de salas, sendo 04 deles utilizados inteiramente como salas de aula e o primeiro bloco se constitui em: sala dos professores, biblioteca, sala do Programa Mais Educação e a sala de informática. Em uma visão geral podemos perceber que a escola possui 31 uma razoável estrutura. Como exemplo podemos citar o fato de que apesar da escola ter condições de acessibilidade elas ainda não chegaram em todas as dependências. A escola em questão possui um grande atrativo para que graduandos possam elaborar pesquisas nesta unidade de ensino, pois a organização demonstrada pela escola eleva ainda mais a procura destes pelo ensino. Dessa forma, buscou-se analisar essa noção de espaço através da solução de alguns questionamentos. De que maneira a compreensão da noção de espaço colabora para a construção do conhecimento destes alunos de ensino fundamental; Analisando a construção deste conceito sobre o ensino de geografia; Verificando a aplicabilidade deste conceito no cotidiano destes alunos. Para diagnosticar a situação atual referente à noção de espaço no ensino de geografia empregou-se a técnica da documentação direta, por meio da pesquisa de campo, utilizando-se como instrumental de pesquisa o questionário aplicado para docentes e discentes da escola da rede estadual de ensino para a coleta de dados. O universo deste estudo é constituído de 349 alunos e 10 professores, tendo como amostra somente 160 alunos. A elaboração dos dados foi realizada com base na tabulação e levantamento percentual destes, adotando-se o método matemático-estatístico. Este procedimento permitiu a disposição dos dados coletados em gráficos, aos quais se farão referências no decorrer da análise que se segue (ver apêndice A e B). Com base na pergunta nº01 (ver apêndice A), 80% dos professores é do sexo masculino e 20% do sexo feminino, como mostrado no gráfico abaixo. Este fato reflete que o nível de escolaridade do ensino fundamental II ainda apresenta superioridade masculina, levando em conta que o mercado de trabalho para o sexo feminino ainda é restrito. 32 Gráfico 1 - Professores, segundo o sexo 80% 20% Masculino Feminino Fonte: Pesquisa Direta, mai /2012 Com base na pergunta nº 02 (ver apêndice A), constata-se que 20% dos professores entrevistados ainda estão concluindo o curso ou no caso (graduandos), 40% já concluíram (graduados) e 40% já apresentam pós-graduação. Portanto, aprimorar o conhecimento tem sido a busca constante de alguns professores, evidenciando claramente a necessidade de se pensar geografia com o aspecto multidisciplinar, tendo em vista que grande parte dos entrevistados opta por ramificações da própria Pedagogia (Psicopedagogia). Gráfico 2 - Formação Acadêmica – Professores 20% 40% 40% Graduando Graduado Pós - Graduação Fonte: Pesquisa Direta,mai/ 2012 33 Com relação ao tempo de atuação percebe-se no gráfico nº 03 que os professores apresentam muita experiência no que diz respeito do tempo de sala de aula, pois 40% dos entrevistados estão no magistério de 1 a 3 anos, 20% de 5 a 10 anos e 40% de 10 anos ou mais. Constata-se, no entanto uma bagagem educacional relevante para se transmitir este conceito de espaço. Gráfico 03 - Tempo de Atuação Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Conforme a pergunta nº 04 (ver apêndice A), 40% dos professores entrevistados possuem formação acadêmica da Universidade Federal do Piauí (UFPI), 60% se formaram pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Diante disso, é possível afirmar a credibilidade das instituições públicas frente ao ensino em nosso Estado. 34 Gráfico 04 - Instituição de Origem Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 A respeito das séries trabalhadas, percebe-se que 100% dos professores entrevistados ministram aulas para alunos de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II, 80% para alunos de 1ª a 3ª séries do Ensino Médio e 40% ministram aulas para graduandos do Ensino Superior como demonstrado no gráfico nº 05. Ressalta-se desta forma a necessidade de ministrar aulas em várias turmas, pois percebe-se que a remuneração é insuficiente para a satisfação dos professores entrevistados neste trabalho. Gráfico 05 - Séries Trabalhadas Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 35 Ainda seguindo o questionário foi perguntado aos professores se abordam o conceito de espaço em suas aulas, 100% dos entrevistados responderam que sim. Demonstrando desta forma que este conceito é relevante principalmente para a construção deste conhecimento, pois alguns dos entrevistados colocaram a noção de espaço como algo muito “subjetivo”. Quando perguntados aos professores quais recursos utilizavam para abordar o conceito de espaço, ficou bem claro que os entrevistados se reportavam de mais de um recurso. 60% dos entrevistados responderam que utilizam Data Show, 20% se restringem a Globos e Mapas, 80% preferem o Quadro Acrílico e 60% destes abordam de maneira diferenciada, repassando vídeos, músicas, por exemplo, como pode ser observado no gráfico nº07. Gráfico 07 - Recursos Utilizados Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 De acordo com as informações obtidas com a pergunta de nº 08 (ver apêndice A), pode-se observar como mostrado no gráfico nº 08, que os professores utilizaram mais de uma metodologia; 100% dos entrevistados optam por adotar o conceito de espaço com aulas expositivas; 40% utilizam alguma dinâmica; 40% fazem leitura com seus alunos e 60% propõem algum tipo de atividade. Confirma desta maneira que existem vários meios para se abordar de forma simples e compreensível a noção de espaço. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Data Show Globo e Mapas Quadro Acrílico Outros 36 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Aula Expositiva Dinâmicas Leitura Atividades Gráfico 08 - Metodologia Adotada Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Levando em conta o questionário aplicado, os professores entrevistados concordam plenamente que os alunos conseguem assimilar muito bem as explicações sobre o conceito de espaço, pois segundo o que alguns relataram esta abordagem se torna significativa, procurando ver o lado subjetivo do aluno. No que tange ao livro didático adotado na escola foi unânime a aceitação do livro de José William Vesentini – Geografia Crítica – apesar de alguns não concordarem com a escolha, colocando que o autor em questão retrata de forma bem superficial e subjetiva este tema aqui adotado. A abordagem deste conceito ainda deixa a desejar, pois segundo o que alguns professores relataram falta a aproximação do conteúdo adotado pelo livro didático com a realidade do aluno, no entanto a importância da noção/ estruturação do conceito de espaço se torna muito relevante para estes alunos. A maior dificuldade sentida pelos professores ao repassar este conteúdo se restringe a própria subjetividade do tema, pois pode-se levar em consideração todos os aspectos relevantes do seu meio geográfico o que vai reforçar ainda mais a construção deste conceito no cotidiano do próprio aluno. Neste segundo trecho da análise a seguir, levamos em consideração o questionário aplicado a alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental II (ver apêndice B), no qual iremos retratar os dados levantados utilizando alguns termos para evitarmos repetições no decorrer do trabalho. Definiremos de amostra A (6º 37 ano), amostra B (7º ano), amostra C (8º ano) e amostra D (9º ano). Tendo em vista que no gráfico nº 09, relacionado à faixa etária, demonstra-se que na amostra A 10% destes alunos se inserem na faixa de 7 a 10 anos, 90% de 10 a 12 anos. Já na amostra B 40% destes alunos se inserem na faixa de 10 a 12 anos e 60% de 12 a 14 anos. Na amostra C 95% estão inclusos na faixa de 12 a 14 anos e somente 5% se encontram acima dos 14 anos. Já na amostra D 90% se encaixam na faixa de 12 a 14 anos e 10% com 14 anos ou mais. Como pode ser observado no gráfico nº 09. Gráfico 09 - Faixa Etária – Alunos Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Na pergunta de nº 02 (ver apêndice B) relacionado a estes alunos da pesquisa, procurou-se por em questão se existe ou não gosto pela disciplina, já que para muitos a Ciência Geográfica ainda é uma disciplina decorativa. Nos dados retratados em seguida pode-se perceber que na amostra A 50% gostam da disciplina, 45% responderam que às vezes não e somente 5% optaram por não gostar da disciplina, por alguma dificuldade ou outra. Já na amostra B 45% dizem que gostam da disciplina, 45% responderam que às vezes, e somente 10% não suportam a disciplina. Na amostra C e D 55% gostam da disciplina e 45% responderam que às vezes gostam. Conclui-se que a disciplina ainda gera certa curiosidade nestes alunos, mas falta situá-los no seu próprio contexto geográfico, como pode ser observado no gráfico nº 10. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano 7 a 10 anos 10 a 12 anos 12 a 14 anos 14 anos ou mais 38 Gráfico 10 - Identidade pela Disciplina 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano sim não as vezes Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Com relação à própria definição do espaço geográfico na visão destes alunos, constata-se que na amostraA 45% conseguem definir, 30% responderam que não sabem distinguir o espaço geográfico e 25% colocaram que talvez saibam diferenciar. Já na amostra B, 50% responderam que não conseguem definir o espaço geográfico, 25% já sabem e os outros 25% talvez consigam. Na amostra C, 40% definem bem o espaço em questão, 45% talvez consigam esta definição e somente 15% não conseguem. No entanto, na amostra D 50% sabem definir espaço geográfico, 45% talvez e apenas 5% não sabem distinguir. A queda mais acentuada se restringe a amostra B, pois é uma série onde o trabalho procura ficar restrito aos estudos sobre alguns aspectos da Geografia do Brasil, como se observa no gráfico abaixo nº 11. 39 Gráfico 11- Definição de Espaço Geográfico Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Conforme a pergunta de nº 04 (ver apêndice B) direcionado aos alunos em questão, procurou-se observar se o professor aborda ou já abordou algum conteúdo sobre o espaço. Desta forma podemos chegar às seguintes conclusões mediante o gráfico nº 12 apresentado abaixo. Na amostra A 80% concordam que o professor já abordou este conceito, 15% não se lembram deste conteúdo e 5% relataram que às vezes é abordado. Já na amostra B 55% não se lembram do professor abordar o conteúdo, 40% assinalaram que já foi abordado e somente 5% relatam que o professor nunca abordou. Com relação à amostra C 45% não se lembram do professor trabalhar este conteúdo, 40% retratam que já foi abordado, 10% dizem que às vezes e somente 5% trazem que faz muito tempo que este conteúdo não é trabalhado. E por último na amostra D, 85% concordam que já foi retratado este assunto e 15% dizem que faz tempo que já se abordou este assunto. Conclui-se desta forma que o professor em algum momento trabalhou este conteúdo, mas que pelo fato da subjetividade do termo – Espaço – acaba se tornando algo muito distante do aluno, pelo fato de ainda não saber distinguir essas transformações que podem ou não ser observados no seu cotidiano. 40 Gráfico 12 - Aborda conteúdo sobre Espaço Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Nas informações obtidas com a pergunta de nº 05 (ver apêndice B) procura- se de certa forma analisar de que maneira o estudo da geografia pode representar ou não em sua vida, seu cotidiano. Desta forma, com a análise do gráfico nº 13 observa-se de que maneira esses dados serão refletidos segundo as amostras que se seguem. Com relação à amostra A 95% relatam que o estudo da geografia representa muito em sua vida e apenas 5% dizem representar pouco. Na amostra B, 75% concordam que o estudo da geografia representa muito e somente 25% assinalaram que representa pouco. Já na amostra C pode-se perceber um meio termo a partir do momento que 50% assinalaram que este estudo representa muito e os outros 50% responderam que representa pouco. Por último na amostra D, percebe-se a total influência do estudo desta disciplina na construção do senso crítico do aluno, fortalecendo ainda mais a construção do conhecimento a partir do momento que 90% assinalaram que o estudo dessa ciência representa muito em sua vida e somente 10% correspondeu que este estudo representa pouco na sua vida. 41 Gráfico 13 - O que representa a Geografia em sua vida Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 A respeito da pergunta de nº 06 (ver apêndice B), se o aluno considera que o ensino de Geografia colabora ou não no seu cotidiano, podem-se chegar às seguintes conclusões conforme serão representados no gráfico nº 14. Na amostra A 95% consideram o ensino de geografia fundamental no seu cotidiano, enquanto os outros 5% acham muito pouco significativo. Já na amostra B 65% concordam que o ensino desta disciplina colabora no seu dia-a-dia e 35% acham pouco relevante para o seu cotidiano. Com relação à amostra C 55% aceitam que o ensino de Geografia colabora no dia a dia, 40% acham que ajuda muito pouco e 5% não consideram a relevância desta ciência. Na amostra D, 95% estão de acordo que o ensino de geografia colabore no seu cotidiano, enquanto somente 5% assinalaram que não colabora de modo algum no seu dia a dia. 42 Gráfico 14 - Considera o ensino de geografia importante em sua vida Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Por fim quando questionados se conseguem observar transformações no espaço geográfico em que está inserido podemos chegar aos seguintes resultados apresentados no gráfico nº 15. Na amostra A 35% disseram que sabem observar essas transformações, 45% responderam que não e 20% talvez saibam identificar alguma transformação. Na amostra B 55% não identificam essas transformações, 25% responderam que sabem e 20% disseram que talvez. Já na amostra C 55% responderam com muita convicção que identificam bem essas transformações, 20% assinalaram que não sabem e 25% responderam que talvez saibam distinguir tais transformações. E por último na amostra D 80% sabem diferenciar muito bem essas transformações no qual estão inserido, 15% responderam que não sabem e somente 5% disseram que talvez saibam entender essas modificações no espaço geográfico. 43 Gráfico 15 - Observação do espaço geográfico em que está inserido Fonte: Pesquisa Direta, mai/ 2012 Com esses resultados, conseguiu-se identificar muito bem a relevância deste termo para o fortalecimento da construção do conhecimento desses alunos de ensino fundamental, pois a partir de tal abordagem observou-se que o senso crítico de cada cidadão passa pela importância de saber definir seu próprio espaço, para logo após aprender de maneira significativa a enxergar tais transformações no espaço geográfico no qual está inserido, seja ele local ou global. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS A noção de Espaço no ensino de Geografia remete a uma das temáticas mais desenvolvidas no que diz respeito à subjetividade da discussão do tema, no entanto, ressalta-se que toda evolução deste conceito é retratado por autores de renomado conhecimento a respeito desta questão epistemológica. No intuito de não encerrar este conceito de não torná-lo algo fechado, ao longo do trabalho foram mencionados vários autores com suas respectivas abordagens acerca da noção de espaço no ensino, com o intuito de ressaltar a verdadeira importância da trajetória deste tema, pois o mesmo se torna uma construção que se processa, progressivamente, desde a infância até chegar a fase de maturidade. Na Unidade Escolar Júlia Nunes Alves, percebe-se uma grande deficiência na abordagem deste tema, não somente pelo cumprimento da carga horária reduzida, mas pelo fato de que toda essa construção conceitual não se suceder ao longo de sua formação colegial, levando em conta desde a infância a fase adulta. Um dos grandes questionamentos feito durante o trabalho era a de qual seria a importância da noção de espaço para a construção do conhecimento geográfico dos alunos de ensino fundamental, partindo do pressuposto que grande parte dessa construção conceitual partiria do próprio entendimento como tais transformações se tornem ou não significativas no transcorrer de sua vida. A compreensão deste conceito se torna em grande parte de difícil entendimento para estes alunos, pelo simples fato de este mesmo tema trazer uma abordagem muito subjetiva, o que pode trazer em alguns casos resquícios do que não foi trabalhado na infância, principalmente em relação ao aspecto cognitivo da criança em sua formação motora. Outra abordagem relevante para esta pesquisa era como esse conceito ou noção de Espaço poderia interferir no cotidiano destes alunos, não com o intuito de formá-los dentro de uma concepção abrangente, complexa acerca da temática em questão. Também não se buscou contemplar a inserção de metodologias e estratégias facilitadoras
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