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2018 Metodologia e Conteúdos BásiCos de História e geografia Prof. Carlos Odilon da Costa Profª. Edith Weiduschat Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof. Carlos Odilon da Costa Profª. Edith Weiduschat Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. C837m Costa, Carlos Odilon da Metodologia e conteúdos básicos de história e geografia. / Carlos Odilon da Costa; Edith Weiduschat – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 122 p.; il. ISBN 978-85-515-0194-8 1.História – Estudo e ensino – Brasil. 2.Geografia – Estudo e ensino – Brasil. I. Weiduschat, Edith. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 907 Impresso por: III apresentação Caro(a) acadêmico(a), queremos nos apresentar como interlocutores diante da nova disciplina que você passa a estudar, a partir desse momento, e desejar-lhe uma boa compreensão e interação no decorrer desta. Estudar e trabalhar com Metodologia e Conteúdos Básicos de História e Geografia significa conhecer e desvendar os conceitos de espaço e tempo na perspectiva do docente da Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, na responsabilidade da tradução concreta e abstrata destes conceitos junto de nossos pequenos estudantes. Neste Livro de Estudos, pretendemos refletir, discutir propostas e experiências pedagógicas, no sentido de apontar caminhos, sugestões e subsídios para projetos e planejamentos pedagógicos voltados à compreensão da realidade social, através da contextualização histórica e a ocupação dos diferentes espaços geográficos. Em resumo, esta disciplina estuda a sociedade (des)organizada em momentos datados e em lugares determinados, através de um modelo econômico, produtivo, consumidor e, por conseguinte, seletivo e excludente pelas classes sociais. Desejamos, a todos, possibilidades de reflexões e análises das temáticas destinadas à disciplina que hoje iniciamos. Um abraço, Prof. Carlos Odilon da Costa Prof.ª Edith Weiduschat IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI VII UNIDADE 1 – GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA .................................................................................. 1 TÓPICO 1 – A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O ENSINO DE GEOGRAFIA ................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O ENSINO DE GEOGRAFIA PARA O SÉCULO XXI ................................................................... 4 3 PARA QUE SERVE A GEOGRAFIA? .............................................................................................. 6 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 7 LEITURA COMPLEMENTAR 2 ............................................................................................................ 9 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 11 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 12 TÓPICO 2 – A CARTOGRAFIA ........................................................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13 2 A ESCRITA DA TERRA..................................................................................................................... 14 3 O TESOURO DOS MAPAS ................................................................................................................ 16 4 REPRESENTAÇÃO DO PERCURSO CASA-ESCOLA ................................................................. 20 5 AS REDUÇÕES UTILIZADAS NAS ESCALAS ........................................................................... 25 5.1 ATIVIDADE PRÁTICA I ................................................................................................................. 26 5.2 SÍMBOLOS, LEGENDAS OU CONVENÇÕES ........................................................................... 27 5.3 ATIVIDADE PRÁTICA II ............................................................................................................... 27 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 28 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 30 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 31 TÓPICO 3 – NOÇÕES DE ORIENTAÇÃO E LOCALIZAÇÃO ..................................................... 33 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33 2 A PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA E A ESPACIALIDADE ...................................... 33 3 OS PONTOS CARDEAIS.................................................................................................................... 34 4 NOVOS USOS PARA VELHOS MATERIAIS ................................................................................ 36 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 39 UNIDADE 2 – A NOVA HISTORIOGRAFIA .................................................................................... 41 TÓPICO 1 – HISTÓRIA, UMA DISCIPLINAESCOLAR ............................................................... 43 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43 2 ESSA TAL DA HISTÓRIA .................................................................................................................. 43 3 A TEORIA HISTÓRICO-CRÍTICA ................................................................................................... 45 4 PARA QUE SERVE A DISCIPLINA DE HISTÓRIA? .................................................................. 46 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 49 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 51 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52 suMário VIII TÓPICO 2 – CAMINHOS DA HISTÓRIA ......................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53 2 PERÍODO MITOLÓGICO E O MUNDO GREGO ........................................................................ 53 3 A HISTÓRIA NA IDADE MÉDIA .................................................................................................... 55 4 HISTÓRIA NO PERÍODO MODERNO .......................................................................................... 56 5 A HISTÓRIA NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO ..................................................................... 59 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 61 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 63 TÓPICO 3 – MÉTODOS EM HISTÓRIA............................................................................................ 65 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65 2 MÉTODO TRADICIONAL EM HISTÓRIA ................................................................................... 65 3 A CONCEPÇÃO BANCÁRIA DA EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DA OPRESSÃO, SEUS PRESSUPOSTOS, SUA CRÍTICA ................................................................. 67 4 MÉTODO DIALÉTICO ....................................................................................................................... 68 5 MÉTODO DA COMPLEXIDADE ..................................................................................................... 70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 73 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 75 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76 UNIDADE 3 – ABORDAGENS CURRICULARES NO ENSINO DE HISTÓRIA ..................... 79 TÓPICO 1 – CURRÍCULO EM HISTÓRIA ........................................................................................ 81 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 81 2 TEORIAS TRADICIONAIS ............................................................................................................... 81 3 TEORIAS CRÍTICAS E PÓS-CRÍTICAS ......................................................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 88 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90 TÓPICO 2 – HISTÓRIA ORAL, HISTÓRIA DO COTIDIANO E LOCAL................................. 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 91 2 HISTÓRIA ORAL ................................................................................................................................. 91 3 HISTÓRIA DO COTIDIANO E LOCAL ......................................................................................... 95 3.1 HISTÓRIA DO COTIDIANO ........................................................................................................ 95 3.2 DICAS PARA O PROFESSOR ........................................................................................................ 96 4 HISTÓRIA LOCAL............................................................................................................................... 97 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................103 TÓPICO 3 – A HISTÓRIA NO SÉCULO XXI ..................................................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 A HISTÓRIA, OS ESTUDOS CULTURAIS, O MULTICULTURALISMO E A INTERCULTURALIDADE ...............................................................................................................105 3 HISTÓRIA E AFRICANIDADE .......................................................................................................109 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................115 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................119 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................120 1 UNIDADE 1 GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta Unidade, o(a) acadêmico(a) estará apto(a) a: • compreender as diferentes tendências filosóficas que influenciaram o ensi- no de Geografia; • perceber a importância do ensino e do estudo de Geografia; • analisar as atuais perspectivas do conhecimento geográfico. Esta Unidade está dividida em três tópicos, sendo que no final de cada um deles você encontrará atividades que o(a) ajudarão a refletir e a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O ENSINO DE GEOGRAFIA TÓPICO 2 – A CARTOGRAFIA TÓPICO 3 – NOÇÕES DE ORIENTAÇÃO E LOCALIZAÇÃO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O ENSINO DE GEOGRAFIA 1 INTRODUÇÃO As constantes transformações vividas e percebidas no mundo e na organização da sociedade têm reflexos em todas as áreas científicas, mas principalmente nas ciências humanas. A revolução técnico-científica, expressão utilizada por muitos geógrafos, tem acelerado as mudanças vertiginosas que se apresentam diante de nossos olhos. Encontramo-nos diante de uma sociedade contemporânea, pautada em novas relações, produções e organização social. A Geografia tem sentido algumas implicações diante dessas transformações. A chamada Geografia crítica, baseada em ideais marxistas, sofre sériosimpactos, já que se passou a questionar o funcionamento do socialismo real. Ela perdurará, como perdurou a Geografia tradicional, porém com novas análises e interpretações da realidade. Diferentes interpretações exigem novas reformulações de conceitos e categorias que levem a outras reflexões e análises da organização espacial. Neste sentido, Cavalcanti (1998, p.16) sinaliza que: A Geografia defronta-se, assim, com a tarefa de entender o espaço geográfico num contexto bastante complexo. O avanço das técnicas, a maior e menor circulação de mercadorias, homens e ideias distanciam os homens do tempo e da natureza e provocam um certo “encolhimento” do espaço de relação entre eles. Na sociedade moderna, baseada em princípios de circulação e racionalidade, há um domínio do tempo e do espaço, mecanizados e padronizados, que se tornaram a fonte de poder material e social numa sociedade que se constitui à base do industrialismo e do capitalismo. O controle do tempo e do espaço liga- se estreitamente ao processo produtivo e à vida social. [...] O espaço foi perdendo, assim, sua significação absoluta no lugar para ganhá-la na lógica do poder, da expansão capitalista. Da mesma forma, o tempo tomado como linear e progressivo foi sendo substituído por um tempo cíclico e instável, em função de que seu sentido passou a ser ligado ao próprio processo produtivo. Instalou-se, assim, uma compreensão e uma vivência de espaço e de tempo relativos. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 4 O ensino de Geografia, neste contexto, desestabiliza-se e procura novos rumos. Isso porque a Geografia, como disciplina escolar, foi ensinada a partir do século XIX, no Brasil, voltada quase que exclusivamente para formar o cidadão patriótico. Os livros didáticos enalteciam as belezas e potencialidades naturais do país que, por sua vez, deveriam ser defendidas com muito brio pelos “estudantes patriotas”. Era a Geografia tradicional adotada em todos os países e que vai sendo substituída pela Geografia nova, mais crítica e mais realista. Influenciada especialmente pelo francês Yves Lacoste, visto que teve muitas de suas obras publicadas e difundidas no Brasil, a Geografia passa a basear-se no “[...] caráter estratégico do saber sobre o espaço” (CAVALCANTI, 1998), antes omitido e escamoteado. Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997); as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica (2013); e a Base Nacional Comum Curricular (2017) têm também contribuído para uma reflexão sobre as antigas práticas escolares desta disciplina, bem como discutido sobre ações e práticas pedagógicas mais comprometedoras e emancipadoras. NOTA Caro(a) acadêmico(a), você poderá aprofundar este assunto na leitura complementar, no final deste tópico. 2 O ENSINO DE GEOGRAFIA PARA O SÉCULO XXI No movimento de renovação do estudo e ensino de Geografia, alguns geógrafos brasileiros vêm se manifestando sobre a urgência de se valer de novas reflexões para uma prática de ensino mais comprometida com referenciais teórico- metodológicos que ampliem as funções e o papel da atual Geografia. Vesentini comenta e discute esta questão aqui transcrita em um vídeo: Mas que tipo de Geografia é apropriada para o século XXI? É lógico que não é aquela tradicional baseada no modelo “A Terra e o Homem”, onde se memorizavam informações sobrepostas [...]. E também nos parece lógico que não é aquele outro modelo que procura “conscientizar” ou doutrinar os alunos, na perspectiva de que haveria um esquema já pronto de sociedade futura [...]. Pelo contrário, uma das razões do renovado interesse pelo ensino de Geografia é que, na época da globalização, a questão da natureza e os problemas ecológicos tornaram-se mundiais ou globais, adquiriram um novo significado [...]. O ensino de Geografia no século XXI, portanto, deve ensinar, ou melhor, deixar o aluno descobrir o mundo em que vivemos, com especial atenção para a globalização e as escalas local e nacional, deve enfocar criticamente a questão ambiental e as relações sociedade/ natureza [...], deve realizar constantemente estudos do meio [...] e deve levar os educandos a interpretar textos, fotos, mapas, paisagens (VESENTINI, 1995). TÓPICO 1 | A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O ENSINO DE GEOGRAFIA 5 Nesta perspectiva, o que se deseja, dentro de uma nova abordagem geográfica, é levar o estudante a desenvolver “[...] um modo de pensar dialético, que é um pensar em movimento e por contradição”, segundo Cavalcanti (1998, p.23). Os pequenos estudantes devem ser levados a dominar o conceito e o conhecimento sobre os espaços organizados e desorganizados pelo homem a partir de vários determinantes, fatores e variáveis, para que possam, assim, desenvolver a consciência das questões locais e globais. Não é memorizando e citando diferentes locais e espaços que compreenderão a lógica espacial do mundo atual. Estudar Geografia, assim, significa apropriar-se de um conhecimento real e palpável através da analogia e da dialética, para que o estudante também possa entender o porquê do estudo desta ciência. Parafraseando Vesentini (2000), em seu livro Sociedade e Espaço, estuda- se Geografia, porque: É uma forma de compreender o mundo em que se vive. Possibilita o conhecimento do local em que se mora até os demais países da superfície terrestre. O campo de preocupações da Geografia é o espaço da sociedade humana, no qual os homens vivem e (re)constroem tudo permanentemente. As indústrias, cidades, agricultura, rios, solos, climas, populações são todos elementos que constituem o espaço geográfico. Tudo nesse espaço depende do homem e da natureza. A natureza é a fonte primeira de todo o mundo real: a água, a madeira, o petróleo, o ferro, o cimento etc. O homem reelabora esses elementos naturais ao fabricar os plásticos a partir do petróleo, ao represar rios e construir usinas hidrelétricas, ao aterrar pântanos e edificar cidades, ao inventar velozes aviões para encurtar as distâncias. As modificações que a sociedade humana produz em seu espaço são hoje mais intensas do que no passado. Com a interligação entre todas as partes do globo, com o desenvolvimento dos transportes e das comunicações, passa a existir um mundo cada vez mais unitário. Há assim uma única sociedade humana, embora seja uma sociedade plena de desigualdades e diversidades. Muito do que acontece em áreas distantes acaba nos afetando de uma forma ou de outra, mesmo que não tenhamos consciência disso, por isso o estudo de Geografia. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 6 3 PARA QUE SERVE A GEOGRAFIA? Quando Yves Lacoste publica seu livro intitulado “A Geografia – Isso Serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra”, no ano de 1976, foi muito criticado por aqueles que entenderam que sua obra se resumiria apenas no título e não se deram conta de que o autor afirmava que a Geografia, entre outras coisas, também serve para fazer a guerra. O francês Yves Lacoste é quem traz à tona a questão: “A quem serve a Geografia?” Isso porque, ao visitar o Vietnã, publica artigos sobre a geomorfologia das planícies aluviais de Hanói e denuncia a estratégia que os americanos utilizam para bombardear os diques vietnamitas. Vesentini assim sintetiza as ideias de Lacoste na apresentação que faz na 10ª edição do livro do escritor francês: A principal resposta que Lacoste fornece ao seu questionamento constitui o próprio título do livro: isto – a Geografia – serve em primeiro lugar (embora não apenas) para fazer a guerra, ou seja, para fins político-militares sobre (e com) o espaço geográfico, para produzir/reproduzir esse espaço com vistas (e a partir) das lutas de classes, especialmente como exercício de poder. Ser ou não ser de fato uma ciência pouco importa, em última análise, argumenta o autor. O fundamental, a seu ver, é que, malgrado as aparências mistificadoras, os conhecimentos geográficos sempre foram, e continuam sendo, umsaber estratégico, um instrumento de poder intimamente ligado a práticas estatais e militares. A geopolítica, dessa forma, não é uma caricatura e nem uma pseudogeografia: ela seria na realidade o âmago da Geografia, a sua verdade mais profunda e recôndita (VESENTINI apud LACOSTE, 2005, p.7). NOTA Caro(a) acadêmico(a), para melhor entender a polêmica criada pelo título da obra citada, procure ler o livro “A Geografia – Isso Serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra,” de Yves Lacoste. TÓPICO 1 | A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O ENSINO DE GEOGRAFIA 7 LEITURA COMPLEMENTAR A ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS: CIÊNCIAS HUMANAS A Base Nacional Curricular Comum/BNCC (2017) orienta as ações dos professores em sala de aula sobre o ensino de Geografia (na Educação Infantil e anos iniciais a história e a geografia são localizadas na área de Ciências Humanas), que vem ao encontro das discussões sobre as razões e os porquês do seu estudo. Nesse sentido, leia atentamente o texto que segue, extraído da BNCC. A ETAPA DA EDUCAÇÃO INFANTIL 3.1 Os campos de experiências A definição e a denominação dos campos de experiências também se baseiam no que dispõem as DCNEI em relação aos saberes e conhecimentos fundamentais a serem propiciados às crianças e associados as suas experiências. [...] O eu, o outro e o nós – É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos. [...] Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc.). Além UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 8 disso, nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. A ETAPA DO ENSINO FUNDAMENTAL 4.4 A área de Ciências Humana A área de Ciências Humanas contribui para que os alunos desenvolvam a cognição in situ, ou seja, sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço, conceitos fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias elaboradas conjuntamente, em meio a circunstâncias históricas específicas, nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque, com vistas ao acolhimento da diferença. [...] Desde a Educação Infantil, os alunos expressam percepções simples, mas bem definidas, de sua vida familiar, seus grupos e seus espaços de convivência. No cotidiano, por exemplo, desenham familiares, identificam relações de parentesco, reconhecem a si mesmos em fotos (classificando-as como antigas ou recentes), guardam datas e fatos, sabem a hora de dormir e de ir para a escola, negociam horários, fazem relatos orais e revisitam o passado por meio de jogos, cantigas e brincadeiras ensinadas pelos mais velhos. Com essas experiências, começam a levantar hipóteses e a se posicionar sobre determinadas situações. No decorrer do Ensino Fundamental, os procedimentos de investigação em Ciências Humanas devem contribuir para que os alunos desenvolvam a capacidade de observação de diferentes indivíduos, situações e objetos que trazem à tona dinâmicas sociais em razão de sua própria natureza (tecnológica, morfológica, funcional). A Geografia e a História, ao longo dessa etapa, trabalham o reconhecimento do Eu e o sentimento de pertencimento dos alunos à vida da família e da comunidade. No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, é importante valorizar e problematizar as vivências e experiências individuais e familiares trazidas pelos alunos, por meio do lúdico, de trocas, da escuta e de falas sensíveis, nos diversos ambientes educativos (bibliotecas, pátio, praças, parques, museus, arquivos, entre outros). Essa abordagem privilegia o trabalho de campo, as entrevistas, a observação, o desenvolvimento de análises e de argumentações, de modo a potencializar descobertas e estimular o pensamento criativo e crítico. É nessa fase que os alunos começam a desenvolver procedimentos de investigação em Ciências Humanas, como a pesquisa sobre diferentes fontes documentais, a observação e o registro – de paisagens, fatos, acontecimentos e depoimentos – e o estabelecimento de comparações. Esses procedimentos são fundamentais TÓPICO 1 | A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E O ENSINO DE GEOGRAFIA 9 para que compreendam a si mesmos e àqueles que estão em seu entorno, suas histórias de vida e as diferenças dos grupos sociais com os quais se relacionam. O processo de aprendizagem deve levar em conta, de forma progressiva, a escola, a comunidade e o Estado. É importante também que os alunos percebam as relações com o ambiente e a ação dos seres humanos com o mundo que os cerca, refletindo sobre os significados dessas relações. Nesse período, o desenvolvimento da capacidade de observação e de compreensão dos componentes da paisagem contribui para a articulação do espaço vivido com o tempo vivido. O vivido é aqui considerado como espaço biográfico, que se relaciona com as experiências dos alunos em seus lugares de vivência. No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, o desenvolvimento da percepção está voltado para o reconhecimento do Eu, do Outro e do Nós, FONTE: Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base/>. Acesso em: 4 maio 2018. LEITURA COMPLEMENTAR 2 A GEOGRAFIA SERVE PARA FAZER A GUERRA? Julga-se que a Geografia não é mais do que uma disciplina escolar e universitária, cuja função seria fornecer elementos de uma descrição do mundo, dentro de uma concepção desinteressada da cultura dita geral. Pois qual poderia ser a utilidade daquelas estranhas frases soltas em alguns livrosde Geografia, que é necessário aprender nas escolas? Os maciços dos Alpes do Norte, a altitude do Pico Everest, a densidade demográfica da Holanda, a capital do Nepal etc. E os nossos pais e avós a lembrarem que em seu tempo era necessário saber as capitais de todos os países de certo continente. Para que serve tudo isso? Uma disciplina “estupidificante”, mas, apesar de tudo, simples, pois, como toda a gente sabe, “em Geografia não há nada que perceber, é preciso é ter memória, é só decorar”. Antigamente, talvez esta Geografia tenha servido para qualquer coisa, mas, hoje, a televisão, as revistas, os jornais não mostram melhor todos os países através de notícias, e o cinema mostra melhor as paisagens? Mas, que diabo, dirão todos os que não são geógrafos: a Geografia não serve para nada! A toda a ciência ou saber deve ser feito o seguinte questionamento: o processo científico está ligado a uma história e deve ser analisado, por um lado, na sua relação com as ideologias; por outro lado, como prática ou como poder. Dizer antecipadamente que a Geografia serve, antes de mais nada, para fazer a guerra, não implica que sirva apenas para executar operações militares; ela serve também para organizar os territórios, não só como previsão de batalhas que se deverão travar contra tal ou tal inimigo, mas também para melhor controlar os homens UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 10 sobre os quais os aparelhos de Estado exercem a sua autoridade. A Geografia é, acima de tudo, um saber estratégico intimamente ligado a um conjunto de práticas políticas e militares e são essas práticas que exigem a acumulação articulada de informações extremamente variadas, à primeira vista desconexas, de que não é possível compreender a razão de ser, a importância, se nos mantivermos dentro dos limites do saber pelo saber. São as práticas estratégicas que fazem com que a Geografia seja necessária, em primeiro lugar, aos que comandam os aparelhos de Estado. Hoje, mais do que nunca, a Geografia serve, sobretudo, para fazer a guerra. Pôr em prática novos métodos de guerra implica uma análise extremamente precisa das combinações geográficas, das relações entre os homens e das “condições naturais” que é necessário destruir ou modificar para tornar determinada região inabitável ou para levar a cabo um genocídio. A Guerra do Vietnã fornece numerosas provas de que a Geografia serve para fazer a guerra de maneira mais global. Um dos mais célebres e mais dramáticos exemplos foi posto em prática em 1965, 1966,1967 e sobretudo, em 1972, em um plano de destruição sistemática da rede de diques que protegem as planícies extremamente populosas do Vietnã do Norte. A escolha dos locais a bombardear resultou de um estudo geográfico em vários níveis de análise espacial. FONTE: Adaptado de: LACOSTE, Y. A Geografia - Isso Serve, em Primeiro Lugar, para Fazer a Guerra. São Paulo: Papirus Editora, 2005. p. 21-30. 11 Neste tópico, você viu que: A revolução técnico-científica e a globalização têm acelerado mudanças significativas na sociedade contemporânea, que se refletem nas formas de produção, consumo e relações sociais. A Geografia, percebendo estas mudanças, estuda e procura se adaptar no sentido de fornecer novas análises e interpretações da realidade. A Geografia Tradicional vai sendo substituída pela Geografia Crítica, influenciada pelo francês Yves Lacoste, que escreve e discute sobre o saber estratégico utilizado na ocupação e no domínio dos espaços geográficos. Muitos geógrafos propõem uma nova abordagem geográfica, que leva o estudante a dominar dialeticamente conceitos e conhecimentos organizados e desorganizados pelo homem e, assim, melhor compreender as questões locais e globais. Yves Lacoste é quem expõe a questão – “a quem serve a Geografia”, ao publicar livros e artigos que analisam a ocupação de determinados locais e espaços para fins político-militares. Em outras palavras, Lacoste considera os conhecimentos geográficos instrumentos de poder. Novas abordagens da ciência geográfica têm buscado práticas pedagógicas que permitam apresentar aos alunos os diferentes aspectos de um mesmo fenômeno em diferentes momentos da escolaridade, de modo que os alunos possam construir compreensões novas e mais complexas a seu respeito. Segundo os PCN, as produções musicais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que podem ser utilizadas por professores e alunos para obter informações, comparar, perguntar e inspirar-se para interpretar as paisagens e construir conhecimentos sobre o espaço geográfico. RESUMO DO TÓPICO 1 12 Assinale as alternativas que correspondam corretamente ao enunciado: 1. A Geografia Tradicional, ensinada a partir do século XIX, no Brasil, preocupava-se em: a) ( ) Desvalorizar as belezas e potencialidades naturais do país. b) ( ) Formar o cidadão patriótico e enaltecer as belezas naturais do país. c) ( ) Analisar a realidade social e econômica do país. d) ( ) Desenvolver uma visão crítica de seus estudantes. 2. A Geografia Nova, mais crítica e mais realista, vem substituir a Geografia Tradicional, a partir dos escritos e ideias do francês: a) ( ) José William Vesentini. b) ( ) Marcos Amorim Coelho. c) ( ) Alexander von Humboldt. d) ( ) Yves Lacoste. 3. O ensino da Geografia, para o século XXI, NÃO deve: a) ( ) Enfocar criticamente a questão ambiental. b) ( ) Realizar constantes estudos do meio em que se vive. c) ( ) Enfatizar a separação e a ausência das relações sociedade/natureza. d) ( ) Levar os educandos a interpretar textos, fotos, mapas, paisagens. 4. Segundo os PCN, o professor, ao criar e planejar situações para uma aprendizagem mais eficiente dos conteúdos de Geografia, deve se valer de procedimentos, tais como: a) ( ) Observação e descrição. b) ( ) Experimentação e analogia. c) ( ) Memorização e decoreba. d) ( ) Analogia e síntese. AUTOATIVIDADE 13 TÓPICO 2 A CARTOGRAFIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A cartografia é um ramo da ciência geográfica responsável pela confecção de mapas e representações espaciais. Nas séries iniciais, trabalha-se a noção de espaço representativo através de desenhos simples, como a disposição da sala de aula, da escola, do trajeto percorrido pelo estudante de sua casa à escola ou de um passeio qualquer, até que se avance para a representação da Terra. É importante que o professor compreenda a representação espacial da esfera terrestre como imagem incompleta. Um mapa, ao representar em uma superfície plana, como uma folha de papel, a superfície terrestre, sempre apresentará distorções de imagem, porque não é possível representar a curvatura da Terra num plano. Neste sentido, o globo terrestre representa mais fielmente a Terra, porque mantém a forma esférica, mas não possibilita uma visão única de todos os continentes e oceanos. Neste sentido, várias análises têm sido feitas sobre a dificuldade de se representar a forma e as dimensões exatas da Terra, como se pode ler a seguir: Uma mapa dá uma imagem incompleta do terreno. Ele nunca é uma representação tão fiel quanto pode sê-lo, por exemplo, uma fotografia aérea. Mesmo o mais detalhado dos mapas é uma simplificação da realidade. Ele é uma construção seletiva e representativa, que implica o uso de símbolos e de sinais apropriados (JOLY, 1990, p.7-8). Assim, na escola, o professor precisa deixar claro que a representação dos espaços ocupados pelo homem sobre a Terra é uma tentativa de se compreender isso concretamente. Como é impossível de se trazer áreas muito extensas para o papel, utilizamos a redução de medidas. Neste ponto, a abstração inicial dos nossos estudantes começa a ser exigida, isso porque estaremos mostrando e trabalhando só a representação dos espaços e não a realidade. Entretanto, compreensões e conceitos anteriores ao mapa e outras representações precisam ser vivenciados e exercitados na escola, para que as ampliações possam ser garantidasem estágios futuros. Neste sentido, leia o texto a seguir de Kozel e Filizola (1996, p.24-25). UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 14 2 A ESCRITA DA TERRA Quando uma criança desenha uma casa ou observa o movimento aparente do Sol, ou então desenha a planta da sala de aula, ela está fazendo muito mais do que cumprir o programa curricular. Mesmo uma conversa aparentemente casual na classe, em que as crianças falam sobre sua família, ou descrevem o caminho que fazem entre a casa e a escola, tem um grande significado: em cada atividade, a todo momento, estão sendo trabalhados conceitos fundamentais para o desenvolvimento da aprendizagem. Diálogo professor-aluno Veja a ideia do conceito de espaço que tem uma criança de 5 anos: Professor: Por que o sol fica lá em cima, no céu, e não cai? Aluno: Porque ele fica no espaço. Professor: Quando o sol desaparece, para onde ele vai? Aluno: Debaixo da Terra. Professor: Para que Terra? Aluno: A Terra fica rodando lá embaixo. O trabalho conjunto de alunos e professores, na verdade, consiste em compreender e discutir esses conceitos básicos. Primeiro de uma forma mais concreta, a partir das experiências do aluno e de sua realidade próxima; depois série a série, de modo cada vez mais elaborado e abrangente, ampliando, retomando e inter-relacionando esses conceitos. Assim, os temas, os instrumentos – como mapas, bússolas ou cata-ventos – e as atividades são apenas os veículos desse conhecimento principal. O professor que domina os conceitos fundamentais de Geografia estará livre para transitar de um conteúdo a outro, imprimindo um roteiro próprio à aula, de acordo com os interesses e a maturidade da classe. Pode, perfeitamente, trabalhar os conteúdos bairro e mundo ao mesmo tempo, por exemplo, pois não estará preso à sequência da matéria: ele está trabalhando um conceito (no caso pode ser o de espaço) presente na parte e no todo. Assim, poderá avaliar melhor o desenvolvimento dos alunos, responder aos questionamentos da classe e realizar um trabalho mais criativo, acrescentando textos e atividades que considerar enriquecedores. Entre os conceitos básicos para o ensino de Geografia, destacam-se os de espaço, tempo, produção de necessidades e transformação, que se inter- relacionam, por sua vez, estão ligados aos conceitos de sociedade, trabalho, natureza e cultura. TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 15 O espaço geográfico Compreender o conceito de espaço é entender como o homem transforma a natureza por meio do trabalho, produzindo o chamado “espaço geográfico”. Nesse sentido, só se pode falar do espaço como algo dinâmico, indo além de seu conteúdo natural ou físico, para questionar como surgiu e por que é o que é, ou seja, ir além das aparências. O espaço físico certamente era bem diferente na etapa nômade dos grupos humanos, no estágio da coleta de alimentos. O homem e os demais seres vivos constituíam ecossistemas espaciais, tamanha era a integração entre eles. Esse homem nômade e coletor de alimentos já se diferenciava de outras espécies, por criar instrumentos que reduziam os esforços na luta pela sobrevivência. Produzia cultura, ou seja, tinha um modo próprio de pensar, crer e viver. Sua atitude diante da natureza já era de invenção, inovação. As possibilidades de intervenção sobre o meio se tornavam cada vez maiores, à medida que se acumulavam os conhecimentos sobre a natureza. O trabalho com o conceito de espaço só é alcançado na sala de aula gradativamente. Primeiro a criança toma contato com o espaço de ação, que é o espaço vivido, experimentado. A partir desse espaço próximo e concreto, vai construindo a noção de espaço percebido e concebido, mais abstratos, que não são vivenciados diretamente. Pode, então, perceber as distâncias – se curtas ou longas –, sem que precise percorrer o espaço. Ao observar uma foto, mesmo sem conhecer o lugar, a criança pode identificar coisas próximas ou distantes entre si. Nas séries iniciais, o trabalho com espaço envolve a noção de orientação e localização: em cima/embaixo, perto/longe, na frente/atrás, ao lado/entre, esquerda/direita, direções cardeais etc. Implica também sua representação (uso de mapas, globo, maquetes) e o estudo dos elementos do espaço, sejam eles naturais (clima, vegetação, relevo) ou culturais (cidade, bairro, meio rural, migrações, fábricas), além de sua distribuição no espaço, isto é, a localização desses elementos. Na Educação Infantil tudo começa! Não podemos esquecer que as primeiras construções de noções de espaço devem ser iniciadas com os pequenos estudantes. Também eles observam e gradativamente vão percebendo o meio que ocupam. Assim, o espaço vivido deve ser trabalhado, para se tornar um espaço “percebido”. A orientação e a localização exigem práticas pedagógicas planejadas e dirigidas, para que as diferentes faixas etárias possam ampliar as compreensões de frente e atrás, direita e esquerda, em cima e embaixo, dentro e fora, bem como as formas geométricas, esféricas e planas, por exemplo. Para melhor discutir e ilustrar esta questão, leia a contribuição do artigo da Revista Nova Escola (on- line) O tesouro dos mapas, 05/2003. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 16 3 O TESOURO DOS MAPAS O tesouro dos mapas A cartografia nos permite ler e interpretar a realidade e pode entrar no currículo desde a Educação Infantil, com jogos e brincadeiras Paola Gentile Chegar a um lugar desconhecido utilizando um mapa ou abrir o guia de ruas para traçar um bom caminho é uma tortura para muita gente. Embora essas ações pareçam banais, realizá-las com desenvoltura envolve uma série de conhecimentos que só são adquiridos num processo de alfabetização diferente. Ele não envolve letras, palavras e pontuação, mas linhas, cores e formas. É a aprendizagem da linguagem cartográfica. Considerada essencial para o ensino da Geografia, a cartografia tornou- se importante na educação contemporânea não somente para o aluno poder atender às necessidades que aparecerão no seu cotidiano, como nos exemplos dados acima, mas para estudar o ambiente em que vive. Aprendendo sobre suas características físicas, econômicas, sociais e humanas, ele pode entender as transformações causadas pela ação do homem e dos fenômenos naturais ao longo do tempo. "Saber ler mapas faz com que a pessoa consiga pensar sobre territórios e regiões que não conhece", afirma Rosângela Doin de Almeida, professora da Universidade Estadual Paulista, membro do Grupo de Pesquisa em Cartografia Escolar e representante brasileira da International Cartography Association (ICA). Ela afirma ainda que a tecnologia tem produzido representações cartográficas cada vez mais sofisticadas. Sua linguagem é usada no ensino não só da Geografia, mas também da História e das Ciências em geral. "Conhecê- la significa adquirir boa parte do suporte necessário para a construção do conhecimento", enfatiza. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de História e Geografia, todo aluno precisa terminar o Ensino Fundamental sabendo interpretar cartas geográficas e capaz de produzir representações próprias do espaço. São habilidades que se formam de maneira gradual e, por isso, quanto antes começarem a ser desenvolvidas, maiores as chances de atingir essas competências básicas. Geografia Tema: cartografia nos primeiros anos de escolaridade. TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 17 Objetivo: ler, interpretar e representar espaços físicos conhecidos, como a casa, a escola e o bairro. Criar e ler símbolos e legendas. Adquirir noções de direção, sentido, projeção, proporção, paisagem, escalas gráficas e numéricas. Como chegar lá: use brincadeiras e jogos infantis, proponha a construção de maquetes e desenhos de mapas de trajetos familiares às crianças, mas não deixe de ensinar, a cada etapa, os conceitos cartográficos envolvidos. Dica: o aprendizado da cartografia pode começar na Educação Infantil, mas vai estender-se até o final do Ensino Médio. Portanto, introduzaos conceitos com atividades adequadas ao nível de desenvolvimento da turma. Linguagem visual O vocabulário cartográfico é formado pelos mais diversos símbolos, que se relacionam entre si. Eles são usados para representar no papel um espaço reduzido, com apenas duas dimensões informações sobre o relevo, o clima, a vegetação, a população e muitos outros dados sobre as mais variadas regiões. Para compreender essa linguagem, o estudante necessita aprender, por exemplo, conceitos de lateralidade e direção, habilidades que devem ser trabalhadas desde a Educação Infantil. São estratégias importantes para, mais tarde, entender o posicionamento do espaço ilustrado pelo mapa. Um outro passo é entender os sinais gráficos utilizados e os significados que eles podem ter. Mais do que interpretar esses símbolos, a criança pode e deve criar sinais. O próximo passo será imaginar legendas, para que outras pessoas possam "traduzir" essa representação. Ao produzir maquetes e mapas com a turma, o professor tem a oportunidade de ensinar conceitos de proporção, projeção, escalas gráficas e numéricas, mostrando todas as estratégias que podem ser utilizadas quando se quer recriar uma paisagem. Para um ensino eficiente, a maioria dessas habilidades precisa ser desenvolvida em maior ou menor grau de dificuldade nas diversas séries. "A constância e a continuidade do aprendizado é importante na apreensão do conhecimento cartográfico", afirma Diamantino Pereira, professor do Departamento de Geografia e Coordenador do curso de especialização em Geografia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O Colégio Monteiro Lobato, também na capital paulista, introduz o ensino da cartografia nas turminhas de 4 anos e segue até o Ensino Médio. Adiante, você vai conhecer atividades bem-sucedidas na Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 18 Uma vez por semana, os alunos de Martha mudam os brinquedos do parquinho de lugar e refazem a maquete do pátio: observação detalhada da paisagem e capacidade de perceber que a ação humana modifica o ambiente. Educação Infantil Na Educação Infantil, o esboço dos primeiros ensaios cartográficos pode estar ligado ao desenvolvimento de outras habilidades, como a atenção, a coordenação motora e a percepção auditiva. É o caso da atividade batizada de O Som que Passeia. A professora Martha Guimarães Rainho arruma a classe em quatro blocos de carteiras, cada um coberto com tecido ou papel de cores diferentes, esquema que é reproduzido pelas crianças em folhas individuais. Todos devem ficar de olhos fechados enquanto um colega passa por entre os grupos tocando um instrumento musical. Martha pede para a turma mentalizar o percurso feito pelo som e depois fazer o traçado no papel. "O importante é trabalhar a noção de lateralidade e direção de cada um", afirma. Com isso, as crianças aprendem que direita, esquerda, atrás e à frente são relativos, o que introduz a necessidade de definir pontos de referência. Ao final, a professora discute os registros e executa novamente a atividade, para os estudantes checarem e corrigirem os mapas. Regras de proporção Para aguçar a percepção visual das crianças, Martha promove a construção e a atualização da maquete do parquinho da escola. Com sucata, os alunos confeccionam miniaturas dos brinquedos e as distribuem sobre uma placa de cartão, madeira ou isopor, identificando cada peça com uma legenda. TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 19 Pelo menos uma vez por semana os próprios estudantes mudam os brinquedos de lugar, o que os obriga a refazer, no pátio, a maquete. É uma introdução para o aprendizado de escala: as crianças começam a perceber que a representação é diferente do real, mas obedece a regras de proporção e localização. Martha aproveita para ensinar também o significado de paisagem, que é tudo aquilo que o olhar pode apreender. "Desenvolver esse tipo de observação vai permitir, mais tarde, que o aluno identifique elementos naturais e sociais como parte da realidade, e perceba que ela pode ser alterada por fenômenos naturais ou pela intervenção humana", explica Diamantino Pereira. Ensino Fundamental No início do Ensino Fundamental, os alunos tornam-se produtores de mapas. Eles são estimulados a observar e a representar espaços mais detalhados, como a escola e a própria casa. Podem até iniciar o mapeamento do bairro, como fez a turma de 1ª série de Valéria Tomaz. Com o traçado das ruas nas mãos, as crianças assinalam a da escola e a da casa com cores diferentes. Elas têm de observar o percurso feito para ir à aula e anotar as referências do caminho (casas comerciais, praças, áreas de lazer). Os trabalhos são avaliados em grupo, comparando o que há em comum entre os trajetos. Michelle Uliana, professora da 3ª série, sofistica o ensino de legendas iniciado na Educação Infantil usando a brincadeira da Caça ao Tesouro. Ela apresenta à turma rótulos, logotipos e sinais familiares para que eles os interpretem. Dessa forma, todos percebem que uma imagem pode ser a representação de um local ou de uma palavra ou sentença. Criação de legenda As equipes escondem um "tesouro" e criam símbolos para os espaços da escola. A cantina vira hambúrguer ou garrafa; o pátio, escorregador ou balanço. Na criação do roteiro de orientação para a equipe adversária, os alunos tomam contato com medidas e escalas. Valem mãos, braços abertos, corpos e pulos para sair do ponto de partida e atingir o objetivo. Os alunos notam que essas medidas incertas causam confusão. É aí que Michelle introduz o sistema métrico oficial, mostrando a necessidade de padronização das medidas. Durante a disputa, ela segue as equipes, observando os conceitos a reforçar em classe. O primeiro contato com mapas reais é feito com o da cidade de São Paulo. Um cartaz com o perímetro é colocado na parede da classe. Ele é abastecido de símbolos e legendas pelas próprias crianças, estimuladas a representar os lugares da cidade que conhecem (parques, praças, shopping centers etc.). Na 4ª série, a turma vai poder elaborar um mapa mais completo do bairro e do município. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 20 Com a ampliação do universo de estudo geográfico, surge uma dúvida: por que a planificação tem distorções? A professora Cristiane Zandoná, da 4ª série, usa uma laranja para ilustrar. Ela desenha na casca o traçado dos continentes, faz dois cortes em forma de cruz na parte de cima e de baixo da fruta e começa a descascá-la com paciência, para que não se rasgue. "Com a casca esticada, todos compreendem que os desenhos sofreram ligeira modificação ao ser planificados e que essa distorção está presente em todos os mapas com que eles tomarão contato", afirma Cristiane. FONTE: Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/2302/o-tesouro-dos-mapas>. Acesso em: 11 maio 2018. 4 REPRESENTAÇÃO DO PERCURSO CASA-ESCOLA Nos anos iniciais, desenvolve-se a percepção das crianças com os espaços naturais e construídos pelo homem a partir dos lugares mais próximos e familiares de suas vivências, como sua casa e escola. Por isso, uma das recomendações é refazer, com os estudantes das séries iniciais, o trajeto percorrido por eles de suas casas até a escola. Eles devem ser orientados para uma observação mais criteriosa dos espaços, ruas, bairros, construções, vegetação, terrenos desocupados, trânsito, meios de transportes que se encontram ao longo do seu trajeto. Em seguida, eles devem descrever oralmente essas observações, para depois representar por meio de desenhos esses lugares. Posteriormente, ainda, pode-se propor a confecção de maquetes. Aqui também não se pode esquecer de conduzir a criança para que observe e distinga os espaços naturais dos espaços sociais ou humanizados. IMPORTANT E Fala-se em “espaços humanizados”, no sentido de serem ocupados, reelaborados e construídos pelo homem. Nem sempre foram racionalmente planejados, provocando,por vezes, sérios impactos e danos ambientais, invalidando, por vezes, a expressão “espaços humanizados”. Assim, depois de várias atividades ligadas às noções de espacialidade, partindo do esquema corporal e evoluindo para brincadeiras e jogos, as crianças desenvolvem a capacidade de transferir suas percepções para dimensões maiores e mais distantes. Passarão a compreender noções de orientação (como é o caso dos pontos cardeais) e os movimentos da Terra. TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 21 Salienta-se, entretanto, que vários são os passos que conduzirão para uma compreensão e ampliação mais efetivas de muitos conceitos. Somente um trabalho constante e diário poderá garantir uma alfabetização espacial na Educação Infantil e Séries Iniciais. Segundo muitos educadores, a simples adoção da rotina para o desenvolvimento das atividades propostas na Educação Infantil tem contribuído para a percepção e compreensão do tempo e do espaço pelas crianças. Para Ostetto (2000, p. 124), “[...] o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias, “a rotina”, é útil para orientar a criança a perceber a relação espaço-tempo, podendo, aos poucos, prever o funcionamento dos horários da creche”. Com certeza, ainda chegará a compreender por que diferentes espaços são ocupados em horários diferentes, como refeitório na hora de lanchar, pátios para brincar, salas para estudar etc. A ampliação destas compreensões se dá pela representação através dos “desenhos” dos espaços. Nesta perspectiva, a maquete é outro recurso interessante que vem possibilitar uma compreensão melhor das distâncias, medidas e proporções. Neste sentido, Kosel e Filizola (1996, p.39) refletem e escrevem sobre a confecção de maquetes com as crianças: O mapa e a planta são representações planas (bidimensionais) da realidade (tridimensional). Para compreendê-las, a criança necessita de amadurecimento e certo domínio de informações sobre o meio representado. Uma das grandes dificuldades das crianças (e de muitos adultos) na compreensão de um mapa diz respeito à transferência de um conjunto de elementos tridimensionais para uma superfície plana, com apenas duas dimensões (largura e comprimento). Como auxiliá-los? Na passagem do tridimensional para a representação bidimensional, o professor poderá trabalhar, inicialmente, com a construção de uma maquete da sala de aula, empregando sucata e uma caixa de papelão (cerca de 50 x 30 cm). Nessa atividade, ele irá trabalhar com a escala intuitiva, ou seja, a percepção do que é maior ou menor, de modo que as carteiras não fiquem menores que o cesto do lixo. CONSTRUÇÃO DA MAQUETE DO ESPAÇO ESCOLAR Autor: Léia Martins Silveira Coautor: Nilton Goulart de Sousa MODALIDADE/ NÍVEL DE ENSINO COMPONENTE CURRICULAR TEMA Ensino Fundamental Inicial Geografia Dados da Aula UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 22 O que o aluno poderá aprender com esta aula Através desta aula será possível, para o aluno, conhecer a dinâmica intrínseca do seu ambiente escolar, e assim interagir melhor com ele. Sendo, futuramente, capaz de transpô-lo para o desenho e maquete, mostrando suas perspectivas. A construção da maquete permite trabalhar de forma visível e acessível os pontos de vista, perspectiva e projeção. De maneira simples, é possível que o aluno materialize seu espaço em um tamanho reduzido, aplicando então vários conceitos da temática geográfica. Duração das atividades: 2 aulas de 50 minutos cada. Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno: noções de espaço, localização e ponto de referência. Estratégias e recursos da aula Cada imagem e ideia sobre o mundo são compostas, portanto, de experiência pessoal, aprendizado, imaginação e memória. Os lugares em que vivemos, aqueles que visitamos e percorremos, os mundos sobre os quais lemos e vemos em trabalhos de arte, e os domínios da imaginação e da fantasia contribuem para as nossas imagens da natureza, de tudo o que o homem constrói e dele próprio. Todos os tipos de experiências, desde os mais estreitamente ligados com o nosso mundo diário até aqueles que parecem remotamente distanciados, vêm juntos compor o nosso quadro individual da realidade (MACHADO, 1999, p. 97). 1ª Aula: Conhecendo a Escola O espaço físico que a criança participa é de suma importância para a formação de suas concepções de vida, de desenvolvimento-aprendizagem e de todo o seu processo educativo como um todo, pois é neste local que ela desenvolve suas rotinas e, é a partir dele que ela conhece o mundo e pode atuar, como futuro cidadão, aqui, enfatizando-se o espaço escolar, mas não somente ele. A Escola é um dos espaços cotidianos que a criança mais participa, partindo desse pressuposto, é muito relevante o processo de autoconhecimento da sua própria escola, de como é organizada, desenvolvida, suas funções e atividades recorrentes. Assim, neste trabalho inicial, ela será o ponto de partida para possibilitar que o aluno conheça e reflita, posteriormente, sobre o mundo global, e sobre toda a universalidade que o rodeia, além das fronteiras escolares. Assim, Travassos (2001) diz que a partir da percepção que os alunos têm do meio em que vivem é possível que o currículo da Geografia possa ser trabalhado de uma forma dialogada e interativa, caracterizada por uma TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 23 constante troca de experiências, permitindo que os limites da escola possam ser extrapolados e que nossos alunos se tornem atores biopsicossociais capazes de adquirirem uma postura crítica em relação aos fatores naturais, científicos e sociais. Mas antes de ultrapassar qualquer fronteira, primeiramente é preciso conhecê-la. Em um primeiro momento, o objetivo da aula é proporcionar ao aluno o conhecimento do seu espaço escolar, para que seja possível entender toda a dinâmica que existe por detrás da organização física. Antes de construir a maquete é necessário que ele desfrute seu ambiente e o vivencie de todas as formas possíveis, descobrindo outros trajetos diferentes, possíveis, ou até não valorizados. Assim, o passeio pela própria escola proporcionará tudo isso e será um recurso inicial e adicional para a construção da sua maquete. Atividade Proposta: O professor, com a turma em questão, irá conhecer o espaço cotidiano escolar, através da observação. Percebendo, então: • Quais são os pontos de referência da escola. • As áreas mais movimentadas ou consideradas mais importantes, tanto para o aluno quanto para o funcionamento da escola. • Avaliar e perceber os diferentes caminhos físicos na escola, para se chegar ao mesmo destino. Ex.: Refeitório. • Observar as diferentes sequências possíveis do espaço. Ex.: A ordem das salas. • Perceber os vários pontos de vista existentes. Logo após o passeio pela escola, a ideia é propor o desenho do espaço, mas não todo ele. A sugestão é que o professor oriente seu aluno a escolher um determinado local da escola, pois futuramente, esse local é o que será trabalho na maquete. O desenho tem o intuito, também, de perpassar todo o modo como o aluno compreende sua escola, o que valoriza, qual a sua perspectiva sobre tal, qual o referencial adotado, e ainda, de tornar visível o ambiente que mais se sobressaiu para ele. Após o desenho, é importante que o professor discuta e dialogue com a turma, sobre as diferentes propostas analisadas, sobre a importância do espaço escolar, suas funções e questionar quais locais lhe chamaram mais atenção e o porquê dessa escolha, pois ela será importante para toda a preparação do trabalho posterior. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 24 2ª Aula: Construção da Maquete Segundo Almeida e Passini (2002), “a maquete serve de base para explorar a projeção do espaço vivido para o espaço representado”. Ela é a forma material de se trabalhar alguns conceitos da temática da geografia, proporcionando a ação do indivíduo sobre o objeto e, consequentemente, interferindo na sua formação e compreensãodos conteúdos e do mundo. Dá então a visibilidade e a conexão entre a ação do homem e o espaço físico. Com a liberdade de construir sua própria maquete, o aluno analisará a questão espacial do ambiente, a ordem lógica da organização e realizará um planejamento próprio, podendo de forma prática e concreta analisar o porquê de certas ordens e aplicar conceitos, que por vezes são subjetivos. O objetivo dessa aula é que, de preferência, o horário seja integralmente utilizado para o desenvolvimento e a construção da maquete. Devido à faixa etária, a proposta é que a atividade seja individualmente desenvolvida, pois o aluno terá a liberdade de escolher o espaço da escola; irá trabalhar com o melhor planejamento para a efetivação da atividade e irá experienciar de forma singular o que ela significa para ele. É importante, também, que o professor dê significação ao desenho trabalhado, orientando o aluno a usá-lo como base e exemplo na maquete, auxiliando-o também nas dificuldades manuais recorrentes. Atividade proposta: • Escolher o espaço local analisado, que será usado na maquete. • Orientar o aluno a observar, com seu trabalho e com o dos colegas, os espaços físicos da escola. • Debater sobre a importância de cada espaço construído e sua significação para o aluno. • Observar e comparar as dimensões bidimensionais e tridimensionais. • Questionar o aluno sobre a atividade desenvolvida. Perguntas para reflexão: • Por que escolheu esse espaço? • Qual a sua funcionalidade/importância e significação para a escola e para o aluno? • O que poderia ser modificado? Por quê? • Esse espaço poderia ocupar outra área dentro do ambiente escolar? TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 25 Materiais sugeridos: Alguns materiais que podem ser utilizados na maquete, ressaltando que fica a critério do professor escolher aqueles que são mais acessíveis a sua realidade. 1. Caixa de sapato 2. Papelão 3. Caixa de pasta de dente 4. Palito de picolé 5. Palito de Churrasco e muitos outros Assim, a reflexão que fica é que: A Geografia é a ciência que estuda, analisa e tenta explicar (conhecer) o espaço produzido pelo homem e, enquanto matéria de ensino, ela permite que o aluno se perceba como participante do espaço que situa, onde os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens e estão inseridos num processo de desenvolvimento (CALLAI, 1998, p. 56 apud CAVALCANTI, 2002, p. 13). FONTE: Disponível em: <https:// portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula. html?aula=1229>. Acesso em: 26 abr. 2018. 5 AS REDUÇÕES UTILIZADAS NAS ESCALAS Todo mapa é uma forma reduzida de se representar a Terra ou parte dela. Para se fazer isto, precisamos pensar a Terra em proporções menores. Esta redução de proporção será efetuada através de uma escala. Conforme a escala a ser usada, os detalhes ou informações do que estiver sendo representado será maior ou menor. Assim, para que haja compreensão do espaço reduzido, é preciso compreender que, por exemplo, a distância de 1,5 centímetros entre um ponto A e um ponto B – Bahia e Rio de Janeiro – é pequena ou grande, se estes pontos estão muito distantes entre si, ou se, pelo contrário, há proximidade entre eles. Assimilar a noção de escala exige um trabalho contínuo e gradativo. No caso das crianças, devem-se usar as nomenclaturas: escala e não tamanho. Isto é, o professor deve usar os termos que o aluno encontrará nos livros ou ouvir em reportagens sobre o assunto. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 26 5.1 ATIVIDADE PRÁTICA I Noção de escala I Para não ficarmos apenas na teoria, sugerimos, aqui, uma atividade prática que você, acadêmico(a), pode desenvolver; primeiro você mesmo, depois com seus alunos. Pegue algumas fotos e analise as diferenças de tamanho entre elas. Depois, analise as diferenças de tamanho entre as fotos e as pessoas reais. Você chegará, com isso, à noção intuitiva de escala. Noção de escala II Pegue um barbante. Estique-o na extensão de uma parede. Dobre-o tantas vezes quanto necessárias, para caber numa folha. O número de dobras que forem necessárias será equivalente ao número de redução que você deverá estabelecer para a parede e para cada objeto da sala. Suponha que você dobrou o barbante doze vezes; você também deve reduzir doze vezes o tamanho, por exemplo, de uma mesa que está na sala. Este processo pode ser representado, substituindo o barbante por passos, palmos, palitos. A partir disto, você pode partir para mapas e explorar as diferentes escalas. Exemplo: uma escala de 1:200.000 (“um para duzentos mil”) indica que o espaço nele representado foi reduzido em 200 mil vezes do tamanho natural. IMPORTANT E Todo mapa deve apresentar a escala que foi utilizada na sua confecção (você a encontrará em algum ponto do mapa). No caso do mapa-múndi que apresentar a escala 1:30.000.000, (lê-se: 1 centímetro deste mapa equivale a 30.000.000 [milhões] de centímetros no espaço real). Para sabermos as distâncias aproximadas entre duas cidades deste mapa, medimos inicialmente com uma régua quantos centímetros há entre elas e, em seguida, multiplicamos pela escala, cortando cinco casas de zero (isto porque estas casas se referem a centímetro, decímetro, metro, decâmetro e hectômetro), para se chegar a quilômetro, medida mais comumente utilizada. Exemplo: se a medida com a régua entre as duas cidades escolhidas é de 4 cm, calcula-se: 300 x 4 = 1.200 km. TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 27 5.2 SÍMBOLOS, LEGENDAS OU CONVENÇÕES Para se ler um mapa, além das noções de escala, é necessário que se conheçam os símbolos e/ou convenções cartográficas que usualmente se utilizam. Como o mapa não é uma fotografia e, por isso, não apresenta de modo objetivo tudo o que se quer representar, lança-se mão de formas de figuras (símbolos), que informam a existência de dados objetivos na área mapeada. Por exemplo, o desenho de um aviãozinho representa a existência de um aeroporto; traços azuis representam rios. Estes símbolos, que são convencionados, devem vir devidamente legendados no rodapé do mapa. Convém lembrar, também, que tais símbolos não são criados ou modificados por qualquer um, eles passam por uma convenção (acordo) internacional, para que o mapa possa ser utilizado por todos, independentemente do país onde estiver sendo lido. 5.3 ATIVIDADE PRÁTICA II Sugerimos, aqui, como ação de sala de aula, que desenvolva, com seus alunos, a criação de símbolos e legendas. Vamos ver como podem ser tais atividades: Convidar os alunos a criarem símbolos para situações como: banheiro (masculino e feminino); restaurante à beira da estrada; escola; danceteria. Expor símbolos ou convenções cartográficas e pedir que os alunos digam para que servem. Promover a criação de símbolos cartográficos e pedir que os alunos fixem os mesmos em um mapa em branco (o mapa também pode ser feito pelos alunos; este mapa pode ser do estado, da região ou do município). Esta atividade desenvolverá neles o conhecimento sobre a área representada no mapa. Outra atividade que também pode ser efetuada é a criação de símbolos para a escola ou para a própria sala de aula. Aqui deve se usar uma planta do colégio ou da sala. Com isto eles notarão que as plantas arquitetônicas são espécies de representação de um espaço, tais quais os mapas. Como você viu, as atividades de cartografia podem ser interessantes de se desenvolver. Basta um pouco de imaginação. Nas séries seguintes, podem-se buscar conhecimentos mais complexos que, por sua vez, prepararão os estudantes para a leitura e interpretação dos mapas geográficos. No Brasil, além dos baixos indicadores de desempenho na leitura, escrita e cálculo, há uma dificuldade imensa de localização e conhecimento de mapas. A Leitura Complementar, a seguir, discute esta questão abordada recentemente por uma revista de circulação nacional. UNIDADE 1 | GEOGRAFIA: UMA CIÊNCIA 28 LEITURA COMPLEMENTAR EDUCAÇÃO E A GENTE AINDAGOZA DOS AMERICANOS... Em matéria de conhecimentos geográficos, os brasileiros são de uma ignorância que não está no mapa O Brasil tem quatro mecanismos federais de avaliação do ensino: o SAEB, o ENADE, o ENEM e a Prova Brasil, todos de padrão internacional. A cada vez que se divulga um de seus resultados, uma torrente de más notícias sobre a educação é despejada pelos jornais. Mas nenhum desses testes jamais captou um dado tão alarmante quanto o que surge da pesquisa Pulso Brasil, do instituto Ipsos, que acaba de sair do forno. Os pesquisadores abriram um mapa-múndi na frente dos entrevistados (1000 pessoas, em setenta municípios das nove regiões metropolitanas) e lhes pediram que indicassem onde ficava o Brasil. Somente metade acertou. É isso mesmo: o levantamento mostra que 50% dos brasileiros não sabem localizar o país no mapa. Houve os que chutaram as respostas. Vieram desse grupo disparates de corar de vergonha. Para 2%, o Brasil fica na Argentina. Um porcentual pouco maior acha que o país se localiza na África – a dúvida é se no Chade ou na República Democrática do Congo. Outros 29% nem tentaram responder. A pesquisa do Ipsos tem a força de um soco na boca do estômago nacional. Quase 10% dos entrevistados que passaram por uma faculdade (tendo completado ou não o curso) não sabem que o Brasil se localiza na América do Sul. Esse porcentual sobe para 30% entre os que fizeram o Ensino Médio (estágio em que um aluno deveria ter estudado Geografia durante pelo menos seis anos) e aumenta para 50% entre os que iniciaram o Ensino Fundamental. Ignorar uma informação tão simples é o equivalente, em matemática, a não saber adicionar 2 mais 2. Previsivelmente, o desconhecimento em relação aos outros países é ainda maior. Só 18% dos brasileiros conseguem identificar os Estados Unidos e apenas 3% localizam corretamente a França. Quanto à Argentina, tão citada em piadas futebolísticas, 84% nem sequer desconfiam de que faz fronteira com o Brasil. Esse tipo de informação está longe de ser uma “cultura inútil”. A ignorância do mapa- múndi impede que se entendam as relações de poder entre os países e compromete o aprendizado de história, entre outras disciplinas. “O estudante que não decifra o mapa-múndi não reconhece o mundo concreto que o cerca. É simples assim”, resume a secretária de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. O dado irônico é que os brasileiros atribuem aos americanos uma grande ignorância em matéria de Geografia. Gostam de dizer, em tom gaiato, que os gringos não têm a mínima ideia de como se divide o planeta. Não é bem assim. A mais recente pesquisa sobre o assunto mostrou que 86% dos americanos sabem exatamente onde fica seu país, 81% reconhecem o México, 54% a França e 47% a Argentina. Eles dão um banho, convenhamos. TÓPICO 2 | A CARTOGRAFIA 29 A péssima qualidade dos professores está na base dessa vergonha, agravada pela falta de mapas nas escolas. Acrescente-se a falta de instrução familiar e pronto: está formado o ambiente propício para criar gerações de brasileiros que exibem uma ignorância que não está no mapa. Nunca antes neste país: e não se trata do Chade ou da República Democrática do Congo. FONTE: VEJA. Educação e a gente ainda goza dos americanos. São Paulo: Abril, n. 44, 07 nov. 2007. p. 108-109. 30 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: A cartografia é o ramo da ciência responsável pela confecção de mapas e representações espaciais. Na Educação Infantil e Séries Iniciais, trabalha-se a noção de espaço através de observações, relatos e desenhos simples dos espaços conhecidos e vividos pelos pequenos estudantes. Representar a Terra não é fácil. Por isso, o professor também deve compreender a representação espacial da Terra como uma imagem incompleta. Um mapa sempre apresentará distorções de imagem, porque é impossível representar a curvatura da Terra num plano. O professor que domina os conceitos fundamentais da Geografia estará livre para transitar de um conteúdo para outro, imprimindo um roteiro próprio à aula, de acordo com os interesses e a maturidade da turma. Pode, tranquilamente, trabalhar os conteúdos bairro e mundo ao mesmo tempo, por exemplo, pois não estará preso à sequência da matéria. Assim, poderá trabalhar um conceito de espaço presente na parte e no todo. Nas Séries Iniciais, o trabalho com espaço envolve, ainda, a noção de orientação e localização: em cima/embaixo, ao lado/entre, esquerda/direita, direções cardeais etc. Implica também a sua representação (uso de mapas, globo, maquetes) e estudo dos elementos do espaço, sejam eles naturais (clima, vegetação, relevo) ou culturais (cidade, bairro, meio rural, migrações, indústria) além de sua distribuição no espaço, isto é, a localização desses elementos. Na Educação Infantil, iniciam-se as construções das primeiras noções de espaço. Assim, os pequenos estudantes devem ser preparados e trabalhados para que o espaço “vivido” se torne um espaço “percebido”. Assim, recomenda-se refazer, com as crianças, os percursos e trajetos percorridos de suas casas até a escola, com descrição oral, desenhos e maquetes. 31 1 Defina a cartografia. __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2 Por que a representação espacial da esfera terrestre é sempre uma imagem incompleta? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3 Qual é a vantagem e a desvantagem de se representar a Terra pelo globo terrestre? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 4. Coloque (V) para as afirmações verdadeiras e (F) para as falsas: a) ( ) Para se compreender a noção de espaço, também se deve entender como o homem transforma a natureza por meio do trabalho, produzindo o chamado “espaço geográfico”. b) ( ) Espaços humanizados são espaços reelaborados sempre racionalmente com a ocupação humana. c) ( ) O trabalho com mapas e a linguagem cartográfica podem ser iniciados a partir da construção de maquetes de espaços próximos e conhecidos das crianças. d) ( ) Todo mapa é uma forma reduzida de se representar a Terra ou parte ela. Esta redução de proporção se efetuará através da legenda. e) ( ) A escala de um mapa indica a proporção entre o objeto real (o mundo ou uma parte dele) e sua representação cartográfica, ou seja, quantas vezes o tamanho real teve de ser reduzido para poder ser representado. AUTOATIVIDADE 32 33 TÓPICO 3 NOÇÕES DE ORIENTAÇÃO E LOCALIZAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Ler e interpretar mapas, representações pequenas e abstratas dos espaços constitui-se num trabalho que vai prescindir de noções de localização e orientação. Portanto, a noção primeira de espacialidade exige um reconhecimento ou uma percepção mais detalhada e criteriosa de cada espaço ocupado e vivido pelas crianças na Educação Infantil e Séries Iniciais. Muitos geógrafos e professores têm discutido esta questão, como podemos ler no texto que segue: 2 A PRÁTICA DE ENSINO DE GEOGRAFIA E A ESPACIALIDADE Um ponto de partida relevante para se refletir sobre a construção de conhecimentos geográficos, na escola, parece ser o papel e a importância da Geografia para a vida dos alunos. Há um certo consenso entre os estudiosos da prática de ensino de que esse papel é o de prover bases e meios de desenvolvimento e ampliação da
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