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CENTRO UNIVERSITÁRIO ASSUNÇÃO UNIFAI Allan Marcel Domingos Andrade A UNIVERSIDADE CORPORATIVA NO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS DA ORGANIZAÇÃO São Paulo 2011 Allan Marcel Domingos Andrade A UNIVERSIDADE CORPORATIVA NO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS DA ORGANIZAÇÃO ____________________________________________________________________ ORIENTADOR (a): Prof. Msc. MARIA LUIZA MARQUES DE ABRANTES São Paulo 2011 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Administração para obtenção parcial do grau de Bacharel em Administração. Allan Marcel Domingos Andrade A UNIVERSIDADE CORPORATIVA NO DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS DA ORGANIZAÇÃO Aprovado em dezembro de 2011. ____________________________________________________________________ ORIENTADOR (a): Prof. Msc. MARIA LUIZA MARQUES DE ABRANTES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Administração para obtenção parcial do grau de Bacharel em Administração. A minha mãe, irmã, noiva e amigos pelo apoio recebido durante a elaboração deste trabalho. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por mais uma conquista em minha vida, que durante quatro anos lutei muito para que se realizasse o sonho de me formar, agradeço a todos, desde aqueles que me ajudaram de alguma maneira e mais significativa até aqueles que me ajudaram de maneira mais singela como os meus colegas de sala de aula e de faculdade, obrigado. À Profª. Maria Luiza Marques de Abrantes, por sua dedicação e colaboração no decorrer desta pesquisa, sempre apresentando observações importantes em seus comentários. À Profª. Vera Lúcia de Jesus, pela colaboração extremada, na fase inicial deste trabalho. RESUMO O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância das Universidades Corporativas e demonstrar como as Universidades Corporativas desenvolvem pessoas. Para tanto foi utilizado à pesquisa bibliográfica e os autores, Alperstedt, 2001; Eboli, 1999; Fleury, 1999; Meister, 1999 e Senge, 1999. Os resultados demonstram que a Universidade Corporativa é uma grande quebra de paradigmas dentro da organização. Ela permite o envolvimento total das pessoas que rodeiam as empresas no âmbito interno e externo, possibilitando o conhecimento da organização, cultura, tradições, projeto, qualidade, resultando num envolvimento muito maior com o negocio e os objetivos da empresa. A Universidade Corporativa tem a função de preparar as pessoas para um novo contexto organizacional, caracterizado por mudanças constantes e alta competitividade. A humanidade está inserida na fase da economia do conhecimento. As pessoas estão, cada vez mais, realizando trabalhos que necessitam de maior informação. É nesse patamar que se passa a não considerar mais a qualificação manual, e sim mental. Palavras-chave: Universidade Corporativa, Desenvolvimento, Aprendizagem. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 9 2. CONCEITO DA UNIVERSIDADE CORPORATIVA 11 2.1 O Termo Universidade 12 2.2 Universidade ou Educação no Ambiente Corporativo? 13 2.3 Princípios e Características da Universidade Corporativa 15 2.4 Estratégias, Dificuldades, Limitações e Legalização da Educação Corporativa no Brasil 17 2.5 O Que São Universidades Corporativas? 20 2.5.1 Missão, Objetivos da Universidade Corporativa 21 2.5.2 Estruturação da Universidade Corporativa 26 2.5.2.1 Planejamento de uma Universidade Corporativa 27 2.5.2.2 Operação / Funcionamento de uma Universidade Corporativa 28 2.5.2.3 Envolvimento dos Líderes com o Aprendizado 29 3. UNIVERSIDADES CORPORATIVAS NO MUNDO 30 3.1 Universidades Corporativas no Brasil 35 3.1.1 AMBEV 36 3.1.2 AMIL 37 3.1.3 PETROBRÁS 38 3.1.4 Análise das Empresas 40 3.2 Perfil das Universidades Corporativas no Brasil 41 4. UNIVERSIDADE CORPORATIVA COMO ALAVANCA DA VANTAGEM COMPETITIVA 45 4.1 O Ensino Superior em busca da excelência 46 4.2 Da Educação Formal à evolução dos modelos de educação 47 4.3 Tendências da Educação Superior para o século XXI 49 4.4 Educação Corporativa 50 4.5 Principais diferenças entre a Educação Formal e a Educação Corporativa 51 4.6 Universidades Corporativas lutam por certificação 53 4.7 Universidades Corporativas e Gestão do Conhecimento 54 4.8 Universidade Corporativa como fonte de vantagem competitiva 55 4.9 Motivação para a Universidade Corporativa 57 4.9.1 Benefícios 59 CONCLUSÃO 61 REFERÊNCIAS 64 9 1. INTRODUÇÃO Nos dias atuais o conhecimento é tratado como ativo dentro das organizações. A velocidade com que ocorrem as mudanças tem levado muitas organizações bem- sucedidas a refletir e comprovar que é necessário treinar os seus colaboradores de acordo com suas necessidades e manter um processo de aprendizado contínuo para desenvolver qualificações. As Universidades Corporativas surgiram em momentos de grandes mudanças na sociedade, na educação e na busca de qualificação profissional. Nos anos 50, 60 e 70, nos Estados Unidos, as grandes e pequenas empresas formaram grupos para ensinar aos trabalhadores profissionais como fazer melhor o seu trabalho. Essas infra-estruturas educacionais, dentro das organizações, proliferaram em todo o país e ficaram conhecidas como universidades, institutos ou faculdades corporativas. A meta era que os profissionais estivessem a par ou adiante de todos os acontecimentos. A missão da Universidade Corporativa é formar e desenvolver os talentos humanos nos negócios, promovendo a geração, assimilação, difusão e aplicação do conhecimento organizacional, por meio de um processo de aprendizagem ativa e contínua, gerando resultados. As Universidades Corporativas são gerenciadas pelo departamento de recursos humanos da empresa, sendo que reúne instituições e professores escolhidos pela capacidade que têm de desenvolver projetos de capacitação com qualidade, vidando encontrar novas idéias e soluções, explorando novas maneiras de disseminar o conhecimento para melhorar pó desempenho do trabalho. 10 O objetivo desta pesquisa é demonstrar a importância da UC e demonstrar como as UC’s desenvolvem pessoas nas organizações. Para tanto foi utilizada à pesquisa bibliográfica que consiste em: leitura, fichamento, elaboração e apresentação de conceitos. Os autores utilizados foram: Alperstedt, 2001; Eboli, 1999; Fleury, 1999; Meister, 1999 e Senge, 1999. A estrutura do trabalho está dividida em quatro capítulos. O primeiro capítulo apresentará a introdução do trabalho. O segundo capítulo abordará os conceitos da Universidade Corporativa, histórico, evolução, princípios, conceitos necessários para um melhor entendimento da importância da Universidade Corporativa e missão e objetivos. No terceiro capítulo será apresentada a Universidade Corporativa no mundo e no Brasil e características. Para complementação da teoria serão apresentados exemplos de empresas que possuem suas próprias universidades corporativas, como a Ambev, Amil e Petrobrás. O quarto abordará os diversos conceitos de vantagem competitiva, a aprendizagem organizacional em busca da vantagem competitiva, diferenças entre a Educação Formal e a Educação Corporativa e gestão do conhecimento. Os resultados do estudo apresentam o conceito de Universidade Corporativa como instrumento de aprendizagem contínua dentro das organizações, de modo que essa aprendizagem crie vantagem competitiva para o colaborador e para a empresa, pois o valor não está no conhecimento em si, e sim em como ele é aplicado. 11 2. CONCEITO DA UNIVERSIDADE CORPORATIVA As Universidades Corporativas (UC’s)estão tomando conta do mundo empresarial e começando a mudar o conceito da educação profissional. As empresas objetivam adquirir vantagem competitiva sustentável, tornando-se mais flexíveis e atentas às questões relacionadas com a empregabilidade e a redução nos prazos do conhecimento de seus funcionários, dentro de um modelo globalizado de educação geral. Observa-se que o modelo de educação profissional, apresentado pelas UC’s, visa um melhor gerenciamento do capital intelectual e do conhecimento de seus pares. Para tanto, as empresas assumem o desenvolvimento de seus treinamentos, fazendo uso de modernas tecnologias associadas às teorias pedagógicas, buscam romper barreiras (legais e culturais). Fazem convergir seus treinamentos aos objetivos de negócio da empresa. O tema universidade ou educação corporativa, segundo Fleury (1999), destaca- se por sinalizar a superação dos modelos tradicionais de treinamento e desenvolvimento – T&D – pelas empresas. Novas formas e relações para aprendizagem, gerando uma permuta de informações através das parcerias, podem ser irradiadas na cadeia produtiva, de suprimento ou na interação com as instituições de ensino. Na formação inicial da pessoa, compete às universidades e instituições formais de ensino desempenhar um papel primeiro e único no processo de aprendizagem, construindo os alicerces de conhecimentos teóricos, sociais e metodológicos, os quais constituirão a base para o desenvolvimento das competências necessárias para a organização. A formação profissional definitiva é transmitida no mercado de trabalho, que dá continuidade na aprendizagem, alinhada com os objetivos estratégicos da empresa que o acolhe. 12 Dentro deste cenário é que vem surgindo a “Universidade Corporativa” como um sistema eficaz de desenvolvimento de competências e talentos humanos nas empresas não sendo uma ameaça as Universidades Tradicionais, nem significando esvaziamento no papel das mesmas (EBOLI, 1999). Pelo contrário, a autora acrescenta que: [...] as experiências mais bem-sucedidas de Universidades Corporativas são aquelas que realizaram parcerias com algumas universidades que têm a competência para agregar valor a estes programas corporativos, contribuindo assim para que as empresas realizem com mais competência e resultado o processo de gestão do conhecimento, considerado crítico para o sucesso do negócio. Complementa a autora que é crescente no mundo a implantação de UC’s e que os impactos positivos de seu surgimento refletem-se logo nos resultados do negócio da organização. A adoção de Sistemas Educacionais Competitivos configura-se como uma alternativa de estratégia empresarial na busca de melhorias na gestão do conhecimento e na valorização das competências como vantagem competitiva (EBOLI, 1999). 2.1 O Termo Universidade A natureza do termo Universidade, ao longo da história, deu importância e prestígio para quem desta associação fazia parte. Na Idade Média o prestígio repousava sobre a admiração pela “educação”, com o relato de dois reinos (o prático e o filosófico). Já “a Universidade Medieval existiu para preparar religiosos, monges e frades, professores e mestres” e era desacreditada pela sua baixa contribuição à ciência e tecnologia. No século XVII com as teorias de Newton e Locke é que desabrocham como fornecedoras de idéias técnicas estimulantes para a sociedade. 13 Momento em que foram ajustadas para treinar profissionais para áreas específicas e necessárias à sociedade (MINOGUE, 1981). Foi em meados deste século que Hobbes, precursor da visão funcional, apresentou a seguinte versão: “O que agora é chamado Universidade é um agrupamento e uma incorporação de muitas escolas públicas, sob um governo, em uma mesma localidade ou cidade”. O mesmo autor argumenta que explorar o conceito de universidade exige que seja apresentada a visão filosófica que acomode, muito incomodamente, os campos da educação e da teoria político e social. Considerando-as, ainda, como usinas intelectuais e as circunstâncias históricas de sua criação (MINOGUE, 1981). Segundo as leis brasileiras, universidade se faz pela indissociabilidade das atividades de produção, transmissão e, socialização do conhecimento. O DECRETO no. 2.306, de 19 de agosto de 1997, no “Art. 9º estabelece que”: As universidades, na forma do disposto no art. 207 da Constituição Federal, caracterizam-se pela indissociabilidade das atividades de ensino, de pesquisa e de extensão, atendendo ainda, ao disposto no art. 52 da Lei n. 9.394, de 1996. Parágrafo único. A criação de universidades especializadas, admitidas na forma do parágrafo único do art. 52 da Lei n. 9.394, de 1996, dar- se-á mediante a comprovação da existência de atividades de ensino e pesquisa tanto em áreas básicas como nas aplicadas. 2.2 Universidade ou Educação no Ambiente Corporativo? O conceito apresentado por Meister (1999), diz que Universidade Corporativa: [...] é o guarda-chuva estratégico para o desenvolvimento e educação de funcionários, clientes e fornecedores, com o objetivo de atender às estratégias empresariais de uma organização. Com ênfase no autogerenciamento, nas realizações individuais e de equipe e na identificação com o aperfeiçoamento da carteira de qualificações do funcionário, ou seja, o aprendizado permanente. 14 Na opinião de Eboli (1999) “é, sobretudo um processo e uma mentalidade que permeiam toda a organização, e não apenas um local físico de aprendizado”. O uso na empresa traz prestígio para quem dela se torna responsável dentro da organização, além disso: [...] pode causar uma ótima impressão aos clientes ou sócios se o diretor- presidente de uma empresa puder dizer que “nosso pessoal está sendo treinado em nossa própria universidade”, ou “se nós assinarmos este acordo de parceria poderá abrir as portas de nossa universidade para seus empregados” (Eboli, 1999). Embora precisem dos alunos formados nas universidades acadêmicas, os empresários alegam que os universitários recém formados levam muito tempo para atender as exigências de produtividade e competitividade das empresas que os contratam. As empresas contratam os jovens e, formam-nos com um aprendizado específico e aplicado unicamente ao seu negócio, em paralelo à sua graduação buscam acelerar o processo de obsolescência do conteúdo programático dos cursos a que pertencem. Agem assim, com o intuito de minimizar os problemas gerados pela velocidade de mudanças, impostas pela dinâmica atual dos mercados. Essa é uma polêmica que merece investigação mais profunda. Diante do exposto é possível afirmar que o termo universidade corporativa, embora satisfaça a vaidade de quem dela faz parte nas organizações empresariais, não aplica o conceito em sua plenitude. Em geral, as UC’s não dispõem de espaço fixo, laboratórios destinados à aprendizagem. Além disso, na sua maioria não são credenciadas com a finalidade de promover a educação geral ou profissional. Porém, a proliferação de programas de formação nas organizações conduz, entre outras coisas, a um compromisso social das empresas. Finalmente, a partir do referencial teórico, se propõe adaptar um conceito que consiga reunir todas as ações educativas no ambiente de trabalho e os níveis funcionais atingidos pela proposta da organização. Assim, a educação corporativa é um processo de mudança das práticas de treinamento, a começar pela oferta da formação de base a funcionários e clientes, considerando os aspectos culturais, 15 tecnológicas e organizacionais, com a incorporação ou não das novas tecnologias, com foco no negócio e no aumento de competitividade da organização. 2.3 Princípios e Características da Universidade Corporativa O modelo de universidade corporativa se organiza em torno de princípios e objetivos,com foco nos funcionários e no intuito de que eles formem uma força de trabalho de altíssima qualidade, para tornar a empresa mais competitiva no mercado globalizado (MEISTER, 1999). São consideradas características mais comuns ao tipo de sistema de aprendizagem, entre outras: oportunizar a formação segundo as necessidades da organização; considerar o modelo UC um processo; elaborar currículos que trabalhem os aspectos de cidadania, estruturação contextual e competência básica; assumir um foco global no desenvolvimento de soluções de aprendizagem; criar um sistema de avaliação dos resultados e também dos investimentos. Meister (1999) e Eboli (1999) defendem o uso do termo Universidade Corporativa e afirmam que o conceito corresponde a implementar os seguintes pressupostos: a) objetivo principal – desenvolver as competências críticas ao invés de habilidades; b) foco do aprendizado – privilegia o aprendizado organizacional, fortalecendo a cultura corporativa e não apenas o conhecimento individual; c) público-alvo – interno e externo (clientes, fornecedores e comunidade), ao invés de somente funcionários; d) ênfase dos programas – concentra-se nas necessidades dos negócios, tornando o escopo estratégico e não focado, exclusivamente, nas necessidades individuais; e) missão – consiste em formar e desenvolver os talentos humanos na gestão dos negócios, promovendo a geração, assimilação, difusão e aplicação do conhecimento organizacional, através de um processo de aprendizagem ativa e contínua. 16 A idéia defendida pelas autoras, citadas acima, no tocante ao desenvolvimento das competências críticas ao invés de habilidades, que usualmente já era o foco dos programas de formação empresariais, é ainda questionada. Dado que esse é o objetivo das universidades acadêmicas e segundo o que foi comprovado na revisão bibliográfica é um modelo rejeitado pelos empresários. Fica a interrogação: O modelo dessas universidades é ou não similar ao acadêmico? Essa idéia não vai contra o que já foi predefinido como objetivo da UC? O sucesso dos projetos nessas universidades, associados à gestão do conhecimento, considera fatores como: os culturais orientados ao conhecimento; a infra- estrutura técnica e organizacional, o apoio da alta gerência, a vinculação do valor econômico e setorial, a orientação para o processo, a clareza de visão e linguagem, os elementos motivadores não triviais e a estruturação do conhecimento em múltiplos canais, oportunizando a transferência em todos os níveis organizacionais. As iniciativas de utilizar estratégias, para a gestão do conhecimento, tomam força com o uso em larga escala, de intranets, softwares de mapeamento de processos, aplicações de Gerenciamento Estatístico de Dados, programas de colaboração e de integração de equipes de trabalho, sistemas para captação e disseminação de conhecimento, sistemas de e-learning entre outras. Normalmente, as UC’s são gerenciadas pelo responsável do departamento de recursos humanos da empresa. Empreitada que reúne as instituições e professores escolhidos pela capacidade que têm de desenvolver e oferecer projetos de capacitação com qualidade. As empresas querem programas educacionais mais flexíveis que muitas vezes não é encontrado nas IES. Por essa, entre outras razões, Meister (1999) afirma que essas universidades contam com o “melhor dos melhores professores das instituições”. A pesquisa identificou que existem espalhadas por todo o país, empresas que oferecem aos seus funcionários oportunidades de educação geral e 17 profissional. No Brasil, as organizações que adotam o termo UC estão, na sua maioria, reunidas nas regiões Sul e Sudeste e o foco de seu programa educacional são os níveis táticos e estratégicos. Reafirma-se a importância de inserir e prestigiar as várias manifestações de formação profissional no ambiente corporativo, por isso a investigação adota o termo educação corporativa. 2.4 Estratégias, Dificuldades, Limitações e Legalização da Educação Corporativa no Brasil A educação corporativa é implantada numa unidade criada pelas empresas, para ministrar cursos focados nas estratégias de negócios da companhia, em geral no departamento de recursos humanos. Cresce o interesse das organizações empresariais em investir em treinamento, na educação formal e continuada de seus funcionários, fornecedores e parceiros. O investimento na formação profissional é uma estratégia da alta direção que permite a transferência de informações com geração de conhecimento, não apenas para os funcionários, mas para toda a cadeia de abastecimento. Com facilidade na aquisição de equipamentos inovadores e com os avanços constantes associados aos meios de comunicações, o desafio é desenvolver projetos de educação que atendam aos objetivos das organizações, maximizando o uso da tecnologia na aprendizagem e fazendo parcerias com instituições de ensino. O problema atual da implantação destes modelos nas organizações, não é só o gerenciamento instrucional, mas o administrativo. No caso das corporações brasileiras falta-lhes um plano estratégico que oriente na gestão do negócio, com a melhor utilização da ferramenta disponível. O cenário da aprendizagem corporativa no país, pela Internet, (e-learning) está em processo de aprendizagem, sendo sua implementação, pouco a pouco alinhada com o plano de negócio da empresa (Business Plan), provocando 18 mudança cultural na visão estigmatizada de que treinar é sinônimo de despesa (custo). No caso das UC’s do Brasil, as empresas repetem a experiência de seguir o exemplo do modelo americano, migrando os seus departamentos de Recursos Humanos para esta nova forma de administrar programas de treinamento, sem, contudo, realizarem um estudo prévio e muito menos um planejamento estratégico de longo prazo. A dificuldade começa pela falta de investimento. Os empresários brasileiros conhecem o tamanho do problema e sabem onde estão os focos de ineficiências e distorções que emperram a competitividade da produção doméstica e a atratividade da inversão de capitais na economia brasileira. No entanto, as questões relacionadas com a educação nas empresas são sempre colocadas à parte, pela sua complexidade e por se tratarem de questões de mais longo prazo, requerendo um tratamento mais aprofundado e uma análise específica. Assim, o modelo de universidade que adotam considera somente os parâmetros de mercado e o aumento da produtividade em curto prazo. A eficiência e a eficácia do aprendizado têm ênfase no resultado prático no produto da empresa. Lidam-se, agora, com os cursos como geradores de soluções de problemas. Quadro 1: Conflitos da Educação Profissional no Brasil Cenário Atual Foco Meta Instituição de Ensino Apresenta-se tradicionalmente acadêmica na formação de seus egressos, mas fazem experimentos usando tecnologias e reformulam currículos. Transformaçã o humana e social Longo Prazo Governo Preocupado com os índices de desemprego ofertam Programas de Formação para Empreendedores e avaliam seus resultados baseados em números de atendimentos feitos. Não existe um projeto de educação profissional amplo. Sócio- econômico Médio Prazo 19 Empresa Convive com problemas de Alta Rotatividade e não dispõe de mão-de-obra especializada. Embora digam que Educação é responsabilidade do governo querem maximizar seu investimento. Tornam-se abertas a novas opções e a parcerias para formação (Universidade Corporativa-Trainee, pós). Competitividade Curto Prazo FONTE: Quadro Elaborado pelo autor (2011). A questão tempo é um fator limitante, pois gera conflitos entre Empresa, Instituições de Ensino e Governo. O cenário observado nesses órgãos mostra que cada um tem foco e meta diferentes, para os problemas relacionadoscom o indivíduo e a empregabilidade no futuro. Todos os conflitos são fatores que dificultam e limitam o crescimento da educação corporativa nas organizações brasileiras. O momento é propício para repensar a educação e o modelo brasileiro de preparação para o mercado de trabalho. Há um enorme esforço marcado pela busca da universalização do ensino e da democratização, não só do acesso e das oportunidades de aprendizagem, mas, também, no que diz respeito a sua gestão. As empresas estão investindo muito dinheiro em tecnologia de educação à distância. As dificuldades passam pela forma de gerir a estrutura a distância, com a mentalidade do quadro e giz e por continuar tratando seus funcionários como se não fossem adultos. O problema não está na cultura do e- learning, que estaria se disseminando e criando a oportunidade das pessoas aprenderem no seu ritmo, mas na cultura organizacional. Nos EUA existe uma comissão Web-Based Education Comission (WBEC) para discutir a regulamentação do ensino pela Internet. A comissão está estudando questões como: conteúdo do material didático, credenciamento das instituições de ensino, direito autoral e medidas de segurança. Discussões sobre o tema no Brasil ainda são insipientes, mas cresce nos meios acadêmicos estudos e pesquisas, fazendo uso dessas tecnologias. 20 2.5 O Que São Universidades Corporativas? As principais menções às Universidades Corporativas surgiram há pelo menos 40 anos, desde que a General Electric lançou a Crotonville, em 1955, mas o verdadeiro surto de interesse na criação de uma Universidade Corporativa, como complemento estratégico do gerenciamento do aprendizado e desenvolvimento dos funcionários de uma organização, ocorreu no final da década de 80. Durante esse período as empresas perceberam que o desenvolvimento de suas forças de trabalho não poderia ser dependente apenas das instituições de ensino tradicionais, pelo contrário, o papel da organização dentro do sistema de aprendizagem deveria ser mais incisivo e voltado para as metas e estratégias da corporação. As organizações que vêm adotando o modelo de Universidade Corporativa estão percebendo o valor da aprendizagem como ativo empresarial. Essa constatação tem permitido um incremento nas funções de educação dentro da empresa, inclusive no que diz respeito à concessão de tempo para estudos. O conceito de Universidade Corporativa pode ser definido conforme os autores a seguir: Para Meister (1999) as Universidades Corporativas são um guarda- chuva estratégico para desenvolver e educar funcionários, clientes, fornecedores e comunidade, a fim de cumprir as estratégias empresariais da organização. Ainda segundo a autora, As Universidades Corporativas têm como objetivo: Sustentar a vantagem competitiva, inspirando um aprendizado permanente e um desempenho excepcional dos valores humanos e, conseqüentemente, da organização. Eboli (1999) define como seu objetivo principal o desenvolvimento e a instalação das competências profissionais, técnicas e gerenciais consideradas essenciais para a viabilização das estratégias negociais. 21 As Universidades Corporativas centralizam a solução de aprendizado para cada cargo e função dentro da organização e representam um poderoso instrumento para que a base humana sustente a desenvolvimento estratégico da empresa. As empresas que direcionam recursos para a criação dessas universidades corporativas acreditam fervorosamente que a chave do seu sucesso e de sua vantagem competitiva no mercado está em oferecer aos funcionários maior acesso à atualização de seu conhecimento e de suas qualificações. As Universidades Corporativas trabalham para encontrar novas idéias e soluções, explorando novas maneiras de disseminar o conhecimento para melhorar o desempenho no trabalho. Trabalham como laboratórios de aprendizagem, desenvolvendo e explorando novos métodos institucionais, tecnologias de aprendizagem, ferramentas de auto-desenvolvimento e transferência de conhecimento. Na era do conhecimento, as Universidades Corporativas se consolidam como um dos meios mais eficientes de educação continuada para as empresas. Com um nome imponente, as Universidades Corporativas estão ganhando espaço nas organizações que optaram pela sofisticação de seus sistemas de capacitação profissional, sendo o seu maior trunfo a possibilidade de alinhar as estratégias de negócios e as competências da empresa, e a partir daí desenvolver as competências individuais e em grupos. 2.5.1 Missão, Objetivos da Universidade Corporativa Eboli (1999) define que a missão da Universidade Corporativa é formar e desenvolver os talentos humanos na gerência dos negócios, promovendo a gestão do conhecimento organizacional, incluindo sua geração, assimilação, difusão e aplicação. A mesma autora complementa que o principal objetivo das Universidades Corporativas é o desenvolvimento e a instalação das competências profissionais, 22 técnicas e gerenciais consideradas essenciais para a viabilização das estratégicas da organização. Para tanto é necessário que exista dentro da organização a capacidade de identificar qual é a sua competência empresarial, o que realmente constituirá seu diferencial competitivo e conseqüentemente o sucesso da organização. Eboli (1999) acredita que para a implementação das Universidades Corporativas é importante que sejam observados os pontos a seguir: a) Definição clara do que é crítico para o sucesso da empresa e realização de diagnóstico das competências essenciais. b) Objetivo principal - desenvolvimento das competências essenciais – humanas e empresariais. c) Foco do aprendizado organizacional fortalecendo a cultura corporativa voltada à aprendizagem, inovação e mudança, e não apenas o conhecimento individual. d) Públicos-alvo – público interno e externo, incluindo toda a cadeia de agregação de valor: de cliente, fornecedores, distribuidores, parceiros e comunidade, e não somente funcionários. e) Ênfase dos programas orientados para as necessidades dos negócios, tornando o escopo estratégico, e não apenas nas necessidades individuais. Os autores Junqueira e Vianna, Sales (2002), afirmam que a composição das Universidades Corporativas é formada por: a) Missão: combater com rapidez a obsolescência do conhecimento, acelerar o seu fluxo dentro da organização, hoje imperativo da sociedade globalizada. b) Objetivo: difundir conhecimento, dar aos executivos oportunidades de ensinar e acelerar o fluxo desse conhecimento. c) Características: foco no negócio, a demonstração do custo/benefício de suas atividades e a imagem de um centro de lucros. d) Campo de ação: atividades de treinamento e desenvolvimento deixam de ser apenas solucionadoras de problemas que já ocorreram (passado), elas deverão estar focadas no futuro, a partir de uma abordagem proativa. 23 e) Escopo: reforçar a cadeia de relacionamento empresa / clientes / fornecedores / comunidade, atuar não apenas atendendo a clientes internos. A Universidade Corporativa é, sobretudo, um processo no qual a principal meta é vincular a aprendizagem oferecida às exigências estratégicas da organização. Deve ser tratada como uma mentalidade que permeia toda a organização, e não apenas um local físico de aprendizado. Procura estimular as pessoas a compartilharem os conhecimentos e as competências, criando e fortalecendo uma rede interna e externa de conhecimentos. Considerar o modelo como um processo, que pode ser alcançado de múltiplas formas (aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar), e não necessariamente um espaço físico destinado à aprendizagem. Os objetivos pelos quais aspiram as Universidades Corporativas são aumentar a aptidão dos funcionários pela aprendizagem, incorporando neles o comprometimento e oacesso a uma aprendizagem permanente. De modo que a Universidade Corporativa deve alcançar todos os indivíduos da organização pela da junção das múltiplas formas de aprendizagem disponíveis atualmente, estando a educação disponível a qualquer hora e em qualquer lugar, não dependendo necessariamente de um espaço físico específico. A aprendizagem virtual tem impactado fortemente a maneira de as empresas repensarem seus tradicionais centros de treinamento. As experiências mais bem-sucedidas em Universidades Corporativas estão fundamentadas no Ensino a Distância e na utilização intensiva da tecnologia para se criar um ambiente organizacional propício à aprendizagem. Segundo Eboli (1999), há uma tendência para que na fase final de implantação das Universidades Corporativas apenas 20 a 30% dos programas de desenvolvimento de pessoas sejam presenciais, e os outros 70 a 80% sejam “distribuídos” pelos diversos canais tecnológicos. Esse aspecto têm-se mostrado essencial para aumentar a autonomia dos “aprendizes” e descentralizar o processo de aprendizado, favorecendo assim o aprendizado coletivo de forma concreta e não 24 apenas retórica. Cidadania Corporativa, Estrutura Contextual e Competências Básicas, ou apenas três C’s, devem ser parte obrigatória dos programas das Universidades Corporativas. As empresas precisam realizar um diagnóstico cuidadoso das competências organizacionais, corporativas e humanas consideradas críticas para o sucesso do negócio, pois esse é o ponto de partida para se desenhar programas de treinamento, desenvolvimento e educação que estejam alinhados com as estratégias empresariais. Conjuntamente, exercitar a cidadania individual e corporativa também se evidencia em uma prática eficaz no desenvolvimento de pessoas talentosas e competentes que se responsabilizam pelas suas ações, desempenhando seu papel de ator social na construção e transformação da realidade organizacional, e contribuindo para que a organização também cumpra seu papel de empresa-cidadã. A eficácia do trabalho da universidade corporativa vem de sua amplitude, ou seja, não se deve limitar apenas aos funcionários, mas também a todos os membros importantes da cadeia produtiva, cliente, fornecedores e parceiros comerciais. O sucesso dos parceiros e fornecedores é chave também do sucesso da organização. Parcerias com instituições tradicionais de ensino são de grande valor para as organizações e garantem resultados principalmente pela experiência em realização de pesquisas (geração de conhecimento) e educação (assimilação de conhecimento), contribuindo assim para que as empresas realizem com mais competência e resultado o processo de divulgação e aplicação dos conhecimentos considerados críticos para o sucesso do negócio. Muitas Universidades Corporativas procuram estimular as lideranças internas (e não agentes externos) a participarem ativamente do processo e, com isso, efetivamente incorporarem em suas atribuições a responsabilidade pelo processo de aprendizagem. A intenção é que suas experiências sirvam de modelo para o 25 processo de aprendizagem, e esse envolvimento estenda-se desde o processo de diagnóstico das competências essenciais até o desenho e formatação dos programas, principalmente nas suas aplicações. O que contribui positivamente para que os gestores criem um ambiente de trabalho em que os membros de sua equipe se sintam motivados para a aprendizagem e para o desenvolvimento de seus talentos. Os indicadores utilizados tradicionalmente como, número de dias de treinamento, horas de treinamento por funcionário, média do custo de treinamento, número de pessoas treinadas, número de cursos oferecidos, medem apenas o investimento e não o resultado produzido de modo que, pouco auxiliam na compreensão de quanto o negócio foi realmente beneficiado com o treinamento. É importante que se estabeleçam indicadores de mensuração que estejam estreitamente vinculados aos resultados do negócio como, melhor qualidade dos produtos e serviços, atendimento e imagem, maior participação no mercado, prêmios recebidos, lançamento de novos produtos, ser referencia no mercado. O crucial é avaliar e mensurar o impacto dos produtos e serviços fornecidos pela Universidade Corporativa nos resultados do negócio. Os recursos recebidos pelas Universidades Corporativas, de forma ideal, serão ditados pelo mercado, com base nos serviços prestados e nas necessidades dos clientes. O pagamento desses serviços pelas unidades de negócios à Universidade Corporativa é o que vai sustentá-la, criando uma organização auto- sustentável que para perpetuar precisa atender às demandas de seus “clientes”, seja a organização, sejam os parceiros comerciais. É importante lembrar que a estratégia de obtenção de recursos via remuneração por serviços, evolui à medida que a Universidade Corporativa vai amadurecendo, à medida que elas vão comprovando seu valor, a remuneração torna-se uma evolução natural de um negócio que tem como foco o cliente. As Universidades Corporativas devem buscar soluções de aprendizagem que permitam aos funcionários da organização competir com sucesso no mercado global. 26 É preciso prover o desenvolvimento necessário para que a empresa consiga entrar nos mercados globais, entendendo as particularidades de cada local, as necessidades de cada cliente e suas expectativas. Utilizar a Universidade Corporativa para obter vantagem competitiva e entrar em novos mercados. Com esse objetivo algumas empresas estão buscando posicionar-se como consultoria em produtividade para seus clientes. Esse compromisso de usar a educação como meio de obter novos clientes e entrar em novos mercados está sendo implementado porque muitos mercados já dão sinais de insatisfação. Com a redução do ciclo de vida de um produto e com a facilidade de emulação da tecnologia, as empresas precisam participar mais da cadeia de valor. Isso significa transformar a si próprias em consultores e aconselhar clientes em áreas que variam, abrangendo desde qualidade e educação de funcionários até produtividade e inovação. Conforme afirma Meister (1999), As empresas que aplicam os princípios evidentes nas Universidades Corporativas estão olhando além dos programas de educação de funcionários, à procura de uma população-alvo – funcionários internos – e criando sistemas de aprendizagem que reúnem clientes, funcionários e a cadeia de fornecimento em busca do aperfeiçoamento constante. O desafio é criar um ambiente de aprendizagem no qual todo funcionário da empresa compreenda a importância da aprendizagem contínua vinculada às metas empresariais. 2.5.2 Estruturação da Universidade Corporativa Para que uma Universidade Corporativa tome forma e funcione, dois passos são necessários: Planejamento e a Operação / Funcionamento. Portanto, o que se estará mostrando nos próximos parágrafos que compõe esta parte são idéias do modelo de como funciona uma Universidade Corporativa, segundo Jeane MEISTER. É importante ressaltar que ela tem sido a maior 27 referência mundial neste assunto e, por isso mesmo seu modelo tem sido adotado em muitas organizações. Certamente muitas organizações ainda seguirão ou adaptarão este modelo e também não se tem por objetivo agora questioná-lo, mas estudá-lo e verificar sua possibilidade de aplicação em empresas brasileiras. Assim como muitos governos criam Universidades Públicas tradicionais como forma de sistematizar o conhecimento, especialmente o ensino superior, também as organizações tem aderido a este modelo como forma de sistematizar as essências de sua cultura e, com isso evitar duplicações desnecessárias e organizar as experiências de aprendizagem de seus funcionários e garantir que elas sejam permanentes. Tal modelo passa por inúmeros tópicos, osquais podem ser divididos nos dois pontos acima citados: Planejamento e Operação / Funcionamento de uma Universidade Corporativa. Vejamos cada um deles: 2.5.2.1 Planejamento de uma Universidade Corporativa Aqui serão abordados os seguintes aspectos: 1. Oportunidades de Aprendizagem como sustenção ás questões empresariais O planejamento da aprendizagem precisa estar diretamente conectado às estratégias empresariais para que tenha razão de existir. Mas nem sempre isso acontece porque os mecanismos para que esta aproximação ocorra não são devidamente trabalhados. Aproximar os objetivos dos funcionários dos objetivos da organização é sem dúvida algo bastante difícil de fazer, mas que pode surtir grandes resultados. A partir do momento que o cliente interno percebe que existe uma lacuna entre o ponto 28 onde hoje ele está e onde almeja chegar, ou entre o que deve ser feito e o que efetivamente se está fazendo, tudo o que se precisa ajustar ou descobrir é como essa lacuna pode ser preenchida. Assim, um programa de aprendizagem que contemple esta dinâmica do crescimento e desenvolvimento profissional individual, será muito mais facilmente absorvido pelos funcionários. 2.5.2.2 Operação / Funcionamento de uma Universidade Corporativa Os seguintes aspectos são destacados em relação ao funcionamento / operação de uma Universidade Corporativa: 1. Universidade Corporativa como processo e não como espaço físico Este é um ponto fundamental para que se veja a diferença entre o antigo departamento de treinamento e a atual Universidade Corporativa. Ao se chamar a atenção para o fato de que esta não tem por prioridade o local físico, está se tentando dizer também que o foco tem objetivos mais “nobres”. Em outras palavras, a preocupação está na troca de experiências entre os alunos, experiências estas que não são filosofias somente, estão diretamente envolvidas na resolução de problemas empresariais reais. Por mais “nobres” também poderíamos entender a ocupação com o desenvolvimento constante e a aprendizagem contínua. Como conseqüência direta deste processo ainda se teria a formação de equipes, tão buscada ultimamente. Apesar de se enfatizar o processo e não o local físico, grande parte das grandes organizações norte americanas com U niversidades Corporativas optaram por edificações próprias, locais onde os funcionários de qualquer parte do mundo pudessem se reunir para trocarem as melhores práticas e adquirirem qualificações e visão estratégica, pois a Universidade Corporativa se tornou um novo campo de negócios e espaço de promoção da organização. 29 2.5.2.3 Envolvimento dos Líderes com o Aprendizado Uma das grandes deficiências do treinamento tradicional é que ele usa, em sua grande maioria, instrutores externos. O maior problema disso é que estes instrutores passam muito pouco tempo em contato com a cultura da organização e, assim como chegam, vão embora. Estes instrutores externos, por vezes, possuem excelentes currículos e são realmente especialistas em suas áreas. O problema é que só o conhecimento transmitido não basta, é necessário que ele entre em contato com a cultura, os valores da organização para que surja o efeito esperado. Desta forma, uma das grandes modificações que as Universidades Corporativas têm imprimido ao treinamento tradicional é o fato de usar, em grande escala, instrutores internos, em sua grande maioria o próprio corpo diretivo e gerencial. Desta forma toda a interação necessária, todos os conhecimentos que precedem um treinamento, bem como o acompanhamento deste programa, são problemas que estarão automaticamente resolvidos. Além disso, são exatamente estas as pessoas que detém a expertise do negócio e o que é melhor para o seu desenvolvimento. 30 3. UNIVERSIDADES CORPORATIVAS NO MUNDO A General Motors foi a primeira empresa a abrir uma Universidade dentro da organização, quando criou a General Motors Engineering and Management Institute (GMI), em 1927. O princípio fundamental da GMI de incrementar produtividade por meio do desenvolvimento do capital humano é à base da estrutura presente das Universidades Corporativas. A GMI desenhou e entregou os programas e aulas de desenvolvimento dos funcionários sem parcerias, pelo menos no início. A empresa manteve a educação completamente interna e centralizada. De qualquer modo, a intenção da GMI de produzir um conjunto de trabalhadores mais inteligentes com os resultados de aumento de produção e de competitividade configura a primeira tendência de tornar- se uma organização de aprendizagem por meio da abordagem de Universidade Corporativa (BARLEY, 1998). No início do século XX, existiam iniciativas de programas de treinamento para desenvolver e manter a mão-de-obra que eram totalmente voltadas para os funcionários internos. O foco estruturava-se em torno dos objetivos da organização, com pouca ênfase em créditos e diplomas. Escolas corporativas popularizaram- se com o progresso da revolução industrial em indústrias como química, manufatura, seguradora, editora e de serviço público. Visto que diplomas e graus acadêmicos não eram necessários, muitas empresas decidiram fornecer seus próprios programas de desenvolvimento de funcionários, o que algumas vezes eram esforços para manter o controle sobre o seu conteúdo. 31 Nessa época, o termo Universidade Corporativa não existia. Mas a tentativa dessas empresas de trazer treinamento e aprendizagem para o local de trabalho contribui para o surgimento de um movimento em prol da Educação Corporativa. Tendo como exemplo a GM, algumas empresas, como Generais Electric e Walt Disney, resolveram desenvolver a educação de seu próprio corpo de funcionários dentro das empresas. Em 1955, a General Electric criou a Crotonville. Esse suporte de investimento em capital humano sem a ajuda de parceiros educacionais externos à organização conduziu a um crescimento da credibilidade corporativa. Isso levou alguns Programas de Treinamento Corporativo a obterem reconhecimento em meados do século XX. De 1920 a 1980, várias empresas conquistaram a autoridade de outorga de diplomas. Na década de 1980, contudo, a aprendizagem no local de trabalho passou do controle rígido exemplificado pelos modelos da GM e da GE para abordagens mais amplas, que podem ser vistas nos dias de hoje em Universidades Corporativas, como a Disney University e a Motorola University. Nos exemplos citados, a aprendizagem é central para a organização. Meister (1999) percebeu essa mudança e tentou distingui-la com uma alteração na terminologia. Meister chamou exemplos como GE e GM de “Universidades Corporativas” e de “Universidade de Qualidade Corporativa” (Corporate Quality University) para modelos mais abrangentes que foram se desenvolvendo. A diferença entre os dois conceitos é que as Universidades Corporativas oferecem programas de treinamento não necessariamente alinhados com os planos de negócio, mas coerentemente reativos ao observar problemas nos locais de trabalho. A maior parte dos programas é direcionada para o nível gerencial e acima, com algumas seleções para funcionários de linha de frente. As Corporate Quality Universities são uma iniciativa de mudança, em que as empresas treinam toda a sua cadeia empresarial, não somente a gerência, e vêem treinamento como uma maneira de inculcar stakeholders-chave na visão, valores, tradições e cultura da organização. 32 Senge (1990), que explorou as cinco disciplinas que dão origem às organizações de aprendizagem, iniciou essa mudança de postura ante a aprendizagem no local de trabalho. Na seqüência, várias pesquisas sobre as organizações de aprendizagem foram sendo aprimoradas, na tentativa de tornar as empresas mais competitivas e mais ágeis na resposta aos avanços tecnológicos.O fim da década de 1980 e o início da década de 1990 marcam a explosão do número de universidades corporativas, período em que as empresas começam a reconhecer a importância do aprendizado vitalício com as práticas no pensamento sistêmico desenvolvido por Senge. Tornar-se uma organização de aprendizagem é o status desejado pelas empresas. Ter isso atingido significa repensar a filosofia corporativa rumo ao desenvolvimento dos funcionários. Gerentes aceitam a necessidade de educar e continuamente reeducar seus funcionários, mas fazer uma mudança organizacional acontecer parece ser um desafio árduo e complicado, com um conjunto de necessidades e demandas, pressões para permanecer competitivo durante os períodos de transição e desejos de gerar lucro. Termos como reengenharia, reinvenção e mudança organizacional dominaram o mundo corporativo. O caráter centralizador e controlador dos programas de desenvolvimento de funcionários do passado não alcançariam esses objetivos corporativos. A alternativa de se tornar uma organização de aprendizagem casou com a necessidade de ser competitivo, o que despertou, ao menos em parte, o movimento da Universidade Corporativa. A Universidade Corporativa é o guarda-chuva centralizado que oferece soluções de aprendizagem com relevância estratégica para cada família de cargos dentro da organização, transformando a organização numa estrutura de aprendizado permanente. Ela deve ter foco na estratégia e nos valores organizacionais próprios da empresa à qual está atrelada. Sua implementação é o intuito da organização em desenvolver sua força de trabalho, organizando, sistematizando e agilizando seus 33 esforços de aprendizagem, tornando o processo mais coeso e determinado (MEISTER, 1999). As Universidades Corporativas trouxeram ao anterior departamento de treinamento e desenvolvimento as seguintes abordagens (ALPERSTEDT, 2001): a) O conceito de competência foi incorporado à prática organizacional. b) Não-restrição dos serviços educacionais aos funcionários, com destaque para abertura ao público externo em geral. c) Estabelecimento de parcerias com instituições de ensino superior, com destaque para a validação dos créditos cursados e a possibilidade de conferição de diplomas. Bayma (2004) trabalha com algumas possíveis definições de Universidade Corporativa para chegar a uma definição simples que servirá de guia para sua compreensão, pois uma definição simples e largamente aceita é evasiva. O conceito apresentado por Bayma (2004), diz que Universidade Corporativa: [...] é uma entidade educacional que é uma ferramenta estratégica designada a auxiliar sua matriz no alcance de sua missão pela condução de atividades que cultivam aprendizagem individual e organizacional, conhecimento e sabedoria. A maior parte das Universidades Corporativas não solicita nem conquista reconhecimento de crédito, e isso não tem sido um requisito para o uso do termo “Universidade” em nenhuma das definições mencionadas. O termo foi utilizado pela primeira vez pela Walt Disney, na década de 1950, e se espalhou pelas empresas, gerando reações tanto negativas quanto positivas. Do lado positivo, o uso do termo “Universidade” passa a idéia de credibilidade. Do lado negativo, sua utilização sem o devido reconhecimento de crédito corrompe e torna ilegítima a instituição. Para evitar tais distorções no uso desse 34 termo, muitas empresas preferiram chamar de formas diferentes seus programas de desenvolvimento e treinamento corporativo. Na literatura há uma variedade de termos que apresentam o mesmo significado e propósito de uma universidade corporativa: academia corporativa, instituto de aprendizagem, organização de aprendizagem, faculdade empresarial, escola empresarial, entre outros (BARLEY, 1998). A característica que mais define uma universidade corporativa, segundo Bayma (2004), é a sua conexão com a estratégia da sua matriz. O treinamento é uma atividade da universidade corporativa, mas um departamento de treinamento por si só não se qualifica como uma universidade corporativa, pois suas atividades normalmente não têm uma ligação estratégica direta com a missão da organização e raras vezes são designadas a cultivar aprendizagem organizacional, conhecimento e saber. Quadro 2: Características Essenciais de uma Universidade Corporativa Características das UC’s Base Teórica Alinhamento das ações da UC deve estar em congruência com a estratégia corporativa. Guarda-chuva estratégico para o desenvolvimento e educação de funcionários, clientes e fornecedores, com o objetivo de atender às estratégias empresariais. A característica que mais define uma universidade corporativa é a sua conexão com a estratégia da sua matriz. Incorporado o conceito de competência à prática organizacional. O modelo de universidade é baseado em competências. A UC é um sistema de desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão de pessoas por competências. Estrutura e equipe de gestão. Criar uma organização: algumas funções são centralizadas por motivos de custo e eficiência, e outras continuarão descentralizadas. Amplitude de atendimento: não-restrição dos serviços educacionais aos funcionários, com destaque para abertura ao público externo em geral. Público-alvo: adotar o conceito de educação inclusiva, desenvolvendo competências críticas no público interno e externo (familiares, clientes, fornecedores, distribuidores, parceiros comerciais e comunidade), e não somente nos funcionários. Treinar a cadeia de valor e parceiros. 35 Estabelecimento de parcerias com instituições de ensino superior. Selecionar parceiros de aprendizagem: parceiros podem ser desde fornecedores de treinamento, consultores e instituições de educação superior até empresas de educação com fins lucrativos. Programas e cursos continuados. Considerar o modelo da universidade corporativa um processo e não um espaço físico destinado à aprendizagem. FONTE: Quadro Elaborado pelo Autor (2011). 3.1 Universidades Corporativas no Brasil Para a investigação dos motivos para a criação e das formas de atuação de Universidades Corporativas no Brasil, optou-se por realizar um estudo de casos. O critério de escolha das empresas foi o de acessibilidade. As empresas participantes da pesquisa estão entre as maiores do Brasil, ocupam posição de destaque nos mercados em que atuam e têm passado por significativas mudanças no seu ambiente de negócios. Aspectos como privatização, regulamentação ou desregulamentação governamental, entrada de novos competidores, exposição à competição global, fusões e desbravamento de novos negócios estão presentes nos casos estudados. O Quadro 3, apresenta as características principais dessas empresas. Quadro 3: Características das Empresas Pesquisadas Empresas Ambev Amil Petrobrás Características Controle Acionário Privado Nacional Privado Nacional Estatal Ramo de Negócio Bebidas Assistência Médica Petróleo, Gás e Energia Posição no Mercado de atuação 1º 3º 1º Área de Atuação Nacional e Internacional Nacional e Internacional Nacional e Internacional FONTE: Quadro Elaborado pelo autor (2011). 36 3.1.1 AMBEV Universidade Corporativa da Ambev tem visão manter vivos os sonhos e a cultura da companhia, preparando nossos funcionários para novos desafios. Visando desenvolver as competências e a gestão de conhecimento da Ambev, mantemos um programa de capacitação e treinamento dos profissionais que trabalham conosco: a Universidade Ambev (UA). Criada em 1995, inicialmente como Universidade Brahma, a iniciativa promove a troca de experiências entre as equipes, e suas atividades englobam todas as unidades e níveis organizacionais. Em 2010, a Ambevinvestiu R$ 22,5 milhões no treinamento de mais de 40 mil pessoas. Foram 74 programas, 712 cursos e mais de 38 mil horas de treinamento, em módulos presenciais e on-line. Os números refletem o crescimento em relação a 2009, quando houve um aporte de R$ 16,3 milhões nos 54 programas e 654 cursos, envolvendo 39 mil horas em módulos presenciais e on-line e a presença de aproximadamente 32 mil pessoas. A ênfase do investimento em gente rendeu à Ambev um dos mais importantes reconhecimentos no setor: o de destaque na categoria "Gestão de Talento" no 14º Guia Você - Exame - as Melhores Empresas para Você Trabalhar. O conteúdo do programa Universidade Ambev é dividido em cinco eixos temáticos: 1) Prática de liderar - Voltado para gestores que lideram ou liderarão equipes e tiveram foco na retenção de talentos; 2) Excelência operacional - Aborda o conhecimento técnico necessário para melhorar, desenvolver e aprimorar o desempenho operacional, visando ao alcance das metas coletivas e individuais. 37 3) Sistema de Gestão - Tem a metodologia Seis Sigma, voltada para diretores, gerentes, coordenadores, especialistas, supervisores e analistas; 4) Cultura Ambev - Trata do alcance do sonho impossível, a retenção e desenvolvimento das melhores pessoas, a meritocracia, o espírito de dono, o foco em resultados, a qualidade de nossos produtos e marcas e a eficiências de custos; (5) Relação com a sociedade - Visa promover o relacionamento e a sintonia com o mercado, distribuidores, revendedores, comunidades e clientes para estreitar os vínculos da Ambev com seus públicos. Cada eixo temático conta com programas que estimulam o crescimento profissional em duas direções: a transição de funções e cargos (o chamado crescimento vertical) e a evolução dentro da própria função (crescimento horizontal). Para preparar gestores, a Ambev mantém parceria com a Business School São Paulo. Na instituição de ensino, os executivos recebem uma visão geral do negócio da companhia e conhecem melhores práticas e ferramentas de gerenciamento do mercado. Outro programa importante é o de aprendizado idiomas, com bolsas de estudos parciais em cursos presenciais e à distância. 3.1.2 AMIL A Amil RH - Universidade Corporativa começou promovendo treinamentos e eventos de relacionamento e motivacionais para os colaboradores. Entretanto, diante do sucesso das iniciativas, os eventos passaram a ser voltados também para outros importantes públicos da empresa, como vendedores, atendentes da rede credenciada e filhos de médicos. Amil 2020, Jovem Vip, Think About e Projeto Saber Amil são algumas das atividades desenvolvidas pela empresa. Além disso, desde 1989, a Amil promove seminários com os principais autores de Marketing e Administração. Philip Kotler, Regis McKenna e Al Ries foram alguns dos palestrantes que estiveram no Brasil a convite da Amil. Assim, os objetivos foram ampliados, fazendo da Universidade um alicerce imprescindível para 38 o crescimento e o desenvolvimento da Amil e de seus públicos. Em 2001, a Amil investiu mais de R$ 5 milhões no desenvolvimento dos recursos humanos. Os programas da Amil RH - Universidade Corporativa são oferecidos a todos os funcionários, aos parceiros do negócio e também à sociedade em geral, por meio de convites. São programas específicos do negócio, de gestão empresarial e de cultura geral, muitos deles com total liberdade de crítica. Os programas são realizados, predominantemente, no formato presencial. Segundo o entrevistado, esse método de ensino está em sintonia com o objetivo do negócio, em que a qualidade do relacionamento interpessoal é valorizada como fator decisivo para a satisfação do cliente. O ensino a distância e, em particular, o e-learning, são considerados pela empresa como muito impessoais, não conduzindo ao desenvolvimento das habilidades de relacionamento e, por isso, tem utilização limitada a alguns programas técnicos e de vendas. A empresa apresenta uma carga horária média anual de 70 horas de treinamento por funcionário, o que a coloca, segundo o entrevistado, numa posição de destaque no Brasil e no mundo. Um cenário de importância crescente dos programas de desenvolvimento é vislumbrado pelos executivos da empresa. Eles afirmam que ela é uma empresa visionária; que mesmo antes da propagação dos conceitos de aprendizagem organizacional, já os praticava, o que contribuiu decisivamente para o seu bom desempenho ao longo dos anos. 3.1.3 PETROBRÁS Uma das melhores do mundo, a Universidade Petrobras é responsável pelo treinamento e desenvolvimento das competências necessárias aos funcionários. Todos os dias, cerca de mil pessoas são treinadas nas unidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. 39 Desenvolver os profissionais sempre foi prioridade devido à necessidade de mão-de-obra especializada na indústria de petróleo no país. O resultado desse investimento é o reconhecimento da qualificação de nosso corpo técnico. Edifício ecossustentável - Concebido conforme os padrões do US Green Building Council, o prédio da Universidade Petrobras, no Rio de Janeiro, segue os mais modernos conceitos de sustentabilidade. Os cuidados começaram já na construção, que utilizou madeira certificada, tintas com baixa emissão de gases corrosivos e insumos reciclados. Toda a água destinada à irrigação de jardins, descargas e lavagem de vasos sanitários se origina da captação pluviométrica e do reúso de água do sistema de ar- condicionado. Além disso, a luz natural substitui, em grande parte, a artificial. Vidros nas fachadas internas e externas e um átrio central coberto por uma clarabóia de 900 metros tornam isso possível. Em tempos em que a ecoeficiência se torna cada vez mais necessária e a consciência ecológica deve estar presente na vida das pessoas, a Companhia dá uma lição de sustentabilidade. Os investimentos em treinamento e desenvolvimento têm sido uma preocupação constante na história da empresa, principalmente em relação a programas técnicos que contribuem para o destaque internacional que ela possui. Com as mudanças na cultura da empresa, tornando-a mais ágil e mais sensível ao ambiente de negócios, o antigo modelo de treinamento e desenvolvimento mostrou-se desatualizado. Os executivos da companhia perceberam que seria necessária uma contribuição mais significativa da área de RH para o alcance dos objetivos da empresa e a consecução da visão de longo prazo. A Universidade Corporativa surgiu, então, com o objetivo prioritário de alinhar o treinamento e o desenvolvimento às estratégias empresariais, empreendendo programas de educação corporativa que eliminassem as lacunas de competência 40 que podem inviabilizar os objetivos da organização. Programas de gestão empresarial têm destaque nessa Universidade Corporativa. Embora a Universidade tenha surgido num movimento interno da área de Recursos Humanos, foi nela própria que enfrentou resistência. Com o argumento de que o modelo tradicional de treinamento e desenvolvimento, de foco técnico, era um sucesso, pois havia contribuído para elevar a empresa a uma posição de destaque, alguns integrantes da área resistiram à criação da Universidade Corporativa. Operando num modelo misto de campus físico e campus virtual, a universidade tem a maioria de seus programas apresentada por meio do ensino presencial. No entanto, é seu objetivo acelerar a utilização do ensino a distância via canal interno de televisão e e-learning. Essa Universidade Corporativa tem significativa integração com os modelos de gestão do conhecimento e gestão por competências da empresa, e é esse tripé que visa dotá-la de novos instrumentos que possibilitem o desenvolvimento de conhecimento e competência essenciais para a manutenção da vantagem competitiva que ela possui.3.1.4 Análise das Empresas Insatisfação com o modelo anterior de treinamento e desenvolvimento foi identificada como um motivo que contribuiu para a criação das universidades corporativas. Faz-se, agora, um elo entre os programas realizados e as estratégias empresariais. Os executivos principais das Universidades Corporativas e das áreas de Recursos Humanos estão inseridos no processo de desenvolvimento da estratégia empresarial e, com base nesta, identificam as ações a serem desenvolvidas pelas universidades. Todavia, dificuldades de implantação das Universidades Corporativas foram percebidas em função da resistência às mudanças por parte dos próprios profissionais da área de treinamento e desenvolvimento. Relatos desse tipo foram 41 explicitados na Petrobrás e pode-se inferir que a resistência à mudança também esteve presente no caso da empresa A, nos quais o processo de implantação da Universidade Corporativa deu-se com a ruptura total do antigo modelo de treinamento e desenvolvimento. Os relatos de dificuldades de aceitação do modelo por profissionais das outras áreas da empresa foram muito restritos, apenas na empresa Ambev foram registrados pequenos problemas. Os objetivos e formas de atuação das Universidades Corporativas pesquisadas são similares. Em 80% delas os programas são oferecidos a todos os níveis hierárquicos, à cadeia de valor e a parceiros da empresa. O método presencial é a principal tecnologia instrucional. Nos casos estudados verifica-se uma integração da atuação da Universidade Corporativa com as práticas de gestão por competências e gestão do conhecimento. No caso da gestão por competências, as três empresas analisadas estão implantando esse sistema. Esse sistema influenciará decisivamente a identificação das necessidades individuais e organizacionais de treinamento e desenvolvimento. Com relação à gestão do conhecimento, nas duas empresas que adotam essa prática foi verificada a atuação da Universidade Corporativa no processo. Há, nos três casos estudados, grande ênfase em incutir a cultura da empresa nos funcionários. A Universidade Corporativa da Ambev tem um único programa e a da Amil apenas alguns programas cuja liberdade de crítica é uma prática. No caso da Petrobrás, a filosofia de aprendizagem da Universidade Corporativa é claramente doutrinária. 3.2 Perfil das Universidades Corporativas no Brasil Buscou-se traçar um perfil das Universidades Corporativas de empresas no Brasil partindo-se de dados e informações fornecidos pelas próprias empresas. Com relação ao motivo de criação de sua Universidade Corporativa, as empresas sinalizaram os mais variados. Uma questão fundamental a ressaltar é que 42 não existe homogeneidade quando se fala de Universidade Corporativa; cada empresa adota estrutura e práticas de acordo com necessidades particulares, porém todas elas cultivam em comum a busca pela educação continuada e pelo desenvolvimento de pessoas e competências específicas ao negócio. Os objetivos a que se propõe sua adoção também são muito particulares às necessidades das empresas. Há uma preocupação em se alinhar ações de treinamento à estratégia da organização, como também em melhorar o desempenho organizacional. A adoção do modelo de Universidade Corporativa também apresentou como objetivos administrar o conhecimento e as competências e fortalecer a imagem da organização. Observou-se que a Universidade Corporativa representa um papel importante no processo estratégico da empresa, apesar de apresentar-se sob diferentes graus de comprometimento. A maioria caracterizou-se como colaboradora e divulgadora da estratégia da empresa. Todas as Universidades Corporativas pesquisadas ocupam altos níveis hierárquicos na organização, o que facilita sua influência nas questões estratégicas da empresa. As Universidades Corporativas são dirigidas por ocupantes do cargo de gerência geral, da gerência de recursos humanos ou do cargo de executivo da área de educação corporativa. O número de funcionários que trabalham para as Universidades Corporativas oscila entre 4 e 200 pessoas, dependendo do porte da empresa. Grandes empresas apresentaram a necessidade de maior número de pessoas trabalhando nas Universidades Corporativas. O público-alvo foi caracterizado pelos seguintes elementos: gerentes; funcionários; público; clientes; parceiros e prestadores de serviços. A definição do público das universidades corporativas está diretamente ligada ao objetivo proposto pelas suas ações, programas e estratégias de ensino. 43 Por isso os programas podem tanto atender os funcionários quanto o público em geral, dependendo da estratégia de aprendizado da empresa e do que ela espera obter com o aprendizado. Os pré-requisitos exigidos para participar dos programas das universidades corporativas costumam ser algum tipo de vínculo com a empresa (clientes, fornecedores, funcionários, parceiros) ou até mesmo partir da indicação do superior (no caso dos funcionários) para fazer o curso pretendido. Numa das Universidades Corporativas, os pré-requisitos citados foram: “ser gestor ou consultor da empresa, ter alto potencial ou alto desempenho, ser indicado em consenso pela chefia e pelo RH para participar do programa, inglês mínimo intermediário, ter formação superior e passar por assessment pessoal”. As Universidades Corporativas no Brasil não participam do processo de seleção dos funcionários, ficando essa tarefa a cargo do departamento de recursos humanos. Com relação aos cursos oferecidos, as Universidades Corporativas buscam incorporar os três C (Cidadania Corporativa, Estrutura Contextual e Competências Básicas) nos programas de treinamento, conforme exemplo da Caixa Econômica Federal (Fonte: CEF). Os cursos pertencem a cinco escolas: Escola de Gestão (cursos para atuais ou futuros gestores da empresa); Escola de Cidadania (cursos sobre responsabilidade social e ambiência corporativa); Escola de Suporte Operacional (cursos para áreas de suporte, como jurídico, engenharia, RH, compras, obras etc.); Escola de Negócios (cursos sobre os novos produtos da empresa) e Núcleo de Formação Ampliada (incentivo a cursos de graduação e pós) (Fonte: CEF). Todas as Universidades Corporativas pesquisadas fornecem certificados aos participantes, embora não sejam, na sua maioria, reconhecidos pelo MEC (Ministério da Educação). Essa ação traz maior credibilidade aos cursos e programas oferecidos pela UC. 44 A totalidade das Universidades Corporativas pesquisadas recebe investimento e são sustentadas pelas próprias empresas, não cobrando dos participantes os cursos ofertados e dependendo exclusivamente de orçamento disponível para os gastos com a educação corporativa. Passar do modelo de financiamento corporativo por alocação para o “autofinanciamento” pelas unidades de negócio é um desafio para as Universidades Corporativas, pois muito dessa situação pode ser explicado por essa fase inicial em que as Universidades Corporativas encontram-se no País. Conforme Meister (1999) sinaliza, a estratégia de obtenção de recursos via remuneração por serviços evolui à medida que a Universidade Corporativa vai amadurecendo. No que diz respeito à estrutura, boa parte das universidades surgiu a partir de centros de treinamento ou departamentos de recursos humanos, aos quais muitas ainda permanecem vinculadas. No entanto, é possível perceber que elas realmente incorporaram o papel mais amplo da Universidade Corporativa, que, segundo Eboli (DALMAU, 2001), é o desenvolvimento de competências críticas, seja qual for à função desempenhada pelo profissional na esfera organizacional. Com relação ao envolvimento dos líderes no aprendizado, os estudos sobre as Universidades Corporativas mostram que o envolvimento por partede todos os funcionários, englobando todos os níveis, com a aprendizagem é fator crucial para que o processo seja contínuo e gere frutos. Sem dúvida, o papel da gerência nesse aspecto é muito importante, pois serão os gerentes os grandes multiplicadores. 45 4. UNIVERSIDADE CORPORATIVA COMO ALAVANCA DA VANTAGEM COMPETITIVA O mundo vem passando por constantes e significativas transformações que colocam as empresas diante da necessidade de se adaptarem a um novo ambiente bastante competitivo, veloz e permeado por incertezas. O grande desenvolvimento tecnológico observado e vivido por todos nas últimas décadas contribuiu para essa mudança. O conhecimento está se tornando o fator de produção mais importante, deixando para trás o capital e a mão-de-obra. Diante disto, as organizações vêem-se obrigadas a alterar sua forma de atuação para responder ao mercado. As empresas devem acompanhar as mudanças com velocidade, o que significa dizer que os indivíduos que fazem parte dessa organização devem acompanhar essas mudanças, na mesma velocidade. Isto se reflete no crescente investimento das empresas em treinamento de seus profissionais, que tem um enfoque estratégico e amplo, oferecendo a compreensão do contexto no qual a organização está inserida. Neste sentido, surgem as Universidades Corporativas como complemento estratégico do gerenciamento, do aprendizado e desenvolvimento dos funcionários de uma empresa. Uma vez que as organizações necessitam que as pessoas aprendam mais rápidas, acompanhando a velocidade da geração de conhecimento do mundo atual, elas vêm com a missão de alinhar as iniciativas de treinamento com a estratégia da organização, considerando a cultura organizacional, o contexto organizacional (indústria, fornecedores, mercado) e as competências essenciais. Para Eboli (2003), a crença de que as competências, habilidades e o conhecimento formam a base de vantagem competitiva reforça a necessidade de intensificar o desenvolvimento dos funcionários nesses âmbitos e justifica, portanto, a existência da Universidade Corporativa. 46 Na verdade, as Universidades Corporativas personificam a filosofia de aprendizagem da organização, cuja meta é oferecer, a todos os funcionários, o conhecimento e as competências necessárias para que os objetivos estratégicos sejam alcançados. Elas também percorrem o processo de seleção de parceiros de aprendizagem, que envolvem profissionais de treinamento, consultores e instituições de educação superior. 4.1 O Ensino Superior em busca da excelência O desafio do ensino superior será o do reconhecimento de sua pertinência, tendo em vista a rapidez e a amplitude das mutações em curso e os desdobramentos esperados, tanto em âmbito mundial como no âmbito de cada sociedade. A sociedade está se tornando cada vez mais cognitiva e dependente, portanto, da qualidade do ensino superior e de sua abertura internacional. A sociedade do século XXI será uma sociedade da comunicação. A chegada dessa sociedade provoca inúmeras consequências no mundo do trabalho: a tomada de decisão afasta-se cada vez mais dos lugares de produção e pode se fazer, em tempo real, a milhares de quilômetros de distância; o dinheiro circula não mais em espécie nem em papel, mais virtualmente; as contabilidades tornam-se cada vez mais deslocadas; os lugares de produção, de distribuição e de pesquisa estão cada vez mais separados espacialmente, mais interligados em rede, graças às novas tecnologias UNESCO (1999). É um elemento essencial investir na formação superior, mas os governos estão conscientes de que sustentar o ensino superior, que tem necessidade de pesquisadores e professores de alto nível, é um esforço que demanda recursos de longo prazo. O ensino superior é chamado em todos os lugares à melhor adaptar e responder às exigências de uma época em que as possibilidades novas que se abrem seguem lado a lado com a emergência de novos desafios e profundas 47 perturbações. O ensino superior, como muitos outros graus e formas de educação, é chamado a reexaminar, levando em consideração suas relações com a sociedade, e em particular com o setor econômico, a forma como é organizado e, especialmente no plano institucional, financiado e administrado. É preciso que ele, com a ajuda de todos os seus parceiros, cheguem a uma visão global de seus objetivos, tarefas e fundamentos. No futuro, presume-se que o ensino superior deve avançar para que possa responder aos desafios evolutivos do mundo do trabalho de acordo com muitos experts no assunto, desde que: - continue a considerar essencial a equidade de acesso em função das origens sócio-biográficas; diversifique mais suas estruturas e, portanto, as condições de estudos e os ensinos propostos; dê mais atenção às competências genéricas, às qualificações sociais e ao desenvolvimento da personalidade; prepare os estudantes para a globalização e a internacionalização das dimensões econômicas e societárias da vida; sirva aos estudantes, oferecendo-lhes, além do ensino e da aprendizagem, serviços de comunicação e de aconselhamento fora dos cursos, da oferta de diversas categorias de experiência de trabalho e de vida, ou, ainda, apoio à busca de emprego, implementando formas de comunicação regulares entre o ensino superior e o mundo do trabalho. 4.2 Da Educação Formal à evolução dos modelos de educação A educação formal, em nível superior, dá-se em Universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdade e escola ou instituto superior. Com a profissionalização do ensino, as Universidades identificaram primeiramente as matérias básicas e, secundariamente, àquelas específicas para a utilização no mercado de trabalho. A educação formal pode oferecer, ao mundo empresarial, cursos e programas destinados ao aperfeiçoamento e à especialização profissional, em 48 nível de pós-graduação (atualização, aperfeiçoamento, especialização ou mestrado profissional), seqüenciais (para complementação de estudos ou para formação para o trabalho) ou de extensão (cursos de duração menor, com o objetivo de reciclagem/atualização profissional ou de informação e atualização de conhecimentos gerais). Os programas podem ser abertos à comunidade empresarial ou fechados, especialmente planejados para determinada organização, levando-se em consideração as necessidades do cliente e as características de seu negócio. A Educação Superior deve decidir, segundo Meister (1999), se continuará a dedicar-se apenas ao aluno tradicional (o jovem de 18 a 27 anos de idade, que pode freqüentar a Universidade em tempo integral) ou se passará a considerar também, em seu modelo acadêmico, o público adulto profissional e a necessidade de aprendizagem permanente, que já vêm sendo atendidos não apenas pelas Universidades Corporativas, mas também por consórcios (grupos de empresas que atuam como corretores de treinamento, adquirindo conteúdo das instituições tradicionais ou Universidades Corporativas para depois oferecê-lo no mercado aberto), Universidades Virtuais (instituições de ensino a distância que oferecem cursos de graduação) e empresas de educação com fins lucrativos. Meister (1999) diz que a saída para as Instituições Tradicionais está em repensar seu relacionamento com as empresas e reexaminar suas metodologias, produtos, serviços e veículos de apresentação, pois, a partir do momento em que assumirem seu papel de parceiros empresariais, poderão adotar um leque maior de estratégias orientadas para os mercados, que variam de uma presença de local em uma organização ao licenciamento/merchandising de seu currículo. A evolução no modelo educacional, proporcionado pelas empresas e pelo mercado, passa do treinamento pontual, correspondente a um evento, para um processo contínuo e sistemático.
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