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BURNOUT O termo “Burnout”, de origem inglesa, designa algo que deixou de funcionar por exaustão de energia, sendo sinônimo de Síndrome do Esgotamento Profissional. Pode-se dizer que o termo descreve uma síndrome com características associadas, que representam uma resposta aos estressores laborais crônicos, cujo efeito final resulta em um distúrbio emocional e psíquico de exaustão emocional, despersonalização e baixo sentimento de realização. A síndrome de Burnout, que nesse contexto traduz “algo que queima até não sobrar nada”, também chamada de exaustão ou esgotamento, trata-se de uma síndrome psicossocial que afeta profissionais de várias áreas, principalmente aqueles que atuam em contato direto com outros indivíduos, os quais, na maioria da vezes, dependem destes profissionais ou estão sob sua responsabilidade. Alguns profissionais são mais suscetíveis a desenvolver Burnout, tais como: médicos, enfermeiros, professores, policiais e jornalistas, além de profissionais que desempenham dupla ou tripla jornada, ela pode resultar em graves estados depressivos e episódios de ansiedade. A difusão do conhecimento acerca do burnout tem sido possível graças a sua direta ligação com o entendimento de estresse, o qual se mostra um ponto chave para a construção dos conceitos de “má fadiga”, haja vista que o estresse, atualmente, compõe o modo de vida moderno e urbano. desta forma, a fadiga é entendida como como “boa” ou “ruim” a depender de sua origem, sendo a “boa fadiga”, aquela decorrente do esforço físico, saudável, em contrapartida, a “má fadiga” está relacionada ao ao entendimento de cansaço no trabalho como causa de um sofrimento. O estresse permite estabelecer uma visão científica a respeito das relações e emoções. De forma genérica, o estresse é entendido pela ciência como sendo um processo composto por fatores estressores, a percepção destes e resposta a esses fatores, que se manifestam em reações afetivas, biológicas e comportamentais (LORIOL, 2000). Inicialmente, o estresse foi conceituado pelas ciências físicas como sendo uma força ou pressão exercida sobre determinado material, já no campo biológico o estresse designa uma reação geral de adaptação constituída por fase de alarme, resistência e exaustão. sendo assim, o modelo psicossocial do estresse e burnout, permite um entendimento mais subjetivo, relacional e social - tendo em vista que dependem da avaliação da situação pelo indivíduo como estressante. O estresse compreende então, uma importante etapa da “má fadiga'' e seu reconhecimento, e da melancolia ao burnout, por meio da neurastenia (LORIOL, 2000). A Síndrome do Esgotamento Profissional pode ser entendida como um conjunto de sintomas caracterizado por sinais de exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização profissional em decorrência de uma exposição prolongada a um ambiente de trabalho estressante e com grande carga tensional. Sua primeira descrição – e origem do termo Burnout – foi feita por Hebert J. Freudenberger, em 1974. Ele observou que muitos voluntários com os quais trabalhava, apresentavam um processo gradual de desgaste no humor e ou desmotivação. Geralmente, esse processo durava aproximadamente um ano, e era acompanhado de sintomas físicos e psíquicos que denotavam um particular estado de estar "exausto", desmotivado e insatisfeito com o desempenho profissional. EPIDEMIOLOGIA A prevalência da síndrome na população geral é bastante controversa. Em tese, ela é maior em indivíduos do sexo masculino, casados, sem filhos, maiores de 30 anos, com menos de 10 anos de profissão. Porém, o que se observa é que essa prevalência depende muito de qual população (profissional) foi analisada, além da metodologia empregada no estudo. Devido a essas variáveis, é que algumas profissões mostram prevalência de 4%, enquanto outras mostram prevalência de 86%. Em destaque a essas de maior prevalência podemos citar os profissionais médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, corpo de bombeiros, policiais, professores etc. SÍNDROME DE BURNOUT NO BRASIL No Brasil, a síndrome foi reconhecida pelo Decreto número 3.048, de 6 de maio de 1999, que aprovou o Regulamento da Previdência Social. No anexo II, que trata dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais, temos o item XII da tabela de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (Grupo V da Classificação Internacional das Doenças – CID-10) cita a “Sensação de Estar Acabado” (“Síndrome de Burnout”, “Síndrome do Esgotamento Prossional”) como sinônimos do burnout. A síndrome também é reconhecida pelo CID 10, amplamente utilizado pelos serviços de saúde do país, sob o código Z73.0. De acordo com a ISMA-BR, International Stress Management Association, o Brasil é o segundo país com maior número de trabalhadores afetados pela síndrome, e ainda, segundo a OMS, Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com maior taxa de pessoas com ansiedade, além de ocupar o quinto lugar no ranking de pessoas com depressão. FATORES DE RISCO É importante identificar fatores de risco para o desenvolvimento da doença, estes são inerentes ao próprio indivíduo, à organização, ao ambiente de trabalho e à sociedade. Indivíduo Padrão da personalidade: Competitivo, Impaciente, Controlador, Pessimista, Perfeccionista. As mulheres tendem a apresentar mais exaustão emocional, enquanto os homens apresentam mais a despersonalização. O estado civil que entra como fator de risco é o casado(a) ou com companheiro(a). Organização Burocracia, Falta de autonomia, Normas institucionais rígidas, Mudanças organizacionais frequentes, Comunicação ineficiente, Impossibilidade de ascensão, Riscos trabalhistas, Acúmulo de tarefas. Trabalho Sobrecarga, Sentimentos de injustiça e iniquidade, Expectativas profissionais, Trabalhos por turno ou noturno, Tipo de ocupação, Responsabilidade sobre a vida de outrem. Sociedade Falta de suporte social e familiar, Prestígio social e salário, Valores e normas culturais. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Segundo a proposta por Maslach, a síndrome se caracteriza por: presença de exaustão emocional, que consiste no esgotamento da energia emocional devido às altas demandas e trabalho contínuo; bem como resposta fria e distanciamento do trabalho, conhecido como despersonalização; e pela baixa realização pessoal, que é a diminuição da autoestima e sensação de ineficiência no trabalho. Seu diagnóstico é basicamente clínico e leva em conta o levantamento da história do paciente, além do seu envolvimento e realização pessoal no trabalho. O grande desafio de se reconhecer o Burnout se deve ao fato de que não há uma manifestação característica para ela, ela pode se manifestar de forma inespecífica, com sintomas físicos (fadiga constante e progressiva, dores musculares ou osteomusculares, distúrbios do sono e do sistema respiratório, cefaleias/enxaquecas, perturbações gastrointestinais, imunodeficiência, transtornos cardiovasculares, disfunções sexuais e alterações menstruais em mulheres); psíquicos (falta de atenção/concentração; alterações da memória; lentificação do pensamento; sentimento de solidão e de impotência; impaciência; labilidade emocional; baixa autoestima; astenia/desânimo/disforia/depressão; desconfiança/paranoia); comportamentais (negligência/escrúpulo excessivo, irritabilidade, agressividade, incapacidade para relaxar, aumento do consumo de substâncias, comportamento de alto risco, suicídio); defensivos (que estão relacionados também ao comportamento) (tendência ao isolamento, sentimento de onipotência, perda do interesse pelo trabalho ou até pelo lazer, absenteísmo, ímpetos de abandono do trabalho, ironia/cinismo). E a evolução da doença ocorre em estágios de tempo variável, que precisam ser acompanhados de forma prospectiva para que sejam corretamente identificados. ESTÁGIOS DA SÍNDROME A síndrome de Burnout é tradicionalmente dividida em 12 estágios, cujas características estão listadas a seguir: 1. Necessidade de aprovação: você sente queprecisa sempre expor o mérito conquistado; este problema tende a atingir os melhores funcionários, aqueles que estão sempre prontos para assumir responsabilidades. É uma ambição em excesso, quando você passa a precisar provar o tempo todo aos colegas – e principalmente, a você mesmo – que está fazendo um ótimo trabalho. 2. Trabalhar demais: incapacidade de desligar-se do trabalho. Você está sempre aquém do nível de exigência que você mesmo se coloca, então mesmo sentindo cansaço, você se doa cada vez mais 3. Deixar as necessidades pessoais de lado: quando toda sua vida começa a girar em torno do trabalho, você deixa em segundo plano atividades como dormir, comer bem e estar perto da família e amigos. 4. Transferir os conflitos: a pessoa tende a ignorar os problemas; pode se sentir ameaçada, em pânico e nervosa. Você até percebe que está com problemas, mas não consegue identificar a causa deles. Como não há tempo para investigar, ocorre uma fuga dos sintomas, para evitar que surja qualquer fraqueza em meio a tanto trabalho. 5. Revisão de valores: os valores são distorcidos, amigos e famílias começam a ser deixados de lado, o lazer passa a ser irrelevante e o trabalho é a única coisa que importa. 6. Negar que problemas estão surgindo: a pessoa se torna cada vez mais intolerante, começa a pensar que os colegas de trabalho são estúpidos, preguiçosos ou indisciplinados. O contato social se torna mais difícil; você se torna cínico, agressivo; acredita que os problemas são causados pela falta de tempo e trabalho. 7. Distanciar-se: pouca ou nenhuma vida social. Nessa fase, álcool e drogas são vistos como uma forma de aliviar o estresse. 8. Mudanças comportamentais: mudanças claras no comportamento, famílias e amigos começam a se preocupar com suas atitudes. 9. Perda de personalidade: a pessoa não consegue dar valor a ninguém, nem a si mesmo, e já não percebe quais são suas próprias necessidades. 10. Vazio interior: sente um vazio por dentro e para superar isso, começa a dar atenção para atividades que podem prejudicar a si mesmo, como álcool e drogas, e muitas vezes exagera em seus atos. 11. Depressão: a pessoa se sente perdida e insegura, exausta, pensa que o futuro é incerto. 12. Síndrome de Burnout: um colapso mental e físico, que precisa ser acompanhado por um especialista. Vale ressaltar que os doentes não necessariamente vão passar por todos os estágios, tão como estes podem não se apresentam de forma gradual em momentos diferentes, podendo o paciente encontrar-se concomitantemente em mais de um estágio da doença. BURNOUT E A MEDICINA Depressão, tendências suicidas, baixa qualidade de vida, insatisfação com a relação entre a vida pessoal e o trabalho e, principalmente, Burnout têm sido reportados em todas as especialidades médicas. SB causa um impacto negativo na condução dos pacientes, bem como na segurança de sua saúde. alguns estudos realizados indicaram uma relação entre determinados grupos de especialidades médicas, ou gênero, com possíveis facilitadores para o desencadeamento da Síndrome de Burnout, como visto nos seguintes pontos: ● Jovens: ocorrência de SB relacionado com residência médica. ● Mulheres, com ou sem relação com as preocupações com residência médica, alguns estudos apontam como uma possível explicação para esse fato a menor habilidade de resolução dos problemas quando comparado aos homens, as quais sofrem mais com o estresse no trabalho. No entanto, contradizendo, um estudo mais recente realizado por Bernhardt et al.3, em 2009, não constatou associação de gênero com a ocorrência de Burnout. ● Cirurgiões, médicos, psiquiatras, oncologistas, etc, estão entre as especialidades com maiores índices de Burnout. ● Enfermeiros, tendo em vista que estabelecem contato mais intenso com os pacientes, além de atividades estressantes no ambiente de trabalho. ● internos devido à elevada carga horária e realização de algumas atividades nas quais não foram preparados. ● Oncologistas apresentam altos níveis de Burnout, possivelmente, grande número de óbitos de seus pacientes, mesmo com intervenções e tratamentos adequados. De forma geral, vários fatores são capazes de justificar o acometimento desses médicos, como a própria carga horária excessiva e turnos de trabalho em horários não habituais, o arrependimento na escolha da especialidade, a cobrança elevada no ambiente de trabalho, as condições médicas atuais devido a precariedade do sistema público de saúde, entre outros mais variados fatores. Fatores de risco para burnout na medicina: ● Carga horária excessiva; ● Turnos de trabalho/plantões em horários não habituais; ● Arrependimento escolha especialidade; ● Sentimento de falha/impotência provocados pela morte de paciente, erro ou insatisfação com resultado terapêutico; ● Ineficiência, a baixa autonomia; ● Relações de conflito entre colegas; ● Convívio com colegas portadores de SB; Como forma de prevenção podem ser citadas como a definição de pequenos objetivos na vida profissional e pessoal, participação envolvimento em atividades de lazer com amigos e familiares, realização de atividades que "fujam" à rotina diária, como passear, comer em restaurantes ou ir ao cinema, estabelecimento do diálogo com alguém de confiança sobre o que se está sentindo, identificação de possíveis causas de estresse para que sejam evitadas, prática regular de atividades físicas diárias, manutenção de uma boa higiene do sono, bem como uma alimentação saudável e balanceada, evitando alimentos industrializados e com pouco valor nutricional. TRATAMENTO O tratamento da síndrome de burnout inclui o uso de antidepressivos e psicoterapia. Atividade física regular e exercícios de relaxamento também são altamente recomendados para ajudar a controlar os sintomas. No que se refere a abordagem pelo SUS, o tratamento para problemas relacionados a transtornos mentais é oferecido de forma integral e gratuita no meio do SUS. Basta procurar uma unidade básica de saúde (UBS) e o caso será encaminhado para os centros especializados. CONSEQUÊNCIAS Os efeitos danosos da síndrome ocorrem também nos três pilares da doença: sobre o indivíduo (que estão relacionadas às manifestações da doença), sobre a sociedade e sobre o trabalho Indivíduo Marcado por rebaixamento emocional, distúrbios orgânicos como imunodeficiência, disfunções sexuais, cardiovasculares e respiratórias; distúrbios comportamentais; uso e abuso de substâncias - abuso de álcool, café e cigarro, além de substâncias ilícitas, tranquilizantes; podendo manifestar sintomas gerais como: fadiga, mialgia, distúrbios do sono, cefaleia, enxaqueca, resfriados constantes, alergias, queda de cabelo. Trabalho Mau rendimento no trabalho, maior quantidade de erros cometidos, procedimentos equivocados, negligência, imprudência. Falta de integração entre os membros da equipe de trabalho. Sociedade e Trabalho Aumento dos gastos; maior rotatividade dos funcionários; maior quantidade de faltas no expediente; aumento do risco de acidentes; queda exponencial da produtividade, entre outros prejuízos. Desarmonia familiar. Menor satisfação do cliente em relação ao atendimento obtido. PREVENÇÃO As ações para minimizar os quadros de sofrimento dos profissionais estão associadas à divisão do trabalho, reposição de trabalhadores faltantes, apoio de supervisor e colegas na solução de problemas, oportunidade de desenvolvimento de habilidades. Preservar-se, fazer a distinção de pessoal e profissional, realizar atividades prazerosas, praticar exercício físico regular, diminuição do horário de trabalho, fazer o que gosta, e trabalhar com o que ama são algumas das maneiras de não ser acometido por essa doença, e buscar ajuda quando observada alguns dos sintomas descritos. REFERÊNCIAS Bernhardt BA, Rushton CH, Carrese J, Pyeritz RE, Kolodner K, Geller G. 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Disponível em: http://www.rbmt.org.br/details/46/pt-BR/sindrome-de-burnout. http://www.scielo.br/pdf/rbso/v43/2317-6369-rbso-43-e3.pdf Saiba quais são os 12 estágios do burnout e se você se enquadra em algum deles. ANMT, 2017. Disponível em: <https://www.anamt.org.br/portal/2017/08/29/saiba-quais-sao-os-12-estagios-do-burnout-e-d escubra-se-voce-se-enquadra-em-algum-deles/>. LORIOL, M. Le temps de la fatigue: la gestion sociale du mal-être au travail. Paris: Anthropos, 2000. Trigo, T.R. et al. Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Rev. Psiq. Clínica, vol 34, n. 5, p.223-233, 2007.
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