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Paper - Multiculturalismo - Maria Eduarda Lopes

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MULTICULTURALISMO
INTRODUÇÃO
Tem-se que o multiculturalismo é recente, sendo tal termo utilizado pela primeira vez nos anos 60 para designar uma forma específica de se lidar com a questão da diversidade cultural. Foi adotado de maneira formal, somente nos anos 70, em modo de política pública no Canadá. Contudo, ganhou destaque e discussões apenas nos anos 90. 
Multiculturalismo e diversidade
A postura multiculturalista adota posição de forte apoio à diversidade no interior da comunidade, reconhecendo e consolidando o direito de diversos grupos abrangidos por esta. Nesse sentido, Heywood (2010, p.95) afirma: 
O multiculturalismo reconhece como as crenças, os valores e os estilos de vida são importantes para que os indivíduos ou grupos desenvolvam o respeito por si próprios. Culturas diferentes merecem ser protegidas e fortalecidas, principalmente quando pertencem a grupos minoritários ou vulneráveis. Existem, porém vários modelos conflitantes de sociedade multicultural que se baseiam, de maneiras variadas, nas ideias do liberalismo, do pluralismo e do cosmopolitismo. 
Diante de tal afirmativa, tem-se como exemplo a luta pelos direitos civis da população negra, liderada por Martin Luther King em 1960, em reação ao nacionalismo etnocultural estruturado na sociedade americana em tal período. Em tal conjuntura, a consolidação de uma identidade étnica para os negros representava um modo de confrontar a cultura branca predominante. 
A luta de mais variados grupos sociais se desenvolveu a longo de gerações até que a defesa da diversidade ganhasse ampliação no seu alcance de discussão. 
A preocupação contemporânea com a diversidade é muito mais ampla. Ela não se restringe mais à antropologia e parece não haver limite às áreas que com ela lidam. Falando de diversidade, um administrador de empresa é ensinado a gerenciar sujeitos de variadas “origens culturais”; um publicitário aprende a segmentar os mercados sob a lógica da diferença; um promotor de turismo tenta convencer seu público de que um destino há diversas atrações; um político tenta dar conta da imigração e da intolerância cultural e religiosa. (NETTO, 2017). 
Especificamente na América Latina, é constatado o direcionamento dos países a estudarem a expansão e o desenvolvimento da diversidade nas últimas décadas, trazendo variações de conceitos conforme os grupos abordados. Nesse sentido, pontua Sérgio Costa (2015): 
Nas últimas três décadas acumulou-se um extraordinário número de contribuições referidas a diferentes países da América Latina que buscam estudar a recente explosão da diversidade cultural na região. Os conceitos empregados para descrever os fenômenos estudados são igualmente variados. Alguns autores referem-se à reinvenção de identidades étnicas, outros constatam a emergência de novas formas de “indigeneidade” ou de negritude, enquanto outros ainda referem-se a processos de etnização das políticas e politização das etnias.
Na contemporaneidade, também essencial se faz evidenciar a diversificação de discursos que tomaram espaço com a popularização e disseminação do tema. 
Recentemente três discursos passaram a disputar a concorrência da produção da diferença: exceção cultural, multiculturalismo e diversidade cultural. Eles formam, então, um campo discursivo no qual agentes se envolvem na tentativa de sobrepor um discurso ao outro. A análise da diferença nesses três discursos contemporâneos nos aclara os elementos de concorrência que condicionam formas como a diferença é produzida hoje. Dizer isso é afirmar, de antemão, que a diferença é diferentemente produzida em cada discurso. 
Identidade e cultura 
Como forma de política identitária, o multiculturalismo busca a promoção de interesses de determinados grupos sociais. Nesse contexto, atribui grande enfoque à cultura, que em sentido amplo consiste no modo de vida de uma população. Assim Heywood (2010, p.101) discorre: 
Essa preocupação com a cultura ajuda a explicar a importância que o multiculturalismo dá à etnicidade, à religião e ao idioma. Etnicidade é um termo complexo, pois traz conotações raciais e culturais. A ideia, que pode ser tanto correta quanto incorreta, é que os integrantes de grupos étnicos descendem de ancestrais comuns. Logo, esses grupos seriam como a extensão de uma família e, nesse caso, estariam unidos pelo sangue. 
Em tal conjuntura, importante reconhecer o papel de destaque que a diversidade cultural possui hoje, em termos comparativos às épocas anteriores. O valor de tal expressão ganhou proporção na medida em que políticas públicas de diversidade foram sendo implementadas nos mais variados países. 
Se diversidade cultural é um tema contemporâneo, deve-se lembrar que ele faz parte de um léxico global. Em publicação já referida fiz o procedimento de busca do termo em jornais de diferentes países e pude demonstrar que no Brasil, na Alemanha, na França e nos EUA igualmente o termo é recente. A globalidade da diversidade se encontra na Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões culturais da Unesco, promulgada em 2005, sua consagração.
A política do reconhecimento
A literatura multicultural entende o reconhecimento como uma necessidade básica, que deve ser garantida através de princípios de uma teoria de justiça. Em tal conjuntura, a identidade ser reconhecida se torna uma questão fundamental. Afirma Loewe (2011, p.98). 
A identidade não é efetiva quando o indivíduo simplesmente faz uma imagem de si mesmo. A identidade é efetiva quando os outros fazem uma imagem dele na qual ele mesmo se reconhece. A identidade é processo aberto de negociação entre autoimagem e a imagem que os nossos parceiros fazem de nós mesmos, em diferentes contextos de da interação social. 
Da mesma forma, se debate no que concerne ao reconhecimento das culturas. Importante neste sentido, diferenciar a política da dignidade igual da política do reconhecimento. A primeira, tem alicerce na ideia de que todos os seres humanos são igualmente, merecedores de respeito. Com base nisso, se fundamenta a ideia de igual respeito às diferentes culturas. Contudo, devemos estar abertos às possibilidades de determinadas culturas serem mais justas, tolerantes e livres, em comparação a outras. Neste contexto, Loewe (p.116) sustenta que a teoria firmada por Tully, ainda que com intenção louvável e bases concretas, é inatingível. 
Uma sociedade, na qual a cultura de todos os membros é reconhecida e afirmada por outros, como Tully o deseja, é sensivelmente, uma tarefa impossível. Podemos argumentar por uma oportunidade de todos os grupos culturais de se desenvolverem, ainda que essa seja, quiçá, uma ideia política pouco atraente. Podemos argumentar por mais tolerância, mas não podemos argumentar que cada um deve reconhecer o valor positivo de todas as outras culturas, e que cada um deve afirmar esse valor. E isso é assim ainda que a duvidosa tese, acerca da necessidade do reconhecimento de meu grupo cultural, por parte de todos os outros, para assegurar e fomentar meu auto-respeito, fosse correta.
Conclusão 
Nas últimas décadas, o multiculturalismo ganhou espaço e voz para promover principalmente, a diversidade cultural. Assim, fomentados foram os estudos relacionados ao modo de vida de diversos grupos sociais, e consolidados diversificados discursos em busca do reconhecimento e respeito a tais grupos, cada um em sua individualidade, devidamente inseridos em uma sociedade plural. Neste contexto, atualmente ainda há percursos para serem trilhados, visando a efetiva compreensão e reconhecimento do multiculturalismo. 
REFERÊNCIAS 
COSTA, Sérgio. Da desigualdade à diferença: direito, política e a invenção da diversidade cultural na América Latina. Contemporânea - Revista de Sociologia da UFSCar, v.5, n.1, jan. - jun. 2015, pp. 145-165.
HEYWOOD, Andrew. Ideologias políticas: do feminismo ao multiculturalismo. Tradução de Janaína Marcoantonio e Mariane Janikian. 1.ed. São Paulo: Ática, 2010. 
LOEWE, Daniel. Multiculturalismo e direitos culturais. Tradução de PauloCésar Nodari e Elsa Bonito Basso. Caxias do Sul: Educs, 2011. 
NETO, Michel Nicolau. A diferença do discurso da diversidade. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v.7, n.1, jan. - jun. 2017, pp. 39-61.

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