Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Punção Venosa Periférica em Pediatria O hospital é o estabelecimento destinado a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, para cumprir essas funções, estima-se que 85% dos pacientes hospitalizados recebem algum dispositivo de acesso vascular. Em pediatria a instalação de cateteres intravenosos representa o procedimento invasivo mais realizado na hospitalização de crianças, sendo utilizadas para diversas finalidades e situações variadas. Os cateteres periféricos intravenosos são utilizados para a administração de líquidos intravenosos, medicamentos, derivados sanguíneos, nutrição/suplementação parenteral e ocasionalmente coleta de sangue venoso para exames laboratoriais. Para a Terapia Intravenosa é necessário a obtenção de acesso venoso periférico ou central. Apesar da punção venosa periférica com cateter agulhado ser o procedimento mais realizado na rotina dos serviços de saúde, sua utilização pode colocar os pacientes em risco de complicações, sendo as mais frequentes: flebite, hematoma, infiltração, trombose e tromboflebite. Estima-se que 85% dos acessos periféricos falham por complicações antes mesmo do final da terapia. Pesquisas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária mostram que as notificações mais recebidas de incidentes relacionados à assistência à saúde são flebite e incidentes com o cateter venoso. Preparo da Criança e da Família para a Punção Venosa · Identificar-se para a criança e o acompanhante · Verificar a pulseira de identificação da criança e conferir com a papeleta · Avaliar o nível de cognição, prontidão e capacidade de processar informações da criança e da família. Essas capacidades podem estar debilitadas devido a idade, nível de ansiedade e estresse daquele momento. · Discutir sobre a intenção de colocar o cateter, a necessidade do procedimento, assim como seus riscos e benefícios, explicando o passo a passo. · Avaliar presença de alergia aos antissépticos, ao esparadrapo e ao látex · Converse sobre o desconforto que a criança deve sentir com a colação do dispositivo para a terapia intravenosa, dependendo da idade, incentive sua cooperação · Enfatize a criança a importância de permanecer imóvel durante o procedimento · Explique aos pais a importância de permanecer com a criança, oferecendo segurança · Dependendo da idade da criança, o Brinquedo Terapêutico pode ser uma boa estratégia para facilitar a compreensão da criança. Imobilização Terapêutica: muito utilizada para lactentes, é uma posição imobilizadora segura, confortável e temporária que permita um contato físico estreito com os pais ou responsáveis por 30 minutos ou menos. Nas crianças maiores deve ser utilizado o mínimo de contenção possível, apenas quando as outras técnicas falham. Preparo do Material de Procedimento: · Bandeja de procedimento: composta por cuba rim ou bandeja, luvas de procedimento, gaze ou algodão, garrote, solução antisséptica, dispositivo intravenoso, adesivo para fixação do cateter, extensor, seringa de 10 ou 5ml, agulha e soro fisiológico a 0,9%. Avaliação da Rede Venosa: - A escolha do acesso será baseada na idade, tamanho da criança, estado hemodinâmico, experiencia da enfermeira, condição vascular, natureza do líquido que será administrado e do tempo de terapia intravenosa. Deve-se inspecionar e palpar a rede venosa, dando preferência as veias proeminentes, firmes e menos tortuosas, priorizando a porção distal em sentidos ascendentes. Deve ser avaliado também a condição da pele da criança, observando a presença de enxerto de pele ou derivações, celulite, cirurgia vascular, trombose ou cirurgia vascular periférica. Deve-se evitar os membros comprometidos por lesões como feridas abertas, infecções nas proximidades, veias já comprometidas, áreas com infiltração ou extravasamento prévio ou ainda que serão utilizadas em outro procedimento. · Região Cefálica: para crianças menores que 3 anos podem ser consideradas as veias da cabeça. No couro cabeludo temos as veias frontais, auricular, veia temporal superficial e veia occipital. Na região cervical temos a veia jugular externa. · Região dos Membros Superiores: No dorso da mão temos as opções de veia basílica, cefálica e veias metacarpianas dorsais. No antebraço temos a veia cefálica, cefálica acessórica, basílica e intermediária. No braço, a veia cefálica e a basílica. · Região dos Membros inferiores: Caso a criança não caminhe, podemos utilizar as veias do pé, a rede venosa do dorso do pé. As veias da perna temos a safena magda e tibial anterior. - A orientação da criança e da família é tão importante quanto o procedimento em si, por isso explique e eduque a criança e a família acerca dos cuidados com o cateter: · Informar a criança e família sobre qualquer limitação de movimento ou mobilidade · Explicar sobre os sinais e sintomas que podem indicar necessidade de troca do cateter · Explicar todos os alarmes se alguma bomba de infusão seja utilizada · Informar para que não mexa em nenhum dos equipamentos ou os silencie · Informar que o local da punção venosa será checado constantemente pela equipe de enfermagem - A ANVISA recomenda a 2 tentativas de punção venosa por profissional, limitada a 4 por local. O cateter venoso periférico pode permanecer em pacientes neonatais ou pediátricos por um longo período, caso não haja sinais de complicações. Aspectos da terapia intravenosa em Pediatria - A importância de estudarmos sobre a terapia infusional: · 70% dos pacientes hospitalizados são submetidos a acessos venosos · A equipe de enfermagem é responsável pela inserção e/ou manutenção desses acessos · A equipe de enfermagem está inserida na equipe multiprofissional, responsável pela prescrição, preparo e administração dos medicamentos. - Aspectos importantes: · Punção venosa em pediatria: procedimento de média a alta complexidade (punção e manutenção do acesso podem ser muito difíceis, por diversas questões) · Envolve a necessidade de experiência na área · Maior número de tentativas de punção = risco de complicações · Prescrição e preparo de medicamentos: erro de dose ou de concentração medicamentosa correspondem a cerca de 20 a 30% dos eventos adversos relacionados a terapia intravenosa em pediatria. - Planejamento da Terapia Intravenosa: · Medicamentos necessários (pH, osmolaridade, concentração, características, compatibilidade, tempo previsto de terapêutica) · Características da rede venosa · Recursos disponíveis · Expertise profissional · Características da criança e família PH: o PH sanguíneo gira em torno de 7,35 a 7,45. Medicamentos com PHs abaixo de 5 ou maiores que 9 podem gerar alguns problemas se administrados em via incorreta. Medicamentos Irritantes: são medicamentos que quando passa pelo vaso, ou há uma infiltração – quando ele sai do vaso e vai para o tecido – não há necrose e sim uma irritação naquele tecido. Medicamentos Vesicantes: quando extravasa, ele tem o poder de causar necrose no tecido. - Alguns fármacos têm incompatibilidade com outros. Quando há incompatibilidade pode haver formação de precipitado, alteração de cor ou até mesmo inativação de uma das drogas. É necessário aprazar medicamentos que não são compatíveis, quando isso não é possível é necessário entre uma droga e outra “lavar” o acesso – flushing com solução salina entre fármacos. Osmolaridade · Osmolaridade: concentração de soluto em 1L de solução · Osmolaridade sérica: 280-300mOsm/L · Até 500mOsm/L: acesso periférico · De acordo com a osmolaridade do medicamento, ocorrerá entrada ou saída de água do vaso, provocando irritação. Soluções quanto a Osmolaridade Hipotônicas Isotônicas Hipertônicas Água destilada (0,00) SF 0,9% (308) Glicose 10% (505) Nacl 0,45% (155) Glicose 5% (252) Glicose 50% (2520) Bicarbonato de sódio 8,4% (2000) - Soluções isotônicas não comprometem a integridade do vaso sanguíneo, já soluções hipotônicas e hipertônicas podem provocar irritação ao endotélio vascular, lise celular de hemácia por desidratação. Tipos de acessos venosos em pediatria · Acessos venosos periféricos: - Cateter sobre agulha (jelco):em pediatria utilizado sempre para introdução de soluções. - Cateter agulhado (scalp): em pediatria é utilizado para coletar sangue · Acesso Intraósseo: acesso de emergência, quando não se consegue acesso periférico, enfermeiros capacitados podem fazer. Curta permanência. · Acessos venosos centrais: - Longa permanência: cateteres semi implantados, totalmente implantados, PICCs - Curta permanência: cateter de inserção central Cateteres Periféricos na Pediatria Cateter agulhado · Calibres utilizados: 23 ou 25 G · Apenas para coleta de sangue Cateter sobre agulha · Calibres utilizados: 24 ou 22G (apenas em caso de infusão de contraste, radiofármacos, administração de hemocomponentes ou em pré-operatório de escolares ou adolescentes. · Cateter de escolha para soluções compatíveis com via periférica. Cateter central de inserção central (CICC) · Inserção realizada pelo médico em Centro Cirúrgico sob anestesia · Mono ou duplo lúmen · Calibre 3 a 5 Fr · Indicado para tratamento de até 14 dias com fármacos não compatíveis com a via periférica Cateter central de inserção periférica (PICC) · Calibres utilizados: 1,9 a 5 Fr (apenas adolescentes) · Mono ou duplo lúmen · Punção direta x Seldinger modificada · Tratamentos venosos superiores à 6 dias · Medicamentos irritantes ou vesicantes, hiperosmolares · Rede venosa periférica preservada · Inserção realizada pelo enfermeiro à beira leito com sedação ou anestesia local Cateteres centrais na pediatria - Cateter central de inserção periférica (PICC): · Na admissão preservar sítio de punção para PICC · Utilizar exclusivamente seringa de 10l para FLUSH · Infusão de hemocomponentes em cateteres > 3Fr · Ponta do cateter em junção cavo atrial · Primeiro curativo com gaze e película transparente · Filme transparente estéril: 7 dias · Fixação adequada: sem suturas · Mensurar diariamente circunferência braquial - Cateter Central de Inserção Central (CICC) · Cobertura: filme estéril – 7 dias/ Gaze estéril – 24h · Paramentação: luva estéril/gorro/máscara · Fixação e estabilização: sutura, atentar para quebra de cateter · Permeabilidade: válvula de pressão positiva · Registro Cateteres centrais de longa permanência (tunelizados) - Semi Implantados: · (Hickmann, Broviac) – utilizado para infusão de grandes volumes e altas pressões · Permcath: 8,10, 12 Fr. Utilizado para realização de hemodiálise, plasmaférese. - Totalmente implantado: · Porth a cath: dispositivo muito utilizado em terapias longas (por exemplo: oncologia). É implantado no subcutâneo, formado por duas partes: um reservatório que possui membrana de silicone acessada através de punção com agulha Huber + cateter. Como escolher o dispositivo adequado? - Acesso venoso periférico: · Fármacos não vesicantes · Tempo de tratamento inferior a 10 dias · Criança estável, sem infusão de múltiplas drogas · Criança com rede venosa periférica preservada - Acesso venoso central: · Crianças em instabilidade hemodinâmica · Tratamento superior a 10 dias · Infusão de drogas vesicantes ou potencialmente irritantes por período prolongado · Rede venosa periférica prejudicada Habilidades técnicas em pediatria · Realização do procedimento com mais de 1 profissional · Número de tentativas por profissional, 2 profissionais, 2 tentativas cada · Escolha de local adequado: sala de procedimento · Escolha do local de inserção Rede venosa: escolha dos sítios para punção periférica · Veias calibrosas, não tortuosas e visíveis · Evitar áreas de articulação · Sentido ascendente: considerar mãos · MMII e região cefálica até os 18 meses · Rede venosa de calibre reduzido · Preferir o membro não dominante da criança · Atentar para a mão que a criança chupa o dedo · NÃO usar talas ou ataduras · Se possível, usar malha apropriada · Fixar e estabilizar o cateter de forma adequada · Realizar avaliação frequente dos acessos venosos durante o plantão · Conhecer os dispositivos envolvidos na TIV (extensores, conectores, válvulas, bombas infusoras, USG) Recomendações para fixação da Terapia Intravenosa · Uso de filme transparente estéril com borda reforçada · Usar fita estéril para estabilizar o cateter · Para reforço do curativo não ocluir o sítio de inserção · Identificação correta · Registro adequado Manutenção · Flush com solução salina · Desinfecção das conexões · Troca periódica não programada · Periodicidade de avaliação Habilidades não técnicas em pediatria: · Presença da família · Amamentação durante o procedimento · Utilização de brinquedos, músicas, livros e aparelhos eletrônicos · Não deixar a responsabilidade de imobilizar a criança para o familiar · Utilização de glicose oral (1ml a 25%) · Permitir a manipulação de insumos hospitalares pela criança · Uso de folhetos, desenhos, histórias durante a terapia intravenosa prolongada Quando retirar o cateter? - Periférico: · Expressão de dor durante a infusão · Movimentos de retirada do membro durante a infusão · Choro incessante durante a infusão · Verbalização de dor · Sinais de flebite ou infiltração/extravasamento e obstrução · Término da terapêutica - Central: · Cateter obstruído após tentativas de desobstrução · Em conjunto com a equipe médica, sinais e sintomas de IPCS: secreção purulenta em óstio, febre sem foco · Término da terapêutica
Compartilhar