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Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
O Traumatismo Cranioencefálico (TCE) é responsável
por pelo menos 50% dos casos de morte associada ao
trauma, sendo ocorrência muito frequente em serviços
que atendem politraumatizados.
Seguindo da porção mais
externa, podemos
identificar três camadas
que envolvem o encéfalo e
o tronco cerebral: couro
cabeludo, crânio e
meninges. O couro cabeludo caracteriza-se por sua rica
irrigação, podendo suas lacerações levar a sangramentos
importantes, principalmente em crianças. O crânio pode ser
dividido em duas porções – abóbada, que recobre o encéfalo,
e a base. A abóbada é mais fina nas regiões temporais, o que
explica seu frequente envolvimento nas fraturas de crânio.
Linhas de fratura na região temporal devem chamar a atenção
para possível lesão associada da artéria meníngea média,
causadora do hematoma extradural. Já a base é firme e áspera,
ocasionando lesões por meio de movimentos de aceleração e
desaceleração, tão comuns no TCE. As meninges constituem
o revestimento mais interno, sendo seu estudo fundamental
na compreensão do mecanismo de formação dos hematomas
pós-traumáticos; são formadas por três camadas: dura-máter,
aracnoide e pia-máter. A dura-máter é constituída por dois
folhetos de tecido conjuntivo denso, um em contato com o
periósteo craniano e outro com a aracnoide. Em algumas
regiões, como por exemplo, na parietal, o folheto externo
encontra-se frouxamente aderido à tábua interna do crânio,
facilitando o acúmulo de sangue nesta topografia, formando
o hematoma epidural, também conhecido como extradural.
Já o folheto interno, em alguns pontos, forma dependências
que determinam compartimentos neste espaço, como a foice
do cérebro, que o divide em dois hemisférios, e a tenda do
cerebelo ou tentório. Esta última delimita a loja que abriga o
cerebelo e divide a
cavidade craniana em duas
porções: supratentorial
(que compreende a fossa
cerebral anterior e média) e
infratentorial (que
compreende a fossa
cerebral posterior).
Através de um amplo
orifício existente no tentório, passam as estruturas que
formam o tronco cerebral em direção à coluna vertebral.
O sistema venoso cerebral drena para os venosos, dentre eles
o sagital (especialmente sensível ao trauma pela sua
localização superior na linha média), que se encontram entre
os folhetos da dura. A aracnoide é formada por uma camada
frouxamente aderida à dura-máter e apresenta
prolongamentos digitiformes que a comunicam com a pia-
máter, a camada mais interna.
O Líquido Cefalorraquidiano (LCR) corre exatamente neste
espaço entre a aracnoide e
a pia-máter. Existem
várias pequenas veias que
unem a dura à aracnoide
(bridging veins). Estas
estruturas quando lesadas
podem levar a acúmulo de
sangue entre a dura e a
aracnoide, formando o
hematoma subdural.
Os conceitos fisiológicos relacionados ao trauma
craruencefálico incluem a pressão intracraniana, a doutrina de
Monro-Kellie e o fluxo sanguíneo cerebral.
PRESSÃO INTRACRANIANA
A pressão intracraniana (PIC) elevada pode reduzir a
perfusão cerebral e causar ou exacerbar a isquemia. A PIC
normal no estado de repouso é aproximadamente 10 mmHg.
Pressões maiores do que 20 mmHg, especialmente se
mantidas e refratárias ao tratamento, são associadas a piores
resultados.
DOUTRINA DE MONRO-KELLIE
A doutrina de Monro-Kellie é um conceito simples, mas de
vital importância para a compreensão da dinâmica da PIC. A
doutrina afirma que o volume total do conteúdo intracraniano
deve permanecer constante, já que o crânio é uma caixa rígida
não expansível. Quando o volume intracraniano aumenta, a
PIC também aumenta. O sangue venoso e o LCR podem ser
comprimidos para fora do espaço intracraniano dando algum
grau de
compensação à
pressão. Assim,
na fase inicial
após o trauma,
uma massa tal
como um
coágulo
sanguíneo pode
aumentar e a PIC
permanecer
normal.
Entretanto, uma
vez atingido o
limite de
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deslocamento do LCR e do sangue intravascular, a PIC
aumenta rapidamente.
FLUXO SANGUÍNEO CEREBRAL
O TCE suficientemente grave para produzir com a pode
causar redução importante do fluxo sanguíneo cerebral (FSC)
durante as primeiras horas após o trauma. Habitualmente
aumenta nos próximos 2 a 3 dias, mas nos doentes que
permanecem em coma, o FSC permanece abaixo do normal
por dias ou semanas após o trauma. Há evidências crescentes
que tais níveis baixos de FSC são inadequados para satisfazer
a demanda metabólica do cérebro precocemente após o
trauma. Por razões conhecidas e desconhecidas, a isquemia
cerebral regional, e mesmo global, são comuns após o trauma
craniencefálico grave. Os vasos cerebrais pré-capilares têm
normalmente a capacidade de contrair ou dilatar reflexamente
em resposta a mudanças na pressão arterial média (PAM).
Para efeitos clínicos, a pressão de perfusão cerebral (PPC) é
definida como pressão sanguínea arterial média (PAM)
menos a pressão intracraniana (PPC = PAM-PIC). A PAM
entre 50 e 150 mmHg é "auto-regulada" para manter o FSC
constante (auto-regulação pressórica). O trauma
craniencefálico grave pode prejudicar a autoregulação
pressórica de tal modo que o cérebro fica incapaz de
compensar adequadamente as mudanças na PPC. Assim, se a
P AM for muito baixa pode ocorrer isquemia e infarto. Se a P
AM for muito alta pode ocorrer inchaço com aumento da PIC.
o vasos cerebrais normalmente_ também se contraem ou
dilatam em resposta a alterações na pressão parcial de
oxigênio (Pa02 ) ou na pressão parcial de dióxido de carbono
(PaC02 ) do sangue (auto-regulação química). Portanto, a
lesão secundária pode ocorrer por hipotensão, hipóxia,
hipercapnia ou por hipocapnia iatrogênica. Portanto, deve ser
feito todo esforço para aumentar a perfusão e fluxo sanguíneo
cerebrais pela redução da pressão intracraniana elevada,
mantendo o volume intravascular e a PAM normais. e
restaurando a oxigenação e a ventilação normais. Hematomas
e outras lesões que aumentam o volume intracraniano devem
ser precocemente evacuados. A manutenção da PPC normal
pode ajudar a melhorar o FSC; entretanto, a PPC não é igual
nem assegura o FSC. Uma vez que os mecanismos de
compensação encontram-se esgotados e existe um aumento
exponencial da PIC, a perfusão cerebral fica comprometida.
A avaliação inicial do paciente com TCE deve também seguir
o ABCDE do exame primário, dando prioridade à
manutenção de uma via aérea pérvia e à proteção da coluna
cervical (10% dos pacientes com TCE possuem lesão
cervical), além de uma boa oxigenação. Qualquer alteração
hemodinâmica deve ser corrigida. Uma boa oxigenação
associada à correção das perdas de volume são elementos de
fundamental importância na prevenção das lesões cerebrais
secundárias, como veremos adiante. O choque hipovolêmico
nos pacientes com TCE não é decorrente de sangramento
intracraniano. Via de regra esta perda sanguínea não é
volumosa; e o choque, quando presente, é ocasionado por
hemorragia em outro compartimento corporal. Após as
medidas iniciais, procede-se a um exame neurológico
mínimo. Este visa estimar o nível de comprometimento das
funções neurológicas e permitir, através de reavaliações
frequentes, intervenção neurocirúrgica o mais precoce
possível.
O exame neurológico no paciente com trauma craniano
consiste em:
1. Avaliação do nível de consciência: sua análise seriada e
comparativa é fundamental no acompanhamento destes
pacientes. Utiliza-se a escala de coma de Glasgow para uma
avaliação quantitativa. Afastadas outras causas, como
intoxicação por drogas e álcool, a alteração do nível de
consciência é sinal cardinal de lesão intracraniana;
2. Avaliação da função pupilar: são avaliados a simetria e o
reflexo fotomotor.Qualquer assimetria maior que 1 mm deve
ser considerada indicativa de acometimento cerebral. Lesões
expansivas cerebrais (hematomas) graves levam ao aumento
da pressão intracraniana e fazem com que a parte medial do
lobo temporal, conhecido como úncus, sofra herniação
através da tenda do cerebelo e comprima o III par craniano
(oculomotor) no mesencéfalo; este fenômeno ocasiona
midríase (e perda da resposta à luz) ipsilateral à lesão do III
par e, portanto, ipsilateral à lesão expansiva. Outro achado da
herniação do úncus consiste no surgimento de deficit motor
lateralizado, contralateral à lesão expansiva, devido à
compressão do trato corticoespinhal (primeiro neurônio
motor) em sua passagem no mesencéfalo; é sempre
importante lembrarmos que a via motora cruza (na
decussação das pirâmides) antes de descer na medula
espinhal, o que justifica a localização dessa hemiplegia. Em
poucos casos, a lesão de massa pode empurrar o lado oposto
do mesencéfalo contra a tenda do cerebelo, comprimindo a
via motora contralateral à lesão expansiva, fenômeno que
provoca hemiplegia no mesmo lado do hematoma; esta
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condição é conhecida como síndrome de Kernohan. Nesses
casos, o III par contralateral à lesão expansiva não é afetado;
3. Déficit motor lateralizado: deve ser observada a presença
de assimetria nos movimentos voluntários ou desencadeada
por estímulos dolorosos, no caso dos pacientes comatosos.
Com base neste exame, podemos classificar como TCE grave
o paciente que apresente qualquer um dos seguintes achados:
(1) pupilas assimétricas; (2) assimetria motora; (3) fratura
aberta de crânio com perda de liquor ou exposição de tecido
cerebral; (4) escore de Glasgow menor ou igual a oito ou
queda maior que três pontos na reavaliação (independente do
escore inicial); e (5) fratura de crânio com afundamento. Estes
pacientes requerem atenção imediata de um neurocirurgião e
devem ser tratados em centros de terapia intensiva.
Tomografia Computadorizada (TC) de crânio de urgência
deve ser realizada após a normalização hemodinâmica. O
exame deve ser repetido na presença de alterações
neurológicas e, de forma rotineira, 12 e 24 horas após o
trauma nos casos de contusão ou hematoma à TC inicial.
Achados relevantes na TC incluem inchaço do couro
cabeludo ou hematomas subgaleais na região do impacto.
Fraturas de crânio podem ser identificadas com maior
segurança lançando mão da "janela" para osso, mas são
comumente encontradas mesmo com o uso da "janela para
partes moles".
As lesões de maior gravidade na TC incluem hematoma
intracraniano, contusões e desvio da linha média (efeito de
massa). O septo pelúcido, que fica entre os dois ventrículos
laterais, deve estar localizado na linha média. O desvio de
linha média é diagnosticado e quantificado pelo grau de
afastamento do septo pelúcido contralateral ao hematoma e o
grau de desvio real usando uma escala impressa ao lado da
imagem tomográfica. Um desvio de 5 mm ou mais é
frequentemente indicativo da necessidade de cirurgia para
evacuar o coágulo ou contusão causadora do desvio. A
radiografia de crânio geralmente é prescindível, à exceção
dos traumas penetrantes e em casos de suspeita de lesão em
osso temporal, nos quais a presença de um traço de fratura
pode estar relacionada ao surgimento de hematoma
extradural. Em casos de trauma contuso, geralmente o exame
clínico e a inspeção local fornecem informações muito mais
relevantes do que a radiografia de crânio.
De forma geral, o tratamento do TCE envolve duas fases.
Inicialmente, tratam-se as lesões que podem levar à morte
imediata do paciente, como em qualquer outro
politraumatizado, seguida de um suporte clínico que visa
impedir as lesões secundárias, geralmente resultado de
acidose, hipovolemia e hipóxia. Com base na Escala de Coma
de Glasgow (ECG), podemos classificar o TCE como leve (13
a 15 pontos), moderado (9 a 12 pontos) e grave (3 a 8 pontos).
FRATURAS DE CRÂNIO
São frequentes, entretanto não estão relacionadas
obrigatoriamente com um quadro clínico adverso, ocorrendo
muitos casos de lesão cerebral grave em que não se observam
fraturas cranianas. Sendo assim, o diagnóstico de uma fratura
no crânio nunca deve retardar a avaliação ou o tratamento de
uma lesão cerebral. O principal significado clínico das
fraturas é que este grupo de pacientes apresenta um risco
maior de hematomas intracranianos; este fenômeno leva
alguns autores a preconizar internação hospitalar mesmo de
indivíduos pouco ou assintomáticos.
Identificam-se quatro grupos de fraturas:
1. Fraturas lineares simples: não necessitam de tratamento
cirúrgico, devendo-se apenas observar se a linha de fratura
cruza algum território vascular na radiografia de crânio, o que
aumenta a probabilidade de hematomas intracranianos;
2. Fraturas com afundamento: seu tratamento é dirigido
para a lesão cerebral subjacente, havendo indicação de
fixação cirúrgica apenas nos casos em que a depressão supera
a espessura da calota craniana, uma vez que existe risco de
sequelas neurológicas, como crises convulsivas;
3. Fraturas abertas: são aquelas em que há rompimento da
duramáter e comunicação entre o meio externo e o
parênquima cerebral. Necessitam de desbridamento e sutura
das lacerações na dura-máter;
4. Fraturas da base do crânio: geralmente passam
despercebidas no exame radiológico, sendo seu diagnóstico
clínico feito através da presença de fístula liquórica através
do nariz (rinorreia) ou do ouvido (otorreia); equimoses na
região mastoidea ou pré-auricular (sinal de Battle); e
equimoses periorbitárias (sinal do guaxinim) que resultam de
fraturas da lâmina crivosa. Podem ser observadas lesões do
VII e VIII pares cranianos provocando paralisia facial e perda
da audição, respectivamente. As manifestações clínicas do
envolvimentos dos pares cranianos podem ocorrer logo após
o trauma ou surgirem após alguns dias.
LESÕES CEREBRAIS DIFUSAS
São produzidas pela desaceleração súbita do sistema nervoso
central dentro do crânio com interrupção da função cerebral.
Esta interrupção pode ser temporária, como na concussão, ou
pode determinar envolvimento estrutural definitivo, como na
lesão axonal difusa.
Concussão Cerebral. A concussão cerebral manifesta-se
clinicamente por uma perda temporária da função
neurológica, que nas suas formas mais brandas consiste em
amnésia ou confusão, associada, frequentemente, à perda
temporária da consciência. Todas estas alterações tendem a
desaparecer de forma rápida, geralmente antes da chegada do
paciente à sala de emergência. Uma amnésia retrógrada é a
regra. Alguns autores dividem a concussão em leve, ou seja,
sem perda da consciência, mas com distúrbio temporário da
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função neurológica, e clássica, com perda temporária da
consciência por período inferior a seis horas. A memória
usualmente é recuperada em uma sequência temporal, com os
eventos mais distantes do momento do trauma sendo
relembrados primeiro.
Lesão Axonal Difusa (LAD). A LAD é primariamente um
diagnóstico da anatomia patológica, sendo caracterizada por
ruptura de axônios; se manifesta com a presença de coma
decorrente de TCE com duração de mais de seis horas. As
alterações estruturais ocorrem por lesão por cisalhamento
(tangencial) dos prolongamentos axonais, em ambos os
hemisférios, por forças de aceleração e desaceleração entre
camadas corticais e subcorticais. O mecanismo do trauma
parece ser explicado por aceleração rotacional da cabeça.
Embora se distribua de forma difusa, a LAD costuma
acometer com maior frequência estruturas inter-hemisféricas
(corpo caloso) e porção dorsolateral do mesencéfalo. Existe
uma elevada frequência de lesões centromedianas associadas:
hemorragiaintraventricular e encefálica múltipla, assim
como hemorragias do fórnix, cavum e septo pelúcido.
Clinicamente, observa-se alteração importante no nível de
consciência já no momento do trauma. O estado comatoso
dura obrigatoriamente mais de seis horas, fenômeno que
diferencia a LAD da concussão cerebral leve e clássica. A
LAD grave é aquela em que o estado comatoso perdura por
mais de 24 horas e coexistem sinais de envolvimento do
tronco encefálico, como postura de descerebração ao estímulo
nociceptivo. Nesses casos, devemos suspeitar de LAD devido
à ausência de sinais que denotam lesão expansiva
intracraniana (assimetria pupilar ou motora) e, portanto,
ausência de hipertensão intracraniana, em um paciente grave
com postura patológica que encerra prognóstico sombrio. A
mortalidade é de 51%. A LAD moderada é toda aquela não
acompanhada de posturas de decorticação ou descerebração,
em um paciente que permanece em coma por mais de 24
horas. A recuperação clínica costuma ser incompleta, com
uma mortalidade de 24%.
A LAD leve caracteriza-se por coma por mais de seis horas,
porém menos do que 24 horas. Deficit neurológicos e de
memória podem ser encontrados. A mortalidade gira em
torno de 15%. O diagnóstico é confirmado pela Tomografia
Computadorizada (TC) de crânio, que exclui a possibilidade
de lesões expansivas e hipertensão intracraniana.
Infelizmente, somente em metade dos casos as lesões
sugestivas (discretos pontos de hemorragias no corpo caloso
e centro semioval) são observadas na TC de crânio.
Atualmente, a ressonância magnética por difusão apresenta
grande sensibilidade para determinar as lesões anatômicas; o
exame identifica a presença de hipersinal no esplênio do
corpo caloso. O tratamento tem como base o suporte clínico,
não havendo indicação de tratamento cirúrgico.
LESÕES FOCAIS
As lesões focais são restritas a uma determinada área do
encéfalo; podem exercer efeito de massa, com desvio da linha
média, ou podem levar à hipertensão intracraniana, caso
atinjam volume significativo. Como em muitos casos o
tratamento é cirúrgico, todos os esforços propedêuticos
devem ser direcionados no diagnóstico precoce; em pacientes
graves, uma intervenção neurocirúrgica pode alterar a história
natural do TCE. As principais lesões focais incluem o
hematoma subdural, o hematoma extradural (epidural) e o
hematoma intraparenquimatoso.
Hematoma Subdural Agudo. Entre as lesões focais, o
hematoma subdural é o mais frequentemente encontrado,
sendo a causa mais comum de efeito de massa no TCE. Esta
lesão pode estar presente em até 30% dos traumas graves.
Idosos e alcoólatras, por aumento do espaço subdural devido
à atrofia cerebral, e pacientes em uso de anticoagulantes
representam a população mais suscetível. O hematoma
subdural geralmente é consequência de lesão de pequenas
veias localizadas entre a dura e a aracnoide, fenômeno que
provoca acúmulo progressivo de sangue no espaço subdural.
A lesão é unilateral em 80% das vezes (bilateral em 20%) e a
localização mais comum é a região frontotemporoparietal.
Alteração no nível de consciência, deficit lateralizados,
anisocoria, posturas patológicas e arritmia respiratória são
encontrados em combinações variadas. Dependendo do
volume e da velocidade de instalação do hematoma, pode
ocorrer efeito de massa significativo, com o desenvolvimento
de síndrome de hipertensão intracraniana; esta se manifesta
muitas vezes por meio da tríade de Cushing: hipertensão
arterial, bradicardia e bradipneia.
A TC de crânio é o exame de escolha. O método evidencia,
na totalidade dos casos, imagem hiperdensa que acompanha
a convexidade cerebral (em forma de "lua crescente"). Edema
cerebral e desvios da linha média usualmente são
encontrados. A ressonância magnética pode ser solicitada em
pacientes estáveis.
A abordagem do hematoma com desvio da linha média de 5
mm ou mais é cirúrgica. A drenagem deve ser realizada
através de craniotomia ampla. Deve-se ressaltar que o
prognóstico é sombrio, geralmente por conta das lesões
parenquimatosas adjacentes (hematomas
intraparenquimatosos, LAD grave etc.), sendo a mortalidade
de até 60%. Estudos demonstraram que a fenitoína reduziu a
incidência de convulsões durante a primeira semana após o
trauma craniano, mas não após este período.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
Hematoma Epidural. O hematoma epidural é bem menos
frequente que o subdural, ocorrendo em apenas 0,5 das
vítimas de TCE que não se encontram em coma, e em 9%
daquelas em estado comatoso. Como o nome sugere, esta
lesão representa sangue no espaço compreendido entre a face
interna da abóbada craniana e o folheto externo da dura-
máter. O acúmulo de sangue é decorrente de lesões dos ramos
da artéria meníngea média que cruzam o osso temporal, onde
estão expostos ao trauma direto; em poucos casos, o
hematoma resulta da lesão do seio venoso sagital, da veia
meníngea média e das veias diploicas. Embora seja
decorrente de trauma craniano grave, o hematoma epidural
não costuma vir acompanhado de grande dano ao córtex
cerebral subjacente, complicação que ocorre com maior
frequência no hematoma subdural agudo. Devido a sua
origem arterial frequente, o hematoma epidural é de
instalação imediata. O aumento progressivo do hematoma
descola a dura-máter do osso, o que faz com que alcance
grandes volumes em um breve intervalo de tempo. O aumento
da pressão intracraniana e a herniação do úncus são
complicações temidas. Clinicamente, os hematomas
epidurais apresentam uma evolução peculiar. A perda inicial
da consciência ocorre devido à concussão cerebral; após um
tempo inferior a seis horas, o paciente recobra a consciência,
período conhecido como intervalo lúcido; quando o sangue
que está se acumulando no espaço epidural atinge volume
considerável, o doente apresenta piora neurológica súbita,
podendo evoluir com herniação do úncus (midríase
homolateral à lesão e paresia dos membros contralaterais ao
hematoma).
Em alguns doentes, a perda inicial da consciência por
concussão cerebral pode não acontecer. Além disso, estudos
recentes demonstraram que apenas 47% dos pacientes com
hematoma epidural que são tratados cirurgicamente
apresentam em sua história intervalo lúcido, o que pode
dificultar o reconhecimento imediato desta condição. A
radiografia simples, ao contrário do que acontece no
hematoma subdural, tem valor. O achado de fratura de crânio
que cruza o trajeto dos ramos da artéria meníngea média ou
dos seios sagitais pode ser de auxílio diagnóstico. Muitas
vezes, a janela para osso na tomografia de crânio já é
suficiente para identificarmos a fratura. Assim como no
hematoma subdural, a TC de crânio é o método diagnóstico
de escolha. O hematoma caracteriza-se por lesão hiperdensa
biconvexa na maioria dos casos. Outros achados que podem
ou não estar presentes incluem edema cerebral, desvios da
linha média, apagamento das cisternas superficiais e
apagamento das estruturas do sistema ventricular. As
localizações temporal, temporoparietal e
frontotemporoparietal são as mais frequentes.
O tratamento cirúrgico está indicado nos hematomas
sintomáticos com pequenos desvios da linha média ≥ 5 mm e
nos hematomas assintomáticos com espessura maior do que
15 mm. Uma craniotomia ampla frontotemporoparietal,
seguida de tratamento da lesão com remoção do hematoma e
coagulação bipolar das áreas de hemorragia, é o
procedimento correto a ser empregado. A intervenção
neurocirúrgica precoce (nas primeiras duas horas) melhora
muito o prognóstico do paciente, havendo em muitos casos
(sobretudo crianças) completa recuperação da função
neurológica.
Contusão e Hematomas Intracerebrais. A contusão
cerebral, um comprometimento da superfície do cérebro
(córtex e subcórtex), consiste em graus variadosde
hemorragia petequial, edema e destruição tecidual; a contusão
é identificada em até 20 a 30% dos casos de TCE grave, sendo
mais encontrada nos lobos frontal e temporal. Costuma ser
ocasionada por um fenômeno de desaceleração que o encéfalo
sofre no crânio (a caixa craniana "para" e o cérebro
"continua"), chocando-se contra sua superfície em um
mecanismo de golpe e contragolpe. A gravidade do deficit
neurológico varia conforme o tamanho da lesão. Um quadro
semelhante ao acidente vascular isquêmico em território de
artéria cerebral média é típico. Uma complicação tardia das
contusões é a formação de cicatrizes corticais, que favorecem
o aparecimento de epilepsia pós-traumática. Outras
complicações, observadas em um período de horas a dias,
incluem a coalescência das contusões e/ou a formação de
hematoma intracerebral, desordens que ocorrem em até 20%
dos pacientes que se apresentam inicialmente com uma
contusão cerebral na TC de crânio. Nesses casos, deterioração
neurológica e aumentos súbitos e inesperados da PIC são
observados. O efeito de massa pode requerer evacuação
cirúrgica. Por esta razão, todos os pacientes com contusão
cerebral devem ter sua TC de crânio repetida em 24 horas,
para que seja identificada uma possível mudança no padrão
do exame.
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LESÕES AOS PARES CRANIANOS DECORRENTES
DO TCE
• Nervo Olfatório (I par). Anosmia e perda da
sensibilidade gustativa para sabores aromáticos. O nervo
é comprometido nas fraturas do osso frontal, quando seus
filamentos são lesados na placa cribriforme.
• Nervo Óptico (II par). Cegueira unilateral completa ou
diminuição importante da acuidade visual. Ocorre
raramente nas fraturas do osso esfenoide. A pupila é não
reativa, entretanto o reflexo consensual encontra-se
preservado.
• Nervo Troclear (IV par). Diplopia na mirada para
baixo. Geralmente a lesão ocorre no TCE leve, e a clínica
surge após alguns dias do trauma. O acometimento do
nervo troclear é consequente a fraturas da asa menor do
esfenoide.
• Nervo Facial (VII par). Lesão direta decorrente da
fratura de base de crânio, ocorrendo em cerca de 3% dos
casos. A paralisia facial pode surgir após cerca de cinco
a sete dias do trauma.
• Nervo Vestibulococlear (VIII par). Perda da audição,
vertigem e nistagmo logo após o trauma. A lesão é
decorrente de fratura do osso petroso. O quadro
vertiginoso faz diagnóstico diferencial com a dissecção
traumática (com trombose) da artéria vertebral. Além de
lesão do VIII par, a perda da audição no TCE pode ter
outras etiologias, como hemotímpano, envolvimento
direto dos ossículos do ouvido médio e
comprometimento da cóclea (sons de alta tonalidade).
( 3 5)
Trauma craniencefálico leve é definido por um escore de 13
a 15 na GCS após a reanimação. Frequentemente, estes
doentes sofrem uma concussão com uma história de perda
transitória da consciência após um TCE. Um doente com TCE
leve que está consciente e falando pode referir história de
desorientação, amnésia ou perda momentânea de consciência.
A história de perda momentânea de consciência pode ser de
difícil confirmação e muitas vezes o quadro fica confuso pela
coexistência de abuso de álcool ou de outros toxicos. Nunca
atribua alterações do estado mental a fatores de confusão até
que a lesão cerebral tenha sido definitivamente excluída. A
maioria dos doentes com TCE leve evolui com recuperação
sem intercorrências. Entretanto, cerca de 3% desses doentes
apresentam piora inesperada que resulta em disfunção
neurológica grave, a menos que a deterioração do estado
mental seja identificada precocemente.
A avaliação secundária é de particular importância na
avaliação dos doentes com TCE leve. Identifique o
mecanismo de lesão, com particular atenção para a ocorrência
de qualquer perda da consciência, incluindo o tempo de
duração de estado não responsivo, qualquer episódio de
convulsão e o nível subsequente do estado de consciência.
Determine a duração da amnésia tanto antes (retrógrada)
quanto depois (anterógrada) do evento traumático. O exame
seriado e a documentação do escore na. GCS é importante em
todos os doentes. A TC é o método de imagem preferido,
embora a sua obtenção não deva retardar a transferência do
doente. A TC deve ser realizada em todos os doentes com
suspeita de lesão cerebral que apresentem suspeita clinica de
fratura exposta de crânio, nos que apresentem qualquer sinal
de fratura de base de crânio, ou naqueles que apresentem mais
do que dois episódios de vômito, ou nos que apresentem idade
superior a 65 anos.
A TC também deve ser considerada se o doente apresentou
perda da consciência por mais de cinco minutos, amnésia
retrógrada por mais de 30 minutos, um mecanismo de trauma
importante, cefaleia grave, convulsões, défice de memória de
curto Prazo, intoxicação por álcool ou drogas, coagulopatia
ou um défice neurológico focal atribuível ao cérebro.
Aplicando esses parâmetros para os doentes com escore de 13
na GCS, aproximadamente 25% deles apresentarão achados
indicativos de trauma na TC, e 1,3% necessitarão de
intervenção neurocirúrgica. Usando essas regras em doentes
com escore de 15 na GCS 10% apresentarão achados na TC e
0.5% necessitarão de intervenção neurocirúrgica.
No caso de se observarem anormalidades na TC, ou se o
doente permanece sintomático ou neurologicamente anormal,
ele deve ser hospitalizado e um neurocirurgião deve ser
consultado. Se o doente estiver assintomático,
completamente acordado e alerta, e neurologicamente
normal, ele poderá ser observado por algumas horas,
reexaminado e se ainda estiver normal, receber alta com
segurança'. Em condições ideais, o doente recebe alta
devendo ficar aos cuidados de um acompanhante que possa
ficar junto dele e observá-lo durante as próximas 24 horas.
Tanto o doente como seu acompanhante são orientados de
acordo com um protocolo de instruções de manter 0 doente
sob observação cuidadosa e de trazê-lo de volta ao serviço de
emergência se aparecer cefaleia, se houver declínio no estado
mental ou se houver desenvolvimento de défices
neurológicos focais. Em todos os casos, deve ser dado ao
doente um protocolo de instruções para alta por escrito, que
deve ser cuidadosamente revisto pelo doente e/ou
acompanhante. Se o doente não está suficientemente alerta ou
orientado para entender claramente as instruções escritas e
verbais, deve-se reconsiderar a decisão de alta.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
( )
Aproximadamente 15% dos doentes com trauma
craniencefálico examinados no Departamento de Emergência
apresentam TCEmoderado. Esses doentes são ainda capazes
de obedecer ordens simples, mas em geral estão confusos ou
sonolentos e podem apresentar défice neurológico focal como
hemiparesia. Aproximadamente 10% a 20% desses doentes
apresentam piora e entram em coma. Por este motivo, é crítico
realizar avaliação neurológica seriada para tratar estes
doentes.
( 3 )
Aproximadamente 10% dos doentes vítimas de lesão cerebral
que são tratados no Departamento de Emergência apresentam
lesão cerebral grave. Doentes que sofreram TCE grave não
são capazes de obedecer ordens simples mesmo após
estabilização cardiopulmonar. Embora essa definição inclua
um amplo espectro de lesões cerebrais, ela identifica os
doentes que apresentam o maior risco de sofrerem morbidade
e mortalidade significativas. Para tais doentes, a abordagem à
maneira "vamos esperar para ver como fica" pode ser
desastrosa e o diagnóstico e o tratamento imediatos são de
suma importância. Não retarde a transferência do doente para
realizar uma TC.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
A lesão craniencefálka é frequentemente agravada por
agressões secundárias. A taxa de mortalidadeem doentes com
TCE grave que apresentam hipotensão à admissão é mais do
que o dobro do que naqueles que não apresentam. A presença
de hipóxia somada à hipotensão está associada a um aumento
relativo no risco de mortalidade de 75%. Portanto, em doentes
com trauma crânioencefálico grave, é imperativo que a
estabilização cardiopulmonar seja alcançada rapidamente.
VIA AÉREA E VENTILAÇÃO
A parada respiratória transitória e a hipóxia são comuns em
doentes com lesão cerebral grave e podem causar lesão
cerebral secundária. A intubação endotraqueal precoce deve
ser realizada em doentes comatosos. O doente é ventilado
com oxigênio a 100% até que seja colhida gasometria e sejam
feitos os ajustes apropriados da Fi02• Oximetria de pulso é
uma medida auxiliar útil e saturações de 0 2 > 98% são
desejáveis. Os parâmetros ventilatórios devem ser ajustados
para manter a PCO de aproximadamente 35 mmHg. Reserve
a hiperventilação dos doentes com lesão craniencefálica
grave para aqueles com deterioração neurológica ou sinais de
herniação. Hiperventilação prolongada com PCO < 25
mrnHg não é recomendada.
CIRCULAÇÃO
De modo geral hipotensão não é consequência da lesão
cerebral por si só exceto em estágios terminais, quando
sobrevém a insuficiência medular ou quando existe lesão de
medula espinhal concomitante. A hemorragia intracraniana
não pode causar choque hemorrágico. Se O doente está
hipotenso, deve-se estabelecer a normovolência logo que
possível utilizando-se produtos de sangue ou soluções
isotônicas conforme a necessidade. Deve-se enfatizar que a
avaliação neurológica de. doente hipotenso não é confiável.
Doentes hipotenso que não respondem a qualquer forma de
estímulo podem recuperar-se e melhorar substancialmente tão
logo a pressão seja restabelecida para níveis normais. A fonte
primária da hipotensão deve ser procurada e tratada
imediatamente.
Manter a pressão arterial sistólica (PAS} > ou igual a 100
mmHg para doentes de 50 a 69 anos de idade ou > ou igual a
110 mmHg ou mais para doentes de 15 a 49 anos de idade ou
maiores de 70 anos de idade; pode ser considerado para
diminuir a mortalidade e melhorar os resultados.
AVALIACÃO NEUROLÓGICA
Tão logo tenha sido estabilizado o estado cardiopulmonar do
doente, realiza-se uma avaliação neurológica rápida e
direcionada. Essa avaliação consiste primariamente em
avaliar o escore na Escala de Coma de Glasgow, a resposta
pupilar ao estímulo luminoso e a ocorrência de défice
neurológico localizado. É importante reconhecer a presença
de fatores de confusão na avaliação do doente com trauma
craniencefálico, incluindo a utilização de drogas, álcool e
outras substâncias intoxicantes bem como outras lesões
associadas. Não deixe passar despercebido o trauma
craniencefálico grave porque o doente também se encontra
intoxicado. O estado pós ictal que se segue a uma convulsão
traumática tipicamente piora a resposta do doente por minutos
ou horas. No doente comatoso, a resposta motora pode ser
produzida pinçando o músculo trapézio, pressionando o leito
ungueal ou a região supraorbitária. Quando o doente
apresenta diferentes repostas a estimulação, a melhor resposta
motora e indicador prognóstico mais acurado do que a pior
resposta motora O teste dos movimentos dos olhos de boneca
(oculocefálico), 0 teste calórico com água gelada
(oculovestibular) e 0 teste das respostas da córnea são adiados
para um neurocirurgião. O teste dos olhos de boneca nunca
deve ser tentado antes de excluir lesão da coluna cervical. É
importante obter o escore na GCS e realizar O exame das
pupilas antes de administrar sedativos ou relaxantes
musculares pois é importante determinar a condição clínica
do doente para decidir sobre o tratamento subsequente. Não
se deve utilizar relaxantes musculares de longa duração e
sedativos durante a avaliação primária. A sedação deve ser
evitada, exceto quando o estado de agitação do doente pode
colocá-lo em risco. Os agentes de curta duração disponíveis
são recomendados quando paralisia farmacológica ou
sedação breve forem necessários para intubação endotraqueal
segura, ou para a obtenção de resultados diagnósticos com
boa qualidade. Quando o doente requerer intubação devido a
comprometimento da via aérea, realize e registre uma breve
avaliação neurológica antes de administrar qualquer sedativo
ou relaxante muscular.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
ANESTÉSICOS, ANALGÉSICOS E SEDATIVOS
Anestésicos, analgésicos e sedativos devem ser usados
criteriosamente em doentes com lesão cerebral confirmada ou
suspeita. O uso excessivo desses agentes pode causar um
atraso no reconhecimento da progressão de uma lesão
cerebral grave, prejudicar a respiração ou resultar em
tratamento desnecessário (p. ex., intubação endotraqueal).
Em vez disso, use agentes de curta duração e facilmente
reversíveis na dose mais baixa necessária para efetivar o
alívio da dor e a sedação leve. Baixas doses de narcóticos
intravenosos podem ser administradas para analgesia e
revertidas com naloxona, se necessário. Benzodiazapinas IV
de ação curta, como midazolam (Midazolam), podem ser
usadas para sedação e revertidas com flumazenil.
AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA
Realize avaliações seriadas (observe o escore na GCS, sinais
de lateralização e reação pupilar) para detectar a deterioração
neurológica o quanto antes. O sinal precoce bem conhecido
de herniação do lobo temporal (uncus) é a dilatação da pupila
e perda de sua resposta à luz. o trauma direto do olho também
é causa potencial de resposta pupilar anormal e pode
dificultar a avaliação pupilar. Entretanto, dentro de um
cenário de trauma craniencefálico, deve-se considerar em
primeiro lugar a lesão cerebral. Uma avaliação neurológica
completa é realizada durante a avaliação secundária.
Para doentes com lesão cerebral traumática moderada ou
grave, deve-se obter uma TC de crânio o mais rápido possível
após a normalização hemodinamica. A TC também deve ser
repetida sempre que houver uma alteração no estado clínico
do doente e rotineiramente dentro de 24 horas após a lesão
para doentes com contusões intraparenquimatosas
subfrontais/temporais, doentes que recebem terapia
anticoagulante, doentes com mais de 65 anos e doentes com
hemorragia intracraniana com um volume >10ml. Achados
significativos da TC incluem inchaço no couro cabeludo e
hematomas subgaleais na região do impacto. As fraturas do
crânio podem ser melhor visualizadas nas janelas ósseas, mas
geralmente são aparentes mesmo nas janelas de tecidos
moles. Os achados cruciais na TC são hematoma
intracraniano, contusões e desvio da linha média. (efeito de
massa) e obliteração das cisternas da base. Um desvio de 5
mm ou mais é frequentemente indicativo de necessidade de
cirurgia para evacuar o coágulo ou contusão causadores do
desvio.
O objetivo principal dos protocolos de cuidados intensivos é
prevenir a lesão secundária em um cérebro já lesado. O
princípio básico é que, se ao tecido nervoso lesado for
oferecido um ambiente ótimo para a recuperação, esta pode
ser alcançada e o neurônio pode recuperar sua função normal.
O tratamento clínico do trauma craniencefálico inclui
líquidos intravenosos, correção da anticoagulação,
hiperventilação temporária, manitol. solução salina
hipertônica, barbitúricos e anticonvulsivantes.
LÍQUIDOS INTRAVENOSOS
Os líquidos intravenosos, sangue e produtos de sangue devem
ser administrados conforme a necessidade, para reanimar o
doente e para manter a normovolemia. A hipovolemia nesses
doentes é prejudicial. Também deve-se tomar o cuidado de
não sobrecarregar o doente com líquidos, e evitar o uso de
fluidos hipotônicos. Além disso, o uso de soluções que
contêm glicose pode produzir hiperglicemia, que se mostrou
prejudicial ao cérebro lesado. Portanto,para a reanimação,
recomenda-se o uso de solução salina isotônica ou de Ringer
lactato. Os níveis séticos de sódio devem ser monitorados
cuidadosamente em doentes com trauma craniencefálico. A
hiponatreroia está associada ao edema cerebral e deve ser
prevenida.
CORREÇÃO DA ANTICOAGULAÇÃO
Tenha cuidado ao avaliar e tratar doentes com TCE que
estejam recebendo anticoagulação ou terapia antiplaquetária.
Após a obtenção da razão normalizada internacional (lNR),
deve-se obter prontamente uma TC desses doentes, quando
indicado. Geralmente é necessária uma rápida normalização
da anticoagulação.
HIPERVENTILAÇÃO
A normocapnia é preferida na maioria dos doentes. A
hiperventilação age reduzindo a PaCO2 e produzindo
vasoconstrição cerebral. A hiperventilação agressiva e
prolongada pode resultar em isquemia cerebral no cérebro já
lesionado, causando vasoconstrição cerebral no cérebro é
portanto, prejuízo na perfusão cerebral. Esse risco é
particularmente verdadeiro quando se permite que a PaCO2
caia abaixo de 30 mmHg (4.0 kPa). A hipercapnia (PCO2_ >
45 mmHg) promoverá vasodilatação e aumentará a pressão
intracraniana devendo, portanto, ser evitada.
A hiperventilação profilática (pCO2 < 25 mmHg} não é
recomendada (IIB}.
Use a hiperventilação apenas com moderação e pelo período
mais limitado possível. Em geral é preferível manter a PaCO2
em aproximadamente 35 mmHg (4,7 kPa), o limite inferior
do intervalo de normalidade (35 a 45 mmHg). Curtos
períodos de hiperventilação (PaCO2 de 25 a 30 mmHg [3,3 a
4, 7 k.Pa] l podem ser necessários para tratar o défice
neurológico agudo, enquanto outras medidas terapêuticas são
iniciadas. A hiperventilação reduz a PIC em doentes que estão
deteriorando com hematoma intracraniano em expansão até
que a craniotomia de emergência seja realizada.
MANITOL
O manitol é usado para reduzir a pressão intracraniana
elevada. Utiliza-se, habitualmente, uma solução a 20% (20g
de manitol por 100 mL de solução). O manitol não deve ser
administrado a doentes hipotensos porque não abaixa a PIC
em situação de hipovolemia, além de ser um diurético
osmótico potente. Isso pode exacerbar a hipotensão e a
isquemia cerebral. A deterioração neurológica aguda - como
quando um doente em observação desenvolve uma pupila
dilatada, tem hemiparesia ou perde a consciência · é urna forte
indicação para a administração de manitol em um doente
normovolêmico. Nessas condições, o manitol (1 g/kg) deve
ser rapidamente (por 5 minutos) administrado em bolus e o
doente deve ser transportado imediatamente para a realização
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
de TC ou diretamente para a sala de cirurgia no caso da lesão
causadora já ter sido identificada. Se não houver
disponibilidade de serviço cirúrgico, transferir o doente para
o tratamento definitivo.
Use 0,25-1 g/kg para controlar a PIC elevada; hipotensão
arterial (pressão arterial sistólica < 90 mmHg) deve ser
evitada.
SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA
A solução salina hipertônica também é usada para reduzir a
PIC elevada, em uma concentração de 3 a 23.4%. A solução
salina hipertônica pode ser o agente preferido para doentes
hipotensos já que não age como diurético. Entretanto, não
existe diferença entre o manitol e a solução salina hipertônica
em relação à redução da PIC, e nenhuma das duas diminui
adequadamente a PIC em doentes hipovolêmicos.
BARBITÚRICOS
Os barbitúricos são efetivos na redução da pressão
intracraniana refratária a outras medidas, embora não devam
ser usadas na presença de hipotensão ou hipovolemia. Além
disso, o uso de barbitúricos frequentemente produz
hipotensão, portanto não estão indicados na fase aguda da
reanimação. A meia vida longa da maioria dos barbitúricos
também prolonga o tempo para a determinação da morte
encefálica, uma consideração importante em doentes com
lesões devastadoras e provavelmente incompatíveis com a
vida.
Os barbitúricos não são recomendados para induzir supressão
de crises medidas pelo EEG para prevenir o desenvolvimento
de hipertensão intracraniana. H A administração de altas
doses de barbitúrico é recomendada para controlar a PIC
elevada refratária ao tratamento clínico e cirúrgico padrão. A
normalidade hemodinâmica é essencial antes e durante a
terapia com barbitúricos (IIB}."
ANTICONVULSIVANTES
A epilepsia pós-traumática ocorre em cerca de 5% de todos
os doentes admitidos no hospital com trauma craniencefálico
fechados e em 15% daqueles com trauma craniencefálico
grave. Os três fatores principais ligados à alta incidência de
epilepsia tardia são as convulsões que ocorrem durante a
primeira semana, o hematoma intracraniano e a fratura com
afundamento de crânio. As convulsões agudas podem ser
controladas com anticonvulsivantes, porém o uso precoce de
anticonvulsivantes não muda a evolução das convulsões pós-
traumáticas de longo prazo. Os anticonvulsivantes também
podem inibir a recuperação do cérebro, portanto eles só
devem ser usados quando absolutamente necessários.
Atualmente, fenitoína (Hidantal) e fosfenitoína são os agentes
habitualmente empregados na fase aguda. Para adultos, a dose
habitual empregada de 1 g de fenitoína por via intravenosa
administrada a não mais que 50 mg/min. A dose de
manutenção usual é de 100 mg/8horas, com a dose titulada
para atingir os níveis séricos terapeuticos. O Diazepam ou
lorazeparn são frequentemente usados além da fenitoína em
doentes com convulsões prolongadas, até a parada da
convulsão. O controle de convulsões contínuas pode exigir
anestesia geral. É imperativo que a convulsão seja controlada
tão logo que possível porque convulsões prolongadas (30 a
60 minutos) provavelmente causam lesão cerebral
secundária.
O uso profilático de fenitoína (HidantalJ ou valproato
(Depakene} não é recomendado para prevenir crises pós-
traumáticas tardias. Recomenda-se a fenitoína para diminuir
a incidência de crises póstraumáticas precoces (dentro de 7
dias após a lesão}, quando se considera que o benefício geral
supera as complicações associadas a esse tratamento. No
entanto, crises pós-traumáticas precoces não foram
associadas a piores resultados (IIAJ.
O reconhecimento de Morte Encefálica (ME) é um
procedimento realizado quase que diariamente em hospitais
gerais, sobretudo em unidades de terapia intensiva. O
diagnóstico deve ser inquestionável, uma vez que envolve
aspectos emocionais, por parte de familiares do paciente, e
questões éticas e médicolegais.
Recentemente, através da resolução 2.173/17, o CFM
atualizou critérios para o diagnóstico de ME. Vamos
estudálos adiante. Devemos iniciar os procedimentos para
a determinação de ME em todos os pacientes que
apresentam coma não perceptivo, ausência de reatividade
supraespinhal e apneia persistente, e que atendam a todos
os pré-requisitos abaixo:
1. Presença de lesão cerebral conhecida, irreversível e capaz
de ocasionar morte encefálica;
2. Ausência de condições tratáveis que possam confundir o
diagnóstico de ME;
3. Tratamento e observação em ambiente intra-hospitalar pelo
período mínimo de seis horas. Em casos de encefalopatia
hipóxico-isquêmica, esse período deverá ser, no mínimo, de
24 horas; e
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
4. Presença dos seguintes parâmetros: temperatura corporal >
35°C (ou seja, não pode haver hipotermia), SaO2 > 94% e PA
sistólica ≥ 100 mmHg ou PAM ≥ 65 mmHg, para adultos.
Para menores de 16 anos, os níveis de PA sistólica e PAM
exigidos são descritos na tabela.
A realização mínima de dois exames clínicos, com intervalos
predeterminados, é obrigatória. Cada exame tem de ser feito
por médicos diferentes e capacitados, indicados pela direção
técnica do hospital; estes profissionais não devem fazer parte
da equipe de remoção ou de transplante de órgãos.Os
médicos ditos capacitados devem cumprir os seguintes
prérequisitos: mínimo de um ano de experiência no
atendimento de pacientes comatosos e que tenham
acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de
ME ou tenham feito curso de capacitação para esse fim. Muita
atenção: um dos médicos deve ser especialista em uma das
seguintes áreas: medicina intensiva clínica ou pediátrica,
neurologia clínica ou pediátrica, neurocirurgia ou medicina
de emergência.
Os dois exames clínicos recomendados devem identificar, de
forma inequívoca, os seguintes achados: coma não
perceptivo, ausência de reatividade supraespinhal
manifestada por ausência dos reflexos fotomotor,
córneopalpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse.
O Teste de Apneia (TA) deve ser realizado apenas uma única
vez por um dos médicos responsáveis pelo exame clínico,
devendo comprovar ausência de movimentos respiratórios na
presença de hipercapnia (PaCO2 > 55 mmHg). É feito da
seguinte forma: ventilamos o paciente com O2 a 100%
durante dez minutos; este, em seguida, é desconectado do
respirador mecânico e lhe é instalado cateter traqueal de O2 a
um fluxo de 6 litros/minuto. A administração de oxigênio é
mandatória, uma vez que a desconexão do respirador leva à
profunda hipoxemia somada à instabilidade hemodinâmica.
A ausência de movimentos respiratórios por dez minutos ou
até quando a PaCO2 > 55 mmHg nos indica um teste positivo,
ou seja, não há integridade da região ponto-bulbar.
O exame complementar deve comprovar uma das
seguintes condições:
1. Ausência de perfusão sanguínea encefálica: angiografia
cerebral; angiorressonância; angio-TC; cintilografia
radioisotópica; Doppler transcraniano; monitorização da PIC;
TC com xenônio; SPECT cerebral;
2. Ausência de atividade metabólica encefálica: tomografia
por emissão de pósitrons (PET-TC) e extração cerebral de O2.
3. Ausência de atividade elétrica cerebral:
Eletroencefalograma (EEG).
A escolha do exame complementar deve levar em conta a
situação clínica do paciente e disponibilidades locais. De
acordo com o CFM, o laudo deverá ser elaborado e assinado
por médico especialista no método em situações de ME.
Pneumotórax se refere ao acúmulo de ar no espaço pleural.
Normalmente, a pressão dentro do espaço pleural é
ligeiramente subatmosférica. No entanto, quando algo maior
que uma quantidade muito pequena de ar se acumula dentro
do espaço pleural, a pressão dentro dele se torna positiva e
existe uma compressão do pulmão subjacente.
O pneumotórax é frequentemente associado a um trauma
contuso ou penetrante. No trauma penetrante, o ar pode vazar
para o espaço pleural através da parede torácica ou do pulmão
danificado. Os pacientes com doença pulmonar subjacente,
submetidos à ventilação mecânica, podem desenvolver
agudamente um pneumotórax quando a pressão elevada
rompe o tecido pulmonar, levando assim a um vazamento.
O pneumotórax também pode ocorrer espontaneamente ou
secundário a uma doença pulmonar subjacente. Tipicamente,
o pneumotórax espontâneo ocorre em homens altos, jovens e
magros, supostamente como resultado de bolhas apicais
preexistentes. As doenças associadas ao pneumotórax
incluem enfisema, fibrose cística, inflamação granulomatosa,
pneumonia necrotizante, fibrose pulmonar, doença
granulomatosa eosinofílica, sarcoidose e endometriose.
Os sintomas geralmente incluem falta de ar aguda e dor
torácica intensa. O exame físico é caracterizado por
taquicardia, murmúrios vesiculares reduzidos, frêmito
toracovocal reduzido, atrito pleural, enfisema subcutâneo,
hipertimpanismo à percussão e um desvio da traqueia na
direção do hemitórax não envolvido.
O ar dentro do espaço pleural separa a pleura visceral da
parietal e aparece como uma área de lucência na radiografia
do tórax. Em um pneumotórax pequeno, a lucência é mais
bem apreciada no ápice do pulmão quando o paciente está na
posição vertical. A radiografia em expiração é
particularmente útil para diagnosticar um pneumotórax
pequeno. Durante a expiração, a densidade do pulmão
aumenta por causa da redução no volume, destacando assim
a diferença entre o gás pleural e o parênquima pulmonar.
Quando uma radiografia torácica portátil é obtida com o
paciente na posição supina, por exemplo na UTI, a área
lucente pode ser mais perceptível na parte inferior da caixa
torácica (sinal do sulco superior).
Um pneumotórax hipertensivo é definido como um
pneumotórax associado ao desvio do mediastino e ao
comprometimento hemodinâmico, geralmente porque a
pressão intratorácica elevada comprime a veia cava e o átrio.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
Isso resulta em extravazamento constante do ar para o espaço
pleural.
Os pneumotórax espontâneos primários geralmente são
devidos à ruptura de bolhas pleurais apicais, que são
pequenos espaços císticos localizados dentro ou
imediatamente sob a pleura visceral. Os pneumotórax
espontâneos primários ocorrem quase exclusivamente nos
fumantes e isto sugere que estes pacientes tenham doença
pulmonar subclínica. Cerca de 50% dos pacientes com seu
primeiro pneumotórax espontâneo primário apresentam
recidivas. O tratamento inicial recomendado para o
pneumotórax espontâneo primário é aspiração simples. Se o
pulmão não expandir com a aspiração ou se o paciente tiver
pneumotórax recidivante, deve-se recomendar toracoscopia
com grampeamento das paredes das bolhas e abrasão pleural.
A toracoscopia ou a toracotomia com abrasão pleural
consegue evitar recidivas em quase 100% dos casos.
A maioria dos pneumotórax secundários está associada à
doença pulmonar obstrutiva crônica, mas quase todas as
doenças pulmonares podem causar pneumotórax. Os
pneumotórax dos pacientes com doença pulmonar são mais
perigosos que nos indivíduos normais, tendo em vista a
diminuição de reserva pulmonar nestes pacientes. Quase
todos os pacientes com pneumotórax secundário devem ser
tratados por toracostomia e inserção de tubo. A maioria
também deve ser tratada com toracoscopia ou toracotomia e
grampeamento das paredes das bolhas e abrasão pleural. Se o
paciente não tiver condições favoráveis à intervenção
cirúrgica ou recusar o procedimento, então a pleurodese deve
ser tentada por injeção intrapleural de um agente esclerosante
como a doxiciclina.
Os pneumotórax traumáticos podem ser causados por
traumatismo torácico fechado ou perfurante. Os pneumotórax
traumáticos devem ser tratados com toracostomia e inserção
de tubo, a menos que sejam muito pequenos. Se houver
hemopneumotórax, um tubo torácico deve ser colocado na
parte superior do hemitórax para drenar o ar e outro na parte
inferior para remover o sangue. O pneumotórax iatrogênico é
um tipo de pneumotórax traumático cuja frequência tem
aumentado. As causas principais são aspirações
transtorácicas por agulha, toracocentese e inserção de
cateteres intravenosos centrais. A maioria pode ser tratada
com oxigênio suplementar ou aspiração, mas se estas medidas
forem infrutíferas, deve-se realizar toracostomia com
inserção de tubo.
Em geral, esse tipo de pneumotórax está associado à
respiração artificial ou às tentativas de reanimação. A pressão
pleural positiva coloca a vida do paciente em risco, porque a
ventilação fica gravemente comprometida e a pressão
positiva é transmitida ao mediastino, resultando na redução
do retorno venoso ao coração e na diminuição do débito
cardíaco. A dificuldade de ventilar o paciente durante a
reanimação ou as pressões inspiratórias de pico elevadas
durante a respiração artificial são muito sugestivas desse
diagnóstico. O diagnóstico é confirmado pelo exame físico,
que demonstra ampliação do hemitórax sem murmúrio
vesicular, hipertimpanismo à percussão e desvio do
mediastino para o lado oposto. O pneumotórax de tensão deve
ser tratadocomo emergência médica. Se a pressão no espaço
pleural não for reduzida, o paciente provavelmente morrerá
em razão da redução do débito cardíaco ou da hipoxemia
grave. Uma agulha calibrosa deve ser introduzida dentro do
espaço pleural no segundo espaço intercostal anterior. Se
grandes quantidades de ar saírem pela agulha de pois da
inserção, o diagnóstico fica confirmado. A agulha deve ser
mantida até que seja possível colocar um tubo de
toracostomia.
O pneumotórax hipertensivo ocorre quando háa formação de
um mecanismo "valvulado unidirecional" de escape de ar do
pulmão para o espaço pleural. O ar entra para a cavidade
pleural sem possibilidade de sair, colapsando completamente
o pulmão. O mediastino é deslocado para o lado oposto,
diminuindo o retomo venoso e comprimindo o pulmão
contralateral. O choque decorrente desta situação é
consequente à acentuada diminuição do retomo venoso
determinando uma queda do débito cardíaco, e é denominado
de choque obstrutivo.
A causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é a
ventilação mecânica com pressão positiva em doentes com
lesão da pleura visceral. No entanto, o pneumotórax
hipertensivo pode representar a complicação de um
pneumotórax simples devido a um trauma penetrante ou
contuso do tórax no qual não ocorreu o fechamento da lesão
do parênquima pulmonar ou após tentativas mal direcionadas
de inserção de cateter venoso central, seja por via subclávia
ou jugular interna. Ocasionalmente, o pneumotórax
hipertensivo pode resultar de lesões traumáticas da parede
torácica seja porque a lesão constitui um mecanismo valvular
unidirecional, ou porque foi recoberta, incorretamente, por
um curativo oclusivo. O pneumotórax hipertensivo pode
também resultar de fraturas com grande desvio da coluna
torácica. O diagnóstico de pneumotórax hipertensivo é clinico
e resultado do acúmulo de ar sob pressão no espaço pleural.
O tratamento não deve ser adiado à espera de confirmação
radiológica. Doentes que estão respirando espontaneamente
frequentemente manifestam taquipneia e "sensação de fome-
de-ar" extremos, enquanto doentes ventilados mecanicamente
manifestam colapso hemodinâmico. O pneumotórax
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
hipertensivo é caracterizado por alguns ou todos os seguintes
sinais e sintomas:
• Dor torácica
• Sensação de "fome de ar"
• Dispneia importante
• Desconforto respiratório
• Taquicardia
• Hipotensão
• Desvio da traqueia para o lado contrário da lesão
• Ausência unilateral de murmúrio vesicular
• Elevação do hemitórax sem movimento respiratório
• Distensão das veias do pescoço
• Cianose, como manifestação tardia
Faça uma avaliação respiratória, conforme o descrito acima.
A presença de percussão hipersonora, desvio de traqueia
contra-lateral, distensão das veias do pescoço e ausência de
sons respiratórios (murmúrio vesicular) são sinais de
pneumotórax hipertensivo. A obtenção da saturação baixa da
hemoglobina pela oximetria de pulso deve estar presente no
pneumotórax hipertensivo. Quando o ultrassom estiver
disponível, o pneumotórax hipertensivo poderá ser
diagnosticado por intermédio de exame FAST (eFAST)
estendido.
O pneumotórax hipertensivo requer descompressão imediata
e pode ser tratado inicialmente inserindo-se rapidamente um
grande cateter sobre agulha no espaço pleural. Devido à
espessura variável da parede torácica, pode ocorrer
dificuldades técnicas com o cateter como torção e outras
complicações com a descompressão por punção e a
descompressão não ser bem sucedida. Neste caso, a
toracostomia digital pode ser uma alternativa.
Evidências recentes sugerem que uma agulha de 5 cm atinge
o espaço pleural > 50% das vezes. Enquanto que umaa agulha
de 8 cm atinge o espaço pleural >90% das vezes. Os estudos
também demonstraram que a colocação do cateter na parede
anterior do tórax tem eficácia média em 44% dos doentes.
Evidências recentes apoiam a colocação de um cateter sobre
agulha) grande, no quinto espaço, ligeiramente anterior à
linha medioaxilar. No entanto, mesmo com uma agulha de
tamanho apropriado o procedimento nem sempre será bem
sucedido. A descompressão com agulha bem sucedida,
converte º. pneumotórax hipertensivo em um pneumotórax
simples. No entanto, existe a possibilidade de subsequente
pneumotórax como resultado da manobra então a reavaliação
contínua do doente é necessário. Após a descompressão por
agulha ou digital é obrigatório a drenagem torácica em selo d,
água.
O pneumotórax aberto é provocado por grandes eventos da
parede torácica que permanecem abertos e são denominados
ferimentos torácicos aspirativos. Nestas condições, o
equilibro entre as pressões intratorácica e atmosférica é
imediato. O ar tende a passar pelo local de menor resistência,
por isto se abertura da parede torácica for de
aproximadamente dois terços do diâmetro da traqueia ou
maior, o ar passará preferencialmente pela lesão da parede a
cada inspiração. Por isso, a ventilação efetiva é prejudicada,
resultando em hipóxia e hipercapnia.
Geralmente, o pneumotórax aberto é diagnosticado e tratado
na cena do trauma pelo pessoal do pré-hospitalar. Os sinais e
sintomas clínicos são dor, dificuldade respiratória,
taquipneia, diminuição dos sons respiratórios e movimento
ruidoso do ar através da parede torácica do lado afetado.
Para o tratamento inicial de um pneumotórax aberto, feche
imediatamente o ferimento com um curativo estéril, grande o
suficientemente para sobrepor as bordas da ferida. Qualquer
curativo oclusivo (gaze vaselinada, lâmina de plástico, etc.)
pode ser usado como medida temporária de modo a permitir
que a avaliação prossiga rapidamente. O ferimento deve ser
coberto com segurança em apenas três lados para produzir um
efeito de válvula unidirecional.
Quando o doente inspira, o curativo ocluiu a ferida,
impedindo a entrada do ar. Na expiração, o lado que não está
fixado permite o escape de ar de dentro da cavidade pleural.
O vedamento de todas as quatro bordas do curativo pode fazer
com que o ar se acumule na cavidade torácica, resultando em
um pneumotórax hipertensivo, a menos que um dreno
torácico seja inserido. Assim que possível, um dreno de tórax
deve ser inserido longe do ferimento. Frequentemente o
doente necessitará da reconstrução cirúrgica da parede
torácica.
A conduta no pneumotórax varia de acordo com três aspectos:
etiologia, magnitude e condições clínicas do paciente.
• Pneumotórax espontâneo primário:
→ Condição clínica: paciente estável (oxigenação e sinais
vitais mantidos)
→ Magnitude: pneumotórax pequeno (< 3 cm)
Nestas circunstâncias, a conduta inicial é sempre
conservadora, com o uso de analgésicos e repouso relativo. O
paciente deve ser mantido no setor de emergência e, após
quatro a seis horas, reavaliado clínica e radiologicamente. Se
estável, o paciente pode ser dispensado para reavaliação no
dia seguinte, com orientação para retornar imediatamente a
qualquer mudança dos sintomas.
Existe sempre a possibilidade de alteração deste quadro com
a progressão do pneumotórax, principalmente durante as
primeiras horas dos sintomas. Por este motivo, não é exagero
manter a observação intra-hospitalar por 24 horas, com
reavaliação clínica e radiológica neste período. Confirmada a
estabilidade após as 24 horas iniciais, o paciente pode ser
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
acompanhado ambulatorialmente até a resolução completa do
pneumotórax, confirmada por radiografia de tórax.
→ Condição clínica: paciente estável
→ Magnitude: pneumotórax grande (> 3 cm)
Com o diagnóstico de pneumotórax de grande magnitude,
mesmo se clinicamente estável o paciente deve ser
hospitalizado por pelo menos 24 horas e deve ser realizado
algum procedimento invasivo que assegure a reexpansão doparênquima pulmonar colapsado.
Dentre os procedimentos indicados para esta situação
destacamos a possibilidade de uma simples aspiração do
pneumotórax como forma de tratamento inicial, com a
justificativa de tratar-se de procedimento simples, de baixa
morbidade e com índice de sucesso terapêutico comparável
com a drenagem torácica convencional. No caso de recidiva,
novas punções aspirativas podem ser realizadas até a
manutenção da expansibilidade completa do pulmão.
Outra forma de tratamento inicial é a drenagem torácica, com
o objetivo de manter a saída de ar secundária a uma eventual
fístula aérea, evitando punções aspirativas seriadas. Tratando-
se de drenagem de ar, não há necessidade de colocação de
drenos calibrosos. Recomendamos a utilização de drenos
finos (12F, tipo “pig tail"), que podem ser colocados na
intersecção do segundo espaço intercostal com a linha
hemiclavicular, ou na intersecção do quinto espaço com a
linha axilar anterior. Estes drenos podem ser conectados em
frasco com sêlo d'água ou válvula de drenagem unidirecional,
tipo Heimlich.
A reexpansão do pulmão deve ser assegurada. Caso isto não
ocorra após a drenagem, a aspiração contínua controlada
(com pressão negativa de até 20 cm de água) pode ser
necessária, juntamente com a fisioterapia respiratória.
Pacientes com grandes colapsos pulmonares com mais de 72
horas de evolução podem apresentar edema de reexpansão
pulmonar após o procedimento de drenagem. O edema de
reexpansão é uma complicação que, conforme a intensidade,
acaba por tornar-se um problema de grande gravidade,
implicando em insuficiência respiratória, instabilidade
hemodinâmica, e até óbito. Para tanto, recomendamos
monitorar cuidadosamente os pacientes com pneumotórax e
história clínica de duração maior que 48 horas, pelo risco
potencial de edema pulmonar de reexpansão pós-drenagem.
Na suspeita de edema de reexpansão, a assistência numa
unidade de terapia intensiva é fundamental.
→ Condição clínica: Paciente instável (oxigenação e sinais
vitais alterados)
→ Magnitude: pneumotórax < 3 cm ou > 3 cm
Estes pacientes devem ser tratados da mesma maneira que o
paciente com pneumotórax grande, com a ressalva de que o
procedimento deve ser feito com urgência para a
descompressão imediata do pneumotórax e reversão da
instabilidade clínica. Na impossibilidade de uma drenagem
torácica imediata, seja por falta de material adequado ou de
profissional capacitado, uma punção simples com cateter fino
no segundo espaço intercostal é suficiente para uma
descompressão que reverta a gravidade da situação, até a
espera da realização do procedimento de drenagem definitiva.
Toracoscopia no primeiro episódio de pneumotórax
espontâneo primário
Embora não aceita de forma consensual, a toracoscopia pode
ser indicada a partir do quarto dia de fístula aérea persistente.
O pulmão que não expande, a despeito da drenagem torácica
e aspiração contínua, normalmente apresenta algum grau de
encarceramento devido a organização do processo
inflamatório do espaço pleural. A toracoscopia nestes casos
pode não ser suficiente e uma toracotomia muitas vezes é
realizada para um descolamento (decorticação) suficiente
para a total expansão pulmonar.
Nos pacientes pneumectomizados não é possível a anestesia
com intubação por sonda de duplo lúmen, e a toracoscopia
fica mais difícil de ser realizada. Se o procedimento de
pleurodese simples não for suficiente, a toracotomia deverá
ser a alternativa para a abordagem do pulmão.
Perda sanguínea significativa pode estar presente na cavidade
abdominal sem mudanças dramáticas na aparência externa ou
volume do abdome e sem sinais óbvios de irritação peritoneal.
Qualquer paciente submetido a lesões no tronco por
golpes diretos, desaceleração, explosão ou penetrações
devem ser considerados como portadores de lesões
viscerais, vasculares ou pélvicas até que se prove o
contrário.
Trauma Contuso
O impacto direto, como o contato com o volante, guidão de
bicicleta ou motocicleta ou com a intrusão da porta em uma
colisão de veículos pode causar compressão ou
esmagamento de vísceras abdominopélvicas e da
estrutura óssea da pelve. Tais forças deformam órgãos
sólidos e vísceras ocas podendo causar sua ruptura,
acarretando hemorragia secundária, contaminação pelo
conteúdo intestinal e, consequentemente, peritonite.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
O cisalhamento é urna forma de lesão por esmagamento que
pode ocorrer quando um dispositivo de segurança de
restrição é usado de forma inadequada. Pacientes
traumatizados por acidentes automobilísticos e por queda de
altura são submetidos a lesões por desaceleração, nos quais
há um movimento diferente das porções fixas e móveis do
corpo. Exemplos desse tipo de lesão inclui as lacerações do
fígado e do baço, ambos órgãos móveis que se encontram
fixos em seus sítios por ligamentos. Lesões extensas do
mesentério do intestino delgado também são exemplos de
lesão por desaceleração.
Em pacientes vítimas de trauma fechado, os órgãos mais
frequentemente acometidos são o baço (40-55%), o fígado
(35-45%) e o intestino delgado (5-10%). Além disso,
observa-se também urna incidência de 15% de hematoma
retroperitoneal nos pacientes com trauma abdominal
submetidos à laparotomia. Embora os dispositivos de
contenção previnam ferimentos mais graves, eles podem
acarretar padrões específicos de lesões, como demonstrado.
O acionamento do airbag não impede lesão abdominal.
Trauma Penetrante
Ferimentos por arma branca e projéteis de baixa
velocidade causam danos aos tecidos por corte e
laceração. Ferimentos por projéteis de alta velocidade
transferem mais energia cinética causando aumento do
dano ao redor do trajeto do projétil devido à cavitação
temporária.
Ferimentos por arma branca atravessam as estruturas
abdominais adjacentes e mais frequentemente envolvem o
fígado (40%), o intestino delgado (30%), o diafragma
120%) e o cólon (15%).
Ferimentos por arma de fogo podem causar lesões intra-
abdominais adicionais em decorrência de sua trajetória, do
efeito de cavitação e da possível fragmentação do projétil.
Os ferimentos por arma de fogo frequentemente acometem
mais o intestino delgado (50%), o cólon (40%), o fígado
(30%) e as estruturas vasculares abdominais (25%). As lesões
decorrentes de arma tipo escopeta ou espingarda dependem
do tipo de munição utilizada e da distância entre a arma e o
doente.
Trauma Por Explosão
Ferimentos por arma de fogo podem causar lesões intra-
abdominais adicionais em decorrência de sua trajetória,
do efeito de cavitação e da possível fragmentação do
projétil. Os ferimentos por arma de fogo frequentemente
acometem mais o intestino delgado (50%), o cólon (40%} o
fígado (30%) e as estruturas vasculares abdominais (25%).
O tipo de arma, o formato do cano e o tipo de munição são
determinantes do grau de lesão tecidual. As lesões
decorrentes de arma do tipo escopeta ou espingarda
dependem também da distância entre a arma e o paciente.
O médico assistente deve considerar a possibilidade de
mecanismos combinados, como penetrante e contuso, nesses
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
pacientes. Pacientes próximos à fonte da explosão podem
apresentar lesões nas membranas timpânicas, pulmões e
lesões de vísceras ocas relacionadas a onda de pressão de
choque. Essas lesões podem ter apresentações clínicas
tardias. A possibilidade de haver um ferimento decorrente
dessa sobrepressão não deve atrapalhar o médico na sua
abordagem sistemática, que tem por objetivo a correta
identificação e tratamento dos ferimentos mais comuns
decorrentes dos traumas fechados e penetrantes.
Em pacientes hipotensos, o objetivo é determinar
rapidamente e se existem lesões abdominaisou pélvicas e
se esta é a causa da hipotensão. A história do paciente e
exame físico, associados a métodos diagnósticos rápidos e
disponíveis pode confirmar a presença de lesões abdominais
e pélvicas que requerem o controle urgente da hemorragia.
Pacientes hemodinamicamente normais sem sinais de
peritonite podem passar por uma avaliação mais detalhada
com o intuito de determinar se existem lesões específicas e
que podem causar morbidade e mortalidade tardia. Essas
avaliações devem incluir exames clínicos repetidos para
determinar se os sinais de sangramento ou peritonite
aparecem ao longo do tempo.
História
Ao avaliar pacientes vítimas de colisões automobilísticas é
importante obter informações sobre a velocidade do
veículo, o tipo de colisão (por exemplo: capotamento,
impacto frontal, lateral ou traseiro), a intrusão de partes
do veículo no compartimento de passageiros, os tipos de
dispositivo de contenção, o acionamento dos airbags, a
posição do paciente no veículo e status dos outros
ocupantes. No caso de quedas, é importante determinar a
altura da queda devido ao potencial de lesão relacionada
à desaceleração em grandes alturas. Tais informações
podem ser fornecidas pelo paciente, por outros passageiros,
pela polícia ou por integrantes da equipe de atendimento pré-
hospitalar. Informações sobre sinais vitais, lesões aparentes e
resposta ao tratamento pré-hospitalar também devem ser
fornecidas pelos prestadores de cuidado pré-hospitalares.
Ao avaliar um paciente vítima de trauma penetrante, devem
ser obtidas informações relacionadas ao tempo da lesão, ao
tipo de arma {faca, revólver, rifle ou escopeta), a distância
do agressor (importante, particularmente, em ferimentos
por escopetas, pois a probabilidade de lesões viscerais
graves diminui quando a distância é maior que 3 m), ao
número de facadas ou tiros que o paciente recebeu e
também quanto ao volume de sangue perdido pela vítima
na cena da agressão. Se possível, deve-se obter informações
do paciente sobre a localização e a intensidade de qualquer
dor abdominal.
Quando os ferimentos são causados por um dispositivo
explosivo, a probabilidade de lesões viscerais por onda de alta
pressão aumenta com a proximidade do doente da explosão e
diminui com o aumento dessa distância.
Exame Físico
O exame físico abdominal é conduzido numa sequência
sistemática: inspeção, ausculta, percussão ,e palpação. Deve
ser seguida pelo exame da pelve e das nádegas, bem como da
uretra, períneo, e, quando indicados. exame retal e vaginal.
Os achados, sejam eles positivos ou negativos, devem ser
documentados cuidadosamente no prontuário do paciente.
Inspeção, Ausculta, Percussão e Palpação
Na maioria dos casos, o paciente deve estar completamente
despido, para permitir uma inspeção completa. O abdome
anterior e posterior, bem como a parte inferior do tórax e
períneo, devem ser inspecionados à procura de abrasões e
contusões pelos dispositivos de contenção (cinto de
segurança), de lacerações, de feridas penetrantes, de corpos
estranhos empalados, de evisceração de epíplo ou de intestino
delgado e se existe evidência de gravidez.
Inspecione o flanco, o escroto, a uretra e a área perineal. a
procura de sangue, de edemas e abrasões. Laceração do
períneo, da vagina, do reto ou nádegas, pode estar associada
a uma fratura pélvica aberta em pacientes com trauma
contuso. Dobras cutâneas em pacientes obesos podem
mascarar lesões penetrantes e aumentar a dificuldade de
avaliação do abdome e pelve. Para uma completa avaliação
do dorso, execute cuidadosamente urna manobra de
rolamento. Ao concluir um rápido exame físico, cubra o
paciente com cobertores aquecidos para ajudar a
prevenir hipotermia.
Embora a ausculta seja necessária, a presença ou a ausência
de ruídos hidroaéreos não se correlacionam
necessariamente com a presença efetiva de lesão, e a
capacidade de ouvir os ruídos hidroaéreos pode estar
comprometida em um ambiente ruidoso como a sala de
emergência.
A percussão causa um ligeiro movimento do peritônio e
pode evidenciar sinais de irritação peritoneal. Quando a
sensação positiva à descompressão estiver presente, não
procure provas adicionais de irritação, pois pode
provocar dor adicional desnecessária ao paciente.
A defesa abdominal voluntária por parte do paciente pode
fazer com que o exame abdominal seja pouco confiável. Por
outro lado, defesa involuntária é um sinal confiável de
irritação peritoneal. A palpação também pode revelar e
distinguir dor superficial (parede abdominal) ou
profunda. A presença de um útero gravídico, bem como a
estimativa da idade fetal, também podem ser
determinados.
Avaliação da Pelve
Como a hemorragia pélvica grave ocorre rapidamente o
diagnóstico deve ser realizado imediatamente para que o
tratamento adequado seja iniciado. Hipotensão inexplicável
pode ser inicialmente a única indicação de ruptura pélvica
grave. Instabilidade mecânica do anel pélvico deve ser
considerado em pacientes com fraturas pélvicas com
hipotensão e nenhuma outra fonte de sangramento. A
colocação de dispositivos que fechem o anel pélvico é uma
prioridade e pode ser salvadora nesta circunstância.
Achados de exame físico sugestivos de fratura pélvica
incluem a evidência de ruptura de uretra (próstata
deslocada cranialmente, hematoma escrota ou sangue no
meato uretral), de discrepância entre o comprimento dos
membros ou de uma deformidade rotacional da perna
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
sem fratura óbvia. Nesses doentes, a manipulação manual
da pelve pode ser prejudicial, uma vez que pode desalojar um
coágulo já formado, precipitando assim hemorragia adicional.
A palpação cuidadosa do anel pélvico, em busca de dor pode
fornecer informações úteis sobre a presença de fraturas
pélvicas. A manobra de distração (girar a pelve
internamente e em seguida externamente) da pelve não é
recomendada durante a avaliação precoce das lesões,
porque pode piorar ou gerar sangramento pélvico
recorrente.
A hemipelve instável migra cranialmente por causa das forças
musculares e apresenta uma rotação externa secundariamente
ao efeito da gravidade sobre a hemipelve instável. A rotação
externa da pelve instável resulta em um acréscimo
significativo do volume pélvico que pode acomodar
grandes volumes de sangue. O uso de cinta deve ser
centrado sobre os trocanteres maiores ao invés das cristas
ilíacas. A identificação de anormalidades neurológicas distais
ou feridas abertas no flanco, períneo, vagina ou reto podem
representar evidências de instabilidade do anel pélvico. Uma
radiografia anteroposterior (AP) da pelve é um
complemento útil para identificar uma fratura pélvica,
atendendo as limitações do exame clínico.
Exame Uretral, Perineal, Retal, Vaginal e Glúteo
A presença de sangue no meato uretral sugere fortemente uma
lesão uretral. A presença de equimose ou hematoma no
escroto ou no períneo durante a inspeção também é
sugestivo de lesão uretral, embora estes achados possam
estar ausentes precocemente. Em doentes que sofreram
trauma contuso, os objetivos do exame retal são avaliar o
tônus do esfíncter e a integridade da mucosa retal e identificar
quaisquer fraturas palpáveis da pelve. A palpação da
próstata não é um sinal confiável de lesão uretral. Nos
pacientes com ferimentos penetrantes, o exame retal é
utilizado para avaliar o tônus do esfíncter e buscar a
presença de sangue na luz do reto, o que pode iniciar uma
perfuração intestinal. Não realize cateterismo vesical em
um paciente com hematoma perineal ou sangue no meato
uretral, antes de uma avaliação definitiva de possível lesão
da uretra.
Fragmentos ósseos de fratura pélvica ou ferimentos
penetrantes, podem lacerar a vagina. Realize um exame
vaginal na presença de lesões suspeitas, comolacerações
perineais complexas, fratura pélvica ou lesão transfixante de
pelve por projétil de arma de fogo. Em mulheres
menstruadas, que não respondem ao comando verbal,
examine a vagina em busca de tampões deixados no local,
que podem ser foco tardio de sepse em traumatizados.
A região glútea se estende das cristas ilíacas até as pregas
glúteas. As lesões penetrantes nessa área estão associadas a
uma incidência de até 50% de lesões intra-abdominais
significativas, incluindo lesão do reto abaixo da reflexão
peritoneal. Esses ferimentos exigem uma busca por tais
lesões.
Sondas gástricas e urinárias são frequentemente inseridas
durante a fase de reanimação, à medida que os problemas com
a via aérea, ventilação e circulação são diagnosticados e
tratados.
Sondagem Gástrica e Vesical
Os objetivos terapêuticos de inserção de sondas gástricas no
início do processo de reanimação são aliviar uma possível
dilatação gástrica aguda e descomprimir o estômago antes
de realizar uma LPD (quando indicada). Sondas gástricas
podem reduzir a incidência de aspiração nesses casos; no
entanto, em um doente acordado com reflexo de vômito
presente, a sondagem pode provocar o vômito. A presença
de sangue no conteúdo gástrico sugere lesão no esôfago ou no
trato gastrointestinal superior, após a exclusão de quaisquer
sangramentos da nasofaringe e/ou da orofaringe. Na
presença de fraturas graves da face ou suspeita de fratura
de base de crânio, a sonda gástrica deve ser inserida pela
boca para impedir que atravesse a placa crivosa e penetre
no cérebro.
A sondagem vesical durante a reanimação vai aliviar
retenções, identificar sangramentos, monitorar o débito
urinário como índice de perfusão tissular e descomprimir
a bexiga antes da realização de LPD {quando indicado).
Uma bexiga cheia facilita a obtenção de imagens no FAST.
Portanto, se o FAST estiver indicado, retarde o cateterismo
vesical, até que o exame tenha sido concluído. Hematúria
macroscópica é um sinal de trauma do trato geniturinário,
incluindo rins, ureteres e bexiga. A ausência de hematúria não
exclui lesões do trato geniturinário. Na incapacidade de urinar
espontaneamente, na presença de fratura pélvica instável, de
sangue no meato uretra), hematoma escrotal ou equimose
perineal, a realização de uretrografia retrógrada é mandatória
para confirmar a integridade da uretra antes de inserir a sonda
vesical. A detecção de lesão uretral durante a avaliação
primária ou secundária pode necessitar da inserção de uma
sonda supra púbica por um médico experiente.
Outros Estudos
Com preparo e uma equipe organizada, a avaliação clínica
pode ser realizada rapidamente. Em doentes com alterações
hemodinâmicas, uma rápida exclusão de sangramentos
intra-abdominais é necessária e pode ser feito com LPD
ou FAST. A única contraindicação para a realização
desses exames é a indicação de laparotomia. Além disso,
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
doentes hemodinamicamente normais, com quaisquer dos
sinais descritos a seguir, requerem exames adicionais:
• Sensório rebaixado
• Sensibilidade alterada
• Lesões a estruturas adjacentes, como arcos costais
inferiores, pelve e coluna lombar
• Exame físico não confiável
• Perda prolongada de contato com o paciente como
anestesia geral para tratamento de lesões extra-
abdominais ou estudos radiológicos demorados
• Sinal do cinto de segurança com suspeita de lesão
intestinal
Quando uma lesão intra-abdominal é suspeitada, uma série de
exames pode fornecer informações úteis. Entretanto, quando
existirem indicações para transferência, a realização destes
exames, atrasando a transferência, não deve ocorrer, inclusive
tomografias resume as indicações, vantagens e desvantagens
do uso da LPD, FAST e TC na avaliação de traumas
abdominais contusos.
Radiografias no Trauma Abdominal
Uma radiografia AP do tórax é recomendada na avaliação
de pacientes com trauma fechado multissistêmico. Pacientes
hemodinamicamente instáveis com ferimentos
penetrantes do abdome não necessitam de triagem
radiográfica na sala de emergência. Se o paciente está
hemodinamicamente normal e tem um trauma penetrante
acima da cicatriz umbilical ou uma lesão
toracoabdominal suspeita, a realização de uma radiografia
de tórax em posição ortostática pode ser útil para excluirá
presença de hemotórax ou pneumotórax. Ou, ainda, para
documentar a presença de ar intraperitoneal. Em
pacientes hemodinamicamente normais, os orifícios de
entrada e saída podem ser marcados com materiais
metálicos, como clipes ou moedas, para que a radiografia do
abdome em posição supina seja obtida com o intuito de
determinar o trajeto do projétil ou a presença de ar
retroperitoneal. A obtenção de duas incidências (AP e
lateral) pode permitir a orientação espacial de corpos
estranhos. Uma radiografia AP pélvica pode ser útil no
estabelecimento da origem da perda de sangue em
pacientes com estado hemodinâmico instável e em
pacientes com dor pélvica. O paciente acordado, alerta e
sem dor, não necessita de uma radiografia pélvica.
Avaliação Ultrassonográfica Direcionada para o
Trauma
O objetivo principal do método é identificar líquido livre na
cavidade abdominal, que pode ser tanto sangue quanto
conteúdo extravasado de víscera oca. Quando realizado por
profissionais devidamente treinados, o FAST é uma
ferramenta considerada aceitável, rápida e executável
para a identificação de fluidos intraperitoneais. Tem a
vantagem de poder ser repetida e poder detectar
tamponamento cardíaco, uma das causas não hipovolêmicas
de hipotensão.
O FAST inclui o exame de quatro regiões: o saco
pericárdico, o espaço hepatorrenal (Espaço de
Morrisson), espaço esplenorrenal e a pelve ou o fundo de
saco de Douglas. Uma vez que o primeiro exame foi
realizado, uma segunda série de imagens pode ser obtida para
detectar hemoperitônio progressivo. O FAST pode ser
realizado à beira do leito, na sala de reanimação ou
simultaneamente a outros procedimentos diagnósticos ou
terapêuticos.
Lavado Peritoneal Diagnóstico
O LPD é outro exame rápido para identificar. Porque ele pode
alterar significativamente exames subsequentes do paciente,
a equipe cirúrgica que cuida do paciente deve executá-la.
Note que o LPD requer descompressão gástrica e urinária
para prevenção de complicações. Esta técnica é mais
comumente utilizada em pacientes que estão
hemodinamicamente instáveis com trauma abdominal
fechado ou em pacientes portadores de trauma penetrante
com múltiplas entradas ou aparente trajeto tangencial.
Finalmente, pacientes hemodinamicamente estáveis que
necessitam de avaliação abdominal por FAST e TC que
não estão disponíveis podem se beneficiar do uso do LPD.
Em locais onde o FAST e/ou TC estão disponíveis, o LPD
raramente é usado por ser invasivo e requerer habilidade
cirúrgica.
O LPD é realizado através de colocação de um cateter de
diálise peritoneal na cavidade do peritôneo, através de
pequena incisão infraumbilical, sob visão direta. As
técnicas fechadas de posicionamento do cateter (Seldinger)
também podem ser empregadas. Em gestantes e em pacientes
com fraturas pélvicas, o acesso deve ser realizado através de
incisão supraumbilical para evitarmos o útero gravídico e um
possível hematoma no retroperitôneo.
1. Vítimas de contusão abdominal, para as quais o
exame físico não é confiável devido a rebaixamento
do nível de consciência.
2. Circunstâncias em que o abdome pode ser uma das
possíveis fontes de hemorragia (pacientes
politraumatizados com contusão abdominal e
fraturas pélvicas).
3. Hipotensão ou choque no politrauma sem causa
aparente.
A contraindicação absoluta para a realização do LPD é a
presença de sinais ou sintomas que, por si só, já indiquem
laparotomia exploradora, como pneumoperitôneo,exame
físico confiável e compatível com peritonite e trauma
penetrante com evisceração. Contraindicações relativas
para a LPD incluem cirurgias abdominais prévias, obesidade
mórbida, cirrose avançada e coagulopatia preexistente. Tanto
a técnica aberta como a fechada (Seldinger), realizadas por
acesso infra umbilical, são aceitáveis nas mãos de médicos
treinados. Em pacientes com fraturas pélvicas a abordagem
supra umbilical aberta deve ser usada, para evitar invadir um
hematoma pélvico pré-peritoneal formado. Em pacientes com
gravidez avançada, uma abordagem aberta acima do fundo
uterino deve ser usada para evitar lesões no útero. A aspiração
de conteúdo gastrintestinal, de fibras vegetais ou de bile,
através do cateter indica laparotomia. A aspiração de 10 mL
ou mais de sangue em pacientes hemodinamicamente
anormais, requer laparotomia.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
Durante a aspiração inicial, o retorno de > 10 ml de sangue
é um sinal imediato de positividade, e frequentemente se
encontra presente em doentes chocados com hemorragia
abdominal. Caso isso não ocorra, devemos infundir 1.000
ml de solução de Ringer lactato aquecida (10 ml/kg na
criança). A compressão abdominal e a rotação lateral do
paciente facilitam a mistura da solução infundida com o
conteúdo intra-abdominal; em seguida, um mínimo de 200 ml
de líquido de retorno (efluente) deve ser obtido para o sucesso
do exame. O efluente é enviado ao laboratório para análise
bioquímica, com dosagem de amilase e fosfatase alcalina, e
contagem celular.
A presença de 100.000 hemácias/mm3 ou mais, 500
leucócitos/mm3 ou mais, amilase acima de 175 U/dl ou
pesquisa positiva para bile, bactérias ou fibras
alimentares torna o LPD positivo para lesão intra-
abdominal, estando indicada a laparotomia exploradora.
Em lesões em TTA, o LPD pode ser empregado em hospitais
que não dispõem de videolaparoscopia diagnóstica. Nesses
casos, uma contagem de hemácias no LPD de apenas 10.000
células/mm3 é considerada positiva. O LPD apresenta
sensibilidade de 98% para detecção de sangramento intra-
abdominal em pacientes hipotensos. No entanto, pode não
diagnosticar lacerações diafragmáticas,
Tomografia Computadorizada
A TC é um procedimento diagnóstico que requer o transporte
do paciente para o setor de radiologia (isto é, removendo o
paciente da sala de reanimação), administração de contrastes
endovenosos, e expondo o mesmo a radiação. A TC é um
procedimento demorado (embora menos demorado com
scanners de tomógrafos mais modernos) que deve ser
usado apenas em pacientes hemodinamicamente normais
em que não haja indicação inicial de uma laparotomia de
emergência. Não realize TC se atrasar a transferência de
um paciente para um centro de trauma
A TC fornece informações sobre a presença e a extensão de
lesões de órgãos específicos e pode identificar lesões de
órgãos retroperitoneais e pélvicos, que são difíceis de avaliar
com exame físico, FAST e LPD. As contraindicações
relativas para a realização da TC incluem a demora em se
obter um tomógrafo, a falta de colaboração de um paciente
que não pode ser sedado com segurança e alergia ao contraste.
A TC pode deixar de diagnosticar algumas alterações
gastrointestinais, diafragmáticas e pancreáticas. Na
ausência de lesões hepáticas ou esplênicas, a presença de
liquido livre na cavidade abdominal sugere lesão no trato
gastrointestinal e/ou no mesentério e muitos cirurgiões de
trauma acreditam que este fato seja uma indicação para
laparotomia precoce.
A TC de abdome está indicada somente nas vítimas estáveis
hemodinamicamente, com LPD ou FAST positivos; a TC
apresenta vantagens, como visualização adequada do
retroperitôneo, além de uma avaliação pormenorizada de
lesões de vísceras sólidas, com grande especificidade para o
envolvimento do fígado, baço e rim. Além disso, o exame
contrastado, com o estudo nas fases arterial e venosa portal, é
de suma importância para o diagnóstico e o detalhamento de
lesões vasculares destes órgãos. Sendo assim, a TC é o
principal exame para análise detalhada do traumatismo
abdominal.
Laparoscopia Diagnóstica ou Toracoscopia
A laparoscopia diagnóstica é um método aceitável para
avaliar pacientes hemodinamicamente normais, vítimas de
trauma penetrante com possibilidade de trajeto tangencial e
sem indicação de laparotomia. A laparoscopia é útil para
diagnosticar lesões diafragmáticas e penetração peritoneal. A
necessidade de anestesia geral limita seu uso.
Exames Contrastados
Uma série de exames contrastados pode ajudar no diagnóstico
na vigência de suspeita de lesões específicas, mas eles não
devem atrasar o tratamento de pacientes hemodinamicamente
anormais. Esses exames incluem:
• Uretrografia
• Cistografia
• Urografia excretora
• Estudo contrastado do tubo digestivo
A uretrografia deve ser realizada antes da inserção de
uma sonda vesical, quando houver suspeita de lesão de
uretra. O exame é realizado com uma sonda vesical
número 8 French fixada no meato uretral pelo balonete
inflado com 1,5 a 2 mL. Cerca de 30 a 35 mL de contraste m
diluição são instilados com uma leve pressão. Nos homens a
radiografia é obtida com uma projeção anteroposterior, com
um pequeno estiramento o pênis em direção a um dos ombros
do paciente. Um estudo adequado é capaz de mostrar o
refluxo de contraste para 0 interior da bexiga.
Uma cistografia ou uma cistografia por TC é método mais
eficaz para diagnosticar uma rotura intra ou mais eficaz
para diagnosticar uma rotura intra ou extra peritoneal da
bexiga. Um recipiente com 350 mL de contraste
hidrossolúvel é conectado à sonda vesical e elevada a cerca
de 40 cm acima do paciente. A solução é infundida na bexiga
até que o fluxo pare, que o paciente urine espontaneamente
ou que o paciente sinta desconforto. Isto é seguido pela
instilação de 50 ml adicionais de contraste para assegurar a
distensão da bexiga. Radiografias nas incidências AP antes
do contraste, distendida e pós-miccional são essenciais
para definitivamente excluir quaisquer lesões vesicais. A
avaliação da bexiga e da pelve pela TC (cistografia por TC) é
uma alternativa particularmente útil para fornecer
informações adicionais sobre os rins e os ossos pélvicos.
Suspeita de lesões do sistema urinário são avaliadas
melhor por TC com contraste. Se a TC não estiver
disponível a urografia excretora é uma alternativa. Uma
dose elevada e rápida de contraste é realizada com 200 mg
de iodo/Kg de peso corporal. A visualização radiográfica
dos cálices renais deverá aparecer 2 minutos após o término
da infusão do contraste. A não visualização unilateral indica
ausência de um dos rins, trombose, avulsão da artéria renal ou
comprometimento gravíssimo do parênquima renal. A não
visualização pode justificar uma avaliação radiológica
adicional.
Lesões isoladas de órgãos gastrointestinais retroperitoneais
(como por exemplo duodeno, cólon ascendente, cólon
descendente, reto, vias biliares e pâncreas) podem não causar
peritonites e não ser detectadas pelo LPD ou FAST. Quando
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
há suspeita de lesão em uma dessas estruturas, a realização de
uma TC com contraste ou exames contrastados específicos do
trato gastrointestinal alto e baixo e exames de imagens
biliopancreáticas também podem ser úteis. No entanto, esses
exames devem ser guiados pelo cirurgião que cuidará do
doente.
Uma avaliação cirúrgica é necessário para determinar o
tempo e a necessidade de laparotomia. As seguintes
indicações são comumente usadas para facilitar o processo de
tomada de decisão a este respeito:
• Trauma abdominal fechado, com hipotensão, com
FAST positivo ou evidência clínica de sangramento
intraperitoneal, ou sem outra fonte de hemorragia
• Hipotensão com feridaabdominal penetrante
• Ferimentos por projéteis de arma de fogo que
transfixam a cavidade peritoneal
• Evisceração
• Hemorragias do estômago, reto ou trato
geniturinário em traumas penetrantes
• Peritonite
• Pneumoperitôneo, ar retroperitoneal ou ruptura do
diafragma
• TC com contraste que demonstre ruptura do trato
gastrointestinal, lesão intraperitoneal da bexiga,
lesão de pedículo renal ou lesão parenquimatosa
visceral severa após traumatismo fechado ou
penetrante
• Trauma abdominal fechado ou penetrante com
aspiração de conteúdo gastrointestinal fibras
vegetais ~u bile no LPD, ou aspiração ' de 10 mL ou
mais de sangue em pacientes hemodinamicamente
instáveis.
O fígado, o baço e os rins são órgãos predominantemente
envolvidos em trauma abdominal fechado, embora a
incidência relativa de perfuração de víscera oca e as lesões de
coluna vertebral lombar aumentem com o uso inadequado do
cinto de segurança. o diagnóstico de lesões no diafragma,
duodeno, pâncreas, sistema geniturinário e intestino delgado
pode ser difícil. A maioria das lesões penetrantes são
diagnosticadas na laparotomia.
Lesões do Diafragma
Lacerações podem ocorrer em quaisquer porções das cúpulas
diafragmáticas, embora a hemicúpula esquerda seja mais
frequentemente comprometida. Uma lesão comum tem cerca
de 5 a 10 cm de extensão e envolve a região póstero-lateral
da hemicúpula diafragmática esquerda. As anormalidades
na radiografia de tórax inicial incluem elevação ou
"borramento" do hemidiafragma, hemotórax, uma
sombra gasosa anormal que obscurece o hemidiafragma
ou uma sonda gástrica posicionada acima da linha da
hemicúpula diafragmática. No entanto a radiografia de
tórax inicial pode ser normal num pequeno percentual de
pacientes. Suspeite deste diagnóstico para qualquer lesão
penetrante toracoabdominal e confirme com laparotomia,
toracoscopia ou laparoscopia.
Lesões Duodenais
A ruptura duodenal é encontrada classicamente em motoristas
sem cinto de segurança, envolvidos em colisão
automobilística com impacto frontal e pacientes submetidos
a golpes diretos sobre o abdome, como aqueles produzidos
por "guidão" de bicicleta. Um aspirado gástrico
hemorrágico ou a presença de ar retroperitoneal em uma
radiografia de abdome ou TC deve levantar a suspeita
desta lesão. Radiografias de abdome seriadas, TC com duplo
contraste ou laparotomia de urgência são indicados para
pacientes com alto risco.
Lesões Pancreáticas
Lesões pancreáticas geralmente resultam de um golpe
epigástrico direto que comprime o pâncreas contra a coluna
vertebral. Um nível inicial de amilase sérica normal não
exclui um trauma pancreático de maior magnitude. Por
outro lado, o nível de amilase pode ser elevado pode ser
lesões não pancreáticas. A TC de duplo contraste pode
não identificar lesões pancreáticas significativas no
período imediato pós-trauma (até 8 horas). Pode ser
repetido ou outras imagens de estudo pancreático realizada se
suspeitar destas lesões. Caso os achados de imagem sejam
inconclusivos, uma exploração cirúrgica do pâncreas é
recomendada.
Lesões Geniturinárias
Trauma no dorso ou nos flancos que resultam em
contusões, hematomas ou equimoses são marcadores de
possíveis lesões renais e exigem uma avaliação (TC ou
urografia excretora) do trato urinário. A hematúria
macroscópica já é um indicativo de avaliação por imagem
do trato urinário. Hematúria macroscópica e
microscópica em pacientes em choque são marcadores
para aumento do risco de lesões renais. Uma TC abdome
com contraste venoso pode documentar a presença e a
extensão de uma lesão renal contusa, que pode ser tratada de
forma não-operatória. A trombose da artéria renal e a ruptura
do pedículo renal por desaceleração são lesões raras nas quais
a hematúria pode estar ausente, embora o paciente possa ter
dor abdominal intensa. Urografia excretora, TC ou
arteriografia renal, podem ser úteis no diagnóstico de
ambas.
Uma fratura pélvica anterior geralmente está presente em
pacientes com lesão da uretra. As rupturas da uretra são
divididas em duas: acima (posterior) ou abaixo (anterior)
do diafragma urogenital. Uma lesão da uretra posterior
geralmente ocorre em pacientes com trauma multissistêmico
e fraturas pélvicas. Já a lesão uretra! anterior é resultado de
um trauma a cavaleiro e pode ser uma lesão isolada.
Lesões de Vísceras Ocas
As lesões contusas do intestino geralmente são resultantes
de desaceleração brusca que acarreta um esgarçamento
próximo a um ponto fixo de sustentação visceral,
principalmente quando o cinto de segurança foi usado de
maneira incorreta. Lesões intestinais devem ser
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
pesquisadas frente a equimoses lineares e transversas na
parede abdominal (sinal do cinto de segurança) ou uma
fratura lombar com desvio detectada na radiografia
(fratura de Chance). Embora alguns pacientes possam
apresentar dor abdominal precoce, o diagnóstico de lesão de
víscera oca pode ser difícil pois nem sempre está associada a
sangramento significativo.
Lesões de Órgãos Sólidos
Lesões do fígado, baço e rim, que resultam em choque,
instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia
ativa, são indicações de laparotomia de urgência. Lesão de
órgão sólido em pacientes hemodinamicamente estáveis,
muitas vezes pode ser tratada não operatoriamente.
Internação hospitalar destes pacientes para observação
cuidadosa e avaliação por um cirurgião é fundamental.
Lesões do fígado, baço e rim, que resultam em choque,
instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia
ativa, são indicações de laparotomia de urgência. Lesão de
órgão solido em pacientes hemodinamicamente estáveis,
muitas vezes, pode ser tratada não operatoriamente.
internação hospitalar destes pacientes para observação
cuidadosa e avaliação por um cirurgião é fundamental.
Fraturas Pélvicas e Lesões Associadas
Como pacientes com fraturas pélvicas e hipotensão têm uma
alta taxa de mortalidade, qualquer tomada de decisão é
fundamental para um bom desfecho clínico. Fraturas
pélvicas associadas a hemorragia comum ente
apresentam ruptura dos ligamentos ósseos posteriores
(sacro ilíaco, sacro tuberoso, sacro espinhoso e
fibromuscular do assoalho pélvico) evidenciado por uma
fratura sacral, uma fratura saco ilíaca e/ou luxação da
articulação sacro ilíaca.
Mecanismo de Trauma e Classificação
Lesões do anel pélvico podem ser causadas por acidentes
automobilísticos, acidentes de moto, atropelamentos,
esmagamento direto da pelve ou quedas. As fraturas pélvicas
são classificadas em quatro tipos, com base nos padrões de
força da lesão: compressão anteroposterior (AP),
compressão lateral, cisalhamento vertical e mecanismos
combinados.
Compressão AP é frequentemente associada com colisões
frontais de motocicleta e carros. Este mecanismo produz
rotação externa da hemipelve com afastamento da sínfise
púbica e esgarçamento do complexo ligamentar posterior.
O anel pélvico rompido se afasta rompendo o plexo venoso
posterior e os ramos do sistema arterial ilíaco interno. A
hemorragia pode ser grave e fatal.
A lesão por compressão lateral, que envolve força lateral
diretamente aplicada à pelve, é o mecanismo mais comum de
fratura pélvica em uma colisão de carros. Em contraste com a
compressão AP, a hemipelve gira internamente durante a
compressão lateral reduzindo o volume pélvico e
reduzindo a tensão nas estruturas vasculares pélvicas.
Esta rotação interna pode direcionar o púbis ao sistema
geniturinário inferior, causando lesões potenciais na
bexiga e/ou uretra. A hemorragia e outras sequelas de lesão
por compressão lateral raramente são fatais, mas podem
produzir morbidade grave e permanente, e, pacientes idosos
podem desenvolver sangramentos significativos por fraturaspélvicas com este mecanismo. Quando isso ocorre, estes
pacientes requerem técnicas de controle de hemorragia
precoce, como a angio embolização. Pacientes frágeis e
idosos podem sangrar significativamente após um trauma de
menor intensidade com fraturas de compressão lateral.
O cisalhamento vertical da articulação sacro ilíaca
também pode romper a vascularização ilíaca e causar
hemorragia grave. Neste mecanismo, uma força de
cisalhamento de alta energia ocorre ao longo de um plano
vertical nos aspectos anterior e posterior do anel. Este
cisalhamento rompe os ligamentos sacro tuberoso e sacro
espinhoso levando à instabilidade pélvica. Uma queda de
altura superior a 3,66 metros geralmente resulta em uma
lesão por cisalhamento vertical.
A mortalidade em pacientes com todos os tipos de fraturas
pélvicas é aproximadamente uma em cada seis (variações de
5 a 30%). A mortalidade aumenta para cerca de um em cada
quatro (variações de 10 a 42%) em pacientes com fratura
pélvica fechada e hipotensão. Em pacientes com fratura
pélvica aberta a mortalidade é de aproximadamente 50%. A
hemorragia é o principal fator potencialmente reversível, que
contribui para a mortalidade.
O tratamento inicial de uma fratura pélvica grave associada a
choque hemorrágico requer tanto o controle do
sangramento como a reposição volêmica. O controle da
hemorragia é obtido por meio de estabilização mecânica do
anel pélvico e contrapressão externa. Os pacientes com
estas lesões podem ser avaliados e tratados inicialmente em
hospitais sem recursos para tratar definitivamente a
hemorragia associada. Nesses casos, técnicas simples podem
ser usadas para estabilizar a pelve, antes de transferir o
paciente. Como as lesões pélvicas associadas a grandes
hemorragias rodam externamente a hemipelve, a rotação
interna dos membros inferiores também pode reduzir o
volume pélvico. Ao aplicar um suporte diretamente a pelve
do paciente é possível estabilizar a pelve fraturada, reduzindo
ainda mais o potencial de hemorragia pélvica. Um lençol,
cinta pélvica ou outro dispositivo pode produzir uma
fixação temporária eficiente para a pelve instável quando
aplicada ao nível dos trocânteres maiores dos fêmures.
Nos casos de lesões por cisalhamento vertical, a tração
longitudinal aplicada através da pele ou do esqueleto também
pode ajudar a proporcionar estabilidade. Isso deve ser feito
com a consulta de um ortopedista.
Cintas pélvicas externas são um procedimento de
emergência temporário. A aplicação adequada é obrigatória
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
e os pacientes com cinta pélvica exigem monitoramento
cuidadoso. Cintas apertadas ou as que permaneceram na
posição por períodos prolongado podem causar lesões na pele
ou ulcerações sobre as proeminências ósseas.
Para o tratamento definitivo dos pacientes com alterações
hemodinâmicas relacionadas a uma fratura pélvica, é
necessária uma equipe composta por um cirurgião de
trauma, um cirurgião ortopédico, um radiologista
intervencionista e um cirurgião vascular. A embolização
angiográfica é frequentemente utilizada para parar
hemorragia arterial relacionada a fraturas pélvicas. O
empacotamento pré-peritoneal é um método alternativo
para controlar a hemorragia pélvica quando a
embolização demorar ou não estiver disponível. As
técnicas de controle da hemorragia não são exclusivas e pode
ser necessário mais de uma técnica para o controle satisfatório
desta. Um cirurgião de trauma experiente deve construir um
plano terapêutico para um paciente com hemorragia pélvica
com base nos recursos disponíveis.
São necessários recursos significativos para tratar de
pacientes com fraturas pélvicas graves. A consideração
precoce de transferência para um centro de trauma é
essencial. Em ambientes de recursos limitados, a ausência de
recursos cirúrgicos e/ou angiográficos para pacientes
hemodinamicamente instáveis com fraturas pélvicas ou
pacientes hemodincamente normais com lesão significativa
de órgãos solidas requer transferência precoce para um centro
de trauma com recursos disponíveis.
Na reanimação inicial são utilizadas soluções eletrolíticas
isotônicas aquecidas: Ringer lactato ou soro fisiológico. A
dose habitual é de 1-2 L no adulto e de 20 ml/kg em crianças.
EM CRIANÇAS: Se as anormalidades hemodinâmicas não
melhoram após a 1ª infusão de volume, tal fato aumenta a
suspeita de hemorragia contínua e implica administração, por
mais uma ou duas vezes, de 20 ml/kg de soluções cristaloides,
além de exigir que um cirurgião passe a acompanhar o doente
sem demora. o Então com o objetivo de repor, pode ser
necessário administrar três bolus de 20 mL/kg, ou um total de
60 mL/kg, para alcançar a reposição dos 25% perdidos.
Quando se inicia a terceira infusão de 20 mL/kg, deve-se
considerar a administração de concentrado de hemácias (CH).
o Os CH são administrados na quantidade de 10 mL/kg, em
bolus. Assim que se iniciar a reposição de sangue, deve-se
considerar a necessidade de reposição adicional de outros
derivados do sangue, tais como plasma e plaquetas.
Volumes absolutos de fluidos para a reanimação devem ser
baseados na resposta do doente. E é importante lembrar que a
quantidade inicial de fluidos inclui qualquer fluído
administrado no pré-hospitalar. O volume total de líquidos e
de sangue necessário para a reanimação é difícil de ser
previsto pelo exame inicial do doente. A Tabela 3.1 oferece
parâmetros gerais para o estabelecimento da quantidade e o
tipo de líquido e do volume de sangue que provavelmente o
doente necessitará.
É mais importante avaliar a resposta do doente à reposição
volêmica e identificar a evidência de uma adequada perfusão
e oxigenação orgânica finais {por exemplo, débito urinário,
nível de consciência e perfusão periférica). A infusão
contínua de grandes quantidades de fluídos e sangue na
tentativa de atingir pressão arterial normal não substitui o
controle definitivo da hemorragia. A administração excessiva
de fluidos pode exacerbar a tríade letal da coagulopatia,
acidose e hipotermia com a ativação da cascata da
inflamação. Colocar na balança a restauração da perfusão dos
órgãos de um lado e os riscos inerentes de aumento de
hemorragia do outro, aceitando-se uma pressão sanguínea
abaixo dos níveis normais ("reanimação controlada" ou
"reanimação hipotensiva").
ATENÇÃO: Repor a volemia e evitar a hipotensão são
princípios importantes no tratamento inicial de doentes com
trauma fechado, particularmente os com TCE. Nos
traumatismos penetrantes com hemorragia, o retardo da
reposição volêmica agressiva, até que o controle definitivo da
hemorragia tenha sido realizado, pode prevenir hemorragia
maior.
A normalização da pressão sanguínea, da pressão e da
frequência do pulso são sinais favoráveis e sugerem que a
perfusão está retornando ao normal. O volume do débito
urinário é um indicador bastante sensível da perfusão renal,
então uma diurese normal, desde que não influenciada pela
administração de diuréticos, implica, geralmente, fluxo
sanguíneo renal adequado. O débito urinário deve estar em a
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
aproximadamente 0,5 mL/kg/h no adulto, enquanto 1
mL/kg/h nas crianças. Para crianças <1 ano de idade, devem
ser mantidos 2 mL/kg/h.
A incapacidade/decréscimo de manter o débito urinário
nesses níveis sugere a necessidade de aumentar a reposição
volêmica e tomar ulteriores medidas diagnósticas. Para medir
corretamente o débito urinário da criança recebendo
reposição volêmica importante, deve-se inserir uma sonda
vesical. Uma sonda simples e não uma sonda vesical dotada
de balão insuflável deve ser usada em lactentes; porém, elas
não são adequadas para crianças acima de um ano.
Os doentes com choque hipovolêmico precoce têm alcaloserespiratória devido à taquipneia, e esta é seguida
frequentemente por acidose metabólica leve nas fases
precoces do choque e não necessita de tratamento. A acidose
metabólica grave pode surgir quando o choque é prolongado
ou grave deve ser tratada com a infusão de líquidos e de
sangue, considerandose a possibilidade de uma intervenção
cirúrgica para controle da hemorragia. o Analisar base e
lactato. O bicarbonato de sódio não deve ser usado
rotineiramente para o tratamento da acidose metabólica
secundária ao choque hipovolêmico.
O retorno à normalidade hemodinâmica em crianças é
indicado por:
• Diminuição da frequência cardíaca (< 130 bpm, com
melhora de outros sinais fisiológicos; essa resposta varia com
a idade)
• Melhora do nível de consciência
• Retorno dos pulsos periféricos
• Normalização da coloração da pele
• Reaquecimento das extremidades
• Aumento da pressão arterial sistólica (a normal é
aproximadamente 90 mm Hg mais duas vezes a idade em
anos)
• Aumento da pressão de pulso ( > 20 mm Hg)
• Débito urinário de 1 a 2 mL/kg/h (varia com a idade).
A resposta do doente à reposição volêmica inicial é o
principal aspecto para determinar a terapêutica subsequente.
Observando-se a resposta à reposição volêmica inicial, pode-
se identificar aqueles doentes cuja perda de sangue foi maior
que a estimada e aqueles com sangramento persistente que
exigem um controle cirúrgico de hemorragia interna. A
reanimação na sala de operação tem por objetivo obter
simultaneamente o controle direto do sangramento pelo
cirurgião e a restauração do volume sanguíneo. Além disso,
limita a probabilidade de transfusão excessiva ou
desnecessária naqueles doentes nos quais o estado
circulatório inicial não refletia a perda real de sangue. Os
padrões prováveis de resposta à administração inicial de
fluidos podem ser divididos em três categorias: resposta
rápida, resposta transitória e resposta mínima ou ausente.
RESPOSTA RÁPIDA
• Os doentes deste grupo respondem rapidamente à reposição
volêmica inicial e permanecem hemodinamicamente normais
após o término da reposição inicial, quando a velocidade de
infusão é reduzida para níveis de manutenção.
• Usualmente, esses doentes tiveram uma pequena perda da
volemia (inferior a 20%).
• NÃO é INDICADA a administração adicional de soros ou
a infusão imediata de sangue.
• Sangue tipado e com prova cruzada realizada deve ser
mantida disponível.
• Durante a avaliação e o tratamento iniciais, é indispensável
a avaliação cirúrgica, visto que pode ser necessário
intervenção operatória.
RESPOSTA TRANSITÓRIA
• Os doentes deste grupo respondem à reposição inicial
rápida. Entretanto, alguns doentes, à medida que se reduz a
velocidade de infusão para níveis de manutenção, mostram
deterioração da perfusão periférica, indicando sangramento
persistente ou reanimação inadequada.
• A maioria desses doentes teve perda sanguínea inicial
estimada entre 20 e 40%.
• Sangue e derivados são indicados, mas o fato mais
importante é reconhecer que este doente requer controle da
hemorragia por cirurgia ou angiografia.
RESPOSTA MÍNIMA OU AUSENTE
• A falta de resposta na sala de emergência à administração
adequada de cristaloide e de sangue indica a necessidade de
intervenção definitiva imediata {por exemplo, cirurgia ou
angioembolização) para controlar uma hemorragia
exsanguinante.
• Uma resposta inadequada pode ser devida à insuficiência da
bomba, resultante de traumatismo cardíaco contuso, de
tamponamento cardíaco ou de pneumotórax hipertensivo.
• Monitoração da pressão venosa central ou a ecocardiografia
de emergência.
REPOSIÇÃO DE SANGUE
A decisão de iniciar a transfusão baseia-se na resposta do
doente. Doentes com resposta transitória ou mínima/sem
resposta - aqueles em hemorragia classe III ou IV -
necessitarão de sangue e derivados como parte precoce de sua
reanimação.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
SANGUE COM PROVAS CRUZADAS, TIPO
ESPECÍFICO E TIPO O NEGATIVO
O principal objetivo da transfusão sanguínea é restabelecer a
capacidade de transporte de oxigênio do volume
intravascular. A alternativa preferível é sangue com todas as
provas cruzadas. Entretanto, o procedimento para realizar as
provas cruzadas completas exige aproximadamente 1 hora na
maioria dos bancos de sangue.
Na maioria dos bancos de sangue, sangue tipo específico pode
ser providenciado em aproximadamente 10 minutos. Este
sangue é compatível com o do doente, nos sistemas ABO e
Rh. Incompatibilidades devidas a outros anticorpos podem
existir. O sangue tipo específico é o de primeira escolha para
os doentes que respondem transitoriamente. Quando se torna
necessário o uso de sangue tipo específico, as provas cruzadas
devem ser completadas no banco de sangue. Quando não está
disponível sangue tipo específico, indicase o uso de
concentrados de hemácias tipo O para doentes com
hemorragia exsanguinante.
o Em mulheres em idade fértil, prefere-se o uso de glóbulos
Rh negativos para prevenir sensibilizações e futuras
complicações.
o Assim que estiver disponível, o uso de sangue tipo
específico é preferível ao tipo O.
AQUECIMENTO DOS LÍQUIDOS PLASMA E
CRISTALOIDES
A hipotermia deve ser sempre evitada e deve ser corrigida
quando o doente chega hipotérmico ao hospital. Aquecimento
do líquido a 39°C antes de usá-lo. Assim, deve-se armazenar
os cristaloides em estufa aquecida ou fazer infusão através de
aquecedores de fluidos intravenosos. Hemoderivados não
podem ser armazenados em estufas aquecida, mas sim através
da passagem por aquecedores de fluidos endovenosos!
AUTOTRANSFUSÃO
Dispositivos ajustáveis aos tubos de drenagem de tórax que
permitem a coleta estéril. a anticoagulação (geralmente com
solução de citrato de sódio e não de heparina) e a retransfusão
do sangue drenado, são comercialmente disporúveis. A coleta
do sangue para autotransfusão deve ser considerada nos
doentes que apresentarem hemotórax maciço. Esse sangue
normalmente possui pequenos níveis de fatores de
coagulação, o que faz com que a transfusão de plasma e de
plaquetas ainda possa ser necessária.
TRANSFUSÃO MACIÇA
Um pequeno grupo de doentes em choque necessitará de
transfusão maciça, mais frequentemente definida como a
transfusão de mais de 10 unidades de concentrado de
hemácias dentro das primeiras 24 horas da admissão
hospitalar, ou mais de 4 unidades dentro da primeira hora. A
administração precoce de concentrado de hemácias, de
plasma e de plaquetas, em uma proporção balanceada para
evitar a administração excessiva de cristaloides, pode
aumentar a taxa de sobrevivência dos doentes. Essa
abordagem tem sido denominada de reanimação
''balanceada", "hemostática" ou de controle de danos". Os
esforços simultâneos para rapidamente controlar o
sangramento e minimizar os efeitos deletérios da
coagulopatia, da hipotermia e da acidose nesses doentes são
extremamente importantes. Um PTM que inclua a
disponibilidade imediata de sangue e de todos os
hemoderivados deve estar estabelecido, para proporcionar
urna reanimação adequada para esses doentes, pois vastos
recursos são necessários para disponibilizar essas volumosas
quantidades de sangue. A administração apropriada de
hemoderivados tem demonstrado melhorar o desfecho nesse
grupo de doentes. Pode ser um desafio identificar o pequeno
grupo de doentes que irá se beneficiar desta estratégia,
portanto, vários escores têm sido desenvolvidos para auxiliar
o médico na decisão de dar início ao PIM apesar de nenhum
deles ainda ter demonstrado completa acurácia.
COAGULOPATIA
Traumatismos e hemorragias severas consomem os fatores de
coagulação e podem levar precocemente à coagulopatia. Essa
forma de coagulopatia está presente em até 30% dosdoentes
traumatizados graves à admissão, na ausência de uso prévio
de medicamentos anticoagulantes. A reposição maciça de
fluidos coma resultante diluição de plaquetas e de fatores de
coagulação, bem como os efeitos adversos da hipoterrnia na
agregação plaquetária e na cascata de coagulação, contribuem
para a coagulopatia nos doentes traumatizados. As medidas
do tempo de protrombina, do tempo de trombop~ paràal e da
contagem de plaquetas, são estudos valiosos na primeira hora,
especialmente nos doentes com história de coagulopatia ou de
uso de medicamentos que alterem a coagulação sanguínea
(Ver tabela de Reversão
dosAnticoagulantesnoCapítulo6:TruumadeCninio).&ses
exames também podem ser úteis no cuidado dos doentes em
que ~o haja informações confiáveis quanto ao seu estado
prévio da coagulação. Testes nos locais de atendimento estão
disponíveis em várias unidades de emergência. A
Tromboelastografta (TEG) e o Tromboelastometria
Rotaàonal (ROTEM) podem ser valiosos na determinação da
deficiência de fatores de coagulação e dos hemoderivados
apropriados para a correção desta deficiência. Alguns locais
administram o ácido tranexâmico no ambiente pré-hospitalar
em doentes traumatizados graves. em resposta a estudos
recentes que demonstraram um aumento da sobrevida quando
esse medicamento é administrado dentro das primeiras 3
horas do trauma. Nesses casos a primeira dose é geralmente
administrada dentro de 10 minutos e no ambiente pré-
hospitalar; a dose seguinte de 1 grama é infundida durante 8
horas.
Nos doentes que não necessitam de transfusão maciça, o uso
de plaquetas, de crioprecipitado e de plasma fresco congelado
deve ser guiado por exames laboratoriais, em conjunto com
os níveis de fibrinogênio e com os princípios da reanimação
balanceada. É importante pontuar que muitos anticoagulantes
e antiagregantes plaquetários de última geração não são
detectados através dos exames convencionais de TP, TIFA.
RNI ou de contagem de plaquetas. Alguns dos
anticoagulantes orais não possuem antídotos. Doentes vítimas
de traumatismo craniano grave são particularmente
suscetíveis às anormalidades de coagulação. Os parâmetros
de coagulação devem ser monitorados atentamente nesses
doentes; a administração precoce de plasma ou de fatores de
coagulação e/ou de plaquetas aumenta a sobrevida dos
doentes que estiverem em uso de anticoagulantes ou de
antiagregantes plaquetários.
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
ADMINISTRAÇÃO DE CÁLCIO
A maioria dos doentes que recebe transfusão de sangue não
necessita de suplementação de cálcio. Quando necessária, a
administração deve ser guiada por dosagem de cálcio
ionizado. A suplementação excessiva de cálcio pode ser
nociva.
TIPOS DE ACESSO VENOSO
• Cateter venoso periférico: Usualmente inserido em veias
nos MMSS. É o dispositivo vascular de curta duração mais
utilizado.
• Cateter arterial periférico: Para uso de curta duração,
comumente utilizado para monitorizar o estado
hemodinâmico e análises gasométricas em pacientes
críticos.
• Cateter Venoso Central: Inserido percutaneamente em
veias centrais (jugulares internas, femorais ou subclávias)
é o tipo de CVC mais utilizado.
• Cateter de artéria pulmonar (Swan-Ganz): É introduzido
pela veia subclávia ou jugular interna, atravessa as valvas
tricúspide e pulmonar, chegando na artéria pulmonar para
monitorar condições hemodinâmicas do paciente,
permanecendo em média 72h
• Cateter Central de Inserção Periférica (PICC): Cateter
periférico que inserido na veia cefálica, basílica ou
braquial, e atinge a veia cava superior.
• Cateter umbilical: Inserido na veia ou artéria umbilical;
tem taxas de infecção semelhantes entre veia e artéria
umbilical.
• CVC totalmente implantado: Cirurgicamente implantado
tunelizado abaixo da pele, tem uma bolsa subcutâneo com
membrana autoselante que pode ser acessada por agulha
inserida através da pele. Usualmente é implantada nas
veias jugular ou subclávia e é retirado via procedimento
cirúrgico.
• Flebotomia: É o procedimento cirúrgica de implatanção de
cateter vascular em veias periféricas para inserção de
cateteres centrais. Normalmente este procedimento é
realizado somente na impossibilidade e acesso venoso
central em urgência. É uma opção de curta duração (4-5
dias em adultos) e possui alto risco de infecção.
Quando identificamos uma hipovolemia/hipotensão algumas
prioridades são controle da hemorragia externa, obtenção de
acesso venoso adequado e avaliação da perfusão tecidual. O
acesso ao sistema vascular deve ser obtido rapidamente! A
melhor forma de fazê-lo é a inserção de dois cateteres
intravenosos periféricos (calibre mínimo 16 G no adulto)
antes de considerar qualquer possibilidade de cateterismo
venoso central.
Para infusão rápida de grandes volumes de líquidos, cateteres
intravenosos periféricos curtos e calibrosos são preferíveis.
Utilize líquidos aquecidos e bombas de infusão rápida quando
houver hemorragia maciça e hipotensão grave. Os locais mais
adequados para os acessos venosos periféricos no adulto são
as veias do antebraço ou antecubitais. Se as circunstâncias
não permitirem o uso de veias periféricas, de grosso calibre,
estarão indicados a dissecção cirúrgica da veia safena ou o
acesso venoso central (veia femoral, jugular ou subclávia),
através da técnica de Seldinger. Frequentemente, na
emergência, o acesso venoso central não pode ser praticado
em condições estritamente controladas e totalmente estéreis.
Quando isso ocorre, os acessos venosos devem ser trocados
tão logo as condições ambientais e do doente o permitam.
Deve ser enfatizada também a possibilidade de ocorrerem
complicações muito graves (pneumotórax ou hemotórax)
relacionadas à tentativa de cateterismo venoso central em
doentes que podem estar instáveis.
EM CRIANÇAS
Se não for possível por essa via após duas tentativas, devese
considerar a realização de punção intraóssea, realizada com
uma agulha de punção de medula óssea (18 G em lactentes,
15 G em crianças mais novas) ou a punção femoral usando a
técnica de Seldinger ou um cateter venoso com agulha de
metal de tamanho apropriado. O acesso intraósseo com
equipamento especialmente desenhado também é possível em
qualquer faixa etária e tem sido utilizado com maior
frequência. Na população pediátrica, esse acesso pode ser
utilizado até que seja obtido um acesso venoso.
Em crianças de menos de 6 anos de idade, antes de se
proceder à inserção de um cateter central, deve-se tentar o
acesso intraósseo com uma agulha intraóssea. Se esses
procedimentos não tiverem sucesso, um médico com
habilidade e expertise pode realizar uma dissecção venosa
com segurança. Entretanto, essa alternativa deve ser o último
recurso, pois esse procedimento raramente é realizado em
menos de 10 minutos, mesmo em mãos experientes,
enquando a punção intraóssea pode ter acesso à medula em
menos de 1 minuto, mesmo por profissionais com habilidade
e expertise limitados. As indicações da infusão intraósssea
são limitadas às crianças nas quais há impossibilidade de
acesso venoso devido ao colapso circulatório ou nas quais não
se conseguiu acessos periféricos após duas tentativas. As
complicações desse procedimento são celulite, osteomielite,
síndrome compartimental e fratura iatrogênica. O local
preferencial para a punção intraóssea é abaixo da
tuberosidade da tíbia. Outra alternativa é o fêmur distal,
embora a tíbia contralateral seja melhor.
Não se deve realizar a punção intraóssea em membros
fraturados ou com suspeita de fratura. Os fatores
determinantes na seleção de um procedimento ou de uma via
para o acesso vascular são a experiência e as qualificações
técnicas do médico!
CRIANÇAS: Os acessos venosos preferenciais devem ser os
periféricos.
Locais preferenciais paraacesos venosos em crianças são os
seguintes:
Percutâneo periférico (duas tentativas) -Fossa antecubital,
veia(s) safena(s) no tornozelo
• Intraósseo-(1) tíbia anteromedial, ( 2 ) fêmur Distal
• Percutâneo-Veia (s) femoral(is)
• Percutâneo-Veia(s) jugular(es) externa(s) (restrito para
especialistas pediátricos; não usar caso exista
comprometimento da via aérea ou se a criança estiver com
colar cervical)
• Dissecção venosa-Veia(s) safena(s) no Tornozelo
Isadora Pedreira. Módulo XXIII- Problema 05 Fechamento
Andrade Filho, Laert Oliveira, Campos, José Ribas Milanez
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