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Eduardo Almeida e Kiko Kislansky
O PODER DO PROPÓSITO
Como viver com mais sentido e potencializar resultados por meio do
Método IKIGAI
2019
O Poder do Propósito – Como viver com mais sentido e potencializar resultados por meio do Método IKIGAI
Autores: Eduardo Almeida e Kiko Kislansky
Coordenação editorial: Claudia Kubrusly, Joana Mello e Priscila Seixas
Revisão: Raquel Benchimol e Priscila Seixas
Capa: Suiane Cardoso
Diagramação e produção digital: Maurício Carneiro
Prefixo Editorial: 67886
Número eISBN: 978-85-67886-30-5
O poder do propósito : como viver com mais sentido
e potencializar resultados por meio do método Ikigai
Tipo de suporte: Ebook
Formato Ebook: EPUB
IMPRESSO NO BRASIL
CADEIA RESPONSÁVEL
UM POR UM: CADA LIVRO, UMA CONTRAPARTIDA SOCIAL
Editora Doyen Ltda.
Rua Ébano Pereira, 11, conj. 1203, Curitiba/PR
80.410-240
www.editoravoo.com.br
https://editoravoo.com.br/
Gratidão a todos aqueles que se somam nessa jornada de promoção da fisolofia Ikigai no Brasil,
em especial Vitor, Darius e Karina.
À Andrea, meu grande amor, pelo suporte que sempre dedicou a mim, dividindo comigo com
entusiasmo as vitórias e suportando os momentos difíceis.
- Edu
A todos e todas que influenciaram a minha jornada e que, assim como eu, acreditam no poder
do propósito como ferramenta de transformação da humanidade.
Em especial, gratidão à minha amada mãe, Isabel Oppitz, por ser uma guerreira do bem e por
ter contribuído para que eu reconhecesse e vivesse meu propósito plenamente.
- Kiko
Sumário
PREFÁCIO
Carta de abertura
Introdução: um livro com propósito
Parte I – CONTEXTO HISTÓRICO DO PROPÓSITO
Nossa eterna busca por propósito
Uma vida com sentido
Trabalho e nossa identidade
O propósito e o trabalho
Saindo da matrix
O mundo industrial que já está morto
O nascimento da sociedade pós-industrial
A vida na modernidade líquida
A era dos negócios regidos por consciência, propósito e humanização
Uma nova visão em relação ao capitalismo
Parte II – PROPOSITOLOGIA: UM ESTUDO ACERCA DA IMPORTÂNCIA DO
PROPÓSITO EM NOSSA VIDA
Compreendendo o propósito
O altruísmo está no nosso DNA
O propósito na História
Um olhar pragmático sobre o propósito
Teorias sobre propósito
A relação do propósito com a motivação
A relação do propósito com a felicidade
A relação entre sucesso e propósito
A relação entre propósito e a inteligência espiritual
A relação entre propósito e as necessidades humanas
A relação do propósito com nossas emoções
A relação do propósito com a performance
Maslow e a busca por propósito
A essência do propósito
Um propósito como base da minha missão
Seja o ator principal de sua história
Caia, levante e aprenda
Parte III – IKIGAI: UMA FILOSOFIA REVOLUCIONÁRIA
Do Oriente para o Ocidente
Ikigai, uma vida com sentido
O meu Ikigai
Ikigai no Ocidente
A mandala Ikigai
Explorando as quatro dimensões da mandala Ikigai
O que me faz acordar pela manhã?
Que contribuição eu posso agregar com meus talentos?
O que deixarei com minha passagem?
O que de fato ganharei ao realizar meu trabalho?
Compreendendo a mandala Ikigai incompleta
Dez principais benefícios de viver seu Ikigai
Quatro estágios do Ikigai
Parte IV – IKIGAI NA PRÁTICA
Mais vale a prática do que a gramática
Exercícios práticos – Reconhecendo seu Ikigai
Declaração Ikigai
Sobre a Voo
PREFÁCIO
O Poder do Propósito materializa tudo o que aprendi em minha jornada, e confesso que não foi
fácil traduzir essa força que existe em mim durante muitos anos. Foi ao conhecer Kiko Kislansky
e Eduardo Almeida que encontrei a clareza e o sentido do “para que fazemos o que fazemos” no
mundo dos negócios.
Para explicar, precisarei fazer um resgate histórico na trajetória da minha carreira e da minha
vida pessoal – era assim mesmo, separadamente, que tudo parecia acontecer – e relembrar as
angústias e inquietações que vivi ao olhar todos os dias para os ambientes de negócios que
conheci e notar que a maioria das pessoas estava sempre criticando-os e sofrendo com seus
trabalhos e projetos de vida.
Nos bares, restaurantes, cafés e outros locais públicos, sempre ouvi pessoas criticarem seus
chefes, as empresas em que trabalhavam e, em alguns casos, criticavam os próprios colegas,
fazendo-me pensar: “O que posso fazer para despertar a humanização nesses ambientes e ajudar
essas pessoas a encontrar um sentido?”.
Durante muito tempo, olhei para os ambientes empresariais que eram apontados como
admiráveis e busquei conhecer suas boas práticas, com o objetivo de encontrar respostas para
melhorar aquilo que estava no meu controle e sobre o qual eu tinha influência. Até que
funcionou bem e me ajudou a mudar cenários de baixo engajamento para formar organizações
com bons índices de comprometimento e satisfação das pessoas. Mas, ainda assim, a inquietação
tomava conta da minha mente e eu vivia com muito desconforto por não saber exatamente o que
faltava nas pessoas para que elas pudessem encontrar um significado para os seus trabalhos e
traduzir seus dias em um movimento intenso para evoluir e servir.
Quando buscamos respostas de maneira incansável, parece que vamos organizando o universo
para nos entregar o que precisamos, e nessa busca tive o prazer de encontrar Kiko Kislansky.
Juntos, demos passos importantes para o despertar do propósito. A jornada foi começando a
ganhar sentido, pois fui levado por ele a entender que as respostas não estavam em como, mas
sim em por que fazemos o que fazemos. Essa luz de inspiração ficou mais clara quando
trabalhamos em um projeto para o despertar do propósito de equipes de liderança. Kiko nos
guiou para um novo olhar na organização, fazendo-nos enxergar a importância do significado de
por que acordamos todos os dias para exercer o nosso melhor no trabalho.
E como, realmente, as nossas vibrações vão atraindo mais pessoas que seguem na mesma
frequência, Kiko logo me apresentou o brilhante Eduardo Almeida, e ambos me proporcionaram
uma maravilhosa imersão na compreensão da filosofia Ikigai. Trouxeram definitivamente para
mim a compreensão e as ferramentas que busquei durante tantos anos para despertar as pessoas
para uma vida com significado, incluindo seu trabalho.
A partir daquele momento, entendi que os pilares que proporcionariam a transformação dos
ambientes de negócios estavam diante dos meus olhos e poderiam me ajudar a quebrar os
conceitos da repetição, despertando nas pessoas a compreensão do verdadeiro sentido de tudo o
que fazem. Eu queria ajudá-las a se perguntar “para que” existimos de modo que entendessem
que não somos seres robotizados que passam a vida em busca de recompensas e fazem escolhas
apenas para otimizar a conquista desses resultados. Infelizmente, somos doutrinados na maioria
das vezes para exercer profissões que nos tornem pessoas bem-sucedidas. Assim, realizamos
uma jornada de infelicidade na busca de algo que não faz o menor sentido em nossa vida.
Despertamos para o significado de nossa existência apenas quando estamos próximos de nos
despedir dela e, por isso, acabamos vivendo um enorme vazio durante anos. Ciclos de frustração
que geram arrependimento ao final da vida, quando encontramos a melhor idade.
Reconhecer nossa essência em evoluir e servir nos abre novos horizontes. Neste livro, somos
chamados a ampliar nossa consciência para entender quais necessidades do mundo podemos
atender. Aprendemos a olhar para nossos talentos de maneira a encontrar seus pontos fortes e
aprimorá-los ainda mais em busca da excelência. Ao nos apaixonarmos pelo que fazemos,
colocamos esses talentos à disposição do mundo de forma consciente, enxergando como nossas
contribuições são transformadoras. Tudo isso conectado à nossa prosperidade, reconhecendo e
sendo recompesados pelo valor que geramos. Quebramos assim o fluxo da escassez e nos
proporcionamos viver em abundância.
O Poder do Propósito traduz de maneira clara e simples os passos que precisamos dar para uma
transformação exponencial, em que as pessoas abraçam o sentido de serem quem são e fazero
que fazem. Desse modo, contribuem para que mais e mais pessoas despertem para o seu
potencial e reconheçam a sua razão de existir, conectando o talento de cada um com as
transformações que quer ver no mundo.
O melhor para mim nesta leitura foi a descoberta de que muitas pessoas acordam para a
necessidade de encontrar sua essência e seu propósito enquanto alguns, diante da angústia,
tomam a decisão de recomeçar a vida seguindo uma nova jornada. Para isso, é claro, Kiko e Edu
nos trazem a reflexão sobre a importância de evoluir de dentro para fora, mas também mostram
como são essenciais a conexão e a evolução junto aos outros, em uma jornada colaborativa.
Tranquilamente somos levados a reconhecer que nosso propósito não está em algum lugar
externo, pois ele já nos encontrou e temos tudo para vivê-lo intensamente, basta despertarmos
para a presença dele e para o quanto impulsiona nossa vida. Alguns se perdem na busca
incansável por seu “eu” interior, mas o grande desafio e o ápice de felicidade encontraremos no
equilíbrio das nossas relações com o outro e na maravilha de evoluirmos lado a lado.
Prepare-se para uma viagem cheia de luz, que ampliará sua sabedoria e proporcionará que olhe
para o mundo ao seu redor – como, no meu caso, olho hoje para os ambientes de negócios – e
reconheça o potencial que temos para despertar as pessoas para o seu propósito e sua missão.
Dessa forma, proporcionamos resultados nunca antes imaginados, pois o grau de motivação e
energia que as pessoas podem ter e propagar está diretamente ligado à influência da força do
propósito.
Muitos mergulham na busca por saber se existe vida após a morte, porém tantos outros seguem
sem reconhecer que há vida antes dela. Você está disposto a transformar tudo ao seu redor em
momentos mágicos e incomparáveis para as pessoas?
Luiz França
Empreendedor e Humanizador de Organizações
Sumário
Carta de abertura
Sintonizar-se com o seu propósito é incrível. Mas ter a coragem necessária para manifestá-lo
para o mundo é simplesmente extraordinário. É como se estivéssemos conectados profundamente
com um sol que reside dentro de nós, percebendo a sua luz tocar o mundo ao nosso redor. Este
livro, para mim, nada mais é do que a manifestação desta luz que reconheci no meu mundo
interior.
Percebi que o mundo está bagunçado, com valores invertidos e desassociado da sua verdadeira
essência. Percebi, também, que a mensagem contida neste livro pode ajudar a curar esse caos.
Bom, tenho convicção de que não será possível mudar o mundo inteiro. Mas, quer saber a
verdade? Estou mais preocupado com a jornada do que com o destino final. Só quero estar no
caminho da mudança. Quero fazer parte dela. Rejeito a possibilidade de ser parte da doença.
Reconheci que faço parte de algo maior e quero trabalhar para curar a humanidade – mesmo
sabendo que não serei capaz de fazer isso. O que me move é a jornada, é a trajetória. Dia após
dia.
Você conhece a história do beija-flor? Vou contar para você: um incêndio enorme se espalhava
por uma bela floresta, onde moravam um beija-flor e um jacaré. Ao perceber o incêndio, o beija-
flor rapidamente foi até o lago mais próximo e voltou com algumas gotas de água para derramar
no fogo. Logo depois, ele fez isso mais uma vez. E outra vez. E mais uma. Ali perto, o jacaré
assistia aos voos intensos do beija-flor com uma expressão que misturava surpresa e ironia.
Assim que o beija-flor passou próximo a ele, o jacaré interrompeu seu voo e perguntou: “O que
você está fazendo? Não percebe que não vai conseguir apagar o incêndio? Nossa floresta já era,
simplesmente aceite essa realidade. Eu, com esta boca imensa, não estou fazendo nada... imagine
você com essa boca pequenina!”. Após ouvi-lo, o beija-flor retomou o voo e prontamente foi até
o lago mais uma vez. E lá voltava ele com mais algumas gotas para derramar nas chamas do
fogo. O jacaré o interrompeu de novo, aproximou-se e perguntou: “Você não vai me
responder?”. Com toda naturalidade, o beija-flor falou: “Eu já respondi.”.
Essa história traz duas lições: primeiro, de que as palavras convencem, mas o exemplo arrasta.
Segundo, o que importa é fazer a nossa parte. Afinal, cada pequeno ato pode realmente fazer a
diferença. Na verdade, “pequeno” é apenas assistir ao incêndio.
Muitas pessoas se tornam vítimas porque acreditam que não podem mudar o mundo, que não
podem acabar com o incêndio. Outras se escondem por trás do argumento de que “não adianta eu
fazer nada, se os outros não vão fazer”. Assim, vivemos uma carência de protagonismo no
mundo. Pense comigo: quem são os grandes líderes da humanidade hoje? São pouquíssimos.
Infelizmente, a humanidade está infectada com o vírus do vitimismo.
Precisamos despertar para a ideia de que cada pessoa é um mundo! E, se ajudamos a mudar uma
única pessoa, já estamos ajudando a mudar o mundo. Um mundo de cada vez...
E foi nessa minha jornada de ajudar a mudar um mundo de cada vez que conheci Eduardo
Almeida. Após voltar dos Estados Unidos, onde me formei em 2012, comecei a empreender a
Euzaria, uma marca de moda consciente que transforma compras em atos de solidariedade. Em
2014, iniciei a jornada da Cazulo, centro de transformação de negócios a partir do propósito. E
foi durante alguns programas de educação corporativa da Cazulo que conheci o conceito do
Ikigai. Fiquei absolutamente encantado e passei a utilizá-lo como ferramenta para ajudar meus
clientes.
Em 2017, navegando pela internet, descobri que havia uma formação em Coaching Ikigai. Fiquei
fascinado ao ver o conceito que eu tanto tinha amado como base de uma formação. Senti um
forte chamado e liguei para o telefone que estava no site. Alguns minutos depois, já estava
conversando via Skype com o Edu, e ele me contava como tinha transformado a filosofia Ikigai
em um método de desenvolvimento humano. Para a minha surpresa, a formação começaria em
cinco dias na cidade de São Paulo.
Algumas horas depois, minha passagem já estava comprada. Convidei dois grandes amigos,
Vitor Igdal e Luiz França, e lá fomos nós! Foi uma experiência absolutamente incrível e o nível
de conexão com Edu foi extraordinário. Houve uma sintonia surreal entre nós, pois percebemos
uma sinergia muito grande entre nossos propósitos de vida. Assim, Edu se tornou um grande
mentor para mim. E, inevitavelmente, trouxemos o Coaching Ikigai para Salvador em parceria.
Depois de centenas de pessoas impactadas por nossos cursos presenciais, seguimos juntos nessa
missão de levar o Ikigai para cada vez mais pessoas por meio do Instituto IKIGAI Brasil, ao lado
de uma equipe fantástica.
Para mim, é um grande sonho poder escrever este livro ao lado de um dos meus mentores. Edu é
um grande mestre – um dos indivíduos mais sábios que tive a honra de conhecer. O que mais me
impressiona nele é a sua capacidade de compreender o todo, com sua visão sistêmica, e a sua
forma genial de conectar os pontos ao seu redor, fazendo associações profundas de forma
simples e natural. Ao mesmo tempo que ele é profundo, é também simples. Uma mistura entre a
sabedoria de um guru e a simplicidade de uma criança. Além disso, sua capacidade de provocar o
máximo potencial em cada um de nós é simplesmente fantástica. Poderia falar também sobre a
sua capacidade de decifrar pessoas com tamanha sensibilidade, da sua capacidade de perceber
suas imperfeições ou até da competência em definir a visão e fazer acontecer com excelência,
mas nada do que eu fale aqui será capaz de descrever esse cara que tanto admiro. Apenas espero
que você tenha a oportunidade de conhecê-lo e possa tirar suas próprias conclusões...
À medida que escrevo esta carta, percebo meu coração bater mais forte e sinto uma energia de
realização muito forte no meu corpo. Neste momento, estou imerso em uma viagem interior e
conectado com o desejo de poder impactar positivamente a sua vida, de você que nos deu o
privilégio da sua leitura e parceria. De uma coisa, pode ter certeza: o meu mundo, você já
mudou.
Aproveite a jornada. Esvazie sua xícara. Escolha o caminho da descobertaem vez do caminho do
julgamento. Esteja presente. Acredite que este livro não chegou até você por acaso. E
simplesmente desfrute de cada página...
Gratidão pela oportunidade de estarmos juntos!
Kiko Kislansky
Sumário
Introdução: um livro com propósito
No IKIGAI Brasil, organização a qual temos o prazer de coordenar, assumimos o firme
compromisso de levar as bases dessa fantástica filosofia para o maior número de pessoas no
mundo. Somos realmente movidos por um propósito: permitir que todos possam conhecer o que
é Ikigai e, mais do que isso, possibilitar a cada ser humano aprender a RECONHECER e
APLICAR seu Ikigai para se converter em um agente de transformação da sua própria vida e do
mundo em que vivemos.
Por causa disso, dizemos que nosso foco não é capacitar pessoas que são coaches ou líderes:
acreditamos que formamos sempre embaixadores de uma causa, seres humanos que
INSPIRAM e TRANSPIRAM propósito.
Dentro dessa premissa, ajudamos nossos embaixadores a entender que existe uma enorme
distinção entre aqueles que querem ser os melhores profissionais DO MUNDO e aqueles que
querem ser os melhores profissionais e seres humanos PARA O MUNDO.
Diferente de muitas linhas de coaching, nosso tema de estudo não é o sucesso, mas o sentido e o
propósito. Com isso, acreditamos que Ikigai tem pouco a ver com VENCER NA VIDA, pois o
que nos move é demonstrar que existe muito mais prazer e realização quando você VEM SER
NA VIDA. Queremos transformar a sociedade do TER HUMANO para uma que valorize o SER
HUMANO.
Se isso é o que nos move a “acordar todos os dias pela manhã” (tradução da palavra Ikigai),
então não é preciso dizer que tudo o que fazemos tem um propósito. Nesse caso, este livro que
agora está em suas mãos é a materialização de todo esse compromisso, pois quem tem um
PORQUÊ estará sempre disposto a enfrentar qualquer COMO.
Nos cursos que ministramos, frequentemente nos deparamos com uma quantidade incrível de
potencial humano e de sonhos não realizados. E, na vida, existem dois tipos de situação com que
temos que lidar: as coisas que nos INCOMODAM e as que nos INQUIETAM. Por exemplo,
particularmente, nós nos incomodamos com a falta de educação das pessoas no trânsito das
cidades brasileiras. Mas isso não nos inquieta o suficiente para nos mobilizar a fazer um projeto
específico para transformar essa realidade. Acreditamos que ela é fruto da falta de conexão e
autoconhecimento das pessoas no mundo atual, por isso preferimos focar nesses temas.
Porém, quando vemos pessoas presas a crenças limitantes e quando observamos nossos irmãos e
irmãs de caminhada sem ter a menor noção de qual é sua RAZÃO DE SER, sentimo-nos
profundamente inquietos, a ponto de perder o sono ou chorar de tristeza. Essa inquietação
permitiu que reconhecêssemos qual é nosso Ikigai, pois sabemos que as coisas que FAZEM
SENTIR são aquelas que FAZEM SENTIDO, sendo elas as que merecem a nossa atenção e o
nosso empenho.
Dito isso, podemos afirmar que este não é um livro de autoajuda, um manual da felicidade e do
propósito que apresenta fórmulas fáceis e infalíveis para que você possa ENCONTRAR seu
propósito. Até porque na filosofia Ikigai aprendemos que ninguém encontra seu propósito: nós o
reconhecemos e, muitas vezes, é ele que nos encontra.
Mas, quando o propósito bate à porta, nem todos conseguem abrir, pois é preciso coragem (agir
com o coração) para assumir o compromisso com seu próprio Ikigai.
Assim, as páginas deste livro foram todas carinhosamente desenhadas para gerar o máximo de
inquietação em você, para dar batidas poderosas em sua porta. Buscamos promover com essas
provocações o sentido de URGÊNCIA e a atitude de PROTAGONISMO, bases que o levarão a
assumir um compromisso real e inadiável com a manifestação de seu propósito. Afinal, se você
estudar a história dos grandes expoentes da sociedade, homens, mulheres, líderes que mudaram o
mundo com seu exemplo, compreenderá que URGÊNCIA e PROTAGONISMO são sempre as
marcas que os acompanham.
URGÊNCIA para não aceitar mais postergar seus sonhos e PROTAGONISMO para assumir no
dia de hoje o compromisso com a AÇÃO CONSCIENTE que o levará em direção a uma vida
repleta de sentido e alta performance.
Pessoas, empresas e até países que não sentem a urgência de mudar tendem a permanecer
“deitados eternamente em berço esplêndido”. Permanecem vivendo aquém do que são ou do que
poderiam ser, porque, em primeiro lugar, estão amortecidos e já não acreditam que exista um
mundo melhor do que aquele em que estão inseridos. E, em segundo lugar, porque não
reconhecem que, nesse filme chamado “a minha vida”, são os atores principais e também os
roteiristas do que será vivido. São eles que devem construir o mundo que esperam, em vez de
esperar que esse mundo simplesmente surja em seu horizonte.
Como diria Martin Luther King, um campeão do propósito: “Se não puder voar, corra. Se não
puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito”. Triste
não é fazer e não conseguir. Triste é parar de acreditar no valor de uma vida com propósito.
E você? Qual é o seu Ikigai? Qual motivo o inquieta e faz querer acordar todos os dias pela
manhã?
Se você já sabe a resposta, temos a certeza de que este livro o ajudará a manifestar ainda mais
seu propósito, para que ele alcance sua potência máxima. Se você não sabe, bem-vindo à
realidade de nada menos que 99% da humanidade!
Então, fica aqui o convite: vamos assumir o compromisso sincero e profundo de mudar essa
estatística?
Como?
Simples: comece por mudar a sua realidade, pois cada pessoa que acorda para o seu Ikigai é uma
luz que acende no mundo. E, temos certeza, um mundo repleto de luz não é apenas possível
como também altamente necessário.
Sumário
Parte I
CONTEXTO HISTÓRICO DO PROPÓSITO
Nossa eterna busca por propósito
Quando buscamos entender mais sobre o tema propósito, percebemos que essa é uma daquelas
palavras que entraram perigosamente na moda nessa última década. Apesar das críticas que essa
banalização vem recebendo, é preciso compreender que a razão é bastante óbvia: a falta de
propósito e sentido para o estilo de vida que levamos começa a cobrar um preço bem alto.
Entre outras coisas, estamos percebendo que, na sociedade da hiperconexão, tornamo-nos
completamente desconectados, vivendo vidas com baixíssima percepção de propósito e
sentido.
Somos, por assim dizer, uma sociedade de excêntricos, pessoas voltadas para fora, para um
mundo que está sempre distante e que se apresenta virtualmente pelas redes sociais e os meios
digitais de comunicação.
Nesse cenário, nós nos tornamos voyeurs, vivendo de observar a vida, o corpo e as conquistas
alheias, invejando aquilo que não temos e acreditando que aquelas fotos são representações
verdadeiras e fidedignas do “filme” que é a vida real.
Talvez por isso, num movimento reativo e desesperado, também passamos a produzir nossa
própria versão desse fenômeno, postando cenas tão relevantes quanto “eu e meu amor tomando
café da manhã”, “eu malhando na academia”, “eu e minhas amigas superfelizes e realizadas na
balada”.
Nessas fotos, fingimos que nossas vidas têm propósito, mascarando a tremenda falta de sentido
no restante do filme que vivemos todos os dias, com trabalhos pouco gratificantes,
relacionamentos conflituosos e a eterna insatisfação com o corpo e com os bens que possuímos.
A grande contradição é que, por meio de WhatsApp, Facebook e Instagram, as pessoas que estão
longe parecem estar perto e as pessoas que estão do nosso lado são completamente esquecidas. E
agimos assim porque quem está próximo dá trabalho, cobra atenção, quer carinho e
comprometimento de verdade. São pessoas complexas que demandam habilidades sociais que
nem sempre possuímos. Por isso é melhor focar sempre em quem está longe e se apresenta para
nós em um quadro estático, fotografado em um cenário idílico e vivendo a vida que
pretensamente gostaríamos de viver.
Todo esse movimento, se não traduz propósito para nossa vida, ao menos cria a percepção de
“estarmos bem nafoto”, podendo, com isso, imaginar que somos vistos pelos outros como
pessoas relevantes e referências de felicidade e realização. O que não percebemos é o quanto
essa ilusão pode ser um fator crucial para nos distanciar de nosso propósito.
No poema épico Odisseia, de Homero, que narra as aventuras e desventuras de Odisseu (ou
Ulisses, como foi eternizado em sua versão latina) para tentar voltar para casa (a ilha de Ítaca) e
para Penélope, o seu grande amor, existe uma passagem muito relevante, que narra quando o
protagonista aporta na ilha dos Lotófagos com a sua tripulação.
Na mitologia grega, os Lotófagos são uma tribo de uma ilha perto do Norte de África, que se
alimenta de plantas narcóticas – os frutos do lótus – responsáveis por causar um sono pacífico
aos seus habitantes, tirando-os da realidade e fazendo com que se esqueçam do tempo e do
espaço.
Três homens da tripulação são enviados, então, para investigar o local. Na ilha, eles começam a
fazer como os nativos e passam a comer o fruto do lótus. Isso provoca a distração do que
buscavam, deixando-os em um estado de torpor no qual o tempo e o espaço perdem todo o
sentido e a jornada de seu verdadeiro propósito é esquecida.
Não poderia haver melhor alegoria para o mundo em que vivemos hoje e o lótus que
voluntariamente consumimos todos os dias por meio das mídias e redes sociais.
A ilusão que esse modelo de vida está propiciando já demonstra suas consequências, pois as
estatísticas do uso desmedido das redes sociais (em especial do Instagram – rede exclusivamente
voltada para imagens) desmentem o sentimento de propósito e plenitude.
Um estudo da pesquisadora Hanna Krasnova, da Humboldt University de Berlim, demonstrou
que, em comparação às outras redes sociais, o Instagram tem essa tendência mais recorrente de
forjar uma vida perfeita. “Em uma foto, você tem sinais mais explícitos e implícitos de como é
ser uma pessoa feliz, rica e bem-sucedida do que teria a partir de uma atualização de status. A
foto provoca comparação social imediata, o que pode desencadear sentimentos de inferioridade”,
aponta em sua pesquisa. Segundo o estudo, esse sentimento gera inveja, ressentimento e, com o
uso frequente, pode causar depressão.
Outro estudo recente publicado pela revista Exame atesta que os brasileiros desbloqueiam o
celular, em média, 78 vezes ao dia. As mulheres são as que mais mexem no smartphone,
apresentando a média de 89 vezes, contra 69 dos homens. O número é maior entre pessoas de 18
a 24 anos. Elas checam seus dispositivos 101 vezes ao dia. Esses resultados são de uma pesquisa
chamada Global Mobile Consumer Survey, realizada pela consultoria Deloitte, que traz também
outros dados retratando o uso do smartphone no Brasil. O aparelho já faz parte do começo do dia
das pessoas, que o tem ligado logo nos primeiros cinco minutos após despertar – 57% dos
brasileiros assumiram ser esse um de seus primeiros hábitos do dia.
O estudo também revela que a principal atividade realizada no aparelho é bater fotos (67%),
seguida pelo acesso às redes sociais (55%) e a visualização de vídeos curtos (40%), desviando
seu propósito primário para algo que provavelmente nem passaria pela cabeça de Graham Bell.
Agora, calcule o seguinte: se cada vez que desbloquear o celular (com especial ênfase no uso das
redes sociais e no WhatsApp), você investir três minutos em seu uso, estaremos falando de um
total de 280 minutos por dia em média, ou seja, quatro horas e meia de seu dia dedicadas
para o mundo virtual.
E, como o tempo é um só, percebe-se que são essas horas que farão falta para aqueles que
realmente buscam realizar uma vida extraordinária.
Tudo isso tem trazido consequências complexas para nossa forma de viver. Por exemplo, apesar
de vivermos um momento histórico, em que as três grandes questões da humanidade estão na
maior parte superadas (as grandes fomes, as grandes epidemias e as grandes guerras), não
podemos dizer que esse estado de plenitude se converteu em percepção de felicidade.
Sobre esse fato, observamos a alarmante estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS)
apontando que cerca de 880 mil pessoas se matam no mundo a cada ano. É mais gente do que
todos os mortos em guerras, vítimas de homicídios e desastres naturais – coisas que, somadas,
tiram cerca de 670 mil vidas por ano. E um novo estudo indica que o ritmo dos suicídios está
acelerando. A Universidade de Oxford estudou o crescimento das taxas de suicídio nos Estados
Unidos, no Canadá e na Europa. Em todos os casos, elas apresentaram crescimento: 4,8%, 4,5%
e 6,5%, respectivamente. Os suicídios no mundo já vinham aumentando (o número global de
casos cresceu 60% desde a década de 1970), mas agora assumiram um ritmo mais intenso.
Ao mesmo tempo, as pessoas nunca estiveram tão sós: segundo um estudo feito nos EUA, 40%
dos adultos se consideram solitários (o dobro da década de 1980), e isso pode estar
impulsionando a depressão e as tentativas de tirar a própria vida. “Quanto maiores os laços
sociais em uma cultura, menores as taxas de suicídio”, afirma o psiquiatra Humberto Corrêa,
especializado em suicídio.
Da mesma forma, as chamadas “doenças da alma” (como a depressão e a ansiedade) viraram
pandemias globais. Nas grandes cidades, uma quantidade significativa de pessoas convive com
alguém que está usando medicamento específico para esses transtornos, se é que você também
não faz uso deles.
Hoje até se ironiza que você pode escolher entre ser deprimido, ansioso, sofrer de pânico ou
distúrbio de atenção. Mas, para ser normal, não pode afirmar que não possui nenhuma disfunção
emocional.
De acordo com um relatório divulgado pela OMS, a população brasileira é a mais deprimida da
América Latina. Essa triste constatação acaba de receber reforço de um levantamento realizado
pela SulAmérica Seguros: em seis anos, houve um salto de 74% no número de antidepressivos
adquiridos pelos segurados dessa operadora. Foram 35.453 unidades em 2010 contra 61.859 em
2016.
Há ainda outros fatores que surgem como uma resposta a um estilo de vida com baixo propósito.
Por exemplo, a hiperalimentação, um dos mais graves problemas que enfrentamos nos tempos
atuais. O ano de 2006 foi eleito o primeiro na história da humanidade no qual mais pessoas
morreram por condições ligadas à hiperalimentação do que à desnutrição e à fome.
Aprendemos a descontar nossa carência, ansiedade, depressão e falta de sentido em alimentos
ricos em açúcar. Eles são, segundo diferentes estudos, responsáveis em nosso cérebro por efeitos
similares às recompensas emocionais das chamadas drogas opiáceas.
Um estudo de 2012 com ratos, realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia
(UCLA), descobriu que uma dieta rica em frutose (o açúcar natural das frutas, usado muitas
vezes em concentrações danosas nos produtos industrializados) dificulta a aprendizagem e a
memória, ao retardar literalmente o cérebro. Os pesquisadores descobriram que os ratos que
consumiram altos teores de frutose (dissociada das fibras e antioxidantes presentes naturalmente
nas frutas) tinham danificadas as atividades sinápticas no cérebro, ou seja, a comunicação entre
as células cerebrais foi prejudicada.
Em média, um norte-americano consome atualmente 45 quilos de açúcar por ano contra 4,5
quilos que eram consumidos por um norte-americano médio no período anterior à Segunda
Guerra Mundial.
Todo esse estilo de vida traduz fatores que dificultam a construção de uma vida com propósito e
sentido para a maioria das pessoas, hoje inseridas em um cenário no qual são tratadas apenas
como meios para a sustentação de indústrias multimilionárias, que entregam prazer momentâneo
ao custo de nossa felicidade real. Porém, escolher romper com esse modelo demanda elevação do
nosso nível de consciência e clarificação do nosso propósito, que são os temas centrais deste
livro.
Sumário
Uma vida com sentido
Diante de tudo o que foi exposto e de nossa total alienação virtual, a pergunta “por que eu
existo?” vem tomando uma grande dimensão em nossa vida, surgindocomo um grito que teima
em não se calar em nossa mente e coração, que começam a perceber a futilidade e a falta de
propósito desse modelo existencial.
Ainda assim, são pouquíssimos aqueles que encontraram uma resposta satisfatória para essa
fatídica questão ontológica. Para ser mais exato – levando em conta os trabalhos de mais de mil
coaches formados pela metodologia Ikigai e outras pesquisas acadêmicas –, essa pergunta está
satisfatoriamente respondida por menos de 3% da população. E a coisa fica pior: dentre as que
reconhecem, menos de 10% têm um plano para viver ou colocar em prática seu propósito.
Ou seja, neste exato momento, menos de 1% da humanidade está vivendo uma vida
SIGNIFICATIVA e repleta de PROPÓSITO. Se formos levar essa questão para o campo da
estatística, isso significa dizer que, dentre as atuais 7,2 bilhões de pessoas existentes sobre a
Terra, aproximadamente 35 milhões estão vivendo seu propósito.
Para muito além de indagarmos se esse número é pequeno ou não (o que me parece bastante
óbvio), gostaríamos de direcionar essa questão para a verdadeira pergunta a que devemos
responder com este livro: Você é uma delas?
Você sente, neste minuto, que sua vida é plena, significativa e que está aplicando hoje seu
propósito e potencial máximo?
Se levarmos em conta a estatística, acreditamos que infelizmente sua resposta deva recair sobre o
não, assim como acontece com 99% da humanidade.
O triste é que para a maioria das pessoas a justificativa para não viver o seu propósito está em
fatores externos, e não nas escolhas que norteiam seu modelo mental ou mindset. Mas –
pressupondo que você não esteja vivendo em uma zona de guerra ou de profunda exclusão social
– essa não é uma justificativa plausível, pois veremos neste livro que as pessoas que apresentam
maior sentido de propósito no mundo não são necessariamente aquelas que têm tudo de que
precisam ou que conquistaram o maior reconhecimento social.
Neste livro você entenderá que propósito não é algo que se conquista ou encontra: propósito
é algo que se reconhece!
Qual é a diferença? Conquistamos coisas que são novas e que estão fora de nós. Encontramos
coisas que perdemos. Por outro lado, reconhecer significa “conhecer novamente”, o que traduz a
ideia de que o seu propósito é algo que já está em seu coração e o acompanha como uma voz de
fundo em sua consciência. Assim, ele se manifesta quando você tem a coragem de acessar seu
coração para se fazer a mais importante das perguntas: Que sentido quero dar para a minha
existência neste planeta?
Mark Twain dizia que os dois dias mais importantes na vida de um ser humano são quando ele
nasce e quando descobre por que nasceu. Por isso acreditamos que o segundo dia mais
importante da vida da maioria das pessoas sobre a Terra ainda está por acontecer.
Porém, se quisermos entender por que nascemos – resposta que conduzirá ao reconhecimento de
nosso propósito –, precisamos aprender a mudar as perguntas que nos fazemos.
Quando você era criança, seus pais provavelmente lhe fizeram aquela fatídica pergunta: O que
você quer ser quando crescer? Então você cresceu e, se foi afortunado e disciplinado,
encontrou uma profissão. Apesar disso, é muito provável que ainda esteja em busca desta
resposta: Qual é o meu propósito?
Isso acontece porque uma profissão não é o que você quer ou vai SER, mas sim uma das
formas pelas quais pretende manifestar seu propósito ou essência.
Por isso, nem sempre uma pessoa consegue encontrar seu propósito em uma profissão. Quando é
assim, percebe-se que sua essência (O QUE VOCÊ É) não está em sintonia ou dialogando com o
que você faz. Nesses casos, é provável que POR QUE você faz esteja muito menos claro do que
O QUE e COMO você faz. E todo trabalho que não é a manifestação de um propósito acaba por
ser pobre e de pouco valor para quem o realiza, o que justifica os dados assustadores de outra
pesquisa, de que em média 80% das pessoas são infelizes com seus trabalhos.[1]
Porém, se entendemos o PORQUÊ inserido no que fazemos, prontamente compreendemos que
temos muito mais do que um trabalho ou até uma profissão: somos agentes de uma CAUSA que
se materializa em tudo o que somos e fazemos.
São as pessoas que trabalham por um PORQUÊ aquelas que se enquadram no universo dos 20%
de seres humanos realizados com seus trabalhos. Ou, como preconizado pelo sábio chinês
Confúcio: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”.
Considerando esse fato, fica claro que, para atingirmos esse nível de compreensão e realização, é
necessário antes de tudo recodificar nossa relação com o trabalho.
1. Tendências Globais de Capital Humano, 2018, Deloitte.
Sumário
Trabalho e nossa identidade
Em uma sociedade obcecada pelo trabalho, não à toa a pergunta de nossos pais é orientada ao
fazer, no lugar do ser. Munidos de ótima intenção, eles tentaram estimular você a encontrar uma
carreira sólida para que pudesse ganhar a vida de forma digna. Sem perceber, você passou a
viver esse mito, ao acreditar que a vida é feita para ser “ganha ou perdida”.
Se sua resposta a eles foi “eu quero ser médico ou advogado” (se é que existem crianças que
sonharam um dia em ser advogados), tudo ficou muito bem. Mas talvez não tenha tido a mesma
receptividade se disse “quero ser músico ou bailarina”.
O que nossos pais não sabiam é que a profissão não é o nosso propósito, mas uma forma que
usamos para expressar o que seria o nosso propósito. Por isso, quando uma criança diz que quer
ser médico, ela na verdade quer dizer que se sente motivada a salvar vidas. E talvez seja
justamente esse o motivo pelo qual muito mais crianças dizem querer ser bombeiros do que
advogados. Para elas, é muito mais fácil perceber o valor do trabalho de um bombeiro pelo bem
que eles propiciam.
Portanto, para construir uma sociedade na qual o propósito surge na vida de seus integrantes,
precisamos rever a maneira como entendemos o trabalho, estimulando as pessoas a perseguir o
seu propósito. Esse é, no fundo, o elemento por trás da diferenciação dos grandes profissionais.
Os pais ajudariam muito mais seus filhos a reconhecer seu propósito e a se diferenciar em suas
futuras profissões se fizessem perguntas como: Que causa você quer transformar no mundo
quando crescer?
Se uma criança for estimulada a responder a essa pergunta, estará andando a passos largos em
direção ao seu propósito, pois ele se manifesta não pelo foco nas metas que temos para nossas
vidas, mas sim pela certeza de que nossa atuação contribuirá com a vida de outras pessoas.
Além disso, o foco no “ganhar dinheiro” e no “buscar estabilidade” é um medo que os adultos
transferem para as crianças, limitando assim seu potencial e roubando o futuro sentido de suas
vidas. Até porque essas são crenças pautadas em medos e não em potencialidades, sendo que não
se vive uma vida significativa partindo do medo. Pense que estrago teria sido se os pais de Steve
Jobs o tivessem convencido a “buscar estabilidade”!
Muito mais do que isso, quando os pais agem assim, estão criando na criança o sentimento de
que trabalhar é um fardo. De que o trabalho deve ser assumido com medo e baseado em escassez
e não com foco em abundância, em gerar valor para o mundo e para a vida da própria pessoa.
Sendo assim, para mudar essa realidade, precisamos entender que trabalho, quando manifestação
do propósito, não é e nem precisa ser um castigo. A própria origem do termo, no entanto, trouxe
de fato um peso negativo à palavra no inconsciente coletivo: trabalho vem de um instrumento de
tortura romano denominado de tripalium – três paus no qual se pendurava como castigo o
escravo que não queria trabalhar.
Fica evidente na origem dessa palavra por que o trabalho sempre foi visto no Ocidente como
uma “punição”, algo que só fazemos pelo fato de sermos obrigados. Com esse modelo mental, é
difícil conseguirmos correlacionar o ato de trabalhar com a ideia de felicidade e realização
pessoal.
Na Idade Média, houve uma leve mudança nesse cenário, com a introduçãodo trabalho como
fator de enobrecimento do homem, com a Igreja e os nobres preconizando suas virtudes. Tudo
faria muito sentido, não fosse um único fato: ambos não trabalhavam, vivendo dos tributos que
cobravam pelo trabalho alheio. Nesse cenário, o trabalho continuava a ser de “grande mérito”
para aqueles que precisavam dele e não tinham ninguém que os pudesse sustentar.
Do latim, o termo passou para o francês como travailler, que significa “sentir dor” ou “sofrer”.
Com o passar do tempo, a palavra passou a significar “fazer uma atividade exaustiva” ou “fazer
uma atividade difícil e dura”. Só no século 14 começou a ter o sentido genérico que hoje
atribuímos, qual seja, o de “aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) humanas
para alcançar determinado fim”.
Mas foi pelos adventos do protestantismo e, principalmente, do calvinismo que, segundo o
sociólogo Max Weber[2], a relação com o trabalho começou a mudar, ganhando uma conotação
mais nobre. Mesmo assim, a abordagem do fardo do trabalho, do olhar punitivo de Deus sobre
quem não trabalha, já se fazia presente – e não a do prazer. Basta lembrar a punição que Adão
recebe por sua desobediência, quando Deus lhe impõe o trabalho: “ganharás o pão com o suor do
teu rosto” (Gênesis 3:19).
E são esses elementos que continuam presentes e estão na base de nosso entendimento do
trabalho até hoje. Isso é fácil de perceber quando lembramos que boa parte dos brasileiros tem
como principal sonho ganhar na loteria para parar de trabalhar. Além disso, em nossa cultura,
vemos o resultado primário do trabalho – o dinheiro – como algo negativo.
No Brasil, quando se fala em salário, a pergunta que fazemos é: Quanto você GANHA por
MÊS? Já nos Estados Unidos, a pergunta será: Quanto dinheiro você FAZ por ANO? (No
inglês: “How much money do you make a year?”.)
Nessa simples forma de perguntar, vemos a diferença de pensamento, uma vez que o dinheiro
para o norte-americano é fruto do MÉRITO PESSOAL e para muitos brasileiros é fruto da
BENESSE DO PATRÃO. Além disso, pensar em termos de ganhos anuais demonstra um
comprometimento de longo prazo com sua própria carreira e planos pessoais. Já no Brasil,
trabalhamos para “pagar as contas do final do mês”. Por isso, não conseguimos compreender que
FAZER DINHEIRO é uma das manifestações primárias de nosso Ikigai (como será demonstrado
na mandala Ikigai), pois quanto mais claro está o nosso PROPÓSITO, maior é a perspectiva de
transformar nossa atuação em VALOR, algo que no final se manifesta igualmente em retorno
financeiro.
A segunda palavra que norteia nosso vocabulário de associação do trabalho ao sofrimento é o
elemento ao qual todos os empreendedores do mundo estão associados, tentando desenvolver o
seu “negócio”. Aqui, novamente, a dor e a privação se fazem presentes, uma vez que a origem da
palavra negócio está associada a “aquilo que nega ou priva o ócio”.
Na Grécia Clássica, as atividades intelectuais realizadas pelos bem-nascidos eram chamadas de
“ócio”, que naquele tempo não era entendido como “o pai de todos os vícios” (outra herança da
doutrinação da Igreja Medieval). Pelo contrário, ter tempo para o ócio era o que se esperava de
um homem de bem, sendo esse tempo dedicado ao desenvolvimento das virtudes do corpo, da
mente e do espírito.
Para Platão, o ócio é o pai da Filosofia, porque só quem tem tempo livre consegue dedicar-se ao
pensar filosófico. Já Aristóteles reforça que “somos ativos a fim de ter ócio”, definindo
claramente que o objetivo do trabalho ou do empresário é financiar seu tempo livre, em uma
visão muito pequena que reitera a falta de sentido e propósito do trabalho em si.
Por isso, naquela época, todo o trabalho ficava a cargo dos escravos ou dos comerciantes
estrangeiros que não possuíam cidadania grega (os metoikos) e, portanto, não podiam ter terras e
direitos de cidadão. Ou seja, os negócios estavam nas mãos daqueles que não podiam gozar do
ócio!
Agora, precisamos entender como essas crenças continuam operando em nossa sociedade e por
que devemos transcendê-las para vivermos uma vida com propósito.
2. Weber, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Companhia das Letras.
Sumário
O propósito e o trabalho
Cada época de nossa história tem seus dilemas. História é, por definição, a ciência que estuda o
passado para compreender o presente e melhor planejar o futuro. Portanto, nossa viagem
histórica tem o claro objetivo de nos fazer entender nosso momento presente e o quanto podemos
criar uma nova visão sobre a vida e o propósito para o futuro.
Agora, fica a pergunta: Por que o estudo do trabalho e do empreendedorismo é fundamental para
o tema do propósito?
O problema é que, na sociedade moderna, a busca pelo sentido na vida está profundamente
ligada ao entendimento de QUEM SOMOS (nossas crenças, relacionamentos, cultura, formação
etc.), mas também em boa parte a O QUE FAZEMOS (profissão, vocação, trabalho, lazer etc.).
Além disso, em uma sociedade acima de tudo consumista, passamos a acreditar que o que
SOMOS está diretamente ligado ao que TEMOS. Por isso, para ter mais, precisamos trabalhar
mais – uma conta que aparentemente nunca vai fechar.
Assim, a percepção sobre nossa RAZÃO DE SER dificilmente estará completa se não
encontrarmos consonância entre o que somos e o que fazemos. Em outras palavras, em um
mundo no qual nossa identidade apresenta uma profunda correlação entre o ser humano e seu
trabalho (talvez um vício da sociedade industrial), são poucas as pessoas que se sentem felizes e
com seu propósito realizado sem ter compreendido e correlacionado aspectos pessoais e
profissionais. E, talvez, não tenha como ser diferente disso no atual modelo social que adotamos,
considerando-se que a maioria das pessoas que estão empregadas investe de forma direta ou
indireta mais de dez horas por dia no que realiza (contando com deslocamento, almoço de
trabalho e horas extras).
Como podemos, então, encontrar sentido e propósito para nossa vida por meio da atividade que
desempenhamos, se o inconsciente coletivo da sociedade em que vivemos correlaciona o ato de
trabalhar e empreender a sofrimento, privação e dor?
Por isso, a mudança que almejamos deve passar por uma ressignificação do trabalho, tornando-o
mais do que um meio para prover coisas e pagar contas. Visamos elevá-lo à categoria de uma
atividade que permite a manifestação de nosso verdadeiro self, algo que realizamos com prazer
por ser um meio de aplicarmos nossa missão sobre o mundo.
É por essa falta de sentido no trabalho que muitas pessoas no Ocidente vivem a pensar em suas
aposentadorias, momento no qual “finalmente farão aquilo que desejam”. O que elas não
entendem é que existem três coisas na vida que dificilmente andam juntas: tempo, energia e
dinheiro.
Quando jovens, temos tempo e energia, mas provavelmente não temos dinheiro. Quando adultos,
podemos ter dinheiro e energia, mas já não temos tempo. Na velhice, se tudo deu certo, temos
tempo e dinheiro, mas já não temos energia. Por isso, condicionar a felicidade a uma
circunstância e a um momento ideal no qual tempo, energia e dinheiro estarão presentes é um
caminho bastante óbvio para o sofrimento e a frustração.
Como nos lembra o ex-presidente uruguaio José Mujica, o único bem que de fato possuímos é o
tempo. Por isso, temos que ser sábios ao escolher trocá-lo por outros bens, pois essa troca tem
que gerar o sentimento de que o tempo não foi desperdiçado.
Nesse contexto, a visão Ikigai do trabalho traz algo de novo, ao propor que a felicidade não está
necessariamente associada ao que você faz, mas principalmente com a sua atitude dentro daquilo
que faz. Com orientação à clarificação do propósito, trabalhamos para que pessoas descubram
POR QUE FAZEM O QUE FAZEM, encontrando sentido no tempo que dedicam para as
diferentes atividades que realizam.
Para concluirmos o entendimento histórico de nossa relação com a busca do propósito, daremos
uma volta para entender a Revolução Industrial e a sociedade pós-industrial, bem como suas
influênciassobre o tema.
Sumário
Saindo da matrix
Queremos começar esta conversa com uma pergunta.
À sua frente, estão duas pílulas: uma azul e outra vermelha. Qual você escolhe?
Se escolher tomar a pílula vermelha, você acordará para a realidade e entenderá o que de fato é o
mundo à sua volta. Se escolher a azul, continuará com a vida que hoje vem vivendo sem saber
qual é a verdade, porém com um sentido assintomático de falta de propósito.
Mas escolha com sabedoria, pois, se escolher a vermelha, advertimos que não estamos afirmando
que a realidade é bonita: é apenas a verdade!
Você reconhece essa cena?
É a fala de Morpheus para Neo, o protagonista do filme Matrix, das irmãs Wachowski – talvez, a
melhor metáfora sobre o mundo de ilusão que a Revolução Industrial criou para a humanidade.
Nesse icônico filme, os seres humanos são usados como recurso energéticos para a manutenção
das máquinas – as verdadeiras mestras do mundo –, mantidos em um sono profundo dentro de
uma realidade virtual que os impedem de perceber que são escravos.
Morpheus (referência ao deus grego dos sonhos) é justamente aquele que acorda as pessoas desse
sonho, trazendo-as para a realidade. E quem acorda, quando está na matrix, passa a atuar como
um ser com plenos poderes, com habilidades muito maiores que os humanos convencionais,
porque reconhece que no fundo está atuando em um mundo que é uma ilusão.
Já Neo é um nome que faz referência justamente a esse “novo homem”, a pessoa que despertou e
reconheceu a ilusão desse mundo, estando apto agora a assumir com PROTAGONISMO seu
papel na construção de um novo mundo. O poder de Neo advém da sua capacidade de transitar
pela matrix sem se autoidentificar com essa realidade virtual. Neo e os outros despertos não são
escravos, por isso podem subverter a ordem do sistema por meio de sua consciência.
Toda essa metáfora é análoga ao conceito de sansara, que na filosofia indiana é atribuído ao fato
de o mundo ser uma ilusão. Da mesma forma, o termo “buda” não se refere a uma pessoa
histórica, sendo antes um título para a pessoa que rompeu com a prisão do sansara ou, como é
dito, uma pessoa que se iluminou.
Por todos esses aspectos e outros (Matrix mereceria um livro inteiro só sobre o que nos ensina), o
filme é perfeito em demonstrar o preço de despertar da ilusão, pois todo aquele que acorda será
tratado pelo sistema como um invasor. Porém, se o custo de acordar é alto, mais alto ainda é o de
permanecer desacordado.
A realidade não é muito diferente disso. Se hoje apenas 1% das pessoas pode dizer que está
vivendo seu propósito, isso em boa parte está associado a dois aspectos:
Dentro da matrix, todos se comportam como agentes do sistema (Agente Smith), evitando
que qualquer um acorde e ganhe liberdade. Fazem isso, muitas vezes, repletos de boas
intenções e movidos pelos medos que a própria matrix os programou para manifestar.
A máquina devoradora de nossa humanidade chamada indústria precisava de gente alienada
que se submetesse ao seu modelo de trabalho, sem o qual até então seria impossível
continuar a produzir.
Recentemente tive a oportunidade de assistir a um documentário sobre o uso da burca nos países
muçulmanos mais radicais. No documentário eram apresentados relatos de mulheres que
simplesmente nunca mostraram seu rosto em público, submetidas a um sistema de repressão que
chega a tratar mulheres estupradas como criminosas. No entanto, o que mais me assustou com
tudo o que vi está associado a um fato: quem impõe o uso da burca e a manutenção de todos
os costumes opressivos contra as mulheres são, principalmente, as mulheres!
Por mais incrível que pareça, são as mulheres dentro desse sistema de repressão que exigem que
as outras mulheres obedeçam a essa lei, justificando seus benefícios segundo uma visão
doutrinária distorcida que sobre elas foi imposta e que hoje passa a atuar como seu filtro para a
realidade. Sem nenhum tipo de julgamento moral, meu coração se encheu de tristeza ao ter a
mais absoluta certeza de que, num mundo em que as pessoas se tornaram escravas, elas mesmas
passam a agir como agentes que escravizam outras.
Em casos tão extremos como esse, naturalmente nos chocamos com as escolhas dessas
sociedades. Porém, será que somos capazes de perceber que, em grande medida, nossas ações
não são assim tão diferentes?
O palestrante sobre educação Sir Ken Robinson propõe um teste que pessoalmente já validei com
uma experiência prática. Em sua palestra (uma das mais assistidas do TED), ele afirma: “Se você
entrar em uma sala com crianças de até sete anos de idade e perguntar quem é o melhor aluno da
sala, todos dirão EU, mesmo sem o ser. Agora, se fizer o mesmo teste em uma sala com alunos
de doze anos de idade, todos apontarão para uma pessoa na sala”. O alerta que Ken nos faz é de
que criamos um sistema educacional (coordenado por professores e pais) que simplesmente mata
a autoconfiança, a criatividade e o sentido de propósito das crianças, moldando-as aos padrões de
conformidade que a indústria exigiria para seus trabalhadores.
Munidos das melhores intenções, pais continuam a dizer para crianças muito novas que elas
devem pensar seriamente em trocar PROPÓSITO por ESTABILIDADE, repetindo um padrão
que claramente não serviu para eles próprios. E o fazem por um simples motivo: querem evitar
que seus filhos sofram. Não percebem, porém, que agindo assim estão criando as bases de
boa parte do sofrimento de seus filhos na fase adulta.
No mundo daqueles libertos da matrix, a forma de comunicação muda da AFIRMAÇÃO para a
PERGUNTA (competência associada ao modo de pensar de um coach), desenvolvendo pessoas
que são emocionalmente inteligentes para bancar O PREÇO DE SUAS ESCOLHAS e sabem
construir suas próprias respostas.
Feliz ou infelizmente, know-how e experiência de vida não se transferem, segundo a teoria que
foi profundamente validada por Jean Piaget. O pai da pedagogia moderna dizia que “inteligência
é tudo aquilo que você usa quando não sabe a resposta”. Assim, o papel dos pais e professores
deve ser justamente o de contribuir para que as crianças tenham a curiosidade e a determinação
para construir suas próprias respostas.
Após trabalharmos com vários profissionais que fizeram concurso público e hoje são regiamente
remunerados e usufruem da tal estabilidade, entendemos muito bem que toda escolha tem seu
preço. Conhecemos profissionais muito felizes com o que realizam, porque escolheram a vida de
funcionários públicos com base em um propósito. Mas também conhecemos pessoas
profundamente infelizes, porque escolheram essa profissão pensando apenas em estabilidade e
remuneração, focando somente no que esperavam ganhar, e não em um sentido de contribuição.
Tudo isso nos leva a perceber que a estabilidade e o dinheiro não são, por si só, garantias da falta
de sofrimento. Por essa razão, no mundo da matrix, quando um jovem diz ao pai que quer ser
músico ou bailarino, a resposta que ouve é: “Você está louco, menino? Isso não é profissão de
gente séria e nem dá dinheiro!”. Naquele momento, pela força moral que a autoridade de um pai
ou mãe exerce sobre uma criança, nasce um forte sentido de conformidade e desejo de agradar, o
que tende a matar o propósito, gerando uma percepção de inadequação: “Meus pais não me
amam pelo que sou e preciso me tornar algo que eles possam amar!”.
Já no mundo fora da matrix, pais que acordaram perguntam para seus filhos: “Que bacana. Por
que você quer ser músico? Como sua escolha ajudará outras pessoas? Você está preparado para
se dedicar e enfrentar as dificuldades que existem em QUALQUER PROFISSÃO? Qual será seu
nível de disciplina e comprometimento para ser um músico extraordinário?”.
No mundo da matrix, tendemos a achar que algumas profissões são melhores e mais seguras do
que outras. Segundo Ken Robinson[3], essa mentalidade traz as profissões de exatas e algumas
biológicas no topo, as de humanas em segundo lugar e, em último lugar e com baixíssimo valor,
as de artes.
Portanto, ao agir assim, mesmo sem saber, esses pais nãoapenas estão aprisionando seus filhos,
mas preparando-os para uma regra que já está completamente superada. Não conseguem
entender o mundo que se apresenta neste momento e para o qual esse antigo paradigma
simplesmente não serve mais. Formam também a ideia de que é a profissão – e não a paixão, a
disciplina e a excelência – a chave para o sucesso, modelando seus filhos para uma atitude de
mediocridade (estar na média) diante da vida.
No lugar de formar seus filhos para o mundo do futuro, esses pais os prendem – pois eles
próprios estão presos – no mundo do passado, podendo gerar consequências terríveis para as
próximas gerações.
Vamos então entender que mundo é este e por que IKIGAI, INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e
foco no PROPÓSITO são as respostas de que tanto precisamos?
3. Robinson, Ken. O Elemento-chave. Ediouro.
Sumário
O mundo industrial que já está morto
O que você falaria se seus filhos dissessem que querem ser historiadores, filósofos,
matemáticos ou até que não pretendem fazer faculdade?
Provavelmente, no mínimo, torceria o rosto e tentaria se conter para não soltar aquele
“estimulante” comentário: “Você está maluco?”.
E se disséssemos que essas são três das profissões que mais formaram bilzionários no mundo,
segundo pesquisa do site norte-americano Go Compare, com base em um estudo de vinte anos
dos mais ricos da revista Forbes?
Se parar para tentar entender a razão desse fenômeno, você perceberá que em todos os casos
estamos falando de uma mesma habilidade, presente na base dessas formações, ou até na falta de
qualquer formação: capacidade analítica, visão sistêmica e desejo de pensar de forma livre e
estruturada, isto é, a habilidade de QUESTIONAR O STATUS QUO! Exemplos renomados
desse estilo são Steve Jobs, Bill Gates e Sir Richard Branson, alguns dos bilionários que não
fizeram ou concluíram a faculdade.
Não estamos aqui estimulando ou dizendo que uma formação superior não é válida e importante.
Estamos apenas afirmando que qualquer pessoa, para ter êxito na vida e para continuar
acreditando em seu propósito, precisa sobreviver ao modelo educacional que mata a curiosidade,
o empreendedorismo e o livre pensamento.
Além disso, na nova visão, a educação deve estar menos associada à empregabilidade e muito
mais ao prazer de aprender ou ao autoconhecimento. É senso comum que a marca dos grandes
profissionais é o desejo de continuamente aprender, e a visão utilitarista da educação não
estimula essa habilidade ou percepção prazerosa sobre o estudo. Então vamos entender os
problemas associados ao modelo da educação atual e como ele matou essas habilidades críticas,
para compreender as mudanças que estão ocorrendo neste minuto no mundo e como o propósito
é parte fundamental dessa metamorfose.
Todo esse cenário começou no início da Revolução Industrial (1760 - 1840) com a mudança do
formato de trabalho de uma geração que era predominantemente agrícola para outra, que tinha
que aceitar trabalhar em uma fábrica. Nesse contexto, consolidou-se o conceito de especialização
fortemente defendido por Adam Smith (pai do liberalismo)[4]. Segundo Smith, no trabalho ideal,
cada pessoa focaria em uma parcela do que seria realizado, aumentando assim exponencialmente
a produtividade. Naturalmente, a ideia teve méritos e se mostrou verdadeira para gerar o máximo
de produtividade, levando a uma abundância de bens de consumo a preços mais baratos, que até
então era desconhecida pela sociedade humana.
Se esse foi o benefício que a Revolução Industrial trouxe, é importante entender também seus
males:
Abrimos mão do sentido e da conexão com o que realizamos, passando a atuar apenas como
a engrenagem de uma enorme cadeia produtiva;
Fomos doutrinados a não questionar o que produzimos e nem nosso papel nessa
engrenagem, para que o resultado final fosse o mais produtivo possível. Na visão industrial,
quanto mais próximo de um robô um ser humano se torna, mais produtivo será. Agora, com
o advento da indústria 4.0 (fortemente robotizada e inteligente), esse humano que não sabe
pensar se torna dispensável e obsoleto;
Desaprendemos a trabalhar em equipe e abrimos mão de nossa inteligência emocional, pois
toda a interface do ser humano estava orientada para a máquina. Hoje, boa parte dos
problemas em ambientes de trabalho está associada a essa inabilidade;
Passamos a entender que trabalhamos para ganhar um salário, e não para ter propósito ou
felicidade. Como exemplo, uma vez, vendo um funcionário triste, Henry Ford foi
categórico: “Eu não pago você para ser feliz. Eu o pago para trabalhar!”;
Aprendemos a ser monitorados por chefes, pois o trabalho sem amor e propósito nos leva a
tentar fugir ou evitar trabalhar sempre que possível. Nos tornamos cronicamente
dependentes de sistemas de controle (“bater o ponto”), pois não temos maturidade para
realizar a autogestão.
Realizar essa transição de forma voluntária não seria fácil, pois o homem do campo não aceitaria
tantas regras alienantes. Foi preciso então que a indústria lançasse mão de um poderoso aliado
nesse processo de doutrinação: a educação. Para tanto, a indústria contribuiu para que a escola –
até então destinada somente para os ricos – se tornasse popular e até gratuita, permitindo levar
seu estilo de vida para as massas.
Você já notou as similaridades entre o formato de educação ainda vigente e a indústria? Não?
Então, analise este comparativo proposto por Domenico De Masi[5].
NA INDÚSTRIA NA EDUCAÇÃO
USAMOS UNIFORME USAMOS UNIFORME
TEM HORÁRIO E SINAL DE
ENTRADA TEM HORÁRIO E SINAL DE ENTRADA
TEM INSPETORES TEM INSPETORES
PRODUZIMOS COISAS SEM SABER
O MOTIVO
APRENDEMOS MATÉRIAS E NÃO SABEMOS
O MOTIVO
NÃO SE QUESTIONA OS CHEFES NÃO SE QUESTIONA OS PROFESSORES
NÃO HÁ ESPAÇO PARA A
FELICIDADE NÃO HÁ ESPAÇO PARA A FELICIDADE
ERROS SÃO CASTIGADOS ERROS SÃO CASTIGADOS
FOCO NO QUE TEM QUE
MELHORAR FOCO NO QUE TEM QUE MELHORAR
LINHA DE PRODUÇÃO CARTEIRAS EM LINHA
ZERO INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
E CRIATIVIDADE
ZERO INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E
CRIATIVIDADE
INTERAÇÃO DO
TRABALHADORCOM A MÁQUINA
INTERAÇÃO DO ALUNO COM O CADERNO E
O QUADRO NEGRO
Figura 1 – Indústria x escola.
Repare que isso não acontece só no colégio. Alunos das universidades são conformados a
produzir teses de conclusão de curso (TCCs) sem manifestar qualquer opinião ou ponto de vista
próprio. Afinal, são somente alunos, termo cuja origem significa literalmente “criança de peito”,
“lactente” ou “filho adotivo” (do latim alumnus, derivado do verbo alere: alimentar, sustentar,
nutrir, fazer crescer). Daí o sentido de que aluno é uma espécie de lactente intelectual, pois
depende do saber dos mestres.
Com esse tipo de visão, os alunos seguem sua trajetória acadêmica alienante. Então, quando
chegam ao mestrado, o fenômeno se repete, tendo que produzir teses com base no trabalho de
doutores. Porém, quando concluem o doutorado, espera-se que agora sim estejam aptos para
produzir conhecimento “novo e relevante” para o bem da sociedade.
Com toda honestidade, você acredita que alguém que passou a vida toda sendo doutrinado a
reproduzir e requentar conhecimento, que aprendeu que seu pensamento não tem valor e que foi
alienado de suas habilidades críticas estará, após tantos anos de formatação, apto a inovar ou
dizer algo de novo? É por isso que nas universidades que ainda estão presas a este modelo vemos
a produção de “um museu de grandes novidades”, com acadêmicos que podem ser muito
consistentes sem ser nada inovadores. São ambientes em que as teses de doutorado são lidas, em
média, pelo incrível número de cinco pessoas, sendo narradas em uma prosa desinteressante que
busca mostrar erudição, no lugar de dialogar com quem as lê.
Isso acontece porque, quando o modelo de educação atua nesse formato, passa a formar pessoas
cujo objetivo não é criar, mas sim defender paradigmas e ideias antigas que lhe custaram muito
caro para adquirir.
Cem anos depois de esse modelo educacional entrar em vigor (somado aos rigores do padrão de
educação militar extraído da Prússia, que também está em suabase), chegamos finalmente ao
formato ideal de aluno: um alienado obediente, que sabe reproduzir com exatidão o que lhe
foi determinado, mas que não tem nenhuma habilidade para criar ou ser disruptivo.
Em uma sociedade alienada, todos os elementos se tornam fatores dessa alienação. Note como
alguns elementos colaboraram com essa transição para o modelo industrial:
A moda – O relógio de pulso surgiu para permitir que o trabalhador “cuidasse da hora”,
estando pontualmente em seu trabalho. Na sociedade agrícola, o trabalho era dividido em
ciclos, e não em horas e minutos. Já os compromissos sociais eram sem hora determinada e
com longa duração. No entanto, apesar desse categórico “controle do tempo”, nunca antes
demos tão pouca atenção ao uso desse recurso para a busca de nosso propósito;
O café – Foi um hábito estimulado para que as pessoas ficassem “ligadas” e parassem de
beber cerveja às nove da manhã, como era comum na Inglaterra antes da Revolução
Industrial. Atualmente, estamos “ligados” em nossos cérebros, mas “desligados” de nosso
coração;
Os restaurantes – Reunir-se em família passou a ser visto como “perder tempo” e cozinhar
seria um hábito contrário ao interesse industrial, pois “tempo é dinheiro”. As coisas que
geravam sentido foram substituídas de forma obsessiva pelas atividades que geravam
resultados;
O consumo – O hábito de consumir muito criou um ciclo fantástico para toda a indústria,
inclusive para a indústria da saúde (ou seria da doença?), que agora podia vender
medicamentos para todas as mazelas desse estilo de vida. Continuamos a acreditar que o
próximo carro, aquela roupa de grife e outros mimos e bens de consumo serão um dia
realmente capazes de gerar felicidade genuína para nossa vida.
Ainda que esse modelo esteja vivo e operante, não há dúvidas de que já começa a demonstrar seu
fracasso e sinais de cansaço. Neste exato momento, por meio das STARTUPS, da
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, da ECONOMIA COLABORATIVA e do CAPITALISMO
CONSCIENTE, surge uma revolução que promete transformar em dinossauros quaisquer
pessoas e organizações que não estejam preparadas para inovar e se adaptar.
Vamos agora conhecer esse movimento e sua relação com o propósito.
4. Smith, Adam. A riqueza das nações. Juruá.
5. De Masi, Domenico. O ócio criativo. Sextante
Sumário
O nascimento da sociedade pós-industrial
Um novo mundo está nascendo e hoje, sem perceber, boa parte das pessoas está passando por
uma grande revolução que poderá nos engolir ou libertar. A questão não é se gostaremos dela ou
não, mas sim como assumiremos as suas rédeas para obter dela o melhor.
Martin Luther King disse: “O que me surpreende não é a eloquência dos maus, mas sim o
silêncio dos bons”. O alerta que King nos faz é que o mundo em que vivemos é fruto de nossas
escolhas, e a pior ilusão está na ideia de que não podemos fazer nada para mudar nossa realidade.
Então, se ela parece não mudar para melhor, é unicamente porque aqueles que têm consciência
nem sempre têm ação. Por outro lado, as pessoas de baixa consciência são bastante barulhentas.
A essa revolução que nasce dá-se o nome de sociedade pós-industrial ou, como foi chamada por
Alvin Toffler[6] , “a terceira onda”. Esse advento foi definido por Daniel Bell, professor emérito
da Universidade de Harvard, no ano de 1973. Ele percebeu que a sociedade que nascia seria
marcada por:
um rápido crescimento do setor de serviços, em oposição ao manufaturado;
um rápido aumento da tecnologia de informação, levando ao surgimento da Era da
Informação;
o conhecimento e a criatividade como matérias cruciais das novas economias.
Porém, o que poucos entenderam com base nessa tendência é que, se a sociedade mudaria da
indústria para o serviço e da manufatura para o uso massivo de tecnologias e da informação, um
novo homem precisaria surgir para se adaptar e dar conta dessa demanda. Ou seja, se as regras
do jogo estavam mudando, as escolas que formavam os jogadores (a família, o colégio, as igrejas
e a sociedade) também precisariam mudar.
Veja a comparação entre os valores industriais e pós-industriais proposta por Daniel Bell no livro
O advento da sociedade pós-industrial[7] e entenda o cenário que agora enfrentamos:
CULTURA
INDUSTRIAL
CULTURA PÓS-
INDUSTRIAL
CONTROLE COLABORAÇÃO
ESTRUTURA PIRAMIDAL ESTRUTURA EM REDE
REGRAS CLARAS REGRAS LÍQUIDAS
SABER DURÁVEL SABER MUTÁVEL
PODER AUTORIDADE
FOCO NO PRODUTO FOCO NO SERVIÇO
FOCO NO PADRÃO FOCO NA CUSTOMIZAÇÃO
VALORIZA O QI VALORIZA O QE
CONHECIMENTO! SABEDORIA!
SER COMPETENTE SER ÚTIL (PROPÓSITO)
Figura 2 – Cultura industrial x Pós-industrial.
Você consegue perceber que todos os valores preconizados pelas antigas tradições estão agora
em xeque?
Ainda assim, para que a mudança de um paradigma aconteça em escala global, geralmente é
necessário que ocorra uma grande crise. As crises são processos que vêm para nos alertar sobre
algo errado. Continuar na mesma direção é, se não impossível, no mínimo desaconselhável.
A maioria das pessoas já percebeu que estamos vivendo essa crise, seja no contexto ambiental,
de valores ou de propósito – essa última intensificando-se a cada dia em nossa vida. O que
muitos ainda não sabem, talvez você também não, é que essa crise é a manifestação de uma série
de fatores relacionados à mudança do modelo industrial para o pós-industrial. Quando somados,
esses fatores deflagraram a existência de uma condição denominada de MUNDO VUCA,
responsável pelo desconforto que vivemos hoje.
VUCA é um acrônimo originário do vocabulário militar norte-americano e sua utilização mais
massiva teve início no final da década de 1990. Com o tempo, foi incorporado às ideias de
liderança estratégica e aplicado por muitas corporações e empresas mundo afora, por entenderem
que é uma representação exata do ambiente em que nos encontramos atualmente.
Fazer frente a ambientes ameaçadores foi o que impulsionou o US Army War College a criar um
programa de formação para desenvolver o nível estratégico em suas lideranças militares. Essa
metodologia previu a interdependência dos seus componentes para que durante suas ações de
riscos não ocorressem falhas. E essa é uma realidade do mundo globalizado com a qual temos
que lidar agora.
Vejamos a conceituação para cada uma das letras do termo VUCA em inglês, sua interpretação e
consequência:
Volatilidade (volatility) – Marca a aceleração das mudanças com impacto na vida das
sociedades e organizações desenvolvidas. Mesmo com a Era da Informação e do
Conhecimento, esses elementos muitas vezes acabam não sendo suficientes ou até
atrapalham a tomada de decisão justamente pelo excesso de informação e pela eventual falta
de sabedoria para decidir corretamente diante da saturação de conhecimento.
Incerteza (uncertainty) – Ao assumirmos que o conhecimento atual sempre pode ser
ultrapassado ou estar incompleto, já nos colocamos na incerteza. E isso é hoje uma
característica do mundo, no qual mesmo as pessoas mais preparadas não conseguem prever
o que acontecerá para além de dez anos. Temos apenas a certeza de que muitas coisas
mudarão e os elementos que um dia já foram pilares da vida moderna (como, por exemplo,
o trabalho e o comando do próprio carro ao dirigir pelas ruas) não sobreviverão da mesma
forma. Mas será que estamos preparados para o que está vindo?
Complexidade (complexity) – Entender os mais variados componentes de um sistema e o
resultado das suas interações com consequências que se multiplicam de forma rápida e
imprevisível é um dos principais desafios deste século. Tudo se tornou tão complexo que
não é mais possível pensar de forma que não seja sistêmica (uma visão que contempla o
todo, as partes e suas interconexões). O problema é que toda a nossa formação escolar e
acadêmica não foca a visão sistêmica, mas sim a visão fragmentada e especializada das
partes, algo já condenado à extinção. Isso gera uma incrível tensão para quem atua no
mercado atual, promovendo diariamente um forte sentimento de estar defasado ou obsoleto.
Ambiguidade (ambiguity) – É um tipo deincerteza resultante de diferenças na
interpretação, em especial quando as evidências existentes são insuficientes para esclarecer
o significado de determinado acontecimento. Sabe esse fenômeno de “na minha opinião”
que acontece nas redes sociais diante do menor sinal de assunto polêmico? Pois é, ele é
fruto da ambiguidade, pois falta a todos nós um parâmetro para avaliar as menores coisas,
uma vez que nesse mundo tudo é válido se gerar a satisfação imediata (e não a felicidade).
As certezas do passado se convertem nos choques de valores do presente.
Por causa desses fatores, em um mundo VUCA o sentimento de insegurança se acelera e se
consolida. Diariamente temos que lidar com um volume enorme de informações, riscos e
pressões, sem ter elementos sólidos para parametrizar nossas decisões.
Se tudo isso faz sentido para você e a busca por alternativas ainda é seu ponto de interesse, fique
tranquilo que já chegaremos lá. Por enquanto, vamos estudar um pouco mais sobre esse
fenômeno que vivemos, compreendendo o que outro profissional, o sociólogo Zygmunt Bauman,
tem para nos dizer. Afinal, somente entendendo o mundo em que estamos inseridos
conseguiremos valorizar a importância que a revolução do propósito terá para seus adotantes.
6. Toffler, Alvin. A terceira onda. Record.
7. Bell, Daniel. O advento da sociedade pós-industrial. Cultrix.
Sumário
A vida na modernidade líquida
“Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar.” Essas são duas das frases mais
famosas do sociólogo polonês Zygmunt Bauman[8], falecido em janeiro de 2017 aos 91 anos.
Elas demonstram perfeitamente o zeitgeist (palavra alemã que significa “o espírito de uma
época”) em que vivemos.
O período que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial foi palco de mudanças rápidas e
profundas de inúmeras características nas nossas relações sociais, nas instituições dos Estados,
nas construções culturais e em várias outras configurações do mundo denominado “moderno”.
Para alguns estudiosos das disciplinas que se dedicam ao entendimento desses fenômenos, essas
mudanças foram tão significativas que acreditam ser necessário falar no fim do período
moderno, o que teria nos levado à chamada era pós-moderna ou pós-industrial, aqui abordada.
Essa transição teria ocorrido em função da quebra de certos paradigmas que seriam pilares de
sustentação da modernidade de um ponto de vista sócio-histórico. São as chamadas narrativas
sólidas, ou explicações que construímos para ter segurança em nossa relação com o mundo em
que vivemos, atribuindo a elas elementos nos quais podemos nos amparar. É por isso que
seguimos buscando respostas absolutas, algo que está fadado ao fracasso e à frustração em um
mundo líquido.
Nesse sentido, o conceito de modernidade líquida refere-se ao conjunto de relações e dinâmicas
que se apresentam em nosso meio contemporâneo e que se diferenciam das que se estabeleceram
no que Bauman chama de modernidade sólida pela sua fluidez e volatilidade.
As mudanças que se iniciaram com o Renascimento, quando os ideais racionalistas do
iluminismo começavam a ganhar força diante do pensamento tradicional, ampliaram-se no
decorrer do tempo, tornando-se ponto de ruptura com as formas anteriores de organização social.
Esse período é o momento que Bauman se refere como modernidade sólida, pois ainda havia
certas regras claras nas relações sociais.
Outra mudança profunda foi desempenhada pelo ideal do progresso fundamentado no
pensamento racional e na ciência, que se tornaram motores dos avanços tecnológicos
estabelecidos no período e que, por sua vez, mudaram toda a organização com a qual se
relacionavam. O trabalho, por exemplo, antes basedo no processo de aprendizagem por
imitação ou na tradição passada de pais para filhos, passou a se estabelecer de forma
especializada e formal nas escolas técnicas em razão do progressivo aumento da
complexidade das tarefas laborais relativas às indústrias e suas máquinas.
Porém, quando se chega à modernidade líquida, toda estrutura social montada em torno da
relativa fixidez moderna se dilui. Para Bauman, as relações transformam-se, tornam-se voláteis
na medida em que os parâmetros concretos de “classificação” dissolvem-se. Basta ver as
incertezas associadas ao modelo tradicional de trabalho que estamos vivendo hoje, sem saber
exatamente como será seu futuro nos próximos dez anos.
A liquidez a que Bauman se refere é justamente essa inconstância e incerteza que a falta de
pontos de referência socialmente estabelecidos e generalizadores nos causa, que é a base de
nossa inquietude também apresentada pelo conceito do mundo VUCA. São esses padrões,
códigos e regras em que podíamos nos amparar, que podíamos selecionar como pontos estáveis
de orientação e pelos quais podíamos nos deixar guiar (ainda que muitos deles trouxessem graves
problemas) que estão cada vez mais em falta.
Isso quer dizer que estamos passando de uma era de “grupos de referência” predeterminados a
outra, de “comparação universal”, em que nossos parâmetros de referência não estão prontos de
antemão, tendendo a permanecer em contínua mudança durante toda a nossa vida.
Vivemos hoje a era do sujeito líquido, com uma identidade e até sexualidade que se moldam
segundo o momento. Vivemos o amor líquido, com casamentos e famílias que já não são mais
aglutinados em torno de um eixo sólido e feito de um pai e uma mãe, em relações que hoje
parecem ter data para acabar.
Sentimos o pensamento líquido se manifestando até nas tatuagens. A geração com mais de trinta
anos tendia a grandes tatuagens com uma temática única, que se apresentava como
materializações de suas crenças e essência. Já a nova geração tende a uma “somatória de
inúmeros e pequenos rabiscos”, espalhados pelo corpo como lembretes de experiências pontuais
que foram vividas.
Muitos reagem contra essa realidade, tentando estabelecer padrões sólidos que a contraponha. É
neste momento que vemos crescer visões doutrinárias de mundo que parecem mais seguras para
alguns. Porém, ciclicamente, é impossível não verificar que essa tendência líquida já molda
nossa sociedade e hoje temos que aprender a lidar com ela.
Mas aí, surgem algumas perguntas:
Como vamos encontrar sentido em um mundo líquido?
Por que o propósito de repente apareceu como temática central em várias discussões e nas
redes sociais?
Qual é a sociedade que queremos e podemos construir se entendermos o propósito como
uma questão central que estabiliza um mundo sem parâmetros?
Para responder a essas questões, cabe entendermos o novo mundo que está nascendo, com suas
startups e economia orientada para a colaboração.
8. Bauman, Zygmunt. Modernidade líquida. Jorge Zahar.
Sumário
A era dos negócios regidos por consciência, propósito e
humanização
Todo processo de mudança traz reações e resistências. Da mesma forma que nem tudo o que
muda é necessariamente bom, existem coisas que de fato vêm para melhor.
Após trabalharmos com mais de duzentos grandes clientes no mercado corporativo, percebemos
o quanto estamos vivendo um choque de gerações entre os profissionais oriundos da geração X e
os millennials. Gestores se revoltam ao perceber que os benefícios e a oferta de estabilidade e
rentabilidade que oferecem já não são mais acolhidos como valores válidos por essa nova
geração. Essa, por sua vez, clama por propósito, significado, engajamento, liberdade e desafios
(gamificação) na sua forma de atuar.
Definitivamente, o mundo vive uma transformação profunda. É possível perceber mudanças
reais em diversos aspectos da sociedade, desde a forma com que as pessoas se alimentam até a
maior busca por autoconhecimento e espiritualidade. E o mundo dos negócios não fica de fora.
O modelo antigo de fazer negócios não funciona mais. Está ultrapassado. Aquele velho
paradigma de que negócios existem apenas para dar dinheiro e pessoas são recursos para
obtenção de lucro simplesmente não se sustenta mais. Essa visão materialista gerou danos
imensuráveis na sociedade, que vive hoje a crise mais profunda de todas: a crise de significado,

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