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Analista Judiciário - Apoio Judiciário e Administrativo 4 Língua Portuguesa 4 Legislação Complementar 4 Noções de Direito Constitucional 4 Noções de Direito Administrativo 4 Noções de Administração Pública TJ-GO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE GOIÁS ATUALIZADO E 2021 REVISADO ON-LINE CONTEÚDO História e Geograa de Goiás Tribunal de Justiça de Goiás TJ-GO Analista Judiciário – Área de Apoio Judiciário NV-012-ST-21 Cód.: Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da editora Nova Concursos. Essa obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site www.novaconcursos.com.br. Para acessar, clique em “Erratas e Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. Dúvidas www.novaconcursos.com.br/contato sac@novaconcursos.com.br Obra TJ-GO – Tribunal de Justiça de Goiás Analista Judiciário – Área de Apoio Judiciário Autores LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares, Giselli Neves, Isabella Ramiro, Nelson Sartori e Gabriela Coelho HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE GOIÁS (ON-LINE) • Carla Kurz LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR • Fernando Zetadeschi, Olívia Gomes, Bruno Oliveira e Ana Philipini NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL • Samara Kich, Giovana Marques, Cristiano Silva e Ana Philippini NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO • Fernando Paternostro Zantedeschi e Jonatas Albino NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA • Fernando Paternostro Zantedeschi, Jonatas Albino, Samara Kich, Nágila Vilela, Ricardo Reis, Xico Kraemer e Marília Cunha Edição: Setembro/2021 APRESENTAÇÃO Um bom planejamento é determinante para a sua preparação de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen- sando no máximo aproveitamento de seus estudos, esse livro foi organizado de acordo com os itens exigidos no Edital nº 02/2021 do TJ-GO, para o cargo de Analista Judiciário – Área de Apoio Judiciário O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário, facilitando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sem- pre a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em uma sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abordan- do todos os itens do edital e reorganizando-os quando necessá- rio, de uma maneira didática para que você realmente consiga aprender e otimizar os seus estudos. Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica – com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobra- dos nas provas e a seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gabaritados da banca UFG, organizadora do certame. A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes- sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensan- do no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Ago- ra é com você! Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os con- teúdos complementares disponíveis on-line para este livro em nossa plataforma: História e Geografia de Goiás em videoaulas. Para acessar, basta seguir as orientações na próxima página. CONTEÚDO ON-LINE Para intensificar a sua preparação para concursos, oferecemos em nossa plataforma on- line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente. CONTEÚDO COMPLEMENTAR: • História e Geografia de Goiás. COMO ACESSAR O CONTEÚDO ON-LINE Se você comprou esse livro em nosso site, o bônus já está liberado na sua área do cliente. Basta fazer login com seus dados e aproveitar. Mas, caso você não tenha comprado no nosso site, siga os passos abaixo para ter acesso ao conteúdo on-line. Acesse o endereço novaconcursos.com.br/bônus Digite o código que se encontra atrás da apostila (conforme foto ao lado) Siga os passos para realizar um breve cadastro e acessar seu conteúdo on-line sac@no vaconcursos.com.br VERSO DA APOSTILA NV-003MR-20 Código Bônus DÚVIDAS E SUGESTÕES NV-003MR-20 9 088121 44215 3 Código Bônus SUMÁRIO LÍNGUA PORTUGUESA.......................................................................................................9 LEITURA E ANÁLISE DE TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS ...................................... 9 LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBAL ............................................................................................. 13 MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS NOS TEXTOS ......................................................... 13 POLISSEMIA .....................................................................................................................................................13 IRONIA ...............................................................................................................................................................13 COMPARAÇÃO ..................................................................................................................................................14 AMBIGUIDADE ..................................................................................................................................................14 CITAÇÃO ............................................................................................................................................................14 INFERÊNCIA ......................................................................................................................................................14 PRESSUPOSTO .................................................................................................................................................14 SIGNIFICADOS CONTEXTUAIS DAS EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS..............................................................15 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO ................................................................................................................ 15 FATORES DE TEXTUALIDADE (COESÃO, COERÊNCIA, INTERTEXTUALIDADE, INFORMATIVIDADE, INTENCIONALIDADE, ACEITABILIDADE E SITUACIONALIDADE) ..................................................................15 PROGRESSÃO TEMÁTICA ................................................................................................................................17 SEQUÊNCIAS TEXTUAIS: DESCRITIVA, NARRATIVA, ARGUMENTATIVA, INJUNTIVA E DIALOGAL .........18 TIPOS DE ARGUMENTO ...................................................................................................................................21 FUNCIONALIDADE E CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS TEXTUAIS OFICIAIS.......................... 22 OFÍCIO ...............................................................................................................................................................22 MEMORANDO ...................................................................................................................................................27 CARTA COMERCIAL .........................................................................................................................................29 AVISO .................................................................................................................................................................30 E-MAIL ...............................................................................................................................................................31 USO DOS PRONOMES ........................................................................................................................ 32 PONTUAÇÃO....................................................................................................................................... 35 CARACTERÍSTICAS DOS DIFERENTESDISCURSOS (JORNALÍSTICO, POLÍTICO, ACADÊMICO, PUBLICITÁRIO, LITERÁRIO, CIENTÍFICO ETC.) ........................................................ 38 ORGANIZAÇÃO DA FRASE: PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E DE SUBORDINAÇÃO .............. 38 VERBOS QUE CONSTITUEM PREDICADO E VERBOS QUE NÃO CONSTITUEM PREDICADO ..... 41 TEMPOS E MODOS VERBAIS ............................................................................................................ 41 CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL ........................................................................................... 43 REGÊNCIA DOS NOMES E DOS VERBOS .......................................................................................... 48 CONSTITUIÇÃO E FUNCIONALIDADE DO SUJEITO ....................................................................... 50 CLASSES DE PALAVRAS ................................................................................................................... 51 FORMAÇÃO DAS PALAVRAS ............................................................................................................ 70 COMPOSIÇÃO E DERIVAÇÃO ...........................................................................................................................70 ORTOGRAFIA OFICIAL ....................................................................................................................... 71 FONEMAS ........................................................................................................................................... 73 ACENTUAÇÃO GRÁFICA ................................................................................................................... 73 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: ESTILÍSTICA, SOCIOCULTURAL, GEOGRÁFICA E HISTÓRICA ......... 73 VARIAÇÃO ENTRE MODALIDADES DA LÍNGUA (FALA E ESCRITA), NORMA E USO ................... 74 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR ................................................................................87 REGIMENTO INTERNO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS ................................ 87 LEI ESTADUAL Nº 9.129 DE 22 DE DEZEMBRO DE 1981 (COM ATUALIZAÇÕES DA LEI Nº 20.816/2020) ....................................................................................................................................106 RESOLUÇÃO 325 DE 29 DE JUNHO DE 2020 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) .124 CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS ........................................................................................129 NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL ............................................................ 147 PODER CONSTITUINTE ...................................................................................................................147 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................148 DIREITOS E DEVERES FUNDAMENTAIS .........................................................................................151 DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS ......................................................................................151 DIREITOS SOCIAIS E DIFUSOS ......................................................................................................................164 Direitos Difusos ..............................................................................................................................................170 NACIONALIDADE E CIDADANIA ....................................................................................................................171 DIREITOS POLÍTICOS .....................................................................................................................................173 GARANTIAS CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS, SOCIAIS E POLÍTICAS ....................................................176 NORMAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ................................178 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .............................................................178 SERVIDORES PÚBLICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...........................................................................186 PODER JUDICIÁRIO .........................................................................................................................190 PRINCÍPIOS E GARANTIAS DOS MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO ........................................................191 TRIBUNAIS ESTADUAIS E REGIONAIS, DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DOS TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS ...................................................................................191 NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................. 201 REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO ..........................................................................................201 PRINCÍPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO .................................................................................201 DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: DIRETA E INDIRETA ..................................................................204 Organizações Sociais ....................................................................................................................................208 ATOS ADMINISTRATIVOS ...............................................................................................................209 ELEMENTOS ....................................................................................................................................................209 Competência ..................................................................................................................................................209 ATRIBUTOS .....................................................................................................................................................210 CLASSIFICAÇÕES ..........................................................................................................................................211 ESPÉCIES ........................................................................................................................................................212 REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO ...........................................................................................................................213 CONVALIDAÇÃO ............................................................................................................................................214 LICITAÇÃO ........................................................................................................................................214 LEI N. 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993 ........................................................................................................214 LEI Nº 14.133, DE 01 DE ABRIL DE 2021 .......................................................................................................222 CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: FORMALIZAÇÃO E ESPÉCIES ..............................................255 PROCESSOS ADMINISTRATIVOS ..................................................................................................279 RECURSOS ADMINISTRATIVOS: CRITÉRIOS E PRAZOS .............................................................283 PRESCRIÇÃO ADMINISTRATIVA ....................................................................................................284 AGENTES PÚBLICOS: AGENTES POLÍTICOS E SERVIDORES PÚBLICOS ..................................285 CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................................................294 NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................ 301 PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E REFORMAS ADMINISTRATIVAS .................301 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BUROCRÁTICA ................................................................................................301 BUROCRACIA E DISFUNÇÕES BUROCRÁTICAS...........................................................................................301 NOVA GESTÃO PÚBLICA ................................................................................................................................302 ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL ..................................................................................................................302 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...............................................304 O PROCESSO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS .....................................................................................306 FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO NO SETOR PÚBLICO ........................................................314 PLANOS E PROGRAMAS DE GOVERNO ........................................................................................................314 PROCESSO ORÇAMENTÁRIO, PLANO PLURIANUAL – PPA, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS – LDO, LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA ..............................................................................................................318 GOVERNANÇA ..................................................................................................................................325 PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA; FUNDAMENTOS E GOVERNANÇA PÚBLICA ..........................................325 GOVERNABILIDADE .......................................................................................................................................326 ACCOUNTABILITY ..........................................................................................................................................326 ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................................326 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NO SETOR PÚBLICO E INDICADORES DE DESEMPENHO ...345 PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS ..................................................................................................351 CONTROLES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...............................................................................352 TRANSPARÊNCIA NO SETOR PÚBLICO: LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO (LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011) E LEI DA TRANSPARÊNCIA (LEI Nº 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011) ......................................................................................................................355 GESTÃO POR PROCESSOS EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS ......................................................365 INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO ....................................................................................................374 TERCEIRO SETOR: ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO .................................................................................................................374 LÍ N G U A P O RT U G U ES A 9 LÍNGUA PORTUGUESA LEITURA E ANÁLISE DE TEXTOS DE DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS O QUE SÃO OS GÊNEROS TEXTUAIS? Quando pensamos em uma definição para gêneros textuais, somos levados a inúmeros autores que bus- caram definir e classificar esses elementos, e, inicial- mente, é interessante nos lembrarmos dos gêneros literários que estudamos na escola. Podemos lembrar dos conceitos de tragédia e comédia, que se referem aos clássicos da literatura grega. Afinal, quem nunca ouviu falar das histórias de Ilíada ou de Odisseia, ambas de Homero? Mas o que esses textos têm em comum? Inicialmente, pode-se ser levado a pensar que nada, além do fato de terem sido escritos pelo mesmo autor. Entretanto, a estrutura dessas histórias respeita a um padrão textual estabe- lecido e reconhecido na época em que foram escritas. De maneira análoga, quando pensamos em gêneros textuais, devemos identificar os elementos que caracte- rizam textos, aparentemente, tão diferentes. Logo, da mesma forma que comparamos as estruturas de Ilíada e Odisseia, é preciso buscar as semelhanças entre uma notícia e um artigo de opinião, por exemplo. Também é fundamental identificar as razões que nos levam a classificar cada um desses gêneros com termos diferentes. Esse ponto de interseção é o que podemos estabelecer como os principais aspectos de classificação de um gênero textual. Conforme Maingueneau, o ponto de interseção que estabelece sobre qual gênero estamos tratando é indi- cado por “rotinas de comportamentos estereotipados e anônimos que se estabilizaram pouco a pouco, mas que continuam sujeitos a uma variação contínua”1. Logo, o primeiro elemento que precisamos iden- tificar para classificar um gênero é o papel social, marcado pelos comportamentos e pelas “rotinas” humanas típicas de quem vive em sociedade e, por- tanto, precisa se fazer compreender tão bem quanto ser compreendido. Esse é, sem dúvidas, o elemento que melhor dife- rencia tipos e gêneros textuais, uma vez que os tipos textuais não têm apelo ao ambiente social e são mui- to mais identificáveis por suas marcas linguísticas. O fator social dos gêneros textuais também direcionará outros aspectos importantes na classificação desses elementos; justamente devido à dinâmica social em que estão inseridos, os gêneros são passíveis de alte- rações em sua estrutura. Tais alterações podem ocorrer ao longo do tempo, tornando o gênero completamente modificado, como se deu com as cartas pessoais e os e-mails, por exem- plo; ou podem ser alterações pontuais que se prestam a uma finalidade específica e momentânea, como aconteceu com o anúncio apresentado a seguir, da loja O Boticário: 1 MAINGUENEAU, 2018, p. 71. Disponível em: <https://bit.ly/34yptsR>. Acesso em: 1 out. 2021. O gênero anúncio apresenta uma clara referên- cia ao gênero contos de fadas; porém, a estrutura desse gênero, que é, predominantemente, narrativo, foi modificada para que o propósito do anúncio fos- se alcançado — ou seja, persuadir o leitor e levá-lo a adquirir os produtos da marca. No caso do gênero anúncio publicitário, usar outros gêneros e modifi- car sua estrutura básica é uma estratégia que é esta- belecida a fim de que a principal função do anúncio se cumpra, qual seja: vender um produto. A partir desses exemplos, já podemos enumerar mais uma característica comum a todos os tipos de gêneros textuais: a presença de aspectos sociais e o propósito de um gênero, para alguns autores, como Swales (1990), chamado de propósito comunicativo. Segundo esse autor, os gêneros têm a função de reali- zar um objetivo ou objetivos; por isso, ele sustenta a posição de que o propósito comunicativo é o critério de maior importância, pois é o que motiva uma ação e é vinculado ao poder do autor. Além disso, um gênero textual, para ser identifica- do como tal, é amparado por um protótipo textual, o qual também pode ser reconhecido como estereótipo textual, que resguarda características básicas do gêne- ro. Por exemplo, ao olharmos para o anúncio mencio- nado anteriormente, identificamos traços do gênero contos de fadas tanto na porção textual do anúncio que começa com a frase: “era uma vez...” quanto pela imagem, que remete ao conto “Branca de Neve”. Tais marcas, sobretudo as linguísticas, auxi- liam os falantes de uma comunidade a reconhecer o gênero e também a escrever nesse gênero quando necessitarem. Isso é o que torna a característica da prototipicidade tão importante no reconhecimento e na classificação de um gênero. Ademais, os traços estereotipados de um gênero devem ser reconhecidos por uma comunidade, reafir- mando o teor social desses elementos e estabelecen- do a importância de um indivíduo adquirir o hábito da leitura, pois quanto mais se lê, a mais gêneros se é exposto. Portanto, a partir de todas essas informações sobre os gêneros textuais, podemos afirmar que, de manei- ra resumida, os gêneros textuais são ações linguísti- cas situadas socialmente que servem a propósitos específicos e são reconhecidos pelos seus traços em comum. 10 A seguir, apresentamos uma tabela com as caracte- rísticas básicaspara a correta identificação dos gêne- ros textuais: GÊNEROS TEXTUAIS SÃO: � Ações sociais � Ações com configuração prototípica � Reconhecidos pelos membros de uma comunidade � O propósito de uma ação social � Divididos em classes Outra importante característica que devemos reforçar é que os gêneros textuais não são quantifi- cáveis, pois existem inúmeros. Justamente pelo fato de os gêneros sofrerem com as relações sociais, que são instáveis, não há um número exato de gêneros textuais que possamos estudar, diferentemente dos tipos textuais. GÊNEROS TEXTUAIS TIPOS TEXTUAIS Relação com aspectos sociais Associação a aspectos linguísticos Podem ser alterados Não podem sofrer altera- ção, sob pena de serem reclassificados Estabelecem uma função social Organizam os gêneros textuais Apesar de não existir um número quantificável de gêneros textuais, podemos estudar a estrutura dos gêneros mais comuns nas provas de concursos, com o fito de nos prepararmos melhor e ganharmos tempo na resolução de questões que envolvam esse assun- to. Por isso, a seguir, iremos nos deter aos principais gêneros textuais abordados por importantes bancas de concursos no país. NOTÍCIA A notícia é um gênero textual de caráter jornalís- tico e, como tal, deve apresentar os fatos narrados de maneira objetiva e imparcial. A notícia pode apresen- tar sequências textuais narrativas e descritivas na sua composição linguística; por isso, é fundamental sem- pre termos em mente as características basilares de todos os principais tipos textuais. Como vimos, os gêneros textuais possuem carac- terísticas que os distinguem dos tipos textuais, dentre elas o fato de terem um apelo a questões sociais, um propósito comunicativo e apresentarem uma configu- ração mais ou menos padrão que varia em poucos ou nenhum aspecto entre os gêneros. Por ser um gênero, a notícia também apresenta essas características. Seu propósito comunicativo é informar uma comunidade sobre assuntos de inte- resse comum; por isso, a notícia deve ser comunicada com imparcialidade, ou seja, sem que o meio que a transmite apresente sua opinião sobre os fatos. Outra importante característica da notícia é a sua configura- ção prototípica, ou seja, seu padrão textual reconhe- cido por leitores de uma comunidade. Essa configuração própria da notícia é reconhe- cida pelos termos manchete, lead e corpo da notícia. Vejamos na prática como reconhecer o esquema pro- totípico desse gênero: Casal suspeito de assaltos é pre- so após colidir carro na contra- mão enquanto fugia da polícia, em Fortaleza Manchete Foram apreendidos três aparelhos celulares roubados e uma arma de fogo com seis munições. Lead Um casal suspeito de realizar assaltos foi preso após capotar um carro ao dirigir na contramão enquanto fugia da polícia na tar- de desde domingo (13), no Bairro Henrique Jorge, em Fortaleza. Uma das vítimas, que preferiu não se identificar, disse que os assal- tantes dirigiam em alta velocidade pelas ruas após abordar de forma fria os pertences. “A mulher estava conduzindo o carro e o comparsa dela abordava as pessoas colocan- do a arma na cabeça”, afirmou. Corpo da Notícia Disponível em: https://glo.bo/35KM591. Acesso em: 30 ago. 2021. Na formulação de uma notícia, para que ela atinja seu propósito de informar, é fundamental que o autor do texto seja guiado por essas perguntas a fim de tor- nar seu texto imparcial e objetivo: ^ É importante ressaltar que, com o advento das redes sociais, tornou-se cada vez mais comum que o gênero notícia seja divulgado por meio de platafor- mas diferentes, como as redes sociais. Isso democratiza a informação, porém também abre margem para a criação de notícias falsas que se baseiam nesse esquema de organização das notícias para buscar alguma credibilidade do público. Por isso, atualmente, é ainda mais importante atentar-se à fon- te de publicação das notícias. O próximo gênero sobre o qual trataremos é a reportagem, que guarda sutis diferenças em compa- ração com a notícia, e que também é muito abordada em provas de concursos. REPORTAGEM A reportagem é um gênero textual que, diferen- temente da notícia, além de oferecer informações acerca de um assunto, também apresenta os pontos de vista sobre um tema, tendo, portanto, um caráter argumentativo; essa é a principal diferença entre os gêneros notícia e reportagem. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 11 Como visto, a notícia deve ser (ou buscar ser) imparcial, ou seja, não devemos encontrar nesse gênero a opinião do meio que a divulga. Por isso, nes- ses textos, as sequências textuais mais encontradas são a narração e a descrição, justamente com a finali- dade de evitar apresentar um ponto de vista. De maneira diferente, a reportagem apresenta as opi- niões sobre um mesmo fato, pois essas opiniões são o prin- cipal “ingrediente” dos textos desse gênero, representado, predominantemente, pela sequência argumentativa. É importante relembrarmos que o tipo textual argumentativo é organizado em três macropartes: tese, desenvolvimento e conclusão. Por manter esse padrão, a reportagem aprofunda-se em temas sociais de ampla repercussão e interesse do público, algo que não é o foco da notícia, tendo em vista que a notícia busca apenas a divulgação da informação. Diante disso, o suporte de veiculação das repor- tagens é, quase sempre, aquele que faz uso do vídeo, como televisão, computador, tablet, celular etc. As reportagens têm um caráter de “matérias especiais” em jornais de ampla repercussão, mas também podem ser veiculadas em suportes escritos, como revistas e jornais. Com o avanço do uso das redes sociais, entre- tanto, elas têm sido os principais meios de divulgação desse gênero atualmente. Conforme a Academia Jornalística (2019), a repor- tagem apresenta informações mais detalhadas sobre um fato e/ou fenômeno de grande relevância social. Isso significa que o repórter deve demonstrar os lados que compõem a matéria, a fim de que o leitor cons- trua sua própria opinião sobre o tema. A despeito dessas diferenças na construção dos gêneros mencionados, a reportagem e a notícia guar- dam semelhanças, como a busca pelas respostas às perguntas: O quê? Como? Por quê? Onde? Quando? Quem? Essas perguntas norteiam a escrita tanto da repor- tagem quanto da notícia, que se diferencia da primei- ra por seu caráter essencialmente informativo. NOTÍCIA REPORTAGEM Apresenta um fato de for- ma simples e objetiva Objetivo é informar Apuração objetiva dos fatos Conteúdo de curto prazo Conteúdo segue o modelo da pirâmide invertida (vis- to anteriormente) Questiona fatos e efeitos de um fato determinado Apresenta argumentos so- bre um mesmo fato Apuração extensa Conteúdo sem ordem determinada, pode apre- sentar entrevistas, dados, imagens etc. Disponível em: https://bit.ly/3kD9tvk. Acesso em: 30 ago. 2021. Adaptado. É importante ressaltar que nenhum gênero é composto apenas por uma única sequência textual. Portanto, a reportagem também apresentará esse paradigma, pois esse gênero é essencialmente argu- mentativo, porém pode apresentar outras sequências textuais a fim de alcançar seu objetivo final. A seguir, daremos continuidade aos nossos estu- dos sobre os principais gêneros textuais que são obje- to de provas de concurso com um dos gêneros mais comuns em provas: o artigo de opinião. 2 KOCH, 2011, p. 22. ARTIGO DE OPINIÃO O artigo de opinião faz parte da ordem de textos que buscam argumentar. Esse gênero usa a argumen- tação para analisar, avaliar e responder a uma ques- tão controversa. Esse instrumento textual situa-se no âmbito do discurso jornalístico, pois é um gênero que circula, principalmente, em jornais e revistas impres- sos ou virtuais. No artigo de opinião, temos a discussão de um problema de âmbito social. Por meio dessa discussão, podemos defender nossa opinião, como também refu- tar opiniões contrárias às nossas, ou ainda, propor soluções para a questão controversa. A intençãodo escritor ao escolher o artigo de opi- nião é a de convencer seu interlocutor. Para isso, ele terá que usar de informações, fatos e opiniões que serão seus argumentos. Bräkling apud Ohuschi e Barbosa aponta que: O artigo de opinião é um gênero de discurso em que se busca convencer o outro de uma determinada ideia, influenciá-lo, transformar os seus valores por meio de um processo de argumentação a favor de uma determinada posição assumida pelo produtor e de refutação de possíveis opiniões divergentes. É um processo que prevê uma operação constante de sustentação das afirmações realizadas, por meio da apresentação de dados consistentes que possam convencer o interlocutor (2011, p. 305). Dessa forma, para alcançar o objetivo do gênero, o escritor deverá usar diversos saberes, como conhe- cimentos enciclopédicos, interacionais, textuais e linguísticos. É por meio da escolha de determinados recursos linguísticos que percebemos que nada é por acaso, pois a cada escolha há uma intenção: “... toda ativida- de de interpretação presente no cotidiano da lingua- gem fundamenta-se na suposição de quem fala tem certas intenções ao comunicar-se”2. Para darmos uma opinião sobre determinado tema, é necessário que tenhamos conhecimento sobre ele. Por isso, normalmente, os autores de artigos de opinião são especialistas no assunto por eles aborda- do. Ao escolherem um assunto, os autores devem con- siderar as diversas “vozes” já existentes sobre mesmo assunto e, dependendo de sua intenção, apoiar ou negar determinadas vozes. Por isso, a linguagem utilizada pelo articulista de um texto de opinião deve ser simples, direta e convin- cente. Utiliza-se a terceira pessoa, apesar de a primei- ra ser adequada para um artigo de opinião pessoal; porém, ao escolher a terceira pessoa do singular, o articulista consegue dar um tom impessoal ao seu tex- to, fazendo com que sua produção textual não fique centrada só em suas próprias opiniões. Quanto à composição estrutural, Kaufman e Rodri- guez (1995) apud Pereira (2008) propõem a seguinte estruturação: � Identificação do tema, acompanhada de seus ante- cedentes e alcance para situar a questão polêmica; � Tomada de posição — exposição de argumentos de modo a justificar a tese; 12 � Reafirmação da posição adotada no início da pro- dução, ao mesmo tempo em que as ideias são arti- culadas e o texto é concluído. ORGANIZAÇÃO TEXTUAL DO ARTIGO DE OPINIÃO Introdução Identificação da questão polêmica alvo de debate no texto Desenvolvimento Tese do autor (posicionamento defendido) Tese contrária (posicionamentos de terceiros) — aceitação ou refutação Argumentos a favor da tese do au- tor do texto Conclusão Fechamento do texto e reforço do posicionamento adotado No processo de escrita de qualquer texto é pre- ciso estar atento aos elementos de coesão que ligam as ideias do autor aos seus argumentos. Porém, nos textos argumentativos, é fundamental prestar ainda mais atenção a esse processo; por isso, atente-se à coesão na escrita e na leitura de textos opinativos. A fim continuarmos nos estudos de textos argu- mentativos, seguimos nossa abordagem, apresen- tando outro gênero frequentemente presente nas provas de língua portuguesa em concursos públicos: o editorial. EDITORIAL Até aqui, estudamos dois gêneros com predomi- nância de sequência argumentativa. O terceiro será o editorial, gênero muito marcante no âmbito jornalísti- co e que expressa a opinião de um veículo de comu- nicação. Neste tópico, nosso foco serão as principais características do gênero editorial e as suas diferen- ças em relação ao artigo de opinião. EDITORIAL — CARACTERÍSTICAS Expressa a opinião de um jornal ou revista a respeito de um tema atual Objetivos: esclarecer ou alertar os leitores sobre algu- ma temática importante e/ou persuadir os leitores, mo- bilizando-os a favor de uma causa de interesse coletivo Estrutura: também baseada em introdução, desenvolvi- mento e conclusão O início de um editorial é bem semelhante ao de um artigo de opinião: apresenta-se a ideia central ou o problema social a ser debatido no texto; poste- riormente, segue-se a apresentação do ponto de vis- ta defendido e conclui-se com a retomada da opinião apresentada incialmente. A principal diferença entre editorial e artigo de opinião é que o editorial representa a opinião de uma corporação, empresa ou instituição. Marcas linguísticas: � Verbos na 3ª pessoa do singular ou plural; � Uso do modo indicativo nas formas verbais predominante; � Linguagem clara, objetiva e impessoal. O editorial, além de ser um gênero muito comum nas provas de interpretação textual em concursos públicos, também é, recorrentemente, cobrado por muitas bancas em provas de redação. Por isso, a seguir, apresentamos um breve esquema para facili- tar a escrita desse gênero. EDITORIAL — ESTRUTURA TEXTUAL POR PARÁGRAFOS Parágrafo 1 Apresentação do tema (situando o leitor) e já com um posicionamento definido. Ser didático ao apresentar o assunto ao leitor Parágrafo 2 Contextualização do tema, comparando-o com a realidade e trazendo causas e indi- cativos concretos do problema. Mais uma vez, posicionamento sobre o assunto Parágrafo 3 Análise e possíveis motivações que tor- nam o tema polêmico (ou justificativas de especialista da área). É preciso trazer dados factuais, exemplos concretos que ilustram a argumentação Parágrafo 4 Concluir com o posicionamento crítico final, retomando o posicionamento inicial sem se repetir A seguir, apresentamos o último gênero textual abordado neste material. Lembramos que o universo de gêneros textuais é imenso, por isso, é impossível apre- sentar uma compilação de estudos com todos os gêne- ros. Apesar disso, trouxemos aqui os principais gêneros cobrados em avaliações de língua portuguesa. Seguindo esse critério, o próximo gênero estudado é a crônica. CRÔNICA O gênero “crônica” é muito conhecido no meio lite- rário no Brasil. Podemos citar ilustres autores que se tornaram famosos pelo uso do gênero, como Luís Fer- nando Veríssimo e Marina Colasanti. Também por ser um gênero curto de cunho social voltado para temas atuais, é muito usado em provas de concurso para ilustrar questões de interpretação textual e para contextualizar questões que avaliam a competência gramatical dos candidatos. As crônicas apresentam uma abordagem cotidia- na sobre um assunto atual e podem ser narrativas ou argumentativas. CRÔNICA NARRATIVA CRÔNICA ARGUMENTATIVA Limita-se a contar fatos do cotidiano Pode apresentar um tom humorístico Foco narrativo em 1ª ou 3ª pessoa Defesa de um ponto de vis- ta, relacionado ao assunto em debate Uso de argumentos e fatos Também pode ser escrita em 1ª ou 3ª pessoa Uso de argumentos de modo pessoal e subjetivo Apesar de as formas de texto verbais serem o for- mato mais comum na construção de uma crônica, atualmente podemos encontrar crônicas veiculadas em outros formatos, como em vídeo, formato muito divulgado nas redes sociais. No tocante ao estilo da crônica argumentativa, trata-se de um texto com estrutura argumentativa padrão (introdução, desenvolvimento, conclusão), muito veiculado em jornais e revistas, e, por isso, é um gênero que passeia pelos ambientes literários e jornalísticos. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 13 Apresenta um teor opinativo forte, com observa- ção dos fatos sociais mais atuais. Outra característica presente nesse gênero é o uso de figuras de linguagem, como a ironia e a metáfora, que auxiliam na presença do tom sarcástico que a crônica pode ter. A seguir, apresentamos um trecho da crônica “O que é um livro?”, da escritora Marina Colasanti, em que podemos identificar as principais características desse gênero: O que é um livro? O que é um livro? A pergunta se impõe neste momen- to em que que a isenção de impostos sobre o objeto primeiro da cultura e do conhecimento está em risco. Uma contribuição tributária de 12% afastaria ainda mais a leitura de quemtanto precisa dela. Um livro é: — A casa das palavras. Acabei de gravar um vídeo para jovens estudantes e disse a eles que o ofício de um escritor é cuidar dessa casa, varre-la, fazer a cama das palavras, providenciar sua comida, vesti- -las com harmonia. — A nave espacial que nos permite viajar no tempo para a frente e para trás. Habitar o passado ao tem- po em que foi escrito. Ou revisitá-lo de outro ponto de vista, inalcançável quando o passado aconteceu: o do presente, com todos os conhecimentos adquiri- dos e as novas maneiras de viver. […] — Ao mesmo tempo, espelho da realidade e ponte que nos liga aos sonhos. Crítica e fantasia. Palavra e música, prosa e poesia. Luz e sombra. Metáfora da vida e dos sentimentos. Lugar de preservação do alheio e ponto de encontro com nosso núcleo mais profundo. Onde muitas portas estão disponíveis, para que cada um possa abrir a sua. — A selva na qual, entre rugidos e labaredas, dragões enfrentam centauros. O pântano onde as hidras agi- tam suas múltiplas cabeças. — Todas as palavras do sagrado, todas elas foram postas nos livros que deram origem às religiões e ne- les conservadas. Disponível em: https://bit.ly/2HIecxi. Acesso em: 30 ago. 2021. Adaptado. Essa crônica trata de um assunto bem atual: o aumento da carga tributária que incide sobre o pre- ço dos livros. A autora apresenta sua opinião e segue argumentando sobre a importância dos livros na sociedade com um ponto de vista ladeado pela litera- tura, o que fortalece sua argumentação. Para finalizar nossos estudos sobre gêneros tex- tuais, é importante fazermos uma observação rele- vante sobre o assunto. Para muitos autores, os gêneros não apenas moldam formas de texto, mas formas de dizer marcadas pelo discurso. Por isso, em algumas metodologias, os gêneros serão tratados como “do discurso”. Gêneros do discurso marcam o processo de inte- ração verbal. Como todo discurso materializa-se por meio de textos, a nomenclatura gêneros textuais tor- na-se mais adequada para essa perspectiva de estudos. Podemos distinguir as duas variantes vocabulares de acordo com as demandas sociais e culturais de estudo dos gêneros. LINGUAGEM VERBAL E NÃO-VERBAL Quando falamos sobre a linguagem, é preciso observar que ela abrange muito mais que a língua, pois compreende, também, cores, gestos e entonação. Neste sentido, em se tratando de texto escrito, pode- mos falar em linguagem verbal e não verbal. A linguagem verbal diz respeito a tudo o que usa letras e palavras para passar uma informação, como, por exemplo, artigo de opinião, romance, notícia, tex- tos científicos, dentre outros. Já a linguagem não ver- bal consegue transmitir uma mensagem sem nenhuma palavra escrita, apenas com imagens, desenhos e cores, como em fotos ou histórias em quadrinhos sem balões de fala, bem como as charges e cartuns. Desse modo, pode-se afirmar que uma tirinha sem escrita e sem balões de fala compreende um texto cuja linguagem é não verbal. Atente-se a essas característi- cas sobre a linguagem, pois são constantes as questões que abordam esse assunto em concursos públicos. Ainda, a linguagem mista ou híbrida apresenta esses dois tipos de linguagens juntos, que podemos ver cotidianamente em histórias em quadrinhos com balões de falas, anúncios publicitários, dentre outros. A união das duas linguagens promove uma melhor compreensão do texto e nenhum detalhe deve ser negligenciado — texto escrito, escolha vocabular, cores, disposição do texto e das imagens, tamanho da letra, expressão facial (caso haja) —, pois absolu- tamente tudo dentro de um contexto com linguagem mista comunica e deve ser interpretado. MECANISMOS DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS NOS TEXTOS POLISSEMIA (PLURISSIGNIFICAÇÃO) Multiplicidade de sentidos encontradas em algu- mas palavras, dependendo do contexto. As palavras polissêmicas guardam uma relação de sentido entre si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis- semia é encontrada no exemplo a seguir: Disponível em: <https://bityli.com/gIVUI0>. Acesso em: 1 out. 2021. IRONIA Consiste em expressar ideias, pensamentos e julga- mentos com o sentido contrário do que se diz. A ironia tem como objetivo satirizar uma situação desagradá- vel ou depreciar alguém pelo seu comportamento. Ex.: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis...” (Machado de Assis) “Parece um anjinho, briga com todos”. 14 COMPARAÇÃO Analogia explícita entre dois termos; a principal diferença entre a comparação e a metáfora, que é outro tipo de relação de semelhança, é que a compa- ração se estabelece com o uso de conectivos. Ex.: Minha boca é como um túmulo. A menina é como um doce. Seu sorriso é tal qual um raio de sol numa manhã nublada. AMBIGUIDADE Ocorre quando há uma duplicidade de sentido ou uma falta de clareza no enunciado. Ela pode ser de dois tipos: � Sintática (ou estrutural): Ocorre devido à posi- ção inadequada de algum elemento na frase. Ex.: O celular se tornou um grande aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas. (Esse e suas podem se referir ao homem e ao celular). � Semântica (ou lexical): Ocorre quando determi- nado vocábulo assume dois ou mais significados. Ex.: O rapaz pediu um prato ao garçom. (Prato pode se referir ao objeto ou à refeição). CITAÇÃO A citação também é um tipo de intertextualidade explícita e diz respeito às formas de citação de uma obra. Em um trabalho acadêmico, por exemplo, quan- do utilizamos as palavras de outros autores, devemos mencioná-los direta ou indiretamente. A transcrição fiel das palavras do autor do texto-fonte é chamada de citação direta. Quando nos baseamos na ideia do autor e escrevemos de outra forma suas palavras, a citação passa a ser indireta. Independente da maneira como citamos em um tex- to, é imprescindível dar os créditos aos autores das obras citadas, por isso, devemos mencioná-los nas citações que também seguem o padrão estabelecido pela ABNT. � Citação direta: “A confiabilidade das fontes citadas confere rele- vância ao trabalho acadêmico, cabendo, portan- to, ao produtor do texto, selecioná-las com rigor” (BOAVENTURA, 2004, p. 81). � Citação indireta: Segundo Boaventura (2004, p. 81), o respeito ao trabalho acadêmico é diretamente proporcional à credibilidade das fontes utilizadas, por isso é neces- sário atentar-se para os diversos tipos de citação aqui mencionados. A citação indireta é um tipo de paráfrase. INFERÊNCIA A inferência é uma relação de sentido conhecida desde a Grécia Antiga e que embasa as teorias sobre interpretação de texto. Dica Interpretar é buscar ideias, pistas do autor do tex- to, nas linhas apresentadas. Porém, apesar de, aparentemente, parecer algo subjetivo, existem “regras” para se buscar essas pistas. A primeira e mais importante delas é identificar a orientação do pensamento do autor do texto, que fica perceptível quando identificamos como o raciocínio dele foi exposto, se de maneira mais racional, a partir da análise de dados, informações com fontes confiáveis ou se de maneira mais empirista, partindo dos efeitos, das consequências, a fim de se identificar as causas. Por isso, é preciso compreender como podemos interpretar um texto mediante estratégias de leitura. Muitos pesquisadores já se debruçaram sobre o tema, que é intrigante e de grande profundidade acadêmica; neste material, selecionamos as estratégias mais efica- zes que podem contribuir para sua aprovação em sele- ções que avaliam a competência leitora dos candidatos. A partir disso, apresentamos estratégias de leitura que focam nas formas de inferência sobre um texto. Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre o processo de inferência, que se dá por dedução ou por indução. Para entender melhor, veja esse exemplo: O marido da minha chefe parou de beber. Observe que é possível inferir várias informações a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do enun- ciador é casada (informação comprovada pelaexpres- são “marido”), a segunda é que o enunciador está trabalhando (informação comprovada pela expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada pela expres- são “parou de beber”). Note que há pistas contextuais do próprio texto que induzem o leitor a interpretar essas informações. Tratando-se de interpretação textual, os processos de inferência, sejam por dedução ou por indução, par- tem de uma certeza prévia para a concepção de uma interpretação, construída pelas pistas oferecidas no texto junto da articulação com as informações acessa- das pelo leitor do texto. A seguir, apresentamos um fluxograma que repre- senta como ocorre a relação desses processos: INFERÊNCIA DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA A partir desse esquema, conseguimos visualizar melhor como o processo de interpretação ocorre. PRESSUPOSTO Pressuposto significado algo que se pressupõe, ou seja, que se supõe antecipadamente: aquilo que se imagina e pensa sobre determinada coisa ou situação antes mesmo de ter contato ou conhecimento sobre ela. Os pressupostos são marcados por advérbios, ver- bos, orações adjetivas e adjetivos. O pressuposto é um dado apresentado como indiscutível para o falante e o ouvinte, não permitindo contestações. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 15 SIGNIFICADOS CONTEXTUAIS DAS EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS Denotação O sentido denotativo da linguagem compreende o significado literal da palavra independente do seu contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais objetivo e literal associado ao significado que aparece nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar ênfase à informação que se quer passar para o recep- tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por isso, é muito utilizada em textos informativos, como notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá- ticos, entre outros. Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo: chamas) O coração é um músculo que bombeia sangue para o corpo. (coração: parte do corpo) Conotação O sentido conotativo compreende o significado figurado e depende do contexto em que está inserido. A conotação põe em evidência os recursos estilísticos dos quais a língua dispõe para expressar diferen- tes sentidos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e poética. A conotação tem como finalidade dar ênfase à expressividade da mensagem de maneira que ela possa provocar sentimentos ou diferentes sensações no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe- sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios publicitários e outros. Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”. Você mora no meu coração. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO FATORES DE TEXTUALIDADE (COESÃO, COERÊNCIA, INTERTEXTUALIDADE, INFORMATIVIDADE, INTENCIONALIDADE, ACEITABILIDADE E SITUACIONALIDADE) Coesão e Coerência Ao elaborarmos um texto, devemos buscar organi- zar as ideias apresentadas de modo a torná-lo coeso e coerente. Porém, como fazer para que essa organiza- ção mantenha esse padrão? Para descobrir, primeiro é preciso esclarecer o que é coesão e o que é coerência e por que buscar esse padrão é importante. Os textos não são somente um aglomerado de pala- vras e frases escritas. Suas partes devem ser articula- das e organizadas harmoniosamente de maneira que o texto faça sentido como um todo. A ligação, a rela- ção, os nexos entre essas partes estabelecem o que se chama de coesão textual. Os articuladores responsá- veis por essa “costura” do tecido (tessitura) do texto são conhecidos como recursos coesivos que devem ser articulados de forma que garanta uma relação lógica entre as ideias, fazendo com que o texto seja inteli- gível e faça sentido em determinado contexto. A res- peito disso, temos a coerência textual, que está ligada diretamente à significação do texto, aos sentidos que ele produz para o leitor. COESÃO COERÊNCIA Utiliza-se de elementos su- perficiais, dando-se ênfase na forma e na articulação entre as ideias Subjacente ao texto, enfa- tiza-se o conteúdo e a pro- dução de sentido/relação lógica Podemos usar uma metáfora muito interessante quando se trata de compreender os processos de coe- são e coerência. Essa metáfora nos leva a comparar um texto com um prédio, tal qual uma boa construção precisa de um bom alicerce para manter-se em pé; um texto bem construí- do depende da organização das nossas ideias, da forma como elas estão dispostas no texto. Isso significa que pre- cisamos utilizar adequadamente os processos coesivos, a fim de defendermos nossas ideias. Por isso, neste capítulo, iremos apresentar as prin- cipais formas de marcação, de processos que buscam organizar as ideias em um texto, principalmente, os processos de coesão que, como dissemos, apresentam um apelo mais forte às formas linguísticas que os pro- cessos envolvendo a coerência. No entanto, faz-se necessário mostrar algumas características da coerência em um texto e como esse processo liga-se não apenas às formas gramaticais, mas, sobretudo, ao forte teor cognitivo. Tendo em vista que a coerência é construída, tal qual o sentido, coletivamente, não por acaso, o grande linguista e estudioso da língua portuguesa Luis Antonio Marcus- chi (2007) afirmou que a coerência é “algo dinâmico que se encontra mais na mente que no texto”. Dito isso, usamos as palavras de Cavalcante (2013) para esclarecer ainda mais o conceito de coerência e passarmos ao estudo detalhado dos processos de coe- são. A autora afirma que a coerência: [...] Não está no texto em si; não nos é possível apon- tá-la, destacá-la ou sublinha-la. Ela se constrói [...] numa dada situação comunicativa, na qual o leitor, com base em seus conhecimentos sociocognitivos e interacionais e na materialidade linguística, confe- re sentido ao que lê (CAVALCANTE, 2013, p. 31). Intertextualidade Existem diversos mecanismos que são meios importantes e, muitas vezes, imprescindíveis à cons- trução de sentido dos gêneros textuais, dentre eles, a intertextualidade. Como vimos neste material, ao nos referirmos à ideia de construção dos sentidos median- te o uso de gêneros textuais destacamos a estrutura, o propósito comunicativo e a função dos gêneros. Um outro elemento importante para a compreensão tex- tual é a intertextualidade, que diz respeito à proprie- dade de um texto se relacionar com outros. Para se entender melhor a estrutura e a função do termo intertextualidade, pode-se separar a pala- vra em partes: “inter” é de origem latina e refere-se à noção de dentro, ou seja, o que está dentro do texto, e “textualidade” tem a noção de conteúdo, palavras. Unindo as duas, forma-se a intertextualidade, a partir da qual podemos dar origem a um outro texto. A intertextualidade está presente em nosso dia a dia, sendo muito comum em gêneros oriundos da internet e também da publicidade. A seguir, apresen- tamos esse exemplo retirado da aula da professora 16 Cátia Colares que resume a ideia de intertextualidade que iremos trabalhar neste material: Fonte: COLARES, 2020, informação verbal. É necessário apontar que, conforme Koch e Elias (2015), todos os textos são, em alguma medida, recu- peradores de outros. Quando o leitor acessa as ideias e reconhece essa intertextualidade, estamos diante de um processo de intertextualidade stricto senso. Quando não é possível acessar esse teor intertextual, trata-se de uma intertextualidade lato senso. Desen- volvemos o esquema a seguir para tornar essa divisão mais didática: INTERTEXTUALIDADE Stricto Senso Lato Senso Temática Estilística Explícita Implícita Informatividade Os textos podem ser entendidos como eventos nos quais elementos sociocomunicativos, históricos e culturais trabalham para construir sentidos. Assim, segundo Costa Val (1991), a linguagem é um lugar de interação humana, por meio da qual o falante produz ações significantes. Nesse sentido, um dos critérios atribuídos ao tex- to é a informatividade, queé a capacidade de um texto transmitir informações novas e relevantes para quem está lendo. Ela é prejudicada quando a infor- mação repassada pelo texto recaí no senso comum, ou seja, no conhecimento notório de qualquer agente social. Nesse caso, o texto torna-se um amontoado de informações óbvias que só servem para “enrolar” o interlocutor. Exemplos de informações de senso comum que devem ser evitadas no texto: “O homem depende do ambiente para viver”. “A mulher de hoje ocupa papel social diferente da mulher do século XIX”. Essas informações são fatos já comprovados histo- ricamente que não apresentam grau de informativi- dade forte. Intencionalidade Todo e qualquer texto é escrito com uma intenção, um objetivo. Não apenas os textos escritos, mas também os textos orais apresentam intencionalidade discursiva. Neste tópico, daremos maior enfoque aos textos escritos, já que, geralmente, os textos trabalhados em concursos públicos consistem em gêneros escritos. A intencionalidade é o que o autor do texto deseja alcançar através da sua produção. As intenções de um texto podem ser diversas: convencer, educar, infor- mar, contar uma história, levantar uma discussão. Em suma, pode-se dizer que a intencionalidade é construída ao longo do texto. Para alcançar os objeti- vos pretendidos, os autores utilizam mecanismos de coesão e coerência, bem como estratégias argumenta- tivas que facilitem o entendimento do leitor. � Recursos da Intencionalidade: � “Argumentatividade”: o uso dos argumentos corretos é necessário para, de fato, convencer o leitor ao que é proposto pelo autor. Os tipos de argumento mais conhecidos são: citação de autoridade, dados científicos, fatos históricos, dentre outros; � Verbos/pessoas do discurso: quando o autor do texto pretende se aproximar do leitor, ele, geralmente, opta pelo uso do pronome “você”, para que o leitor se sinta parte da situação comunicativa. Já quando sua intenção é con- vencer o leitor sobre algum fato, normalmente, opta pelo uso de verbos no modo imperativo; � Vocabulário: a depender do objetivo comunica- tivo, o autor pode inserir vocabulário específico de um determinado grupo social, como as gírias, a fim de provocar o interesse e reter a atenção do leitor, alcançando, assim, sua intenção; � Cores: além da linguagem verbal, o uso de cores e imagens (linguagem não verbal) colabora para o alcance dos objetivos da comunicação; � Figuras de linguagem: são recursos utilizados, propositalmente, pelos autores, para causar determinada sensação no leitor. Intencionalidade na Linguagem Publicitária A natureza do texto publicitário é a persuasão, o convencimento. O interesse em “convencer” pode estar ligado à compra de bens e serviços ou ao enga- jamento do leitor em determinado evento/campanha. A intencionalidade presente nesse gênero é, portanto, envolver o leitor. Pode-se encontrar muitos exemplos de textos que evidenciam a intencionalidade na linguagem publi- citária. Os autores desse tipo de texto, geralmente profissionais da publicidade ou do jornalismo, uti- lizam-se, muitas vezes, de recursos estilísticos que não estão corretos, segundo a norma culta, mas que cabem para a intencionalidade desejada. Vale destacar que outros tipos de textos, como letras de música e textos literários, também utilizam construções com erros gramaticais para atender à determinada intencionalidade. A imagem a seguir mostra um anúncio publicitário e iremos analisar sua intencionalidade. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 17 Disponível em: <https://desperteamentemilionaria.com.br/anuncio- publicitario-o-que-e-e-como-fazer-em-2021/>. Acesso em: 1 out. 2021. Além da questão das linguagens verbal e não ver- bal que, intencionalmente, são usadas para chamar a atenção do leitor, podemos citar o uso de palavras que “conversam” com o leitor (“você”, “seu” e “sua”), aproximando-se dele. Esse é um recurso claro da intencionalidade. Aceitabilidade A aceitabilidade, resumidamente, é a oposição da intencionalidade. Enquanto a intencionalidade trata do objetivo comunicativo do autor, a aceitabilidade é o modo como o leitor compreende e entende o enunciado. Antes mesmo do início da leitura, o leitor estabele- ce um juízo de valor e uma expectativa a respeito do que será lido. Muitas vezes, os textos são interpretados de forma diferente do que seria a intenção do autor e, geralmente, isso está ligado a uma má construção do texto, comprometendo a coesão e a coerência das ideias. A aceitabilidade é, portanto, um fator fundamental para que a intencionalidade seja atingida. No entanto, é importante compreender que, ainda que a aceitabi- lidade seja um “papel” do interlocutor, é o autor do texto o responsável por proporcioná-la. Situacionalidade A situacionalidade diz respeito ao contexto no qual o ato comunicativo se situa. Um texto pode situar-se de duas formas: em relação ao próprio texto e onde ele será divulgado e em relação ao momento/contexto histórico de publicação. Em síntese, o contexto constitui uma condição para que determinado texto possa produzir o sentido e o efeito desejados pelo autor. Um texto que apresen- ta muitas marcas de oralidade e coloquialidade, por exemplo, pode ser muito eficiente, se divulgado nas redes sociais com a intenção de informar ou entreter, mas muito ineficiente quando utilizado em situações formais. PROGRESSÃO TEMÁTICA Progressão temática representa o processo de construção do texto, o qual pode ser notado pela orga- nização e conexão entre as ideias dispostas nele. A pro- gressão textual torna o texto claro, objetivo e de fácil leitura, pois, se as partes que o compõe estão conecta- das, a mensagem é entregue mais facilmente ao leitor. Para haver progressão, é necessário que cada nova informação acrescentada tenha relação com aquelas apresentadas anteriormente no texto. Sendo assim, a língua dispõe de alguns recursos, que podem ser uti- lizados para promover a progressão temática dentro do texto. Vejamos: � Conectores: são palavras ou expressões que têm a função de ligar as frases, orações e períodos, favo- recendo a sequência de ideias presentes no texto. Esse papel pode ser desempenhado pelas conjun- ções, pronomes e advérbios/locuções adverbiais, classes gramaticais responsáveis por promover a relação entre os termos conectados. É muito importante saber identificar a relação estabelecida pelo uso dessas palavras, uma vez que os conectores são peças fundamentais para a produção de sentido de um texto. A seguir, vejamos as princi- pais relações que os conectores podem expressar: � Adição: e, também, além disso, mas também; � Oposição: mas, porém, contudo, entretanto, no entanto; � Causa: por isso, portanto, certamente; � Tempo: atualmente, nos dias de hoje, na socie- dade atual, depois, antes disso, em seguida, logo, até que; � Consequência: logo, consequentemente; � Confirmação/Reafirmação: ou seja, neste sen- tido, nesta perspectiva, em suma, em outras palavras, desta forma; � Hipótese/Probabilidade: a menos que, mesmo que, supondo que; � Semelhança: do mesmo modo, assim como, bem como; � Finalidade: afim de, para, para que, com a fina- lidade de, com o objetivo de; � Exemplificação: por exemplo, a exemplo de, isto é; � Ênfase: na verdade, efetivamente, certamente, com efeito; � Dúvida: talvez, porventura, provavelmente, pos- sivelmente; � Conclusão: portanto, logo, enfim, em suma. Importante! É necessário observar o contexto de uso de cada conector, pois vários deles podem mudar de sentido, de acordo com a situação em que está sendo usado. Na língua portuguesa, identificar o contexto é essencial para entender a relação estabelecida pelo uso dessas palavras. 18 Pratique agora com um exercício comentado feito especificamente para você treinar o tema estudado: 1. (NOVA CONCURSOS – 2021) No trecho a seguir, des- taque os conectores e indique a relação de sentido que cada um expressa.“Dessa forma, a transdução será a ação semiótica de construir sentidos a partir do uso de outros modos, por exemplo, transformando uma narração em um desenho, mas também existe o processo de transfor- mação, quando a mudança acontece utilizando o mes- mo modo, por exemplo, um filme em inglês passa para uma versão em português.” Primeiro, deve-se identificar os conectores. Veja- mos: “Dessa forma, a transdução será a ação semió- tica de construir sentidos a partir do uso de outros modos, por exemplo, transformando uma narração em um desenho, mas também existe o processo de transformação, quando a mudança acontece uti- lizando o mesmo modo, por exemplo, um filme em inglês passa para uma versão em português”. Con- forme se pode notar, dentro do contexto em que foram usados, os conectores destacados (“Dessa forma”, “por exemplo” e “mas também”) estabele- cem relação de confirmação, exemplificação e adi- ção, respectivamente. � Pronomes: são utilizados para evitar repetições desnecessárias em um texto. Repetir as mesmas palavras pode tornar o texto cansativo e desin- teressante para o leitor. Observe, a seguir, este “antes e depois”, buscando verificar a fluidez tex- tual propiciada pelo uso dos pronomes: � Antes “Pode-se inferir, portanto, que o poeta é um mes- tre da verdade e a memória que o poeta expressa enquadra-se como um saber. O poeta é um especia- lista em ter a memória viva e transcrevê-la em forma de poema.” � Depois “Pode-se inferir, portanto, que o poeta é um mestre da verdade e a memória que o poeta expressa enqua- dra-se como um saber. Ele é um especialista em ter a memória viva e transcrevê-la em forma de poema.” � Sinônimos: são utilizados para evitar a repetição de um determinado termo, assim como os prono- mes. Vejamos um exemplo: � Antes “Para muitas famílias, o fato de pagar uma escola pressupõe que a escola deve assumir toda a forma- ção da criança, deixando a família isenta de qualquer cobrança e responsabilidade. No entanto, a escola encontra entraves em determinadas situações.” � Depois “Para muitas famílias, o fato de pagar uma esco- la pressupõe que esta instituição deve assumir toda a formação da criança, deixando a família isenta de qualquer cobrança e responsabilidade. No entanto, o sistema escolar encontra entraves em determinadas situações.” Tema e Rema O Tema constitui a informação geral tratada no tex- to, e o modo como essa informação é desenvolvida no decorrer dos parágrafos consiste no que chamamos de Rema. O Rema marca, então, a progressão do Tema. Importante! O tema é a ideia principal, e o rema é o desenvol- vimento dessa ideia. A relação entre Tema e Rema pode ser notada pela organização, clareza e lógica entre as ideias. Um texto bem escrito, isto é, um texto coeso e coerente, que seja capaz de produzir sentido para o leitor, deve apresen- tar conexão entre as frases, orações e períodos, fator primordial para a progressão temática. Em outras palavras, a forma com que o tema e o rema são desen- volvidos em um texto, a fim de promover a progressão temática, constitui um processo essencial para a coe- são e para a coerência textual. SEQUÊNCIAS TEXTUAIS: DESCRITIVA, NARRATIVA, ARGUMENTATIVA, INJUNTIVA E DIALOGAL Descritiva O tipo textual descritivo é marcado pelas formas nominais que dominam o texto. Os gêneros que utili- zam esse tipo textual geralmente utilizam a sequência descritiva como suporte para um propósito maior. São exemplos de textos cujo tipo textual predominante é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio, classifi- cados, lista de compras. Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito de alguns aspectos do território que viria a ser chama- do de Brasil. “Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas per- nas, que, certo, assim pareciam bem. Também anda- vam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a náde- ga, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocên- cia assim descobertas, que não havia nisso desver- gonha nenhuma.” Disponível em: https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz- de-caminha/. Acesso em: 30 ago. 2021. Note que apesar da presença pontual da sequência narrativa, há predominância da descrição do cenário e dos personagens, evidenciada pela presença de adje- tivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, desco- bertas etc.). A carta de Pero Vaz constitui uma espécie de relato descritivo utilizado para manter a comuni- cação entre a Corte Portuguesa e os navegadores. Considerando as emergências comunicativas do mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros, como, por exemplo, o e-mail. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 19 A sequência descritiva também pode se apresentar de forma esquemática em alguns gêneros, como podemos ver no cardápio a seguir: Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-divulgar-cardapio-e- ajudar-o-pai-a-vender-na-web.ghtml. Acesso em: 30 ago. 2021. Note que há a presença de muitos adjetivos, locuções, substantivos, que buscam levar o leitor a imaginar o objeto descrito. O gênero mostrado apresenta a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne etc.) com uso de adjetivos ou locuções adjetivas (de queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele está organizado de forma esquematizada em seções (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a facilitar a leitura (o pedido, no caso) do cliente. Narrativa Os textos compostos predominantemente por sequências narrativas cumprem o objetivo de contar uma his- tória, narrar um fato. Por isso, precisam manter a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão de algumas estratégias, como a organização dos fatos a partir de marcadores temporais e espaciais, a inclusão de um momen- to de tensão (chamado de clímax) e um desfecho que poderá ou não apresentar uma moral. 20 Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati- vo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles: � Situação inicial: Envolve a “quebra” de um equilí- brio, o que demanda uma situação conflituosa; � Complicação: Desenvolvimento da tensão apre- sentada inicialmente; � Ações (para o clímax): Acontecimentos que ampliam a tensão; � Resolução: Momento de solução da tensão; � Situação final: Retorno da situação equilibrada; � Avaliação: Apresentação de uma “opinião” sobre a resolução; � Moral: Apresentação de valores morais que a his- tória possa ter apresentado. Esses sete passos podem ser encontrados no seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como eu...” Vamos lê-la e identificar essas características, bem como aprender a identificar outros pontos do tipo textual narrativo. Era um garoto que como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones Girava o mundo sempre a cantar As coisas lindas da América Não era belo, mas mesmo assim Havia mil garotas afim Cantava Help and Ticket to Ride Oh Lady Jane e Yesterday Cantava viva à liberdade Situação inicial: predomínio de equilíbrio Mas uma carta sem esperar Da sua guitarra, o separou Fora chamado na América Stop! Com Rolling Stones Stop! Com Beatles songs Complicação: início da tensão Mandado foi ao Vietnã Lutar com vietcongs Clímax Era um garoto que como eu Amava os Beatles e os Rolling Stones Girava o mundo, mas acabou Fazendo a guerra no Vietnã Resolução Cabelos longos não usa mais Não toca a sua guitarra e sim Um instrumento que sempre dá A mesma nota, ra-tá-tá-tá Não tem amigos, não vê garotas Só gente morta caindo ao chão Ao seu país não voltará Pois está morto no Vietnã [...] Situação final / AvaliaçãoNo peito, um coração não há Mas duas medalhas sim Moral Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do- hawaii/12886/. Acesso em: 30 ago. 2021. Essas sete marcas que definem o tipo textual nar- rativo podem ser resumidas em marcas de organiza- ção linguística que são caracterizadas por: � Presença de marcadores temporais e espaciais; � Verbos, predominantemente, utilizados no passado; � Presença de narrador e personagens. Importante! Os gêneros textuais que são predominantemen- te narrativos apresentam outras tipologias tex- tuais em sua composição, tendo em vista que nenhum texto é composto exclusivamente por uma sequência textual. Por isso, devemos sem- pre identificar as marcas linguísticas que são pre- dominantes em um texto, a fim de classificá-lo. Para sua compreensão, também é necessário saber o que são marcadores temporais e espaciais. São formas linguísticas como advérbios, pronomes, locu- ções etc. utilizados para demarcar um espaço físico ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos, esses elementos são essenciais para marcar o equilí- brio e a tensão da história, além de garantirem a coe- são do texto. Exemplos de marcadores temporais e espaciais: Atualmente, naquele dia, nesse momento, aqui, ali, então... Outro indicador do texto narrativo é a presença do narrador da história. Por isso, é importante apren- dermos a identificar os principais tipos de narrador de um texto: Narrador: Também conhecido como foco narrativo, é o responsável por contar os fatos que compõem o texto Narrador personagem: Verbos flexionados em 1ª pes- soa. O narrador participa dos fatos Narrador observador: Verbos flexionados em 3ª pes- soa. O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém, não participa das ações Narrador onisciente: Os fatos podem ser contados na 3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e não participa das ações, porém, o fluxo de consciência do nar- rador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª pessoa Alguns gêneros conhecidos por suas marcas pre- dominantemente narrativas são notícia, diário, conto, fábula, entre outros. É importante reafirmar que o fato de esses gêneros serem essencialmente narrati- vos não significa que não possam apresentar outras sequências em sua composição. Para diferenciar os tipos textuais e proceder na classificação correta, é sempre essencial atentar-se às marcas que predominam no texto. Após demarcarmos as principais características do tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as mar- cas mais importantes da sequência textual classifica- da como descritiva. Argumentativa O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificul- dade na identificação, bem como em sua análise. O texto argumentativo tem por objetivo a defesa de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa de uma tese e a apresentação de argumentos que visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de tex- tos argumentativos são artigos, monografias, ensaios científicos e filosóficos, dentre outros. Outro aspecto importante dos textos argumentati- vos é que eles são compostos por estruturas linguís- ticas conhecidas como operadores argumentativos, que organizam as orações subordinadas, estruturas mais comuns nesse tipo textual. LÍ N G U A P O RT U G U ES A 21 A seguir, apresentamos um quadro sintético com algumas estruturas linguísticas que funcionam como operadores argumentativos e que facilitam a escrita e a leitura de textos argumentativos: OPERADORES ARGUMENTATIVOS É incontestável que... Tal atitude é louvável / repudiável / notável... É mister / é fundamental / é essencial... Observe o exemplo a seguir: “O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no tratamento das mais diversas doenças relacio- nadas ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de longe compensam o dinheiro gasto com essas doenças. Além disso, as empresas têm gran- des prejuízos por causa de afastamentos de tra- balhadores devido aos males causados pelo fumo. Portanto, é mister que sejam proibidas quaisquer propagandas de cigarros em todos os meios de comunicação.” Disponível em: http://educacao.globo.com/portugues/assunto/ texto-argumentativo/argumentacao.html. Acesso em: 30 ago. 2021. Adaptado. Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen- te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor, ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin- do a estrutura argumentativa desse tipo textual. Injuntiva A sequência textual injuntiva caracteriza-se por fornecer instruções para a realização de uma ação desejada. Sua aplicação é presente em manuais de instruções, pedidos, prescrições, entre outros. O objetivo do texto injuntivo é instruir o leitor para alguma atividade ou situação. Sendo assim, eles instruem, informam, auxiliam, aconselham e/ou reco- mendam. Para alcançar esse objetivo, geralmente, uti- lizam de modelos que mostram um “passo a passo” das ações a serem realizadas. As principais características da sequência injunti- va são: � Linguagem simples, objetiva e de fácil entendimento; � Uso de frases curtas em tópicos ou numeradas; � Orações com verbos no imperativo ou infinitivo; � Não utiliza de figuras de linguagem; � Não há uma preocupação estilística; � Apesar da simplicidade, deve-se usar a norma cul- ta da língua, com as devidas correções gramaticais. Um texto injuntivo que faz uma súplica ou um pedido pode, anteriormente, utilizar a sequência expositiva, para apresentar uma determinada situa- ção ou, ainda, a dissertativa, para defender um ponto de vista e, em seguida, fazer a solicitação. Diferentemente, nos manuais de instrução, por exemplo, as ações instruídas organizam-se em ordem cronológica. Desse modo, o leitor obedece não apenas às solicitações, como também à ordem na qual estão estruturadas. � Exemplos de textos injuntivos � Mensagem religiosa doutrinária; � Instruções; � Manuais de uso e/ou montagem de aparelhos e outros; � Receitas culinárias e receitas médicas; � Textos de orientação comportamental. � Como construir um bom texto injuntivo? Atente-se aos tempos e modos verbais, a fim de não confundir entre a segunda e a terceira pessoas do discurso no modo imperativo. Além disso, é neces- sário haver coerência: todo o texto precisa estar em segunda ou em terceira pessoa, de forma homogênea. Ainda, seguir uma ordem lógica é muito importan- te, para não prejudicar a execução das ações e o resul- tado final. Por fim, é essencial destacar os pontos mais importantes do texto, isto é, os trechos que indicam aspectos cruciais para a boa execução das ações. Dialogal O texto dialogal tem como característica principal alternar turnos (ou tomadas de voz), os quais são cha- mados de turnos de abertura e de fechamento. Veja- mos alguns exemplos: � Abertura «— Olá!» «— Oi, tudo bem?» «— Como você está?» «— Boa tarde/noite!» � Fechamento «— Adeus.» «— Até logo.» «— Até mais.» «— Tchau.» «— Até a próxima.» «— Obrigado.» Entre a abertura e o fechamento há, de fato, a inte- ração entre os interlocutores, geralmente seguindo o modelo pergunta-resposta. As sequências dialogais estão presentes na entre- vista, no debate, nas narrativas literárias, no texto tea- tral, dentre outros. Além disso, estão diretamente relacionadas às sequências narrativa e descritiva. Os diálogos apare- cem com frequência em textos narrativos. TIPOS DE ARGUMENTO � Argumento de autoridade: utilização de citações de pesquisadores, entidades ou grupos acadêmi- cos reconhecidos. Garante credibilidade ao texto; � Argumento por comprovação: apresentação de estatísticas e dados de pesquisas com credibili- dade. Aumenta a confiabilidade da informação apresentada; � Argumento por exemplificação: apresentação de exemplos representativos que fortaleçam a informação; � Argumento de princípio: utilização de princípios, crenças e valores (lógicos, científicos, éticos etc) tidos como universais; � Argumento por causa
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