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“E ste estudo não pretende esgotar o tema, tampouco os resultados visam apre- sentar soluções padronizadas aplicáveis a toda e qualquer empresa familiar, mas sim inspirar e apresentar caminhos para outras empresas e fa- mílias que estejam iniciando ou já trilhando sua caminhada de adoção de práticas de governança corporativa e familiar.” GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO GOVERNANÇA EM EM PRESAS FAM ILIARES: UM ESTUDO Q UALITATIVO IBGC P esquisa IBGC – ASSOCIADOS MANTENEDORES Governança em empresas familiares: um estudo qualitativo São Paulo | 2020 Fundado em 27 de novembro de 1995, o Instituto Brasileiro de Governança Corpora- tiva (IBGC), organização da sociedade civil, é referência nacional e uma das principais no mundo em governança corporativa. Seu objetivo é gerar e disseminar conhecimento a respeito das melhores práticas em gover- nança corporativa e influenciar os mais di- versos agentes em sua adoção, contribuindo para o desempenho sustentável das organi- zações e, consequentemente, para uma so- ciedade melhor. Conselho de Administração PRESIDENTE Henrique Luz VICE-PRESIDENTES Iêda Aparecida Patricio Novais Leila Loria CONSELHEIROS Armando de Azevedo Henriques Carlos Eduardo Lessa Brandão Claudia Elisa Soares Gabriela Baumgart Israel Aron Zylberman Leonardo Wengrover Diretoria Pedro Melo Adriane de Almeida Reginaldo Ricioli Valeria Café A PwC Brasil conta com uma área especial- mente dedicada a apoiar a gestão de em- presas familiares com soluções nas áreas de estratégia, governança, transição de negó- cios, gestão de patrimônio e cultura organi- zacional, entre outras. Fazemos parte de um Network de fir- mas presente em 158 países e territórios, com mais de 250 mil profissionais dedicados à prestação de serviços de qualidade em au- ditoria e asseguração, consultoria tributária e societária, consultoria de negócios e assesso- ria em transações. Nosso propósito é construir confiança na sociedade e resolver problemas importantes. Presente no país desde 1915, a PwC Brasil conta com mais de 4 mil profissionais distribuídos em 17 escritórios em todas as regiões brasileiras. O aspecto mais estratégico dessa estru- tura pulverizada é garantir que, além da ca- pacitação e especialização inerentes a todos os profissionais da firma, os colaboradores regionais tenham amplo conhecimento das culturas e das vocações econômicas próprias de cada região. Nossas pessoas e nossa experiência nos capacitam a apoiar as empresas familia- res independentemente do tamanho ou do segmento de atuação. SÓCIO-PRESIDENTE Fernando Alves SÓCIO E LÍDER DE SERVIÇOS PARA EMPRESAS FAMILIARES Carlos Mendonça CRÉDITOS Esta pesquisa foi desenvolvida por grupo de trabalho formado por membros do IBGC e da PwC. Representaram as suas instituições: IBGC: Camila Cristina da Silva, Luiz Fernando da Costa Dalla Martha, Pedro Braga Sotomaior Karam, Va- leria Café e William Barros. PwC: Carlos Mendonça e Elton Amaral. AGRADECIMENTOS Às empresas que gentilmente se dispuseram a participar desta pesquisa: Algar Telecom, Boris Berenstein Me- dicina Diagnóstica, Centro Universitário Fametro – Unifametro, Chatuba Materiais de Construção, FCC, Grupo Baumgart, Grupo Moura, Implus Participações, Grupo Forza/MCA, Nakata, Auto Peças Padre Cícero, Parmê, além de outras que preferiram não ter seus nomes divulgados. Aos sócios, conselheiros, executivos e ex-executivos que disponibiliza- ram seu tempo para participar das entrevistas µ. A Tobias Coutinho Parente, pela participação e contribuição durante sua jornada no IBGC. A toda a equipe do IBGC, pelo apoio e pelas contribuições. PRODUÇÃO Redação: Camila Cristina da Silva, Luiz Fernando da Costa Dalla Martha, Pedro Braga Sotomaior Karam; Edição: Juliana Caldas; Revisão de provas: Camila Cristina da Silva; Projeto gráfico, diagramação e capa: Kato Editorial; Imagem da capa: Shutterstock. I59g Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC Governança em Empresas Familiares: Um Estudo Qualitativo / Instituto Brasileiro de Governan- ça Corporativa – IBGC. - São Paulo, SP : Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC, 2020. 32 p. ; 18cm x 25,5cm. – (IBGC Pesquisa) Inclui bibliografia e índice. ISBN: 978-85-99645-87-1 1. Administração de empresas. 2. Empresas familiares. 3. Governança. I. Título. II. Série. CDD 658 2020-385 CDU 658 Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva – CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático: 1. Administração de empresas 658 2. Administração de empresas 658 µ Como alguns dos entrevistados solicitaram não terem seus nomes divulgados, o IBGC optou por preservar a identidade de todos eles. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Sumário INTRODUÇÃO 7 Antecedentes 8 Amostra 9 ANÁLISES 11 Governança corporativa: gatilhos, desafios e soluções 11 Gatilhos 12 Desafios 13 Soluções 15 ANÁLISE TEMÁTICA 17 Sucessão 17 Conflitos familiares 19 Conselhos 20 Gestão não familiar 22 CONSIDERAÇÕES FINAIS 25 METODOLOGIA 27 Seleção das empresas participantes 27 Coleta de dados 29 Análise de dados 29 BIBLIOGRAFIA 31 GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 7 Introdução E m complemento ao estudo Governança em empresas familiares: evidências brasileiras (2019), esta pesquisa objetiva aprofundar o entendimento e explorar os principais ga- tilhos, desafios, dificuldades e soluções encontradas nas empresas familiares avaliadas em relação à adoção de práticas de governança. Para tanto, o IBGC e a PwC avaliaram as situações vivenciadas tanto por executivos ex- ternos quanto por membros da família que atuam nas empresas analisadas, explorando os fatores de sucesso e as dificuldades enfrentadas para a adoção de práticas de governança em relação à estruturação de conselhos, à sucessão e a definições sobre a atuação da família dentro da empresa e outras questões. Ressalta-se que os dados, as análises e os resultados apresentados são baseados nas entrevistas feitas com sócios familiares, conselheiros, executivos e ex-executivos que atuam ou atuaram nas empresas da amostra. Este estudo não pretende esgotar o tema, tampouco os resultados visam apresentar soluções padronizadas aplicáveis a toda e qualquer empresa familiar, mas sim inspirar e apresentar caminhos para outras empresas e famílias que este- jam iniciando ou já trilhando sua caminhada de adoção de práticas de governança corpora- tiva e familiar. Introdução INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA8 Introdução Antecedentes Com o objetivo de apresentar um pa-norama das práticas de governança adotadas pelas empresas familiares brasi- leiras de capital fechado, o IBGC e a PWC lançaram, em março de 2019, a pesquisa Governança em empresas familiares: evi- dências brasileiras. De caráter quantitativo, o estudo obteve 371 questionários on-line µ Vale ressaltar que cada questionário preenchido representa uma empresa de controle familiar diferente. respondidos, dos quais 279 foram conside- rados válidos para compor a amostra do estu- do µ. O Quadro 1 apresenta resumidamente os principais destaques da pesquisa. ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA GOVERNANÇA FAMILIAR GOVERNANÇA CORPORATIVA O diretor-presidente é um membro da família controladora em 82% das empresas. 73% das famílias pesquisadas têm pelo menos uma estrutura de governança familiar. A mais comum é a reunião/as- sembleia familiar. 94% das empresas têm alguma estru- tura de fiscalização e controle. A mais recorrente é a controladoria. A existência de um conselho de admi- nistração estatutário é mais frequente entre as empresas que estão na terceira geração e em que o fundador não está mais atuando. As famílias apresentam mais regras para tratar da entrada de familiares na empre- sa do que para disciplinar a sua saída. Aproximadamente 60% das empresas têm acordo entre os seus sócios. Conflitos familiares são o principal mo- tivo para a saída de sócios das empresaspesquisadas. Apenas 28% das empresas têm plano de sucessão para cargos-chave. O percentual é ainda menor (20%) quando considera- do o plano para o presidente do conselho de administração. Somente 10% das empresas afirmaram nunca ter discutido a adoção de práticas de governança. 68% das empresas têm mecanismos formais para garantir a separação entre o patrimônio da família e o da corporação. 64% das empresas apresentam código de conduta/ética. Quadro 1. Destaques da pesquisa Governança em empresas familiares: evidên- cias brasileiras Embora a pesquisa quantitativa tenha identificado as estruturas de governança das empresas da amostra, ela não permitiu des- trinchar como o processo ocorre na prática. Questões menos objetivas, como as que en- volvem, por exemplo, os gatilhos, os desafios e as principais soluções e problemas enfren- tados na implementação, não puderam ser exploradas. É justamente essa lacuna que este estudo busca preencher. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 9 Introdução Amostra Foram convidadas a responder esta pes-quisa algumas empresas que participa- ram do estudo quantitativo Governança em empresas familiares: evidências brasileiras, tendo sido aplicados alguns critérios de se- leção na tentativa de alcançar uma amostra diversificada µ. Das 22 empresas inicialmente con- vidadas para as entrevistas, 15 aceitaram participar, e 19 representantes dessas em- presas foram entrevistados – em sua maio- ria eram membros da família empresária, que ocupavam diferentes posições na estru- tura organizacional, seja como sócios, con- selheiros, executivos ou ex-executivos. µ Mais detalhes sobre a seleção da amostra e o perfil das empresas entrevistadas podem ser encontrados na sessão Metodologia deste relatório. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 11 Análises Análises E nquanto a pesquisa quantitativa traçou um panorama geral das empresas da amostra, o presente estudo, de natureza qualitativa, analisa de modo mais detalhado e aprofun- dado a vivência dos participantes na governança corporativa. Em outras palavras, como se uti- lizasse uma lupa, esta pesquisa permite enxergar os processos mais de perto, ampliando os resultados da etapa anterior para captar as nuances do processo pela óptica de quem vivenciou a jornada da governança nas organizações. Nessa seção, apresenta-se uma análise dos aspec- tos relevantes na implantação e no desenvolvimento da governança nas empresas familiares da amostra. Governança corporativa: gatilhos, desafios e soluções E ste capítulo tem por objetivo apresentar ao leitor, de maneira consolidada, os principais gatilhos, desafios e soluções vivenciados pelos entrevistados no tocante à adoção de prá- ticas de governança corporativa e em alguns casos de governança familiar. INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA12 Análises Quadro 2. Governança corporativa na empresa familiar: gatilhos, desafios e soluções Gatilhos O desenvolvimento da governança corporativa não é algo que ocorre espontaneamente na organização: em pra- ticamente todos os casos, há gatilhos que iniciam ou estimulam o processo. Entrada de novas gerações no papel de acionista ou na gestão, conflitos geracionais ou en- tre diferentes núcleos familiares, busca de financiamento externo, falecimento do(s) fundador(es), necessidade de profissio- nalização µ da gestão e de cuidado com a sucessão são alguns dos aspectos evidencia- dos nas entrevistas. A entrada de novas gerações, seja no papel de acionista ou na gestão, tende a fo- mentar discussões sobre governança corpo- rativa e familiar, culminando muitas vezes na adoção dessas práticas pela primeira vez na empresa. Observou-se que, em algumas das empresas entrevistadas, os filhos ou netos foram os agentes que introduziram o assunto na empresa, especialmente quando assumi- ram o papel de gestor ou de acionista. “Aí a terceira geração ascendeu ao pos- to de acionista e passou a conversar de igual para igual [com as anteriores]. Numa relação hierárquica, histórica, é diferente; mas ali a gente tinha que µ Neste documento a “profissionalização” diz respeito à busca de habilidades e conhecimentos necessários para a gestão da empresa familiar, seja pela capacitação dos membros da família, seja pela busca de profissionais externos a ela. O termo não deve ser entendido de maneira pejorativa, como uma crítica de que empresas familiares não sejam bem administradas. GATILHOS DESAFIOS SOLUÇÕESGATILHOS DESAFIOS SOLUÇÕES Entrada de novas gerações no papel de acionista ou na gestão. Concentração de poder e personalis- mo (fundador). Diálogo aberto e respeitoso entre os membros da família e os demais stakeholders. Conflitos geracionais ou entre núcleos familiares diferentes. Resistência socioemocional, espe- cialmente o “apego” à gestão. Aquisição de conhecimento sobre governança e gestão. Necessidade de trabalhar a sucessão. Falta de conhecimento em gover- nança das gerações seniores. Afastamento da família da gestão. Falecimento do(s) fundador(es). Necessidade e profissionaliza- ção da gestão (conhecimentos não disponíveis na família ou decisão de afastamento). Implementação do conselho (ou órgãos colegiados). Criação de regras para a entrada de familiares. Criação de holdings familiares e patrimoniais. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 13 Análises estabelecer como seria a distribuição de lucros, de dividendos [...]” (Membro da família) Por outro lado, as entrevistas realizadas evidenciaram casos em que o fundador foi o gatilho para o início da adoção das práticas de governança, seja movido pela preocupa- ção com a sucessão ou pelo desejo de desen- volver outras atividades. Nas entrevistas, observou-se ainda que a emergência de conflitos geracionais ou entre diferentes núcleos da família pode estimular a governança corporativa. Se bem gerenciadas, as discordâncias que naturalmente surgem na empresa familiar podem expor a necessidade de sistematização de regras e procedimentos no relacionamento entre stakeholders, muitas vezes para evitar que esses conflitos se repitam no futuro. De modo semelhante, houve casos em que a perspectiva de um financiamento externo expôs a necessidade de um acordo entre os acionistas µ e os familiares ou de ou- tras estratégias para aprimoramentos de go- vernança, como medidas preventivas contra possíveis conflitos que viessem a ocorrer em decorrência do empréstimo. No contexto ideal, a consciência da inevitável finitude da vida promoveria o pla- nejamento sucessório e a adoção de práticas de governança corporativa relacionadas, de modo a programar a continuidade dos negócios. Essa tônica foi, de fato, observada em algumas das empresas familiares anali- sadas, no entanto, a sucessão ainda tende a ser pouco planejada nessas empresas, como se observou em alguns casos analisados. Situações delicadas e sensíveis como o fale- cimento do fundador, seu afastamento invo- luntário da empresa por motivos de saúde ou ainda outras questões de caráter particu- lar que o aflijam demandam das empresas familiares uma visão de longo prazo e, nesse sentido, a governança corporativa pode ser um mecanismo que auxilie na continuidade/ perenidade da empresa familiar, estimulan- do o planejamento sucessório. Outro gatilho importante diz respeito à chamada profissionalização da gestão – que pode envolver a decisão de afastamen- to do familiar do cargo de CEO, ou a busca de indivíduos com conhecimentos não ime- diatamente disponíveis na empresa naque- le momento. µ Acordos entre os sócios/acionistas regem questões como: compra e venda de ações pelos signatários; preferência para adquirir as participações dos demais sócios; exercício do direito a voto e poder de controle nas assembleias. O interesse da organização não deve ser colocado em risco pelo acordo. Desafios M uitos foram os desafios elencados pelas empresas familiares partici-pantes deste estudo, como exemplo a con- centração de poder nas mãos do fundador e o personalismo daí decorrente. É importante afirmar, no entanto, que frequentemente o fundador está legitimado, jurídica e social- mente, para decidir estrategicamente pela organização, e há fundamento no seu senti- mento de “dono da empresa”, que inexistiria sem o seu trabalho e persistência pioneiros. Por outro lado, a concentração de poder e o personalismo podem reduzir a confiança no preparo dos possíveis sucessores familiares, dentre outras consequências. Em qualquer caso, sempre deve existir respeito pela figu- ra do fundador ou o processo pode se tornar ainda mais difícil. Em geral, no início do ciclo de vida da empresa familiar os papéis de gestor e só- INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA14 Análises cio/acionista se mesclam no fundador. Como o direito econômico e decisório se concentra na mesma pessoa, não existe propriamente o conflito de agência µ e também não há estímulo para adoção das melhores práticas de gover- nança (por exemplo, acordo entre sócios, protocolo fami- liar ou estruturas de conse- lho), pois o fundador é o dono da empresa familiar, o principal responsável pelas deci- sões e o mais impactado por elas. O lado negativo está relacionado jus- tamente à dependência que se cria em tor- no dessa figura central. É comum que haja pouco espaço para familiares e colaboradores na tomada de decisão, ou que informações relevantes não sejam compartilhadas na re- solução de problemas. Observa-se também menor grau de formalização, pois, via de regra, aspectos relevantes da gestão estão na cabeça do fundador e não são necessaria- mente formalizados. Mesmo quando estruturas de go- vernança já são adotadas, a “sombra” do fundador sobre as gerações futuras pode subjugar o cumprimento de regras ou acor- dos preestabelecidos. Esse traço personalista foi encontrado principalmente em empresas familiares na segunda geração; apesar de formalmente afastado da função de principal executivo, é ele/ela quem detém a palavra fi- nal nas questões gerenciais do dia a dia da or- ganização. Pode haver também o receio, por parte dos sucessores, de aplicar ao fundador e aos demais membros da primeira geração as regras de governança, ainda que acordadas previamente, em função do respeito e dos laços familiares envolvidos. “[...] Qual decisão que nós tomamos baseada no conselho? Alavancagem de n milhões? Como? Porque o meu pai falou, eu acho que nós devemos fazer o negócio, ok? [...]” (Membro da família) Outro desafio relatado nas entrevistas diz respeito ao apego pela função executiva na empresa familiar, caracterizando uma resistên- cia socioemocional. Observou-se que membros da família que ocupam funções executivas ten- dem a compartilhar o sentimento de perda e/ ou vazio, pois, para eles, sair da gestão equiva- le a deixar a empresa – mesmo que seja para assumir outros papéis, como o de acionista ou de conselheiro. Esse sentimento pode ser per- cebido pela comunidade onde o negócio está instalado, não raro gerando ruídos para além da organização. Trata-se de um processo doloroso para a maioria dos familiares entrevistados – em alguns casos comparado ao fim de uma vida – e, por consequência, um desafio a ser enfrentado no processo de estruturação da governança. Ao implementar práticas de governan- ça corporativa, muitas vezes as famílias preci- sam tratar de temas polêmicos e sensíveis e também de eventuais conflitos. Em geral, são assuntos que trazem desconforto em qual- quer contexto e que se acentuam no âmbito da empresa familiar pelo caráter delicado das relações familiares e delas com o negócio. Logo, a tendência natural é postergar diálo- gos importantes para o estabelecimento de regras e procedimentos de governança. Outro desafio relatado por alguns en- trevistados refere-se à falta de conhecimento sobre governança, relativamente comum nas gerações seniores. µ Conflito de agência: caracteriza-se pelo conflito de interesses entre acionista e gestor. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 15 Análises Soluções S e por um lado os desafios da governan-ça são complexos, por outro as empresas familiares investigadas propiciaram insights interessantes sobre possíveis soluções e ca- minhos para enfrentá-los. O processo de governança, invariavel- mente, lida com relações de poder no seio familiar e empresarial. Nesse sentido, a ma- nutenção de um diálogo aberto e respeitoso entre familiares e demais stakeholders pode fazer a diferença para uma implantação bem ou malsucedida. Apesar da aparente simpli- cidade, trabalhar temas sensíveis com uma comunicação fluida e respeitosa pode ser, na prática, uma tarefa bastante árdua. De maneira convergente, a aquisição de conhecimento em governança e gestão atua como possível solução para os desafios elencados. É bastante comum o relato de sucessores que tiveram acesso a um nível de educação formal que os fundadores não conseguiram, em universidades e institutos de relevância, nacionais e internacionais. A difusão do conhecimento sobre governança corporativa, reverberada na voz dos sucesso- res ou de outros agentes, amplia o leque de soluções para problemas organizacionais nos níveis hierárquicos superiores. “[...] Então a primeira coisa foi começar a participar de eventos; a gente parti- cipou de um evento fora do Brasil, [...] e foi a primeira vez que a gente ouviu falar de governança familiar [...]” (Membro da família) A ajuda externa envolve, na maioria das vezes, a presença de consultores para proje- tos ou demandas específicas. O consultor pode sugerir estruturas de governança como forma de resolver problemas relevantes (por exemplo, o processo de sucessão do CEO), ou mesmo auxiliar a implementá-las. Em ambos os casos, ele atua como promotor da gover- nança, contribuindo com conhecimento teórico e prático, mediando diálogos entre membros de dentro e fora da família. Mas ele não é o único: o auxílio externo também pode ocorrer por meio da participação em re- des (networking), com troca de informações e experiências com outras organizações que discutem o tema. O ponto central é que a tarefa de im- plementar estruturas de governança pode ser bastante árdua sem o apoio de facilita- dores. A visão externa, imparcial e isenta de envolvimento emocional na teia de relacio- namentos da empresa familiar ajuda a enxer- gar soluções para os problemas vigentes, por meio da governança corporativa. “[...] eu tinha a visão de que a gente sempre precisava ter uma figura de um agente externo, um facilitador pra ajudar a promover essas conver- sas [diálogos entre as gerações, sobre a criação de estruturas da governança familiar [...]” (Membro da família) Um aspecto importante e recorrente nas entrevistas realizadas para este estudo diz respeito à visão processual da governança: relatos demonstraram que existem processos de assimilação e maturidade na governança, conforme se eleva a complexidade organiza- cional e novas estruturas são implementadas. É recorrente, por exemplo, que o crescimento da empresa familiar exija conhecimentos ou habilidades não prontamente disponíveis no seio familiar; logo, o afastamento de fami- liares da gestão (e a contratação de um CEO externo) torna-se uma solução plausível para enfrentar os desafios do presente. Por outro lado, as experiências, os co- nhecimentos e o próprio legado construído INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA16 Análises pelas gerações não devem se esvair da orga- nização: os familiares podem e devem se pre- parar para assumir outras funções estratégicas. Nesse sentido, a estruturação de um conselho (ou outro órgão colegiado) pode ser o “espaço” ideal para que familiares e outros agentes da governança contribuam com a sua vivência e experiência em prol do desempenho de longo prazo da empresa familiar. Estruturas de con- selho emergem como soluções nãosomente para o controle da gestão, mas também como forma de melhorar a qualidade do processo decisório estratégico – especialmente quando contam com membros independentes. “[...] Eu acho que foi muito bacana no nosso caso porque a gente conse- guiu fazer tudo com muito respeito; por exemplo, o dia que a gente saiu do escritório a gente fez um ritual de agradecimento, fez uma placa come- morativa. [...] Não é que a família está abandonando o negócio, a família está evoluindo o negócio pra deixar um le- gado, pra perpetuá-lo, pra ser compe- titiva, pra modernizar a gestão, e tudo com muito respeito e gratidão [...]” (Membro da família) Nesse contexto, a criação de regras para a entrada de familiares e de holdings familiares e patrimoniais, como mecanis- mos da governança familiar, ajuda nos princípios da transparência e da equidade. As regras de entrada trazem critérios cla- ros para os familiares que desejam realizar sua carreira profissional na empresa fami- liar, sem desconsiderar as exigências de competitividade do mercado. Observou-se também a existência de planos individuais de capacitação nas empresas entrevistadas, para melhor preparação da família. Outro aspecto importante das regras de entrada diz respeito à percepção, muitas vezes comum entre colaboradores de fora da família, de que a contratação de familiares é facilitada pelos laços de parentesco – um cer- to nepotismo organizacional. Essa observação muitas vezes atinge o próprio colaborador familiar, que pode não se sentir legitimado para exercer sua atividade profissional, ain- da que tenha capacidade para tal. As regras minimizam esse problema, especialmente quando transparentes para toda a empresa. De maneira convergente, a criação de holdings familiares e patrimoniais confere segurança jurídica para a perenidade e a con- tinuidade da sociedade, auxiliando na delica- da questão da gestão patrimonial. Enquanto a holding patrimonial auxilia na integração dos bens ao capital social, as holdings fami- liares (comumente organizadas em torno dos diferentes ramos da família) emergem como soluções na gestão do patrimônio de um ou mais membros da família. Trata-se de meca- nismos da governança que minimizam pro- blemas concretos, podendo, inclusive, gerar benefícios fiscais e sucessórios. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 17 Análise temática A análise temática objetiva contextualizar os resultados apresentados anteriormen-te em relação a algumas questões críticas no desenvolvimento da governança corporativa e familiar: i) sucessão; ii) conflitos familiares; iii) conselhos; e iv) gestão não familiar. Sucessão U ma das conclusões da pesquisa Governança em empresas familiares: evidências brasilei-ras (2019) foi a de que a presença do fundador parecia estar correlacionada a um menor nível de adoção de práticas de governança. Uma das hipóteses levantadas para aquele resul- tado foi a de que o fundador poderia se configurar como um agente complicador do processo de implementação da governança, entre outros motivos pelo receio da perda da posição, pelo compartilhamento do poder decisório ou pela dificuldade de aceitar o seu afastamento do dia a dia da empresa. Os resultados das entrevistas evidenciaram, no entanto, que o fundador, movido pela necessidade de estruturar a sucessão e deixar um legado aos herdeiros, contribui de maneira substancial no processo de estruturação da governança corporativa quando compreende a im- portância dessa operação. Análise temática INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA18 Análise temática Nas empresas da amostra em que o fundador se envolveu no exercício sucessó- rio, evidenciou-se que, em geral, ele foi um apoiador do processo sob o argumento de que se trata de etapa importante e necessária para a prosperidade e a longevidade da em- presa. Em alguns casos a discussão sobre o tema partiu do próprio fundador. “[...] alguns anos atrás, participando de eventos do IBGC eu vi um depoi- mento em que a pessoa disse o se- guinte ‘olha, eu descobri que eu sou mortal e que no caixão eu também não vou levar nada’, então aí eu come- cei a pensar também, que inicialmen- te eu queria crescer, eu queria o meu nome cada vez mais forte, depois eu vi que queria investir em novos equi- pamentos, então eu disse ‘pera aí, será que não tá na hora de você inves- tir na sucessão e investir no sucessor e no sucedido?’, e aí eu comecei a me preparar pra essa questão, que não é fácil não minha gente [...]” (Fundador) “[...] o [fundador] mais velho foi o primeiro a sair da sociedade. Depois, ficou um [membro] da segunda gera- ção com dois [membros] da primeira geração e, depois, todos [os da pri- meira geração] saíram e ficou só se- gunda geração. Foi muito tranquilo. A sucessão foi bem-feita. Claro que ha- via ali atritos, mas eu acho que atritos como os que há entre os sócios, con- flitos [atritos e conflitos comuns]. Foi uma transição feita por pessoas sim- ples, muito simples, primeira geração são homens muito simples, imigran- tes que não se serviram de nenhuma consultoria, nem prepararam, à sua maneira, os filhos.” (Membro da 2° geração) Durante o processo de sucessão, ou mesmo durante o planejamento da sucessão, muitos são os desafios e incertezas vivencia- dos pela família empresária. Na voz do fun- dador, há diversos sentimentos envolvidos, existindo casos em que relatam que o maior desafio enfrentado nesse processo é em re- lação à dificuldade de desapego para com a empresa por ele criada, uma vez que ela é seu projeto pessoal e idealizado – muitas vezes colocada, inclusive, à frente da própria família na sua lista de prioridades. Para os fundadores, uma maneira de se trabalhar o desapego é buscando novas metas pessoais, novo propósito de vida, novas ativi- dades e funções dentro ou fora da empresa. Al- guns optam por diversificar os negócios, outros passam a ocupar um assento no conselho de administração, há também aqueles que bus- cam nos esportes ou em outras atividades uma forma de empregar o tempo livre em decorrên- cia do afastamento do dia a dia da empresa. Houve consenso entre os entrevistados de que é comum haver interesse dos herdeiros em discutir a temática da sucessão. No entanto, no decorrer desse processo, uma das preocupa- ções que emerge é em relação à preparação dos herdeiros para assumir o papel de acionista ou outra função dentro da empresa. Evidenciou- -se, por meio da pesquisa, que a preparação dos herdeiros não segue um padrão, existindo diferentes maneiras de conduzi-la: • investimento em formação superior, cursos técnicos e especializações, tanto no Brasil quanto no exterior; • alocação dos herdeiros em cargos de gestão ou operacionais da em- presa, de modo a adquirirem conhe- cimento sobre o funcionamento da corporação; • criação de treinamentos ou planos de formação pela própria empresa para o acionista/herdeiro; e • criação de programa de trainee espe- cífico para os membros da família. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 19 Análise temática Nesse ínterim surgem ainda preocu- pações com a separação do patrimônio da família e o da empresa. Observa-se nessas situações que a solução comumente adotada pela família é a criação de uma holding patri- monial ou uma holding familiar µ, variando caso a caso. Para a instituição dessas estrutu- ras, em todos os casos as famílias contaram com o suporte externo especializado, de modo que fosse desenhado o modelo mais adequado à família. Os desafios enfrentados pelas empre- sas familiares no tocante à sucessão são mui- tos e esta pesquisa não é capaz de esgotá-los, mas, com base no estudo realizado, além dos já relatados, ainda pode-se citar: • conciliar os diferentes ritmos das ge- rações e do fundador e seus filhos; • criar uma estrutura adequada e pro- pícia para a saída do fundador; • trabalhar o núcleo familiar, focando na perpetuidade e união da família; • estimulare incentivar os filhos a seguirem a própria vida e pensarem no futuro, sendo protagonistas da própria história, transformando a carreira na empresa em uma opção e não uma obrigação; • equacionar o paternalismo e o patri- monialismo no fundador; • decidir pela venda ou não do negócio; • preparar os filhos para serem bons profissionais, bons empreendedo- res e pessoas felizes. µ Holding patrimonial é a empresa criada visando a integração de bens ao capital social com o objetivo de facilitar a gestão do patrimônio, podendo gerar ainda benefícios fiscais e sucessórios. Holding familiar é a empresa patrimonial criada com a finalidade específica de gerir o patrimônio de uma ou mais pessoas membros da família. Conflitos familiares O s conflitos tendem a ser mais recor-rentes e intensos no contexto da em- presa familiar justamente por aquilo que a caracteriza: a influência do subsistema fami- liar nas dimensões de gestão e propriedade. Uma série de discordâncias existentes na família invade a empresa – como eventuais rivalidades entre irmãos, brigas conjugais, desejo da segunda geração em se diferen- ciar da primeira, dentre diversas outras (a lista é, de fato, potencialmente infinita). Por outro lado, também é justo dizer que dis- putas iniciadas na empresa com frequência alcançam o seio familiar, não raro gerando separações e ocasionando traumas de difícil reconciliação entre os parentes – especial- mente nas sociedades de irmãos (2ª gera- ção) em diante. Não por acaso os resultados da pesquisa Governança em empresas fami- liares: evidências brasileiras identificaram o conflito familiar como o principal motivo que leva à saída de sócios. Praticamente todos os casos analisa- dos indicam que os conflitos são inerentes também ao processo de construção da go- vernança corporativa. Não surpreende pois, frequentemente, a governança lida com pa- drões culturais e relações sociais (não raro en- volvendo a temática do poder) já enraizados há muito tempo na organização. Nesse senti- do, pode ocasionar uma profunda mudança de mentalidade na empresa familiar. Poucas vezes a governança ocorre (e talvez nem deva ocorrer) em pleno consenso entre os mem- bros familiares e os demais stakeholders. Nas entrevistas realizadas, eviden- ciou-se que o conflito pode tanto fomentar quanto dificultar a construção da governança INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA20 Análise temática corporativa. Em determinada empresa, por exemplo, as discordâncias entre herdeiros estimularam a criação de um acordo de sócios para a segunda geração e, poste- riormente, um family office µ para cuidar de questões fami- liares. Em outra, também na segunda geração, os conflitos evidenciaram a necessidade de separação dos papéis de membro da família e de ges- tor, iniciando um primeiro movimento de pro- fissionalização da empresa familiar. Em outros dois casos, divergências entre familiares da se- gunda e da terceira gerações foram trabalha- das de modo a fomentar a união em prol de estruturas de governança – o que contribuiu para a criação de um consenso e de coesão sobre um norte em comum. “[...] os conflitos sempre existem, né? Tem famílias que gostam de falar, ou- tras não gostam de falar. Quando a gente começa a escutar outras famílias sobre essas questões, a gente vê que, na verdade, não estamos criando essa governança para não ter conflito, mas para ter os canais certos de discussão dessas questões. Então a gente... não é que não temos mais conflito, mas ago- ra nós temos as regras [...]” (Membro da família) Por outro lado, há também casos em que o surgimento de conflitos – especialmen- te os pessoais – pode não apenas dificultar o avanço da governança, mas comprometer a própria sociedade e os relacionamentos fami- liares. Verificou-se a ocorrência de situações em que os conflitos no âmbito familiar decor- reram da falta de regras sobre a distribuição de dividendos: “[...] não vai sair caixa da empresa não, pra quê? Aí o trem desandou de vez. A situação foi até maio, quando houve a última reunião do conselho consultivo. O pessoal simplesmente levantou e saiu, foi bem teatral mes- mo. E aí veio a negociação, totalmente desgastante, que culminou na saída de um dos núcleos familiares [...]” (Membro da família) Em suma, os relatos permitem identi- ficar os padrões em relação a conflitos e suas intersecções com a governança corporativa. A ocorrência de discordâncias e desentendi- mentos, pode-se afirmar, é algo quase natu- ral na construção da governança. A diferença parece estar na forma como esses conflitos são trabalhados na empresa familiar. Em geral, os casos mais bem-sucedidos foram aqueles em que as famílias: i. encararam os conflitos como parte natural do processo; ii. estabeleceram diálogo aberto e respeitoso, ainda que em relação a temas sensíveis; iii. buscaram se antecipar aos proble- mas por meio de regras acordadas entre todos os membros e/ou núcle- os familiares. µ Family Office é a estrutura que apoia a governança da família e presta serviços aos familiares. Existem vários formatos de family office praticados pelas famílias, os quais abrangem desde a simples prestação de serviços de concierge até a gestão de patrimônio ou de filantropia. Conselhos U m dos objetivos desta pesquisa foi compreender a dinâmica de consti- tuição e funcionamento dos conselhos nas empresas familiares. Quando questionados sobre os gatilhos que fomentaram a criação de um conselho, seja ele de administração, GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 21 Análise temática consultivo ou familiar, os entrevistados re- lataram diferentes motivos para sua criação. Para alguns, a constituição de um conselho foi a solução encontrada para a necessida- de de profissionalizar a empresa, ao passo que, para outros, a implantação de um órgão colegiado, em especial o conselho de admi- nistração, foi fator determinante para que a empresa pudesse pleitear a obtenção de in- vestimentos visando seu desenvolvimento. Importante destacar que, apesar de não ser unânime entre os respondentes, o aspecto mais citado como motivador para a imple- mentação de um conselho foi a intenção de se solucionar conflitos familiares e também efetivar o afastamento da família da empre- sa, pelo menos no que diz respeito à gestão direta por parte da família. Observou-se também que a constituição de um conselho de administração somente ocorre em empresas cujas práticas de gover- nança corporativa já estão em um estágio mais avançado. Ou seja, a empresa possui certa ma- turidade em relação à governança e, comu- mente, os membros da família já não atuam mais na gestão, mas apenas como acionistas. Nos casos de empresas de governança ainda incipiente, predominam os conselhos consultivos, muitas vezes, informais. Estes, na grande maioria dos casos, não cumprem os papéis aos quais se propõem, apresentan- do falhas que vão desde a definição de pauta até a formalística das discussões do grupo. Atuando de maneira informal, as reuniões são convocadas apenas quando a família sen- te necessidade ou ainda para suprir alguma demanda específica. “[...] durante uma época a gente ti- nha um conselho consultivo com a participação de duas pessoas de fora, mas esse conselho consultivo funcio- na mais nas nossas viagens, não tem uma coisa formal não [ ...]” (Fundador) “[...] esse é um ponto, né, que a gente precisa realmente trabalhar, porque é um conselho feito pelos membros diretivos da empresa, então ele acaba perdendo um pouco de governança, um pouco não, bastante, né?” (Membro da família) “[...] O conselho consultivo tempora- riamente não está mais acontecendo. Então houve... eu vou chamar de um processo de reavaliação, outros po- dem chamar de retrocesso, mas é o momento que estamos hoje [...]” (Membro da família) Os três excertos acima reforçam a di- ficuldade na implantação de um conselho efetivo e maduro o suficientepara discutir temas estratégicos da empresa. Geralmente, o estabelecimento do conselho consultivo é fomentado por diversos agentes, como os próprios fundadores, seus sucessores ou con- sultorias externas. “[...] foi elaborado o plano de desen- volvimento e tivemos aqui um con- sultor que nos ajudou na questão do acordo de sócios, no levantamento das situações de governança, como iria ser, o ideal da gente já ir organi- zando para ter alguém assumindo, e aí formamos o Conselho, estrutura- mos o Conselho, hoje eu tenho um conselheiro independente [...]” (Membro da família) Algumas das empresas entrevistadas ainda não conseguiram avançar na constitui- ção do conselho consultivo, logo, apresentam um órgão colegiado restrito aos membros da família, mas que também não possui carac- terísticas de um conselho familiar, existindo uma confusão de papéis dos órgãos, como ressaltado pelos excertos a seguir: INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA22 Análise temática “[...] o Conselho é mais, assim, um con- selho da família, são eles, da família, e aí, é lógico, quando tem uma decisão maior, envolvem os outros sócios, em geral, envolvem o [executivo] especí- fico da empresa, que pode ter algum ponto ali... então existe o conselho da família e a gente participa... na prática, a gente participa com a frequência ra- zoável quase todas as vezes... às vezes, participa mais para se atualizar, ver o que tá acontecendo de uma forma ge- ral, mas na prática seria isso [...]” (Ex-executivo) “[...] eles não formaram ainda um conselho de administração propria- mente dito, eles simplesmente sa- íram da gestão e tem uma reunião que eles chamam de conselho, mas na verdade é uma reunião de acionis- tas, uma reunião de sócios onde estão os sócios da empresa e não tem um presidente do conselho, não existe a figura do conselho [...]” (Executivo externo à família) Ao analisar os desafios enfrentados na implantação dos conselhos, apenas uma minoria de entrevistados relata resistências oriundas de membros da família ou do pró- prio fundador em decorrência de disputas familiares, medo da perda do controle e/ou falta de paciência dos membros da família para com as novas regras criadas para o fun- cionamento do referido órgão. Gestão não familiar C omo discutido até aqui, muitos são os desafios vivenciados pelas famílias ao longo da existência da empresa. Um de- les é a inserção de um executivo externo à família na gestão da corporação, seja para atuar como diretor-presidente, financeiro, gerente de áreas operacionais críticas ou até mesmo no assessoramento da família em temas específicos. Ou seja, se o executivo externo muitas vezes é idealizado e se constitui na empresa familiar como uma solução para determi- nados problemas – que englobam desde a ausência de um sucessor dentro da família, passando pela necessidade de um profissio- nal que possua determinadas habilidades e conhecimentos técnicos e que não se encon- tra no seio familiar –, em outras converte-se em um novo desafio a ser enfrentado em de- corrência de atritos com a família. Das empresas participantes desta pes- quisa, oito sinalizaram ter ou já ter tido em seu quadro um ou mais executivos externos à família. A iniciativa pela busca deste profis- sional não é consenso entre os entrevistados, havendo casos em que a decisão pela contra- tação dele partiu do fundador, enquanto em outros essa questão iniciou-se entre os mem- bros da segunda geração. Em raros casos a decisão pela busca de um executivo externo à família iniciou-se somente a partir da ter- ceira geração. A resolução de buscar um profissional que possua conhecimentos e experiências específicas no mercado, tanto para ocupar cargos de gestão quanto de direção (como um CEO, por exemplo), não é tarefa fácil para a família empresária. Abaixo são elencados os motivos que levaram as famílias empresárias participan- tes desta pesquisa a inserirem em sua gestão um executivo externo à família: • solução para o problema de suces- são (ausência de um herdeiro que GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 23 Análise temática deseje assumir a posição ou que esteja preparado para o posto); • desejo do fundador de se afastar dos negócios; • vontade de amadurecer a gestão da empresa; • reestruturação dos negócios e da empresa como um todo, evitando a falência; • reestruturação da empresa visando o afastamento dos membros da fa- mília da atuação na empresa; • solução para brigas familiares; • desejo de implantação da governan- ça corporativa; • criação de regras e procedimentos para a entrada de gerações futuras na empresa; • solução para áreas em que a família não possua expertise, como em áre- as financeiras e de compras. Há casos em que a contratação do executivo configurou-se como um baluar- te: após a sua entrada na empresa, obser- vou-se que ela deixa de lado a inércia e os problemas financeiros, operacionais e de gestão em que se encontrava, passando a ter uma atuação proativa e voltando a ex- pandir os negócios. “[...] colocamos uma pessoa, uma ten- tativa de profissionalizar a gestão. Co- locamos uma pessoa e não deu certo porque tem muito envolvimento meu e da minha esposa. Nós concentra- mos ainda o poder dentro da família, não profissionalizamos [...]” (Fundador) “[...] o desafio é vencer obstáculos in- ternos porque em uma empresa que foi tocada por uma família durante muito tempo acaba tendo muito ‘que- rido’ do avô, muito ‘querido’ da tia, muito ‘querido’ do primo, muito ‘que- rido’ da irmã, e não necessariamente essas pessoas são capacitadas a ocupa- rem a posição na qual estão alocadas.” (Executivo externo à família) É importante destacar que, nos casos de sucesso de atuação do executivo externo, houve uma limitação da ação dos membros da família na empresa. Em alguns cenários, o executivo condicionou sua permanência na empresa ao afastamento da família da gestão e à liberdade para contestar algumas opiniões da família. A pesquisa evidenciou que a relação do executivo externo com a família empresária nem sempre se constrói em uma via pacífica. Embora a contratação de um executivo exter- no se configure uma solução para os casos em que o fundador não dispõe de um sucessor preparado dentro da família, foi identificado em algumas entrevistas que o desligamento do executivo externo, em geral, estava rela- cionado à necessidade de recuperação do poder decisório por parte do fundador e/ou da família empresária, por entenderem que o executivo passou a ter mais poder do que eles e a tomar decisões que contrariavam os desejos da família. Evidenciou-se ainda que um dos de- safios enfrentados quando da inserção do executivo externo na empresa é o relaciona- mento com a família, uma vez que nem todos possuem aptidão para atuarem em empresa familiar, principalmente no que diz respeito à capacidade de comunicação, ao alinhamento de valores e cultura, e ao compartilhamento de informações para a tomada de decisão. O desfecho dessas relações, por vezes, materializou-se em brigas, decisões ruins, conflitos familiares e, consequentemente, no desligamento do executivo do quadro de profissionais da empresa. Percebeu-se ainda que é necessário compreender o momento da família e da empresa, de modo que a contrata- INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA24 Análise temática ção do executivo ocorra em momento oportu- no e seja acordada entre todos os familiares. “[...] Então, é difícil mesmo você conse- guir alinhar entendimentos, expectati- vas e formas de trabalho de gerações tão diferentes. A maior dificuldade é um sócio entender que tem que sentar e tem que conversar.” (Executivo externo à família) GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 25 Considerações finais Considerações finais E m meio aos desafios inerentes a todo negócio, as empresas familiares também enfren-tam situações específicas justamente por seremconstituídas por membros de uma ou mais famílias: a convivência, harmônica ou não, entre estes indivíduos e a conciliação de di- versos interesses. Diante desse cenário, este estudo buscou, a partir de entrevistas semiestruturadas, com- preender a dinâmica de algumas famílias no tocante à adoção de práticas de governança cor- porativa em suas empresas familiares. Para isso, buscou compreender os gatilhos, os desafios e as soluções experimentados pelos membros da família e pelos executivos em relação ao tema. Evidenciou-se que a sucessão, a constituição de um órgão colegiado, seja ele um conse- lho de administração, consultivo ou ainda familiar, e a gestão de conflitos são assuntos pree- minentes no discurso dos entrevistados, tanto em decorrência de preocupações futuras como também de experiências vividas. Além disso, o estudo ressaltou que não existe uma receita ou padrão perfeito a ser ado- tado pelas empresas e que cada uma possui especificidades que devem ser tratadas no âmbito da família e da própria empresa, respeitando-se as particularidades inerentes a cada uma de- las. Ou seja, uma prática adotada por uma empresa não pode ser simplesmente replicada nas demais, sendo necessária a observação dos anseios, das necessidades e dos desejos do núcleo familiar em conjugação da estratégia estabelecida para a empresa. Se por um lado a busca por consultoria especializada e a contratação de gestores não familiares é uma solução para um potencial problema de sucessão, por exemplo, há casos INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA26 Considerações finais em que a interferência externa resulta no rompimento de laços familiares. Desse modo, conclui-se, sobremaneira, a neces- sidade de observação das particularidades de cada empresa e o estabelecimento de diálogo entre os membros da família e os agentes externos que venham a compor essa organização. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 27 Metodologia Metodologia O foco desta pesquisa foi analisar empresas brasileiras, ou seja, sediadas no Brasil, e de capital fechado e de controle familiar, que não tenham natureza jurídica de sociedade anônima de capital aberto. Seleção das empresas participantes F oram convidadas a participar desta pesquisa algumas empresas que contribuíram para o estudo quantitativo Governança em empresas familiares: evidências brasileiras, tendo sido, ainda, aplicados alguns critérios de seleção na tentativa de obter uma amostra diversificada. Foram selecionadas empresas: i. de todos os estados em que o IBGC possui atuação (São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina); ii. de diferentes formas jurídicas (sociedades limitadas e anônimas de capital fechado); iii. de variados portes (pequeno, médio, médio-grande e grande); iv. uni e multifamiliares; v. com e sem sócios externos à família; vi. com ao menos duas gerações familiares envolvidas na empresa, seja como acionistas, conselheiros ou gestores; INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA28 Metodologia vii. com e sem a atuação do fundador; viii. que declararam possuir algum tipo de conselho, seja de administração ou consultivo (à exceção de duas empresas); ix. cujo presidente-executivo e/ou presi- dente do conselho seja membro da família (à exceção de uma empresa). Das 22 empresas inicialmente convi- dadas para as entrevistas, 15 aceitaram parti- cipar (Quadro 1), e 19 representantes dessas empresas foram entrevistados, em sua maio- ria membros da família empresária, que ocupavam diferentes posições na estrutura organizacional, como sócios, conselheiros, executivos ou ex-executivos. Quadro 3. Amostra de empresas entrevistadas ESTADO PORTE ATUAÇÃO DO FUNDADOR PRESIDENTE EXECUTIVO FAMILIAR? GERAÇÃO CEO CONSELHO GERAÇÃO PRESIDENTE DO CONSELHO GERAÇÕES ENVOLVIDAS NA EMPRESA CE Médio-grande Sim, na diretoria Sim 1ª Não - 1ª CE Pequeno Não atua Sim 2ª Não - 1ª MG Grande Não atua Sim 3ª CA estatutário 2ª 2ª;3ª MG Pequeno Sim, no conselho Sim 2ª Conselho consultivo ou CA não estatutário 2ª 1ª;2ª PR Médio Não atua Sim 2ª CA estatutário 2ª 2ª PE Pequeno Sim, em ambos Sim 1ª Conselho consultivo ou CA não estatutário 1ª 1ª;2ª PE Grande Não atua Sim 2ª CA estatutário 2ª 2ª;3ª RJ Pequeno Não atua Não - Conselho consultivo ou CA não estatutário 3ª 1ª;2ª RJ Médio Sim, no conselho Sim 2ª Conselho consultivo ou CA não estatutário 1ª 1ª;2ª RJ Médio Sim, na diretoria Sim 1ª Conselho consultivo ou CA não estatutário 1ª 1ª;2ª RJ Médio Não atua Não - Conselho consultivo ou CA não estatutário 2ª 1;3ª GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 29 Metodologia RS Médio Sim, no conselho Não - Conselho consultivo ou CA não estatutário - 2ª;3ª SP Médio-grande Não atua Não - CA estatutário 3ª 2ª;3ª SP Médio-grande Não atua Não - Conselho consultivo ou CA não estatutário 1ª 1ª;2ª SP Médio Sim, no conselho Sim 2ª Conselho consultivo ou CA não estatutário 1ª 1ª;2ª;3ª Coleta de dados A coleta de dados ocorreu entre os meses de maio e setembro de 2019 e foi baseada em entrevistas semiestrutu- radas com sócios familiares, executivos e ex-executivos, que atuam ou atuaram nas empresas. Análise de dados P ara realizar a análise de dados, as en-trevistas foram transcritas e posterior- mente avaliadas com o objetivo de encontrar padrões entre os relatos dos entrevistados. A análise dos dados objetivou aprofun- dar o entendimento e explorar (a) os princi- pais gatilhos; (b) os desafios e dificuldades; e (c) as soluções vivenciadas em relação à ado- ção de práticas de governança nas empresas familiares avaliadas. GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO 31 Bibliografia Bibliografia BRASIL. Código Civil. Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995. BRASIL. Lei das S/A. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA (IBGC). Governança da família empre- sária: conceitos básicos, desafios e recomendações. IBGC, São Paulo, 2016, (série Cader- nos de Governança Corporativa, n. 15). Disponível em: <https://conhecimento.ibgc.org. br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=22057>. Acesso em: 9 out. 2019. JENSEN, Michael C.; MECKLING, William H. “Theory of the firm: managerial behavior, agency costs, and ownership structure”. Economics Social Institutions, Springer, Dordrecht, 1979. p. 163-231. SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da. Governança corporativa no Brasil e no mundo: teoria e práti- ca. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=22057 https://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.aspx?PubId=22057 “E ste estudo não pretende esgotar o tema, tampouco os resultados visam apre- sentar soluções padronizadas aplicáveis a toda e qualquer empresa familiar, mas sim inspirar e apresentar caminhos para outras empresas e fa- mílias que estejam iniciando ou já trilhando sua caminhada de adoção de práticas de governança corporativa e familiar.” GOVERNANÇA EM EMPRESAS FAMILIARES: UM ESTUDO QUALITATIVO GOVERNANÇA EM EM PRESAS FAM ILIARES: UM ESTUDO Q UALITATIVO IBGC P esquisa IBGC – ASSOCIADOS MANTENEDORES pr Metodologia A 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: CF A 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: AT A 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Analises A 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Intro A 2: Página 7: Página 9: Página11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Intro B 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Biblio A 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Analises B 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: TematicaB 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: CF B 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Metodologia B 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Biblio B 2: Página 7: Página 9: Página 11: Página 13: Página 15: Página 17: Página 19: Página 21: Página 23: Página 25: Página 27: Página 29: Página 31: Metodologia A: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: CF A: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: AT A: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Analises A: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Intro A: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Intro B: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Biblio A: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Analises B: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: TematicaB: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: CF B: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Metodologia B: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Biblio B: Página 8: Página 12: Página 14: Página 16: Página 18: Página 20: Página 22: Página 24: Página 26: Página 28: Button1: Button2: Button3: Button4:
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