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EA D 4 Brasil: do Modernismo à Década de 1950 1. OBJETIVOS • Conhecer o contexto histórico em que nasceu e floresceu o Modernismo brasileiro. • Entender como se deu a eclosão modernista no início da década de 1920. • Conhecer os caminhos seguidos pelo Modernismo brasi- leiro para a sua solidificação nas décadas de 1930, 1940 e 1950. • Identificar as características específicas da arte de cada um dos mais importantes artistas do Modernismo brasi- leiro. 2. COnTEúDOS • Introdução: o Modernismo e a busca por uma arte verda- deiramente brasileira. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira262 • Contexto histórico: a República Velha e as mudanças pós- -Revolução de 1930. • O panorama artístico imediatamente anterior à eclosão do Modernismo brasileiro. • Um marco inicial: a famosa Exposição de Anita Malfatti. • Semana de Arte Moderna de 1922. • Artistas da Primeira Geração Modernista: Anita, Di Caval- canti, Brecheret, Ferrignac, Rego Monteiro, lasar Segall, Ismael Nery, Tarsila do Amaral, Portinari, Guignard, Flávio de Carvalho, Cícero Dias. • Panorama das décadas de 1930, 1940 e 1950. • Os agrupamentos de artistas. • Núcleo Bernardelli: Milton Dacosta e José Pancetti. • A SPAM e o CAM. • Grupo Santa Helena: Volpi, Rebolo, Zanini, Graciano, Pen- nacchi. • MASP. • MAM-SP. • MAM-RJ. • As primeiras Bienais. 3. ORIEnTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UnIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) O contato com o tutor e a interatividade são fundamen- tais para sua aprendizagem na modalidade a distância. 2) Antes de iniciar os estudos desta unidade, pode ser in- teressante conhecer um pouco da biografia de alguns escritores, artistas e nomes relacionados à arte, cujos pensamentos e ideias norteiam o estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo. Claretiano - Centro Universitário 263© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Oswald de Andrade (1890-1954) O poeta, ensaísta e dramaturgo paulista foi uma das figuras mais importantes do Modernismo brasileiro. Foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moder- na de 1922 e, em 1924, lançou o Manifesto da Poesia Pau-brasil. Em 1928, na época em que era casado com a pintora Tarsila do Amaral, lançou o Manifesto Antropófago, que acabou se tornando uma espécie de “pedra de toque” de nossa arte moderna, defendendo ser o Brasil um país culturalmente antropofágico, que como nenhum país do mundo “come e digere” a cultura estrangeira para incre- mento da nossa própria cultura. Ramos de Azevedo (1851-1928) Foi responsável por algumas das mais famosas obras do intenso processo de urbanização ocorrido em São Paulo no início dos anos 1900, entre elas o Teatro Municipal e o prédio da Pinacoteca do Estado, além de ter projetado muitas das mansões construídas pela elite paulistana da época. Mário de Andrade (1893-1945) Foi poeta, romancista, ensaísta, folclorista e musicólogo paulista, foi um dos grandes nomes do Modernismo brasileiro, senão o maior de todos. Um dos idea- lizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, atuou também como ideólogo do nosso Modernismo, sendo um dos maiores responsáveis por dar à nossa arte a “brasilidade” que esta até então nunca atingira. Além de suas obras literárias, Mário realizou um precioso trabalho à frente do – fundado por ele – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e também na catalogação de manifestações folclóricas de todo o país com uma profundida- de que o torna um verdadeiro “descobridor do Brasil”. José Bento Renato Monteiro Lobato (1882-1948) Paulista de Taubaté, foi um dos mais importantes escritores brasileiros do século 20 e, sem dúvida, o mais importante autor de literatura infantil de toda a História do Brasil. É lembrado por ter dado à literatura infantil a “brasilidade” que esta nunca tivera até então e seus personagens, como Pedrinho, Narizinho e Dona Benta até hoje fazem sucesso nos livros e em outras mídias, como a televisão, na qual o programa Sítio do Pica-pau Amarelo tornou-se um enorme sucesso. Menotti del Picchia (1892-1988) Paulista, filho de imigrantes italianos, foi poeta e romancista. Fez parte do “nú- cleo” dos modernistas de São Paulo, núcleo este que se centralizou nas figuras de Menotti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, que ficaram conhecidos como o “Grupo dos Cinco”. Menotti del Picchia teve como suas principais obras literárias O Mulato (1917) e Salomé (1940) e chegou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras. Guilherme de Almeida (1890-1969) Foi um poeta brasileiro ligado à primeira geração modernista. Fez parte da Aca- demia Brasileira de Letras a partir de 1930 e celebrizou-se por ser um grande difusor e realizador de haicais (poemas curtos tipicamente japoneses) no Brasil. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira264 Carlos Gomes (1836-1896) O maestro campineiro Carlos Gomes foi um dos maiores compositores líricos que o Brasil já teve e, sem dúvida, o maior operista. Fortemente influenciado por Verdi e realizando grande parte de sua carreira na Europa, Gomes foi internacio- nalmente consagrado, tornando-se já nas últimas décadas do século 19 o grande patrono da música erudita brasileira. Compôs, entre outras obras, O Guarani. Heitor Villa-Lobos (1887-1959) É considerado por muitos o maior compositor brasileiro de todos os tempos. Res- ponsável pela fusão da música erudita moderna com a musicalidade popular contida em choros, modinhas e canções folclóricas, seguiu na música os passos dos artistas modernistas de outras áreas, que misturavam erudição e cultura popular para “reinventar” a cultura brasileira. O legado de Villa-Lobos é imenso. Além de ter sido um divisor de águas na músi- ca erudita, influenciou enormemente a sofisticada música popular brasileira mo- derna de nomes como Antônio Carlos Jobim, Baden Powell, Vinícius de Moraes e Edu Lobo, entre vários outros. Graciliano Ramos (1892-1953) Foi um dos maiores escritores brasileiros do século 20. Apresentou ao Brasil um “outro Brasil” que grande parte do sudeste civilizado não conhecia: aquele da dura realidade social nordestina. Entre suas obras mais célebres estão Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere. Lúcio Costa (1902-1998) Chefiando ainda muito jovem a Escola Nacional de Belas Artes, Lúcio Costa buscou modernizá-la. Posteriormente, sob influências como a de Le Corbusier e do colega Oscar Niemeyer, tornou-se um dos protagonistas da nossa arquitetura e urbanismo modernos, sendo responsável, por exemplo, pelo plano urbanístico da cidade de Brasília. Le Corbusier (1887-1965) O franco-suíço Le Corbusier foi um dos arquitetos mais importantes do século 20. Protagonista na ampliação do uso do concreto armado, foi a grande influên- cia moderna da arquitetura brasileira. Foi responsável por obras em que o rigor de formas simples, retas ou curvas, era o pano de fundo para a funcionalidade, concepção que o aproximou muito das teorias desenvolvidas na Bauhaus, por exemplo. Oscar Niemeyer (1907) O carioca Oscar Niemeyer, nascido em 1907, considerado um dos pioneiros na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado, é o mais famoso arquiteto brasileiro de todos os tempos. Entre um número imenso de obras de vulto, podemos destacar, por exemplo, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, o Edifício Copan em São Paulo, o Palácio do Pla- nalto, da Alvorada, o Congresso e a Catedral em Brasília, o Memorial da América Latina em São Paulo e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Claretiano - Centro Universitário 265© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Francisco de Assis Chateaubriand (1892-1968) O paraibano Francisco de Assis Chateaubriand, que dirigiu a maior cadeia de veículos de comunicação do país até os anos 1960, foi um dos personagens mais influentes da história brasileira do século 20. No âmbito artístico, foi responsável pela abertura do MASP.Diz-se que os meios para que Chatô (como era conhecido) adquirisse a rica coleção do museu por meio de doações de alguns dos homens mais ricos e influentes do país foram bastante questionáveis, envolvendo inclusive chantagens (algo como: “ou você doa ao museu tal obra ou serão publicados nos meus veículos notícias desfa- voráveis a você”). De qualquer forma, o MASP é, sem dúvida, uma das grandes obras que Chatô deixou para a posteridade. Pietro Maria Bardi (1900-1999) O italiano Pietro Maria Bardi, historiador, crítico de arte e jornalista, foi diretor do MASP por 45 anos. Chegou ao Brasil em 1946, logo após casar-se com a arquiteta italiana Lina Bo. Trouxe uma grande coleção de arte e imediatamente passou a fazer parte dos círculos artísticos brasileiros. Neste ínterim, conheceu Assis Chateaubriand, que foi quem proporcionou o aporte financeiro e os conta- tos necessários para a abertura do MASP. Lina Bo Bardi (1914-1992) A italiana Lina Bo Bardi foi uma arquiteta de grande influência na vida cultural brasileira da segunda metade do século 20. Chegando ao Brasil logo após a Segunda Guerra e recém-casada com Pietro Maria Bardi, rapidamente encantou-se com a moderna arquitetura brasileira, de nomes como Niemeyer, Lúcio Costa, entre outros, e com a arte de um país que, ao contrário da Europa, encontrava-se em “plena formação”. Recebeu nos anos 1950, do empresário e mecenas Assis Chateaubriand, a en- comenda de projetar o prédio do MASP. Posteriormente, passou uma tempora- da na Bahia, atuando na grande efervescência cultural de onde sairiam nomes como Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Na década de 1970, sua obra de maior destaque foi o Sesc Pompeia, em São Paulo, projeto que retrabalha diversos paradigmas arquitetônicos da sociedade industrial. Francisco Matarazzo Sobrinho (1898-1977) Industrial de origem italiana que se instalou em São Paulo, Francisco Matarazzo Sobrinho, mais conhecido como Ciccillo, utilizou sua grande fortuna para, entre outros feitos, fundar o MAM, o Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, a Bienal Inter- nacional de São Paulo e a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) Foi um dos pioneiros da arquitetura moderna brasileira. Sua primeira obra im- portante foi o famoso Palácio Gustavo Capanema, projetado em parceria com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, sob supervisão do grande “mentor” destes três, Le Corbusier. Posteriormente, Reidy teve como outros projetos de grande vulto o Aterro do Flamengo e o prédio do MAM-RJ. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira266 4. InTRODUÇÃO à UnIDADE Na unidade anterior, abordamos a formação do Brasil en- quanto país e o surgimento da arte brasileira, seus primeiros pas- sos quando ainda éramos uma colônia, e depois da nossa indepen- dência. Para isso, foi adotado um esquema diferente do qual nos acostumáramos (com uma introdução histórica seguida do texto sobre especificamente a História da Arte); diferentemente, na uni- dade anterior, colocamos História e História da Arte caminhando em paralelo. Nesta unidade, porém, retornaremos ao esquema antigo. Isto porque, no período que vamos abordar, do advento do Mo- dernismo, no início da década de 1920, até a década de 1950, já havia efetivamente um país, uma História e uma Arte Brasileira, algo que, como sabemos, não existia em 1500. De qualquer forma, é bom que relativizemos a expressão “Arte Brasileira” quando esta se refere à nossa arte acadêmica. Isto porque, como vimos na unidade anterior, o academicismo brasilei- ro ainda estava muito ligado aos cânones clássicos, que atrapalha- vam o desenvolvimento de uma linguagem artística mais efetiva- mente ligada à cultura e à criatividade nacionais. Foi apenas com o advento do Modernismo que, abrindo os olhos para as vanguardas internacionais, os artistas brasileiros pa- radoxalmente puderam construir sobre bases mais originais e li- vres uma “Arte Brasileira”. O paradoxo está exatamente aí: olhar finalmente para o que de mais moderno estava sendo feito no mundo é o que nos permitiu definitivamente descobrir uma lin- guagem artística “nossa”. E é isto que veremos nesta unidade: o advento do Moder- nismo, seus desdobramentos e sua consolidação na arte brasileira. Assim, se na introdução da unidade anterior dizíamos “descubra- mos o Brasil!”, aqui podemos dizer “Redescubramos o Brasil!” Claretiano - Centro Universitário 267© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 5. COnTEXTO HISTÓRICO Ao longo da primeira década do século 20 e no início da década de 1910, o Brasil, mais especificamente a região sudeste, dava os primeiros passos da sua industrialização. Como sabemos, o Brasil era um país essencialmente agrário, dependente da cultura do café. Porém, a flutuação dos preços do produto no mercado internacional e as consequentes incertezas em relação ao futuro do negócio cafeeiro fizeram que os grandes fazendeiros redirecionassem parte de seu capital para a indústria. Tendo em mente esta conjuntura, pareceria lógico que o Bra- sil, nas décadas de 1910 e 1920, efetivasse o seu caminho indus- trial, certo? Mas não foi isto o que ocorreu. Isso porque, com a Primeira Guerra Mundial, a hegemonia sobre toda a economia (incluindo-se aí a brasileira) passou para os EUA, que se tornaram então nosso principal parceiro comercial. E esta parceria Brasil-EUA reavivou tremendamente a lucratividade do negócio cafeeiro no Brasil, o que acabou atrasando a fase mais aguda da nossa industrialização. Foi a Revolução de 1930 que proporcionou uma grande mu- dança de rumos na política e na economia do país. Em termos eco- nômicos, pode-se dizer que a chegada de Getúlio Vargas ao poder se deveu ao colapso do modelo baseado quase exclusivamente na cultura do café, colapso este acelerado, evidentemente, pela crise econômica mundial resultante da quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. Quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929 –––––––– Crack ou a quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929, foi resultado do crescimento inflado e “não sustentável” da especulação financeira em cima da real prosperidade pela qual passavam a indústria e toda a economia norte- -americana na década de 1920. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira268 Chegando à presidência da república por meio da Revolu- ção de 1930, o gaúcho de São Borja Getúlio Vargas (1882-1954) comandou o maior processo de modernização de nossa história. Em contrapartida, sempre apresentou um perfil populista e auto- ritário. Comandou uma ditadura, passou por cima das liberdades individuais e teve em seu governo o cometimento de enormes vio- lências contra seus adversários políticos. Sempre foi tido pelos aliados e adversários como uma verda- deira “raposa política”. Entretanto, o que o final de sua vida mostra foi mais do que isso: uma mórbida genialidade. Suicidando-se em 1954, Vargas evitou um golpe de estado (que acabaria acontecen- do dez anos mais tarde) e tornou-se um dos grandes “heróis” do Brasil. Ou, como dizem as palavras da sua carta-testamento, “dei- xou a vida para entrar na História” (Figura 4). Como consequências do chamado crack, fortunas desapare- ceram, empresas faliram, milhões de pessoas ficaram desemprega- das e um verdadeiro pesadelo econômico espalhou-se dos EUA para o resto do mundo. Isso se deveu ao total despreparo da economia mundial de então para esta primeira crise, por assim dizer, “global”. Vejamos como a Revolução eclodiu. Em 1929, quando se es- perava que o então Presidente da República – o paulista Washing- ton luís (1869-1957) – indicasse o governador de Minas Gerais como candidato da situação para o governo federal (lembremo- -nos de que, na época, o candidato da situação sempre triunfava, nem que fosse necessária a utilização de violência e de fraudes), ele não o fez, contrariando a alternância no poder de paulistas e mineiros. Em vez disso indicou outro paulista,o então governador de São Paulo Júlio Prestes (1882-1946). O resultado foi a quebra da aliança entre São Paulo e Minas Gerais, o alinhamento de Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul e a indicação de Getúlio Vargas para presidente, com o paraibano João Pessoa (1878-1930) como vice, como alternativa à candidatura de Júlio Prestes. Claretiano - Centro Universitário 269© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Júlio Prestes foi eleito, mas a chamada “Aliança liberal”, comandada por Vargas, não aceitou o resultado das eleições. Pouco depois, outros fatos (como o assassinato de João Pessoa (Figura 1) – que ocorreu por questões locais da Paraíba, mas foi evidentemente colocado pela oposição “na conta” do governo) foram contribuindo para o clima de ebulição e, finalmente, em outubro de 1930 teve início a revolução. Figura 1 Primeira página de jornal noticiando o assassinato de João Pessoa, então presidente (o que chamaríamos hoje de "governador") da província (que hoje chamaríamos de "estado") da Paraíba. Tropas do exército que aderiram à revolução, principalmente do Rio Grande do Sul, começaram a marchar rumo ao Rio de Janei- ro. Vale destacar que, mesmo em outros estados, o movimento re- volucionário era também apoiado por certa facção do exército, fac- ção esta que ficou genericamente conhecida como a dos “tenentes”, não necessariamente porque todos os seus adeptos eram tenentes, mas devido à patente geralmente baixa e à juventude dos militares revolucionários. Em diversos estados, os tenentes tomaram o poder pela força, depondo forças aliadas ao governo federal. E, antes de um conflito maior, foi dado o poder a Vargas (Figura 2). © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira270 Figura 2 Vargas ao lado de admiradores, aliados e tropas durante a Revolução de 1930. Teve início, então, o maior surto de modernização que o Bra- sil já conheceu. Ganharam força a industrialização do país, a urba- nização e o estabelecimento de conquistas como o crescimento da renda dos trabalhadores e, princi- palmente, um conjunto de leis tra- balhistas que acabou se tornando a raiz do sistema de seguridade social vigente até hoje no país (Figura 3). Em contrapartida, em nome das mudanças e reformas neces- sárias no Brasil, tivemos sob Var- gas um regime ditatorial sob cujo autoritarismo sucumbiram grande parte das liberdades individuais. Figura 3 Cartaz "populista" do governo Vargas enaltecendo seu "amparo" às classes trabalhadoras. Claretiano - Centro Universitário 271© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Vargas manteve-se no poder até o final da Segunda Guerra Mundial. A sua saída deveu-se, em parte, à própria vitória dos alia- dos (dos quais o Brasil fazia parte) na guerra. Isto porque o Brasil lutara ao lado das “democracias” contra o nazi-fascismo, mas não praticava a democracia em seu próprio governo. Entrementes, o “projeto modernizante” inaugurado no Brasil na década de 1930 teve continuidade. Primeiro, com os significati- vos avanços da nossa indústria na década de 1940 e, depois, com a volta do próprio Vargas ao poder em 1950, então por eleições diretas. Tal “projeto modernizante” teria alguns anos mais tarde um de seus auges com a chegada de Juscelino Kubitschek ao poder (Figura 5). Figura 4 Primeira página do jornal "Última Hora" noticiando o suicídio de Getúlio Vargas. Figura 5 Capa da revista “Time” de fevereiro de 1956, tratando do governo de Juscelino Kubitschek na presidência do Brasil. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira272 6. A CHEGADA DO MODERnISMO AO BRASIL No início do século 20, os jovens pintores e escultores bra- sileiros seguiam rígidos padrões acadêmicos, implantados, como vimos na unidade anterior, pela Missão Francesa e que eram uti- lizados desde o século 19. É necessário lembrar que, nesta época, na Europa já aconteciam os movimentos impressionista, expres- sionista, fovista e cubista, entre outros. As exposições de nomes como Pedro Alexandrino, Almeida Júnior e Benedito Calixto não causavam surpresa. Mesmo Lasar Segall, que abordaremos mais à frente, um pintor estrangeiro no Brasil da década de 1910 com uma bagagem europeia de estilo expressionista, não marcou época, muito menos abalou o meio artístico. Havia também uma grande inconsciência do país em relação à sua própria cultura, especialmente a cultura popular e mais ain- da aquela das regiões mais afastadas da capital de então, o Rio de Janeiro, principalmente entre a elite. Outra dificuldade da época era São Paulo e Rio de Janeiro permanecerem artisticamente dis- tantes entre si, mesmo em pleno século 20. Contra isso lutava já em meados da década de 1910 Oswald de Andrade, que por meio de sua publicação O pirralho propu- nha uma arte nacional moderna e desvinculada do academicis- mo. E foi Oswald (Figura 6) um dos protagonistas da eclosão do Modernismo no Brasil, eclosão esta que ocorreu a partir da cida- de de São Paulo. São Paulo era então a cidade mais moderna do país, moder- nidade esta simbolizada, por exemplo, pela inauguração do Viadu- to do Chá (Figura 7) e pela abertura do Teatro Municipal, elaborado por grandes arquitetos e executado pelo escritório de engenharia de Ramos de Azevedo. Claretiano - Centro Universitário 273© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 6 Oswald de Andrade em meados da década de 1920. Figura 7 O Viaduto do Chá (com o Teatro Municipal ao fundo) em 1911. O motivo de a explosão modernista ter ocorrido em São Paulo e não em outra parte do Brasil foi, em grande medida, a prosperida- de oriunda do negócio cafeeiro que, como vimos na unidade ante- © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira274 rior, tornou São Paulo o Estado mais rico do Brasil e a cidade de São Paulo, a “casa” de uma elite endinheirada que pôde “financiar” e estimular (mesmo que com muitas críticas, ressalvas e ilhas de gran- de conservadorismo e provincianismo) a radicalidade modernista. O “estopim do Modernismo” foi a exposição de Anita Mal- fatti de 1917. Neste momento já surgia o grupo que mudaria tal cenário, do qual faziam parte o já citado Oswald de Andrade, Má- rio de Andrade, Di Cavalcanti e Ferrignac, que abordaremos mais adiante, entre outros. O grupo era chamado de “futurista”, porque na época os acadêmicos brasileiros denominavam de Futuristas todas as obras que não seguiam os padrões estéticos convencionais. Mesmo para Oswald, entretanto, ser chamado de futurista não significava per- tencer à escola italiana deste nome, mas a uma tendência moder- na e inovadora que rompia com as tradições. 7. A EXPOSIÇÃO DE AnITA MALfATTI Tendo estudado nos EUA e na Europa com importantes no- mes das vanguardas artísticas do início do século 20 e tendo, por- tanto, absorvido o que havia de realmente novo no mundo das artes de então, a paulistana Anita Malfatti voltou a São Paulo em 1916. No ano seguinte, inaugurou a famosa Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti. A artista já expusera trabalhos iniciais em São Paulo, em 1914. Contudo, a mostra realizada em 1917 é que foi um verdadeiro marco na história do Modernismo brasileiro. A mostra contou com obras expressionistas, resultado de seus estudos no exterior. Durante a primeira semana, houve boa presença de um público curioso e 11 quadros foram vendidos. Mas um violento artigo do escritor e influente crítico Monteiro Loba- to, A propósito da exposição Malfatti – paranóia ou mistificação, criou grande polêmica. Claretiano - Centro Universitário 275© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 As Figuras 8 e 9 apresentam duas obras de Anita Malfati. Ob- serve. Figura 8 A estudante Russa, Anita Malfatti, 1915-16, 78 x 62 cm. Figura 9 A boba, Anita Malfatti, 1915- 16, 61 X 51,5 cm. lobato, que como sabemos foi um dos grandes gênios da literatura brasileira, demonstrou em seu artigo total inépcia e falta de sensibilidade em relação aos rumos que seriam tomados pela arte a partir de então.Defendeu uma posição rigidamente conser- vadora, que via o estilo expressionista como uma despropositada distorção tanto da realidade quanto do que achava que deveria ser a pintura em geral; além disso, misturou sua “cegueira” pictó- rica com opiniões machistas e um tom agressivo, o que, segundo os modernistas, teria feito Anita “fraquejar” em sua proposta e se voltar para uma pintura mais acadêmica. Entretanto, hoje, com uma releitura deste período por novos estudiosos, este fato tem sido questionado. Oswald de Andrade foi o único que defendeu a pintora de imediato. Em seguida, nomes como Emiliano Di Cavalcanti, Me- notti del Picchia, Mário de Andrade e Guilherme de Almeida, que lutaram pela modernização das artes brasileiras, reconheceram o © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira276 pioneirismo da pintora. A defesa de Anita só não foi mais contun- dente porque ainda não se formara uma concepção clara da arte moderna no Brasil. A crítica, e mesmo os artistas e intelectuais que pregavam a necessidade de atualização, ainda não dominavam o vocabulário da nova arte. De qualquer forma, se por um lado a exposição provocou reações adversas como a de Monteiro Lobato, por outro serviu para conferir a Anita as atenções e um certo papel de ponta entre os modernistas, que passaram a reconhecê-la como pioneira. Ob- serve na Figura 10 a obra O farol, de Anita Malfatti. Figura 10 O farol, Anita Malfatti, 1915-1916. 8. A SEMAnA DE ARTE MODERnA DE 1922 No início da década de 1920, surgiu em reuniões de artistas e membros da elite paulistana a ideia da realização de uma semana de escândalos literários e artísticos, como forma de promover um Claretiano - Centro Universitário 277© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 début da Arte Moderna no Brasil. Tal ideia foi adotada e financiada por alguns membros da elite, que alugaram o Teatro Municipal de São Paulo para a realização e delegaram a concepção do projeto a alguns dos expoentes modernistas, como Oswald e Mário de An- drade e Di Cavalcanti. Mário de Andrade é autor de obras como De Paulicéia des- vairada a café (poesias completas) e Macunaíma. Já Oswald de Andrade (Figura 11) é autor da obra Caderno de poesia do aluno Oswald (poesias reunidas). Figura 11 Foto reunindo integrantes da Semana de Arte Moderna (à frente de todos, sentado no chão, Oswald de Andrade), 1922. A semana foi realizada no mês de fevereiro de 1922. “Sema- na”, aliás, é apenas “modo de dizer”, já que os eventos ocorreram nos dias 13 e 17 à noite e no dia 15 à tarde. Houve poesia, dan- ça, música, artes visuais e discursos de fundo teórico sobre a arte moderna. A Figura 12 mostra o primeiro dia da Semana de Arte Moderna. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira278 Figura 12 Programa do primeiro dia de eventos da Semana de Arte Moderna de 1922. A Semana foi apresentada pela imprensa da época como “Semana Futurista”. Mas o que ela menos teve foram obras per- tencentes a esta poética. O que pôde receber a denominação de “futurista” foram as ações dos escritores e intelectuais em torno do evento. Já antes da realização, saíram artigos nos jornais de maior circulação da cidade anunciando o “grande evento artísti- co”, e os modernistas souberam criar um clima de expectativa, de escândalo e de indignação nos tradicionalistas e no público em ge- ral. Oswald de Andrade, por exemplo, publicou um artigo critican- do Carlos Gomes, o grande mito da música brasileira, e enaltecen- do um ilustre desconhecido para o meio paulista da época: Heitor Villa-lobos, participante da Semana (Figura 13). Claretiano - Centro Universitário 279© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 13 Anúncio para o concerto de Villa-Lobos na Semana de Arte Moderna de 1922. A exposição de artes plásticas, no saguão do Teatro Munici- pal, era composta por obras de nomes como Anita Malfatti, Di Ca- valcanti, Victor Brecheret, Ferrignac e Vicente do Rego Monteiro, que veremos mais adiante. Percebia-se na maioria das obras a vontade dos artistas de serem modernos. Porém, isso não significou que realmente o fo- ram. Uma arte nova era proposta, mas não necessariamente era mostrado o caminho para tal. A maioria dos trabalhos apresenta- dos não pode ser considerada modernista, e sim apenas de ten- dência pós-impressionista. A exceção era o expressionismo das obras de Anita, que continuava a chocar os olhos do público da © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira280 época. De qualquer forma, a grande contribuição das artes plásticas ao modernismo brasileiro aconteceria em um período posterior à Semana de Arte Moderna de 1922, no primeiro momento fa- zendo-se necessário apenas o rompimento radical com o passado artístico acadêmico. 9. ARTISTAS DA PRIMEIRA GERAÇÃO MODERnISTA Neste tópico, serão apresentados alguns aspectos relaciona- dos aos artistas da primeira geração modernista. Anita Malfatti Anita Malfatti (1889-1964) nasceu em São Paulo. Tendo seus contatos iniciais com a arte acontecido ainda dentro de casa, em 1910 ela partiu rumo a Berlim para completar sua formação. Chegando à Alemanha, matriculou-se na Academia Imperial de Belas Artes. Aos poucos foi se distanciando do academicismo, até que acontecesse em 1912 um fato “catalizador”: o contato com obras de Picasso, Van Gogh e Munch, além das de outros re- presentantes do Cubismo, Fauvismo e Expressionismo. Na volta a Berlim, uma maior liberdade no uso das cores e dos pincéis logo se manifestou na arte da brasileira. Depois de uma breve passagem por São Paulo em 1914, Ani- ta foi estudar em Nova York. O ambiente efervescente, para o qual colaborava a presença de artistas das vanguardas europeias que se refugiavam da Primeira Guerra Mundial, auxiliou-a na adoção da gestualidade dramática, da distorção, da fragmentação e da paleta quase fovista que acabariam por serem suas marcas. Destacam-se nesta época retratos como A boba (Figura 9). Depois da sua volta a São Paulo e da sua famosa exposição de 1917, na qual foi violentamente criticada por Monteiro lobato, Claretiano - Centro Universitário 281© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Anita uniu-se ao grupo dos modernistas paulistas, sendo uma das participantes da mostra de Artes Plásticas da Semana de Arte Mo- derna de 1922. Ainda em 1922, integrou o efêmero Grupo dos Cin- co, formado por ela, Tarsila do Amaral, Menotti del Picchia, Mário e Oswald de Andrade. Observe na Figura 14 o retrato de Mário de Andrade feito por Anita Malfatti. Figura 14 Retrato de Mário de Andrade, Anita Malfatti. A partir da década de 1930, a pintura de Anita foi tendendo aos poucos para um impressionismo tardio, com temas religiosos, festas populares, paisagens e flores como seus motivos prediletos. Para compreender melhor o trabalho de Anita, observe a Figura 15. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira282 Figura 15 Natividade, Anita Malfatti, 65 x 81 cm. Di Cavalcanti Tendo começado como caricaturista, Emiliano di Cavalcanti (1897-1976) realizou sua primeira exposição individual em 1922, momento em que já fazia parte do grupo modernista. Aliás, foi de Di a ideia inicial da Semana de Arte Moderna, da qual foi criador do catálogo (Figura 17), do cartaz (Figura 16) e coordenador das exposições. Claretiano - Centro Universitário 283© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 16 Cartaz da Semana de Arte Moderna de 1922, Di Cavalcanti. Figura 17 Capa do catálogo da Exposição de Artes Plásticas da Semana de Arte Moderna de 1922, Di Cavalcanti. Em 1923, Di viajou para Pa- ris, onde conheceu de perto as obras de Picasso, Braque, Léger e dos expressionistas alemães. Ao retornar para o Brasil, voltou- -se para os dois grandes temas que dominariam a sua obra: a preocupação social e a mulher. As Figuras 18 e 19 demonstram duas das obras de Di Cavalcanti. Figura 18 Cinco moças de Guaratinguetá, Di Cavalcanti, 1930, 92 x 70 cm. © Históriada Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira284 Figura 19 Mulheres protestando, Di Cavalcanti, 1941. Em 1937, o pintor retornou à Europa, numa permanência que se estendeu até 1940, quando voltou a residir em São Paulo. Iniciou-se, então, a fase da sua maturidade artística. Observe na Figura 20 a obra Abigail, de Di Cavalcanti. Figura 20 Abigail, Di Cavalcanti, 1947. Claretiano - Centro Universitário 285© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Victor Brecheret O ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955) transferiu-se para Europa em 1913, para estudar escultura. Em 1919, voltou a São Paulo, passando a fazer parte da primeira geração modernista e participando da Semana de Arte Moderna de 1922. Neste mesmo ano, além de ganhar a medalha comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, teve em suas mãos a encomenda do governo paulista para a execução do Monumento às Bandeiras (Figura 21), a obra mais importante que nos deixou. Mas só mais de trinta anos depois viu o projeto transformado em realidade, pela ocasião do quarto centenário da cidade de São Paulo, em 1954. Figura 21 Monumento às Bandeiras, Victor Brecheret, 1954. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira286 Bastante influenciado pela Art Deco e variando do monu- mental e mesmo do gigantesco à delicadeza dos diminutos már- mores e bronzes, Brecheret caracterizou-se pela força expressiva de toda a sua obra, que tendia, ao mesmo tempo, para o linear e o despojado, conforme demonstra a Figura 22. E, já na sua última fase, descobriu a arte indígena brasileira, a qual pode ser consta- tada na Figura 23. Figura 22 Obra de Brecheret tipicamente influenciada pela Art Deco: A carregadora de perfume, no Jardim da Luz, em São Paulo. Claretiano - Centro Universitário 287© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 23 Obra de Brecheret da fase mais influenciada pela cultura indígena: O índio e a suaçuapara, 1951. ferrignac Inácio da Costa Ferreira (1892- 1958), que ficou conhecido no meio artístico como Ferrignac, nasceu em Rio Claro, São Paulo. Começou sua carreira como caricaturista e for- mou-se em Direito. Logo depois, em meados da década de 1910, viajou à Europa e tomou contato com as van- guardas, participando um pouco de- pois da Semana de Arte Moderna de 1922. A Figura 24 demonstra uma das obras de Ferrignac. Vicente do Rego Monteiro Bastante influenciado pelas vanguardas europeias e pela Art Deco, Vicente do Rego Monteiro (1911-1970), assim como Breche- ret o fez na escultura, buscou também trazer características da arte indígena para sua estética, como podemos observar na Figura 25. Figura 24 Índio, Ferrignac, 1929, aquarela e nanquim, 20 x 18 cm. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira288 Figura 25 O atirador de arco, Vicente do Rego Monteiro, 1925, 65 x 81 cm. Lasar Segall O lituano lasar Segall (1891-1957) foi um dos mais impor- tantes nomes da primeira geração da pintura modernista brasilei- ra, abordando com seu estilo expressionista, além dos temas bra- sileiros, outros “universais” que, em geral, se ligavam ao caráter social. As Figuras 26 e 27 apresentam duas das obras de lasar Se- gall. Observe. Claretiano - Centro Universitário 289© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 26 Família, Lasar Segall, aquarela. Figura 27 Bananal, Lasar Segall, 1927, 82 x 127 cm. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira290 Ismael nery Ismael Nery (1900-1934) foi talvez o único representante da primeira geração de modernistas brasileiros que possa realmente ter sido chamado de Surrealista, corrente que adotou após passar pelo Expressionismo e pelo Cubismo. Infelizmente, um desenvol- vimento ainda maior da sua linguagem artística foi interrompido pela sua morte prematura, devido a uma tuberculose. A Figura 28 apresenta uma obra de Ismael Nery. Figura 28 Nu no cabide, Ismael Nery, 1927, 55 x 46 cm. Claretiano - Centro Universitário 291© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Tarsila do Amaral Tarsila do Amaral (1886-1973), nascida em Capivari, interior de São Paulo, cresceu em fazendas de sua rica família, podendo, entretanto, misturar o “caldo” de cultura popular recebido na in- fância “caipira” com toda a efervescente cultura europeia do início do século 20, adquirida em constantes viagens à Europa. Em 1913, estabeleceu-se em São Paulo e decidiu estudar pintu- ra, ingressando na escola de Pedro Alexandrino e, alguns anos depois, na Academia Julian, de Paris, na qual pôde conhecer as obras dos dadaístas, futuristas e cubistas. Quando regressou ao Brasil, em 1922, sua pintura ainda não refle- tia totalmente a influência das ten- dências modernas, mas isso logo ocorreria com a aproximação da artista com o grupo modernista de São Paulo, formado por Anita Mal- fatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade (com quem ela se casaria) etc. A Figura 29 representa uma das obras de Tarsila. Depois de amadurecer sua linguagem pictórica e de lançar, junto com seus companheiros de movimento, as bases de uma lin- guagem pictórica modernista realmente brasileira, a partir da dé- cada de 1920, quando adotou uma pintura de caráter mais social (representando muitas vezes a classe trabalhadora urbana e rural), Tarsila foi “coroada” como um dos grandes nomes da pintura bra- sileira do século 20. Em meados da década de 1920, depois do primeiro “impac- to” causado pela Semana de 1922, os modernistas procuravam se aprofundar na busca de uma linguagem brasileira. Isto deu início Figura 29 Retrato de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, 1922. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira292 à fase chamada Antropofágica: especialmente Oswald de Andrade passou a produzir literatura e textos teóricos que propunham uma “releitura” da antropofagia praticada pelos indígenas na época do descobrimento: seríamos todos os brasileiros “culturalmente an- tropófagos”, devorando a cultura estrangeira e transformando-a em algo só nosso. A Antropofagia, apesar de ter ficado marcada mais na poe- sia de Oswald e na pintura de Tarsila, até hoje ecoa como grande “achado” estético e teórico da arte brasileira. As Figuras 30 e 31 demonstram algumas obras de Tarsila. Observe. Figura 30 A negra, Tarsila do Amaral, 1923, 100 x 81,5 cm. Figura 31 O abaporu (antropófago), Tarsila do Amaral, 1928, 85 x 73 cm. O quadro O abaporu (antropófago) é uma espécie de “de- flagrador” da fase antropofágica do Modernismo brasileiro. Diz-se que foi uma grande inspiração para Oswald de Andrade escrever seu famoso Manifesto Antropofágico, em que eram colocadas as diretrizes da “antropofagia artística”. Além disso, a obra Operários é outro trabalho de Tarsila que pode observada na Figura 32. Claretiano - Centro Universitário 293© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 32 Operários, Tarsila do Amaral, 1933, 150 x 205 cm. Cândido Portinari Cândido Portinari (1903-1962) é considerado por muitos como o mais importante pintor brasileiro de todos os tempos e, se não o mais importante, ao menos o mais popular e de maior repercussão internacional. Nascido em Brodósqui (Figura 33), no interior de São Paulo, Portinari foi no final da década de 1910 para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes sob orientação de Ro- dolfo Amoedo, Batista da Costa e Rodolfo Chambelland (pintores acadêmicos que abordamos na unidade anterior), entre outros. Viajando para o exterior na virada da década de 1920 para a de 1930, tornou-se, em 1935, o primeiro modernista brasileiro pre- miado internacionalmente, quando recebeu um prêmio nos EUA pela obra Café (Figura 34). © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira294 Figura 33 Brodósqui, Cândido Portinari, 1942. Figura 34 Café, Cândido Portinari, 1935, 130 x 195 cm. Claretiano - Centro Universitário 295© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Passando ainda na década de 1930a receber encomendas oficiais para a confecção de murais e painéis, Portinari, apesar de suas ideias políticas de esquerda, expressas em diversas obras de caráter social, como as que representam retirantes nordestinos (Figura 35), tornou-se então o mais requisitado artista brasileiro para grandes encomendas governamentais. Figura 35 Retirantes, Cândido Portinari, 1955, 33 x 32 cm. Sua fama internacional também continuou crescendo nas décadas de 1940 e 1950, e a “coroação” de sua carreira interna- cional deu-se em 1956, quando foram inaugurados seus painéis intitulados de Guerra e Paz (Figuras 37 e 38), na sede da ONU, em Nova York. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira296 Observe na Figura 36 outra das obras de Cândido Portinari. Figura 36 Painéis realizados por Portinari em azulejos, na Igreja de São Francisco de Assis no Conjunto Arquitetônico da Pampulha, Belo Horizonte, 1944. Figura 37 Painel “Guerra e Paz” – “Guerra”, Portinari, 1952-56, 14 x 10,5 m, sede da ONU, Nova York. Figura 38 Painel “Guerra e Paz” – “Paz”, Portinari, 1952-56, 14 x 9,5 m, sede da ONU, Nova York. Guignard Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), apesar de ter nas- cido em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, cedo mudou-se para a Eu- ropa e iniciou sua formação artística em Munique na Alemanha, passando depois alguns anos em Paris e Florença. Claretiano - Centro Universitário 297© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 A volta do artista ao Brasil ocorreu em 1929, quando a natu- reza tropical exuberante o fez reformular vários de seus conceitos pictóricos. Já na década de 1940, depois de ter dado início às suas atividades como professor na Escola Nacional de Belas Artes, mu- dou-se para Belo Horizonte para coordenar a escola de belas artes da cidade. Neste momento, invadiu a sua obra a temática mineira (Figura 39). Figura 39 Ouro Preto, Guignard, 1960, 40 x 50 cm. Guignard permaneceu em Minas Gerais até o final de sua vida. Quanto ao fato de o artista ser geralmente associado às paisa- gens, não podemos nos esquecer de que permearam toda a sua obra também as naturezas-mortas, as flores, os temas religiosos, os au- torretratos e os retratos. Um exem- plo de seus autorretratos pode ser conferido na Figura 40. Figura 40 Auto-retrato, Guignard. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira298 flávio de Carvalho Flávio de Carvalho (1899- 1973) foi um dos mais versáteis artistas do Modernismo brasileiro, tendo atingido êxito em vários âm- bitos: como arquiteto, pintor, de- senhista, escultor e cenógrafo, por exemplo. A Figura 41 demonstra uma de suas obras. Natural de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, foi com os pais ain- da pequeno para São Paulo e fez seu estudo superior na Inglaterra, onde se formou em Belas Artes e também em engenharia. Além de seu trabalho como pintor, merece destaque também seu grande ta- lento como arquiteto. Cícero Dias Natural de Pernambuco, Cícero Dias (1907-2003) mudou-se em 1925 para o Rio de Janeiro, matriculando-se na Escola Nacional de Belas Artes. No entanto, o academicismo da escola desagradou Dias, que a abandonou em 1928. Entre 1925 e 1928, conheceu vá- rias figuras centrais do Modernismo, como Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. A produção deste período foi marcada por desenhos e aqua- relas de certa tendência surrealista. Ainda em 1928, Dias realizou sua primeira individual no Rio de Janeiro, exposição que no mesmo ano foi levada ao Recife e a Escada, sua cidade natal. Sua produção se tornou ainda mais famosa, tendo continuado até a década de 1970. Observe a Figura 42 para conhecer um pouco do trabalho de Cícero Dias. Figura 41 Auto-retrato, Flávio de Carvalho, 1965. Claretiano - Centro Universitário 299© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 42 Composição sem título, Cícero Dias. 10. AS DÉCADAS DE 1930, 1940 E InÍCIO DA DÉCADA DE 1950 Nos anos que se estenderam do início da década 1930 ao fim da Segunda Guerra Mundial, o Modernismo definitivamente consolidou-se no Brasil, tanto nas artes plásticas quanto na arqui- tetura, na literatura e em outros campos. Aliás, é interessante notar a grande correspondência entre as abordagens e as temáticas modernistas na literatura e nas artes plásticas. Assim, se na década de 1920 a chamada “Antropofagia” © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira300 de Oswald de Andrade fora inspirada pela pintura de Tarsila, nas décadas de 1930 e 1940, a temática social de pintores como Porti- nari, por exemplo, foi bastante influenciada pela literatura de no- mes como Graciliano Ramos. No que concerne ao ensino de arte, houve também uma mo- dernização. É digna de nota, por exemplo, a rápida passagem do arquiteto Lúcio Costa pela diretoria da Escola Nacional de Belas Artes: Costa contratou professores “modernistas” para diversas áreas e, no ano de 1931, trouxe o modernismo para a Exposição Geral de Belas Artes, que foi apelidada naquele ano de Salão Re- volucionário. Os conflitos entre modernistas e conservadores fizeram com que Costa ficasse pouco tempo à frente da Escola Nacional de Be- las Artes, mas semearam a aceitação do Modernismo pelos meios acadêmicos. Em 1940, foi criada a “Divisão Moderna” da Exposi- ção Geral de Belas Artes. A “modernização”, entretanto, não escondia a pouquíssima acessibilidade do público e artistas brasileiros ao que se estava produzindo de mais moderno no mundo. A aridez do panorama se traduzia, por exemplo, em um número ínfimo de exposições de vulto vindo do exterior para o Brasil e também na inexistência por aqui, até meados da década de 1940, de museus de importância que dessem espaço à arte moderna. Por tudo isso, ou seja, pela falta de apoio e estrutura míni- mos, fazia-se necessário que os artistas se unissem em “coopera- tivas” para a discussão, difusão e promoção do Modernismo. Foi o que gerou os agrupamentos de artistas, tais como o Núcleo Ber- nardelli, a SPAM, o CAM e o Grupo Santa Helena. A seguir, vejamos algumas especificidades de cada um des- ses agrupamentos de artistas. Acompanhe. Claretiano - Centro Universitário 301© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 núcleo Bernardelli O Núcleo Bernardelli, criado em 1931, reunia artistas des- contentes com o ensino acadêmico de arte no Brasil, por isso seu nome homenageava os irmãos Bernardelli, Henrique, que abor- damos na unidade anterior, e Rodolfo, que, quando mestres na Escola Nacional de Belas Artes, se mostravam mais abertos do que os outros às inovações. O grupo instalou-se nos porões da Escola Nacional de Belas Artes, mas em 1935 foi expulso de lá, devido às pressões dos mais conservadores na Escola. Continuou suas atividades até 1942 e teve entre seus membros nomes como Milton Dacosta, José Pancetti, en- tre outros. Vejamos um pouco sobre a obra desses artistas. Milton Dacosta Milton Dacosta (1915-1988) foi um dos mais importantes modernistas da segunda geração, ou seja, aqueles não contempo- râneos à eclosão do Modernismo brasileiro, em 1922. Tendo estudado na Escola Nacional de Belas Artes, chegou a participar do Núcleo Bernardelli e, depois de viajar para os EUA e para a Europa, retornou ao Brasil no final da década de 1940, realizando obras figurativas de formas geometrizadas. Vejamos na Figura 43 uma das obras de Milton Dacosta. Figura 43 Roda, Milton Dacosta, 1942. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira302 Na década de 1950, teve uma fase abstracionista geométrica, mas na década seguinte retornou à pintura figurativa, ainda que fa- zendo uso de uma geometria bastante aparente. Observe um pouco mais do trabalho de Milton Dacosta nas Figuras 44 e 45. Figura 44 Construção sobre fundo negro, Milton Dacosta, 1958, 27 x 22 cm. Figura 45 Figura, Milton Dacosta, 1960, 24 x 19 cm. Claretiano - Centro Universitário 303© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 José Pancetti O campineiro José Pancetti(1904-1958), outro represen- tante da segunda geração modernista brasileira, destacou-se pela técnica pictórica e pelo lirismo de suas obras, entre as quais se destacam os retratos, as paisagens e, especialmente, as marinhas, como pode ser observado na Figura 46. Figura 46 Marinha, Pancetti, 23 x 34 cm. A SPAM e o CAM Em São Paulo, a movimentação em torno da arte moderna foi mais intensa do que no Rio de Janeiro. Isso se refletiu na forma- ção de associações como a SPAM e o CAM. A Sociedade Pró-Arte Moderna - SPAM, que reunia nomes como Lasar Segall, Anita Malfatti, Victor Brecheret e Tarsila do Amaral, entre outros, foi responsável em 1933 por umas das mais importantes mostras do Modernismo internacional no Brasil nos anos 1930. Foram expostas obras de nomes como Picasso, Brancu- si, Gris, entre outros. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira304 O Clube dos Artistas Modernos - CAM, liderado por Flávio de Carvalho e Di Cavalcanti, criado em 1932, também funcionou como um importante ponto de encontro e intercâmbio de artistas e inte- lectuais ligados às artes plásticas, à música, à literatura e ao teatro. Grupo Santa Helena Já o Grupo Santa Helena, criado em 1934, reunia, basicamen- te, artistas imigrantes, sobretudo italianos ou seus descendentes, que sobreviviam com trabalhos artesanais. Todos os integrantes passaram por outras profissões que eram próprias da condição proletária. Por exemplo, Alfredo Volpi começou como marceneiro, entalhador e encadernador; Francisco Rebolo trabalhou com pintura de paredes e estuque; Mário Zanini, como letrista; Clóvis Graciano foi pintor de carroças e funcionário de estrada de ferro; Fulvio Pennacchi foi, entre muitas coisas, pro- jetista de esculturas tumulares e professor de desenho. O nome Santa Helena surgiu do Palacete (que já não existe mais) que abrigava os ateliês, na Praça da Sé, em São Paulo. Inicial- mente, não havia a ideia da criação de um movimento, mas por ra- zões de identificação, quer por origem social, quer pela formação artística e artesanal, os integrantes do grupo acabaram formando um círculo de amizade e de trabalho artístico. A seguir, vejamos as características dos artistas que compu- nham este grupo. Acompanhe. Alfredo Volpi Nascido em lucca, na Itália, Alfredo Volpi (1896-1988) mu- dou-se ainda bebê com os pais para São Paulo. Passando pelas profissões de marceneiro, entalhador e encadernador, tornou-se pintor e decorador na década de 1910, passando na década de 1930 a fazer parte do grupo Santa Helena. Claretiano - Centro Universitário 305© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Especializando-se inicialmente em marinhas, Volpi foi, ao longo da década de 1940, encantando-se cada vez mais com o tema da arquitetura colonial, tendo isto se coadunado em sua obra com uma caminhada cada vez mais acelerada para a abstração. A Figura 47 mostra uma das obras de Alfredo Volpi. Figura 47 Vista panorâmica de Itanhaém, Alfredo Volpi. No que concerne especificamente à arte abstrata, o papel de pioneiro exercido por Volpi fez que o artista fosse considerado um dos mestres do Concretismo, movimento pictórico abstracionista surgido na década de 1950, que abordaremos na próxima unida- de. De qualquer forma, talvez possamos afirmar que em poucas obras o artista tenha abraçado o abstracionismo em um sentido estrito; isso porque, para suas incursões abstratas, na maioria dos casos, Volpi manteve certa ligação com o Figurativismo, fazendo uso de temas como suas famosas bandeirinhas. Observe as Figuras 48 e 49, as quais demonstram duas das obras de Alfredo Volpi. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira306 Figura 48 Casas, Alfredo Volpi, 1953, 80,5 x 46 cm. Figura 49 Bandeirinhas, Alfredo Volpi, 1958, 44,2 x 22,1 cm. Francisco Rebolo Francisco Rebolo Gonzáles (1902-1980), “sócio-fundador” do Grupo Santa Helena, especializou-se em representar a cidade de São Paulo, suas redondezas e paisagens em geral segundo uma linguagem modernista concisa e extremamente viva. Devemos, ainda, salientar uma curiosidade: o artista chegou a ser jogador de futebol do Corinthians e foi ele o responsável pela versão do distintivo do time que é usada até hoje, com os remos e a âncora (mesmo tendo a versão atual passado por revisões que refinaram seu design). As Figuras 50 e 51 apresentam duas obras de Francis- co Rebolo. Claretiano - Centro Universitário 307© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 50 Praça Clóvis, Rebolo, 1944, 66 x 77 cm. Figura 51 Escudo do Sport Club Corinthians Paulista, Francisco Rebolo Gonzáles, 1940. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira308 Mário Zanini Mario Zanini (1907-1971) nasceu em São Paulo. De 1924 a 1926, frequentou o liceu de Artes e Ofícios, e depois da fundação do Grupo Santa Helena, em 1934, participou de diversas exposi- ções, individuais e coletivas. Figura 52 Futebol, Mário Zanini, 60 x 73 cm. Clóvis Graciano Paulista de Araras, Clóvis Graciano (1907-1988) foi outro que começou sua vida artística no Grupo Santa Helena. A paisagem, os desenhos com modelos vivos e as naturezas-mortas eram temas obrigatórios de suas composi- ções, cuja paleta muito se asse- melhava à de seus companheiros. Dentre as obras de Clóvis Gracia- no, está a Dança das bandeirolas (Figura 53). Figura 53 Dança das bandeirolas, Clóvis Graciano, 1943. Claretiano - Centro Universitário 309© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 No entanto, aos poucos a linguagem artística de Graciano foi se singularizando, na medida em que se manifestavam a primazia do desenho sobre a pintura e seu interesse pela figura humana. Graciano especializou-se, também, na confecção de murais que decoram fachadas de vários prédios em São Paulo. Observe uma destas obras na Figura 54. Figura 54 Mural de Clóvis Graciano no Edifício Nações Unidas, na Avenida Paulista, em São Paulo, 1959. Fulvio Pennacchi Fulvio Pennacchi (1905-1992) nasceu na Itália, ali iniciando sua formação artística. Chegou ao Brasil em 1929 e passou então a trabalhar como ceramista, pintor e professor de desenho, inte- grando nas décadas de 1930 e 1940 o Grupo Santa Helena. Os te- mas preferidos de Pennacchi eram os relativos à Bíblia, mas havia também um enorme gosto pelos temas “caipiras” brasileiros, em obras que representavam as festas populares e as pessoas do inte- rior, como mostra a Figura 55. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira310 Figura 55 Festa de São João, Fulvio Pennacchi, 10 x 17 cm. Os museus Até meados da década de 1940, o Brasil sofria de grande ca- rência de museus. E, no caso de museus que se prestassem a exibir obras de arte moderna, esta carência era ainda maior. Por isso, como já vimos, grande parte dos artistas brasileiros que puderam desenvolver uma linguagem modernista só conseguiu ter contato com a arte moderna internacional por meio de viagens ao exterior. No Brasil, a possibilidade de apreciação de obras de vulto, especialmente modernista, dependia da boa vontade de agrupa- mentos de artistas na organização de exposições esporádicas que trouxessem obras dos EUA e, especialmente, da Europa. Este cenário começou a mudar na década de 1940, com o aparecimento do Museu de Arte de São Paulo, do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A seguir, vejamos sobre cada em deles. Claretiano - Centro Universitário 311© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 O MASP O Museu de Arte de São Paulo - MASP (Figura 56) foi o pri- meiro grande museu “moderno” do Brasil. Fundado em 1947, teve como seu grande mecenas o jornalista Assis Chateaubriand e como diretor, Pietro Maria Bardi. Figura 56 Foto recente do MASP. O museu foi inicialmente instalado no prédio dos Diários As- sociados, em São Paulo, e somente em 1967 passou a contar com sede própria: o edifício de Lina Bo Bardi, que ocupa os locais do antigo Trianon, na Avenida Paulista.Parque do Trianon –––––––––––––––––––––––––––––––––––– O Parque do Trianon, chamado de Parque Tenente Siqueira Campos, foi inaugu- rado em 1892, junto com a abertura da Avenida Paulista. O apelido de “Trianon” deve-se a ter havido na frente do parque nas primeiras décadas do século 20, onde hoje se encontra o MASP, o Belvedere Trianon, construção projetada por Ramos de Azevedo do qual se via todo o Vale do Anhangabaú. Em 1957, o Bel- vedere Trianon foi demolido para dar lugar ao MASP (Figura 57). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira312 Figura 57 O MASP em construção, na década de 1960. O MAM-SP O Museu de Arte Moderna de São Paulo surgiu como uma organização de caráter privado, em meados de 1948, embora sua exposição de abertura tenha ocorrido apenas em março de 1949. Em seu início, o MAM (Figura 58) dependia muito das coleções particulares de Francisco Matarazzo Sobrinho, um de seus funda- dores. Posteriormente, foi ganhando força e passando a abrigar um dos maiores acervos de arte moderna e contemporânea da América Latina. O edifício que hoje cedia o Museu, na marquise do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, foi inaugurado em 1968. Parque do Ibirapuera –––––––––––––––––––––––––––––––––– Considerada uma das mais importantes áreas verdes de São Paulo, o Parque do Ibirapuera foi inaugurado por ocasião das comemorações do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo, em 1954. Possui uma área de 1,6 milhões de m² e no seu interior encontram-se importan- tes prédios públicos, vários museus, jardins, lagos e espaços esportivos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Claretiano - Centro Universitário 313© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 Figura 58 O MAM-SP. O MAM-RJ O MAM do Rio de Janeiro foi inaugurado em janeiro de 1949, em condição de precariedade: não possuía acervo e as instalações resumiam-se a duas salas na sede de um banco. Entretanto, apoiado pelos artistas, o MAM-RJ (Figura 59) se tornaria ponto obrigatório de referência no meio cultural carioca, promovendo exposições, cursos e eventos culturais. Deve-se des- tacar também o seu edifício-sede, projetado por Affonso Eduardo Reidy na década de 1950. Figura 59 O MAM-RJ. © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira314 As Bienais A 1ª Bienal de São Paulo (Fi- gura 60) foi inaugurada em 20 de outubro de 1951. A ideia partiu de Ciccillo Matarazzo e, antes de ter sua sede própria no Parque do Ibi- rapuera, a primeira edição foi rea- lizada no Trianon, na Avenida Pau- lista. Lá foi construído um pavilhão que foi apelidado de “caixotão”. O dinheiro para a realização da mostra saiu na sua maior par- te do bolso de Matarazzo, com al- guma colaboração dos governos municipal, estadual e federal. Já a segunda edição contou com maior colaboração do dinheiro público, devido às comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo, em 1954. No catálogo da 1ª Bienal, justificava-se a necessidade da realização de uma mostra de arte internacional no Brasil. Segundo o texto, a cidade de São Paulo havia crescido e, consequentemente, ha- via aumentado o número de artis- tas e o público interessado em arte moderna. O MAM surgira como núcleo de estímulo para as criações artísticas nacionais, mas logo se fez necessário ampliar a discussão para um contexto internacional. Figura 60 Cartaz da Primeira Bienal Internacional de São Paulo. Figura 61 Cartaz da Segunda Bienal Internacional de São Paulo. Claretiano - Centro Universitário 315© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 O grande modelo para a Bienal de São Paulo foi a Bienal de Veneza (a Bienal de São Paulo importou de Veneza o modelo de ex- posição internacional dividindo-se por países) e houve um acordo bilateral de intercâmbio do MAM-SP com o MoMA de Nova York, que ajudou na realização da mostra. MoMA –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O Museum of Modern Art - MoMA foi fundado em 1929. Pouco depois já era o mais famoso e frequentado museu de Nova York, possuindo uma coleção que rapidamente se tornaria uma das mais importantes do mundo. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A primeira Bienal foi um grande sucesso. A segunda (Figura 61), inaugurada em dezembro de 1953 e durando até fevereiro de 1954, foi um sucesso ainda mais surpreendente, contando com a presença de alguns dos maiores nomes da arte moderna interna- cional. Bienal de Veneza ––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Ocorrendo desde 1895, a Bienal de Veneza é até hoje a principal mostra perió- dica de arte do mundo. As primeiras edições deram mais destaque às Artes Decorativas, mas tal desta- que foi abandonado especialmente a partir de 1907, quando começaram a ser utilizados os pavilhões internacionais, cada um representando um dos países participantes. Depois da Primeira Guerra Mundial, a mostra passou a ser uma das grandes “vitrines mundiais” da Arte Moderna e, a partir dos anos 1950, tudo o que surgiu de mais inovador nas Artes Plásticas passou por ali. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 11. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Terminando esta unidade, reflita sobre as seguintes questões: 1) Por que, em um primeiro momento, o Modernismo brasileiro eclodiu em São Paulo e não no Rio de Janeiro, então capital da República? 2) O que as obras de Anita Malfatti me transmitem? Concordo com a visão de alguns críticos da época (entre eles Monteiro Lobato) de que os quadros da artista são meras "distorções" da realidade e da arte? Ou são obras que tra- duzem uma expressividade e uma sensibilidade essencialmente modernas? © História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira316 3) A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um dos acontecimentos artísticos mais importantes do século 20 no Brasil ou foi mais um entre muitos outros tão ou mais importantes? Por quê? 4) Quais são os artistas da primeira geração modernista que mais me agradam? Por quê? 5) De que maneira a situação política no Brasil pós-Revolução de 1930 ajudou ou atrapalhou a consolidação do modernismo no país? 6) A falta de estrutura e de apoio à arte que o Brasil demonstrava nas décadas de 1930 e 1940 influenciou na produção artística brasileira? Em que medi- da? 12. COnSIDERAÇÕES Chegamos ao final da quarta unidade do Caderno de Refe- rência de Conteúdo de História da Arte: Arte Internacional e Arte Brasileira, na qual vimos como surgiu e se consolidou o Modernis- mo no Brasil, dando à nossa arte a maturidade e a identidade que não apresentara até então. Na próxima unidade, vamos ver como a partir de meados da década de 1950 a arte brasileira deu um novo salto com o Concre- tismo e o Neoconcretismo; e como, nas décadas seguintes, nossos artistas estabeleceram um diálogo cada vez mais forte com tudo o que se fazia de mais instigante no cenário artístico internacional, na chamada Pós-modernidade. Até lá! 13. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras figura 1 - Primeira página de jornal noticiando o assassinato de João Pessoa, então presidente (o que chamaríamos hoje de "governador") da província (que hoje chamaríamos de "estado") da Paraíba: disponível em: <http://www.jblog.com.br/ hojenahistoria.php?itemid=9360>. Acesso em: 25 out. 2010. Claretiano - Centro Universitário 317© U4 - Brasil: do Modernismo à Década de 1950 figura 2 - Vargas ao lado de admiradores, aliados e tropas durante a Revolução de 1930: disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f6/ Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930.jpg>. Acesso em: 20 abr. 2009. figura 3 - Cartaz "populista" do governo Vargas enaltecendo seu "amparo" às classes trabalhadoras: disponível em: <http://novahistorianet.blogspot.com/2009/01/era- vargas.html>. Acesso em: 8 fev. 2011. figura 4 - Primeira página do jornal "última Hora" noticiando o suicídio de Getúlio Vargas: disponível em: <http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/>. 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