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DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD TAREFA SEMANA 11 Caso Chamma da Amazônia O caso da empresa Chamma da Amazônia mostra uma empresa ainda dando seus primeiros passos na ação internacional. O caso apresenta algumas peculiaridades interessantes: ✓ É uma empresa localizada na região Norte do país, que começa a expandir-se nacionalmente por meio de sistema de franquias; ✓ Têm um produto com fortes conotações ecológicas, ligadas ao conceito de desenvolvimento sustentável. A empresa tem uma atuação interessante nesse campo, o que é visto como diferencial em sua expansão; ✓ O apoio institucional foi importante para o desenvolvimento da empresa. Trata-se de empresa incubada com sucesso na Universidade Federal do Pará. Além disso, a empresa recorreu diversas vezes ao Sebrae em seu processo de crescimento e obteve recursos da Finep. Em 2006, seus produtos eram vendidos em 22 pontos de venda em todo o Brasil, além de duas lojas em Portugal. A empresa tinha 20 empregados e produzia cerca de 3 mil unidades por mês, entre produtos de perfumaria e higiene corporal, maquiagem, aromatizadores, embalagens e acessórios, obtendo um faturamento estimado em quatro milhões de reais. Enquanto os mercados em países desenvolvidos eram já maduros, com taxas e crescimento baixas, os mercados emergentes, como Brasil, China e Rússia, mostravam bastante dinamismo, com sistemas de distribuição em expansão. O Brasil era o sexto mercado mundial de cosméticos, superado apenas pelos EUA, Japão, França, Alemanha e Reino Unido. A taxa média de crescimento, entre 2001 e 2005, foi de 10,7% ao ano, comparativamente com uma taxa média de crescimento do PIB, no mesmo período, de 2,2%. Essas altas taxas de crescimento eram atribuídas a cada vez maior participação da mulher no mercado de trabalho, ao desejo de manter-se jovem, DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD com o aumento da expectativa de vida da população, e à própria cultura brasileira, que valorizava a beleza e a sensualidade. Acrescia-se a isso as melhorias tecnológicas e de produtividade das empresas, o que levou a uma queda nos preços. A Chamma da Amazônia tinha como concorrente as principais empresas atuantes no segmento de mercado: Natura, O Boticário, Água de Cheiro, L’ácqua di Fiori, Phytoervas e L’Occitane. Além dessas, estimava-se a existência de 1.100 pequenas e médias empresas atuantes na indústria, com competências para a fabricação desses produtos, mas sem recursos para desenvolver as atividades de marketing necessárias, em particular a construção da marca e a abertura de canais de distribuição, dois elementos imprescindíveis para ganhar acesso ao mercado. Para os especialistas no setor, as exportações brasileiras de cosméticos naturais deveriam crescer no futuro, impulsionadas pelo apelo do “Made in Brazil” e pelo uso de ingredientes extraídos da biodiversidade brasileira. Além disso, a forte miscigenação da população brasileira tinha produzido uma variedade de tipos de cabelo e peles que faziam com que as empresas fossem levadas a produzir produtos que pudessem atender, praticamente a, todos os segmentos do mercado. Por exemplo, esperava-se que as linhas desenvolvidas para o mercado de consumidores de raça negra viessem a ter boa aceitação nos mercados africanos. Além disso, o crescente envolvimento das maiores empresas do setor, como Natura e O Boticário, com os mercados internacionais, permitia a expansão da marca Brasil, o que deveria beneficiar também as empresas de menor porte. Uma característica da Chamma da Amazônia era a sua preocupação com a natureza, o que efetivamente se consubstanciava não só em sua estratégia de produto como também em sua inserção na comunidade. DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD Em 2004, a empresa fechou um contrato de franquia master com um empresário português. Por esse contrato, o empresário adquiriu o direito de estabelecer lojas da empresa em todo o território português. Em 2006, o contrato foi renegociado, passando às mãos de um novo franqueado master, dessa vez, um empresário brasileiro do ramo de franquias atuando em Portugal. A marca tinha duas lojas naquele país, uma em Lisboa e outra no Aveiro. Em 2006, as exportações representavam cerca de 10% das receitas da empresa, sendo 50% provenientes de produtos de perfumaria e 40% de ecojoias. Uma das principais dificuldades enfrentadas pela empresa derivava da ampla variedade de exigências sanitárias existentes em cada país, sem que se chegue a uma harmonização das mesmas. O custo de adequar-se a tais exigências pode inviabilizar a entrada de empresas menores no mercado. A burocracia começava pelo registro da marca e prosseguia pelas licenças ambientais, registros sanitários, etc, conforme relata a proprietária Fátima Chamma: Você tem que contratar empresas especializadas, fazer análise de produtos. Para cada produto, você paga quatro mil reais por análise ... Xampu de açaí, você paga quatro mil; xampu de copaíba, mais quatro mil; xampú de ... Nós temos quarenta produtos registrados, são mais de sessenta mil reais ... E aí eu tenho que fazer adequações para um e para outro... Cheiro, formulação. Por exemplo, minha formulação é totalmente regular no Brasil, mas às vezes um conservante não é aceito na França. E esse conservante que a França não aceita é aceito nos Estados Unidos, ou vice-versa. Fátima Chamma percebia certo preconceito local com relação aos produtos da empresa. A exportação servira também para legitimar sua qualidade junto ao mercado doméstico: O público paraense rejeitava produtos paraenses. Para termos credibilidade aqui nós precisamos ganhar prêmios lá fora, ser notícia lá fora. As pessoas acham o produto caro. Por que eles acham caro? Porque é da terra. Mas não é porque ele é da terra que deve ser desvalorizado. Ele tem todo um investimento e é similar ao que os outros concorrentes [no Brasil] têm. Então nossa empresa, é uma empresa que tem capacidade para competir. DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD Começamos a mostrar que estávamos exportando. ...Quando você fala que é um produto exportado, as pessoas no mercado interno acreditam mais. Não, meu produto não é caro. Sabe por que meu produto não é caro? Porque ele é único. Ela acredita que o segmento-alvo mais propenso a comprar os produtos da empresa era maior em outros países que no Brasil: “Nosso produto é atrativo para um grupo de pessoas culturalmente bem informadas, ecologicamente responsáveis. Isso a cada dia se intensifica mais. Mas as pessoas que têm essa consciência aqui no Brasil ainda correspondem a um percentual muito pequeno. A maioria das pessoas diz que tem essa consciência, mas entre um produto que custa R$ 1 mais caro e que tem esse conceito e outro mais barato, as pessoas acabam comprando o que é R$ 1 mais barato.” Os investimentos realizados pela empresa para atingir os mercados externos foram estimados por André Pinheiro (um dos sócios da empresa) em, aproximadamente, US$ 70 mil, parte em adaptação de produtos e registros e outra parte em eventos no exterior. DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD Caso Ivia O caso da empresa Ivia apresenta um processo de internacionalização que guarda três peculiaridades que merecem destaque: ✓ Pertencer ao setor de serviços; ✓ Comercializar software, um “produto” não típico da pauta de exportações brasileiras; ✓ Ter origem no Nordeste do Brasil, região que não tem um histórico consistente de exportações na área de tecnologia da informação. Em 26 de março de 1996, a Ivia foi fundada na cidade de Fortaleza, Ceará, com o propósito de explorar o mercado cearense. O Estado do Ceará começava a surgir como umnovo pólo de produção de software no país, graças a diversas ações empresariais e de governo. A Ivia foi a primeira empresa a lançar o serviço de Internet Banking no Nordeste do Brasil e o primeiro provedor de acesso à internet com foco no mercado corporativo de Fortaleza. Dez anos depois, a Ivia desenvolvia ferramentas de negócios para a web, visando otimizar processos gerenciais de empresas, com base na tecnologia de internet. Alguns softwares desenvolvidos envolviam sites corporativos, portais corporativos, intranet corporativo, extranet, e-commerce, e-procurement, internet banking e e-government. Um estudo realizado pela Unicamp e pela Softex, em 2004, sobre o perfil das empresas exportadoras de software do país mostrou a seguinte distribuição das exportações brasileiras de software no que se refere ao mercado de destino: Estados Unidos (30%), União Europeia (20%), Mercosul (18%) e outros países da América do Sul (13%). O estudo identificou alta concentração das exportações em pequeno número de empresas. As empresas exportadoras de software apresentavam alta incidência de técnicos altamente qualificados, com graus de doutor e mestre, em uma proporção considerada sem “paralelo em qualquer outra atividade privada industrial ou de serviços no Brasil, com exceção da indústria de produtos químicos”. A principal fonte de financiamento DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD utilizada pelas empresas para financiar suas exportações era recursos próprios. A primeira incursão da empresa no mercado internacional aconteceu, portanto, em 2002, com uma prestação de serviços em Portugal. Os sócios foram chamados por um ex-colega da IBM que trabalhava naquele país, com o propósito de contratar a Ivia para fornecer um treinamento para um dos maiores bancos portugueses, o Banco Espírito Santo. O contrato foi firmado e a Ivia transferiu para lá um funcionário seu, que permaneceu em Portugal o tempo necessário para prestar o serviço contratado. A partir dessa experiência bem-sucedida, a empresa adotou uma postura mais proativa, percebendo dispor de algumas tecnologias mais avançadas do que as empresas portuguesas e até mesmo outras empresas europeias. Para poder se estabelecer de vez no país, de forma estratégica, a Ivia estabeleceu uma parceria com uma empresa local para apoiar os seus esforços comerciais na venda de software. Para tal, durante um período de doze meses, Alexandre Menezes (sócio da Ivia) identificou empresas de software daquele país e visitou “pelo menos uma dúzia delas”, observando ser essa uma parte intrínseca ao negócio da Ivia. Para entrar no mercado português, a empresa também fez contatos com a Embaixada do Brasil em Lisboa. Esses contatos, segundo Márcio Braga, tinham “caráter institucional”, e embora houvesse “pouca ajuda, de fato”, foi dada alguma orientação quanto a alguns processos que deveriam ser seguidos para a entrada naquele mercado. Em 2004, foi contratada uma equipe de consultores comerciais locais e a Ivia iniciou o processo de transferência de conhecimento. Estava previsto no acordo de parceria que, em 2005, as atividades passariam a ser conduzidas somente pelo parceiro português. DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD No que dizia respeito à política de preços, a Ivia seguia uma linha de conduta balizada por dois parâmetros: o custo de produção do software no Brasil, que era o limite mínimo, e o preço praticado pelos possíveis concorrentes no mercado português, como limite máximo. A empresa procurava se situar de acordo com esse intervalo, fixando seu preço abaixo da concorrência no mercado português, por entender que uma das vantagens do software brasileiro era ser mais barato do que seus similares internacionais. Como resultado dessa política a empresa obteve, em 2004, uma rentabilidade maior em Portugal do que no Brasil, muito embora o faturamento da Ivia no Brasil representasse aproximadamente 90% de suas receitas. No seu processo de internacionalização a empresa não enfrentou muitas dificuldades de no ambiente político. Este fato se deve, principalmente, a parceria estabelecida com outra empresa no país. Para Alexandre Menezes, os grandes limitadores à entrada de empresas cearenses no mercado internacional eram o próprio tamanho do mercado brasileiro, que desestimulava a busca de outros mercados, a “mentalidade de colonizado”, que fazia com que houvesse certo temor ao ingresso em mercados mais avançada, e a própria falta de tempo do empresário, mais preocupado em fechar negócios imediatos. Na visão de Alexandre Menezes, a principal área em que o governo federal deveria investir era na imagem do Brasil. Os estrangeiros tinham uma imagem do Brasil como país do samba, do carnaval, do futebol, mas não tinham uma imagem do país que fosse favorável aos negócios, em particular aos de uma indústria de alta tecnologia, como a de software. Na sua tentativa de expansão para a Espanha a empresa encontrou uma dificuldade, decorrente do idioma. Da mesma forma que os portugueses, os espanhóis desejavam dispor da literatura técnica em seu idioma. A Ivia não dispunha de executivos ou funcionários que tivessem o domínio do idioma espanhol, o que era percebido como entrave à entrada naquele mercado. DISCIPLINA: INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS – 25 - EAD A experiência em Portugal mostrou aos empresários que existiam diferenças fundamentais entre esse mercado e o brasileiro. Isso tanto no que dizia respeito aos aspectos comerciais (por exemplo, uma visita de venda devia ser agendada junto aos clientes portugueses com, no mínimo, um mês de antecedência) quanto aos aspectos de linguagem (em Portugal era usual a tradução de termos técnicos, enquanto no Brasil os mesmos eram utilizados em inglês). Além disso, a Ivia, por exigência da formalidade do mercado europeu, colheu os benefícios de desenvolver sistemas mais aperfeiçoados, conforme declarou Alexandre Menezes: Nós, hoje, temos muito mais cuidado com a questão de testes e bugs de software. Porque é imperdoável um erro acontecer para um cliente europeu. Para um cliente brasileiro sempre há um jeitinho, sempre há um ‘Ah, tem esse erro aí, mas vamos ajeitar!’. E lá, por eles serem mais formais, temos uma preocupação maior. Então eu acredito que o nosso software tenha hoje muito menos erros do que no passado. Os gestores da Ivia viam as dificuldades encontradas como inerentes a qualquer expansão geográfica, acrescidas pelas diferenças culturais. Como sua atividade tinha como base o talento humano, a transferência das pessoas para outros países trazia dificuldades de adaptação que passariam despercebidas em ambientes mais próximos. A forma de internacionalização escolhida, por meio de parcerias, foi extremamente adequada para a Ivia, pois permitiu atravessar algumas barreiras, normalmente encontradas em outros países.
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