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@resumosdamed_ 1 HEMOSTASIA E COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS HEMOSTASIA NORMAL o A resposta hemostática normal ao dano vascular depende da interação íntima entre a parede vascular, as plaquetas circulantes e os fatores de coagulação do sangue. o O sistema hemostático é um equilíbrio entre mecanismos pró- coagulantes e anticoagulantes, aliado a um processo de fìbrinólise. Os cinco principais componentes envolvidos são plaquetas, fatores de coagulação, inibidores da coagulação, componentes do mecanismo fìbrinolítico e vasos sanguíneos. COMPONENTES DA RESPOSTA HEMOSTÁTICA PLAQUETAS PRODUÇÃO o As plaquetas são produzidas na medula óssea por fragmentação do citoplasma dos megacariócitos, uma das maiores células do organismo. o O precursor do megacariócito - o megacaríoblasto - surge por um processo de diferenciação da célula-tronco hematopoética. O megacariócito amadurece por replicação endomitótica sincrônica (i.e., replicação do DNA sem haver divisão nuclear ou citoplasmática), aumentando o volume do citoplasma à medida que o número de lobos nucleares aumenta em múltiplos de dois o Megacariócitos maduros são enormes, com um único núcleo lobulado excêntrico e baixa relação núcleo-citoplasmática. o Plaquetas formam-se pela fragmentação das extremidades das extensões do citoplasma do megacariócito, cada megacariócito dando origem a l.000 a 5.000 plaquetas. O intervalo entre a diferenciação da célula-tronco humana e a produção de plaquetas é de 10 dias, em média. o O principal regulador da produção de plaquetas é a trombopoietina, constitucionalmente produzida pelo fígado e pelos rins. A trombopoietina aumenta o número e o ritmo de maturação dos megacariócitos via receptor c-MPL. Embora a própria trombopoietina não esteja ainda disponível para uso clínico, há agentes trombomiméticos que se ligam à c-MLP e que são usados clinicamente para aumentar a contagem de plaquetas. A contagem de plaquetas começa a subir 6 dias depois do início do tratamento e permanece elevada durante 7 a 10 dias. o As plaquetas também têm receptores para c-MPL para trombopoietina e removem-na da circulação; por esse motivo, o nível de trombopoietína mostra-se elevado quando há trombocitopenia por falta de produção de plaquetas - como na aplasia da medula- mas diminuído em pacientes com trombocitose. o O valor de referência para a contagem de plaquetas é de 250.000/µ,L (limites 150 a 400.000/µ,L) e a sobrevida plaquetária média é de 7 a 10 dias. Até um terço das plaquetas produzidas pela medula podem ser retidas no baço normal, mas a retenção pode chegar a 90% em casos de esplenomegalia maciça. ESTRUTURA o As glicoproteínas do revestimento da superfície são particularmente importantes nas reações de adesão e agregação de plaquetas, que são os eventos iniciais que levam à formação do tampão plaquetário durante a hemostasia. @resumosdamed_ 2 o A adesão ao colágeno é facilitada pela glicoproteína la (GPla). As glicoproteínas lb (defeiruosas na síndrome de Bernard-Soulier), e IIb/lIIa - são importantes na ligação de plaquetas ao fator von Willebrand (VWF) e, em seguida, ao subendotélío vascular, no qual ocorrem interações de sinalização. O sítio de ligação de Ilb/Illa também é o receptor de fibrinogênio, importante na agregação plaqueta-plaqueta. o A membrana plasmática invagina-se na plaqueta para formar um sistema de membrana aberto (canalicular) que constitui uma grande superfície reativa, na qual podem ser seletivamente absorvidas as proteínas plasmáticas da coagulação. o As plaquetas contêm três tipos de grânulos de armazenamento: densos, alfa e lisossomos. Os grânulos específicos alfa, mais numerosos, contêm fatores de coagulação, VWF, fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), ß-tromboglobulina, fibrinogênio e outras proteínas. Os grânulos densos, menos numerosos, contêm difosfato de adenosina (ADP), trifosfato de adenosina (ATP), serotonina e cálcio. Lisossomos contêm enzimas hidrolíticas. o Durante a reação de liberação, o conteúdo dos grânulos é liberado dentro do sistema canalicular aberto. ANTÍGENOS PLAQUETÁRIOS o Várias proteínas da superfície das plaquetas são antígenos importantes na autoimunidade plaqueta-específica - costumam ser designados antígenos plaquetárlos humanos (HPA). FUNÇÃO DAS PLAQUETAS o A principal função das plaquetas é a formação do tampão mecânico durante a resposta hemostática normal à lesão vascular. Na ausência de plaquetas, pode ocorrer vazamento espontâneo de sangue de pequenos vasos. o A função plaquetária pode dividir-se em reações de adesão, agregação e liberação. Também há a amplificação. A imobilização das plaquetas nos sítios de lesão vascular requer interações especificas plaqueta-parede vascular (adesão) e plaqueta -plaqueta (agregação), ambas parcialmente mediadas pelo VWF discutido a seguir. FATOR VON WILLEBRAND (VWF) o O VWF está envolvido na adesão dependente das condições de fluxo das plaquetas à parede vascular e a outras plaquetas (agregação). Ele também transporta fator VIII. o O VWF é codificado por um gene no cromossomo 12, sintetizado por células endoteliais e megacariócitos, e armazenado nos corpúsculos de Weibel-Palade das células endoteliais e nos grânulos específicos a das plaquetas, respectivamente. o O VWF plasmático é quase inteiramente derivado das células endoteliais, com duas vias diferentes de secreção. A maioria é continuamente secretada, e uma minoria é armazenada nos corpúsculos de Weibel-Palade. O VWF armazenado pode aumentar o nível plasmático e ser liberado sob a influência de vários secrecagogos, como estresse, exercício, adrenalina e infusão de desmopressina (l- diamino-8-o-arginina vasopressina; DDAVP). AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA o Caracteriza-se por ligação cruzada das plaquetas por meio de receptores ativos de GPIIb/IIIa com pontes de fìbrinogênio. o A estimulação de uma plaqueta leva a um aumento de moléculas de GPIIb/IIIa, permitindo a ligação cruzada da plaqueta com pontes de fìbrinogênio. REAÇÃO DE LIBERAÇÃO E AMPLIFICAÇÃO DAS PLAQUETAS o A ativação primária por vários agonistas induz sinalização intracelular, levando à liberação do conteúdo dos grânulos alfa. Este desempenha papel importante na formação e estabilização de agregados plaquetários e, além disso, o ADP liberado dos grânulos densos desempenha importante papel de realimentação (feedback) do estímulo à ativação plaquetária. o O tromboxano A2 (TXA2) é o pivô do segundo mais importante ciclo de realimentação da amplificação secundária da ativação plaquetária, necessária à firmeza e à estabilidade do agregado plaquetário. TXA2 é uma substância que diminui os níveis plaquetários de monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) e inicia a reação de liberação. Além disso, o TXA2 tem intensa atividade vasoconstritora. A reação de liberação é inibida por substâncias que aumentam o nível de cAMP nas plaquetas. @resumosdamed_ 3 Uma dessas substâncias é a prostaciclina (PGI2), sintetizada pelas células endoteliais vasculares. ATIVIDADE PRÓ-COAGULANTE DAS PLAQUETAS o Depois da agregação e da liberação das plaquetas, o fosfolipídio da membrana exposto (fator plaquetário 3) fica disponível para duas reações na cascata da coagulação. Ambas as reações mediadas pelo fosfolipídio são dependentes do íon cálcio. 1. A primeira envolve os fatores IXa, VIIIa e X na formação do fator Xa. 2. A segunda (protrombinase) resulta na formação de trombina a partir da interação dos fatores Xa, Va e protrombina (II). FATOR DE CRESCIMENTO o O PDGF encontrado nos grânulos alfa das plaquetas estimula a multiplicação das células musculares lisas dos vasos, o que acelera a cicatrização da lesão vascular. INIBIDORES NATURAIS DA FUNÇÃO PLAQUETÁRIA o O óxido nítrico (NO) é liberado constitucionalmente das células endoteliais, dos macrófagos e das plaquetas e ele inibe a ativação plaquetária e promove vasodilatação.o A prostaciclina, sintetizada pelas células endoteliais, também inibe a função plaquetária e causa vasodilatação por aumentar os níveis de guanosina-monofosfato cíclico (GMP). Uma ectonucleotidase (CD39) age como uma ADPase e ajuda a prevenir a agregação plaquetária nas paredes vasculares íntegras. CASCATA DA COAGULAÇÃO o A coagulação do sangue envolve um sistema biológico de amplificação, no qual relativamente poucas substâncias de iniciação ativam em sequência, por proteólise, uma cascata de proteínas precursoras circulantes (os fatores enzimáticos da coagulação), culminando na geração de trombina. Esta, por sua vez, converte o fibrinogênio solúvel do plasma em fibrina. A fibrina infiltra os agregados de plaquetas nos locais de lesão vascular e converte os tampões primários e instáveis de plaquetas em tampões hemostáticos firmes, definitivos e estáveis. o O funcionamento dessa cascata de enzimas necessita de uma concentração localizada dos fatores de coagulação circulantes nos sítios de lesão. o As reações mediadas por superfície ocorrem no colágeno exposto, no fosfolipídio plaquetário e no fator tecidual. o Com exceção do fìbrinogênio, que é a subunidade do coágulo de fibrina, os fatores de coagulação são precursores de enzimas ou cofatores. Todas as enzimas, exceto o fator XIII, são serina-proteases, isto é, sua capacidade de hidrolisar ligações peptídicas depende do aminoácido serina como centro ativo. @resumosdamed_ 4 INICIAÇÃO o A coagulação inicia-se pela interação do fator tecidual (TF), ligado à membrana, exposto após lesão vascular e ativado por uma proteína enzimática dissulfeto-isomerase, com fator VIIa. O fator tecidual é o único iniciador da geração de trombina e formação de fibrina. Ele está expresso em fibroblastos da adventícia e nos pequenos músculos da parede vascular, em microparticulas na corrente sanguínea, e em outras células não vasculares. o O complexo fator VIIa-TF (Xase extrínseca) ativa tanto o fator IX quanto o X. O fator Xa, na ausência de seu cofator, transforma pequenas quantidades de protrombina em trombina. Isso é insuficiente para iniciar significativa polimerização de fibrina; há necessidade de amplificação. AMPLIFICAÇÃO o A via inicial, ou Xase extrínseca, é rapidamente inativada pelo inibidor da via do fator tecidual (TFPI), que forma um complexo quaternário com Vlla, TF e Xa. o A geração de trombina passa a ser dependente da tradicional via intrínseca. o Fatores VIII e V são convertidos em VIIIa e Va pelas pequenas quantidades de trombina geradas durante a iniciação. o Nesta fase de amplificação, a Xase intrínseca, formada por IXa e VIIIa na superfície de fosfolipídio e na presença de Ca2+, ativa Xa suficiente que, em combinação com Va, PL, e Ca2+, forma o complexo protrombinase e resulta na geração explosiva de trombina. Esta age no fibrinogênio para formar o coágulo de fibrina. o A trombina hidrolisa o fibrinogênio, liberando fìbrinopeptídios A e B para formar monômeros de fibrina. Os monômeros de fibrina unem-se espontaneamente por meio de pontes de hidrogênio para formar um polímero frouxo e insolúvel de fibrina. o O fator XIII também é ativado por trombina e cálcio. Uma vez ativado, estabiliza os polímeros de fibrina com a formação de ligações covalentes cruzadas. o A atividade dos fatores II, VII, IX e X depende da vitamina K, responsável pela carboxilação de vários resíduos terminais de ácido glutâmico em cada uma de suas moléculas. o Embora não sejam enzimas proteases, os cofarores VIII e V circulam na forma de precursores que necessitam de clivagem limitada pela trombina para expressão total da sua atividade de cofatores. CÉLULAS ENDOTELIAIS o Tem papel de manutenção da integridade vascular. Fornecem membrana basal que separa o colágeno, a elastina e a fibronectina do tecido conectivo subendoteliais do sangue circulante. Perda ou dano ao endotélio resulta e ativação do mecanismo hemostático. A célula endotelial produz prostaglandinas, NO, e a extonucleotidade CD39 que possuem ação vasodiltadoras e inibem agregação plaquetária. RESPOSTA HEMOSTÁTICA VASOCONSTRIÇÃO o Uma constrição imediata do vaso lesado e a constrição reflexa das artérias e arteríolas adjacentes são responsáveis por uma diminuição inicial do fluxo sanguíneo na região da lesão. Quando há lesão extensa, essa reação vascular evita a exsanguinação. @resumosdamed_ 5 o A diminuição do fluxo sanguíneo permite ativação de contato de plaquetas e fatores de coagulação. As aminas vasoativas e o tromboxano A2 (TXA2) liberados das plaquetas, além dos fìbrinopeptidios liberados durante a formação de fibrina, também têm atividade vasoconstritora. REAÇÕES PLAQUETÁRIAS E FORMAÇÃO DO TAMPÃO HEMOSTÁTICO PRIMÁRIO o Depois da ruptura do revestimento endotelial há aderência inicial de plaquetas (via receptores GP1a e GP1b) ao tecido conectivo exposto, mediada pelo VWF. o Em condições de fluxo sob pressão (p. ex., nas arteríolas), a matriz subendotelial exposta reveste-se inicialmente de VWF. A exposição de colágeno e a geração e trombina pela ativação do fator tecidual produzida no sitio da lesão fazem as plaquetas aderentes liberarem o conteúdo dos grânulos e ativarem a síntese de prostaglandina, levando à formação de TXA2. o O ADP liberado provoca ingurgitamento e agregação das plaquetas. Plaquetas rolando no sentido do fluxo sobre VWF exposto, com ativação dos receptores de GPIIb/Illa, aderem de modo ainda mais firme. Plaquetas adicionais do sangue circulante são atraídas para a região da lesão. o Essa agregação contínua de plaquetas promove crescimento do tampão hemostático, o qual logo cobre o tecido conectivo exposto. O tampão hemostático primário instável, produzido por essas reações das plaquetas já ao fim do primeiro minuto depois da lesão, costuma ser suficiente para controle temporário do sangramento. o É provável que a prostaciclina, seja importante na limitação da extensão do tampão inicial de plaquetas. ESTABILIZAÇÃO DO TAMPÃO PLAQUETÁRIO PELA FIBRINA o A hemostasia definitiva é obtida quando a fibrina, formada pela coagulação do sangue, é acrescentada à massa de plaquetas e pela retração/ compactação do coágulo induzida pelas plaquetas. o Depois da lesão vascular, a formação de Xase (Vlla, TF, PL e Ca2+) inicia a cascata da coagulação. A agregação de plaquetas e as reações de liberação aceleram o processo de coagulação pelo fornecimento abundante de fosfolipídio de membrana. A trombina gerada no sítio da lesão converte o fibrinogênio solúvel do plasma em fibrina, potencializa a agregação e as secreções das plaquetas, e ativa os fatores XI e XIII e os cofatores V e VIII. o A fibrina, como componente do tampão hemostático, aumenta à medida que as plaquetas fundidas se lisam. Depois de algumas horas, todo o tampão hemostático é transformado em uma massa sólida de fibrina com ligações cruzadas. o Há retração do coágulo, mediada por receptores de GPIlb/llIa, que ligam filamentos de actina citoplasmática com polímeros de fibrina ligados à superfície. No entanto, devido à incorporação de plasminogênio e TPA, o tampão já começa a autodigestão. LIMITAÇÕES FISIOLÓGICAS DA COAGULAÇÃO: A coagulação descontrolada do sangue causaria oclusão perigosa dos vasos (trombose). INIBIDORES DOS FATORES DE COAGULAÇÃO: o Inibidor do Fator tecidual: é sintetizado pelas células endoteliais e acumula-se no sitio da lesão pela ativação local das plaquetas. Inibe os fatores Xa, VIIa e o fator tecidual. o Antitrombina: inativação de trombina e derina- proteases. É potencializado pela heparina. o Cofator II de heparina: inibe trombina. PROTEÍNA C E S: o São inibidores dos cofatores de coagulação V e VIII. A trombina liga-se ao receptor trombomodulina da superfície da célula endotelial, e o complexo resultante ativa a serina- protease proteína C (vitamina K dependente) capaz de destruir fatoresV e VIII, evitando assim a ativação da trombina. @resumosdamed_ 6 o A ação da proteína C é intensificada pela proteína S, que liga a proteína C na superfície da plaqueta. Além disso, a proteína C estimula a fibrinólise. FIBRINÓLISE o A fibrinólise faz parte da hemostasia normal. O plasminogênio, uma proteína pró-enzima B- globulina no sangue, é convertida na serina- protease plasmina por ativadores da parede vascular (ativação intrínseca) ou dos tecidos (ativação extrínseca). o A via mais importante é a do ativador tecidual do plasminogênio (TPA) das células endoteliais, ele é uma serina-protease que se liga a fibrina, aumentando a sua capacidade de converter o plasminogênio ligado ao trombo em plasmina. o A proteína C estimula a fibrinólise por destruir inibidores plasmáticos de TPA. A geração de plasmina na lesão limita a extensão do trombo. o A plasmina digere fibrinogênio, fibrina e fatores V e VIII. PRINCÍPIOS DOS TESTES DE COAGULAÇÃO (TP, TTPA E TS) o Hemostasia defeituosa com sangramento anormal pode resultar de: Distúrbio vascular; Trombocitopenia ou distúrbio de função plaquetária; ou Defeito da coagulação do sangue. o Vários testes simples são usados para avaliar os componentes da hemostasia: plaquetas, parede vascular e coagulação. HEMOGRAMA COMPLETO o Como a trombocitopenia é uma causa comum de sangramento anormal, pacientes com suspeita de doença hemorrágica inicialmente de vem fazer hemograma, incluindo contagem de plaquetas e exame microscópico da distensão de sangue. Além de estabelecer a presença de trombocitopenìa, a causa pode ser óbvia (p. ex., leucemia aguda). TESTES DE TRIAGEM DA COAGULAÇÃO DO SANGUE o Os testes de triagem fornecem avaliação dos sistemas "extrínseco" e "intrínseco" da coagulação do sangue e da conversão central de fibrinogênio em fibrina. o Tempo de protrombina (TP): avalia os fatores VII, X, V, protrombina (II) e fìbrinogênio. O tempo normal para coagulação é de 10 a 14 segundos. Ele pode ser expresso como International Normalized Ratio (INR). o Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) avalia os fatores VIII, IX, XI e XII, além dos fatores X, V, protrombina e fìbrinogênio. O tempo normal para coagulação é de 30 a 40 segundos. o O prolongamento no tempo de coagulação no TP e no TTPA, quando causado por deficiência de fator, é corrigido pela adição de plasma normal ao plasma em exame (mistura 50:50). Se não houver correção, ou se for incompleta com plasma normal, suspeita-se da presença de um inibidor da coagulação. o Tempo (de coagulação) de trombina (TT) é sensível à deficiência de fìbrinogênio ou à inibição da trombina. O tempo de coagulação é de 14 a 16 segundos em plasmas normais. DISTÚRBIOS HEREDITÁRIOS DA COAGULAÇÃO HEMOFILIA A o A hemofilia A é a mais comum das deficiências hereditárias de fatores da coagulação. A herança é ligada ao sexo (cromossomo X), mas até um terço dos pacientes não tem história familiar, e a doença resulta de mutação recente. @resumosdamed_ 7 GENÉTICA MOLECULAR o O gene do fator VIII está situado próximo à ponta do braço longo do cromossomo X (região Xq2.8). A proteína fator VIII é sintetizada no fígado e nas células endoteliais. O defeito é a ausência ou um baixo nível plasmático de fator VIII. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS o Lactentes podem ter hemorragia profusa depois de circuncisão, hemorragia em articulações e tecidos moles e suscetibilidade a equimoses quando começam a ficar ativos. o Hemartroses dolorosas recidivantes e hematomas musculares dominam a evolução clínica de pacientes severamente afetados. Se os episódios forem tratados de maneira incorreta, causam deformidades articulares progressivas e invalidez o Pressão local do hematoma em torno de nervo pode causar neuropatia ou necrose isquêmica. o Há sangramento prolongado após extrações dentárias. Hematúria e sangramento gastrintestinal espontâneos também podem acontecer, às vezes com obstrução resultante de sangramento dentro da mucosa parietal. o A gravidade clínica da doença correlaciona-se inversamente com o nível de fator VIII. o Hemorragias cirúrgica ou por traumatismo levam a risco de morte em pacientes com doença severa e, inclusive, leve. ACHADOS LABORATORIAIS Os seguintes exames são anormais: 1. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA ou K-TTP). 2. Dosagem coagulométrica do fator VIII. O teste PFA-100 (e o tempo de sangramento) e o tempo de protrombina (TP) são normais. DEFICIÊNCIA DE FATOR IX (HEMOFILIA B, DOENÇA DE CHRISTMAS) o A herança e os aspectos clínicos da deficiência de fator IX são idênticos aos da hemofilia A. De fato, as duas doenças somente podem ser diferenciadas pelos testes específicos de coagulação. o O fator IX é codificado por um gene junto ao do fator VIII, próximo à ponta do braço longo do cromossomo X, em Xq2.6. A síntese é vitamina @resumosdamed_ 8 K-dependente, como a da protrombina, dos fatores VII e X, e da proteína C. ACHADOS LABORATORIAIS Os seguintes exames são anormais: 1. TTPA (ou K-TTP); 2. Dosagem coagulométrica de fator IX. Como na hemofilia A, o PFA-100 (e o tempo de sangramento) e o TP são normais DOENÇA DE VON WILLEBRAND (VWD) o Nessa doença, há diminuição do nível plasmático ou função anormal do VWF por causa de mutação de sentido ou mutação nula. O VWF é produzido em células endoteliais e megacariócitos. o É uma proteína que promove adesão de plaquetas ao subendotélio em condições de fluxo tumultuado e é a molécula portadora do fator VIII, protegendo-o de destruição prematura. Esta última propriedade explica a diminuição ocasional de fator VIII encontrado na VWD. o Elevação crônica do VWF é parte da resposta de fase aguda às lesões, inflamação, neoplasia ou gravidez. o Foram descritos três tipos de doença de von Willebrand. O tipo 2 é dividido em quatro subtipos, dependendo do defeito funcional. O tipo 1 corresponde a 75% dos casos. o A VWD é o distúrbio hemorrágico hereditário mais comum. De modo geral, a herança é autossômica dominante com expressão variável. A gravidade do sangramento é muito variável, dependendo do tipo de mutação e de efeitos genéticos epistáticos, como o grupo sanguíneo ABO. ASPECTOS CLÍNICOS o Em geral, há sangramento de mucosas (p. ex., epistaxe, menorragia), perda sanguínea excessiva depois de cortes e escoriações superficiais, e hemorragia pós-traumática e pós-operatória. A gravidade é variável nos diferentes tipos. o Hemartrose e hematomas musculares são raros, exceto na doença tipo 3. ACHADOS LABORATORIAIS 1. O teste PFA-100 é anormal. Este teste substituiu o teste de tempo de sangramento. 2. Os níveis de fator VIII muitas vezes estão baixos. Se isso ocorrer, fazer dosagem da ligação VIII/VWF. 3. O TIPA (ou K-TTP) pode estar prolongado. 4. Os níveis de VWF em geral são baixos. 5. A agregação de plaquetas pelo plasma do paciente com ristocetina (VWF: Rco) é defeituosa. A agregação com outros agentes (ADP, trombina e adrenalina), via de regra, é normal. 6. A função de ligação ao colágeno (VWF: CB) geralmente está reduzida. 7. Análise dos multímeros é útil para o diagnóstico dos diferentes subtipos 8. A contagem de plaquetas é normal, exceto na doença tipo 2B (na qual é baixa). HEMOCOMPONENTES E HEMODERIVADOS o Hemocomponentes e hemoderivados são preparados a partir de sangue colhido de doação de sangue total, ou doação de aférese. o Os componentes do sangue total ou hemocomponentes (hemácias, plaquetas e plasma) são separados por método de centrifugação diferencial e, com exceção do Citomegalovírus (CMV) e do vírus linfotrópico de célula T humano tipo I (HTLV-1), esses hemocomponentes usualmente apresentam o mesmo risco de transmissão de doenças do sangue total que os originou. Atualmente, várias metodologias têm sido testadas no sentido de tratar esses hemocomponentes, objetivando a@resumosdamed_ 9 inativação de patógenos e diminuição do risco de transmissão de algumas doenças. o Em contraste, os hemoderivados (soluções de albumina, imunoglobulinas e concentrados e fatores da coagulação) são preparados a partir de processos mais complexos (industrialização), utilizando-se pools de plasma. Dependendo do método e processamento, apresentam diminuição significante dos riscos de transmissão de doenças. o Ou seja, os produtos gerados um a um nos serviços de hemoterapia, a partir do sangue total, por meio de processos físicos (centrifugação, congelamento) são denominados hemocomponentes. Já os produtos obtidos em escala industrial, a partir do fracionamento do plasma por processos físico-químicos são denominados hemoderivados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Fundamentos em hematologia. 6a.ed. Porto Alegre: Artmed, 2018 2. Tratado de Hematologia. 1ª.ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2013 3. Doenças que alteram os exames hematológicos. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2017
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