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1 A CARNE E OS PRODUTOS CÁRNEOS AO LONGO DA HISTÓRIA 1.1 O HOMEM NA PRÉ-HISTÓRIA 1.1.1 A atividade da caça coincide com a evolução dos hominídeos O consumo de carne acompanha o homem desde épocas remotas e a história da carne se confunde com a história do próprio homem. As informações mais antigas de que o homem atual dispõe sobre a utilização da carne referem-se a descobertas de restos fósseis (feitas na década de 1950), de um local chamado Desfiladeiro de Olduvail, no território da atual Tanzânia, que sugerem que dos “hominídeos” se originaram os nossos “ancestrais” há 3 ou 4 milhões de anos. Nesse sítio arqueológico, que apresenta resquícios da primeira construção hominídea que deve ter sido uma espécie de quebra- vento de pedras, foram encontrados ossos esmagados de animais e espalhados que, certamente, haviam sido quebrados para apanhar a medula e o cérebro, evidenciando que as criaturas que habitavam esse local eram carnívoras. A carne, nessa época era consumida crua, pois não havia vestígio de uso do fogo. Esse hábito de comer carne deve ter sido bastante importante para esse espécime, pois trata-se de um alimento rico que dispõe da maioria dos nutrientes necessários. Assim, essas criaturas (Australopithecus) se multiplicaram e, por volta de 1 milhão de anos a.c., podiam ser encontradas por todo mundo (exceto nas Américas e na Austrália). A caça, que é considerada a primeira habilidade especializada dos nossos “ancestrais”, envolvia inicialmente a captura de animais de pequeno porte e roedores e, com o passar do tempo, animais maiores, como elefante, mamute e girafa. Isso mostra que os “seres caçadores” passaram a conhecer os hábitos dos animais e persegui-los, passaram a atuar em empreitadas cooperativas de caçada e a fabricar ferramentas de pedra (pedra lascada). Acredita-se que as operações e as informações que envolviam a caçada (tais como memorizar os trajetos e o comportamento dos animais; planejar armadilhas e preparar a estratégia da ação; trocar informações para atuar em grupo) tenham contribuído para o desenvolvimento das características que difereciam o homem dos animais. Essa capacidade de planejar, normalmente, é relacionada com o formato e o tamanho da caixa craniana. O Australopithecus, que media 1,20 m de altura, possuía um A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 2 crânio que se parecia ligeiramente com o dos símios, mas o cérebro era tão grande quanto o de um gorila. Entretanto, um dos seus descendentes, o Homo erectus, possuía o cérebro ainda maior, com o dobro de tamanho do Australopithecus A espécie com característica humana foi submetida, num tempo seguinte, a condições climáticas extremas (Idades do gelo), as glaciações. Essas mudanças climáticas afetaram as regiões proximas aos hemisférios e a África ficou distante desses campos de gelo. Assim, as espécies com características mais humanas foram protegidas do mecanismo evolutivo de seleção e deram origem ao Homo habilis que evoluiu para o Homo erectus. A diferença entre esses dois indivíduos é o tamanho do cérebro 1.1.2 O Homo erectus aprende a usar o fogo O Homo erectus aprendeu a lidar com o fogo (cerca de 600.000 a.C.). Esse fato foi considerado como a mais importante mudança isolada na tecnologia, antes do advento da agricultura. Extraído de uma fonte natural (atividade vulcânica ou erupção de gás natural ou de uma floresta em chamas), o calor do fogo permitiu: cozinhar a carne e os vegetais que ficaram mais macios e isso reduziu o tempo de mastigação (e o maior tempo disponível foi utilizado para outras atividades); afugentar a escuridão de cavernas; apanhar animais de tocas; proteção do frio; moldar ferramentas de madeira, etc. Desses benefícios, o menor tempo de mastigação deve ter ajudado a moldar o rosto e o formato dos dentes. A evolução física do Homo erectus continuou e desse grupo surgiu o Homo sapiens. 1.1.3 O Homo sapiens permanece em assentamentos e demonstra pensamento abstrato O Homo sapiens (Homem de Neanderthal) caracterizou-se por: permanecer em assentamentos e não migrar quando chegaram as últimas eras de frio - glaciações - atrás das grandes manadas; habitar cavernas (essas habitações e algumas montanhas da África exibem pinturas e gravuras pré-históricas do final da Idade da Pedra, que é a arte rupestre, iniciada a 20.000 a.C. e que durou cerca de cinco mil anos nas quais os animais são a maior parte do tema); usar peles de animais para cobrir a pele; passar a viver em comunidades; enterrar seus mortos e realizar rituais envolvendo animais (começo da expressão religiosa). Esse comportamento demonstra a capacidade do pensamento abstrato e isso informa que o Homem de Neanderthal é humano (Homo sapiens sapiens). 1.1.4 O Homo sapiens sapiens pastor Os indivíduos dessas comunidades, envolvidos com outras atividades que não somente a caça, precisavam de um excedente pequeno de alimentos além das necessidades imediatas. Isso foi conseguido quando as pessoas aprenderam a amansar e explorar os animais e a plantar e ceifar colheitas (advento da agricultura). O cão foi, provavelmente, o primeiro animal domesticado pelo homem (13.000 a.C.). Como ovelhas e cabras (ou seus ancestrais) eram abundantes nessas regiões, as A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 3 ovelhas foram domesticadas (entre 10.000 a 9.000 a.C por pastores hebreus, no norte do atual Iraque) e as cabras, dois mil anos mais tarde (entre 8.000 a 7.000 a.C.). Os primeiros rebanhos bovinos começaram a se formar na Europa, norte da África e partes da Ásia. Os animais selvagens, recolhidos e mantidos em rebanhos, foram selecionados para servir de alimento e fornecer peles, lãs, chifres e ossos. Uma vez dominado o rebanho, o homem passou a ordenhar os animais, recolher ovos das aves domésticas e, mais tarde, surgiu o uso de animais para a montaria, a carga e a tração (o cavalo foi domesticado nas estepes euro-asiáticas e o burro, no nordeste da África) (Figura 1.1). As aves (galinha) foram domesticadas em 400 a.C. (no Egito), os patos e os coelhos, por volta de 450 a.C. (no Império Romano) e os peixes, pelos Sumérios (2.000 a 3.000 a.C.). FIGURA 1.1 Representação do uso de animais para a tração As quatro espécies e o conhecimento para sua criação expandiram-se até a Europa Ocidental, ultrapassando os Bálcãs e as costas mediterrâneas. O homem, por volta de 5.500 a 2.400 a.C., continuava caçando, mas eram os animais das quatro espécies domesticadas que forneciam 80% da carne consumida. Os porcos viviam em estado selvagem por quase todo o mundo, entretanto foram domesticados na China. Mais tarde, os gregos criavam suínos e apreciavam a carne de porco e a charcutaria e, numa mesma época, no Império Romano havia grandes criações de porcos que eram consumidos por nobres e pelo povo. Na Idade Média, o consumo dessa carne continuou significativo. Na América, os primeiros exemplares, trazidos em 1543 por Cristóvão Colombo, se expandiram pelo Peru, Colômbia e Venezuela. No Brasil, os porcos foram trazidos pelo navegador Martim Afonso de Souza. 1.1.5 O Homo sapiens agricultor Os mais antigos traços de plantas cultivadas datam de cerca de 10.000 a.C. e A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 4 foram encontrados no sudeste da Ásia (formas primitivas de painço e arroz), entretanto, a agricultura cresceu na região do Delta do Nilo, regiões da Palestina até as montanhas do Irã (Crescente Fértil). A maior disponibilidade de alimentos resultou em mais indivíduos alimentados e que sobreviviam e demonstravam uma ocupação contínua do mesmo local (havia menos necessidade de seguir a caça). Quando isso acontece, aparecem construções mais sólidas (Jericó, 9.000a.C.) cercada de muralhas, o que demonstra que aquele povoado possuía algo para proteger dos inimigos (seriam os rebanhos?). A convivência com a ferramenta fogo e a descoberta da possibilidade de fundir, moldar e misturar minerais levaram o homem à era do bronze (mistura do estanho com o cobre). Nessa fase surgiu a escrita e ocorreu o início das civilizações antigas. 1.2 O HOMEM NA HISTÓRIA ANTIGA Os autores da primeira forma de expressão por meio de sinais escritos (cuneiforme) foram os sumerianos, no sul da Mesopotâmia, (4.000 a.C.). Os cientistas acreditam que os primeiros sinais correspondiam a contagens matemáticas a fim de quantificar os rebanhos ou contar animais que eram destinados à coletividade, pois viviam num sistema arcaico de socialismo. 1.3 O HOMEM DESENVOLVE OS PRINCÍPIOS DE CONSERVAÇÃO Nos hábitos alimentares do povo egípcio, segundo relato de Heródoto (450 a.C.), eram utilizadas algumas técnicas rudimentares de conservação de alimentos. Os galináceos, conhecidos no final do período de domínio dessa civilização, eram consumidos grelhados (calor), as codornas e alguns pássaros eram consumidos crus previamente salgados (cura) e as aves aquáticas eram abertas e postas para secar (desidratação). Os habitantes da região de Delfos (Egito), nas margens do Lago Fayum, consumiam alguns peixes crus, secos ao sol (desidratação), colocados em salmoura (cura), assados (calor) ou preparados à escabeche. Ainda nessa civilização, o papel do açúcar era desempenhado pelo mel e grãos de alfarroba e, em suas iguarias, os egípcios empregavam a gordura de pato ou vitelo (Figura 1.2 e 1.3). Na história, os relatos do uso de carnes salgadas são inúmeros. Os primeiros foram realizados por Homero e aparecem nos textos Ilíadas e da Odisséia (725 a.C.) de forma casual. Esses produtos, guardados em barris nos porões de navios, representaram para os piratas das Índias Ocidentais (os Bucaneiros), uma forma de provisão e mercadorias de troca. Carnes tratadas e embaladas dessa mesma forma foram comercializadas entre o exército e fazendeiros americanos. Desses fazendeiros, o mais famoso foi Sam Whilson, cujas letras do nome (SW) eram impressas em barris de madeira, e mais tarde essas letras SW foram substituídas para US (Uncle Sam) que significa em inglês Tio Sam. A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 5 FIGURA 1.2 Representação da atividade da pesca realizada pelo povo egípcio FIGURA 1.3 Representação de abate bovino realizado pelo povo egípcio Na história, os relatos do uso de carnes salgadas são inúmeros. Os primeiros foram realizados por Homero e aparecem nos textos das Ilíadas e da Odisséia (725 a.C.) de forma casual. Esses produtos, guardados em barris nos porões de navios, representaram para os piratas das Índias Ocidentais (os Bucaneiros), uma forma de provisão e mercadorias de troca. Carnes tratadas e embaladas dessa mesma forma foram comercializadas entre o exército e fazendeiros americanos. Desses fazendeiros, o mais famoso foi Sam Whilson, cujas letras do nome (SW) eram impressas em barris de madeira, e mais tarde essas letras SW foram substituídas para US (Uncle Sam) que significa em inglês Tio Sam. Nos EUA, a carne vendida na forma salgada estimulou a implantação de estabelecimentos de abate e produção de charque. Um dos “conserveiros” mais conhecidos foi William Pynchon, fundador de Springfield, em Massachusetts, cuja produção foi capaz de impor-se ao comércio que, até então, era realizado entre Inglaterra e Índia Ocidental (1650). No Brasil, em função do desenvolvimento do rebanho bovino na região da bacia do Prata foram instaladas as charqueadas em Pelotas. Nessa região, A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 6 outro estabelecimento importante foi o Saladeiro (1887) que fabricava charque, couros salgados e línguas em conserva. Na América do Sul e principalmente na região sul do Brasil, o comércio de carnes salgadas foi de imensa importância na relação da colônia com a metrópole e com outros compradores como os ingleses e franceses. Isto também influenciou a história da região com as invasões em direção ao Rio do Prata para a captura do gado “cimarrão”. Os grandes abatedouros surgiram em 1812 e usavam gelo obtido dos rios congelados ou então o abate era realizado nos meses de inverno. O uso do frio industrial por expansão de gases teve início em 1800. Com isso surgiu a mecanização da desossa, plantas de refrigeração e sistemas de transporte em vagões refrigerados. No Brasil, as exportações de carne iniciaram em 1914 e a inspeção dos animais e carcaças era realizada por médicos ou veterinários estrangeiros. Nessa época foi criado o primeiro conjunto de normas para a indústria da carne. Uma nova onda de exportações aconteceu na década de 1940, período que coincide com a verificação da importância em ampliar as normas do Regulamento de Inspeção Industrial dos Produtos de Origem Animal, RIISPOA. 1.4 A EVOLUÇÃO DA INSPEÇÃO DE ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL NO BRASIL A inspeção sanitária dos produtos de origem animal foi mencionada oficialmente no Brasil em 1909 ,com a promulgação do Decreto 7.622/1909, que criava a Diretoria de Indústria Animal e indicava a prática de inspeção sanitária e tecnológica dos produtos de origem animal. Mais tarde, foi criado o Serviço de Veterinária (Decreto 8.331/1910) e a sua regulamentação ocorreu em 1911, dispondo de texto legal: “A inspeção sanitária de matadouros, entrepostos frigoríficos e estabelecimentos de laticínios” (PARDI et al., 2001). A participação do Brasil no mercado internacional como exportador (1914), resultado do aumento da demanda de carnes em conseqüência da Primeira Guerra Mundial, incentivou a instalação de grandes matadouros-frigoríficos anglo-americanos e a organização do “primeiro regulamento” composto por 23 artigos, denominado “Serviço de Inspeção de Fábricas de Produtos Animais” (Decreto 11.426/1915). Nesse período, a inspeção era realizada por veterinários estrangeiros e médicos da saúde humana (com domínio em microbiologia). Outras modificações na regulamentação oficial foram importantes, tais como: a) instituição das seções de carnes e de leites e derivados (Decreto 14.711/1921); b) criação, em 1928, das “Instruções para Reger a Inspeção Sanitária Federal de Frigoríficos, Fábricas e Entrepostos de Carnes e Derivados” e c) a criação do Serviço de Indústria Pastoril em 1933, subordinado ao Departamento Nacional de Produção Animal, constituído por quatro inspetorias regionais, seis laboratórios regionais e o Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA). A partir do Decreto 24.540/1934, a A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 7 regulamentação determinou a participação exclusiva do médico veterinário na execução da Inspeção Federal. A evolução mais significativa na história da inspeção ocorreu com os Decretos 29.651/1951 e 30.691/1952 que normatizavam a inspeção por meio do RIISPOA, contendo 952 artigos. Esse conjunto de normas inclui aspectos higiênico- sanitários e tecnológicos relativos a carnes, aves, ovos, leite, pescado, mel e cera de abelhas. Outros marcos importantes no processo evolutivo da inspeção foram: a) federalização da inspeção sanitária e industrial (lei 5.760/1971), lei que pretendeu suprir as deficiências constatadas nos serviços de inspeção nas alçadas estaduais e municipais; b) a criação do Laboratório Nacional de Referência Animal (LANARA), em 1978, que normatiza e padroniza os trabalhos de análise e controle dos produtos de origem animal em estreita conformidade com o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), antigo SIPOA. Em sua atuação, o DIPOA está relacionadocom o Ministério da Saúde, em especial à Divisão Nacional de Vigilância de Alimentos, no que se refere aos padrões microbiológicos e aos aditivos intencionais e incidentais; c) criação do Programa Nacional de Controle de Resíduos Biológicos, numa ação conjunta do DIPOA e LANARA, em que são atendidas as normas gerais de interesse à saúde pública, mantendo autonomia quanto às normativas e aos serviços restritos à alçada veterinária. As normativas do Codex Alimentarius são acompanhadas e adotadas quando é de interesse às circunstâncias brasileiras. Na década de 1990, estados e municípios passaram a assumir a inspeção industrial dos produtos de origem animal, pois a inspeção deixou de ser federalizada. Entretanto, quando o mercado desses produtos é interestadual ou internacional, a inspeção continua sendo responsabilidade da Inspeção Federal. A utilização do RIISPOA, até os dias atuais, é resultado do caráter amplo desse documento. Além disso, as Portarias têm ampliado as abrangências legais dos aspectos normativos relacionados aos produtos de origem animal. 1.5 CONCEITOS DE QUALIDADE, GLOBALIZAÇÃO E A BIOSSEGURANÇA No último século e nas duas últimas décadas, ocorreram mudanças de grandes proporções na economia global e no comércio internacional, resultado dos avanços nos meios de transporte e de comunicação, desencadeados pelas melhorias da qualidade de vida da sociedade mundial (OLIVEIRA, 2004). De acordo com o Banco Mundial, a economia global aumentou 28 vezes nos últimos 30 anos. Apenas entre 1995 e 1998, o valor total de importações passou de US$ 192 bilhões para US$ 5,4 trilhões. A importação de produtos primários agrícolas e industriais aumentou de US$ 55 bilhões, em 1965 para US$ 482 bilhões, em 1990. No Brasil, o agronegócio passou a ter uma posição estratégica na balança comercial brasileira. A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 8 Com o advento da globalização, alguns organismos até então inexistentes em algumas regiões do mundo passaram a ser introduzidos, causando grandes problemas socioeconômicos e ambientais (efeitos deletérios no ecossistema ou no setor sócio- econômico da região). Barreiras naturais e nacionais, entre elas as econômicas e as políticas, que antes eram capazes de deter parte desses organismos indesejados, hoje não são eficazes por receberem pressão da sociedade para manutenção ou melhoria da qualidade de vida por meio do consumo de produtos. Na década de 90, foi observado que apenas os fatores econômicos não eram capazes de proteger os mercados. A proteção deveria ser estendida à biodiversidade animal e vegetal, bem como ao homem, em relação a pragas, resíduos, toxinas e outros contaminantes que podem estar associados a plantas, animais e alimentos industrializados. A proteção de um país passou, portanto, a estar além de suas fronteiras e o termo “risco” passou a direcionar ações, normas e diretrizes do comércio internacional. A expressão “segurança biológica" foi, então, adotada pela FAO, a fim de conscientizar os diferentes segmentos da sociedade e significa “manejo de todos os riscos biológicos e ambientais associados à alimentação e agricultura, incluindo os setores de pesca e floresta”. Os riscos incluem: avaliação dos organismos vivos modificados (OGM) (biossegurança), espécies invasoras e introdução de pragas de vegetais e animais, erosão da biodiversidade com perda de recursos biológicos e genéticos, dispersão de doenças (como a encefalopatia espongiforme bovina e a febre aftosa) e armas biológicas de guerra. Esse conceito, além da elaboração de políticas públicas para a sanidade animal e vegetal e para os organismos geneticamente modificados (biossegurança), inclui o desenvolvimento de métodos científicos, considerações éticas, confiabilidade, rastreabilidade, vigilância para a proteção da sociedade. No Brasil, o órgão responsável pela harmonização e execução de medidas sanitárias e fitossanitárias durante as negociações do comércio internacional é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Este órgão, junto à sua Organização Nacional para Proteção Sanitária e Fitossanitária (ONPF), que é a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA)/Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal (DDIV), iniciou o processo de estabelecimento das bases técnico-científicas para a concretização das medidas fitossanitárias, de acordo com os órgãos de proteção de plantas intergovernamentais. Do mesmo modo, o setor privado (indústria, comércio, produtores, etc.) desempenhou um papel importante quanto ao fornecimento de informações tanto para a identificação como para a avaliação e redução do risco de pragas. Reconhecendo a aptidão do Brasil para a exportação de alimentos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério da Saúde promulgaram uma série de Regulamentos e Portarias que normatizam e viabilizam a implantação das ferramentas que permitem garantir a qualidade de produtos e do meio ambiente, bem como permitir ao A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 9 consumidor o monitoramento da produção e processamento de produtos. 1.6 A INDÚSTRIA DA CARNE E A RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE Um novo conceito que deve ser incorporado à indústria da carne, num curto espaço de tempo, é a tecnologia limpa. Normalmente, os processos tecnológicos e produtivos geram resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas. Esses compostos gerados representam desperdício de matéria-prima e energia, além de provocar impactos ambientais e exigir investimentos em técnicas de controle e tratamento da poluição (“técnicas de fim-de-tubo”) (Hurt, 1993, citado por AMARAL, 2003). Entretanto, quando a tecnologia é utilizada corretamente, a ação decorrente é uma influência positiva para a proteção ambiental (MANAHAM, 1977). E seu melhor uso está na prevenção da poluição em vez do controle da poluição do ar e da água e o desenvolvimento de processos mais eficientes de conservação na produção de bens. Essa forma de encarar e conceber o uso da tecnologia e dos recursos naturais é conhecida como “tecnologia limpa”, “tecnologia do baixo desperdício” e “prevenção da poluição” (KISPERSTOK et al, 2002). Na indústria da carne, a tecnologia de fim-de-tubo gera gastos que podem inviabilizar o processo produtivo. Os subprodutos, em sua maioria, poderiam ser utilizados de forma a representar matérias-primas para outros produtos. 1.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, A. M. Análise de uma ferramenta para a prevenção da poluição: produção limpa. Monografia do Curso Lato Sensu. Universidade Federal de Lavras, 2003. FLANDRIN, J. L.; Montanari, M. Editora Estação Liberdade 2002, 194 p. FRANCO, A. De caçador a Gourmet. Uma história da gastronomia. Editora SENAC. São Paulo. 2001. 270p. GEOCITIES. A Alimentação [online]. Disponível: http://www.geocities.com/Athens/Agora/ 5555/alimenta.htm [capturado em 26 abr. 1999]. KIPERSTOK, A., MARINHO, M. O desafio desse tal de desenvolvimento sustentável: o programa de desenvolvimento de tecnologias sustentáveis na Holanda. Bahia Análise & Dados, Slavado, v. 10, n. 04, p 221-228, mar. 2001. Disponível em: http://www.sei.ba.gov.br/publicacoes/bahia analise/analise dados/ pdf/popambient _221 .pdf . Acesso em: 14 fev. 2004. MANAHAN, S. E. Environmental Science and technology. Nova York. Lewis Publishers, 1997. 641p. A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 10 OLIVEIRA M. R. V. O comércio internacional de produtos agrícolas e a segurança biológica. Ruralnet. [on line] http://www.ruralnet.com.br/upload/artigos/REGINAcom%C3%A9rcio%20inter nacional.doc, capturado em 27/07/2004; 01. 812 p. ORNELLAS, L. H. A alimentação através dos tempos. Editorada UFSC. 2 ed. Florianópolis. 2000. 307p. PARDI, M. C.; SANTOS, I. F.; SOUZA, E. R.; PARDI, H. S. Ciência, higiene e tecnologia da carne. Goiania: Editora UFG, 2º edição. 2001. 623p. ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do mundo da pré história à idade Contemporânea. Ediouro, 20. A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 11 2 PRODUÇÃO DE CARNES 2.1 CARNE BOVINA 2.1.1 Produção mundial de carne bovina O rebanho mundial de bovinos é formado por 1 bilhão e 360 milhões de cabeças em 2002 (FAO, 2003). Entre os principais países produtores destacam-se a Índia, o Brasil, a China e os Estados Unidos, ocupando as posições de 1º, 2º, 3º e 4º maiores produtores, respectivamente (Tabela 2.1). A Índia possui o maior rebanho bovino do mundo, entretanto, por razões religiosas, que consideram o bovino um animal sagrado, o Brasil detém o maior rebanho comercial. TABELA 2.1 Rebanho efetivo de bovinos nos principais países criadores (milhões de cabeças) País 1998 1999 2000 2001 2002 Índia 212.121 214.887 218.800 219.642 219.642 Brasil 159.752 163.470 169.876 171.186 185.347 China 103.301 107.586 104.580 106.083 106.175 EUA 99.744 98.552 98.198 97.277 96.700 Argentina 54.600 55.000 46.674 50.167 50.369 Etiópia 35.372 35.095 35.480 34.500 34.500 Sudão 34.584 35.000 37.093 38.325 38.325 México 30.500 30.293 30.491 30.600 30.600 Austrália 26.710 26.710 27.588 28.768 28.768 Colômbia 25.764 25.614 25.206 26.252 27.000 França 20.371 20.214 20.527 20.338 20.281 Fonte: FAO (2003) e IBGE, (2004) A China, no período de 1998 a 2002 , teve um crescimento de 223%, que não foi alcançado por nenhum dos dez maiores produtores de carne, A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 12 como, por exemplo, os Estados Unidos, que obtiveram uma taxa de crescimento de 17%. O Brasil, por sua vez, apresentou um aumento de 33%, passando de 4.716 para 7.050 mil toneladas (FAO, 2003). Considerando o intervalo entre os anos 1998 a 2002, houve um aumento de 4,2% na produção mundial de carne bovina, como demonstram os dados da Tabela 2.2 (FAO, 2003). TABELA 2.2 Produção mundial de carne bovina (mil toneladas) Anos 1998 1999 2000 2001 2002 Produção 55.316 55.867 56.683 56.272 57.711 Fonte: FAO (2003) A produção de carne bovina, em 2003, na América do Norte, foi de 14.832 milhões de toneladas de equivalente carcaça contra 12.218 milhões de toneladas na América do Sul (USDA, 2004). Na América Latina, a maior produção de carne bovina em ordem decrescente ocorre no Brasil, seguido pela Argentina e Paraguai (Figura 2.1). FIGURA 2.1 Rebanho bovino do Mercosul em milhões de cabeças (2002) 2.1.2 PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA NO BRASIL O Brasil detém o segundo maior rebanho bovino do mundo, desde 1998 até 2003, com um número superior a 185 mil milhões de cabeças (Tabela 2.1), 176000 50369 11667 9900 Brasil Argentina Uruguai Paraguai A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 13 em que a principal atividade é a produção de carne, seguida pela produção de leite. Segundo Pineda (2001), o Brasil detém uma vantagem relativa em relação ao mercado mundial de carne bovina, devido ao menor custo de produção e ao grande potencial de crescimento em sistema extensivo com produtividade e qualidade crescente, levando em consideração que 90% do rebanho bovino brasileiro é proveniente de alimentação a pasto. As regiões do Brasil de maiores concentrações de bovinos são a Sudeste e Centro Oeste. Os estados com os maiores rebanhos bovinos são Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais (Tabela 2.3.). A evolução do rebanho em números totais é apresentada no Gráfico 2.2. FIGURA 2.2 Evolução do rebanho bovino brasileiro de 1990 a 2002 O maior rebanho bovino brasileiro está no estado do Mato Grosso do Sul (23,1 milhões de cabeças), seguido por Mato Grosso (22,1 milhões), centralizando com isto o rebanho bovino na região Centro Oeste, responsável por 35,37% da produção nacional. Essa supremacia da região Centro-Oeste é resultado da evolução das técnicas de cruzamento industrial, grandes áreas destinadas à criação, inovação tecnológica, investimentos governamentais, tecnificação da atividade e o manejo das pastagens. TABELA 2.3 Rebanho bovino efetivo por região e unidades da Federação REGIÃO EFETIVO % em relação ao rebanho nacional Rebanho bovino brasileiro (milhões de cabeças) 145 150 155 160 165 170 175 180 185 190 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 AnoM ilh õ es d e ca b eç as Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal (www.ibge.gov.br). A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 14 NORTE 30.428.813 16,42 Rondônia 8.039.890 4,34 Acre 1.817.467 0,98 Amazonas 894.856 0,48 Roraima 423.000 0,23 Pará 12.190.597 6,58 Amapá 83.901 0,05 Tocantins 6.979.102 3,76 NORDESTE 23.890.540 12,89 Maranhão 4.776.278 2,58 Piauí 1.804.477 0,97 Ceará 2.230.159 1,20 Rio Grande do Norte 839.402 0,45 Paraíba 951.698 0,51 Pernambuco 1.752.722 0,94 Alagoas 816.067 0,44 Sergipe 863.447 0,47 Bahia 9.856.290 5,32 SUDESTE 37.923.575 20,46 Minas Gerais 20.558.937 11,09 Espírito Santo 1.682.827 0,91 Rio de Janeiro 1.981.026 1,07 São Paulo 13.700.785 7,39 SUL 27.537.047 14,86 Paraná 10.048.172 5,42 Santa Catarina 3.117.737 1,68 Rio Grande do Sul 14.371.138 7,75 CENTRO OESTE 65.567.223 35,37 Mato Grosso do Sul 23.168.235 12,50 Mato Grosso 22.183.695 11,98 Goiás 20.101.893 10,85 Distrito Federal 113.400 0,06 Adaptado de: IBGE, (2004) 2.1.3 Consumo de carne bovina A evolução no consumo de carnes no mundo apresenta uma tendência crescente, devido ao aumento de renda da população e do nível de urbanização dos países (El Mercado..., 2003). No Brasil, a evolução do consumo de carne bovina ocorreu em função do aquecimento econômico provocado pelos planos governamentais. A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 15 O Brasil, juntamente com a Argentina e os Estados Unidos, é considerado um dos maiores consumidores mundiais de carne bovina (Tabela 2.4). O consumo brasileiro per capita é de 36,2 kg/habitante/ano (RODRIGUES JR., 2004). TABELA 2.4 Consumo per capita de carne bovina no Brasil e no Mundo PAÍS CONSUMO per capita kg/habitante/ano (2000) CONSUMO per capita kg/habitante/ano (2003) Argentina 67,80 61,80 Estados Unidos 43,90 41,90 Brasil 35,80 36,20 Austrália 34,40 37,50 Itália 27,60 26,10 França 27,40 25,60 Reino Unido 17,00 16,00 Rússia 15,80 16,60 Alemanha 15,50 14,70 Japão 12,10 11,00 China 4,20 4,40 Taiwan 4,00 4,60 Índia 1,30 1,40 Adaptado de: USDA (2004). 2. 1.4 Exportações e importações de carne bovina. As exportações da carne sofrem alterações em decorrência de acontecimentos políticos ou monetários. As últimas mudanças cambiais adotadas no Brasil (1999) causaram uma redução nas importações e estímulo nas exportações. Com a finalidade de viabilizar as exportações e produzir carnes com biossegurança garantida, alianças mercadológicas foram estabelecidas entre os diversos setores da cadeia produtiva: produtores, frigoríficos e cadeias de supermercados (LEOPOLDINO et al., 2003). Todas as fases da produção, desde o nascimento do animal até o abate, embalagem e expedição, são controladas e auditadas, permitindo estabelecer um sistema de rastreabilidade com perfeita identificação do lote de animais que deu origem à peça em questão. Além disso, a carne produzida no Brasill (cerca de 90%) é oriunda de animais criados em sistemas dealimentação de pastejo. Esse aspecto reduz o risco de transmissão da encefalopatia espongiforme bovina (EEB). As exportações de carne bovina brasileira passaram de 450, em 1990 para 3.439 mil toneladas, em 2003, como mostrado na Tabela 2.5. Esse fato é A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 16 resultado de um conjunto de fatores, tais como desvalorização cambial problemas sanitários ocorridos na Europa e na Argentina (EEB e febre aftosa), diminuindo as exportações daqueles países e abrindo novos mercados para a carne brasileira. Atualmente o principal mercado brasileiro é a União Européia. Os mercados norte-americano e asiático, no que se refere à importação de carne “in natura”, impõem ao Brasil a necessidade de erradicar a febre aftosa e adotar um sistema eficiente de rastreabilidade (PINEDA, 2001). TABELA 2.5 Exportações de carnes no Brasil (em mil toneladas) ANO QUANTIDADE 1990 450 2000 1.460 2001 2.164 2002 2.842 2003 3.439 Fonte: Secex (2003). Cerca de 80% do rebanho brasileiro encontra-se em áreas reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livres de aftosa com vacinação. Nessa condição estão incluídos os estados de: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Goiás, Tocantins, Espírito Santo e Acre. Para manter esse “status”, os estados devem cumprir todas as ações previstas no Programa Nacional de Erradicação de Febre Aftosa criado pelo governo federal, com vacinação sistemática do rebanho, instalação de barreiras sanitárias e fiscalização do trânsito de animais (BLECHER, 2003). Com esse reconhecimento dado pela OIE, o Brasil passou a dispor de um rebanho bovino de 152 milhões de cabeças (cerca de 80%), em área livre de febre aftosa. A carne produzida nessa região pode disputar os mercados do chamado circuito não aftósico, representado pelos países com maiores importações mundiais de carne bovina, como NAFTA, União Européia (UE) e Japão, que não compram carnes de áreas infectadas pela doença e que pagam até 40% a mais aos mercados livres de febre aftosa (Mustefaga e Netto, 2000). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para atender às exigências dos mercados externos, instituiu, em 9 de janeiro de 2002, o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV). Esse sistema permite o monitoramento dos animais após o nascimento, durante o processamento e a distribuição dos produtos ao mercado consumidor, sendo constituído por uma série de ações, medidas e procedimentos adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produtividade da pecuária brasileira e a segurança dos produtos provenientes A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 17 dessa atividade. O cronograma para a implantação de dispositivos que permitam identificar e monitorar os animais têm os seguintes prazos: a) todos os pecuaristas pertencentes aos estados livres de febre aftosa ou em processo de declaração devem estar integrados ao SISBOV em dezembro de 2005 e b) os demais produtores deverão estar integrados ao SISBOV até 2007. Os animais registrados no SISBOV terão sua identificação controlada pelas entidades certificadoras credenciadas, devendo, no documento de identificação, constar: identificação da propriedade de origem; identificação individual do animal; mês do nascimento ou data de ingresso na propriedade; sexo do animal e aptidão; sistema de criação e alimentação; registro das movimentações; comprovação de informação adicional para a certificação; dados sanitários (vacinações, tratamentos e programas sanitários); no caso de animais importados, deverão ser identificados o país e a propriedade de origem, datas da autorização de importação e de entrada no país, números de guia e de licença de importação e propriedade de destino. O acesso da carne brasileira a novos mercados tem permitido oportunidades para o crescimento e para modernização da pecuária, com claras conseqüências favoráveis ao mercado interno. Entretanto, as vantagens competitivas devem ser consolidadas com estratégias de marketing que possibilitem efetivar o Brasil como um importante exportador de carne bovina do mundo. 2.2 CARNE DE FRANGO 2.2.1 Produção e exportação de carne de frango A produção mundial total de carne de aves está estimada em cerca de 53 milhões de toneladas (USDA, 2004). A produção brasileira é de 7 milhões e 800 mil toneladas, correspondendo ao terceiro maior volume de produção, enquanto os EUA ocupam a primeira posição, com uma produção estimada em 14 milhões e 900 mil toneladas (Tabela 2.6). Os principais países exportadores de carne de frango são os EUA, Brasil, França, Hong Kong e China e os maiores importadores são Rússia, Japão, Arábia Saudita, China e Hong Kong (ABEF, 2003). Em relação ao comércio internacional, o Brasil ingressou na exportação de carne de frango em 1975 com 2000 toneladas e, em 2003, esse montante atingiu 1 milhão e 900 mil toneladas (Tabela 2.7). Na década de 1980, o Brasil foi responsável por 20% das exportações de carne de frango e, na década de 1990, houve uma redução para 12,5%. No entanto, em 2003, as exportações representaram 28% do comércio mundial do produto. Esse aumento nas exportações é atribuído a vários fatores: esforço governamental, por meio da A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 18 CAMEX-APEX, cuja política é melhorar a imagem do produto nacional e ganhar novos mercados; boa sanidade do plantel brasileiro e à redução no consumo de carne vermelha. TABELA 2.6 Produção mundial de carne de aves (milhões de toneladas) País 2001 2002 2003 2004(*) EUA 14,033 14,467 14,610 14,920 China 9,278 9,558 9,844 10,129 Brasil 6,567 7,449 7,560 7,825 União Européia 6,822 5,950 5,700 5,900 México 2,067 2,157 2,297 2,412 Índia 1,250 1,400 1,600 1,800 Tailândia 1,230 1,205 1,290 1,360 Japão 1,074 1,107 1,120 1,110 Canadá 0,927 0,932 0,915 0,930 Malásia 0,813 0,784 0,810 0,833 África do Sul 0,730 0,760 0,790 0,805 Outros 6,904 7,056 6,297 6,630 Total 51,595 52,825 52,833 54,654 (*)Estimativa de produção Fonte: USDA (2004). A produção brasileira de carne de frango apresenta os melhores índices zootécnicos do mundo em comparação aos demais países grandes produtores e, mesmo não sendo subsidiada, como acontece nos EUA e França, a avicultura nacional apresenta grande competitividade em decorrência do baixo custo de produção. A forma de comercialização da carne de frango tem mudado consideravelmente (Tabela 2.8). No início da década de 1990, a maior quantidade exportada foi na forma de frango inteiro (70,7%) enquanto em 2002 o percentual de frangos na forma de cortes foi maior (70%), mostrando a mudança no perfil do consumidor e a busca por produtos de conveniência. A avicultura de corte brasileira procura, cada vez, mais,ganhar o mercado internacional e as expectativas quanto ao aumento da produção e da exportação da carne de frango são favoráveis. Entretanto, a sustentabilidade da cadeia produtiva requer adequação aos padrões de qualidade e sanidade exigidos pelo mercado. Como a competição pelo mercado internacional é árdua, muitos países optam por praticar políticas protecionistas que impõem barreiras à importação. Por outro lado, o Brasil precisa adotar medidas efetivas para desonerar o produto nacional, por meio da adoção de uma legislação A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 19 tributária mais simples e justa, que permita o crescimento da economia brasileira (MENDES, 2004). TABELA 2.7Exportação mundial de carnes de frangos (mil toneladas) Ano 1999 2000 2001 2002 2003 EUA 2.080 2.231 2.520 2.180 2237 Brasil 771 907 1249 1600 1922 UE 776 774 724 843 730 China 375 464 489 438 388 Tailândia 285 333 424 465 528 Fonte: ABEF (2004). TABELA 2.8 Categorias de produtos de frango exportados (em percentuais) Anos Frangos inteiros Cortes de frangos 1990 70,7 29,3 1996 53,4 46,6 2002 30,0 70,0 Outros aspectos importantes envolvidos no comércio internacional de carne de frango são a saúde pública e a detecção de resíduos biológicos em produtos avícolas. A fim de atender às expectativas de mercado em relação à segurança, o Ministério da Agricultura (BRASIL, 2004) proibiu a fabricação, manipulação, fracionamento, comercialização, aimportação e uso dos princípios ativos cloranfenicol e nitrofuranos. 2.2.3 Consumo mundial e nacional de carne de frango O maior consumo (per capita) de carne de frango é observado nos Emirados Árabes (53,5kg/hab/ano), seguido do Kwait (44,8kg/hab/ano) e EUA (43,1kg/hab/ano) (ABEF, 2004). No Brasil, o consumo tem aumentado nos últimos anos (Tabela 2.9), em função da grande oferta e do preço acessível. Um outro aspecto favorável à carne de frango é a sua associação com a imagem de produtos saudáveis, por ser carne branca. TABELA 2.9 Consumo per capita de carne de frango Ano Kg/hab/ano A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 20 1998 26,31 1999 29,14 2000 29,91 2001 31,82 2002 33,81 2003 33,34 Fonte: ABEF (2004). 2.3 PRODUÇÃO DE CARNE SUÍNA A produção de carne suína, segundo dados da USDA (2004), é de aproximadamente 86 milhões de toneladas. Os países produtores de carne suína são: China, União Européia, Estados Unidos, Brasil e Canadá. A China é responsável por cerca de 51% da produção mundial, com 44,1 milhões de toneladas, seguida pela União Européia com 20% e Estados Unidos com 10%. O Brasil apresenta uma produção de 2,8 milhões de toneladas, representando 3% do mercado mundial. Os principais países exportadores são: União Européia, representando 33% do mercado mundial, Canadá; Estados Unidos que, juntos, representam 38% e o Brasil, que aparece na quarta posição, com 11%. O Brasil exporta cerca de 550 mil toneladas de carne suína, cifra esta que praticamente triplicou em 3 anos, passando de 5,08% em 2000 para 19,64% em 2003 (USDA, 2004/ABIPECS, 2003). O rebanho suinícola brasileiro, segundo o ANUALPEC (2004), é de 32,8 milhões de cabeças. O maior rebanho é encontrado na região Sul com 16,8 milhões de cabeças, seguida da região Nordeste, com efetivo de 5,09 milhões de cabeças e da região Sudeste, com 5 milhões de cabeças. Os maiores rebanhos encontram-se nos estados do Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Na Figura 2.3 é mostrada a evolução do rebanho suínicola por região. Na última década, o Brasil apresentou um crescimento de 116% na produção de carne suína, passando de 1,330, em 1994, para 2,872 milhões de toneladas, em 2002, enquanto a carne bovina apresentou um crescimento de 41% e a carne de frangos com um crescimento de 120%, (Figura 2.4). A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 21 FIGURA 2.3 Evolução do rebanho suinícola por região do Brasil FIGURA 2.4 Produção brasileira de carnes (mil toneladas) Fonte: BRASIL (2004), ABEF (2004), ABIPECS (2004). Considerando o território nacional, segundo dados da ABIPECS (2004), a produção de 2,8 milhões de toneladas de carne suína apresenta uma distribuição desuniforme em nosso território. A região Sul destaca-se pela 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 18.000.000 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 NORTE NORDESTE SUDESTE SUL C.OESTE 1330 1560 1699 2556 2730 2872 5200 6045 6040 6652 6930 7517 3411 4052 4875 5977 6736 7322 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 1994 1996 1998 2000 2001 2002 Suinos Bovinos Frangos A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 22 maior produção de carne, com 1,6 milhão de toneladas, representando 57,3% do total, seguida pela região Sudeste com 19,6%, Centro-Oeste com 13,4%, Nordeste com 8% e Norte com 1,6%, conforme Tabela 2.10. TABELA 2.10 Produção de carne suína por região, no ano de 2002 Regiões Produção Milhões de cabeças Produção Mil toneladas Participação % Sul 20,65 1.647 57,3 Sudeste 7,73 562 19,6 Centro-Oeste 5,21 386 13,4 Nordeste 3,35 231 8,0 Norte 0,72 47 1,6 Brasil 37,66 2.872 100 FONTE: ABIPECS, (2004) / ABCS, (2004). A carne suína produzida no Brasil destina-se à exportação (17%) e ao mercado interno (83%). Os países importadores de carne suína são Japão e Rússia, (79%) e os demais países são: Hong Kong (10%), Argentina (3%), Cingapura (2%) e Uruguai (1%). Essa carne é exportada predominantemente na forma de cortes, representando 64%, enquanto 36% são na forma de carcaça. A carne suína ocupa a terceira posição no total de carne exportada, representando um total de 12,5% das nossas exportações de carne (Tabela 2.11). TABELA 2.11 Exportações brasileiras de carne em 2001 Espécie Peso (Toneladas) % Frango Bovino Suíno Peru 1.265.887 525.832 265.165 67.953 59,6 24,7 12,5 3,2 Total 2.124.837 Toneladas 100,00 Fonte: ABCS (2004) O Brasil apresenta um consumo médio de 2,2 milhões de toneladas, ocupando a 11ª posição no ranking dos consumidores de carne suína. O Brasil apresenta um consumo médio de 13,8 kg/hab/ano, enquanto a média de consumo mundial é de 14,7 kg/hab/ano. A região Sul apresenta a maior taxa de consumo 20 kg/hab/ano, seguida das regiões Sudeste (15,5 kg/hab/ano), Centro-Oeste (12,5 kg/hab/ano), Nordeste (5,5 kg/hab/ano) e Norte (4,0 kg/hab/ano). Em alguns países da União Européia, esse consumo chega a 70 kg/hab/ano. A carne suína comercializada no mercado interno é na forma de: A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 23 produtos industrializados (com um total de 1,14 milhão de toneladas, 65% do mercado); carnes congeladas (representam 18%) e produtos salgados e gorduras (cerca de 8%). Os índices de produção, algumas medidas como uso de rações balanceadas; cruzamento industrial, aperfeiçoamento de raças e melhores condições sanitárias, têm levado o Brasil à obtenção de melhores índices zootécnicos (Tabela 2.12) e reconhecida carne de qualidade. Isso pode ser verificado pelo aumento significativo no consumo de carne suína (passando de 7,26 kg/hab/ano, em 1990 para 13,7kg/hab/ano, em 2002). TABELA 2.12 Valores referentes aos índices zootécnicos brasileiros Índices Zootécnicos Partos por matriz/ano 2,7 Leitões nascidos vivos/ano/parto 14 Suínos terminados/porca/ano 35 Cevados terminados/mês 805 Mortalidade 6% Peso de Abate (kg) 90 Idade de Abate (dias) 120 Conversão Alimentar 2,79 No desempenho zootécnico (ganho de peso e conversão alimentar) e características de carcaça (rendimento, comprimento de carcaça, espessura de toucinho e área de olho de lombo) diversos fatores estão relacionados: raça, sexo, idade, alimentação, ambiente e o uso de agentes promotores de crescimento ou repartidores de nutrientes. Entre esses agentes destacam-se a somatotropina, os agonistas beta-adrenérgicos (ractopamina), o cromo e a betaína, que promovem uma maior deposição de proteína muscular e menor deposição de gordura. Uma alternativa para aumentar o rendimento na suinocultura é a utilização de suínos machos inteiros. Esses animais apresentam superioridade em relação a machos castrados, por produzirem carcaças com melhor acabamento muscular e menor quantidade degordura. Na produção, podem ser citadas outras vantagens do uso de machos inteiros: a) redução de custos envolvidos com a castração: mão-de-obra, redução no desempenho pós- castração e perdas de animais; b) menor consumo de alimentos (melhor conversão alimentar); c) maior resistência a doenças que prejudicam o desempenho e d) melhor eficiência na retenção de nitrogênio o que, conseqüentemente, causa uma redução de nitrogênio no esterco e menor impacto ambiental. O Brasil apresenta grandes perspectivas para a produção de suínos, pois dispõe de clima favorável, área para cultivo de grãos, qualidade e custos A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 24 competitivos de insumos para alimentação, sistemas de produção atualizados e tecnificados, institutos de pesquisa avançados e animais de grande valor genético. Os maiores desafios são em relação à abertura de novos mercados, redução de carga tributária, programas de controle sanitário eficientes, além da redução de barreiras sanitárias que impedem aumentos na exportação. 2.4 PRODUÇÃO DE CARNE OVINA O rebanho ovino mundial é de aproximadamente 1 bilhão de cabeças. A China apresenta um rebanho com 137 milhões de cabeças, seguida da Austrália (com 113 milhões) e Índia (com 58,8 milhões). O Brasil ocupa o décimo quarto lugar em número de cabeças, com um rebanho efetivo de 15 milhões de cabeças. Os rebanhos efetivos dos principais países produtores são apresentados na Tabela 2.13. Analisando-se os dados dos últimos 30 anos é possível perceber que o rebanho mundial aumentou em 20% e houve uma redução de 11,47%, quando considerados os anos de 1995 a 2002. TABELA 2.13 Número de ovinos nos principais países criadores (em milhões de cabeças) País Ano 1975 1980 1985 1988 2002* 1. China 96 107 94 111 137 2. Austrália 149 134 150 166 113 3. Índia 40 40 37 39 58 4. Irã 35 34 34 35 54 5. Sudão - - - - 47 6. Nova Zelândia 56 70 67 66 43 7. Reino Unido 28 32 37 43 35 8. África do Sul 30 29 23 25 23 9. Turquia 41 49 49 49 27 10. Paquistão 19 22 26 28 24 11. Espanha 16 15 18 24 24 12. Nigéria - - - - 22 13. Marrocos 12 15 15 16 16 14. Brasil 25 19 19 20 15 TOTAL 967 1.090 1.108 1.168 1.034 Fonte: *FAOSTAT AGRICULTURA 2003. A produção mundial de carne ovina, segundo dados da FAO (2003), é de 11 milhões de toneladas, com 1,6 milhão de animais abatidos. Dessa produção, a China é responsável por 3 milhões de toneladas, seguida da Índia, A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 25 com 690 mil toneladas e Austrália, com 650 mil toneladas. O Brasil possui uma produção de 116 mil toneladas (Tabela 2.14). TABELA 2.14 Produção anual de países produtores de carne ovina e caprina (milhões de toneladas) País Ano 2000 2001 2002 China 2 2,9 3 Índia 0,69 0,69 0,69 Austrália 0,69 0,7 0,65 Argentina 0,59 0,6 0,6 Nova Zelândia 0,53 0,56 0,54 Paquistão 0,54 0,53 0,53 Uruguai 0,51 0,51 0,51 Romênia 0,53 0,52 0,47 Irã 0,43 0,43 0,45 Peru 0,37 0,38 0,38 Turquia 0,37 0,35 0,33 Grã-bretanha 0,36 0,26 0,3 Espanha 0,25 0,25 0,24 Mongólia 0,12 0,10 0,16 Marrocos 0,15 0,14 0,15 África do Sul 0,15 0,13 0,14 França 0,14 0,14 0,14 Brasil 0,11 0,10 0,11 USA 0,10 0,10 0,10 Fonte: FAO (2003). Os principais países exportadores de carne ovina são Nova Zelândia e Austrália, representando cerca de 80% das exportações em 1996. A Nova Zelândia exporta 90% da sua produção, enquanto a Austrália exporta 20%. Os principais compradores de carne ovina são países da União Européia, Sudoeste da Ásia e Norte da África. O mercado consumidor brasileiro não apresenta tradição no consumo de carne ovina, com exceção das regiões Nordeste e Sul, onde o hábito do consumo pode apresentar índices de até 32kg/hab/ano, enquanto, a média nacional é de 0,7kg/hab/ano. Essa média é considerada muito baixa quando comparada com outros países, como Austrália, Nova Zelândia e países europeus, (20 a 28kg/hab/ano). No entanto, o Brasil na última década, triplicou a importação de carne ovina resfriada ou congelada, com osso ou desossada, passando de 2.075 toneladas, em 1992 para cerca de 8.216 toneladas, no ano A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 26 de 2000. O rebanho nacional de ovinos encontra-se mais concentrado nas regiões Sul e Nordeste do país (Tabela 2.15). TABELA 2.15 Efetivo brasileiro nas diferentes regiões do país (milhares de cabeças) Região Ano 1975 1985 *1995 *2002 Norte 130 170 370 378 Nordeste 5.348 6.572 6.987 8.012 Centro-Oeste 249 298 468 753 Sul 12.892 11.278 10.133 4.687 Sudeste 256 341 378 457 TOTAL 18.877 18.659 18.336 14.287 Fonte: IBGE 2004 A redução do rebanho no Sul do Brasil chegou a 58%. Entretanto, na região Nordeste e Centro-oeste, os rebanhos cresceram em 14% e 61%, respectivamente. Esse decréscimo no número de animais do rebanho (região Sul) é resultado do enfraquecimento da indústria têxtil que utiliza como matéria- prima a lã (99% da lã produzida no Brasil são provenientes do estado do Rio Grande do Sul). Graças à expansão das raças ovinas de corte, o Brasil é hoje um país que apresenta uma estrutura capaz de produzir e comercializar carne ovina de qualidade. Atualmente, essa produção vem sendo feita com base no abate de animais jovens. Na região sul, os animais são oriundos do cruzamento de matrizes de raça de lã com reprodutores de raças européias especializadas para a produção de carne e nas regiões norte e nordeste, os cordeiros são oriundos de raças de dupla aptidão ou para a produção de carne. 2.5 PRODUÇÃO DE PESCADO Aqüicultura é o cultivo de organismos aquáticos, incluindo peixes, moluscos, crustáceos e plantas. O cultivo implica em algum tipo de intervenção no processo de criação com objetivo de aumentar a produção, tais como fornecimento de alimentos, proteção de predadores, etc. Na aquicultura existem distintas modalidades, tais como, a) piscicultura (cultivo de peixes), b) ostreicultura (cultivo de ostras), mitilicultura (cultura de mexilhões), d) carcinicultura (cultivo de camarão), e) ranicultura (cultivo de rãs), f) malacocultura (cultura de moluscos) e g) alginocultura (cultivo de algas). A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 27 Esses produtos integram o universo dos produtos pesqueiros e são denominados genericamente de pescados, independente de espécies (exóticas ou nativas). Entretanto, a piscicultura é uma especialização que compreende um conjunto de normas e recursos tecnológicos destinados à criação e multiplicação econômica de peixes. A piscicultura, em função da variedade das espécies cultivadas, é dividida conforme o cultivo por espécie, como segue: a) ciprinicultura (cultivo de carpa), b) tilapicultura (cultivo de tilápias), c) truticultura (cultivo de trutas) e d) salmonicultura (cultivo de salmão). A piscicultura comercial iniciou no Japão há cerca de 150 anos. No Brasil e na Argentina, a atividade começou no início do século XX, com trabalhos de reprodução artificial; no entanto, o desenvolvimento atual é resultado das pesquisas associadas à nutrição de peixes, a partir dos anos 1950. A cultura racional dos peixes tem por objetivos não só a reprodução e o desenvolvimento, mas também a melhoria qualitativa do produto. A produção mundial de pescado é dominada pelos países asiáticos, nos quais os sistemas de aqüicultura são semi-intensivos e extensivos, com produção de peixes de escama e carpas. A maior produção pesqueira extrativa mundial ocorre na China, cuja produção corresponde a 25% do total mundial (17 milhões de toneladas), seguida do Peru com 7,9 milhões de toneladas, Japãocom 4,7 milhões de toneladas, EUA com 4,9 milhões de toneladas e Chile com 3,7 milhões de toneladas. O Brasil ocupa o 25º lugar, com 770 mil toneladas (FAO, 2002; brasil, 2004). Em relação à aqüicultura, os maiores produtores mundiais estão apresentados na Tabela 2.16. No Brasil, ela é responsável por cerca de 20,9% da produção total de pescado nacional, com 176.530 toneladas (FAO, 2002) e este setor tende a se tornar o mais produtivo na área de pescado do país. O Brasil exporta pescado fino (lagosta, camarões, atuns, pargo, etc.) para países desenvolvidos e importa pescados com preços mais baixos, como merluza, pescadinha e bacalhau (NEIVA, 2004). TABELA 2.16 Produção da aqüicultura: principais países produtores País Produção (mil toneladas) China 32.444 Índia 2.095 Japão 1.292 Filipinas 1.044 Indonésia 994 Fonte: FAO (2002) A comercialização dos peixes cultivados, exceto nos pesqueiros, realiza- se na forma in natura, resfriados ou congelados; inteiros, em postas ou fileteados; salgados ou defumados. Entretanto, algumas empresas brasileiras A Carne e os Produtos Cárneos ao Longo da História 28 de carnes produzem, no mercado nacional, produtos como nuggets, hambúrguer, filé empanado e barrinhas de peixe. 2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEF - Associação Brasileira dos Exportadores de Frango. Exportação mundial de carnes de frangos principais países. www.abef.com.br. Consultado em 22 de julho de 2004. 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Consultado em 26 de Abril de 2004. 3 A COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CARNE 3.1 OS DIFERENTES TECIDOS QUE COMPÕEM A CARCAÇA Os componentes químicos da carcaça e da carne são: água, proteína, gorduras e cinzas. Esses componentes aparecem na carcaça na forma de tecidos (muscular, conjuntivo e ósseo) cuja relação deve beneficiar a produção primária (animais terminados no início da maturidade resultam em maior aproveitamento da fase de crescimento), a indústria e o consumidor (bovinos abatidos com, no mínimo, 3mm de gordura de cobertura reduzem a perda de peso da carcaça durante o resfriamento e a incidência de encurtamento pelo frio, “cold shortening”, melhorando a maciez). Além disso, o conhecimento da composição da carne (cortes ou produtos transformados), em termos tecnológicos, determina a escolha dos processos de transformação e conservação, bem como adotar medidas de proteção (tipo de embalagem) que podem aumentar a vida de prateleira do produto. 3.2 COMPOSIÇÃO DA CARCAÇA A relação dos diferentes tecidos na carcaça está associada com a fase de maturidade em que o animal é abatido. O crescimento do animal corresponde a uma progressão gradual de um estado inferior a outro de maior complexidade (FORREST et al., 1979) e quando o corpo animal atinge o máximo de complexidade, os tecidos são considerados “maduros” ou terminados. Os diferentes tecidos que compõem uma carcaça crescem em momentos distintos. As fases de crescimento e desenvolvimento pós-natal no animal, quando consideradas as unidades de crescimento e as unidades de tempo (num espaço Euclidiano), formam uma curva de crescimento sigmóide semelhante nas várias espécies, que pode ser dividida em 6 fases: Fase I e II de divisão celular e aceleração do crescimento (na fase II, o ganho de peso é resultado do aumento do tamanho dos órgãos, pele, esqueleto e alguns músculos, e os animais apresentam menos de 10% do peso corporal em gordura); Fase III, a taxa de crescimento dos músculos começa a diminuir e a deposição de gordura começa a ser acelerada; Fase IV, período em que os órgãos atingem seu tamanho adulto, o crescimento ósseo é completo e a taxa de crescimento A Composição Química da Carne 2 muscular continua aumentada (80% a 90% dos músculos estão depositados; nessa fase, os animais devem ser abatidos); Fase V, os animais podem aumentar em peso, mas o ganho é de 90% a 95% em gordura e de 5% a 10% em músculo e a Fase VI é desenvolvida em animais de reprodução (pode haver perda de tecido ósseo e muscular). O crescimento global em peso de um organismo resulta do crescimento específico de seus vários componentes, os quais não se desenvolvem numa mesma velocidade (OUHAYOUN et al., 1986). Com relação ao desenvolvimento corporal, SANTOS (2002), trabalhando com ovinos das raças Santa Inês e Bergamácia, observou que: a) pescoço, braço anterior, lombo, braço posterior, fígado, pâncreas, rúmen/retículo, abomaso, omaso, intestino delgado e grosso e cavidade torácica são considerados de desenvolvimento precoce (heterogônico negativo); b) paleta, costeleta, perna, baço e cavidade abdominal são consideradas de crescimento isogônico (possuem o mesmo ímpeto de desenvolvimento que o corpo vazio) e c) a costela/fralda, rúmen/retículo, omasoe depósitos de gordura são considerados de crescimento lento (heterogônico positivo). Os autores atribuem ao estágio de maturidade fisiológica um papel importante na composição química corporal em que ocorre aumento na proporção de gordura e, concomitantemente, decréscimo nas proporções de água, proteínas e minerais (Tabela 3.1). TABELA 3.1 Evolução dos componentes químicos em carcaças de cordeiros Peso Peso vivo Carcaça kg) Base na MS % % MS Gordura Cinzas Proteína Kcal/g 3,5 --- 22,6 8,1 13,9 71,7* 4,76 (1,8) (3,1) (16,3)** 22,5 9,1 40,7 52,5 10,2 37,1 6,59 (21,8) (4,2) (15,4) 38,4 16,1 44,6 59,2 9,0 31,2 6,89 (27,0) (4,0) (14,2) *Valores na matéria seca **Valores na matéria natural Fonte: Lawes & Gilbert (1967), citados por POVEDA (1984). A composição corporal (carcaça) muda ao longo da vida do animal devido à mobilização de proteínas e gordura, que podem ser afetadas por fatores endógenos (raça, sexo, idade, peso, estado fisiológico) e exógenos (jejum, nível de ingestão, ingredientes da ração, fibra dietética e relação de proteína/energia). As percentagens dos diferentes constituintes da carcaça podem mudar com o grau de acabamento (Tabela 3.2). Considerando o peso ao abate, PEREZ et al. (2002), trabalhando com ovinos Santa Inês e Bergamácia abatidos com 15, 20, 25 e 35 kg, demonstraram que: as raças A Composição Química da Carne 3 com diferentes aptidões apresentam diferenças significativas para umidade, lipídios totais e cinzas (Tabela 3.3); à medida que o animal vai crescendo (maturidade fisiológica) a umidade vai sendo reduzida (76,0 a 72,9 g/100g para cordeiros de 15 e 45 kg, respectivamente) e a concentração de lipídeos totais aumenta, passando de 7,0 para 13,3 g/100g. TABELA 3.2 Composição (%) da carcaça segundo o grau de acabamento Componentes Magro Médio Gordo Gordo Muito Gordo Água 57,3 50,2 43,5 32,2 Gordura 18,7 23,5 35,6 45,8 Proteínas 14,3 14,0 12,2 10,9 Minerais 3,2 3,2 2,8 2,9 Fonte: Lawes & Gilbert (1967) citados por Poveda (1984). TABELA 3.3 Composição proximal (g/100g) do músculo longissimus dorsi em cordeiros Parâmetros Raças Peso em kg 15 25 35 45 Umidade B 76,9 75,9 74,9 73,9 SI 76,0 74,9 73,9 72,9 Lipídeos B 5,6 7,3 9,0 10,8 Totais SI 7,0 9,1 11,2 13,3 Cinzas B 5,2 4,8 4,4 4,0 SI 4,5 4,3 4,0 3,8 ** = P,0,01 O fator sexo influencia a composição centesimal SOUZA et al. (2002), trabalhando com cordeiros oriundos dos cruzamentos Ile de France x Santa Inês e Bergamácia x Santa Inês, observaram que as fêmeas mostram, no músculo bíceps femoris, maior concentração de lipídeos totais do que os machos (2,90% e 2,23%, respectivamente) (Tabela 3.4). Além disso, a condição sexual também afeta o rendimento de carcaça, RODRIGUES et al., (2003), trabalhando com bovinos Nelore e ½ Nelore x Sindi e búfalos castrados e inteiros, mostraram que animais inteiros produziam carcaças mais pesadas, peso de vísceras e quarto dianteiro mais leves (Tabela 3.5). TABELA 3.4 Médias e desvios padrões de umidade, lipídeos totais, proteínas e cinzas no músculo BF A Composição Química da Carne 4 Fator N Umidade Lipídeos Proteína Cinzas Grupo genético IfxSI 18 74,87a 2,54a 21,17 a 1,19 a BgxSI 26 74,77 a 2,63 a 20,93 a 1,17 a Sexo Macho 20 75,04 a 2,23 b 21,12 a 1,18 a Fêmea 24 74,62 a 2,90 a 20,95 a 1,17 a Peso ao abate 15 Kg 11 76,22 a 1,48 d 20,58 b 1,19 a 25 Kg 12 74,71 b 2,07 c 21,66 a 1,20 a 35 Kg 10 74,43 b 3,14 b 20,88b 1,15 a 45Kg 11 73,87 b 3,79 a 20,92 b 1,13 a IFxSI = Cruzamento entre raças Ile de France e Santa Inês. BgxSI = Cruzamento entre as raças Bergamácia e Santa Inês. ab = Letras diferentes indicam as médias que são diferentes estatisticamente em colunas (P,0,05). N = Número de animais pertencentes ao tratamento. TABELA 3.5 Rendimento do abate (%) em bovinos e búfalos em diferentes condições sexuais Variável Grupo genético Condição Sexual Nelore ½ ½ ½ ½ NelorexSindi Búfalo mediterrâneo Castrado Inteiro Peso abate (Kg) 434,4 430,6 447,4 425,5 449,5 Peso carcaça (Kg) 262,9 A 257,8 A 242,0 B 246,6 b 261,8 a Patas 2,13 B 2,08 B 2,31 A 2,20 a 2,15 a Cabeça 3,99 C 4,48 B 5,04 A 4,40 a 4,61 a Couro 7,44 B 8,20 B 9,92 A 8,20 b 8,85 a Vísceras 25,60 B 25,09 B 28,39 A 26,84 a 25,87 a Cauda 0,67 A 0,29 A 0,26 A 0,29 a 0,26 b Carcaça 60,56 A 59,86 A 54,08 B 58,07 a 58,26 a Serrote 27,98 A 27,10 A 25,57 B 27,16 a 26,60 a Dianteiro 24,76 A 24,94 A 20,27 B 22,76 b 23,89 a Costilhar 7,82 A 7,83 A 8,23 A 8,15 a 7,77 a Médias seguidas pela mesma letra na linha, maiúscula para grupo genético e minúscula para condição sexual, não diferem significativamente (P.0,05), pelos testes de SNK e F, respectivamente. 3.3 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA CARNE Na descrição da composição química da carne serão consideradas as massas musculares. Nessas porções, a variação na quantidade da gordura determina variações nos percentuais de proteína, sais minerais e conteúdo de água, conforme mostrado na A Composição Química da Carne 5 Tabela 3.2. Os fatores responsáveis por variações na composição química da carne são: raça dos animais, alimentação, condições ambientais e músculo utilizado. Entretanto, esses percentuais não apresentam variações no músculo quando comparados animais de mesma espécie, idade, sexo e grau de acabamento. Contudo, as variações são significativas quando comparados, músculos de espécies diferentes (Tabela 3.6). TABELA 3.6 Composição média das carnes das várias espécies em percentuais Tipo1 Água Gordura Proteínas Cinzas Autor Bovinos longissimus dorsi 71,7 4,36 23,37 1,10 RODRIGUES (2002) Ovinos biceps femoris longissimus dorsi 73,90 74,83 3,84 2,56 19,14 21,03 1,63 1,17 REBELLO (2003) SOUZA et al. (2003) Capivara semi membranosus longissimus dorsi 75,87 77,07 1,36 0,82 22,10 21,17 1,08 1,16 ODA et al., (2004) JARDIM (2001) Búfalo longissimus dorsi 73,7 2,84 22,20 1,08 RODRIGUES (2002) Eqüino Semimembranosus longissimus dorsi 75,82 75,52 0,99 1,45 22,05 22,06 0,89 0,78 JUNQUEIRA (2003) JUNQUEIRA (2003) Frango Coxa Peito 75,28 74,84 5,06 1,06 18,73 23,03 0,93 1,07 ROSA (2003) ROSA (2003) Suínos 73,5 3,3 22 1,2 PRATA e FUKUDA(2001) 3.3.1 Água A água é o constituinte mais importante quantitativamente e pode atingir percentuais próximos a 76% na carne vermelha magra. Esse componente varia conforme o conteúdo de gordura, de maneira que quanto maior o teor de gordura do músculo, menor o teor de água. Essa variação no teor de água em função da gordura pode alcançar percentuais de 10%. Outro fator que determina variações no percentual de água da carne é a idade do animal. Animais mais jovens apresentam maior quantidade de água (Tabela 3.3 e 3.4). As proteínas ligam-se à água devido à atração entre as cargas positivas de suas moléculas e o pólo negativo da molécula de água e vice-versa. Como a intensidade de cargas positivas e negativas das proteínas depende do pH, a ligação da água pelas proteínas varia também de acordo com o pH do meio. Porém, de modo geral, a água A Composição Química da Carne 6 fixada mediante hidratação atinge 20-25 g para cada 100g de proteína. Outros fatores podem influenciar a capacidade das proteínas em se ligarem à água, como a presença de polifosfatos e do cloreto desódio. A água presente no músculo exerce grande influência sobre: a) rendimento de carcaça - durante o pré-resfriamento e o resfriamento, a carcaça perde água de sua superfície e ocorre uma perda de peso. Em carcaças de suínos, essa redução de peso varia de 0,9% a 2%. Em bovinos, essa perda é maior, pois maior é a superfície da carcaça. O abate de animais com grau de acabamento (espessura de gordura) associado ao adequado controle da temperatura e umidade relativa pode reduzir as perdas durante o resfriamento. Por outro lado, em aves, como o resfriamento é por imersão da carcaça, ocorrem ganhos, sendo permitido até 8%; b) características sensoriais da carne - a capacidade da água ser retida no músculo influencia as características da carne, tais como aparência, coloração, maciez e suculência. A cor da carne pode variar desde muito pálida, quando a capacidade de retenção de água (CRA) é reduzida, a muito escura, quando a CRA é elevada. Em relação à aparência, a carne pode apresentar superfície com muito brilho, correspondendo a músculo com baixa CRA e muita perda de água ou carne sem brilho, naqueles cortes com CRA elevada. A maciez e a suculência estão associados com a água e a CRA. A importância dessas características é observada em momentos distintos: aparência e coloração da carne estão associados com a aceitabilidade do consumidor e determinam a compra do produto ou não. Enquanto as demais características, como sabor, suculência e maciez, estão relacionadas com a aceitabilidade global do produto; c) perda de água durante o cozimento - as carnes vermelhas submetidas a cozimento convencional (70–72ºC no interior da massa muscular) perdem de 29% a 41% em relação ao peso inicial das amostras. Essa perda de água determina a concentração do valor nutritivo da carne. 3.3.2 Gordura A deposição das gorduras nas carcaças acontece nos depósitos subcutâneos, viscerais ou na musculatura, com uma distribuição dispersa entre as fibras musculares ou, ainda, fazendo parte integrante da célula. No tecido muscular, a gordura está presente em quantidades que variam de 1,5% a 13%. Quando a proporção de gordura no músculo situa-se na faixa entre 3% a 5%, o músculo apresenta o marmoreio. A condição genética do animal tem influência sobre a região de deposição das gorduras. Enquanto as raças européias apresentam maior predisposição para o marmoreio da carne, as raças zebuínas depositam quantidades menores de gordura entre as fibras musculares. As gorduras são formadas, em sua maioria, por glicerol mais ácidos graxos. Nessa estrutura, o número de átomos de carbono e de duplas ou triplas ligações, além da A Composição Química da Carne 7 combinação desses ácidos na molécula do glicerol, é fator que determina as características físicas e químicas das gorduras. Quanto maior o número de átomos de carbono na cadeia dos ácidos graxos, mais sólida é a gordura. E, quanto menor o número de insaturação (duplas ou triplas ligações), maior é o tempo necessário para a rancificação da gordura. O glicerol possui três grupos hidroxilas de maneira que uma molécula de glicerol pode ser combinada com uma, duas ou três moléculas de ácido graxo formando mono, di ou triglicerídeos. Na carne, os triglicerídeos predominam e são quimicamente bastante homogêneos. Os ácidos graxos encontrados nos triglicerídeos, na maioria formados por uma cadeia linear com número par de átomos de carbono, são saturados, monoinsaturados ou poliinsaturados. Na Tabela 3.7 é mostrada a participação de ácidos graxos em algumas espécies e esses compostos compreendem mais de 98% do total de ácidos graxos comum na gordura da carne. TABELA 3.7 Ácidos graxos contidos na gordura de carnes em % de lipídeos totais Ácidos graxos Ovinos LD Capivaras SM Suínos mg/100g Bovinos Buba- linos Fran- go C 14:0 Mirístico 2,04 a 3,65 3,33 a 3,95 50 a 100 1,12 a 1,13 0,97 n.d. C 16:0 Palmítico 20,88 a 24,22 27,34 a 31,80 712 a 1203 25,90 a 27,20 23,70 n.d. C 18:0 Esteárico 14,89 a 15,90 5,60 a 7,53 291 a 481 12,80 a 13,80 18 n.d. Total AGS (%) 3,84 a 1,61 33 a 40 39,80 a 42,10 42,70 30,85 C 16:1ω7 Palmitoleico 2,23 a 2,54 1,24 a 2,54 99 a 162 3,22 a 3,55 2,18 n.d. C18:1ω9 Oleico 31,74 a 45,23 25,73 a 28,05 1056 a 2055 36,20 a 36,60 34,70 n.d. Cont... Continuação Tabela 7.3 Ácidos graxos Ovinos LD Capivaras SM Suínos mg/100g Bovinos Buba- linos Fran- go C 20:1ω9 Eicosamonoen óico n. d. 0,17 a 0,28 19 a 28 0,24 a 0,34 0,40 n.d. Total de 33,77 a 27,17 a 42 a 48 43,20 a 43,30 40,20 42,84 A Composição Química da Carne 8 monoinsaturad o (%) 45,56 30,83 C 18:2ω9 n. d. 2,65 a 3,95 ______ n.d. n.d. C 18:2ω6 Linoleico 4,42 a 10,39 17,04 a 21,34 317 a 827 4,70 a 6,10 6,85 16,86 C 18:3ω6 γ linotênico 0,21 a 0,43 0,17 a 0,18 1 a 4 0,25 a 0,42 0,38 C 18:3ω3 α linolênico n. d. 4,87 a 5,06 7 a 52 0,44 a 0,51 0,45 0,45 C 20:4ω6 Araquidônico 1,14 a 6,79 3,00 a 3,89 17 a 84 0,90 a 1,16 1,11 3,99 C 20:5ω3 EPA n. d. 0,45 a 0,52 1 a 3 0,22 a 0,34 0,25 0,13 C22:4ω6 Decosatetraen óico n. d. 0,39 a 0,99 4 a 13 0,36 0,31 n.d. C 22:6ω3 DHA n. d. 0,16 a 0,20 1 a 3 0,18 a 0,26 0,20 0,24 C 22:5ω3 Clupanodônic o 0,12 a 0,94 _______ 2 a 10 n.d. _______ n.d. Total de AGP (%) 6,26 a 20,48 26,63 14 a 25 7,27 a 8,95 9,55 22,62 Relaçãoω6/ω3 3,82 12 a 21 6,08 a 8,80 9,90 26,69 Autores Perez et al., (2000) Oda etal., (2004) Bragagnolo et al., (2002) Rodrigues et al., (2004) Rodrigue s et al., (2004) Souza (2004) LD = longissimus dorsi SM = semimembranosus AGS = ácido graxo saturado AGM = ácido graxo monoinsaturado AGP = ácido graxo polinsaturado Nos ácidos graxos saturados, o ponto de fusão se eleva conforme aumenta o tamanho molecular (Tabela 3.8). De acordo com isso, os ácidos palmítico e esteárico (C15H31COOH e C17H35COOH) têm o ponto de fusão acima de 62 oC e a presença desses compostos é responsável pela dureza das gorduras naturais. Por outro lado, o cáprico (C9H19COOH) é líquido em temperatura ambiente (31,6 oC) TABELA 3.8 Ácidos graxos saturados (C4-C22) Ácido Fórmula Peso Molecular Ponto de fusão oC Butírico C3H7COOH 88,10 -8,0 A Composição Química da Carne 9 Caproico C5H11COOH 116,15 -3,4 Caprílico C7H15COOH 144,21 16,7 Cáprico C9H19COOH 172,26 31,6 Láurico C11H23COOH 200,31 44,2 Mirístico C13H27COOH 228,36 54,4 Palmítico C15H31COOH 256,42 62,6 Esteárico C17H35COOH 284,47 69,6 Araquídico C19H39COOH 312,52 75,4 Behénico C21H43COOH 340,57 83,0 Fonte: PRICE et al., (1994) Os ácidos graxos insaturados presentes na gordura da carne têm uma ou duas duplas ligações na cadeia (Tabela 3.9). Os mais comuns são os ácidos oléico, linoléico e linolênico. Quanto maior o grau de insaturação desses ácidos, mais baixo é o ponto de fusão. Freqüentemente, as gorduras insaturadas se hidrogenam e tornam-se saturadas, convertendo-se em gorduras mais duras e estáveis. A gordura intramuscular, diferente daquela encontrada no tecido adiposo, é constituída de fosfolipídeos e constituintes insaponificáveis como o colesterol. Os fosfolipídios desempenham um papel estrutural, funcional nas membranas e, atualmente, é reconhecido o reflexo destes componentes sobre a formação do aroma, sabor e manutenção da qualidade da carne e dos produtos cárnicos. A composição dos fosfolipídios varia conforme a localização na carcaça (Tabela 3.10). O grau de insaturação dos ácidos graxos que compõem os fosfolipídios influenciam suas características físico-químicas. De maneira que, quando essas estruturas
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