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FUNDAMENTOS DA ZOOTECNIA Profa. Dra. Paula Adriana Grande Prof. Me. José Francisco Lopes Júnior UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À ZOOTECNIA INTRODUÇÃO Esta apostila é dirigida aos discentes dos cursos de Agronomia e de Medicina Veterinária e tem por finalidade auxiliar no processo de aprendizagem sobre o conhecimento de alguns dos principais temas ligados à produção animal. Este material foi elaborado a fim de inteirar os discentes com as outras disciplinas, apresentando conteúdos mínimos que possibilitem a organização do conhecimento, indicando referências e, especialmente, incentivando a procurar novos conteúdos. Como sugestão para compreender melhor esta disciplina, o discente deverá completar a sua sabedoria com outros conhecimentos sobre: a) Ambientes utilizados na criação animal; b) Origem e caracteres étnicos das principais raças de produção animal; c) Reprodução (puberdade, ciclo estral, detecção do cio, época e métodos de cobrição, sincronização de cios, estação de monta, inseminação artificial, relação macho/fêmea, gestação e parto, cuidados com a gestante); d) Manejo do rebanho (Ex.: separação por sexo, identificação, descarte etc.); e) Tecnologias dos produtos de origem animal; f) Controle zootécnico; g) Políticas públicas de desenvolvimento do setor pecuário. Para entender melhor a Zootecnia, apresentaremos, nesta primeira unidade, uma breve história de como o homem iniciou sua relação com os animais: primeiramente, por meio da caça, da pesca e da coleta de vegetais, a fim de garantir sua subsistência e sobrevivência; em segundo lugar, por meio da agricultura e domesticação de alguns animais, para garantir a disponibilidade regular de alimentos; em terceiro lugar, com a aplicação científica dos conhecimentos gerados pela Zootecnia a fim de obter maiores e melhores produções de proteína animal, gerando lucro aos criadores. Os temas abordados nesta unidade estão baseados nas obras dos seguintes autores: Oliveira Jr. (1989); Price (2006); Aragão (2008); Mazoyer e Roudart (2010). 1. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA CRIAÇÃO ANIMAL SAIBA MAIS Como forma de aprimorar os conhecimentos indicados anteriormente e os que estarão discriminados no decorrer desta apostila, sugere-se o acesso aos sites da Embrapa e das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas), indicados no seguinte quadro: Empresa Endereço eletrônico Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária https://www.embrapa.br/ Emparn – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte http://www.emparn.rn.gov.br/ Emepa – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S/A http://gestaounificada.pb.gov.br/emepa IPA – Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária http://www.ipa.br/ Emater – Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas http://www.emater.al.gov.br/ Endagro – Empresa de Desenvolvimento Agropecuário do Estado de Sergipe http://www.emdagro.se.gov.br/ Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural http://www.incaper.es.gov.br/ Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais http://www.epamig.br/ Pesagro-Rio – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro http://www.pesagro.rj.gov.br/ Apta – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios http://www.apta.sp.gov.br/ IAC – Instituto Agronômico de Campinas http://www.iac.br/ Instituto Biológico http://www.biologico.sp.gov.br/ Instituto de Economia Agrícola http://www.iea.sp.gov.br/ Instituto de Pesca http://www.pesca.sp.gov.br/ Instituto de Zootecnia http://www.iz.sp.gov.br/ Instituto de Tecnologia de Alimentos http://www.ital.sp.gov.br/ Iapar – Instituto Agronômico do Paraná http://www.iapar.br/ Epagri – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina http://www.epagri.sc.gov.br/ Unitins – Universidade do Estado do Tocantins http://www.unitins.br/ Emater – Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária http://www.emater.go.gov.br/ Empaer – Empresa de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso http://www.empaer.mt.gov.br/ Agraer – Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural http://www.agraer.ms.gov.br/ Quadro 1 - Empresas do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, 2018. Fonte: Os autores. 1.1 Origem da Criação Animal A história do planeta Terra começou há cerca de 4,6 bilhões de anos, mas a do homem moderno só começou há 150 mil anos do presente (SANTOS; SANTOS, 2014, p. 162). INDICAÇÃO DE VÍDEO Para melhor compreender os aspectos relacionados ao surgimento do homem moderno, sugere-se o filme A origem do homem (The real Eve), disponível em https://www.youtube.com/watch?v=w8Pp6KmIMu0. “A Terra sofreu evolução, tal como a vida sofreu evolução” (ARAGÃO, 2008). De acordo com Price (2006), a evolução aplicada à biologia, geralmente, se refere a mudanças nas formas de vida ao longo do tempo. As evidências de que a evolução dos seres vivos ocorreu historicamente podem ser classificadas da seguinte forma: a) diagramas filogenéticos; b) anatomia comparativa; c) genômica comparativa; d) embriologia; e) órgãos vestigiais; f) biogeografia; g) progressão no registro fóssil; h) formulários de transição no registro fóssil; i) extinção registrada no registro fóssil. SAIBA MAIS A descrição mais detalhada de cada fonte de informação citada poderá ser estudada em: Understanding evolution: history, theory, evidence, and implications, disponível em http://www.rationalrevolution.net/articles/understanding_evolution.htm. Figura 1 - Calendário Geológico. Fonte: Biologuito Evolu (2018). Segundo Price (2006), de todas as teorias científicas, a que é mais abrangente é a Teoria da Evolução Biológica, pois incorpora muitas linhas de evidências e disciplinas diferentes, contendo milhares de provas. De acordo com esse mesmo autor, muitas questões permanecem sobre os aspectos de como a evolução na Terra tem procedido historicamente, mas não há dúvida entre os cientistas de que a evolução ocorreu e ainda está ocorrendo e explica fundamentalmente a diversidade e as características de toda a vida na Terra. Durante a maior parte de sua existência (um milhão de anos), o homem retirou da natureza os produtos necessários à sua alimentação, garantindo, assim, a sua reprodução biológica. “A caça, a pesca e a coleta de frutos, raízes, cereais, etc., foram as principais atividades humanas até que a agropecuária se consolidasse” (OLIVEIRA JR., 1989, p. 5). A Figura 2 retrata a vida do homem no período paleolítico, também chamado de “Pedra Lascada”. Figura 2 - Período Paleolítico. Fonte: História Digital (2011b). Os primeiros sistemas de cultivo e de criação apareceram no período neolítico há menos de 10 mil anos, em algumas regiões pouco numerosas e relativamente pouco extensas do planeta. Originavam-se da autotransformação de alguns dos sistemas de predação muito variados que reinavam então no mundo habitado (MAZOYER; ROUDART, 2010). A Figura 3 demonstra essa autotransformação que se passava com o ser humano. Figura 3 - Período Neolítico. Fonte: História Digital (2011a). As comunidades iniciaram o semeio de plantas e a criação de animais em cativeiro, com a finalidade de multiplicá-los e utilizar-se de seus produtos. Nessa época, após algum tempo, essas plantas e esses animais especialmente escolhidos e explorados foram domesticados e, dessa forma, essas comunidades de predadores se transformaram por si mesmas, paulatinamente, em comunidades de agricultores. Desde então, essas comunidades introduziram e desenvolveram espécies domesticadas na maior parte dos ecossistemas do planeta, transformando-os, então, por seu trabalho, em ecossistemas cultivados, artificializados, cada vez mais distintos dosecossistemas naturais originais (MAZOYER; ROUDART, 2010). 1.2 Domesticação Em tempos remotos, os habitantes das cavernas deixaram importantes pinturas de espécies contemporâneas selvagens, tais como: o veado, a rena, o alce, mas também de animais domesticáveis como o carneiro, a cabra e a vaca, num gesto que pretendia antecipar a caça ou assegurar o domínio sobre eles. Amansar as espécies submissas, ou domar as bravias, ou seja, fazer com que se acostumassem à vida reclusa, assegurando sua sobrevivência e reprodução, significou extinguir nos animais a tendência natural de fugir do homem. Usando força e astúcia, explorando o sentido gregário de alguns, o sedentarismo de outros ou a predisposição para o estado de domesticidade, o homem acabou por vencer o instinto de independência do animal, e este passou a viver sob um jugo que o hábito tornou cada dia mais leve. Domesticar, entretanto, consistiu em um processo lento e profundo, que levou à modificação das espécies, no que diz respeito não somente ao comportamento, mas também à morfologia e à fisiologia. Significou, portanto, não mais a posse de um indivíduo, mas da raça como um todo. Parece convincente que a domesticação não surgiu diretamente da caça, e sim no período Neolítico, com as verdadeiras sociedades de agricultores. Vida sedentária e agricultura foram as condições essenciais da domesticação. Apesar das controvérsias, acredita-se que, primeiramente, estivesse ligada ao misticismo e à religião, com o sacrifício de animais para cerimônias rituais, e que somente mais tarde tenha surgido a domesticação com fins utilitários. Embora seja impossível traçar uma cronologia segura, deduz-se, com base em pesquisas fósseis, que o primeiro animal domesticado tenha sido o cão, provavelmente, por volta de 10.000 a.C., antes ou no início do desenvolvimento da agricultura. O homem encontrou nele um auxiliar insubstituível na caça e na sucessiva aproximação com outras espécies. Depois vieram os animais de abate: cabra (8.000 a.C.), carneiro (7.000 a.C.), porco (6000 a.C.), seguidos dos de maior porte: os bovinos (6.000 a.C.), para os quais a vida sedentária é essencial, seguidos dos animais de carga, como camelos, jumentos (4.000 a.C.) e cavalos (3.000 a.C.), estes últimos mais rápidos e mais dominadores do que todos os seus antecessores. A domesticação nem sempre foi bem-sucedida. De acordo com Oliveira Jr. (1989), espécies (vegetais e animais) começaram a ser cultivadas e criadas e, logo após, foram abandonadas. Animais e plantas foram domesticados e, em seguida, retornaram a seu estado selvagem. Populações humanas diferentes domesticaram certas espécies por razões diferentes, para fins e uso diferentes. Uma população escolheu espécies diferentes porque tinha razões diferentes para essa escolha etc. A domesticação consiste na seleção e adaptação de certos seres vivos, considerados úteis para suprir as necessidades humanas. Ao longo de milhares de anos, esse processo acarretou modificações em várias características originais dos seres vivos domesticados. Vários foram os métodos empregados para alcançar a domesticidade, partindo dos animais que se encontravam em estado selvagem. Os estudiosos têm levado em conta que devem ter sido os métodos: violentos (cavalos e jumentos), pacíficos (cães, gatos e suínos) e intermediários (bovinos, caprinos, ovinos, búfalos e aves). A domesticação dos animais teve um papel fundamental no desenvolvimento da cultura humana e material. Com esse processo, muitos animais passaram a ter um papel significativo no fornecimento de alimentos, peles, além de ajudar em tarefas e meio de locomoção para os seres humanos. Nessa longa trajetória, o convívio com os animais tem significado para o homem alimento, agasalho, transporte, força de tração, defesa, companhia e, também, um importante suporte para a construção do seu imaginário. A domesticação ou modificação das espécies selvagens, iniciada há mais de 12.000 anos, por motivações diversas, enquadra-se na transformação geral da natureza que o homem promove, incessantemente, para servir aos seus fins. Dela resultaram algumas espécies animais, entre as quais muitas raças dotadas de características únicas, que passaram a fazer parte da dieta humana. Assim como a descoberta do fogo, a conservação dos alimentos e a invenção das ferramentas, a domesticação pode ser considerada uma importante conquista da civilização. Entretanto, no afã de subjugar a natureza, o homem vem sendo, constantemente, por ela desafiado. O domínio sobre os animais tem permitido que a produção de alimentos se torne, cada vez mais, capaz de fazer frente às mudanças ambientais e à elástica demanda das sociedades humanas. O conhecimento adquirido ao longo do processo de domesticação tornou-se possível ao homem selecionar os rebanhos e desenvolver novas raças mais resistentes e adequadas às suas necessidades nutricionais. Paradoxalmente, a pressão demográfica e econômica tem acelerado o ritmo das mudanças nos sistemas agrícolas tradicionais, pondo em risco a biodiversidade, que é condição essencial para a produção eficiente e sustentável de alimentos. A crescente demanda de produtos de origem animal, nos países em desenvolvimento, concentrados, principalmente, na zona intertropical, tem gerado muitas tentativas de aumentar a produtividade de raças consideradas naturalizadas, por meio de cruzamentos com raças exóticas, altamente produtivas, desenvolvidas para os países de clima temperado. Tais cruzamentos podem ser considerados como causa de uma rápida substituição das raças “locais”. 1.2.1 Origem da domesticação Como descrito anteriormente, a domesticação dos animais (processo de conversão de animais selvagens para uso doméstico) e plantas iniciou-se há 10.000 a.C., durante o período neolítico. Surgiu em poucas regiões do mundo e se disseminou ao poucos para quase todas as partes do planeta Terra. Na Figura 4, são apresentados os seis centros de origem da agricultura no período neolítico. Figura 4 - Centros de origem e áreas de extensão da revolução agrícola neolítica. Fonte: Adaptado de Mazoyer e Roudart (2010). No Quadro 2, é apresentada uma lista de alguns dos principais animais domésticos com seu tempo aproximado e local de domesticação. Animal Nome científico Data aproximada da domesticação Local de domesticação Cão Canis lupus familiaris > 30.000 a.C. Eurásia Centro Médio-oriental 10.000 / 9.000 A.C. Centro Chinês 8.500 A.C. Centro Nova Guiné 10.000 A.C. Centro Norte-americano 4.000 / 3.000 A.C. Centro Americano 9.000 / 4.000 A.C. Centro Sul-americano 6.000 A.C. Ovinos Ovis orientalis aries 11.000 – 9.000 a.C. Sudoeste da Ásia Suíno Sus scrofa domestica 9.000 a.C. Oriente próximo, China, Alemanha Cabra Capra aepagrus hircus 8.000 a.C. Irã Gado europeu Bos primigenius taurus 8.000 a.C. Índia, Oriente Médio, África do Norte Gado Zebu Bos primigenius indicus 8.000 a.C. Índia Gato Felis catus 7.500 a.C. Chipre e Oriente próximo Frango Gallus gallus domesticus 6.000 a.C. Índia e Sudeste asiático Llama Lama glama 6.000 a.C. Peru Cobaia Cavia porcellus 5.000 a.C. Peru Asno Equus africanus asinus 5.000 a.C. Egito Pato doméstico Anas platyrhynchos domesticus 4.000 a.C. China Búfalo Bubalus bubalis 4.000 a.C. Índia e China Cavalo Equus ferus caballus 4.000 a.C. Estepes euroasiáticas Dromedário Camelus dromedaries 4.000 a.C. Arábia Abelha Apis 4.000 a.C. Múltiplos lugares Bicho-da- seda Bombyx mori 3.000 a.C. China Camelo Camelus bactrianus 2.500 a.C. Ásia Central Peru Meleagris gallopavo 500 a.C. México Coelho europeu Oryctolagus cuniculus 600 d.C. Europa Quadro 2 - Lista de animais domesticados, tempo aproximado e local de domesticação. Fonte: Adaptado de Wikipedia (2018).Dentre as espécies de bovídeos domesticados, três se destacam por serem mais intensamente exploradas: o boi comum, ou europeu (Bos taurus); o zebu ou boi indiano (Bos indicus), dotado de giba; e o búfalo, também da família Bovidae (Bubalus bubalis), que parece descender do Arni (Bubalus arnee), ainda hoje encontrado em estado selvagem na Índia. Originários da Ásia, e introduzidos na Europa no primeiro milênio de nossa era, estes últimos teriam sido levados, por volta de 595 d.C., para povoarem as áreas pantanosas ao sul da Itália. Com a fixação dos rebanhos domésticos, a diferenciação entre as populações tornou-se mais rápida, originando tipos locais distintos. As migrações humanas, no início da Era Cristã, promoveram uma significativa distribuição dos animais domésticos. Atribuem-se, sobretudo, aos celtas e aos romanos o deslocamento dos bovinos na direção oeste da Europa e, portanto, a formação das raças ibéricas, que pertencem a três troncos étnicos principais: o turdetano (Bos taurus turdetano), o ibérico (Bos taurus ibericus) e o cântabro. Os primeiros cavalos (Eohippus), domesticados para consumo de sua carne e couro, eram pequenos demais para serem montados; posteriormente, tal qual o boi, o cavalo começou a ser usado para puxar carros de rodas até ser atrelado às primeiras charretes. Somente por volta do ano 2.000 a.C. o homem aprendeu a montá-lo. E, tendo domado plantas e domesticado animais para seu uso, ao montar o cavalo, o homem realizou muito mais do que uma conquista: ele estabeleceu um símbolo de domínio sobre a criação. Os ancestrais selvagens dos cavalos diferenciaram-se na América do Norte, de onde invadiram a América do Sul, pelo istmo do Panamá. Do continente americano, os equídeos se espalharam por todas as partes do mundo, com exceção da Austrália, de Madagascar e das ilhas japonesas. Se o gênero se formou na américa, não foi ali que suas formas selvagens sobreviveram, nem que passaram à domesticação. De fato, esses indivíduos desapareceram do Novo Mundo durante o Quaternário, antes, portanto, da Era dos descobrimentos. Ficaram, todavia, seus fósseis para revelarem ser a América o berço dos pré-equídeos. Em função da produção de trabalho, ou da execução de transporte, o cavalo pode ser classificado em dois tipos: de sela, ou de tiro ligeiro, e o de tração, ou de tiro pesado. O primeiro é composto por animais leves, enérgicos, de ossatura fina, tendões e articulações bem definidas, que se prestam à lida com o gado, para viagens e diversos tipos de esportes. Está representado pela maioria das raças – Árabe, Berbere, Puro Sangue Inglês, Andaluz, Quarto de Milha, Apaloosa -, e pelas nacionais Mangalarga, Mangalarga Marchador, Campolina, Crioula, Pantaneira, Nordestina, Marajoara e Lavradeira. O segundo compõe-se de animais maciços, largos, de ossatura forte e musculatura abundante, que são utilizados em serviços e transportes pesados. Faz-se representar pelas raças Percherão e Bretão. O jumento (Equus asinus) é uma outra importante espécie da família Equidae. A espécie selvagem que o originou (Equus Taeniopus) parece provir da Núbia e da Etiópia. Diferentemente da domesticação do cavalo, a do jumento deu-se, primeiramente, na África, sobretudo na região do vale do Nilo. E seu aproveitamento, nos continentes africano e asiático, deu-se bem antes de seu uso na Europa. Talvez seja esta uma explicação para a origem semita de todos os nomes de jumentos. A despeito de sua origem tropical, o jumento é hoje uma espécie doméstica que vive bastante bem, mesmo nos climas temperados. Para a pecuária, a grande contribuição do jumento foi ter dado origem ao burro, ou mulo – um notável animal de trabalho, que se constitui em um híbrido, geralmente estéril, oriundo do acasalamento de jumento com égua. É provável que a domesticação dos ovinos tenha tido início na Ásia, em uma fase inicial do desenvolvimento agrícola. De lá, os animais teriam passado à África e ao sul da Europa, já domesticados. Segundo as correntes mais aceitas, três seriam as principais fontes das atuais raças de ovinos: o Ovis musimon, ovino selvagem da Europa, que até hoje vive por lá, e que fundou o grupo dos ovinos europeus; o Ovis ammotragus, que originou os ovinos africanos, e o Ovis arkal, provavelmente o mais antigo. Asiático de origem, acredita-se que o arkal emigrou já domesticado. O cruzamento entre esses animais resultou na origem da maioria dos ovinos modernos: o Ovis aries palustris, conhecido como carneiro das estepes da Ásia. Depois dos cães, por ordem de antiguidade como seres domésticos, vêm os caprinos. A abundância de seus detritos fósseis denuncia a larga generalização do uso desses animais em tempos remotos; supõe-se ter sido a cabra o primeiro animal leiteiro a ser usado pelo homem. Até o final do século XIX, acreditava-se que os caprinos modernos tivessem surgido de cruzamentos entre indivíduos selvagens da espécie Capra aegagrus, ou cabra bezoar, dos planaltos ocidentais da Ásia, e aqueles da espécie Capra falconeri, de chifres espiralados, provenientes de uma área mais oriental, que coincide com a Índia. A partir de 1926, a descoberta fóssil de mais um tipo remoto de cabra fez com que fosse atribuído à Capra prisca o papel de tronco primitivo das espécies modernas de caprinos. Acredita-se, ainda, que a Capra aegagrus tenha se diversificado, durante os tempos pré-históricos, em duas formas: a Capra hircus das turfeiras, de chifres médios e pouco torcidos para fora, e a Capra hircus, da Idade do Bronze, que apresentava um porte maior e grandes chifres espiralados. Apesar de o porco ter sido domesticado na Ásia, os antigos egípcios consideravam sua carne nociva à saúde e, por isso, jamais utilizavam sua imagem em seus baixos-relevos e pinturas, como fizeram com outras espécies domésticas antigas. Embora o porco tenha sido, na ordem cronológica, o último animal domesticado na Europa, os chineses já o criavam como animal doméstico por volta do ano 5.000 a.C. Na verdade, a diversificação intensa por que passou conduz à aceitação da hipótese da remota domesticação para uma espécie, acreditando-se que o porco asiático só tenha sido conhecido pelos europeus já em sua forma doméstica e, em tal estado, se espalhado pela extensa área geográfica que veio ocupar no período neolítico. Os suínos domésticos pertencem ao gênero Sus, que, originário da Ásia e das regiões marginais do Mediterrâneo, disseminou-se pela Europa. Todas as raças de suínos conhecidas podem ser filiadas a dois grandes grupos: o Sus scrofa e o Sus indicus. Com exceção de uma espécie selvagem da ilha de Java, muito aproximada do Sus vittatus, o Sus indicus só é conhecido, nos dias atuais, em suas formas domésticas. Animal sacrificial e propiciatório, ligado à arte divinatória dos arúspides e a inumeráveis superstições no mundo inteiro, o galo deu origem a riquíssimo folclore. Nos textos persas do Zenda Avesta, é o representante da saudação matinal. Tudo indica que o primeiro interesse pela espécie tenha se limitado às brigas de galo, muito comuns na China, na Grécia, em Roma e em Bali. Posteriormente, os galos passaram a ser criados para fins ornamentais, tendo se desenvolvido muitas raças, que se destinavam a exposições, nas quais se apreciava, acima de tudo, a beleza dos exemplares. Mais recentemente, é que se difundiu a criação da espécie como fonte de alimentos. Constituem os galiformes uma grande população de aves de várias espécies, entre as quais os numídeos e os fasianídeos. Os numídeos têm como principal representante a galinha d´angola, originária da África. Essa espécie conserva como resquícios da vida selvagem o natural espantadiço e o hábito de nidificar longe do convívio com outros galináceos. A galinha doméstica, ou comum, provém do Gallus gallus da Índia, ou, mais precisamente, da subespécie Gallus gallus bankiva, origináriado sudeste da Ásia – Indochina, Malásia e Indonésia. INDICAÇÕES DE VÍDEO Assista aos vídeos: - Domesticação dos animais e plantas, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5pO6FFV-NoE. - A domesticação dos animais e seus cérebros, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Z868MXco0tg. 1.2.2 Atributos dos animais domésticos https://www.youtube.com/watch?v=5pO6FFV-NoE https://www.youtube.com/watch?v=Z868MXco0tg Atributos são particularidades, qualidades e características nos animais, que permitiram a domesticação de algumas espécies e não de outras. As zebras são um exemplo de espécie cuja domesticação não foi bem-sucedida. Apesar de poder mantê- las em áreas fechadas através de gerações e elas se reproduzirem, não foi possível que fosse modificada geneticamente para que pudesse ser montada. Os principais critérios a serem adotados na domesticação de espécies animais são: a) os animais devem ter facilidade de se adaptarem ao ambiente (Ex.: adaptar-se ao tipo de alimentação que é oferecido pelos seres humanos); b) o animal deve poder sobreviver e se reproduzir em cativeiro; c) os animais precisam ser naturalmente calmos; d) os animais precisam estar dispostos a viver em conjunto. Praticamente todas as espécies domésticas vivem em grupos e são sociáveis, sendo esse comportamento uma condição que permitiu sua aproximação ao homem e seu amansamento; e) os animais devem possuir funções especializadas (Ex.: bicho-da-seda e abelha). As espécies animais que não atendem a todos os critérios acima serão muito difíceis de domesticar, mas um número razoável de espécies animais foi domesticado, o qual está aumentando. A domesticação precoce provavelmente foi impulsionada principalmente pela seleção natural: os animais que melhor se adaptaram ao ambiente que lhes foi imposto foram os mais bem-sucedidos na produção da próxima geração. Os animais domésticos passam por três fases na domesticação: 1. cativeiro; 2. mansidão; 3. domesticação. A domesticação teve início a partir da necessidade de sobrevivência do homem, que precisava se alimentar, força motriz para realizar trabalho, motivação religiosa e interação ambiental. Conforme o grau de domesticação dos animais, pode-se dividir em quatro grupos distintos: 1. Cão, carneiro, cabra, boi, bicho-da-seda, porco, gato, jumento, cavalo e camelo. 2. Zebra, macaco, ganso, pato, peru, pombo, lhama, cisne e pavão. 3. Búfalo, rena, galinha d´angola, coelho, avestruz, faisão, alpaca. 4. Abelha, carpa, tilápia, jundiá. Quanto maior o grau de domesticação, é mais difícil os animais voltarem à vida selvagem. Assim, é possível afirmar que os animais do primeiro e segundo grupo dificilmente voltam à vida selvagem. Os animais do terceiro e quarto grupo apresentam grandes possibilidades de voltar à vida selvagem. 1.2.3 Modificações morfológicas, fisiológicas e etológicas sofridas pelos animais após a domesticação Quando comparados com seus ancestrais selvagens, as modificações apresentadas pelos animais são bem evidentes. Essas modificações são consequências de processos evolutivos que permitiram um maior conhecimento dos genes e da genética. As modificações podem ser morfológicas, fisiológicas e etológicas. 1. Modificações morfológicas: fazem referência a mudanças físicas nos animais e que tiveram consequências em suas atividades biológicas, como, por exemplo: mudança na cor da pelagem, tamanho e dimensões corporais, gordura corporal, ossatura. 2. Modificações fisiológicas: fazem referência à produção animal, pois dependendo da intensidade fisiológica, haverá maior ou menor produção animal. Exemplos: locomoção ou velocidade de locomoção, capacidade de voo, fertilidade, prolificidade, lactação, choco, velocidade de crescimento. 3. Modificações etológicas: são aquelas que fazem referência às mudanças comportamentais. Exemplos: instinto de defesa, comportamento sexual, relação com o homem. Os fatores que deram origem a essas mudanças foram: mudança de meio, regime de criação, alimentação (nutrição). 1.3 Surgimento da Zootecnia como Ciência A palavra Zootecnia surgiu pela primeira vez em 1843, no Cours d´Agriculture de Adrien Étienne Pierre, o Conde de Gasparin, que a fez derivar dos radicais gregos zoon (animal) e techne (tratado sobre uma arte). O conde foi o primeiro a reconhecer, na arte de criar animais, um objeto próprio da ciência e independente da agricultura, criando para ela uma cadeira destinada ao estudo dos animais domésticos, no Instituto Agronômico de Versailles, em 1848. Já em fins 1849, um jovem biólogo chamado Émile Baudement ocupou a nova cadeira, pelas suas ideias inovadoras, explicando em sua dissertação que a Zootecnia é uma ciência que explica os acontecimentos para constatar os fatos. A Zootecnia deixou de ser somente uma prática que se aprendia com a “lida” com o gado para ser também uma arte ou ciência aplicada que se aprende observando e experimentando. Para estabelecer a Zootecnia, é necessário que a observação e a experimentação sejam empregadas paralelamente. A segunda comprova e reforça a primeira; sem sua intervenção, a Zootecnia permaneceria apenas um conjunto de doutrinas, não seria uma Ciência (CORNEVIN, 2017). Em 1891, Cornevin (2017) escrevia no seu Traité de Zootechnie Générale: Hoje a Zootecnia, sem esquecer seu caráter peculiar tecnológico, que não deve perder, aproxima-se estreitamente das ciências naturais propriamente ditas. É para ela uma condição de progresso, pois a maioria dos problemas que aborda, interessa vivamente a biologia geral, e só podem ser resolvidos pelos métodos usados por esta. As primeiras definições de Zootecnia nos dicionários de língua portuguesa conferiram a ela o atributo de “Arte de criar animais”. Nos atuais tratados linguísticos, reduziu-se seu significado para “Estudo científico da criação e aperfeiçoamento dos animais domésticos”. “A arte em sua abstração e amplitude foi descortinada pela Ciência em uma equivocada aparência de mais status ou pretenso domínio do conhecimento avançado” (FERREIRA et al., 2006). De acordo com Ferreira et al. (2006), o professor Octávio Domingues, em 1929, definiu Zootecnia como: “É a ciência aplicada que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório, e deste ambiente ao animal”. No Brasil, a Zootecnia foi ensinada como disciplina especial nos cursos de agronomia até 1966 quando foi criado, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana, o primeiro curso de graduação em Zootecnia. Figura 5 – Conceitos da Zootecnia. Fonte: Oliveira (2000). 1.4 Correlação da Zootecnia com Outros Conhecimentos A Zootecnia engloba conhecimentos de várias ciências como: a) ciências formais: matemática e estatística; b) ciências da natureza e da terra: física, química, biologia e seus ramos (anatomia, biologia celular, botânica, ecologia, embriologia, etologia, evolução, genética, histologia, fisiologia, microbiologia e zoologia); c) ciências sociais: que se ocupam do ser humano, de sua história, do seu comportamento, da língua, do social, do psicológico e da política, entre outras. 2. TERMINOLOGIAS ZOOTÉCNICAS Neste item, apresenta-se um glossário dos principais termos empregados na zootecnia geral e especial. 2.1 Zootecnia Geral Na Zootecnia geral, o conhecimento é aplicado numa perspectiva de observação e entendimento geral sobre a criação dos animais domesticados. A seguir, são apresentadas algumas das terminologias mais utilizadas na Zootecnia geral. Abate: consiste na matança de animais para fins de consumo ou comercialização. Adaptabilidade: capacidade de uma espécie de viver em condições ambientais diferentes de seu hábitat natural. Adaptação: processo de um organismo ajustar-se a um ambiente diferente de seuhábitat natural, por meio da mudança de forma ou de função para sobreviver em determinadas condições ou situações apresentadas pelo meio ambiente. Agronegócio: relações comerciais efetuadas com produtos agropecuários por meio de atividades de compra e venda. Agropecuária: teoria e prática da agricultura associada à pecuária. Aleitamento artificial: processo que consiste em fornecer, a filhotes de animais mamíferos, dietas líquidas como o leite ou sucedâneos de leite, por meio de mamadeiras, baldes ou outros recipientes. Alongado: diz-se do indivíduo de espécie domesticada que foge para o mato e volta a ter vida selvagem. Alqueire: unidade de medida de área equivalente a 2,42 hectares (alqueire paulista). Ambiente: conjunto de todas as condições físico-químicas externas que cercam e influenciam um indivíduo e afetam seu crescimento e desenvolvimento. Animal inteiro: termo utilizado para identificar os machos não castrados de uma espécie, tendo, portanto, todos os órgãos do aparelho reprodutor. Arraçoar: ato de fornecer ração ou outro tipo de alimento aos animais. Arroba: medida de peso de produtos agropecuários, equivalente a 15 kg. Bacia leiteira: zona de abastecimento formada por propriedades agrícolas que se dedicam à atividade de produção de leite localizada em uma região fisiográfica, canalizada para um processador e destinada a um centro de consumo. Pode ultrapassar os limites geográficos do município ou estado. Boas práticas agropecuárias (BPA): são um conjunto de atividades desenvolvidas dentro da propriedade com o objetivo de garantir a saúde, o bem-estar e a segurança dos animais, do homem e do ambiente. Brete: local de contenção ou imobilização de animais com objetivo de alguma prática de manejo, como seleção, aplicação de vacina e medicamentos, ou seja, tratamentos profiláticos e higiênicos. Carcaça: animal morto, geralmente sem pele, com carne limpa, sem víscera, patas e cabeça. Casqueamento: tratamento profilático ou terapêutico, efetuado nos cascos de bovinos, equinos, caprinos e outros com o objetivo de corrigir o aprumo e manter a saúde dos animais. Choco: estado febril que apresenta as fêmeas das aves durante o período necessário à incubação dos ovos. Ciclo biológico: conjunto de etapas por que passa um determinado ser vivo, do nascimento à morte, biociclo. Cobertura: cópula ou coito entre animais em que, ocorrendo no período de fertilidade da fêmea, acontece a fecundação, também chamada de monta. Cocho: utensílio ou equipamento muito utilizado para fornecer alimento a animais, podendo ser de vários tipos, dependendo do tipo de animal que será alimento e do alimento que será fornecido. Colchete de porteira: tipo de cancela flexível feita com ripas e arames. Colostro: primeiro leite segregado pelas glândulas mamárias após o parto, rico em anticorpos indispensáveis à proteção do organismo dos filhotes. Confinamento: sistema de produção intensivo utilizado para criação de aves, bovinos, suínos, ovinos, caprinos e outras espécies, no qual os animais são criados em galpões fechados e alimentados com ração e/ou material volumoso no cocho. Conversão alimentar: é a transformação dos alimentos ingeridos pelos animais em energia, gordura e carne. Couro: pele de animais curtida e utilizada como matéria-prima para diversos usos e finalidades. Creep feed: termo da língua inglesa para identificar o sistema utilizado pela pecuária para alimentação de animais recém-nascidos para diminuir e facilitar o período de desmame. Cria: filho que nasceu de uma fêmea do animal. Criação: denominação genérica para o conjunto de animais que se cria para consumo ou fins comerciais. Criadouro: área delimitada, preparada e dotada de instalações capazes de possibilitar a reprodução, cria, recria de espécies da fauna silvestre. Curral: instalação ou local fechado, geralmente coberto, onde se aloja e reúne o gado para uma série de operações de manejo, como apartação, marcação, pesagem, castração, inseminação, medicação, vacinação e embarque. Deve ser construído de forma a permitir que essas operações sejam feitas de maneira tranquila e segura e com o mínimo de esforço e estresse para os animais e o tratador. Descarte: é a retirada de um ou mais indivíduos de um grupo em virtude da não conformidade com os padrões pré-determinados, tais como: sexo, tamanho, peso, altura, formação, rendimento, taxa de conversão, consumo de energia etc. Desmamar: fazer perder o costume de mamar. Edafoclimática: diz-se das condições e/ou características de solo, em um ponto da superfície da terra, associadas ao conjunto de fatores climáticos ou meteorológicos, como temperatura, pressão e ventos, umidade e chuvas etc. Ensilagem: processo de conservação de forragens verdes dentro de silos sem a presença de ar. Espécie: é o agrupamento de indivíduos suficientemente diferenciados de outros para receber um nome em comum. Estação de monta: época do ano na qual se faz o acasalamento de mamíferos, por ocasião do cio das fêmeas ou para o nascimento de filhotes nas estações mais convenientes. Fauna: animais de quaisquer espécies, em qualquer fase de seu desenvolvimento. Família: conjunto de indivíduos, descendentes diretos e colaterais (primos) de um casal, considerando-se para isso até a 5ª geração. Filhote: cria de animal. Gado: denominação genérica dada aos animais domésticos que formam rebanhos e são explorados economicamente. Hectare: medida de superfície equivalente a 10.000 (dez mil) metros quadrados. Índice de fertilidade: obtido pela relação entre o número de fêmeas prenhes e número de fêmeas que foram colocadas em cobertura. Índice de fecundidade: relação entre o número de crias nascidas e o número de fêmeas em cobertura. Indivíduo: unidade biológica básica dos seres vivos, constitui-se do animal isoladamente em relação à espécie. Um indivíduo nunca é igual ao outro, com exceção dos gêmeos univitelinos e dos clones. Intervalo entre partos (IEP): período compreendido entre dois partos consecutivos de uma matriz. Deve-se efetuar a média geral dentro das categorias das matrizes. Linhagem: é o grupamento constituído por indivíduos descendentes diretos de um genitor ou genitora, sendo muitas vezes um indivíduo citado como descendente da linhagem de um ancestral famoso. Manejo de animais: são operações e técnicas utilizadas no trato de animais que se evidenciam no tipo e na forma de fornecimento de alimentação, na movimentação, nos tratamentos preventivos e terapêuticos de doenças, nas instalações para permanência ou repousos, dentre outros. Manejo em lotes: consiste em dividir o total de animais do plantel em vários lotes de tamanho idêntico que se sucedem em intervalos regulares (intervalo entre lotes) com o objetivo de planejar as diferentes fases da criação (o desmame, o cio, as coberturas, os partos e as fases de creche e crescimento/terminação). Manejo reprodutivo: é o arranjo de um conjunto de práticas relacionadas com a reprodução animal, que visam a otimizar a eficiência reprodutiva de um rebanho. Microflora: conjunto de microrganismos (fungos e bactérias) que existem normalmente em determinadas partes do organismo e que, em condições normais, não causam problemas à saúde desse organismo. Ordenha: retirada do leite das glândulas mamárias de animais, podendo ser manual ou mecânica. Pecuária: atividade agropecuária que tem por finalidade a criação de gado. Esse termo é muito utilizado para a criação de bovinos, embora se relacione a todo tipo de gado. Pecuária de corte: atividade que visa à criação de animais para produção de carne, couro e seus derivados. Pecuária de leite: atividade que visa à criação de animais para produção de leite e seus derivados. Pecuária extensiva: atividade desenvolvida em grandes extensões de terra, com gado solto, geralmente sem grandes aplicações de recursos tecnológicos.Pecuária intensiva: atividade desenvolvida em áreas menores, geralmente em regime de confinamento ou semiconfinamento. São utilizados recursos tecnológicos avançados, como reprodução por inseminação artificial, técnicas de melhoramento genético, alimentação balanceada e cuidados sanitários, como vacinação e tratamento de enfermidades. Pedilúvio: tanque raso que contém água ou substâncias terapêuticas e/ou curativas, geralmente construído na entrada ou na saída dos currais e salas de ordenha, com objetivo de efetuar a higiene e/ou tratamento dos cascos de animais. Período de serviço: intervalo de tempo (em dias) compreendido entre um parto e a primeira cobertura fértil posterior a esse parto de uma mesma matriz. Deve-se fazer avaliação média das matrizes. Peso vivo: peso do animal vivo, o mesmo que peso do animal em pé. Piquete: subdivisão de um pasto, normalmente cercado, destinado ao pastoreio ou à separação de animais que necessitam de tratamentos ou cuidados especiais. Plantel: machos e fêmeas do rebanho que se destinam à reprodução. Animais de um mesmo criador, geralmente formados de indivíduos parentes entre si e geralmente formados de mesma raça. Produtividade: relação entre a quantidade ou valor produzido e a quantidade ou valor dos insumos aplicados à produção; eficiência produtiva. Rebanho: conjunto de famílias e linhagens criadas dentro de um mesmo ambiente sujeito às mesmas condições de manejo, alimentação e seleção. Rês: qualquer quadrúpede usado na alimentação humana. Rufião: macho inteiro (dois testículos), com desvio lateral de pênis, caracterizado pela impossibilidade de concluir a monta. Serve para marcar as fêmeas em cio, utilizados em bovinos e ovinos. Sustentabilidade ambiental: uso da funções vitais do ambiente biofísico de maneira a permanecer disponível indefinidamente. Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as próprias necessidades. Taurino: animais de espécies bovinas, provenientes de raças de origem europeia. Taxa de abate: é o percentual resultante da relação entre o número de indivíduos abatidos e o número total de indivíduos existentes em um grupo ou em uma área. Taxa de desmame ou eficiência reprodutiva: é o número de crias desmamadas dividido pelo número de fêmeas em cobertura, multiplicado por 100. Tosquia: ato ou efeito de cortar o pelo ou a lã dos animais. Zebu: grupo de raças de bovinos de origem indiana, cuja principal característica é apresentar giba ou cupim. Zooplâncton: comunidade exclusivamente composta de organismos animais, microscópicos, que vivem nas diversas camadas de água, constituindo a base da cadeia alimentar do meio aquático. 2.2 Zootecnia Geral e Especial A Zootecnia se divide em Geral e Especial: A Zootecnia Geral é aquela que estuda os princípios básicos e gerais da criação de todas as espécies e raças. A Zootecnia Especial é aquela que estuda as particularidades na criação de cada espécie ou raça. Exemplo: criação de suínos (suinocultura), avicultura, bovinocultura de leite, apicultura, codornicultura, equideocultura, bubalinocultura, caprinocultura, ovinocultura, entre outras criações. Na Zootecnia Especial, o conhecimento é aplicado, estabelecendo as estratégias de melhoramento genético, manejos reprodutivo e nutricional para as diversas categorias de animais de produção. 2.2.1 Apicultura Criação de abelhas para a produção de mel, ceras, própolis e outros derivados. As práticas mais comuns são a apicultura fixa (colmeias não se deslocam) e apicultura itinerante ou migratória (colmeias são deslocadas). A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na apicultura: a) Favo: conjunto de alvéolos feitos com cera pelas abelhas operárias para abrigar a cria e depositar o mel, o pólen e a geleia real. b) Operárias: fêmeas que realizam todo o trabalho do enxame de abelhas (coleta de néctar, pólen e água, cuidados das crias e da rainha, limpeza e defesa do enxame). c) Rainha: responsável pela reprodução, é a única abelha do enxame de abelhas que se acasala com os machos e pode pôr ovos que geram fêmeas e zangões. d) Zangões: machos do enxame de abelhas, cuja única função é se acasalar com a rainha. 2.2.2 Avicultura A avicultura é a criação de aves para produção de carne e ovos. A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na avicultura: a) Frango de corte: animal destinado ao abate. b) Poedeira comercial: aves de postura. c) Matriz de corte: pais do frango de corte. d) Matriz de postura: pais de poedeira comercial. e) Pintainho: é o filhote da galinha. f) Debicagem: prática que consiste em queimar e retirar a ponta do bico das aves com a finalidade de diminuir o canibalismo e os danos causados nas cascas dos ovos. Essa prática é condenada no manejo orientado por sistemas orgânicos de produção. g) Eclosão: quebra do envoltório dos ovos no final da incubação e a saída de répteis, quelônios, batráquios, aves ou peixes neles gerados. 2.2.3 Bovinocultura Atividade pecuária destinada à criação de gado bovino, dividida em bovinocultura de corte, para produção de carnes e peles, e bovinocultura de leite. A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na bovinocultura: a) Bezerro ou terneiro: bovino jovem entre o nascimento e o desmame, geralmente até sete meses de idade. b) Boi: macho castrado das espécies taurinas ou zebuínas com idade acima de 30 meses, geralmente destinado ao abate, serviço no campo ou como meio de transporte. c) Boi gordo: bovino de corte com tamanho e peso ideal para o abate. d) Fase de cria: no caso de bovinos, compreende o período que vai do nascimento até a desmama, que pode ocorrer até 12 meses. e) Fase de recria: no caso de bovinos, compreende o período que vai da desmama até a fase de engorda ou terminação, que pode ocorrer entre 24 e 30 meses. f) Fase de engorda ou terminação: no caso de bovinos, compreende o período que vai do final da fase de recria até o abate, que normalmente ocorre quando o animal atinge o peso de 15 arrobas. g) Novilho precoce: animal abatido até 24 meses de idade. h) Novilho sobreano: animais de um ano e menos de dois anos. i) Vaca de descarte: vaca que foi retirada da produção por problemas de ovário, idade avançada ou por problemas físicos. j) Vaca falhada: vaca que não fertilizou (não pegou cria). k) Vaca seca: é a que não está lactando (não está produzindo leite). l) Vaca solteira (novilha): é a fêmea em crescimento que ainda não atingiu o peso de cobertura. 2.2.4 Caprinocultura Atividade pecuária destinada à criação de cabras. Dividida em caprinocultura de corte, para produção de carnes e peles, e caprinocultura de leite. A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na caprinocultura: a) Aprisco: tipo de instalação utilizada particularmente para o manejo de cabras e ovelhas. b) Bode: macho já em reprodução. c) Cabra: fêmea após a parição. d) Cabrito(a): animal jovem do nascimento até antes de ser utilizado na reprodução. Fêmeas antes da parição. 2.2.5 Equinocultura Atividade pecuária destinada à criação de cavalos. A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na equinocultura: a) Garanhão: macho reprodutor. b) Égua: fêmea do cavalo. c) Potro e potranca: animais em crescimento. d) Potrilho: animal do nascimento ao desmame. 2.2.6 Ovinocultura Atividade pecuária destinada à criação de ovinos. Dividida em ovinocultura de corte, para produção de carnes e peles, e ovinocultura de leite. A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na ovinocultura: a) Borrega: é o ovino fêmea, dos 7 meses de idade até o primeiro parto (12-24 meses). b) Borrego: é o ovino macho, dos 7 meses de idade até que se torne apto para reproduzir(12-18 meses). c) Capão: animal castrado destinado ao abate (quatro dentes). d) Carneiro: após se tornar apto para a reprodução, o borrego é chamado de carneiro ou reprodutor. e) Cordeiro: ovino jovem (macho ou fêmea) do nascimento até a idade de 7 meses. f) Ovelha: após o primeiro parto, a borrega passa a ser chamada de ovelha. 2.2.7 Suinocultura Atividade agrícola que se dedica à criação de suínos (porcos). A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na suinocultura: a) Cachaço: macho reprodutor. b) Fase de cria: no caso de suínos, compreende o período que vai dos nascimento até 2 meses. c) Fase de recria: no caso de suínos, compreende o período de 2 a 3 meses. d) Fase de engorda ou terminação: no caso de suínos, compreende o período de 3 a 4 meses até o abate, que ocorre com aproximadamente 5 meses. e) Leitão: do nascimento ao desmame. f) Marrã: fêmea em crescimento. 2.2.8 Piscicultura Atividade de criação de peixe em cativeiro em tanques, redes ou viveiros de água doce ou salgada. A seguir, são apresentadas algumas terminologias utilizadas na piscicultura: a) Alevino: peixe recém-nascido. Filhote de peixe. Forma embrionária, inicial dos peixes, em forma de uma bolsa volumosa. b) Despescar: retirar, geralmente com auxílio de rede ou tarrafa, os peixes ou outras espécies aquáticas introduzidas nos açudes, viveiros e tanques. c) Fitoplâncton: comunidade exclusivamente vegetal microscópica que vive nas diversas camadas de água e promove a fotossíntese graças à presença de luz, constituindo a base da cadeia alimentar do meio aquático. SAIBA MAIS Outras terminologias empregadas na produção animal podem ser vistas em: EMBRAPA – FORRAGEIRAS: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/li/li01-forrageiras/cap18.pdf. GLOSSÁRIO DE TERMOS AGROPECUÁRIOS: http://aincetooz.blogspot.com.br/2012/03/glossario-de-termos-agropecuarios- do.html. GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS USADOS EM ESTUDOS E CRIAÇÃO DE ANIMAIS: http://www.canil-boiadeiro.com.br/2016/08/30/glossario-termos-tecnicos-usado- em-estudos-e-criacao-de-animais. 2.2.9 Outras Culturas ● Cunicultura: atividade de criação de coelhos. Dentro da Cunicultura, existe o termo “Láparos”, que se refere aos animais do nascimento ao desmame. ● Ranicultura: atividade de criação de rãs. ● Carcinicultura: atividade de criação de crustáceos, especialmente camarões, em viveiros, redes ou tanques. ● Ciprinocultura: atividade de criação de carpas. ● Estrutiocultura: prática agropecuária que consiste na criação de avestruzes. ● Sericicultura: atividade agrícola de criação e/ou exploração racional do bicho-da-seda. 3. ASPECTOS GERAIS DA PRODUÇÃO ANIMAL A característica e o interesse pelos animais de produção variam entre as regiões (ambientes diferentes) e as categorias de criadores (pequenos, médios e grandes). As diferentes espécies executam ações importantes para a produção de produtos de origem animal comestíveis (cárneos, pescados, lácteos, ovos, mel e seus derivados), para a geração de renda, bem como em outras funções não alimentares importantes (meios de transporte, tração animal, lã, seda, polinização e companhia). Segundo a FAO (2009), a produção eficiente de animais de produção requer boas práticas de manejo alimentar e saúde adequadas, bem como o melhoramento genético desde que adaptado aos ambientes de produção específicos. É indispensável conhecer a interação entre a produção animal e as políticas públicas atuais, para que ela continue a desempenhar suas funções social, econômica e cultural nas diferentes regiões do planeta. A produção animal pode ser classificada de diversos modos. De acordo com a ILRI (1995), duas classificações são contextualizadas em termos de: a) tipos de produção (alimentos; insumos para cultivo; e matérias-primas); b) utilizações para as quais essas saídas são colocadas (consumo de subsistência; fornecimento direto de insumos; receita de caixa; poupança e investimentos; e socioculturais). 3.1 Importância da Produção Animal na Satisfação das Necessidades Alimentares “A demanda por produtos de origem animal está aumentando em todo o mundo como resultado do aumento do crescimento populacional, da urbanização e do aumento dos rendimentos” (COUGHENOUR; MAKKAR, 2014, p. 5). Os produtos de origem animal são importantes colaboradores para a nutrição humana. De acordo com Nabarro e Wannous (2014), a produção animal exerce papel relevante no fornecimento de nutrientes, na segurança alimentar e na subsistência de milhares de habitantes no planeta. A criação animal contribui com um terço da proteína que as pessoas consomem. Os animais de produção são uma importante fonte de nutrientes para a população brasileira. 3.2 Interação entre a Produção Animal, a Agricultura e a Agroindústria A produção animal, criação de animais domésticos, exploração pecuária, ou simplesmente pecuária, corresponde ao conjunto de técnicas utilizadas e destinadas à criação e reprodução de animais domésticos com fins econômicos. Esses animais são comercializados e abastecem o mercado consumidor. A produção animal se integra com a agricultura, pois ambas são desenvolvidas em um mesmo local e, em determinados momentos, uma atividade depende da outra. A pecuária produz importantes matérias-primas, provenientes de diversos ramos, que abastecem diversas agroindústrias, como carnes, peles, leite e muitos outros (Quadro 3). Ramos da pecuária Produção animal Matérias-primas Aquicultura Peixes, mexilhões, moluscos, crustáceos, anfíbios e répteis Carne e pele Apicultura Abelhas com ferrão Apitoxina, mel, cera, geleia real, pólen e própolis Avicultura Avicultura de corte e postura Carne, ovos, penas e pele Bovinocultura Bovinos de corte e leite Carne, couro, leite, fâneros, ossos e vísceras Bubalinocultura Búfalos Carne e leite Caprinocultura Caprinos Carne, leite e pele Carcinicultura Camarão em cativeiro Carne Cunicultura Coelhos Carne, pele e pelos Equinocultura Cavalos Trabalho, lazer e esporte Estrutiocultura Avestruzes Carne, pele, plumas e ovos Meliponicultura Abelhas nativas Mel Minhocultura Minhocas Húmus Ovinocultura Ovinos Carne, pele, lã e leite. Ranicultura Rãs Carne, pele e óleo Sericicultura Bicho-da-seda Fio de seda Suinocultura Suínos Carne Quadro 3 – Ramos da pecuária, animais inseridos e respectivas matérias-primas. Fonte: Os autores. Dentre as muitas fontes de renda derivadas da pecuária, destaca-se a produção de carne, leite e ovos. A carne exerce a principal função na produção agroindustrial; nesse sentido, os animais consumidos são: bovinos, suínos, bubalinos, ovinos, caprinos e galináceos. A segunda importante produção está ligada à produção leiteira; nesse caso, são derivados de bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos. O terceiro tipo de produção mais importante é a de ovos, provenientes da criação de galináceos; e, por último, os animais de montaria (equinos, muares e asininos). 3.3 Fatores Condicionantes da Produção Animal Fatores naturais: a) Clima: temperatura, umidade do ar, velocidade do vento e radiação solar (alterações comportamentais e fisiológicas – produção e reprodução); b) Disponibilidade de água; c) Qualidade do solo; d) Relevo; e) Biodiversidade; f) Instalações: necessidades de conforto e bem-estar. Fatores nutricionais: oferta quantitativa e qualitativa de alimentos (volumosos e concentrados). Fatores de manejo: adoção de sistemas de manejo adequados e eficientes a cada espécie animal e área geográfica. Fatores econômicos: a) Estrutura do mercado (atacado e varejo); b) Custo de produção versus preço de mercado; c) Finalidade da produção; d) Políticas públicas (incentivo fiscal, subsídio, financiamento de projetos); e) Influência histórica e social. Ex.: criação de pequenos ruminantes no semiárido. Outrosfatores relevantes são: Genéticos; Saúde e doença; Reprodutivos; Técnicos (acesso à tecnologia); Tipo de produtor (pioneiros, investidores e familiares). UNIDADE 2 - NUTRIÇÃO ANIMAL E ALIMENTAÇÃO INTRODUÇÃO Nesta unidade, estudaremos, de maneira geral, esse importante fator biológico, determinante para a produção e produtividade dos animais de produção. Os temas abordados nesta unidade estão baseados nas obras dos seguintes autores: Andriguetto et al. (1988), Van Soest (1994), McDonald et al. (2010), Bertechini (2012), Gonçalves, Borges e Ferreira (2009), Machado e Geraldo (2011), Silva et al. (2018), Medeiros, Gomes e Bungesnstab (2015). Para que os animais de produção possam desempenhar suas funções de modo eficiente nos seus diferentes estágios fisiológicos, estudar e compreender suas exigências nutricionais, bem como a composição química dos alimentos se torna fundamental. A nutrição animal é a ciência que estuda o correto fornecimento dos nutrientes às células dos animais domésticos, e tem como objetivo final transformar recursos alimentares de menor valor nutricional em alimentos para o consumo humano de melhor valor biológico, tais como carne, ovos, leite, entre outros (MACHADO; GERALDO, 2011, p. 8). O maior custo operacional em uma empresa agropecuária é a conta da alimentação. Para manter esse custo baixo, é preciso fornecer a quantidade certa de alimento para os animais de acordo com a categoria em que eles se encontram. O excesso de alimentos é um desperdício. A subnutrição diminui o desempenho e a rentabilidade dos animais. Portanto, a alimentação e nutrição adequada são cruciais para a rentabilidade de qualquer empresa agropecuária. O termo “Nutrição Animal” é geralmente usado para descrever propriedades de absorção e utilização de nutrientes, incluindo a conversão ótima de alimentos para desempenho, saúde e geração de produtos. Segundo Bertechini (2004, p. 4), “[...] o objetivo final da nutrição animal é de transformar recursos alimentares de menor valor nutricional em alimentos para o consumo humano, de melhor valor biológico”. Segundo McDonald et al. (2010), os alimentos são substâncias que, depois de serem ingeridas por animais, podem ser digeridas, absorvidas e usadas. Em um sentido mais amplo, a palavra "alimento" é usada para se referir a todos os produtos comestíveis. De acordo com Andriguetto et al. (1988, p. 18), “[...] o conceito de alimento é muito amplo, pois engloba todas a substâncias que podem ser incluídas nas dietas dos animais por conterem nutrientes”. 1. CONCEITOS NUTRICIONAIS O principal objetivo de se listar e comentar alguns dos principais conceitos nutricionais é que servirão de referência educacional e recurso para os discentes. Esta listagem também será útil ao ler artigos sobre nutrição animal e alimentação. Digestão: é o conjunto das transformações mecânicas e químicas que os alimentos sofrem ao longo de um sistema digestório, para se converterem em compostos menores hidrossolúveis e absorvíveis pelo organismo. Absorção: envolve os processos químicos e físicos relacionados com o transporte dos nutrientes pela membrana do intestino e seu transporte até a circulação sanguínea ou linfática. Metabolismo: conjunto de reações químicas responsáveis pelos processos de síntese e degradação dos nutrientes na célula. O metabolismo pode estar em estado anabólico, que é a síntese, ou seja, formação de compostos, ou pode estar em catabolismo, em que há degradação, ou "quebra" de compostos. Valor nutricional (VN): segundo Van Soest (1994), para atender as exigências nutricionais de crescimento, manutenção, reprodução e lactação, torna-se necessário conhecer a composição química dos alimentos (os alimentos diferem na percentagem de nutrientes) utilizados na alimentação dos animais de produção. [...] considerando-se os vários aspectos do valor nutricional dos alimentos e sua determinação, o crescente avanço no conhecimento da composição nutricional dos alimentos e das metodologias de análise é essencial na tomada de decisão da melhor prática nutricional para atender as exigências nutricionais em cada fase do ciclo de vida dos animais (MEDEIROS; GOMES; BUNGESNSTAB, 2015, p. 15). Digestibilidade: a disponibilidade dos nutrientes para atender as exigências nutricionais dos animais depende da digestibilidade dos alimentos, pois ela determina a quantidade que é absorvida por um animal. De acordo com Andriguetto et al. (1984, p. 72), “[...] a digestibilidade é definida como sendo a fração do alimento consumido que não é recuperada nas fezes”. A digestibilidade varia de acordo com o tipo de alimento utilizado, bem como o tipo de animal (ruminante ou não ruminante). Palatabilidade: refere-se ao apelo e à aceitabilidade dos alimentos para animais. A palatabilidade é afetada pelo odor, textura, umidade, forma física e temperatura do alimento. Para que uma forragem seja considerada "de alta qualidade", geralmente, deve ser altamente palatável porque a qualidade inclui ingestão, e a palatabilidade é necessária para altos níveis de ingestão. A palatabilidade é uma característica da planta que pode ser medida quando o animal tem a oportunidade de alimentar-se seletivamente. Fatores antinutricionais: além de nutrientes, os alimentos podem conter vários compostos nocivos que podem afetar negativamente o desempenho animal e causar doenças ou mesmo a morte. Esses compostos são chamados de fatores antinutricionais e incluem: taninos, nitratos, alcaloides, cianoglicosídeos, estrogênios e micotoxinas. Alimentos de alta qualidade devem estar livres de níveis prejudiciais de componentes antinutricionais. Ingestão de Matéria Seca: a ingestão de matéria seca é a quantidade (ou a previsão da quantidade) de matéria seca consumida pelo animal e é um conceito central para qualquer discussão sobre nutrição animal. Normalmente, no caso de animais ruminantes, a ingestão aumenta à medida que a digestibilidade da forragem aumenta. No entanto, componentes antinutricionais como taninos e alcaloides em alimentos e forragens podem diminuir a ingestão. A ingestão de matéria seca é afetada pela condição do animal (por exemplo, idade, peso corporal, gestação, nível de produção de leite etc.), fatores de alimentação (por exemplo, palatabilidade, equilíbrio da dieta, fatores antinutricionais no alimento etc.) e o ambiente de alimentação (por exemplo, temperatura, umidade etc.). 1.1 Classificação dos Animais de acordo com a Alimentação e Sistema Digestório A classificação nutricional dos animais leva em consideração as particularidades que caracterizam a fisiologia digestiva nos aspectos anátomo-fisiológicos da digestão, absorção e destinos metabólicos dos nutrientes dietéticos. Os animais são classificados de acordo com o comportamento alimentar em: 1) Carnívoros – digestão química: cães, gatos, aves de rapina. 2) Herbívoros – digestão química, enzimática (microbiana): bovinos, equinos, caprinos, ovinos. 3) Onívoros – digestão química: suínos, homem, frangos de corte, galinhas poedeiras, codornas. Os animais podem ser considerados de acordo com a anatomia do sistema digestório, o que permite agrupá-los em: 1) Monogástricos: carnívoros; herbívoros como o coelho e o cavalo; onívoros como as aves e os suínos. São os animais que apresentam um estômago simples. 2) Ruminantes: ovinos, caprinos, bovinos, bubalinos. São animais chamados de poligástricos, pois o estômago é dividido em rúmen, retículo, omaso e abomaso. Figura 1 - Semiologia do trato digestório dos ruminantes. Fonte: Portal São Francisco (2015). Podemos destacar algumas características que diferem os animais ruminantes dos monogástricos: a) Boca com a seguinte dentição permanente: incisivo (0/4), caninos (0/0), pré- molares (3/3) e molares (3/3), em que o numerador representa os dentesda arcada superior e o denominador os dentes da arcada inferior. Os ruminantes não têm os incisivos superiores e caninos, sendo a preensão do alimento realizada com os incisivos inferiores, superfície superior, lábios e língua. b) Saliva com produção contínua, sem enzimas em sua composição, com presença de fonte de minerais (fósforo e sódio) e nitrogênio para os microrganismos e com ação tamponante, antitimpânica e antiespumante. c) Estômago com quatro compartimentos: rúmen, retículo, omaso e abomaso, sendo os três primeiros aglandulares. O desenvolvimento do rúmen ocorre normalmente nos ovinos aos dois meses e nos bovinos aos 4 a 5 meses, quando os animais lactentes seguem a mãe em pastagens. O desenvolvimento do rúmen pode ser antecipado durante o processo de desmama precoce, em que os animais lactentes são forçados a consumirem dietas sólidas em substituição ao leite em idade mais jovem, podendo a desmama precoce, ou remoção total do leite da dieta dos bezerros, ocorrer por volta de um mês, quando eles já estão consumindo em torno de 600 gramas de concentrado/animal/dia em adição a alimentos volumosos (LANA, 2005, p. 22). 1.2 Fisiologia da Digestão O sistema digestório possui como função principal a digestão e absorção dos nutrientes e excreção dos produtos não utilizados. Nos mamíferos, o sistema digestório possui boca, faringe, esôfago, estômago (rúmen, retículo, omaso e abomaso no caso dos principais ruminantes domésticos), intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), intestino grosso (ceco, cólon e reto), ânus e glândulas acessórias (glândulas salivares, pâncreas e fígado) (LANA, 2007). Adaptações do sistema digestório dos animais ruminantes (rúmen e retículo) e dos herbívoros não ruminantes (ceco e cólon desenvolvidos) favoreceram o estabelecimento de populações microbianas constituídas de bactérias, protozoários e fungos anaeróbicos, que apresentam como importantes funções a fermentação dos alimentos fibrosos, transformando-os em produtos absorvíveis pelo sistema digestório e utilizáveis como fonte de energia pelo animal, que são os ácidos graxos voláteis. Além disso, os microrganismos sintetizados no rúmen são carreados com a digesta para o intestino delgado e, após digeridos, suprem boa parte das necessidades de aminoácidos e vitaminas do complexo B e K. 1.2.1 Ingestão de alimentos A ingestão de alimentos consiste em preensão, mastigação e deglutição. A preensão está relacionada à introdução do alimento na cavidade bucal e varia entre as espécies animais. Tomemos, como exemplos, o cão, que utiliza o focinho, enquanto o equino utiliza o lábio (o superior), os ruminantes usam principalmente a língua, porque esta é cheia de papilas ásperas e é móvel, e os suínos usam o focinho, que seleciona o alimento, e o lábio inferior. A mastigação é o mecanismo de trituração dos alimentos, envolvendo principalmente os dentes molares, visando a aumentar a área de ação enzimática e facilitar a deglutição. A mastigação está relacionada com o tipo de alimento e o animal: o cão mastiga de modo mais rápido e o equino mais lentamente, ao passo que os bovinos apresentam a primeira fase rápida e a segunda (ruminação) mais lenta. Isso é de enorme importância para reduzir o tamanho das partículas dos alimentos e umedecê-los, visando a facilitar a deglutição. Os herbívoros trituram mais os alimentos por conseguirem deslizar os dentes lateralmente. Bovinos, ovinos e caprinos possuem 32 dentes e os equinos, de 36 a 44 dentes. Os frangos de corte e as galinhas poedeiras não possuem dentes. Figura 2 - Dentição de bovinos. Fonte: Lance rural (2021). Figura 3 - Dentição de um cavalo. Fonte: Clube do Cavalo Freio de Prata (2016). INDICAÇÃO DE VÍDEO Sobre a cronologia dentária de equinos, assista ao vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=tdzx3a_3M5Y. SAIBA MAIS Sobre a dentição de bovinos, consulte o site: https://carneanguscertificada.com.br/site/blogInfo/34. A deglutição consiste na passagem do alimento da cavidade bucal para a faringe, sendo dividida em três fases: 1) Oral, que é de ação voluntária até o alimento chegar ao istmo das fauces; 2) Faríngea (rápida); 3) Esofágica. 1.3 Teorias da Regulação do Consumo A fome é o desejo fisiológico por alimentos após um período de jejum e o apetite é a resposta do animal à presença de alimentos. O hipotálamo, região ventral do diencéfalo, é um dos responsáveis pela regulação do apetite. Existem dois centros principais que atuam na regulação do apetite: o centro da fome (núcleo lateral do hipotálamo) e o centro da saciedade (núcleo ventromedial). A lesão desses centros causa respostas inversas (LANA, 2005). https://carneanguscertificada.com.br/site/blogInfo/34 Os mecanismos relacionados ao controle do apetite pelo hipotálamo são o efeito químico, a exemplo do nível de açúcar ou de lipídio no sangue, e o efeito térmico, sendo o hipotálamo um dos responsáveis pelo controle da temperatura corporal, sendo a baixa temperatura estimulante do apetite. A regulação do apetite ocorre também pela influência gástrica, em que há redução no apetite pelos detectores de ácidos graxos voláteis na parte dorsal do rúmen e pelo limite físico causado em consequência da distensão do estômago por alimentos. 1.4 Nutrientes e suas Finalidades (Classificação) Os nutrientes são substâncias ou estruturas dos alimentos que são necessários e/ou utilizados para alimentação e desempenho animal (viver e crescer). O esquema de composição química dos alimentos é apresentado na Figura 4. Figura 4 – Esquema de composição química dos alimentos. Fonte: Andriguetto et al. (1988). Diferentes tipos e classes de animais têm diferentes exigências nutricionais. A exigência nutricional refere-se às quantidades mínimas de nutrientes (energia, proteínas, gorduras, minerais e vitaminas) necessários para atender às necessidades de manutenção, crescimento, reprodução, produção e trabalho dos animais. Os animais em crescimento e produção necessitam de mais nutrientes do que os adultos. O alimento pode ser dividido em uma parte úmida (água) e uma parte sólida (matéria seca). A relação entre umidade e matéria seca (MS) varia, dependendo do tipo de alimento ou ingrediente e o método de processamento. A MS representa tudo o que contém uma amostra de alimento, exceto água; isso inclui proteínas, fibras, gorduras, minerais e vitaminas. Na prática, é o peso total do alimento menos o peso da água, expresso em percentagem (%). É determinado pela secagem da amostra do alimento em um forno, até a amostra atingir um peso estável. Essa é normalmente uma análise simples. Os ingredientes para alimentação são descritos de acordo com seu conteúdo de nutrientes. A análise de nutrientes de diferentes tipos de alimentos permite comparar o valor deles, a fim de proporcionar uma combinação perfeita para satisfazer as exigências nutricionais dos animais de produção. Dessa forma, é possível fornecer uma ração equilibrada ao animal. 1.4.1 Água A água compõe cerca de 75,0% do peso de um animal adulto e até 90,0% do peso de um recém-nascido. Encontra-se em todas as células do organismo animal. A quantidade necessária por um animal está relacionada à atividade que ele desempenha e ao seu estádio de crescimento ou produção (lactação, gestação etc.). A água é essencial para a sobrevivência de um animal. A água pode entrar no corpo dos animais de diferentes maneiras. A maior parte dela entra por meio do seu consumo. Ela também é encontrada nos alimentos que um animal consome e pode ser produzida por meio de reações bioquímicas, bem como pode ser perdida por meio da urina, fezes, suor e vapor dos pulmões. A água consumida por um animal deve estar limpa e fresca, devendo sempre estar disponível para os animais. As duas principais funções da água no corpo são:regular a temperatura corporal e ajudar no transporte de nutrientes. A pecuária pode ter problemas de saúde resultantes de água de baixa qualidade. Uma empresa agropecuária bem-sucedida exige um bom abastecimento de água, tanto em termos de quantidade como de qualidade. Fornecimento seguro de água é absolutamente essencial para o rebanho. Se o rebanho não beber bastante água potável todos os dias, a ingestão de alimentos (volumosos e concentrados) e a produção cairão, e o produtor perderá dinheiro. 1.4.2 Proteínas As proteínas são formadas fundamentalmente por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. A proteína é um nutriente essencial para a vida dos animais. Segundo McDonald et al. (2010, p. 53), as proteínas são encontradas em todas as células vivas, sendo que cada espécie tem suas proteínas específicas. As proteínas têm a função principal de compor as estruturas do organismo dos animais como, por exemplo: tecido muscular, órgãos internos, pele, pelos, penas, unhas, bicos, chifres, glóbulos de sangue, anticorpos, enzimas, hormônios, tendões, artérias, DNA, cartilagens etc. Podemos dizer que as proteínas são essenciais para as células em crescimento, estão incluídas nas estruturas do corpo, bem como podem ser utilizadas como energia. Após a ingestão das proteínas pelos animais, são elas desdobradas em aminoácidos no processo digestivo. São então absorvidas no trato digestivo, caindo na corrente circulatória. Ao nível dos tecidos de cada órgão ou tecido retira os aminoácidos necessários para refazer suas proteínas (ANDRIGUETTO et al., 1988, p. 29). Na sua composição, as proteínas possuem longas cadeias de vários tipos de aminoácidos (AAs). Os aminoácidos são classificados de acordo com a sua importância para satisfazer uma necessidade em: essenciais (AAE) e não essenciais (AANE). Os AAE são de grande importância ao desenvolvimento dos animais, uma vez que estes não são capazes de sintetizá-los, sendo necessária a adição deles nas dietas. Já os AANE são sintetizados no organismo animal. As plantas e muitos microrganismos são capazes de sintetizar proteínas a partir de compostos nitrogenados simples, como os nitratos. Os animais não podem sintetizar o grupo amino e, para construir proteínas do corpo, devem ter uma fonte alimentar de aminoácidos. Certos aminoácidos podem ser produzidos de outros por um processo conhecido como transaminação, mas os esqueletos de carbono de vários aminoácidos não podem ser sintetizados no corpo animal; estes são referidos como aminoácidos essenciais ou indispensáveis (McDONALD et al. 2010, p. 58). A descrição dos principais aminoácidos essenciais e não essenciais é apresentada no Quadro 1. AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS AMINOÁCIDOS NÃO ESSENCIAIS Arginina (menos para suínos) Ácido aspártico Fenilalanina Ácido glutâmico Histidina Ácido hidroxiglutâmico Isoleucina Alanina Leucina Cistina Lisina Citrolina Metionina Hidroxiprolina Treonina Norleucina Triptofano Prolina Valina Serina Glicina (para aves: pintos) Tirosina Glicina (exceto aves) Quadro 1 – Descrição dos principais aminoácidos (essenciais e não essenciais). Fonte: McDonald et al. (2010). 1.4.3 Glicídios ou Carboidratos Os carboidratos são componentes dos alimentos que fornecem energia, sendo compostos por carbono, hidrogênio e oxigênio. Eles devem representar cerca de 75,0% da dieta dos animais de produção. A energia que eles fornecem força movimentos musculares, produz o calor do corpo (que ajuda a manter o animal aquecido), bem como auxilia no uso de proteínas e gorduras pelo organismo. Os carboidratos podem ser classificados em: estruturais (complexos) e não estruturais (simples). Os carboidratos estruturais (complexos) formam a parede celular da planta e incluem celulose, hemicelulose, lignina e pectina, sendo mais difíceis de digerir do que os carboidratos simples. Essas substâncias são encontradas principalmente em forragens (pastagens). A descrição dos carboidratos estruturais é apresentada no Quadro 2. CARBOIDRATO DESCRIÇÃO Celulose A celulose é um importante carboidrato estrutural que está presente nas paredes celulares da planta. A celulose é uma parte importante da fibra estrutural em forragens e pode ser utilizada por microrganismos no rúmen. Hemicelulose A hemicelulose é um carboidrato que existe em quase todas as paredes celulares da planta, juntamente com a celulose. À medida que o teor de hemicelulose aumenta na alimentação animal, a ingestão voluntária de alimentos geralmente diminui. Lignina A lignina é um composto complexo de carboidratos, um componente estrutural importante de plantas maduras, contida na porção fibrosa de hastes de plantas, folhas, espigas e cascas. Não é digerível e, portanto, tem um impacto negativo na digestibilidade da celulose. À medida que o teor de lignina em uma alimentação aumenta, a digestibilidade da celulose diminui, reduzindo assim a quantidade de energia potencialmente disponível para o animal. Pectina A pectina é um polissacarídeo intercelular que funciona como uma cola celular. Como os carboidratos não estruturais, é facilmente degradada no rúmen. Quadro 2 – Descrição dos carboidratos estruturais (complexos). Fonte: Andriguetto et al. (1988). Os carboidratos não estruturais (CNE), também chamados de carboidratos simples, são os amidos (encontrados principalmente nas porções de grãos ou semente e/ou raiz das plantas) e açúcares, armazenados dentro da célula que podem ser facilmente digeridos pelo animal. Por isso, são considerados como uma fonte de energia prontamente disponível. A descrição dos carboidratos não estruturais é apresentada no Quadro 3. CARBOIDRATO DESCRIÇÃO Açúcares Existem dois tipos de açúcares: açúcares simples, ou monossacarídeos, e açúcares duplos, ou dissacarídeos. Glucose, galactose e frutose são açúcares simples. Maltose, lactose e sacarose são açúcares duplos. A glicose é uma excelente fonte de energia para a maioria das células. Amido O amido é uma importante fonte de energia. O amido é convertido em glicose no processo digestivo. Quadro 3 – Descrição dos carboidratos não estruturais (simples). Fonte: Andriguetto et al. (1988). 1.4.4 Lipídeos Os lipídeos são substâncias encontradas em tecidos vegetais e animais que são insolúveis em água, mas solúveis em benzeno ou éter; os lipídeos incluem glicolipídios, fosfoglicerídeos, gorduras, óleos, ceras e esteroides. Gorduras e óleos também são conhecidos como lipídeos. Um lipídeo é um componente alimentar que fornece energia e também é a forma como os animais armazenam energia. As gorduras são sólidas e os óleos são líquidos à temperatura ambiente. As gorduras contêm as maiores quantidades de energia. Na verdade, as gorduras contêm 2,25 vezes mais energia que os carboidratos. As gorduras desempenham um papel importante no fornecimento de energia necessária para um animal para a manutenção normal do corpo. Boas fontes de gorduras em rações de animais (monogástricos) incluem farinha de carne e osso ou farinha de peixe. 1.4.5 Vitaminas As vitaminas são substâncias orgânicas que geralmente funcionam como partes de sistemas enzimáticos essenciais para muitas funções metabólicas. Elas participam do metabolismo de proteínas, carboidratos e lipídios; regulam a produção de componentes corpóreos (ossos, peles, hormônios, nervos, sangue etc.); participam da resposta imunológica; e previnem o aparecimento de doenças relacionadas a deficiências nutricionais. As vitaminas são substâncias de natureza orgânica, cujas estruturas e propriedades são, mais ou menos, facilmente destruídas pelos agentes físicos e químicos. Estas substâncias, que o organismo animal não pode elaborar, são indispensáveis à vida dos seres superiores. Sua ausência (avitaminose) causa distúrbios característicos geralmente mortais. Sua ação
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