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0 FERNANDO SLEDER Desenvolvimento e caracterização de linguiça frescal de Tambaqui (Colossoma macropomum) Cuiabá – MT 2015 1 FERNANDO SLEDER Desenvolvimento e caracterização de linguiça frescal de Tambaqui (Colossoma macropomum). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal. Área de Concentração: Tecnologia de Produtos de Origem Animal Orientador: Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho. Coorientadora: Profa. Dra. Janessa Sampaio de Abreu Ribeiro. Cuiabá – MT 2015 2 Dados Internacionais de Catalogação na Fonte. Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo (a) autor (a). Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte. S632d Sleder, Fernando. Desenvolvimento e caracterização de linguiça frescal de Tambaqui (Colossoma macropomum) / Fernando Sleder. -- 2015 70 f.: il.; 30 cm. Orientador: Edivaldo Sampaio de Almeida Filho. Co-orientadora: Janessa Sampaio de Abreu Ribeiro. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Cuiabá, 2015. Inclui bibliografia. 1. pescado. 2. linguiça. 3. vida de prateleira. 4. sensorial. 3 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. 4 FOLHA DE APROVAÇÃO Aluno: FERNANDO SLEDER Título: Desenvolvimento e caracterização de linguiça frescal de Tambaqui (Colossoma macropomum). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciência Animal. Aprovado em: ____________________________ Banca Examinadora: ________________________________________ Prof. Dr. Edivaldo Sampaio de Almeida Filho. Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso _________________________________________ Profa. Dra. Janessa Sampaio de Abreu Ribeiro. Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso. _________________________________________ Profa. Dra. Cleise de Oliveira Sigarini. Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso. __________________________________________ Profa. Dra. Daniella Moreira Pinto. Instituição: Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG 5 Dedico esta conquista a minha amada esposa Lóidi e agradeço a ela pelo apoio incondicional em todos os momentos desta minha caminhada. E aos meus pais que me ofereceram educação e estudos, os quais constituíram as bases para a pessoa que me tornei. 6 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pela força, fé e esperança nos momentos mais difíceis. A minha esposa Lóidi pela alegria, amor e companheirismo. Aos meus pais Nelvir Sleder e Nelcy Wilma Sleder pelo amor e apoio. A minha querida família base de tudo na vida. Aos meus amigos do Büder Bier pelos momentos de alegria e descontração. Ao meu orientador professor Dr. Edivaldo Almeida, pela orientação, amizade e paciência. A minha coorientadora professora Dra. Janessa Sampaio de Abreu Ribeiro, pelo ensinamento, aprendizado e paciência em corrigir meus artigos e trabalhos. A professora Msc. Luciana Kimie Savay-da Silva, pela paciência e ajuda nas correções dos meus artigos e projetos. A minha colega Daiane pelo apoio e ajuda em todos os momentos. 7 RESUMO SLEDER, F. Desenvolvimento e caracterização de linguiça frescal de tambaqui (Colossoma macropomum). 2015 69f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal), Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2015. Geralmente a comercialização do pescado ainda é feita com o peixe inteiro resfriado ou congelado, sem que haja nenhum processamento para agregar valor e conveniência. Produtos processados possuem atributos sensoriais diferenciados além de facilidade no preparo. O objetivo deste trabalho foi elaborar e caracterizar, através de análises físicas e químicas, microbiológicas e sensoriais, um embutido a base de tambaqui (Colossoma macropomum). Foram desenvolvidas três formulações, que distinguiam entre si com relação ao percentual de gordura: 0%, 4,5% e 9%. Para determinação da vida de prateleira, amostras dos produtos foram armazenadas sob refrigeração 4°C por 12 dias e realizaram-se análises microbiológicas nos dias 0, 3, 7 e 12. Foram realizadas análises de composição centesimal, força de cisalhamento, perda de peso por cocção e capacidade de retenção de água. O prazo de validade dos embutidos foi estimado em 7 dias de estocagem refrigerada a 4°C. Os tratamentos apresentaram altos índices de aceitação, acima de 80%, porém, o tratamento com 9% de gordura apresentou as maiores médias nos atributos avaliados. A composição centesimal dos tratamentos apresentou as seguintes variações em g/100g: umidade 72,73 a 68,82; proteína 18,85 a 18,90; lipídeos 2,90 a 8,33 e cinza 3,86 a 4,20. A força de cisalhamento oscilou de 5,92 a 8,14 N; a capacidade de retenção de água variou de 71,83 a 74,71% e a perda de peso por cocção de 24,21 a 26,59%. Palavras-chave: pescado, linguiça, vida de prateleira, sensorial. 8 ABSTRACT Development and characterization of a tambaqui (Colossoma macropomum) sausage In general, fish is still sold in its entirety (whole body) cooled or frozen, with no previous processes included to add value and convenience. Processed products have different sensory attributes, in addition to ease of preparation. The objective of this study was to develop and characterize, through physicochemical, microbiological and sensory traits, a sausage based on tambaqui fish (Colossoma macropomum). Three formulations, different as to the percentage of fat — 0, 4.5, and 9% — were developed. To determine shelf life, samples of the products were stored refrigerated at 4 ºC for 12 days and microbiological analyses were performed on days 0, 3, 7, and 12. Analyses of centesimal composition, shear force, cooking weight loss and water-holding capacity were carried out. The expiration date of the sausages was estimated as seven days of storage. The treatments showed high acceptance rates, above 70%; however, the treatment with 9% fat showed the highest mean values in the evaluated attributes. The centesimal composition of the treatments showed the following variations in g/100 g: moisture, 72.73 to 68.82; protein, 18.85 to 18.90; lipids, 2.90 to 8.33; and ash, 3.86 to 4.20. Shear force varied from 5.92 to 8.14 N; water-holding capacity varied from 71.83 to 74.71%; and cooking weight loss, from 24.21 to 26.59%. Index terms: fish, sausage, shelf life, sensory 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Produção pesqueira Mundial 1996-2012 .................................................. 15 Figura 2 - Produção pesqueira Nacional 2007-2011 ................................................ 17 Figura 3 - Tambaqui (Colossoma macropomum) ..................................................... 21 Figura 4 - Modelo de regressão de coliformes totais em função dos dias de estocagem................................................................................................................................. 59 Figura 5 - Modelo de regressão de coliformes termotolerantes em função dos dias de estocagem ............................................................................................................... 60 Figura 6 - Modelo de regressão de bactérias psicrotróficas em função dos dias de estocagem. .............................................................................................................. 60 Figura 7 - Modelo de regressão de bactérias mesófilas em função dos dias de estocagem. .............................................................................................................. 61 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Produção em toneladas, da pesca extrativa continental de Tambaqui e demais espécies ...................................................................................................... 19 Tabela 2 - Produção em toneladas, da aquicultura continental de Tambaqui e demais espécies ................................................................................................................... 20 Tabela 3 - Características físico-químicas dos diferentes tipos de linguiças ............ 35 Tabela 4 - Composição centesimal das diferentes formulações de linguiça ............. 57 Tabela 5 - Análises físicas das diferentes formulações de linguiça .......................... 59 Tabela 6 - Analises microbiológicas das diferentes formulações de linguiça ............ 62 Tabela 7 - Índices de aceitabilidade dos atributos sensoriais das diferentes formulações. ............................................................................................................ 63 Tabela 8 - Teste de comparação de médias para os atributos das diferentes formulações. ............................................................................................................ 63 11 SUMÁRIO Capitulo 1 – Considerações Iniciais ............................................................. 13 1 Introdução ................................................................................................. 13 2 Revisão Bibliografica ................................................................................. 16 2.1 Produção Mundial de Pescado ............................................................ 15 2.2 Produção Nacional do Pescado .......................................................... 18 2.2.1 Pesca em Mato Grosso .............................................................. 20 2.2.2 O Tambaqui ................................................................................ 21 2.3 Importância do Pescado como Alimento ............................................. 24 2.4 Consumo de Alimentos mais Saudáveis ............................................. 27 2.5 Produtos à Base de Pescado .............................................................. 29 2.6 Embutidos ........................................................................................... 33 2.7 Contaminantes Microbiológicos do Pescado e Derivados ................... 35 2.7.1 Coliformes .................................................................................. 37 2.7.2 Escherichia coli ........................................................................... 37 2.7.3 Staphylococcus ........................................................................... 38 2.7.4 Salmonella .................................................................................. 39 3 Referências Bibliográficas ......................................................................... 41 Capitulo 2 – Desenvolvimento e caracterização de embutido de tambaqui (Colossoma macropomum)............................................................................ 51 1 Introdução ................................................................................................. 52 2 Material e Métodos .................................................................................... 53 2.1 Elaboração do embutido ..................................................................... 54 2.2 Análises físicas e químicas ................................................................. 54 2.3 Análises microbiológicas ..................................................................... 55 2.5 Análise sensorial ................................................................................. 55 2.6 Análise estatística ............................................................................... 55 3 Resultados e Discussão ............................................................................ 56 3.1 Avaliação da qualidade da matéria-prima.. .......................................... 56 3.2 Análises físico-químicas do embutido ................................................. 57 3.3 Análises microbiológicas do embutido ................................................. 59 3.4 Análises sensorial do embutido. .......................................................... 62 12 4 Conclusão ................................................................................................. 64 5 Referências Bibliográficas ......................................................................... 64 13 Capitulo 1 – Considerações Iniciais 1 Introdução Produtos considerados saudáveis estão recebendo cada vez mais atenção do mercado consumidor e a indústria tem se antecipado aos desejos desses consumidores lançando produtos com baixo teor calórico (TEIXEIRA, 2000). O consumidor está cada vez mais exigente e consciente, além de procurar por produtos que tenham qualidade e conveniência, quer alimentos que sejam seguros do ponto de vista microbiológico e sanitário (SAVAY DA SILVA, 2009). Os produtos cárneos processados possuem aproximadamente 20 a 30% de gordura. Pelo fato da gordura ser apontada como uma das causas de problemas de saúde, como arteriosclerose, câncer de cólon e obesidade, o consumidor consciente tem dado preferência a produtos cárneos “low fat” ou “reduced fat”. Por este motivo, a indústria alimentícia tem focado no desenvolvimento de novas tecnologias para processamento de alimentos com pouca gordura ou com gordura reduzida usando substitutos da gordura que fornecem ao produto características sensoriais bem próximas ao tradicional (CANDOGAN e KOLSARICI, 2003). O pescado e seus derivados vem ganhando destaque na preferência do consumidor que encontra nos mesmos, valores nutricionais superiores quando comparado com outros tipos de carne (GONÇALVES, 2011). Nos últimos anos o interesse pelo consumo de pescado tem aumentado e este aumento se deve em grande parte às informações sobre o mesmo quanto ao seu valor nutricional e sua associação com a melhoria na saúde, destaque observado nas populações que possuem o pescado como base de sua alimentação. Estre os benefícios encontrados pelo consumo de pescado foi identificada a redução dos níveis de colesterol, da incidência de acidente vascular cerebral, doença cardíaca, e Alzheimer, aumento da função cognitiva em adultos e impedir o nascimento de crianças com baixo peso e prematuras. (BURGER, 2008). Ogawa e Maia (1999) salientam que os lipídios do pescado, além de fonte energética, são ricos em ácidos graxos poliinsaturados ω-3, especialmente ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA), que apresentam efeitos redutores sobre os triglicerídeos e colesterol sanguíneo, diminuindo consequentemente os riscos de incidência de doenças cardiovasculares como arteriosclerose, enfarto do miocárdio e trombose cerebral. O pescado podeser 14 também uma excelente fonte de minerais com importância fisiológica, tais como magnésio, manganês, zinco, cobre, entre outros, com quantidades relativamente elevadas, sendo também rico em vitaminas do complexo B, destacando-se as vitaminas lipossolúveis A e D. Segundo Neiva et al. (2011) para que ocorra um aumento no consumo do pescado, são necessárias estratégias para superar ou contornar certas limitações de comercialização apresentados pelo peixe como a forma de apresentação do produto e a aceitabilidade frente ao consumidor. Um elemento-chave para aumentar o consumo é fornecer produtos à base de peixe preservando o alto valor nutricional, às expectativas dos clientes e também os atributos sensoriais. No entanto, Maciel et al. (2013) relata que os consumidores estão mais exigentes quanto as suas escolhas, e questões relacionadas com a qualidade dos alimentos estão na vanguarda em relação a preocupações dos consumidores, estratégias da indústria e, em alguns casos, as políticas governamentais. Uma parcela consideravel da população brasileira, principalmente de baixa renda, sofre de deficiência nutricional devido a uma alimentação desbalanceada, de baixa qualidade e com baixos níveis de proteína. Os resíduos obtidos na aquicultura, pesca e na elaboração de produtos a base de pescado podem chegar até a 70% do peso inicial da matéria prima. Uma parte desse resíduos tem sido destinados quase que totalmente para a fabricação de farinha de pescado que erá destinada ao preparo de rações, ou é descartada na natureza, aumentanto o problema da contaminação ambiental. Uma solução para esse problema seria a utilização dessas matérias primas, com alto conteúdo protéico, para a fabricação de novos produtos (produtos formatados, reestruturados e embutidos) como é o caso da carne mecanicamente separada (CMS) de pescado provenientes de resíduos da filetagem, de peixes eviscerados e descabeçados ou de peixes de menos valor comercial, a chamada fauna acompanhante (GONÇALVES, 2011). O desenvolvimento de novos produtos é fator essencial para a sobrevivência das empresas. Para as empresas do ramo alimentício isso é particularmente válido, pois necessitam estar sempre lançando novos produtos para se manterem a frente da concorrência e ativas no mercado. Para que um novo produto chegue até o consumidor é necessário percorrer um longo caminho, passando pela identificação dos desejos ou necessidades do consumidor, desenvolvimento do conceito do produto, adequação dos conceitos à estratégia da empresa, desenvolvimento do 15 produto, teste de mercado e finalmente lançamento e acompanhamento do produto. Essas atividades demandam administração de recursos humanos, tempo e recursos financeiros (WILLE, 2004). A linguiça é um produto embutido elaborado com carnes ou outros tecidos animais comestíveis. Esses produtos podem ser classificados, segundo o seu processo de fabricação: em frescos, cozidos, defumados ou secos, e de acordo com a sua composição: em simples ou mistos. E conforme suas características tecnológicas, possuem diferentes denominações (BRASIL, 2000). Considerando esses aspectos, o presente estudo teve como objetivo desenvolver e caracterizar um embutido a base de tambaqui (Colossoma macropomum) com diferentes teores de gordura adicionada através de análises físicas, químicas e bacteriológicas, verificar o índice de aceitação através de análise sensorial e acompanhar o crescimento bacteriano durante 12 dias a 4°C. 16 2 Revisão Bibliográfica 2.1 Produção Mundial de Pescado. De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO, 2012) a pesca de captura e a aquicultura forneceram ao mundo cerca de 148 milhões toneladas de pescado em 2010 gerando um valor total de 217,5 bilhões de dólares. Destes, aproximadamente 128 milhões de toneladas foram destinados ao consumo humano. No ano de 2011 a produção aumentou para 155 milhões de toneladas (Figura 1), cerca de 4 por cento, das quais 131 milhões de toneladas foram destinadas para o consumo humano. Em 2012 a produção mundial de pescado saltou para 158 milhões de toneladas sendo que desse montante 136 milhões de toneladas foram destinadas ao consumo humano (FAO, 2014). Com o crescimento contínuo da produção de pescado e com a melhora das redes de distribuição, o abastecimento global dos produtos oriundos da pesca tem aumentado consideravelmente nas últimas cinco décadas, com uma taxa média de crescimento de 3,2 por cento ao ano no período de 1961 a 2009 (Figura 1), superando a taxa de crescimento da população mundial que foi de 1,7 por cento ao ano (FAO, 2012). Figura 1. Produção pesqueira mundial 1996-2012. Fonte: Fao, 2014. De acordo com a FAO (2012), o pescado e seus derivados representam uma fonte muito valiosa de nutrientes e proteínas essenciais para se ter uma nutrição equilibrada e desfrutar de boa saúde. Segundo dados da instituição a oferta global de pescado per capita praticamente dobrou em 5 décadas, aumentando em média de 9,9 0 20000000 40000000 60000000 80000000 100000000 120000000 140000000 160000000 180000000 M ilh õ e s d e T o n e la d a s Anos Produção Pesqueira Mundial 17 kg em 1960 para 18,6 kg em 2010. Em 2009, o pescado representou 16,6% do consumo de proteína animal da população mundial e de 6,5% de toda proteína consumida. Mundialmente, o pescado fornece a cerca de 3 bilhões de pessoas em torno de 20% do seu consumo de proteínas animais e a 4,3 bilhões de pessoas cerca de 15% destas proteínas. Há claras diferenças entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento no que diz respeito à contribuição do pescado na ingestão de proteína animal. Apesar dos níveis relativamente baixos de consumo de pescado nos países em desenvolvimento, este representa uma proporção significativa do consumo de proteínas animais de cerca de 19,2% e no caso dos países de baixa renda com déficit de alimentos, 24%. No entanto, em ambos os países desenvolvidos e em desenvolvimento, essa proporção diminuiu ligeiramente nos últimos anos por conta de um crescimento mais rápido do consumo de outras proteínas animais. Em 2010 a produção mundial de pescado, tanto a pesca extrativa quanto a aquicultura, registraram um aumento de 3% em relação a 2009 atingindo aproximadamente 168 milhões de toneladas. Os maiores produtores mundiais dessas modalidades foram a China: com 63,5 milhões de toneladas; a Indonésia: com 11,7 milhões de toneladas; a Índia: com 9,3 milhões de toneladas e o Japão: com de 5,2 milhões de toneladas. O Brasil aparece neste cenário ocupando a 19° posição, com apenas 1,3 milhões toneladas cerca de 0,75% da produção mundial de pescado, caindo uma posição em relação ao ano de 2009 (FAO, 2012). Com relação aos países da América do Sul, considerando os que realizam as suas atividades de pesca no oceano Pacífico, fica evidenciado que a sua produção é bem superior à produção brasileira. Em primeiro lugar está o Peru que registrou uma produção em torno de 4,4 milhões de toneladas; em segundo lugar vem Chile com cerca de 3,8 milhões de toneladas e em terceiro lugar o Brasil com 1.3 milhões de toneladas. Em quarto lugar se encontra a Argentina com uma produção de aproximadamente 814 mil toneladas de pescado (FAO, 2012). A produção de pescado proveniente da pesca extrativa, marinha e continental, no ano 2010, tem a China como a maior produtora mundial, com aproximadamente 15,7 milhões de toneladas, logo após vem a Indonésia com 5,4 milhões de toneladas, Índia com 4,7 milhões de toneladas e os Estados Unidos com 4,4 milhões de toneladas. Brasil ocupa nesta modalidade a 25° posição, caindo duas posições em relação a 2009, com uma produção de 785.366 toneladas no ano de 2010 (FAO, 2012). 18 A produção aquícola mundial em 2010 teve a China comoo maior produtor com cerca de 47,8 milhões de toneladas, seguidas de Indonésia e Índia na segunda e terceira posições, com 6,3 milhões e 4,6 milhões de toneladas, respectivamente. O Brasil se encontra na 17° posição mundial, com 479.399 toneladas em 2010, mantendo a mesma posição em relação a 2009. Na América do Sul o Chile foi o maior produtor (713.241 toneladas), enquanto o Brasil registrou uma produção de 479.399 toneladas. Na terceira posição se encontra o Equador, com 271.919 toneladas em 2010 (FAO, 2012). 2.2 Produção Nacional do Pescado Seguindo a tendência mundial, a produção de pescado no Brasil tem aumentado continuamente ao longo dos anos. De acordo com os dados estatísticos fornecidos pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), (Brasil 2007a, 2008-2009, 2010 e 2011), no ano de 2007 a produção nacional de pescado foi de 1,07 milhões de toneladas; 1,15 milhões de toneladas em 2008; 1,24 milhões de toneladas em 2009, registrando um incremento de aproximadamente 13,2% em relação a 2010 (1,26 milhões de toneladas) e para o ano de 2011 foi de 1,43 milhões de toneladas (Figura 2). Figura 2. Produção pesqueira Nacional 2007-2011 Fonte: Brasil, 2011. Considerando a produção nacional de pescado por Unidade da Federação para o ano de 2011, o Estado de Santa Catarina se manteve como o maior produtor de pescado do Brasil, com 194 mil toneladas (13,6%), seguido pelos estados do Pará com 153 mil toneladas (10,7%) e Maranhão com 102 mil toneladas (7,2). O estado de Mato Grosso apresentou uma produção de 41 mil toneladas em 2010 e aumentou 0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000 1400000 1600000 2007 2008 2009 2010 2011M ilh õ e s d e t o n e la d a s Anos Produção Pesqueira Nacional 19 para 55 mil toneladas (24%) no ano de 2011 ocupando o 18° lugar o que corresponde a aproximadamente 4% da produção nacional de pescado (BRASIL, 2011). Em 2011, a produção total da pesca extrativa no Brasil foi de 803,2 mil toneladas, caracterizando um acréscimo de aproximadamente 2,3% na produção em relação a 2010 que foi de 785,3 mil toneladas (BRASIL 2011). A pesca extrativa marinha continuou sendo a principal fonte de produção de pescado nacional, sendo responsável por 553 mil toneladas (38,7% do total de pescado produzido), seguida pela aquicultura continental, 544 mil toneladas (38,0%). A pesca extrativa continental registrou 249,6 mil toneladas (17,4%). Em 2011, a região Nordeste continuou registrando a maior produção de pescado do país, com 454 mil toneladas, respondendo por 31,7% da produção nacional. A região Sul registrou 336 mil toneladas (23,5%); a região Norte 326 mil toneladas (22,8%); a região Sudeste 226 mil toneladas (15,8%) e a região Centro-Oeste 88 mil toneladas (6,2%) (BRASIL 2011). A pesca extrativa continental em 2011 registrou uma produção de aproximadamente 250 mil toneladas. A maior produtora desta modalidade, sendo responsável por 55% da captura total, foi a região Norte, com cerca de 137 mil toneladas. O Nordeste foi a segunda maior região com produção pesqueira continental registrada de 68,7 mil toneladas. Em terceiro, quarto e quinto lugar estão as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul que apresentaram produções pouco expressivas em comparação com as regiões Norte e Nordeste, sendo responsáveis por 24 mil toneladas, 13 mil toneladas e 5 mil toneladas, respectivamente (BRASIL, 2011). A aquicultura marinha apresentou em 2011 uma produção de 84,2 mil toneladas. Em relação a 2010, houve uma pequena redução de 1,2% sendo que neste período a produção foi de 85,1 mil toneladas. A produção aquícola marinha por região teve o Nordeste como o maior produtor com 77,4% em 2011. As regiões Sul, Norte e Sudeste vem logo em seguida, com uma produção total de 22,6% (BRASIL, 2011). Do ano de 2010 para 2011, a aquicultura continental aumentou de forma significativa demonstrando um crescimento consistente desse setor com um aumento de aproximadamente 38,1%. Este crescimento vem ocorrendo deste o ano de 2009 onde a produção era de 337,4 mil toneladas, sendo que no ano de 2010 a produção foi de 394,3 mil toneladas (um aumento de 14,5%), e em 2011 a produção saltou para 544,5 mil toneladas. De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) este aumento na produção pode ser explicado ao desenvolvimento do setor que se ocorreu 20 devido a ampliação de políticas públicas que facilitaram o acesso ao produtor aos programas de fomento oferecidos pelo governo, tais como o Plano Mais Pesca e Aquicultura desenvolvido pelo MPA (BRASIL, 2011). A produção nacional da aquicultura continental em 2011 assinalou a Região Sul com a maior produção de pescado, registrando 28,2% da produção, com cerca de 153,6 mil toneladas. Em segundo lugar se encontra a região Nordeste com uma produção de 24,7% do total nesta modalidade, com 134,3 mil toneladas. As demais regiões, Norte, Sudeste e Centro-Oeste vem logo em seguida ocupando a terceira, quarta e quinta posição respectivamente na participação da produção total nacional com 17,4%: 94,5 mil toneladas, 15,9%: 86,8 mil toneladas e 13,8%: 75,1 mil toneladas. Considerando a produção nacional de pescado da aquicultura continental por Unidade da Federação no ano de 2011, o Estado do Paraná se encontra como o maior produtor do Brasil com 73,8 mil toneladas, seguido por, de Santa Catarina com 53.6 mil toneladas, e Mato Grosso com 48,7 mil toneladas (BRASIL, 2011). As duas espécies mais cultivadas em 2011 foram a tilápia e o tambaqui que juntas representaram 67% da produção nacional (365 mil toneladas de pescado enquanto aquicultura continental). Também merece atenção a produção de tambacu, carpa e pacu, que somando as suas produções representaram 20,1% da produção (109,5 mil toneladas) (BRASIL, 2011). O Tambaqui vem apresentando um crescimento acentuado nos últimos anos. De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (BRASIL 2011), foram capturadas mais de 16 mil toneladas de Tambaqui entre os anos 2008 e 2011 pela pesca extrativa continental (Tabela 1). Tabela 1. Produção em toneladas, da pesca extrativa continental de Tambaqui e demais espécies. 2008 2009 2010 2011 Total Tambaqui 4.412 4.044 4.203 4.234 16.896 Demais espécies 255.260 233.972 243.174 243.820 976.229 Fonte: Brasil, 2012. A produção de Tambaqui, enquanto aquicultura continental apresentou um crescimento de 16% ao ano no período de 2008 a 2011 (Tabela 2). Em 2010 foram produzidas aproximadamente 54 mil toneladas de Tambaqui. No ano de 2011 esse 21 número praticamente dobrou (50%) passando para 111 mil toneladas, sendo a segunda espécie mais produzida, ficando atrás apenas da Tilápia com 253 mil toneladas. Na pesca extrativa e aquicultura, no período de 2008 a 2011, a produção foi de 267.580,3 toneladas de Tambaqui, representando cerca de 10,5% do total de toneladas de peixe produzidos nas mesmas modalidades de pesca acima mencionadas (BRASIL 2011). Tabela 2. Produção em toneladas, da aquicultura continental de Tambaqui e demais espécies (BRASIL, 2012). Tambaqui Demais espécies 2008 2009 2010 2011 Total 38.833 46.454 54.313 111.084 250.684 282.008 337.353 394.340 544.490 1.558.191 Fonte: Brasil, 2012. Somente a produção de tambaqui em cativeiro entre 2008 e 2011 foi de 250.684,3 toneladas (Tabela 2), sendo que no ano 2011 foi a segunda espécie mais produzida em cativeiro, com um total de 111.084,1 toneladas, representando 20,4% do total de espécies produzidas em cativeiro. Outro dado interessante com relação à criação de Tambaqui em cativeiro no ano de 2011, é que a produção de Tambaqui foi mais que uma vez e meia maior do que a produção de espécies como o Pacu ou o hibrido Tambacu, ambas espécies de peixes redondos assim como o tambaqui, que geraram cerca de 71 mil toneladas as duas espécies juntas (BRASIL, 2011).2.2.1 Pesca em Mato Grosso O Estado de Mato Grosso, no ano de 2011, ocupou o terceiro lugar de produção aquícola continental nacional. Tal resultado pode estar relacionado às características propícias que a região possui para criação, a alguns incentivos fiscais e a publicação de leis do governo do estado de Mato Grosso que beneficiam a piscicultura dentro do estado. Pode-se citar a Lei Estadual nº 8.464 de 04/04/2006 que define e disciplina a piscicultura e a Lei Estadual n° 8.684 de 20/07/2007 a qual garante incentivos fiscais que estimulam a criação, industrialização e o comércio de pescado proveniente da aquicultura, pela isenção da cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) (BARROS et al., 2011). Segundo Moraes (2012) as principais espécies em desenvolvimento no Estado de Mato Grosso estão os peixes redondos como Pacu - Piaractus mesopotamicus, 22 Tambaqui - Colossoma macropomum e Pirapitinga - Piaractus brachypomus e os peixes lisos como “Ponto e Vírgula” – resultado do cruzamento de fêmea de Pseudoplatystoma reticulatum e macho Pseudoplatystoma corruscans e o Pintado Amazônico – resultado do cruzamento da fêmea de Pseudoplatystoma sp X Macho de Leiarius marmoratus. 2.2.2 O Tambaqui O Tambaqui se encontra amplamente distribuído na América do Sul, sendo encontrado nas bacias hidrográficas dos rios Orinoco e Amazonas (GOULDING e CARVALHO, 1982). Possui um corpo arredondado e geralmente a região ventral tem uma coloração escura ou preta e a região lateral e dorsal verde escura ou cor de cobre sendo que as barbatanas são pretas (Figura 03). Pertence a Ordem Characiformes, Família Characidae, Subfamília Serrasalminae. O nome Colossoma significa corpo curto e truncado e macropomum bochecha grande, referindo-se ao grande opérculo do Tambaqui (TAPHORN, 1990). Figura 03. Tambaqui (Colossoma macropomum). Fonte: http://igfa.org Considerado o segundo maior peixe de escamas da Bacia Amazônica, o Tambaqui pode atingir até um metro de comprimento e 30 kg de peso, perdendo em porte somente para o Pirarucu (Arapaima gigas). Possui uma única combinação de dentes molariformes adaptados para esmagar frutos, castanhas e sementes. Destacam-se também o seu opérculo alongado que ajuda a aumentar o fluxo de água http://igfa.org/ 23 através das brânquias além de numerosas guelras que são utilizadas para filtrar o zooplâncton (GOULDING e CARVALHO, 1982). A facilidade de produção de alevinos e o rápido crescimento fizeram do Tambaqui um dos peixes mais populares da piscicultura brasileira. Apesar do seu cultivo ser possível em todo o Brasil, o risco de alta mortalidade durante os meses de inverno tem desencorajado o cultivo nos estados das regiões Sul e Sudeste, particularmente em locais onde a água pode atingir temperaturas abaixo dos 17°C. Desse modo, o cultivo do Tambaqui tem se concentrado nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, onde além do clima favorável, o mesmo desfruta de boa aceitação no mercado por parte dos consumidores (KUBITZA, 2004). Considerado onívoro com tendência a herbivoria e frugivoria, a alimentação na fase larval se define ao zooplâncton; na fase juvenil se alimenta de invertebrados e pequenas sementes; já na fase adulta ingere frutos, castanhas, sementes e caramujos (LOPERA-BARRERO et al., 2011). A área de vida do tambaqui é caracterizada por águas ricas em nutrientes, com temperatura média entre 25 e 34°C, e abundancia de áreas alagáveis. É capaz de resistir a baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água (~1mg/L), que são características do seu habitat (GOMES et al., 2010). É um peixe muito apreciado por seu sabor, sendo considerado como importante fonte de proteína animal, principalmente pelas comunidades tradicionais da Amazônia, onde tem sido explorado desde o século XIX. Por esse motivo é hoje a principal espécie de importância comercial da Amazônia. É uma das espécies mais cultivadas em todo o Brasil, estando presente em 24 dos 27 estados Brasileiros, sendo o Amazonas o principal produtor (LOPERA-BARRERO et al., 2011). De importância econômica nacional e regional, o Tambaqui foi incluído no programa brasileiro de melhoramento genético, coordenado por várias instituições de pesquisas (oito unidades da Embrapa, dez universidades federais, três estaduais, uma universidade norte-americana e centros de pesquisa e iniciativa privada), juntamente com o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), o camarão branco (Litopenaeus vannamei) e a tilápia (Oreochromis niloticus). A partir desse programa, começarão a ser desenvolvidas, em várias regiões do país, pesquisas que irão estudar, pela primeira vez, o melhoramento genético na aquicultura brasileira (BRASIL, 2007b). 24 O Tambaqui atinge a maturidade sexual entre o terceiro e o quarto ano de vida. Na época da reprodução, realiza grandes migrações (espécie reofílica) apresentando desova total, sendo que o período de reprodução se estende de novembro a março, época de cheias dos rios (LOPERA-BARRERO et al., 2011). Villacorta-Correa e Saint- Paul (1999) afirmam que o período reprodutivo da espécie é de setembro até fevereiro e a desova ocorre entre os meses de setembro/outubro e janeiro/fevereiro. Gomes et al. (2010) relatam que a desova ocorre no início da enchente, próximo às margens do rio, e as larvas são carreadas pela corrente para a várzea. Os adultos, após a desova se dispersam no rio e na direção das florestas inundáveis do rio Amazonas e seus tributários. As larvas e jovens se alimentam e crescem na planície de inundação dos rios. Quando os juvenis atingem de 45 a 60 cm de comprimento ou aproximadamente quatro anos de idade, eles iniciam sua maturação sexual e recrutam aos cardumes adultos. Esses cardumes deixam a várzea e migram contra a corrente nos rios de águas barrentas. Segundo Vieira et al. (1999), os ovários do Tambaqui são pares, em forma de sacos lobulados, formando principalmente o epitélio germinativo. Esse epitélio germinativo forma numerosos oócitos, cada um coberto por um revestimento folicular. Os ovários estão situados na cavidade abdominal, ventralmente ao rim, ventrolateralmente à bexiga natatória e dorsalmente ao tubo digestivo. As extremidades caudais afilam-se gradualmente formando os ovitutos, até unirem-se formando um ducto comum, que se estende ao orifício genital único. O Tambaqui não se reproduz espontaneamente em tanques, embora alguns relatos sugerem que isso possa ocorrer. A reprodução dessa espécie, como a maioria dos peixes migradores, é induzida com a utilização de hormônios. No caso do Tambaqui, essa indução é bem dominada e é realizada rotineiramente em muitas instituições. Hormônios sintéticos tem sido usados para estimular a ovulação do Tambaqui com relativo sucesso, como LHRH (gonadorrelina) e HCG (gonadotropina coriônica humana). Entretanto, os hormônios mais utilizados no Brasil são as gonadotropinas encontradas no extrato de glândulas pituitárias de peixe. O extrato, feito com hipófises secas ou preservadas em etanol é injetado nos peixes em solução salina ou em glicerina. O sucesso do uso de extrato de pituitária para estimular a ovulação é superior a 80% (GOMES et al., 2010). 25 2.3 Importância do Pescado como Alimento. Para Burger (2008), o valor nutricional do pescado e a divulgação de estudos que o associam com melhorias para a saúde têm causado, nos últimos anos, um aumento de interesse por esse alimento. Em sua pesquisa realizada com o intuito de se obter dados sobre consumo e conscientização sobre o pescado, constatou que mais de 90% dos entrevistados tinham ouvido falar sobre os benefícios de se comer carne de peixe. Os peixes, e demais produtos obtidos por meio da atividade pesqueira, destacam-se nutricionalmente de outros alimentos de origem animal pois contêm, comparativamente, grandes quantidadesde vitaminas lipossolúveis A e D, minerais cálcio, fósforo, ferro, cobre, selênio e, iodo, no caso dos peixes de água salgada. A composição lipídica dos peixes difere com a dos mamíferos por conter elevadas proporções, mais de 40%, de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa com cinco ou seis duplas ligações, o que impacta tanto na saúde, destacando-se a atividade benéfica antitrombótica, quanto na tecnologia aplicada durante o processamento destes alimentos, devido a rápida deterioração e rancificação por conta dessas gorduras. As proteínas contêm todos os aminoácidos essenciais para o ser humano e, assim como as proteínas do leite, do ovo e de carnes de mamíferos, têm elevado valor biológico. Adicionalmente, são excelentes fontes de aminoácidos lisina, aminoácido starter do processo digestivo, metionina e cisteína, encontrados em baixa quantidade em dietas a base de grãos de cereais (ABABOUCH, 2005). A indústria do pescado contribui para o fornecimento de uma grande variedade de produtos no qual o peixe em suas várias apresentações é um dos componentes principais de sua cadeia devido a sua importância na dieta humana (GONÇALVES et al., 2011). Bang et al. (1971 e 1976) publicaram na década de 1970 estudos sobre populações de esquimós que viviam na Groenlândia e que apresentavam baixa incidência de doenças cardiovasculares e de câncer, apesar de sua dieta rica em gorduras provenientes de suas atividades corriqueiras de caça e pesca. Dyerberg et al. (1978) e Dyerberg e Bang (1979) divulgaram o papel dos ácidos graxos poliinsaturados na prevenção de ataques cardíacos, devido à ação antitrombótica e aumento no tempo de coagulação e seus efeitos na diminuição da concentração do colesterol sérico. 26 Simopoulos (1991) em outros estudos epidemiológicos confirmaram os efeitos benéficos da carne de peixe: os ácidos graxos poliinsaturados diminuem a agregação plaquetária, diminuem a viscosidade do sangue, contribuindo para a diminuição da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco (melhora da circulação sanguínea), diminui a tendência para a formação de trombos, melhora a dor nas articulações em pacientes com artrite reumatóide, tem efeito benéfico em pacientes com colite ulcerativa, melhora as lesões da pele, diminui o número e o tamanho dos tumores, são essenciais para o desenvolvimento normal e funcional da retina e do cérebro, particularmente em crianças prematuras. É um dos responsáveis pela composição das membranas celulares e é em grande parte dependente da ingestão alimentar. Kris-Etherton et al. (2002) reuniram estudos epidemiológicos e testes clínicos e concluíram que a suplementação de eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA) entre 0,5 e 1,8 g por dia, tanto como gordura de peixe, quanto na forma de suplemento alimentar, reduziram significativamente o risco de morte por doenças cardíacas. Segundo os autores, os testes clínicos demonstraram a relação entre ácidos graxos ômega-3 e a redução de eventos cardíacos, acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio não fatais e o retardo no progresso da aterosclerose em pacientes cardíacos. O que faz esses ácidos graxos poliinsaturados ser tão especiais reside no fato do corpo humano poder sintetizar, a partir de outras gorduras ou matérias-primas, a maioria dos tipos de ácidos graxos de que necessita para o seu bom funcionamento. Isso não ocorre com o ômega-3. Estes lipídios são considerados essenciais pois o corpo não pode fazê-los a partir do zero, mas deve obtê-los a partir de alimentos ricos em ômega-3, como peixes de águas geladas, principalmente atum e sardinha, óleos vegetais, nozes, sementes de linhaça, óleo de linhaça e vegetais folhosos (HARVARD, 2012). Os ácidos graxos poliinsaturados, destacando as séries ômega 3 e 6, são encontrados em peixes de água fria (salmão – Salmo sala, atum – Thunnus spp., sardinha – Sardinella brasiliensis, bacalhau – Cod gadus morhua). Os principais ácidos graxos da família ômega 3 são o alfa-linolênico, o eicosapentanóico-EPA e o docasahexanóico-DHA. Os ácidos graxos da família ômega 6 mais importantes são o linoléico e o araquidônico (PIMENTEL et al., 2005). Dentre os possíveis benefícios da ingestão de uma ou duas porções de peixe por semana, que contêm cerca de 2 g de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3, 27 estão a redução do risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), de depressão, do Mal de Alzheimer e de morte por doença cardíaca (Harvard, 2012). A FAO, (2000) preconiza que comer peixe duas ou três vezes por semana pode ser incentivado como parte de uma dieta saudável e equilibrada durante a gravidez e para toda a família. Soccol e Oetterer (2003) relatam que os ácidos graxos omega-3 e 6 encontrados principalmente em peixes como sardinha, atum e salmão além de frutos e óleos vegetais são indicados para a prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que diminuem a quantidade de colesterol e a pressão sanguínea. Eles também estão correlacionados com o desenvolvimento cerebral e visual. Portanto, uma dieta equilibrada, em que o peixe é consumido pelo menos 2 ou 3 vezes por semana, supre as necessidades diárias de ácidos graxos poliinsaturados, e mantém a integridade das membranas celulares e tecidos nervosos, bem como, garante boa funcionalidade do organismo como um todo. Estudos confirmaram que a dieta tem uma grande influência sobre a composição química dos ácidos graxos presentes na carne dos peixes. A nutrição na aquicultura moderna, consiste principalmente na oferta aos animais de rações cuja composição está baseada principalmente em grãos, como consequência produz-se peixes com menores níveis de ômega-3 do que os peixes naturalmente encontrados nos rios e lagos. (MOREIRA et al., 2001). Melo Filho et al. (2013) avaliaram a composição total dos ácidos graxos encontrados em filé de tambaqui em quatro localidades distintas do Estado de Roraima, usando a técnica de cromatografia gasosa, encontrando os seguintes resultados: ácidos graxos saturados 28.56%; ácidos graxos monoinsaturados (AGMI): 35,58%; ácidos graxos poliinsaturados (AGPI) 21,23%; ácidos graxos insaturados (AGI) 56.80%; ômega-6: 20,49% e ômega-3 2,45%; razão ômega 6/3: 8.58. Almeida, (2004) em seu estudo determinou os teores de EPA e DHA nos músculos dorsais do matrinxã (Brycon cephalus) e do tambaqui (Colossoma macropomum), provenientes de cultivo semi intensivo e habitat natural, capturados na Amazônia Central, em diferentes períodos sazonais. Para o tambaqui de cultivo, os resultados de EPA e DHA no músculo foram de 5,03mg/g e 25,1Omg/g respectivamente. Para os exemplares capturados no período da cheia, os teores de EPA e DHA no músculo foram de 3,84mg/g e 14,15mg/g respectivamente. Para os peixes capturados na época da seca, os teores de EPA e DHA no músculo foram de 9,35mg/g e 40,18mg/g. No matrinxã de cultivo, os resultados indicaram teores de EPA 28 de 4,15mg/g para o músculo enquanto para DHA os teores foram de 30,04mg/g. Para os peixes capturados na cheia, a concentração de EPA foi de 5,25mg/g para o músculo, enquanto que para o DHA, o teor foi de 10,26 mg/g. Para os peixes capturados na época da seca, os teores de EPA foram de 8,14 mg/g, e para DHA, de 61,31mg/g, no músculo. Ferreira de Castro et al. (2007) em seu estudo determinaram o perfil de ácidos graxos da carpa comum (Cyprinus carpio), tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e tambacu (Colossoma macropomum) x (Piaractus mesopotamicus). Para tambacu a distribuição percentual média foi de 34,7% de ácidos graxos saturados; 41,1% de monoinsaturados e 22,7% de ácidos graxos poliinsaturados. Para a carpa comum foi de 19% de ácidos graxos saturados; 57% de ácidos graxos monoinsaturados e 24% de graxos ácidos poliinsaturados, e para tilápia a distribuição percentual foi de 43,6% de ácidos graxos saturados; 34,2% de ácidos graxos monoinsaturadose 21% de ácidos graxos poliinsaturados. Visentainer et al. (2003) avaliaram a composição em ácidos graxos dos lipídios de tilápia com o objetivo de obter informações sobre a transferência de ácidos graxos ômega-3 da ração suplementada com óleo de linhaça. A distribuição percentual de ácidos graxos saturados foi de: 23,85%; ácidos graxos monoinsaturados de 38,15%; ácidos graxos poliinsaturados de 37,99%; ômega-6 de 34,65%; ômega-3 de 1,71% e a razão ômega-6/3 foi de 20,27. Os autores concluíram que o aumento dos teores percentuais de ácidos graxos da família ômega-3 foi estabelecido, à medida que o tempo de alimentação com óleo de linhaça foi aumentando. Moreira et al. (2001) encontraram nos filés de três espécies de Brycon, a saber Brycon cephalus (matrinxã), B. microlepis (piraputanga) B. orbignyanus (piracanjuba), os seguintes resultados para os ácidos graxos poliinsaturados, na matrinxã: ômega-6 12,03% e ômega-3 1,37%; Piraputanga: ômega-6 12,10% e ômega-3 1,93%; Piracanjuba: ômega-6 15,46% e ômega-3 2,42%. 2.4 Consumo de Alimentos mais Saudáveis A preocupação com a saúde está cada vez mais presente no dia a dia dos consumidores. Essa tendência pode ser observada pela crescente oferta de alimentos saudáveis, como os produtos com redução calórica, sem adição de açúcar, menor teor de sódio, alimentos orgânicos, alimentos com substitutos de gordura, entre outros. Além disso, dietas especiais resultantes de alergias e doenças crônicas criam 29 a necessidade de alimentos específicos para grupos de consumidores como os diabéticos, celíacos, hipertensos e intolerantes à lactose. O aumento na produção e no consumo de alimentos saudáveis representa um novo cenário para as empresas do setor alimentício. Essa transformação é decorrente do avanço de doenças crônicas não transmissíveis ligadas à má alimentação, que provocou uma preocupação coletiva responsável pela crescente busca por alimentos mais saudáveis (MISSAGIA, 2012). Oliveira et al. (2013) diz que em função do acelerado ritmo urbano, dado pela extensa jornada de trabalho, é cada vez mais evidente a busca por alimentos industrializados e de fácil preparo. No entanto, junto à escassez de tempo e à procura por refeições de rápido e fácil preparo, vem a preocupação da população com os problemas de saúde que estes alimentos podem ocasionar. Essa demanda tem motivado as comunidades industrial e científica a unirem esforços no sentido de ofertar alimentos industrializados que, além de nutrir, promovam o bem-estar e atuem como redutores dos riscos de doenças crônicas. A variedade de produtos cárneos que não demandam muito tempo para o preparo, disponibilizada nas gôndolas de supermercados, tornou-se um atrativo para os consumidores, contribuindo para que salsicha, salame, mortadela, linguiça, empanado, almôndegas e hambúrguer sejam opção crescente para o lanche de muitas famílias. A consciência dos efeitos adversos do excesso de ingestão de gordura na dieta é praticamente universal. Indivíduos que tomam conhecimento das consequências estão modificando seus hábitos alimentares e comendo cada vez menos alimentos ricos em gordura em sua dieta (MILLER e GROZIAK, 1996). A partir dos anos oitenta, a população vem modificando seus hábitos alimentares visando principalmente a redução da ingestão de açúcar e de gordura. O desenvolvimento de produtos com baixo teor de gordura, baixas calorias e baixo colesterol são algumas tendências na indústria de alimentos (MONTEIRO et al., 2006). Os relatórios de saúde pública têm indicado que a gordura na dieta é uma das principais causas de doenças crônicas. Cada vez mais as pessoas têm buscado ajuda profissional para reduzir a concentração energética das dietas e orientação de como obter uma dieta com baixa concentração lipídica. No entanto, alimentos com alto teor de gordura são um componente importante da dieta, principalmente em países da América do Norte, e as pessoas são notavelmente resistente à mudança de seus hábitos alimentares (DREWNOWSKI, 1990). 30 Dietas de baixa gordura evitam o ganho de peso em indivíduos de peso normal e também podem levar a uma perda de peso em pessoas com excesso de peso. Considerando que a magnitude da redução do peso corporal pode ser modesta em indivíduos obesos, na ordem de 4-5 kg, o maior benefício de uma dieta de baixa gordura pode estar na prevenção do ganho de peso (ASTRUP et al., 2000). Os produtos que contenham em sua formulação, redução do teor de gordura ou algum nível de substituição de gordura, notadamente os substitutos de gordura, oferecem uma nova estratégia para reduzir o consumo de gordura na dieta. (DREWNOWSKI, 1990). Em resposta à crescente demanda dos consumidores por alimentos com teor de gordura reduzido, a indústria alimentícia tem desenvolvido uma infinidade de produtos, com pouca gordura. Para alcançar esse objetivo os fabricantes frequentemente empregam substitutos de gordura nas formulações, para que os produtos tenham as características organolépticas parecidas com as da versão do produto original (MILLER e GROZIAK, 1996). 2.5 Produtos à Base de Pescado O consumo de pescado, e produtos à base de pescado, tem aumentado de forma consistente nos últimos anos, pois cada vez mais estão sendo reconhecidos como importantes fontes de nutrientes para a saúde humana. Alguns fatores importantes como a qualidade, segurança e novas tecnologias tem contribuído para este aumento do consumo. O pescado, matéria prima ou produto, luta por seu espaço entre o consumidor que deseja satisfazer suas necessidades. Indústria e o consumidor têm definições completamente diferentes do produto apresentado para venda. A indústria define um produto base onde possa acrescentar uma embalagem, sua marca, preço e publicidade gerando assim um produto com a cara da empresa que o desenvolveu. O consumidor por outro lado descreve-o como um pacote de benefícios referentes ao atributos tangíveis e intangíveis ás suas necessidades (GONÇALVES, 2011). Desde o início de anos 80, governo, instituições de pesquisa e indústria têm geralmente enfatizado seu envolvimento no desenvolvimento de novos produtos. O processo de desenvolvimento de um novo produto consistia em fabricar itens com novas matérias-primas ou matérias-primas subutilizadas, então os atributos sensoriais eram refinados e a aceitabilidade avaliada através de testes de mercado. Muitas vezes 31 esses esforços não tiveram sucesso devido a uma falha em identificar com precisão os anseios do cliente ou em coordenar plenamente os projetos de desenvolvimento entre os parceiros diretamente envolvidos no processo como por exemplo canais de produção, distribuição, comercialização e a indústria (RIPPEN, 1991). Nos últimos anos a atividade comercial do pescado tem sofrido muitas mudanças. As especificações do comprador, preferências dos consumidores, a disponibilidade de matéria-prima, a concorrência com produtos vindos do mercado internacional e a intervenção reguladora através das legislações nacional e internacional exigindo das empresas segurança alimentar e gestão de resíduos, são questões preocupantes sobre os processadores de pescado. O número de empresas está cada vez menor, porém em tamanhos maiores e mais sofisticadas em sua atuação no mercado. (GONÇALVES, 2011). Lara et al. (2007) relatam que a comercialização do pescado ainda é feita com a peça inteira resfriada ou congelada, sem que haja nenhum processamento para agregar mais valor ao produto. Além do emprego do frio, existem formas de processamento da carne que podem ser usadas para aumentar a vida de prateleira do pescado. Os produtos processados possuem atributos sensoriais diferenciados, como sabor, textura, facilidade de preparo e vida de prateleira longa, desde que as condições de armazenamento sejam adequadas. Leek et al. (2000), em sua pesquisa no ReinoUnido, relata que apesar do pescado apresentar propriedades nutritivas adequadas e o seu consumo estar associado com uma vida saudável é um produto que tem apresentado diminuição no consumo. Em sua análise, revela que os motivos para a queda no consumo de pescado estão elencadas em um dos cinco componentes como versatilidade, relevância situacional, propriedades negativas (como espinhas e odor), fatores econômicos e conveniência. Os autores sugerem que ações de marketing e mais pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos são necessárias. Os produtos alimentícios que poupem tempo e que sejam práticos no preparo, fazem-se presentes nos supermercados e consequentemente nos lares, em função do estilo de vida contemporâneo. As pessoas necessitam de produtos de preparo fácil e rápido e as vezes em menores porções (BRUNNER et al., 2010). Scholderer e Trondsen (2008) relatam que o pescado na forma fresca, recém capturado, resfriado ou congelado inteiro é citado por diversos autores como um alimento inconveniente. Entretanto, produtos desenvolvidos à base de pescado não são assim considerados, 32 por apresentar praticidade e conveniência no preparo. Os mesmos autores indicaram que há uma relação inversa entre o consumo de produtos de pescado e o consumo de pescado fresco. Essas avaliações negativas propiciam a substituição da forma como o pescado tradicional é oferecido ao consumidor por produtos processados e de conveniência. Nota-se uma maior busca por produtos de conveniência, de fácil preparo motivada pelo novo estilo de vida e ainda, a invasão das prateleiras de supermercados por produtos importados de alta qualidade e diversificação. Assim, o consumidor passa a se utilizar cada vez mais dos produtos que preenchem características de conveniência ou fácil preparo, higienicamente corretos e ainda de alto valor nutricional (OETTERER, 2002). Uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em conjunto com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) teve como objetivo principal o de fazer um estudo de segmentação atitudinal do consumidor brasileiro, a fim de validar a aderência do Brasil às tendências globais sobre o consumo de alimentos. Das quatro tendências encontradas no Brasil, três delas são similares às globais: Conveniência e Praticidade, Confiabilidade e Qualidade, Sensorialidade e Prazer. A 4ª tendência identificada representa a fusão entre duas observadas nos estudos internacionais: Saudabilidade e Bem-estar e Sustentabilidade e Ética. A tendência Conveniência e Praticidade é proporcionalmente o maior segmento atitudinal encontrado, com 34% dos consumidores brasileiros de alimentos. Esse grupo divide-se igualmente entre as classes sociais A, B e C. Para esse segmento, a conveniência e a praticidade são, acima de tudo, as principais prioridades, pois são consumidores que levam uma vida corrida, trabalham em tempo integral e dispõem de pouco tempo para cuidar da casa, filhos e da alimentação da família. Os alimentos industrializados, principalmente os congelados e os semi prontos são fortes aliados desses consumidores, uma vez que representam mais praticidade no preparo das refeições. As outras três tendências encontradas possuem as seguintes distribuições atitudinais: confiabilidade e qualidade: 23%; sensorialidade e prazer: 23%; saudabilidade e bem-estar e sustentabilidade e ética: 21%. Esta pesquisa mostra que hoje o Brasil tem uma forte aderência às tendências de consumo de alimentos encontradas em outros países (FIESP e ITAL, 2010) Segundo Gonçalves (2011) há uma necessidade constante da criação e lançamento de novos produtos, processos produtivos e ingredientes que preencham 33 as necessidades e expectativas do mercado consumidor. Alimentos de conveniência, produtos de valor agregado e refeições prontas partir de pescado têm experimentado um crescimento nos últimos anos. Esta evolução tecnológica deve ser traduzida em produtos atraentes e orientados para a tecnologia de desenvolvimento que as vezes pode não ser adequada ao mercado. Assim as demandas de diferentes segmentos de consumidores devem ser levadas em conta, juntamente com os novos desenvolvimentos tecnológicos. Borges et al. (2011) desenvolveu em seu trabalho produtos saudáveis à base de pescado e avaliaram a sua qualidade nutricional assim como a aceitabilidade junto a alunos em idade escolar de seis a 11 anos na baixada Santista. Os índices de aceitabilidade dos nugget’s e almôndegas de Betara (Menticirrhus americanus) foram de 92,4% e 89,4% respectivamente, demonstrando que os dois produtos foram muito bem aceitos pelos alunos e, portanto, poderiam ser facilmente introduzidos na alimentação escolar. A aceitabilidade dos produtos de pescado foi igual ou superior aos reportados em estudos que testaram a aceitabilidade de preparações com carne bovina (95% a 67%). Os autores concluíram que devido às excelentes características nutricionais e sensoriais dos produtos de pescado desenvolvidos no presente estudo, recomenda-se a sua introdução na alimentação escolar como estratégia para a incorporação do pescado como hábito alimentar do brasileiro. Veit et al. (2012) desenvolveram bolos doces acrescidos de filé de tilápia do Nilo (O. niloticus), oferecendo produtos mais saudáveis e aceitáveis para crianças em idade escolar. Com relação ao índice de aceitabilidade, obteve aceitação de 88,58% para o bolo de chocolate com filé de tilápia e de 89,99% para o bolo de cenoura com filé de tilápia, o que demonstra que é possível incluir o peixe em preparações doces, como bolos, cookies, pães, entre outras. Os autores concluem que tendo em vista que o pescado é um alimento nobre e saudável, sua inclusão na alimentação escolar se torna uma alternativa bastante promissora, principalmente se incluído em preparações que os alunos apreciam. Neiva et al. (2011) desenvolveram dois tipos de biscoitos à base de pescado que pudesse ser estocado por 180 dias em temperatura ambiente. A matéria-prima utilizada para produzir os produtos foi CMS de peixes de baixo valor comercial. Um biscoito foi expandido por fritura em óleo, e o outro com baixo teor de lipídios, expandido em micro-ondas. O conteúdo de proteínas para ambos foi alto para este tipo de produto; 10,86 e 14,70%, respectivamente. Os biscoitos apresentaram teores 34 de aminoácidos essenciais, como lisina, acima do recomendado pela FAO apresentando alto valor nutricional. A análise sensorial realizada por provadores adultos mostrou alto nível de aceitação: 90% para o biscoito expandido em micro- ondas e 97% para biscoito expandido por fritura em óleo. A estocagem em embalagem a vácuo permitiu que o produto mantivesse a qualidade microbiológica e físico- químicas por 180 dias em temperatura ambiente. Os autores concluem que este produto pode ser uma estratégia para aumentar o consumo de peixe e, ao mesmo tempo, uma estratégia para melhorar a qualidade da dieta de crianças e adolescentes contribuindo com uma dieta com baixos teores de gordura e produtos de baixa caloria. Minozzo et al. (2008) desenvolveram em seu trabalho dois tipos de patê, cremoso e pastoso, com o objetivo de utilizar a CMS de tilápia (O. niloticus), investigando suas características físico-químicas, microbiológicas e sensoriais. O patê cremoso apresentou melhor índice de aceitabilidade com média de 7,40 do que o patê pastoso com média 6,50. Os autores ressaltam que viável a utilização CMS de tilápia para a produção de patês, pelo aproveitamento dos resíduos limpos da industrialização da tilápia agregando valor ao pescado e levando-o à mesa do consumidor. Sendo assim, o produto elaborado tende a aumentar o consumo de peixe desde crianças até idosos. 2.6 Embutidos O pescado constitui uma parte muito importante da dieta em muitas partes do mundo e, com o aumento da populaçãomundial, encontrar uma forma eficaz de utiliza- lo é de grande importância, sendo considerado como umas das commodities de alimentos mais perecíveis e que geralmente estragam mais rapidamente que outros produtos cárneos. Assim, na sua forma in natura, requer manuseio e cuidados especiais no processamento, estocagem e comercialização, o que contribui negativamente para a maior penetração, principalmente em mercados consumidores distantes das fontes de produção ou desembarque. Desde muito cedo, provavelmente na transição da fase nômade para a sedentária, o homem sentiu a necessidade de conservar os alimentos para o consumo posterior em momentos de escassez. A secagem, ao sol e pela defumação, são os métodos mais antigos e a salga teria surgido na idade do Bronze (4.500 a. C.). Devido a essa característica, a conservação do pescado tem sido uma preocupação constante da humanidade, existindo registros de tentativas de desenvolvimento de técnicas de preservação, como a salga, 35 secagem, cocção, defumação e marinação, ou ainda a combinação entre elas (GONÇALVES, 2011). Para vias de definição, o termo “embutido” abrange, segundo o artigo 412 do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA), por meio do Decreto nº 30.691, de 1952: todo produto elaborado com carne ou órgãos comestíveis curado ou não, condimentado, cozido ou não, defumado e dessecado ou não, tendo como envoltório tripa, bexiga ou outra membrana animal, sendo também permitido o emprego de películas artificiais, como envoltório, no preparo de embutidos (BRASIL, 1952). Segundo o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Linguiça instaurado pela Instrução Normativa nº 4, de 31 de Março de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entende-se por linguiça o produto cárneo obtido de carnes de diferentes espécies animais, submetida aos mais diversos e adequados processos tecnológicos, adicionado ou não de tecidos adiposos, ingredientes e embutidos em envoltórios naturais ou artificiais. Estas são classificadas de acordo com a tecnologia de fabricação em produto: fresco, seco curado e/ou maturado, produto cozido e outros (BRASIL, 2000). As linguiças frescais são ofertadas ao consumidor na mesma forma em que são produzidas, cruas, na forma refrigerada ou congelada com os gomos acondicionados em embalagens plásticas. Não passam por processo de desidratação, maturação ou cozimento, ao contrário das linguiças desidratadas, curadas e/ou maturadas e cozidas, que passam por tais processo com o objetivo de alterar suas características organolépticas e aumentar a vida de prateleira do produto. São considerados ingredientes obrigatórios na produção das linguiças as carnes das diferentes espécies de animais de açougue e sal. São considerados ingredientes opcionais gordura, água, proteína vegetal e/ou animal, açúcares, plasma, aditivos intencionais, aromas, especiarias e condimentos (BRASIL, 2000). É proibido a utilização de CMS em linguiças frescais. Nas linguiças que são submetidas ao processo de cozimento, será permitido a utilização de até 20% de CMS, desde que seja declarado no rótulo de forma clara ao consumidor a expressão "carne mecanicamente separada de … (espécie animal)", além da obrigatoriedade de constar na relação de ingredientes a expressão "contém..." ou "com CMS de ... (espécie animal)". A CMS utilizada poderá ser substituída pôr carne de diferentes espécies de animais de açougue, até o limite máximo de 20% (BRASIL, 2000). 36 Com relação à denominação de venda, o produto é designado de linguiça, seguido da denominação ou expressão que o caracterize, de acordo com sua apresentação ao consumidor, como por exemplo, linguiça de Carne Bovina, linguiça de Carne Suína, linguiça Mista, linguiça Tipo Calabresa, entre outras. Com relação a rotulagem será designado de Linguiça, seguida da expressão que lhe for atribuída, de acordo com a matéria-prima utilizada, processo tecnológico ou região de origem (BRASIL, 2000). As características sensoriais são definidas de acordo com o processo de obtenção do produto, sendo a cor, o sabor, a textura e o odor, característicos da matéria-prima e dos demais ingredientes utilizados, bem como dos processos tecnológicos empregados em sua fabricação. (BRASIL, 2000). As características e/ou padrões físico-químicos diferem de acordo com a classificação entre os produtos, mas devem respeitar os requisitos da composição de cada um, de acordo com a Tabela 3 (BRASIL, 2000). Tabela 3. Características físico-químicos dos diferentes tipos de linguiças. Frescais Cozidas Dessecadas Umidade (máximo) 70% 60% 55% Gordura (máximo) 30% 35% 30% Proteína (mínimo) 12% 14% 15% Cálcio (base seca) (máximo) 0,1% 0,3% 0,1% Fonte: Brasil, 2000. 2.7 Contaminantes Microbiológicos do Pecado e seus Derivados De acordo com Gonsalves (2011), o pescado é um dos alimentos mais susceptíveis ao crescimento microbiano, devido à sua atividade de água elevada, a sua excelente composição nutricional, sua composição química, ao teor de gorduras insaturadas facilmente oxidáveis e, principalmente, ao pH próximo da neutralidade, o que favorece o desenvolvimento microbiano, tornando-o um excelente substrato para o crescimento bacteriano. Um dos métodos mais utilizados como indicador geral de populações bacterianas em alimentos é a contagem total de microrganismos aeróbios mesófilos e psicrotróficos. No grupo dos mesófilos estão as bactérias que crescem em temperatura ambiente, em torno dos 35°C. Os psicrotróficos são microrganismos que crescem em alimentos sob refrigeração, de 0 a 7°C. São definidos como 37 microrganismos capazes de produzir crescimento visível em temperaturas de refrigeração no prazo de 7 a 10 dias. Este método de contagem não diferencia os tipos de bactérias, sendo utilizado para se ter uma informação geral sobre a qualidade dos produtos, práticas de fabricação, matérias primas utilizadas, condições de processamento, manipulação e vida de prateleira. Esta contagem pode ser útil na avaliação da qualidade onde populações altas de bactérias podem indicar deficiências na sanitização, uma falha no controle do processo de produção ou dos ingredientes. Não é um indicador de segurança, pois não está diretamente relacionado à presença de patógenos ou toxinas (SILVA et al., 2010). O pescado e produtos derivados podem ainda atuar como um importante veiculador de agentes patogênicos, responsáveis por diversas enfermidades no homem, notadamente as toxinfecções. Podemos classificar os contaminantes presentes no pescado, em microrganismos deteriorantes, indicadores de higiene ou processamento, indicadores de contaminação fecal, microrganismos que podem provocar doenças transmitidas pelo consumo de pescado e microrganismos capazes de liberar toxinas responsáveis por causar intoxicações ao consumidor (PIMENTEL e PANETTA, 2003). A manipulação incorreta dos alimentos, favorece a contaminação por agentes bacterianos deteriorantes e patogênicos que, em número elevado, podem ocasionar problemas à saúde dos consumidores, assim sendo a higiene correta dos alimentos é necessária para garantir a segurança e a salubridade dos mesmos em todos os estágios de sua elaboração prevenindo que esses agentes sejam transmitidos à quem os consome e ao alimento evitando assim as enfermidades transmitidas por alimentos bem como a sua deterioração (ICMSF, 2000). Os problemas do consumo de pescado, quanto ao fato deste alimento poder ser veículo de microrganismos patogênicos para o ser humano decorre em sua grande maioria da contaminação ambiental. Merecem destaque às bactérias do gênero Salmonella e do grupo dos Coliformes encontrados em água poluídas por esgotos ou que estejam contaminadas por excretas de animais. E como consequência direta da manipulação pode ser citado oStaphylococcus aureus, de origem humana, habitantes das mucosas e superfície de pele, e que encontram no pescado ambiente favorável para sua multiplicação (GERMANO et al., 1998). Os manipuladores podem atuar como portadores assintomáticos de S. aureus sendo importantes fontes de contaminação em alimentos (FRANCO e LANDGRAF, 2008). 38 De acordo com os Dados Epidemiológicos em Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) no Brasil, entre os anos de 2000 a 2013 o pescado e demais produtos derivados foram apontados como alimentos envolvidos em cerca de 85 surtos de DTA, o que corresponde 1,74 por cento dos alimentos envolvidos em surtos alimentares (BRASIL, 2013). 2.7.1 Coliformes Os coliformes totais são um subgrupo da família Enterobacteriaceae e indicam contaminação de origem fecal recente do produto (MOTTA e BELMONT, 2000) sendo que a detecção de um elevado número destas bactérias em um alimento, inclusive nos processados, é interpretada como possível presença de patógenos intestinais, visto que a população desse grupo é constituída de uma alta proporção de Escherichia coli (PARDI et al., 1993). Os coliformes são divididos em coliformes totais e coliformes termotolerantes. No grupo do coliformes totais estão apenas as enterobactérias capazes de fermentara lactose com produção de gás em 24 a 48 horas a 35°. O grupo dos coliformes termotolerantes, comumente chamados de coliformes fecais é restrito aos membros capazes de fermentar a lactose em 24 horas a 44,5 a 45,5°C, também com produção de gás. Essa definição objetivou selecionar apenas as enterobactérias originárias do trato gastrintestinal, como por exemplo, E. coli, porem atualmente sabe- se que o grupo inclui membros de origem não fecal (SILVA et al., 2010). 2.7.2 Escherichia coli E. coli é uma bactéria gram-negativa sendo o simbionte anaeróbio facultativo mais abundante no intestino humano. Além de habitar o trato digestivo de humanos, essa bactéria é encontrada no intestino e fezes de vários organismos endotermos e repteis, variando seu tamanho populacional de acordo com o hospedeiro e podendo estar presente inclusive na água e sedimentos, favorecendo sua dispersão (TENAILLON, 2010). Segundo Franco e Ladgraf, (2008) E. coli é um dos principais habitantes do trato intestinal da maioria dos animais de sangue quente, incluindo o homem e aves. O gado bovino é o reservatório de maior impacto epidemiológico, portanto a maioria dos surtos está associada ao consumo de produtos cárneos contaminados ou mal cozidos. Entretanto a água, iogurtes, leite ou sucos não pasteurizados, vegetais 39 adubados com material orgânico, também podem ser fontes de infecção, ocorrendo também transmissão direta entre as pessoas. De acordo com os Dados Epidemiológicos em DTA (BRASIL, 2013), dos cerca de 8.746 surtos identificados entre os anos de 2000 e 2013, E. coli foi o agente etiológico responsável por 480 surtos correspondendo a 12,4% do valor total dos surtos. 2.7.3 Staphylococcus Os Staphylococcus são cocos Gram positivos, com aproximadamente 0,5 a 1,5 μm de diâmetro, imóveis, não esporulados e geralmente não encapsulados. Essa bactéria pode apresentar-se em diversas formas, que vão desde isolados, aos pares, em cadeias curtas, ou agrupados irregularmente, com aspecto semelhante a um cacho de uvas, devido a sua divisão celular, que ocorre em três planos perpendiculares (KONEMAN et al., 2001). São mesofílicos, tolerantes a concentrações salinas que variam entre 10% a 20%, crescem na faixa de pH de 4 a 9,8 e possuem a capacidade de crescerem em valores baixos de atividade de água de 0,83 a 0,86 (FRANCO e LANDGRAF, 2008). Staphylococcus aureus é um importante patógeno devido a sua virulência, resistência aos antimicrobianos e associação a várias doenças, incluindo enfermidades sistêmicas potencialmente fatais, infecções cutâneas, infecções oportunistas e intoxicação alimentar (LOWRY, 1998). Esta bactéria habita com frequência a nasofaringe do ser humano, a partir da qual pode facilmente contaminar as mãos do homem e penetrar no alimento, causando a intoxicação alimentar estafilocócica (MURRAY et al., 2000). Em muitos países, o S. aureus é considerado o segundo ou terceiro patógeno mais comum em causar intoxicação alimentar, perdendo em número apenas para Salmonella sp. e competindo com o Clostridium perfringens (BEAN et al., 1996). Após a contaminação dos estafilococos no alimento, em temperatura ambiente ou mais elevada, ocorrera a liberação de enterotoxinas que causam a intoxicação (BEAN et al., 1996). Os sorotipos A e D são os mais comumente associados com a intoxicação alimentar (DINGES et al., 2000). Estas enterotoxinas são resistentes as enzimas proteolíticas do trato intestinal humano e são proteínas termoestáveis, (BALABAN e RASOOLY, 2000). Uma vez incubada no alimento, tratamentos térmicos posteriores eliminarão apenas as células do S. aureus, mas não 40 a enterotoxina formada. As medidas de controle incluem a implementação de técnicas de lavagem das mãos, uso de sabonetes bactericidas, treinamento e conscientização dos profissionais envolvidos (JAY, 1994). Dos 8746 surtos identificados entre os anos de 2000 e 2013 de acordo com os Dados Epidemiológicos em DTA (BRASIL, 2013), S. aureus esteve envolvido como agente etiológico em 763 surtos correspondendo a 19,71% do total dos surtos sendo o segundo microrganismo mais incriminado em surtos alimentares. 2.7.4 Salmonella Atualmente as infecções causadas pelas bactérias do gênero Salmonella são mundialmente consideradas como as mais importantes causas de doenças transmitidas por alimentos (GERMANO e GERMANO, 2001). Segundo Santos et al. (2002), a salmonelose é uma das zoonoses com maior impacto sobre a Saúde Pública em todo o mundo, devido à elevada endemicidade, alta morbidade e, sobretudo, pela dificuldade no controle. Além disso, esta toxinfecção ocasiona maior número de óbitos do que aquelas causadas por outros microrganismos. O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae e são bacilos gram-negativos, não formadores de esporos, anaeróbios facultativos, (GERMANO e GERMANO, 2001). Segundo Campos et al. (1999), são reconhecidas duas espécies, S. bongori e S. enterica, sendo que esta última apresenta 6 subespécies. Atualmente são referidos aproximadamente 2.400 sorotipos de salmonelas, dentre os quais 1.367 pertencem à subespécie enterica. Dentro desta subespécie estão contidos cerca de 99,5% dos sorotipos mais comumente isolados. Para Franco e Landgraf (2008), a salmonelose está entre uma das toxinfecções alimentares mais importantes, sendo que esta doença é causada por bactérias do gênero da Salmonella. O gênero Salmonella é amplamente distribuído na natureza, sendo o trato intestinal do homem e dos animais o principal reservatório natural. Em função da sua capacidade de disseminação no meio ambiente, essa bactéria pode ser isolada de locais variados, e consequentemente, de diversas matérias-primas alimentares. Pode, ainda, ser veiculada pelo próprio homem sem sintomas clínicos, sendo neste caso caracterizada a condição de portador assintomático (JAKABI et al., 1999). As doenças causadas por Salmonella podem ser subdivididas em três grupos: a febre tifóide, doença que tem como agente etiológico a Salmonella Typhi; as febres 41 entéricas que são causadas por Salmonella Paratyphi, e as enterocolites ou salmoneloses, que são ocasionadas pelos demais sorotipos de Salmonella (FRANCO e LANDGRAF, 2008). Segundo Silva Jr. (2008), a temperatura para multiplicação das salmonelas varia de 8°C a 47°C. Abaixo de 7°C, para a maioria dos sorotipos não há multiplicação, sendo prontamente destruídas em temperaturas acima de 55°C. Um outro fator que afeta diretamente o desenvolvimento das salmonelas é a atividade de água, pois os microrganismos necessitam de água na forma
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