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Primeira Infância-E1P1

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0 
Primeira Infância 
 
Primeira 
Infância 
 
1 
Primeira Infância 
Conheça as Autoras 
 
Prof.ª Dra. 
Karyna Batista Sposato 
Professora Adjunta do Departamento de Direito da 
Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutora em Direito 
pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em 
Direito pela Universidade de São Paulo (USP). 
É diplomada no Terceiro Ciclo pelo Programa de Doutorado em Problemas Atuais do 
Direito Penal e da Criminologia da Universidade Pablo Olavide (UPO) em Sevilha/ 
Espanha. Atuou como pesquisadora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação 
Getulio Vargas (FGV-SP), Foi Diretora Executiva do Escritório brasileiro do Instituto Latino 
Americano das Naçoes Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente 
(ILANUD) Atua como Consultora do UNICEF (Fundo das Nações Unidas pela Infância) em 
matéria de justiça da infância e juventude. Atualmente é Coordenadora do Programa de 
Pós-Graduação em Direito (PRODIR) da Universidade Federal de Sergipe. Tem 
publicações e experiência acadêmica nas áreas de Direito da Criança e do Adolescente, 
Direitos Humanos e Direito Penal e Criminologia. 
 
 
 
 
 
Prof.ª Dra. 
Silvia Losacco 
Psicóloga, Especialista em psicodrama pelo Instituto Sedes 
Sapientiae, Mestre em Artes Cênicas pela Universidade de 
São Paulo (1990) e Doutorada em Serviço Social pela 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). 
Atua na área das políticas sociais e públicas para crianças, adolescentes, famílias e 
comunidade na formulação, coordenação, implantação, acompanhamento e avaliação de 
projetos, programas e políticas; e, na formação de profissionais do Sistema de Garantia de 
Direitos da Criança e do Adolescente. Dentre outros projetos para organismos 
internacionais e nacionais, foi consultora da SNPDCA-SDH/PR - Secretaria Nacional de 
Promoção dos Direitos da Criança e o Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da 
Presidência da República e UNFPA-ONU Fundo de População das Nações Unidas para a 
elaboração do Relatório da Convenção dos Direitos da Criança da Organização das 
Nações Unidas - ONU. Foi Pesquisadora convidada do Programa de Estudos Pós-
graduados em Serviço Social da PUC-SP para a Cocoordenação do Núcleo de Estudos e 
Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente, de 2003 a 2009. Sócia-presidente da 
Motivação Assessoria e Consultoria Sociocultura Ltda. Condecorada com a medalha Cel. 
Paul Balagny pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. 
 
2 
Primeira Infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Feliz aquele que 
transfere o que sabe e 
aprende o que ensina.” 
Cora Coralina 
 
3 
Primeira Infância 
Apresentação do Curso 
O Curso que ora se apresenta visa proporcionar uma 
adequada formação para os diversos atores sociais que compõem o 
Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente 
brasileiros. Desta forma, dá continuidade a uma nova era de 
compreensões que deverão proporcionar planejamentos e práticas 
com ações eficientes, garantindo direitos aos cidadãos da faixa etária 
da criança e do adolescente. 
Por meio de etapas temáticas distintas e complementares, a 
construção e a operacionalização desta formação, em forma de 
curso, consideraram um coletivo diversificado, composto por 
profissionais de diferentes instâncias governamentais e não-
governamentais, bem como baseou-se no conhecimento já formulado 
em diferentes campos do saber. A abordagem apresentada 
contempla textos que deverão proporcionar entendimentos que 
promovam o saber-fazer; textos pautados nas legalidades vigentes e 
nas normativas nacionais e internacionais - todas as abordagens 
impressas no Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Os instrumentais teórico-metodológicos disponibilizados 
objetivam proporcionar o desencadeamento do repensar sobre as 
práticas cotidianas, ao mesmo tempo em que deverão transmitir 
conhecimentos que despertem para saberes pautados no paradigma 
de direitos, proporcionando, assim, a edificação de formas efetivas do 
fazer eficiente, eficaz e efetivo para a promoção de direitos. Os textos 
objetivam contribuir para a prática cotidiana, assim como para as 
buscas de mais saberes por meio das indicações de Leis e 
normativas, de filmes e de outros textos que não das autoras 
responsáveis por esta apresentação. Deste modo, passo a passo, 
numa construção contínua e dinâmica, o compromisso com os 
direitos da criança e do adolescente se faz presente! 
A intenção maior é que os direitos humanos se tornem 
qualidade de todas as políticas públicas, valorizando o indivíduo, a 
sociedade e a ação local. 
Os conteúdos derivam da intersecção com os distintos 
momentos de apreensão dos saberes. Apresentados por meio de 
eixos estruturantes, são exibidos por uma forma lógica que contempla 
 
4 
Primeira Infância 
o caminhar da história, as conquistas no decorrer do tempo e as 
características de cada fase do desenvolvimento etário, assim como 
as leis que devem proteger as crianças e os adolescentes das 
violações vividas. 
Compreendemos que conteúdos específicos deverão 
promover, na prática, ações diversificadas. 
As contribuições, ao mesmo tempo em que instruem, deverão 
permitir a aquisição e/ou a revisão de saberes e fazeres que possam 
permitir: 
 Reordenamentos conceituais e de gestão/organizacionais 
(ainda) necessários nas diferentes instâncias; 
 A construção de instrumentais de sistematização de 
atendimentos, de normas e de leis; 
 A execução de eventos que subsidiem o saber; e, 
consequentemente, 
 O desenvolvimento de práticas que promoverão a eficiência, 
a efetividade e a eficácia dos atendimentos de crianças, 
adolescentes e suas famílias de cada município. 
Portanto, valerá questionar: 
 Quais os espaços que propiciam o desvelamento de valores 
(subjetividades) que carregam em si os estigmas advindos do 
processo histórico nacional que subsidiam as condutas e as 
políticas (objetividade)? 
 Quais os tempos/lugares que transformam o espaço fechado 
e imutável de decisões em espaço de diálogos para a 
obtenção de uma moderna gestão social de trabalho em rede 
através de projeto integrado? 
 De que forma tem sido possibilitada a formação de parcerias, 
para os enfrentamentos das múltiplas e diferentes 
vulnerabilidades e risco de crianças e de adolescentes? 
 Quais são as metodologias e os instrumentais necessários 
para a reconstrução que, ao mesmo tempo, visam dar conta 
das peculiaridades de cada faixa etária e das singularidades 
de cada sujeito, permitindo uma apreensão crítica das 
diversidades de contextos que desencadeiam a 
 
5 
Primeira Infância 
vulnerabilidade e/ou o risco? 
As conquistas impressas na trajetória de direitos da criança e do 
adolescente brasileiro ainda enfrentam desafios tanto no alcance das 
legalidades, quanto nas práticas a elas dirigidas; seja no âmbito da 
segurança pública, da justiça, do legislativo e/ou do executivo 
governamental ou não. 
Os tempos vigentes geram novos contextos. Da mesma forma, a 
sociedade brasileira, de maneira justa, cobra ações que venham ao 
encontro de um cenário que requer um repensar sobre as 
possibilidades de procedimentos que permitam superar a(s) 
vulnerabilidade(s) pessoal e/ou social e riscos de vida daqueles que 
compõem a faixa etária em tela. 
Vale pontuar que textos, legais (ou não) são apenas amontoados 
de letras impressas e mortas até que o leitor se aproprie de seus 
conteúdos e lhes deem vida. 
Os tópicos aqui apresentados não pretendem contemplar a 
totalidade de saberes de cada temática. Buscam, sim, ampliar 
diversificadas aquisições teórico-práticas podendo ser a base de 
novos caminhos a trilhar. Este processo é mais um desafio de grande 
responsabilidade, porém necessário e importante para avançarmos. 
 
Boas leituras! 
 
As autoras 
Prof.ª Dra. Karyna Batista Sposato 
Prof.ª Dra. Silvia Losacco 
 
 
 
6 
Primeira Infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eixo 1 
Conceitos Fundamentais do Direito daCriança e do Adolescente 
 
7 
Primeira Infância 
PARTE 1 – 
Situando o Direito da Criança e do Adolescente 
 
Direitos da Criança como Direitos Fundamentais 
 
1. Direitos da Criança como Direitos Fundamentais 
O Direito da Infância-Adolescência encerra regras 
constitucionais e normas internacionais de proteção da pessoa 
humana, entrelaçado com a Teoria dos Direitos Fundamentais,1 como 
direitos subjetivos, entendidos como normas de determinado 
ordenamento jurídico atribuídas universalmente a todos enquanto 
pessoas e cidadãos. O conceito de direitos subjetivos abrange 
qualquer expectativa de atos jurídicos, expectativa essa que se revela 
em prestações positivas ou na expectativa negativa de não sofrer 
lesões. 
A definição de direitos subjetivos se ancora em 
características importantes: os direitos fundamentais são 
estabelecidos de forma universal (universalidade), mediante um 
estatuto de regras gerais e abstratas (normatividade), e possuem 
caráter indisponível e inalienável (indisponibilidade). 
Todos estes elementos se fazem presentes nos Direitos da 
Criança e do Adolescente, que se constitui como uma classe de 
direitos fundamentais. A universalidade se realiza porque todas as 
relações jurídicas das quais participem crianças e adolescentes são 
reguladas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e, nesse 
aspecto, estão incluídos toda criança e todo adolescente 
independentemente de classe social. O artigo 3 º do ECA dispõe: 
 ARTIGO 3º ECA - A criança e o adolescente gozam 
de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa 
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata 
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, 
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar 
 
8 
Primeira Infância 
o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e 
social, em condições de liberdade e de dignidade. 
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei 
aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem 
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, 
sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, 
condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, 
condição econômica, ambiente social, região e local de 
moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as 
famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído pela Lei 
nº 13.257, de 2016) 
 
O parágrafo único deste artigo enuncia o princípio da 
universalidade e não discriminação de nenhuma natureza ou índole. 
A normatividade é composta além da legislação especial, das 
regras constitucionais2 e dos princípios decorrentes dos tratados 
internacionais ratificados pelo Estado Brasileiro, e a indisponibilidade 
de tais direitos é atributo que deriva de interesses igualmente 
protegidos, da criança, do adolescente e da sociedade, que são 
irrenunciáveis e intransigíveis. 
Por fim, a introdução da Proteção Integral como princípio 
basilar do Direito da Criança e do Adolescente3 e 4 evidencia tratar-se 
de Direito Público e da tutela de direitos primários, substanciais, ou 
seja, direitos da pessoa ou de personalidade. 5 
É importante sublinhar que o Estatuto da Criança e do 
Adolescente inaugurou no ordenamento jurídico brasileiro um 
Sistema de Garantias e de Direitos para todas as crianças e 
adolescentes, consubstanciado em um conjunto de novos 
referenciais teóricos que serão objeto desta reflexão. 
Do ponto de vista doutrinário, a superação da doutrina da 
Situação Irregular pela da Proteção Integral está explicitada no 
primeiro artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
evidenciando um caráter diametralmente oposto ao de vigilância 
presente no Código de Menores de 1979: 
 
9 
Primeira Infância 
ARTIGO 1 º ECA - “Esta lei dispõe sobre a 
proteção integral à criança e ao adolescente.” 
 
No que se refere à natureza das ações e à caracterização do 
novo Sistema, o caráter filantrópico é substituído pela criação de 
políticas públicas específicas voltadas à proteção e defesa dos 
direitos da infância e adolescência e, de outra parte, o fundamento 
assistencialista presente nas etapas anteriores é também 
abandonado pelo reconhecimento de que crianças e adolescentes, 
enquanto sujeitos de direitos, gozam de direitos subjetivos. 
De acordo com esse dispositivo, toda criança e todo 
adolescente são sujeitos plenos de direito. O Juiz Paolo Vercelone 
afirma que crianças e adolescentes deixam de ser capitis deminutae, 
sendo titulares de direitos específicos para tornar-se, no futuro, 
cidadãos adultos livres e dignos.6 
Como já dito, são as políticas públicas o grande instrumento 
de efetivação dos direitos da infância e adolescência. Tanto é assim 
que o artigo 4 º da Lei enfatiza a preferência e primazia das crianças 
e dos adolescentes em sua formulação e implementação: 
ARTIGO 4 º - “É dever da família, da comunidade, da 
sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com 
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos 
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, 
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária. 
Parágrafo único – A garantia de prioridade 
compreende: 
a) primazia de receber proteção e socorro em 
quaisquer circunstâncias; 
b) precedência de atendimento nos serviços públicos 
ou de relevância pública; 
c) preferência na formulação e na execução das 
políticas públicas; 
 
10 
Primeira Infância 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas 
áreas relacionadas com a proteção à infância e à 
juventude.” 
 
A construção didática do Sistema de Garantias da Infância e 
Adolescência elaborada pelo juiz Leoberto Narciso Brancher é 
elucidativa.7 As políticas públicas destinadas à infância e 
adolescência podem ser agrupadas em três segmentos distintos: 
 
 
 
 
 
 
 
O juiz da Infância e Adolescência não só constrói uma matriz 
didática do Sistema como possibilita que cada um desses segmentos 
seja identificado a partir do prisma da prevenção: as Políticas Básicas 
correspondem às políticas de prevenção primária; as de Proteção 
Especial são políticas de prevenção secundária; e as Socioeducativas 
consistem na prevenção terciária, portanto última categoria a ser 
acionada. 
Sua construção lança mão ainda da representação de uma 
“sinaleira de trânsito”, um semáforo. As políticas básicas são como 
um sinal verde, uma vez que devem atingir a todos, indistintamente, 
como condição para o desenvolvimento de toda criança e de todo 
adolescente. Já as políticas de proteção especial podem ser vistas 
como um sinal de alerta. Trata-se do sinal amarelo que exige atenção 
para situações de risco pessoal ou social de uma criança ou de um 
jovem. 
Considerando que a interpretação dos princípios, regras e 
normas do Estatuto da Criança e do Adolescente deve se dar de 
forma sistemática e não pontual, parece-nos evidente que essas três 
Políticas Básicas
• Artigo 4º ECA
• Saúde
• Alimentação
• Habitação
• Educação
• Esporte
• Lazer
• Profissionalização
• Cultura
Políticas de Proteção Especial
• Artigos 101/129/23 p.único/ 
34 ECA
• Orientação, apoio e 
acompanhamento 
temporários
• Regresso escolar
• Apoio sociofamiliar / 
manutenção de vínculo
• Necessidades especiais de 
saúde
• Atendimento a vítimas de 
maus-tratos
• Tratamento da drogadição
• Renda mínima familiar
• Guarda subsidiada
• Abrigo
Políticas Socioeducativas
• Artigos 112/129 ECA
• Prestação de serviços à 
comunidade
• Liberdade assistida
• Semiliberdade
• Internação 
 
11 
Primeira Infância 
categorias de políticas públicas voltadas à infância e juventude não 
são estanques nem independentes. Pelo contrário, sua 
implementação implica a articulação de serviços e programas, e o 
exemplo da cumulação de medidas protetivas associadas à 
imposição de uma medida socioeducativa é emblemático.8 
Assim, o reconhecimento da dignidade humana de todo 
adolescente impõe a existência de uma “justiça relativa” queintroduza 
em seu funcionamento o critério da sanção mais adequada para cada 
caso concreto. A justiça, nessa perspectiva, passa a caracterizar-se 
como ação social, na medida em que reconhece também o delito ou 
o ato infracional praticado por adolescentes como fato social, para 
além dos marcos estreitos da lei e do direito penal.9 
 
2. A constitucionalização do direito da criança e do adolescente 
Não seria possível abordar o Direito da Criança e do Adolescente 
sem nos referirmos à transição democrática e às disposições de 
nossa Constituição de 1988. 
Portanto, uma breve recuperação do que foi o processo popular 
de construção da Constituição de 1988, no campo dos direitos da 
infância e adolescência, permite identificar três aspectos centrais: O 
primeiro já externado por Luigi Ferrajoli de que não só a democracia 
garante a luta pelos direitos, mas também, e fundamentalmente, a 
luta pelos direitos garante a democracia;10 Em segundo, a capacidade 
do direito de influenciar a política social, a partir da relação entre a 
condição jurídica e a condição material da infância; E por último, mas 
não menos importante, a descoberta de forma empírica de que os 
problemas da infância são problemas da democracia. 
A partir de 1985, no bojo da Convenção Constituinte, o movimento 
de luta pelos direitos da infância reuniu 250 mil assinaturas e 
articulou-se em torno de duas Emendas à Constituição. Seu resultado 
é a introdução dos princípios básicos de proteção e garantia de 
direitos da criança e do adolescente no texto constitucional de 1988. 
As reivindicações da Campanha Criança e Constituinte traduziam 
em exata medida a necessidade de substituição do paradigma tutelar 
 
12 
Primeira Infância 
pelo garantista, com incidência em todas as políticas de atenção à 
infância e juventude, inclusive para os infratores. 
Tal introdução correspondia ao consenso na comunidade 
internacional acerca da necessidade de políticas especiais para a 
infância e adolescência e ao que posteriormente se constituiu nos 
princípios inaugurados pela Convenção Internacional das Nações 
Unidas sobre os Direitos da Criança.11 
Dois artigos da Constituição Federal de 1988 revelam a 
superação da doutrina da situação irregular e, por conseqüência, da 
legislação menorista. Os artigos 204 e 227 são os pilares da 
constitucionalidade do novo Direito que tomava forma e implicava a 
deslegitimação do velho Direito do Menor, presente na legislação 
anterior (o Código de Menores de 1979). 
Conforme o artigo 204 da Constituição Federal, as políticas 
públicas voltadas à infância necessariamente devem observar duas 
diretrizes básicas: a descentralização político-administrativa e a 
participação popular por meio de organizações representativas. 
O artigo 227, por sua vez, estabelece a prioridade absoluta 
da criança e do adolescente no ordenamento jurídico brasileiro.12 
Enquanto o antigo direito não era o direito de todos os menores de 
idade, mas somente dos menores de 18 anos em situação irregular, 
o novo direito da Criança é o direito de todas as crianças e 
adolescentes.13 
De acordo com a sistemática anterior, o menino abandonado 
ou vítima de maus-tratos familiar ou privado da saúde ou educação 
era considerado em situação irregular. Com a regra da prioridade 
absoluta, está em situação irregular o pai que não cumpre os deveres 
do pátrio poder e o Estado que não oferece as políticas sociais 
básicas. 
O parágrafo 3º do artigo 227 da Constituição é 
significativamente enfático na superação do antigo modelo: 
ARTIGO 227 CF/88 - “O direito à proteção especial 
abrangerá os seguintes aspectos: 
 
13 
Primeira Infância 
I – idade mínima de 14 anos para admissão ao 
trabalho, observado o disposto no artigo 7º, XXXIII; 
II – garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; 
III – garantia de acesso do trabalhador adolescente à 
escola; 
IV – garantia de pleno e formal conhecimento da 
atribuição de ato infracional, igualdade na relação 
processual e defesa técnica por profissional 
habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar 
específica; 
V- obediência aos princípios de brevidade, 
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de 
pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação 
de qualquer medida privativa de liberdade; 
VI – estímulo do Poder Público, através de 
assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, 
nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de 
guarda, de criança ou adolescente órfão ou 
abandonado; 
VII – programas de prevenção e atendimento 
especializado à criança ou adolescente dependente 
de entorpecentes e drogas afins.” 
 No que tange ao tratamento repressivo a condutas anti-
sociais ou ilícitas de menores de 18 anos de idade, com a 
promulgação da Constituição democrática, o norte passou a ser o 
artigo 228 da Constituição Federal de 1988: 
ARTIGO 228 CF/88 - “São penalmente 
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos 
às normas da legislação especial.” 
 
A norma constitucional, portanto, reforçou o dispositivo do artigo 
27 do Código Penal de 1940 que adota, desde então, a presunção 
 
14 
Primeira Infância 
absoluta de inimputabilidade aos menores de 18 anos. Significa que 
não são passíveis de receber pena criminal, e sim sanções especiais, 
denominadas como medida socioeducativa conforme dispõe o 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
 
3. A Doutrina Jurídica da Proteção Integral e os Tratados 
Internacionais 
Como dito, o advento da Constituição democrática de 1988 tornou 
clara a necessidade de reformulação da legislação especial 
infraconstitucional para crianças e adolescentes, de modo que 
combinasse com a construção normativa internacional e seus 
avanços. 
Dois anos depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 
8.069 de 13 de julho de 1990, instrumentalizou o mandamento 
constitucional da Prioridade Absoluta por meio da Doutrina Jurídica 
da Proteção Integral, sintetizando o pensamento do legislador 
constituinte a partir de garantias substanciais e processuais 
destinadas a assegurar os direitos consagrados. 
É inegável, desse modo, a relação intrincada entre a 
Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente. Contemporâneos ao consenso na comunidade das 
nações14 acerca da necessária proteção especial às crianças e 
adolescentes, ambos se caracterizam pelo forte teor programático de 
suas disposições. 
A opção principiológica do legislador constituinte e estatutário 
responde à dinâmica e ao contexto político de elaboração das duas 
normas. Pode-se dizer que ambas passam a reconhecer direitos e 
garantias a parcelas da população anteriormente excluídas por 
completo das prioridades e finalidades do Estado. 
A redação do artigo 3º ECA indica que a própria lei não esgota 
sua operacionalização, que deve ser atingida mediante políticas 
públicas e ações efetivas da sociedade. Daí a expressão “outros 
meios”. 
 
15 
Primeira Infância 
Assim como ocorre em diversas disposições constitucionais, 
no Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma sutil, o legislador 
lançou mão de normas de EFICÁCIA CONTIDA, dependentes de futura 
regulamentação e da necessária implementação de políticas 
públicas. 
De certo modo, essa técnica legislativa é também 
decorrência da sintonia que o Estatuto da Criança e do Adolescente 
guarda com os princípios e preceitos da Convenção Internacional 
sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo Estado brasileiro, meses 
depois da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do 
Adolescente.15 
A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança é 
fruto de dez anos de trabalhos da Assembléia Geral das Nações 
Unidas, que nesse período preparou as disposições que viriam a 
constituir o documento. As disposições e artigos retomam direitos e 
liberdades proclamados pela Declaração Universal dos Direitos 
Humanos e Pactos Internacionais. São retomados também os 
princípios da Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança de 
1924 e da Declaraçãosobre os Direitos da Criança adotada em 1959. 
No Pacto de Direitos Civis e Políticos (PIDCP), os artigos 23 
e 24 cuidam da questão da família e da criança, apontando a 
responsabilidade da família, da sociedade e do Estado no 
estabelecimento de medidas que garantam a condição da criança. O 
Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), 
particularmente o artigo 10, também se remete ao tema, protegendo 
a família, as mães e todas as crianças e adolescentes contra qualquer 
exploração econômica e social. 
Ressalte-se que a Convenção, ao reiterar elementos das 
declarações internacionais anteriores, inova no estabelecimento de 
elementos de defesa efetiva da cidadania. Chamada por Edson Sêda 
de a “Lei das leis”, a Convenção consolida um Corpo de legislação 
internacional denominado “Doutrina das Nações Unidas de 
Proteção Integral da Infância”16. 
 
16 
Primeira Infância 
Esse corpo legal é formado pela própria Convenção, pelas 
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça 
de Menores (Regras de Beijing), pelas Regras Mínimas das Nações 
Unidas para a Proteção dos Jovens privados de Liberdade, e pelas 
Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinqüência 
Juvenil (diretrizes de Riad). 
De modo geral, especialmente na América Latina e Caribe, 
as regras da Convenção conviveram de forma contraditória com as 
legislações de menores. No entanto, o exemplo brasileiro 
desencadeou um processo inovador de reformas legislativas pela 
adequação das leis domésticas ao tratado, favorecendo dessa forma 
que a Convenção não restasse como mais um instrumento de direito 
internacional de escassa exigibilidade. Pelo contrário, seu surgimento 
e difusão coincidiram com a transição democrática em muitos países 
latino-americanos. 
As disposições da Lei 8.069/90 demonstram com clareza a 
influência dos princípios fixados pela Convenção, que de modo 
uníssono traduzem a afirmação histórica dos direitos humanos. No 
caso de crianças e adolescentes, o reconhecimento da condição 
peculiar de pessoa em desenvolvimento é uma decorrência lógica do 
princípio da dignidade da pessoa humana 17. 
O conteúdo e a abrangência da mudança de paradigma 
introduzida pela Doutrina da Proteção Integral no ordenamento 
jurídico brasileiro são de alta complexidade, mas podem ser ilustrados 
por seis aspectos principais: 
a) reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de 
direitos; 
b) institucionalização da participação comunitária por intermédio 
dos Conselhos de Direitos, com participação paritária e 
deliberativa 18 para traçar as diretrizes das políticas de 
atenção direta à infância e juventude; 
c) hierarquização da função judicial, com a transferência de 
competência aos Conselhos Tutelares para agir diante da 
ameaça ou violação de direitos da criança no âmbito 
municipal; 
 
17 
Primeira Infância 
d) municipalização da política de atendimento; 
e) eliminação de internações não vinculadas ao cometimento – 
devidamente comprovado – de delitos ou contravenções; 
f) incorporação explícita de princípios constitucionais em casos 
de infração penal, prevendo-se a presença obrigatória de 
advogado e função do Ministério Público como de controle e 
contrapeso. 
 
 
 
 
 
 
Para aprofundar, sugerimos a leitura e aproximação com os 
textos dos instrumentos internacionais de proteção dos direitos 
da criança e do adolescente: 
 Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do 
Adolescente das Nações Unidas - 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-
1994/d99710.htm 
 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm 
 Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm
 
18 
Primeira Infância 
Notas: 
 
1 FERRAJOLI, Luigi. Los Fundamentos de los derechos fundamentales. 
Madrid: Editorial Trotta, 2001. 
2 Na Constituição Federal de 1988 há um capítulo destinado aos direitos da 
criança e do adolescente. Na redação do artigo 227 fica estabelecido: “É 
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão.” 
 
3 Consoante artigo 1º do ECA: “Esta Lei dispõe sobre a Proteção Integral à 
criança e ao adolescente.” 
 
4 FERRAJOLI, LUIGI. Los Fundamentos de los derechos fundamentales. 
Op. cit., p. 293. 
 
5 CURY, Munir; AMARAL E SILVA, Antônio Fernando & GARCIA MENDEZ, 
Emilio. (coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: 
Comentários Jurídicos e Sociais. 3ª Edição, São Paulo: Malheiros Editores, 
2000. 
 
6 BRANCHER, Leoberto Narciso. Visão Sistêmica da Implementação e da 
Gestão da Rede de Atendimento. O Direito é Aprender. Fundescola / Projeto 
Nordeste / MEC, 1999. 
 
7 Consoante o artigo 112 do ECA, que elenca as medidas sócio-educativas 
aplicáveis a um adolescente que transgrediu a lei penal, é possível a 
aplicação também de quaisquer uma das medidas protetivas previstas no 
artigo 101, I a VI da Lei. À título de exemplo, muitos são os casos de 
adolescentes autores de ato infracional com dependência química. A 
situação in concreto demanda não só a imposição de medida sócio-
educativa adequada como também a inclusão do adolescente em programa 
oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e 
toxicômanos. 
 
 
19 
Primeira Infância 
8 BUSTOS RAMÍREZ, Juan. Introducción Al Derecho Penal. Op.Cit, 
pág.173. 
 
9 FERRAJOLI, Luigi. Derechos y Garantias. La ley Del más débil. Madrid: 
Editorial Trotta, 2ª ed., 2001. 
 
10 A Convenção Internacional da Criança é o tratado de maior aceitação 
por toda comunidade internacional, tendo sido ratificada por 191 países, 
exceto Estados Unidos e Somália. Foi ratificada pelo decreto 99.710/90 pelo 
Estado Brasileiro, constituindo-se um princípio em vigor no nosso sistema 
jurídico, através do artigo 5º, parágrafo 2º da Constituição da República. 
 
11 Consoante o artigo 227 da CF/88: É dever da família, da sociedade e do 
Estado assegurar com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
12 AMARAL E SILVA, Antonio Fernando. O Estatuto, Novo Direito da 
Criança e do Adolescente e a Justiça da Infância e da Juventude, p. 04. 
 
13 Segundo informações oficiais de Semenkov (URSS), Manchester (Reino 
Unido) e Chen Jiang Guo (República Popular da China) durante o XIII 
Congresso da Associación Internacional de Magistrados de la Juventud y 
de la Familia, realizado em Turim (Itália) no período de 16 a 21/9/90, “no 
mundo todo, sem exceção, estão-se efetivando investigações com a 
finalidade de melhorar e renovar os métodos de assistência”. 
 
14 Como já se pontuou, a Convenção foi ratificada pelo Estado Brasileiro 
através do decreto 99.710/90, constituindo-se um princípio em vigor no 
nosso sistema jurídico, através do artigo 5º, parágrafo 2º da Constituição da 
República. 
 
15 SÊDA. Edson. A Proteção Integral: um relato sobre o cumprimento do 
Novo Direito da Criança e do Adolescente na América Latina. 4ª ed., São 
Paulo: Adês, 1996. 
 
 
20 
Primeira Infância 
16 O artigo 6º do Estatuto da Criança e doAdolescente é taxativo ao 
estabelecer que “Na interpretação desta Lei, levar-se-ão em conta os fins 
sociais a que ela se destina, as exigências do bem comum, os direitos e 
deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do 
adolescente como pessoas em desenvolvimento. 
 
17 A composição dos Conselhos nas esferas federal, estadual e municipal 
possuem uma composição de 50% de representantes governamentais e 
50% de representantes da sociedade civil. 
 
 
 
Imagens: 
Fundo: 
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Criança de óculos: 
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oculos-em-estudio-tiro_1150-12215.jpg 
 
 
https://br.freepik.com/
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21 
Primeira Infância 
Linha do Tempo – Passos e Conquistas 
 
O olhar através da história nacional aponta a gênese do 
instrumento legal vigente, promulgado e regulamentado pela Lei nº 
8.069/90 – o Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, a garantia 
das prerrogativas legais conquistadas ainda não modificou e 
tampouco corrigiu as contradições existentes entre as necessidades 
reais apresentadas e a satisfação destas no campo da atenção à 
criança e ao adolescente1 no Brasil. 
Nesta trajetória, vale resgatar os caminhos percorridos: 
 
Fundada a 1ª Santa Casa de Misericórdia 
Populações carentes eram entregues aos cuidados da Igreja Católica 
que atuavam tanto com doentes quanto com os órfãos e desprovidos. 
(roda dos expostos Implantada em Portugal). 
Implantação da primeira Roda dos Expostos² em Salvador. 
 
 
Implantação da Roda dos Expostos na cidade do Rio de Janeiro 
 
Regulamentação do ensino obrigatório para crianças saudáveis 
e de classes sociais abastadas 
A lei não se aplicava universalmente, já que ao escravo não 
havia esta garantia. O acesso era negado também àqueles que 
padecessem de moléstias contagiosas e aos que não tivessem sido 
vacinados. Estas restrições atingiam as crianças vindas de famílias 
que não tinham pleno acesso ao sistema de saúde, o que faz pensar 
sobre a influência da acessibilidade e qualidade de uma política social 
sobre a outra ou como vemos aqui, de como a não cobertura da saúde 
 
22 
Primeira Infância 
restringiu o acesso das crianças à escola, propiciando uma dupla 
exclusão aos direitos sociais. 
 
Código Criminal da República determina penalização de crianças 
entre 9 e 14 anos 
Em 11 de Outubro de 1890 cria-se o Código Criminal da 
República para conter o aumento da violência urbana. A 
responsabilização penal passa a considerar a Teoria do 
Discernimento. Assim, crianças entre 9 e 14 anos são avaliadas 
psicologicamente e penalizadas de acordo com o seu "discernimento" 
sobre o delito cometido. Elas poderiam receber pena de um adulto ou 
ser consideradas imputável. 
 
Decreto nº 1.313 - Regulamentação do trabalho infantil 
Estipulava a idade mínima em 12 anos para se trabalhar. 
Segundo alguns autores, no entanto, tal determinação não se fazia 
valer na prática, pois as indústrias nascentes e a agricultura contavam 
com a mão de obra infantil. 
 
Idade mínima para responder criminalmente passa a ser de 14 
anos 
A lei nº 4.242 tratou da assistência e proteção de "menores 
abandonados" e "menores delinquentes", sendo regulamentada 
posteriormente em 1923 por decreto. Aqueles jovens autores ou 
cumplices de crime ou contravenção, considerados "menores 
delinquentes", tornaram-se impútaveis até os 14 anos, não valendo 
mais a Teoria do Discernimento de 1890. 
 
 
 
 
23 
Primeira Infância 
Criado o Juizado de Menores 
Tendo Mello Mattos como o primeiro Juiz de Menores da América 
Latina. 
 
Caso Bernardino: menino é violentado na prisão 
O engraxate Bernadino, de 12 anos, foi preso ao jogar tinta 
em uma pessoa que saiu sem pagar pelo serviço. Colocado em uma 
prisão junto a 20 adultos, o menino negro foi violentado de várias 
formas e jogado na rua. Levado para um hospital, narrou o ocorrido 
para jornalistas. O caso ganha repercussão e mobiliza debates sobre 
locais específicos para destinar crianças que cumpram algum tipo de 
pena. 
 
 
Código de Menores 
Promulgado o primeiro documento legal para a população 
menor de 18 anos, que ficou popularmente conhecido como Código 
Mello Mattos. 
O Código de Menores era endereçado não a todas as 
crianças, mas apenas àquelas tidas como estando em "SITUAÇÃO 
IRREGULAR". 
 O código definia, já em seu Artigo 1º, a quem a lei se aplicava: 
“O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver 
menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade 
competente ás medidas de assistência e protecção contidas neste 
Codigo." (grafia original) Código de Menores - Decreto N. 17.943 A – 
de 12 de outubro de 1927 
Código de Menores visava estabelecer diretrizes claras para 
o trato da infância e juventude excluídas, regulamentando questões 
como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade 
vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande 
 
24 
Primeira Infância 
poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava 
a mercê do julgamento e da ética 
 
Constituição Federal do Brasil 
Consolida o previsto no decreto nº 22.042, fixando a idade 
mínima de 14 anos para o trabalho, proibindo-se o trabalho noturno 
aos menores de 16 anos e, em indústrias insalubres aos menores de 
18 anos. 
 
Estado Novo 
Marcado no campo social pela instalação do aparato executor 
das políticas sociais no país: a legislação trabalhista, a 
obrigatoriedade do ensino e a cobertura previdenciária associada à 
inserção profissional, alvo de críticas por seu caráter não universal, 
configurando uma espécie de cidadania regulada – restrito aos que 
tinham carteira assinada. O voto universal foi reconhecido nesta 
época como um direito político de indivíduos, excluídos até então, 
como as mulheres. 
 
3
Criado o Serviço de Assistência ao Menor – SAM 
Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que 
funcionava como um equivalente do sistema Penitenciário para a 
população menor de idade. Sua orientação era correcional-
repressiva. 
O sistema previa atendimento diferente para o adolescente 
autor de ato infracional e para o menor carente e abandonado, de 
acordo com a tabela abaixo: 
 
 
 
 
 
 
25 
Primeira Infância 
Tabela 2. Serviço de Assistência ao Menor – SAM 
 
Situação 
Irregular 
Menor Carente e 
Abandonado 
Adolescente 
Autor de Ato 
Infracional 
Tipo de 
Atendimento 
Patronatos agrícolas 
e escolas de 
aprendizagem de 
ofícios urbanos 
Internatos: 
reformatórios e 
casas de 
correção 
Fonte: elaborado pelo instituto motivação 
 
Além do SAM, algumas entidades federais de atenção à 
criança e ao adolescente ligadas à figura da primeira dama foram 
criadas. Alguns destes programas visavam o campo do trabalho, 
sendo todos eles atravessados pela prática assistencilalista: 
 LBA - Legião Brasileira de Assistência: agência nacional 
de assistência social criada por Dona Darcy Vargas. 
Intitulada originalmente de Legião de Caridade Darcy Vargas, 
a instituição era voltada primeiramente ao atendimento de 
crianças órfãs da guerra. Mais tarde expandiu seu 
atendimento. 
 Casa do Pequeno Jornaleiro: programa de apoio a jovens 
de baixa renda baseado no trabalho informal e no apoio 
assistencial e sócio-educativo. 
 Casa do Pequeno Lavrador: programa de assistência e 
aprendizagem rural para crianças e adolescentes filhos de 
camponeses. 
 Casa do Pequeno Trabalhador: Programa de capacitação 
e encaminhamento ao trabalho de crianças e adolescentes 
urbanos de baixa renda. Casa das Meninas: programa de 
apoio assistencial e sócio-educativo a adolescentes do sexo 
feminino com problemas de conduta. 
 
 
 
 
26 
Primeira Infância 
Primeiro escritório do UNICEF no Brasil- João Pessoa – Paraíba 
O primeiro projeto realizado no Brasil destinou-se às 
iniciativas de proteção à saúde da criança e da gestante em alguns 
estados do nordeste do país. 
 
Golpe Militar 
O período dos governos militares foi pautado, para a área da 
infância, por dois documentos significativos e indicadores da visão 
vigente: 
=> Criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor –
FUNABEM 
Lei 4.513 de 1 º de dezembro 
Seus fundamentos estão na Política da Segurança Nacional 
e se caracterizava como estratégia social daquele período que, no 
caso, via os pobres como desqualificados e despossuídos e buscava, 
assim, o “controle da pobreza” institucionalizando crianças e 
adolescentes em “situação irregular”, fossem por abandono material 
ou moral e/ou infratores, seu principal foco. 
=> Nascem as FEBENS - FUNDAÇÃO DO BEM-ESTAR DO 
MENOR 
Instituição totalizadora, onde, no mesmo espaço físico, 
crianças e adolescentes institucionalizados por carência (na maioria), 
maus tratos ou infração moravam, estudavam, brincavam e só lá se 
relacionavam com os parceiros institucionalizados e funcionários. 
 
Nova Constituição brasileira – legalização das restrições 
 
Promulgação do novo Código de Menores 
Lei 6.697 de 10 de outubro 
 
27 
Primeira Infância 
Constituiu-se em uma revisão do Código de Menores de 
1927, não rompendo, no entanto, com sua linha principal de 
arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto à população 
infanto-juvenil. Esta lei introduziu o conceito de "MENOR EM 
SITUAÇÃO IRREGULAR", que reunia o conjunto de meninos e 
meninas que estavam dentro do que alguns autores denominam 
infância em "perigo" e infância "perigosa". Esta população era 
colocada como objeto potencial da administração da Justiça de 
Menores. É interessante que o termo "autoridade judiciária" aparece 
no Código de Menores de 1979 e na Lei da Fundação do Bem Estar 
do Menor, respectivamente, 75 e 81 vezes, conferindo a esta figura 
poderes ilimitados quanto ao tratamento e destino desta população. 
 
Declaração Universal dos Direitos da Criança. 
Passo inicial para a fixação da doutrina da PROTEÇÃO 
INTEGRAL DA CRIANÇA, a qual prega o INTERESSE SUPERIOR 
DA CRIANÇA, em nível internacional. 
Convenção nº 138 da OIT 
Mínima de admissão ao emprego, não inferior à idade de 
conclusão da escolaridade compulsória ou, em qualquer hipótese, 
não inferior a quinze anos. Quanto aos trabalhos perigosos, a 
Convenção veda-os aos menores de 18 anos. Os movimentos sociais 
e políticos que redemocratizaram o país engendraram avanços 
inéditos no campo da normatização de direitos e de garantias 
fundamentais que resultou na Constituição Federal de 1988, 
chamada Constituição Cidadã. A moderna concepção do 
constitucionalismo nacional ensejou não só a ratificação de Tratados 
e Convenções internacionais de proteção dos Direitos Humanos, 
como a inclusão em seu texto constitucional, de forma irrevogável, de 
princípios consagrados nos referidos instrumentos internacionais, 
dando-lhes força de norma de aplicabilidade imediata. 
 
 
 
28 
Primeira Infância 
Assembleia Nacional Constituinte 
Presidida pelo deputado Ulysses Guimarães, membro do 
PMDB, era composta por 559 congressistas e durou 18 meses. 
 
Constituição Federal Brasileira 
5 de outubro - marcada por avanços na área social, introduz 
um novo modelo de gestão das políticas sociais que conta com a 
participação ativa das comunidades através dos conselhos 
deliberativos e consultivos. 
Na Assembleia Constituinte organizou-se um grupo de 
trabalho comprometido com o tema da criança e do adolescente, cujo 
resultado concretizou-se no artigo 227, que introduz conteúdo e 
enfoque próprios da DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL DA 
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, trazendo os avanços da 
normativa internacional para a população infanto-juvenil brasileira. 
Este artigo garante às crianças e aos 
adolescentes os direitos fundamentais de 
sobrevivência, desenvolvimento pessoal, 
social, integridade física, psicológica e moral, 
além de protegê-los de forma especial, ou 
seja, através de dispositivos legais 
diferenciados, contra negligência, maus 
tratos, violência, exploração, crueldade e 
opressão. Estavam lançadas, portanto, as 
bases do Estatuto da Criança e do Adolescente! 
É um conjunto de leis, normas e regras que regula e organiza 
o funcionamento do Estado. É a lei máxima que limita poderes e 
define os direitos e deveres dos cidadãos. Nenhuma outra lei do país 
pode estar em conflito com a Constituição. Elaborada por uma 
assembleia eleita pelo povo, a Constituição brasileira pode receber 
emendas e reformas, mas possui cláusulas pétreas (conteúdos que 
não podem ser abolidos), como definição da idade da 
inimputabilidade penal. 
 
29 
Primeira Infância 
Na conquista dos direitos da criança e do adolescente, pela 
primeira vez na história do Brasil, passa a constar em sua Carta 
Magna um artigo exclusivamente destinado a garantir os direitos 
deste segmento da população: 
ART. 227 " É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança e ao adolescente, com prioridade absoluta, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão”. 
 
 
Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA 
Ao atribuir à criança e ao adolescente prioridade absoluta no 
atendimento aos seus direitos como cidadãos brasileiros, este artigo 
foi regulamentado pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990. Assegura 
todos os direitos fundamentais à pessoa humana a todas as crianças 
e adolescentes brasileiros, além de sua proteção integral, visando 
facultar-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e 
social em condições de liberdade e dignidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
Primeira Infância 
 
Signatário de normativas internacionais promulgadas pela 
Organização das Nações Unidas – ONU, no processo de conquistas 
legais, o Brasil assinou e se comprometeu a cumprir: 
 
 
Tratados Internacionais 
Organização das Nações Unidas - ONU 
 
Regras de Beijing 
Visa: garantir a promoção do bem-estar do adolescente que cometeu 
ato infracional; evitar sanções meramente punitivas; manter o 
princípio da proporcionalidade da sanção com a gravidade do ato 
infracional; levar em conta a condição pessoal de cumprir a medida 
socioeducativa em questão. 
 
Convenção internacional dos direitos da criança 
20 de novembro, assinada pelo Brasil em 26 de janeiro de 1990 
 = 
estipular padrões, definir acordos 
 
 
 
31 
Primeira Infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A pressão social em torno da temática do adolescente autor 
de ato infracional e as dificuldades para a implementação de uma 
política especializada que desse conta da reversão do quadro 
apresentado, fez com que, desde 1996, se instalasse um amplo 
processo de discussão coletivo entre sociedade civil, Estado, 
especialistas e atores sociais do Sistema de Garantia de Direitos da 
Criança e do Adolescente nas diversas regiões do país. 
 
Regras de Tóquio - Regras Mínimas da ONU para a elaboração 
de Medidas não Privativas de Liberdade. 
(Resolução 45/110) 
Tem como princípio favorecer o recurso a medidas não privativas de 
liberdade, assim como garantias mínimas para as pessoas 
submetidas a medidas substitutivas da prisão; visam encorajar a 
coletividade a participar mais no processo da justiça penal e, muito 
•É um conjunto de critérios, 
normas e regras adotadas.
•A convenção é um instrumento 
de direito mais forte que uma 
declaração.
•A DECLARAÇÃO SUGERE 
PRINCÍPIOS pelos quais os povos 
devem guiar-se.
•A CONVENÇÃO vai mais além, 
ESTABELECE NORMAS, isto é, 
DEVERES e OBRIGAÇÕES aos 
países que a ela formalizam sua 
adesão.
•A CONVENÇÃO confere a esses 
direitos a força de lei 
internacional,não estando, no 
entanto, acima dos direitos 
nacionais.
C
O
N
V
E
N
Ç
Ã
O
 
32 
Primeira Infância 
especialmente, no tratamento dos delinqüentes4, assim como 
desenvolver nestes últimos o sentido da sua responsabilidade para 
com a sociedade; os Estados membros esforçam-se por aplicar as 
presentes Regras de modo a realizarem um justo equilíbrio entre os 
direitos dos delinqüentes,4 os direitos das vítimas e as preocupações 
da sociedade relativas à segurança pública e à prevenção do crime; 
nos seus sistemas jurídicos respectivos, os Estados membros 
esforçam-se por introduzir medidas não privativas de liberdade para 
proporcionar outras opções a fim de reduzir o recurso às penas de 
prisão e racionalizar as políticas de justiça penal, tendo em 
consideração o respeito dos direitos humanos, as exigências da 
justiça social e as necessidades de reinserção dos delinqüentes. 
Diretrizes de Riad para a prevenção da delinqüência juvenil. 
Visa a mobilização e os esforços dos Estados-parte na prevenção do 
cometimento de ato infracional pelos adolescentes. Essas políticas e 
medidas deverão conter o seguinte:a) criação de meios que permitam 
satisfazer às diversas necessidades dos jovens e que sirvam de 
marco de apoio para velar pelo desenvolvimento pessoal de todos os 
jovens, particularmente daqueles que estejam patentemente em 
perigo ou em situação de insegurança social e que necessitem um 
cuidado e uma proteção especiais; b) critérios e métodos 
especializadas para a prevenção da delinqüência, baseados nas leis, 
nos processos, nas instituições, nas instalações e uma rede de 
prestação de serviços, cuja finalidade seja a de reduzir os motivos, a 
necessidade e as oportunidades de cometer infrações ou as 
condições que as propiciem; c) uma intervenção oficial cuja principal 
finalidade seja a de velar pelo interesse geral do jovem e que se 
inspire na justiça e na eqüidade; d) proteção do bem-estar, do 
desenvolvimento, dos direitos e dos interesses dos jovens; e) 
reconhecimento do fato de que o comportamento dos jovens que não 
se ajustam aos valores e normas gerais da sociedade são, com 
freqüência, parte do processo de amadurecimento e que tendem a 
desaparecer, espontaneamente, na maioria das pessoas, quando 
chegam à maturidade, e f)consciência de que, segundo a opinião 
dominante dos especialistas, classificar um jovem de "extraviado", 
"delinqüente" ou "pré-delinqüente" geralmente favorece o 
 
33 
Primeira Infância 
desenvolvimento de pautas permanentes de comportamento 
indesejado. 
 
Convenção 182/OIT 
Promulgada a Convenção 182 e a Recomendação 190 da OIT sobre 
a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata 
para sua Eliminação (Decreto 3.597, de 12 de setembro de 2000). 
Novembro de 1999 FEBEM - SP 
Projeto Novo Olhar 
Reordenamento Institucional por meio da reestruturação territorial 
(descentralização e municipalização), física e pedagógica. Implanta 
unidades regionalizadas e descentralizadas segundo dita 
Constituição e o ECA; com arquitetura adequada e contratação e 
qualificação profissional. Estabelece parceria público-privada para a 
coordenação pedagógica com intuito das superações necessárias. 
A descentralização e a municipalização são propostas para o 
reordenamento da gestão da coisa pública; propostas que assumiram 
particular importância a partir da Constituição de 1988. Nessa nova 
divisão, foi conferido ao município maiores atribuições e maiores 
responsabilidades; dentre elas a municipalização do atendimento, 
como diretrizes da política de atendimento (Art. 88, inciso I). 
 
 
Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil 
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançaram, no 
ano da Copa Africana de Nações, a campanha Cartão Vermelho ao 
Trabalho Infantil, aproveitando a realização do evento para discutir o 
problema no continente. 
 
 
 
34 
Primeira Infância 
CONANDA 
Aprova e publica a Resolução Nº 119 estabelece o Sistema Nacional 
de Atendimento Socioeducativo SINASE Tornando-o normativa 
nacional 
 
Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil – Lançamento no Brasil 
A ação, que desde 2002 abrangeu vários países, foi lançada no Brasil 
no dia 12 de junho, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. A 
estratégia da campanha, protagonizada pelo atacante da Seleção 
Brasileira de Futebol, Robinho, foi aproveitar o clima de Copa do 
Mundo e conscientizar a sociedade sobre a exploração do trabalho 
de crianças e adolescentes. Nos anos subsequentes, a campanha 
contou com a participação de vários artistas e personalidades, no 
Brasil e no mundo. 
Lei do Sinase - Lei Federal Nº 12.594 
Câmara e Senado Federal -18 de janeiro 
O SINASE surge, portanto, como uma forma de regulamentar 
a política de atendimento a adolescentes em conflito com a lei em 
todo território nacional. 
É um instrumento jurídico-político que complementa o 
Estatuto da Criança e do Adolescente em matéria de ato infracional e 
medidas socioeducativas. Pode ser concebido como um conjunto 
ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, 
pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o 
processo de apuração de ato infracional até a execução da medida 
socioeducativa. 
A Lei nº 12.594/2012 institui o sistema nacional de 
atendimento socioeducativo, regulamenta a execução das medidas 
socioeducativas destinadas ao adolescente que pratique ato 
infracional; e altera as leis nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto 
 
35 
Primeira Infância 
da Criança e do Adolescente); 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 
7.998, de 11 de janeiro de 1990, 5.537, de 21 de novembro de 1968, 
8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de setembro de 
1993, os decretos-leis nº 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621, de 
10 de janeiro de 1946, e a consolidação das leis do trabalho (CLT), 
aprovada pelo decreto-lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. 
A nova legislação traz consigo as normas para as entidades 
que são responsáveis pelo desenvolvimento de programas de 
atendimento, bem como “parâmetros e diretrizes da gestão 
pedagógica no atendimento socioeducativo. Para tanto, estabelece 
que o adolescente deve ser alvo de um conjunto de ações 
socioeducativas que contribuam na sua formação, de modo que 
venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de relacionar-se 
consigo mesmo, com os outros e com tudo que integra sua 
circunstância e seu reincidir na prática de atos infracionais” (SINASE, 
2009). 
Vale ressaltar que é válida, para os procedimentos de 
execução das medidas socioeducativas, a diretriz da 
descentralização do artigo 204 da Constituição Federal que 
estabelece as competências de Governo, atribuindo à esfera federal 
a definição das normas gerais e às esferas estadual e municipal a 
coordenação e a execução dos respectivos programas, indicando a 
participação popular, por meio de organizações representativas, 
como fundamental na formulação das políticas e no controle das 
ações em todos os níveis. 
O ECA definirá em seu Art. 88 as diretrizes da política de 
atendimento: 
I – municipalização do atendimento; 
II – criação dos conselhos municipais, estaduais e nacional dos 
direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e 
controladores das ações em todos os níveis, assegurados a 
participação popular paritária por meio de organizações 
representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais; 
III – criação e manutenção de programas específicos, observada a 
descentralização político administrativa; 
 
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Primeira Infância 
IV – manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais 
vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do 
adolescente; 
V – integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, 
Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, 
preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do 
atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato 
infracional; 
VI – mobilizaçãoda opinião pública no sentido da indispensável 
participação dos diversos segmentos da sociedade. 
Implantação da Comissão de Erradição do Trabalho Infantil e de 
Proteção ao Trabalho Decente do Adolescente – CETI 
O engajamento da Justiça do Trabalho na luta pela erradicação do 
trabalho infantil se acentua, em 2012, com a criação da CETI. Uma 
das ações propostas pela Comissão foi o Seminário Trabalho, 
realizado em outubro de 2012. Os debates estimularam a de três dias 
de debate. Todos os Estados da Comunidade de Países de Língua 
Portuguesa, à exceção da Guiné-Bissau, tiveram representantes no 
encontro e subscreveram o documento. Em 2012 houve a publicação 
da cartilha "Trabalho Infantil e Justiça do Trabalho: Primeiro Olhar" 
 
Lei condena violência moral e física na educação 
Pela nova lei, a criança e o adolescente têm o direito de ser educados 
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou 
degradante. Batizada pela imprensa de "Lei da Palmada", ganhou na 
Câmara o nome de Lei "Menino Bernardo" em homenagem ao menino 
Bernardo Boldrini, morto no Rio Grande do Sul com uma injeção letal. 
O pai do menino foi um dos indiciados pelo crime. 
 
 
 
 
37 
Primeira Infância 
Campanha do TST: “Trabalho Infantil. Você não vê, mas existe” 
A nova campanha do TST pretende desconstruir mitos, mostrando 
que não é o trabalho precoce que garante futuro, mas a educação. 
Diante do cenário revelado pelos dados do IBGE, mais de 3,3 milhões 
de crianças e jovens, entre 5 e 17 anos, trabalham no Brasil, sendo 
que mais de 70 mil têm, no máximo, 9 anos. A campanha, iniciativa 
do Programa de Combate ao Trabalho Infantil da Justiça do Trabalho, 
pretende contribuir para uma mudança de cultura, mostrando que o 
trabalho infantil existe e precisa ser eliminado, para que as crianças 
possam apenas brincar e estudar. 
Eleições para Conselho Tutelar acontecem em todo o Brasil 
As eleições dos conselheiros tutelares, responsáveis por zelar pelo 
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, passaram a 
acontecer de forma unificada em todo o país. O processo de inscrição 
começou em abril. As eleições diretas acontecem em outubro. 
Ao revermos a história por meio de uma linha do tempo, vale ressaltar 
que os movimentos sociais e políticos que redemocratizaram o país 
geraram avanços inéditos no campo da Normatização de Direitos e 
de Garantias Fundamentais que resultou na Constituição Federal 
de 05 de outubro de 1988 – CF/1988, chamada Constituição Cidadã. 
 
A moderna concepção do constitucionalismo nacional 
permitiu não só a ratificação de Tratados e Convenções 
internacionais de Proteção dos Direitos Humanos, como a inclusão 
em seu texto constitucional, de forma irrevogável, de princípios 
consagrados nos referidos instrumentos internacionais, dando-lhes 
força de norma de aplicabilidade imediata. 
Neste contexto, dentre os princípios e as normas instituídos 
pela CF/1988, está a convenção dos direitos da criança, adotada 
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 
1989, e ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990, serviram 
de fonte de inspiração ao legislador nacional na elaboração do 
 
38 
Primeira Infância 
estatuto da criança e do adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho 
de 1990, que entrou em vigor na data de 14 de outubro de 1990. 
Marco legal e regulatório, entendido como um sistema jurídico-
político-institucional de garantia dos direitos da criança e do 
adolescente. 
 Esta garantia legal encontra-se no artigo número 227 da 
Constituição Federal: 
“É dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta 
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de 
toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão”. 
Instala-se, a partir da Constituição Cidadã, um novo olhar 
sobre a criança e o adolescente que requer, para operacionalização 
do dever, um novo valor e uma nova forma de relacionamento entre 
as instâncias família, sociedade e Estado. 
Se por um lado o artigo 227 da Constituição nos chama a 
atenção para a garantia dos direitos como PRIORIDADE 
ABSOLUTA, por outro, passa despercebida a função da vírgula que, 
no texto, separa as instâncias responsáveis por este dever. Como nos 
traz Mário Sérgio Cortella em seus debates, PRIORIDADE é um 
verbo SINGULAR. PRIORIDADE é uma PALAVRA SEM PLURAL. 
Não existem prioridadeS. De origem grega: PRIN; de origem latina: 
PRIMUS – quer dizer: “antes, à frente”. 
A nosso ver, a função gramatical dessas vírgulas, para 
alguns, pode significar a conjunção gramatical alternativa “ou”: a 
família ou a sociedade ou o Estado. 
Porém, a releitura do subtexto a partir do significado das 
vírgulas nos indica, então, que: 
 
39 
Primeira Infância 
A família junto com a sociedade junto com o estado devem 
assegurar, com absoluta prioridade, à criança e ao adolescente 
a garantia de todos os seus direitos. 
 
A gênese das dificuldades para a implementação do ECA emerge 
da ainda recente história dos governos ditatoriais. As reais mudanças 
de paradigmas requerem processos de criação de condições e de 
transição para a formação das novas competências, processo que 
demanda: 
 A disseminação de saberes; 
 As compreensões plenas; 
 As instrumentalizações específicas; 
 A participação popular; e, 
 As reflexões e redirecionamentos de valores. 
 
Os desafios postos para o enfrentamento das questões sociais 
no que diz respeito à participação dos indivíduos requer vários itens: 
 Propõe descentralização dos equipamentos sociais 
necessários para as operacionalizações; 
 Exige uma moderna gestão social efetivada por meio de 
modelos flexíveis e participativos que, necessariamente, 
requerem horizontalidade nas relações, distribuição de 
poder, e operacionalizações municipalizadas de programas e 
projetos onde o trabalho em rede de atendimento integrado 
vise a atenção integral à população entre zero e dezoito anos; 
 Por meio da participação efetiva, devem ser decididas e 
formuladas políticas, assim como exercidos os controles das 
execuções das ações e dos resultados, fatores que 
expressam conquistas coletivas que compõem um projeto de 
nação. 
 
 
40 
Primeira Infância 
Notas 
 
1 Os termos “a criança” e “o adolescente” serão usados no decorrer de todo 
o texto referindo-se genericamente a estes sujeitos sem distinção de sexo, 
seja masculino (o adolescente), ou feminino (a criança). 
2 Com o objetivo de amparar as crianças abandonadas pelos genitores, a 
Roda constituía -se de um cilindro oco de madeira que girava em torno do 
próprio eixo com uma abertura em uma das faces, alocada em um tipo de 
janela onde eram colocados os bebês. A estrutura física da Roda 
privilegiava o anonimato das mães, que não podiam, pelos padrões da 
época, assumir publicamente a condição de mães solteiras. Mais tarde em 
1927 o Código de Menores proibiu o sistema das Rodas, de modo a que os 
bebês fossem entregues diretamente a pessoas destas entidades, mesmo 
que o anonimato dos pais fosse garantido. O registro da criança era uma 
outra obrigatoriedade deste novo procedimento. 
3 Período considerado especialmente autoritário do Estado Novo. 
4 Delinqüente é o conceito usado pela ONU e por muitos dos Estados-Parte 
para designar adolescente autor de ato infracional. 
 
Imagens 
 
 
Adolescente eo ECA: https://image.freepik.com/fotos-gratis/menina-
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Cartão Vermelho: https://media.istockphoto.com/photos/red-card-picture-
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