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0 Primeira Infância Primeira Infância 1 Primeira Infância Conheça as Autoras Prof.ª Dra. Karyna Batista Sposato Professora Adjunta do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutora em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). É diplomada no Terceiro Ciclo pelo Programa de Doutorado em Problemas Atuais do Direito Penal e da Criminologia da Universidade Pablo Olavide (UPO) em Sevilha/ Espanha. Atuou como pesquisadora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), Foi Diretora Executiva do Escritório brasileiro do Instituto Latino Americano das Naçoes Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) Atua como Consultora do UNICEF (Fundo das Nações Unidas pela Infância) em matéria de justiça da infância e juventude. Atualmente é Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direito (PRODIR) da Universidade Federal de Sergipe. Tem publicações e experiência acadêmica nas áreas de Direito da Criança e do Adolescente, Direitos Humanos e Direito Penal e Criminologia. Prof.ª Dra. Silvia Losacco Psicóloga, Especialista em psicodrama pelo Instituto Sedes Sapientiae, Mestre em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (1990) e Doutorada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Atua na área das políticas sociais e públicas para crianças, adolescentes, famílias e comunidade na formulação, coordenação, implantação, acompanhamento e avaliação de projetos, programas e políticas; e, na formação de profissionais do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente. Dentre outros projetos para organismos internacionais e nacionais, foi consultora da SNPDCA-SDH/PR - Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e o Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e UNFPA-ONU Fundo de População das Nações Unidas para a elaboração do Relatório da Convenção dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas - ONU. Foi Pesquisadora convidada do Programa de Estudos Pós- graduados em Serviço Social da PUC-SP para a Cocoordenação do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente, de 2003 a 2009. Sócia-presidente da Motivação Assessoria e Consultoria Sociocultura Ltda. Condecorada com a medalha Cel. Paul Balagny pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. 2 Primeira Infância “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.” Cora Coralina 3 Primeira Infância Apresentação do Curso O Curso que ora se apresenta visa proporcionar uma adequada formação para os diversos atores sociais que compõem o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente brasileiros. Desta forma, dá continuidade a uma nova era de compreensões que deverão proporcionar planejamentos e práticas com ações eficientes, garantindo direitos aos cidadãos da faixa etária da criança e do adolescente. Por meio de etapas temáticas distintas e complementares, a construção e a operacionalização desta formação, em forma de curso, consideraram um coletivo diversificado, composto por profissionais de diferentes instâncias governamentais e não- governamentais, bem como baseou-se no conhecimento já formulado em diferentes campos do saber. A abordagem apresentada contempla textos que deverão proporcionar entendimentos que promovam o saber-fazer; textos pautados nas legalidades vigentes e nas normativas nacionais e internacionais - todas as abordagens impressas no Estatuto da Criança e do Adolescente. Os instrumentais teórico-metodológicos disponibilizados objetivam proporcionar o desencadeamento do repensar sobre as práticas cotidianas, ao mesmo tempo em que deverão transmitir conhecimentos que despertem para saberes pautados no paradigma de direitos, proporcionando, assim, a edificação de formas efetivas do fazer eficiente, eficaz e efetivo para a promoção de direitos. Os textos objetivam contribuir para a prática cotidiana, assim como para as buscas de mais saberes por meio das indicações de Leis e normativas, de filmes e de outros textos que não das autoras responsáveis por esta apresentação. Deste modo, passo a passo, numa construção contínua e dinâmica, o compromisso com os direitos da criança e do adolescente se faz presente! A intenção maior é que os direitos humanos se tornem qualidade de todas as políticas públicas, valorizando o indivíduo, a sociedade e a ação local. Os conteúdos derivam da intersecção com os distintos momentos de apreensão dos saberes. Apresentados por meio de eixos estruturantes, são exibidos por uma forma lógica que contempla 4 Primeira Infância o caminhar da história, as conquistas no decorrer do tempo e as características de cada fase do desenvolvimento etário, assim como as leis que devem proteger as crianças e os adolescentes das violações vividas. Compreendemos que conteúdos específicos deverão promover, na prática, ações diversificadas. As contribuições, ao mesmo tempo em que instruem, deverão permitir a aquisição e/ou a revisão de saberes e fazeres que possam permitir: Reordenamentos conceituais e de gestão/organizacionais (ainda) necessários nas diferentes instâncias; A construção de instrumentais de sistematização de atendimentos, de normas e de leis; A execução de eventos que subsidiem o saber; e, consequentemente, O desenvolvimento de práticas que promoverão a eficiência, a efetividade e a eficácia dos atendimentos de crianças, adolescentes e suas famílias de cada município. Portanto, valerá questionar: Quais os espaços que propiciam o desvelamento de valores (subjetividades) que carregam em si os estigmas advindos do processo histórico nacional que subsidiam as condutas e as políticas (objetividade)? Quais os tempos/lugares que transformam o espaço fechado e imutável de decisões em espaço de diálogos para a obtenção de uma moderna gestão social de trabalho em rede através de projeto integrado? De que forma tem sido possibilitada a formação de parcerias, para os enfrentamentos das múltiplas e diferentes vulnerabilidades e risco de crianças e de adolescentes? Quais são as metodologias e os instrumentais necessários para a reconstrução que, ao mesmo tempo, visam dar conta das peculiaridades de cada faixa etária e das singularidades de cada sujeito, permitindo uma apreensão crítica das diversidades de contextos que desencadeiam a 5 Primeira Infância vulnerabilidade e/ou o risco? As conquistas impressas na trajetória de direitos da criança e do adolescente brasileiro ainda enfrentam desafios tanto no alcance das legalidades, quanto nas práticas a elas dirigidas; seja no âmbito da segurança pública, da justiça, do legislativo e/ou do executivo governamental ou não. Os tempos vigentes geram novos contextos. Da mesma forma, a sociedade brasileira, de maneira justa, cobra ações que venham ao encontro de um cenário que requer um repensar sobre as possibilidades de procedimentos que permitam superar a(s) vulnerabilidade(s) pessoal e/ou social e riscos de vida daqueles que compõem a faixa etária em tela. Vale pontuar que textos, legais (ou não) são apenas amontoados de letras impressas e mortas até que o leitor se aproprie de seus conteúdos e lhes deem vida. Os tópicos aqui apresentados não pretendem contemplar a totalidade de saberes de cada temática. Buscam, sim, ampliar diversificadas aquisições teórico-práticas podendo ser a base de novos caminhos a trilhar. Este processo é mais um desafio de grande responsabilidade, porém necessário e importante para avançarmos. Boas leituras! As autoras Prof.ª Dra. Karyna Batista Sposato Prof.ª Dra. Silvia Losacco 6 Primeira Infância Eixo 1 Conceitos Fundamentais do Direito daCriança e do Adolescente 7 Primeira Infância PARTE 1 – Situando o Direito da Criança e do Adolescente Direitos da Criança como Direitos Fundamentais 1. Direitos da Criança como Direitos Fundamentais O Direito da Infância-Adolescência encerra regras constitucionais e normas internacionais de proteção da pessoa humana, entrelaçado com a Teoria dos Direitos Fundamentais,1 como direitos subjetivos, entendidos como normas de determinado ordenamento jurídico atribuídas universalmente a todos enquanto pessoas e cidadãos. O conceito de direitos subjetivos abrange qualquer expectativa de atos jurídicos, expectativa essa que se revela em prestações positivas ou na expectativa negativa de não sofrer lesões. A definição de direitos subjetivos se ancora em características importantes: os direitos fundamentais são estabelecidos de forma universal (universalidade), mediante um estatuto de regras gerais e abstratas (normatividade), e possuem caráter indisponível e inalienável (indisponibilidade). Todos estes elementos se fazem presentes nos Direitos da Criança e do Adolescente, que se constitui como uma classe de direitos fundamentais. A universalidade se realiza porque todas as relações jurídicas das quais participem crianças e adolescentes são reguladas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e, nesse aspecto, estão incluídos toda criança e todo adolescente independentemente de classe social. O artigo 3 º do ECA dispõe: ARTIGO 3º ECA - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar 8 Primeira Infância o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) O parágrafo único deste artigo enuncia o princípio da universalidade e não discriminação de nenhuma natureza ou índole. A normatividade é composta além da legislação especial, das regras constitucionais2 e dos princípios decorrentes dos tratados internacionais ratificados pelo Estado Brasileiro, e a indisponibilidade de tais direitos é atributo que deriva de interesses igualmente protegidos, da criança, do adolescente e da sociedade, que são irrenunciáveis e intransigíveis. Por fim, a introdução da Proteção Integral como princípio basilar do Direito da Criança e do Adolescente3 e 4 evidencia tratar-se de Direito Público e da tutela de direitos primários, substanciais, ou seja, direitos da pessoa ou de personalidade. 5 É importante sublinhar que o Estatuto da Criança e do Adolescente inaugurou no ordenamento jurídico brasileiro um Sistema de Garantias e de Direitos para todas as crianças e adolescentes, consubstanciado em um conjunto de novos referenciais teóricos que serão objeto desta reflexão. Do ponto de vista doutrinário, a superação da doutrina da Situação Irregular pela da Proteção Integral está explicitada no primeiro artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, evidenciando um caráter diametralmente oposto ao de vigilância presente no Código de Menores de 1979: 9 Primeira Infância ARTIGO 1 º ECA - “Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.” No que se refere à natureza das ações e à caracterização do novo Sistema, o caráter filantrópico é substituído pela criação de políticas públicas específicas voltadas à proteção e defesa dos direitos da infância e adolescência e, de outra parte, o fundamento assistencialista presente nas etapas anteriores é também abandonado pelo reconhecimento de que crianças e adolescentes, enquanto sujeitos de direitos, gozam de direitos subjetivos. De acordo com esse dispositivo, toda criança e todo adolescente são sujeitos plenos de direito. O Juiz Paolo Vercelone afirma que crianças e adolescentes deixam de ser capitis deminutae, sendo titulares de direitos específicos para tornar-se, no futuro, cidadãos adultos livres e dignos.6 Como já dito, são as políticas públicas o grande instrumento de efetivação dos direitos da infância e adolescência. Tanto é assim que o artigo 4 º da Lei enfatiza a preferência e primazia das crianças e dos adolescentes em sua formulação e implementação: ARTIGO 4 º - “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único – A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas públicas; 10 Primeira Infância d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.” A construção didática do Sistema de Garantias da Infância e Adolescência elaborada pelo juiz Leoberto Narciso Brancher é elucidativa.7 As políticas públicas destinadas à infância e adolescência podem ser agrupadas em três segmentos distintos: O juiz da Infância e Adolescência não só constrói uma matriz didática do Sistema como possibilita que cada um desses segmentos seja identificado a partir do prisma da prevenção: as Políticas Básicas correspondem às políticas de prevenção primária; as de Proteção Especial são políticas de prevenção secundária; e as Socioeducativas consistem na prevenção terciária, portanto última categoria a ser acionada. Sua construção lança mão ainda da representação de uma “sinaleira de trânsito”, um semáforo. As políticas básicas são como um sinal verde, uma vez que devem atingir a todos, indistintamente, como condição para o desenvolvimento de toda criança e de todo adolescente. Já as políticas de proteção especial podem ser vistas como um sinal de alerta. Trata-se do sinal amarelo que exige atenção para situações de risco pessoal ou social de uma criança ou de um jovem. Considerando que a interpretação dos princípios, regras e normas do Estatuto da Criança e do Adolescente deve se dar de forma sistemática e não pontual, parece-nos evidente que essas três Políticas Básicas • Artigo 4º ECA • Saúde • Alimentação • Habitação • Educação • Esporte • Lazer • Profissionalização • Cultura Políticas de Proteção Especial • Artigos 101/129/23 p.único/ 34 ECA • Orientação, apoio e acompanhamento temporários • Regresso escolar • Apoio sociofamiliar / manutenção de vínculo • Necessidades especiais de saúde • Atendimento a vítimas de maus-tratos • Tratamento da drogadição • Renda mínima familiar • Guarda subsidiada • Abrigo Políticas Socioeducativas • Artigos 112/129 ECA • Prestação de serviços à comunidade • Liberdade assistida • Semiliberdade • Internação 11 Primeira Infância categorias de políticas públicas voltadas à infância e juventude não são estanques nem independentes. Pelo contrário, sua implementação implica a articulação de serviços e programas, e o exemplo da cumulação de medidas protetivas associadas à imposição de uma medida socioeducativa é emblemático.8 Assim, o reconhecimento da dignidade humana de todo adolescente impõe a existência de uma “justiça relativa” queintroduza em seu funcionamento o critério da sanção mais adequada para cada caso concreto. A justiça, nessa perspectiva, passa a caracterizar-se como ação social, na medida em que reconhece também o delito ou o ato infracional praticado por adolescentes como fato social, para além dos marcos estreitos da lei e do direito penal.9 2. A constitucionalização do direito da criança e do adolescente Não seria possível abordar o Direito da Criança e do Adolescente sem nos referirmos à transição democrática e às disposições de nossa Constituição de 1988. Portanto, uma breve recuperação do que foi o processo popular de construção da Constituição de 1988, no campo dos direitos da infância e adolescência, permite identificar três aspectos centrais: O primeiro já externado por Luigi Ferrajoli de que não só a democracia garante a luta pelos direitos, mas também, e fundamentalmente, a luta pelos direitos garante a democracia;10 Em segundo, a capacidade do direito de influenciar a política social, a partir da relação entre a condição jurídica e a condição material da infância; E por último, mas não menos importante, a descoberta de forma empírica de que os problemas da infância são problemas da democracia. A partir de 1985, no bojo da Convenção Constituinte, o movimento de luta pelos direitos da infância reuniu 250 mil assinaturas e articulou-se em torno de duas Emendas à Constituição. Seu resultado é a introdução dos princípios básicos de proteção e garantia de direitos da criança e do adolescente no texto constitucional de 1988. As reivindicações da Campanha Criança e Constituinte traduziam em exata medida a necessidade de substituição do paradigma tutelar 12 Primeira Infância pelo garantista, com incidência em todas as políticas de atenção à infância e juventude, inclusive para os infratores. Tal introdução correspondia ao consenso na comunidade internacional acerca da necessidade de políticas especiais para a infância e adolescência e ao que posteriormente se constituiu nos princípios inaugurados pela Convenção Internacional das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.11 Dois artigos da Constituição Federal de 1988 revelam a superação da doutrina da situação irregular e, por conseqüência, da legislação menorista. Os artigos 204 e 227 são os pilares da constitucionalidade do novo Direito que tomava forma e implicava a deslegitimação do velho Direito do Menor, presente na legislação anterior (o Código de Menores de 1979). Conforme o artigo 204 da Constituição Federal, as políticas públicas voltadas à infância necessariamente devem observar duas diretrizes básicas: a descentralização político-administrativa e a participação popular por meio de organizações representativas. O artigo 227, por sua vez, estabelece a prioridade absoluta da criança e do adolescente no ordenamento jurídico brasileiro.12 Enquanto o antigo direito não era o direito de todos os menores de idade, mas somente dos menores de 18 anos em situação irregular, o novo direito da Criança é o direito de todas as crianças e adolescentes.13 De acordo com a sistemática anterior, o menino abandonado ou vítima de maus-tratos familiar ou privado da saúde ou educação era considerado em situação irregular. Com a regra da prioridade absoluta, está em situação irregular o pai que não cumpre os deveres do pátrio poder e o Estado que não oferece as políticas sociais básicas. O parágrafo 3º do artigo 227 da Constituição é significativamente enfático na superação do antigo modelo: ARTIGO 227 CF/88 - “O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: 13 Primeira Infância I – idade mínima de 14 anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no artigo 7º, XXXIII; II – garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III – garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; IV – garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V- obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa de liberdade; VI – estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; VII – programas de prevenção e atendimento especializado à criança ou adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.” No que tange ao tratamento repressivo a condutas anti- sociais ou ilícitas de menores de 18 anos de idade, com a promulgação da Constituição democrática, o norte passou a ser o artigo 228 da Constituição Federal de 1988: ARTIGO 228 CF/88 - “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.” A norma constitucional, portanto, reforçou o dispositivo do artigo 27 do Código Penal de 1940 que adota, desde então, a presunção 14 Primeira Infância absoluta de inimputabilidade aos menores de 18 anos. Significa que não são passíveis de receber pena criminal, e sim sanções especiais, denominadas como medida socioeducativa conforme dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. A Doutrina Jurídica da Proteção Integral e os Tratados Internacionais Como dito, o advento da Constituição democrática de 1988 tornou clara a necessidade de reformulação da legislação especial infraconstitucional para crianças e adolescentes, de modo que combinasse com a construção normativa internacional e seus avanços. Dois anos depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 de 13 de julho de 1990, instrumentalizou o mandamento constitucional da Prioridade Absoluta por meio da Doutrina Jurídica da Proteção Integral, sintetizando o pensamento do legislador constituinte a partir de garantias substanciais e processuais destinadas a assegurar os direitos consagrados. É inegável, desse modo, a relação intrincada entre a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Contemporâneos ao consenso na comunidade das nações14 acerca da necessária proteção especial às crianças e adolescentes, ambos se caracterizam pelo forte teor programático de suas disposições. A opção principiológica do legislador constituinte e estatutário responde à dinâmica e ao contexto político de elaboração das duas normas. Pode-se dizer que ambas passam a reconhecer direitos e garantias a parcelas da população anteriormente excluídas por completo das prioridades e finalidades do Estado. A redação do artigo 3º ECA indica que a própria lei não esgota sua operacionalização, que deve ser atingida mediante políticas públicas e ações efetivas da sociedade. Daí a expressão “outros meios”. 15 Primeira Infância Assim como ocorre em diversas disposições constitucionais, no Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma sutil, o legislador lançou mão de normas de EFICÁCIA CONTIDA, dependentes de futura regulamentação e da necessária implementação de políticas públicas. De certo modo, essa técnica legislativa é também decorrência da sintonia que o Estatuto da Criança e do Adolescente guarda com os princípios e preceitos da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, ratificada pelo Estado brasileiro, meses depois da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do Adolescente.15 A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança é fruto de dez anos de trabalhos da Assembléia Geral das Nações Unidas, que nesse período preparou as disposições que viriam a constituir o documento. As disposições e artigos retomam direitos e liberdades proclamados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e Pactos Internacionais. São retomados também os princípios da Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança de 1924 e da Declaraçãosobre os Direitos da Criança adotada em 1959. No Pacto de Direitos Civis e Políticos (PIDCP), os artigos 23 e 24 cuidam da questão da família e da criança, apontando a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado no estabelecimento de medidas que garantam a condição da criança. O Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), particularmente o artigo 10, também se remete ao tema, protegendo a família, as mães e todas as crianças e adolescentes contra qualquer exploração econômica e social. Ressalte-se que a Convenção, ao reiterar elementos das declarações internacionais anteriores, inova no estabelecimento de elementos de defesa efetiva da cidadania. Chamada por Edson Sêda de a “Lei das leis”, a Convenção consolida um Corpo de legislação internacional denominado “Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral da Infância”16. 16 Primeira Infância Esse corpo legal é formado pela própria Convenção, pelas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores (Regras de Beijing), pelas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens privados de Liberdade, e pelas Diretrizes das Nações Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil (diretrizes de Riad). De modo geral, especialmente na América Latina e Caribe, as regras da Convenção conviveram de forma contraditória com as legislações de menores. No entanto, o exemplo brasileiro desencadeou um processo inovador de reformas legislativas pela adequação das leis domésticas ao tratado, favorecendo dessa forma que a Convenção não restasse como mais um instrumento de direito internacional de escassa exigibilidade. Pelo contrário, seu surgimento e difusão coincidiram com a transição democrática em muitos países latino-americanos. As disposições da Lei 8.069/90 demonstram com clareza a influência dos princípios fixados pela Convenção, que de modo uníssono traduzem a afirmação histórica dos direitos humanos. No caso de crianças e adolescentes, o reconhecimento da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento é uma decorrência lógica do princípio da dignidade da pessoa humana 17. O conteúdo e a abrangência da mudança de paradigma introduzida pela Doutrina da Proteção Integral no ordenamento jurídico brasileiro são de alta complexidade, mas podem ser ilustrados por seis aspectos principais: a) reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos; b) institucionalização da participação comunitária por intermédio dos Conselhos de Direitos, com participação paritária e deliberativa 18 para traçar as diretrizes das políticas de atenção direta à infância e juventude; c) hierarquização da função judicial, com a transferência de competência aos Conselhos Tutelares para agir diante da ameaça ou violação de direitos da criança no âmbito municipal; 17 Primeira Infância d) municipalização da política de atendimento; e) eliminação de internações não vinculadas ao cometimento – devidamente comprovado – de delitos ou contravenções; f) incorporação explícita de princípios constitucionais em casos de infração penal, prevendo-se a presença obrigatória de advogado e função do Ministério Público como de controle e contrapeso. Para aprofundar, sugerimos a leitura e aproximação com os textos dos instrumentos internacionais de proteção dos direitos da criança e do adolescente: Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente das Nações Unidas - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990- 1994/d99710.htm Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d99710.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm 18 Primeira Infância Notas: 1 FERRAJOLI, Luigi. Los Fundamentos de los derechos fundamentales. Madrid: Editorial Trotta, 2001. 2 Na Constituição Federal de 1988 há um capítulo destinado aos direitos da criança e do adolescente. Na redação do artigo 227 fica estabelecido: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” 3 Consoante artigo 1º do ECA: “Esta Lei dispõe sobre a Proteção Integral à criança e ao adolescente.” 4 FERRAJOLI, LUIGI. Los Fundamentos de los derechos fundamentales. Op. cit., p. 293. 5 CURY, Munir; AMARAL E SILVA, Antônio Fernando & GARCIA MENDEZ, Emilio. (coord.). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado: Comentários Jurídicos e Sociais. 3ª Edição, São Paulo: Malheiros Editores, 2000. 6 BRANCHER, Leoberto Narciso. Visão Sistêmica da Implementação e da Gestão da Rede de Atendimento. O Direito é Aprender. Fundescola / Projeto Nordeste / MEC, 1999. 7 Consoante o artigo 112 do ECA, que elenca as medidas sócio-educativas aplicáveis a um adolescente que transgrediu a lei penal, é possível a aplicação também de quaisquer uma das medidas protetivas previstas no artigo 101, I a VI da Lei. À título de exemplo, muitos são os casos de adolescentes autores de ato infracional com dependência química. A situação in concreto demanda não só a imposição de medida sócio- educativa adequada como também a inclusão do adolescente em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos. 19 Primeira Infância 8 BUSTOS RAMÍREZ, Juan. Introducción Al Derecho Penal. Op.Cit, pág.173. 9 FERRAJOLI, Luigi. Derechos y Garantias. La ley Del más débil. Madrid: Editorial Trotta, 2ª ed., 2001. 10 A Convenção Internacional da Criança é o tratado de maior aceitação por toda comunidade internacional, tendo sido ratificada por 191 países, exceto Estados Unidos e Somália. Foi ratificada pelo decreto 99.710/90 pelo Estado Brasileiro, constituindo-se um princípio em vigor no nosso sistema jurídico, através do artigo 5º, parágrafo 2º da Constituição da República. 11 Consoante o artigo 227 da CF/88: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 12 AMARAL E SILVA, Antonio Fernando. O Estatuto, Novo Direito da Criança e do Adolescente e a Justiça da Infância e da Juventude, p. 04. 13 Segundo informações oficiais de Semenkov (URSS), Manchester (Reino Unido) e Chen Jiang Guo (República Popular da China) durante o XIII Congresso da Associación Internacional de Magistrados de la Juventud y de la Familia, realizado em Turim (Itália) no período de 16 a 21/9/90, “no mundo todo, sem exceção, estão-se efetivando investigações com a finalidade de melhorar e renovar os métodos de assistência”. 14 Como já se pontuou, a Convenção foi ratificada pelo Estado Brasileiro através do decreto 99.710/90, constituindo-se um princípio em vigor no nosso sistema jurídico, através do artigo 5º, parágrafo 2º da Constituição da República. 15 SÊDA. Edson. A Proteção Integral: um relato sobre o cumprimento do Novo Direito da Criança e do Adolescente na América Latina. 4ª ed., São Paulo: Adês, 1996. 20 Primeira Infância 16 O artigo 6º do Estatuto da Criança e doAdolescente é taxativo ao estabelecer que “Na interpretação desta Lei, levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se destina, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. 17 A composição dos Conselhos nas esferas federal, estadual e municipal possuem uma composição de 50% de representantes governamentais e 50% de representantes da sociedade civil. Imagens: Fundo: https://br.freepik.com/ Criança de óculos: https://image.freepik.com/fotos-gratis/genio-de-menino-engracado-usando- oculos-em-estudio-tiro_1150-12215.jpg https://br.freepik.com/ https://image.freepik.com/fotos-gratis/genio-de-menino-engracado-usando-oculos-em-estudio-tiro_1150-12215.jpg https://image.freepik.com/fotos-gratis/genio-de-menino-engracado-usando-oculos-em-estudio-tiro_1150-12215.jpg 21 Primeira Infância Linha do Tempo – Passos e Conquistas O olhar através da história nacional aponta a gênese do instrumento legal vigente, promulgado e regulamentado pela Lei nº 8.069/90 – o Estatuto da Criança e do Adolescente. Porém, a garantia das prerrogativas legais conquistadas ainda não modificou e tampouco corrigiu as contradições existentes entre as necessidades reais apresentadas e a satisfação destas no campo da atenção à criança e ao adolescente1 no Brasil. Nesta trajetória, vale resgatar os caminhos percorridos: Fundada a 1ª Santa Casa de Misericórdia Populações carentes eram entregues aos cuidados da Igreja Católica que atuavam tanto com doentes quanto com os órfãos e desprovidos. (roda dos expostos Implantada em Portugal). Implantação da primeira Roda dos Expostos² em Salvador. Implantação da Roda dos Expostos na cidade do Rio de Janeiro Regulamentação do ensino obrigatório para crianças saudáveis e de classes sociais abastadas A lei não se aplicava universalmente, já que ao escravo não havia esta garantia. O acesso era negado também àqueles que padecessem de moléstias contagiosas e aos que não tivessem sido vacinados. Estas restrições atingiam as crianças vindas de famílias que não tinham pleno acesso ao sistema de saúde, o que faz pensar sobre a influência da acessibilidade e qualidade de uma política social sobre a outra ou como vemos aqui, de como a não cobertura da saúde 22 Primeira Infância restringiu o acesso das crianças à escola, propiciando uma dupla exclusão aos direitos sociais. Código Criminal da República determina penalização de crianças entre 9 e 14 anos Em 11 de Outubro de 1890 cria-se o Código Criminal da República para conter o aumento da violência urbana. A responsabilização penal passa a considerar a Teoria do Discernimento. Assim, crianças entre 9 e 14 anos são avaliadas psicologicamente e penalizadas de acordo com o seu "discernimento" sobre o delito cometido. Elas poderiam receber pena de um adulto ou ser consideradas imputável. Decreto nº 1.313 - Regulamentação do trabalho infantil Estipulava a idade mínima em 12 anos para se trabalhar. Segundo alguns autores, no entanto, tal determinação não se fazia valer na prática, pois as indústrias nascentes e a agricultura contavam com a mão de obra infantil. Idade mínima para responder criminalmente passa a ser de 14 anos A lei nº 4.242 tratou da assistência e proteção de "menores abandonados" e "menores delinquentes", sendo regulamentada posteriormente em 1923 por decreto. Aqueles jovens autores ou cumplices de crime ou contravenção, considerados "menores delinquentes", tornaram-se impútaveis até os 14 anos, não valendo mais a Teoria do Discernimento de 1890. 23 Primeira Infância Criado o Juizado de Menores Tendo Mello Mattos como o primeiro Juiz de Menores da América Latina. Caso Bernardino: menino é violentado na prisão O engraxate Bernadino, de 12 anos, foi preso ao jogar tinta em uma pessoa que saiu sem pagar pelo serviço. Colocado em uma prisão junto a 20 adultos, o menino negro foi violentado de várias formas e jogado na rua. Levado para um hospital, narrou o ocorrido para jornalistas. O caso ganha repercussão e mobiliza debates sobre locais específicos para destinar crianças que cumpram algum tipo de pena. Código de Menores Promulgado o primeiro documento legal para a população menor de 18 anos, que ficou popularmente conhecido como Código Mello Mattos. O Código de Menores era endereçado não a todas as crianças, mas apenas àquelas tidas como estando em "SITUAÇÃO IRREGULAR". O código definia, já em seu Artigo 1º, a quem a lei se aplicava: “O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade competente ás medidas de assistência e protecção contidas neste Codigo." (grafia original) Código de Menores - Decreto N. 17.943 A – de 12 de outubro de 1927 Código de Menores visava estabelecer diretrizes claras para o trato da infância e juventude excluídas, regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande 24 Primeira Infância poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava a mercê do julgamento e da ética Constituição Federal do Brasil Consolida o previsto no decreto nº 22.042, fixando a idade mínima de 14 anos para o trabalho, proibindo-se o trabalho noturno aos menores de 16 anos e, em indústrias insalubres aos menores de 18 anos. Estado Novo Marcado no campo social pela instalação do aparato executor das políticas sociais no país: a legislação trabalhista, a obrigatoriedade do ensino e a cobertura previdenciária associada à inserção profissional, alvo de críticas por seu caráter não universal, configurando uma espécie de cidadania regulada – restrito aos que tinham carteira assinada. O voto universal foi reconhecido nesta época como um direito político de indivíduos, excluídos até então, como as mulheres. 3 Criado o Serviço de Assistência ao Menor – SAM Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um equivalente do sistema Penitenciário para a população menor de idade. Sua orientação era correcional- repressiva. O sistema previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato infracional e para o menor carente e abandonado, de acordo com a tabela abaixo: 25 Primeira Infância Tabela 2. Serviço de Assistência ao Menor – SAM Situação Irregular Menor Carente e Abandonado Adolescente Autor de Ato Infracional Tipo de Atendimento Patronatos agrícolas e escolas de aprendizagem de ofícios urbanos Internatos: reformatórios e casas de correção Fonte: elaborado pelo instituto motivação Além do SAM, algumas entidades federais de atenção à criança e ao adolescente ligadas à figura da primeira dama foram criadas. Alguns destes programas visavam o campo do trabalho, sendo todos eles atravessados pela prática assistencilalista: LBA - Legião Brasileira de Assistência: agência nacional de assistência social criada por Dona Darcy Vargas. Intitulada originalmente de Legião de Caridade Darcy Vargas, a instituição era voltada primeiramente ao atendimento de crianças órfãs da guerra. Mais tarde expandiu seu atendimento. Casa do Pequeno Jornaleiro: programa de apoio a jovens de baixa renda baseado no trabalho informal e no apoio assistencial e sócio-educativo. Casa do Pequeno Lavrador: programa de assistência e aprendizagem rural para crianças e adolescentes filhos de camponeses. Casa do Pequeno Trabalhador: Programa de capacitação e encaminhamento ao trabalho de crianças e adolescentes urbanos de baixa renda. Casa das Meninas: programa de apoio assistencial e sócio-educativo a adolescentes do sexo feminino com problemas de conduta. 26 Primeira Infância Primeiro escritório do UNICEF no Brasil- João Pessoa – Paraíba O primeiro projeto realizado no Brasil destinou-se às iniciativas de proteção à saúde da criança e da gestante em alguns estados do nordeste do país. Golpe Militar O período dos governos militares foi pautado, para a área da infância, por dois documentos significativos e indicadores da visão vigente: => Criação da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM Lei 4.513 de 1 º de dezembro Seus fundamentos estão na Política da Segurança Nacional e se caracterizava como estratégia social daquele período que, no caso, via os pobres como desqualificados e despossuídos e buscava, assim, o “controle da pobreza” institucionalizando crianças e adolescentes em “situação irregular”, fossem por abandono material ou moral e/ou infratores, seu principal foco. => Nascem as FEBENS - FUNDAÇÃO DO BEM-ESTAR DO MENOR Instituição totalizadora, onde, no mesmo espaço físico, crianças e adolescentes institucionalizados por carência (na maioria), maus tratos ou infração moravam, estudavam, brincavam e só lá se relacionavam com os parceiros institucionalizados e funcionários. Nova Constituição brasileira – legalização das restrições Promulgação do novo Código de Menores Lei 6.697 de 10 de outubro 27 Primeira Infância Constituiu-se em uma revisão do Código de Menores de 1927, não rompendo, no entanto, com sua linha principal de arbitrariedade, assistencialismo e repressão junto à população infanto-juvenil. Esta lei introduziu o conceito de "MENOR EM SITUAÇÃO IRREGULAR", que reunia o conjunto de meninos e meninas que estavam dentro do que alguns autores denominam infância em "perigo" e infância "perigosa". Esta população era colocada como objeto potencial da administração da Justiça de Menores. É interessante que o termo "autoridade judiciária" aparece no Código de Menores de 1979 e na Lei da Fundação do Bem Estar do Menor, respectivamente, 75 e 81 vezes, conferindo a esta figura poderes ilimitados quanto ao tratamento e destino desta população. Declaração Universal dos Direitos da Criança. Passo inicial para a fixação da doutrina da PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA, a qual prega o INTERESSE SUPERIOR DA CRIANÇA, em nível internacional. Convenção nº 138 da OIT Mínima de admissão ao emprego, não inferior à idade de conclusão da escolaridade compulsória ou, em qualquer hipótese, não inferior a quinze anos. Quanto aos trabalhos perigosos, a Convenção veda-os aos menores de 18 anos. Os movimentos sociais e políticos que redemocratizaram o país engendraram avanços inéditos no campo da normatização de direitos e de garantias fundamentais que resultou na Constituição Federal de 1988, chamada Constituição Cidadã. A moderna concepção do constitucionalismo nacional ensejou não só a ratificação de Tratados e Convenções internacionais de proteção dos Direitos Humanos, como a inclusão em seu texto constitucional, de forma irrevogável, de princípios consagrados nos referidos instrumentos internacionais, dando-lhes força de norma de aplicabilidade imediata. 28 Primeira Infância Assembleia Nacional Constituinte Presidida pelo deputado Ulysses Guimarães, membro do PMDB, era composta por 559 congressistas e durou 18 meses. Constituição Federal Brasileira 5 de outubro - marcada por avanços na área social, introduz um novo modelo de gestão das políticas sociais que conta com a participação ativa das comunidades através dos conselhos deliberativos e consultivos. Na Assembleia Constituinte organizou-se um grupo de trabalho comprometido com o tema da criança e do adolescente, cujo resultado concretizou-se no artigo 227, que introduz conteúdo e enfoque próprios da DOUTRINA DE PROTEÇÃO INTEGRAL DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, trazendo os avanços da normativa internacional para a população infanto-juvenil brasileira. Este artigo garante às crianças e aos adolescentes os direitos fundamentais de sobrevivência, desenvolvimento pessoal, social, integridade física, psicológica e moral, além de protegê-los de forma especial, ou seja, através de dispositivos legais diferenciados, contra negligência, maus tratos, violência, exploração, crueldade e opressão. Estavam lançadas, portanto, as bases do Estatuto da Criança e do Adolescente! É um conjunto de leis, normas e regras que regula e organiza o funcionamento do Estado. É a lei máxima que limita poderes e define os direitos e deveres dos cidadãos. Nenhuma outra lei do país pode estar em conflito com a Constituição. Elaborada por uma assembleia eleita pelo povo, a Constituição brasileira pode receber emendas e reformas, mas possui cláusulas pétreas (conteúdos que não podem ser abolidos), como definição da idade da inimputabilidade penal. 29 Primeira Infância Na conquista dos direitos da criança e do adolescente, pela primeira vez na história do Brasil, passa a constar em sua Carta Magna um artigo exclusivamente destinado a garantir os direitos deste segmento da população: ART. 227 " É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com prioridade absoluta, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA Ao atribuir à criança e ao adolescente prioridade absoluta no atendimento aos seus direitos como cidadãos brasileiros, este artigo foi regulamentado pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990. Assegura todos os direitos fundamentais à pessoa humana a todas as crianças e adolescentes brasileiros, além de sua proteção integral, visando facultar-lhes o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e dignidade. 30 Primeira Infância Signatário de normativas internacionais promulgadas pela Organização das Nações Unidas – ONU, no processo de conquistas legais, o Brasil assinou e se comprometeu a cumprir: Tratados Internacionais Organização das Nações Unidas - ONU Regras de Beijing Visa: garantir a promoção do bem-estar do adolescente que cometeu ato infracional; evitar sanções meramente punitivas; manter o princípio da proporcionalidade da sanção com a gravidade do ato infracional; levar em conta a condição pessoal de cumprir a medida socioeducativa em questão. Convenção internacional dos direitos da criança 20 de novembro, assinada pelo Brasil em 26 de janeiro de 1990 = estipular padrões, definir acordos 31 Primeira Infância A pressão social em torno da temática do adolescente autor de ato infracional e as dificuldades para a implementação de uma política especializada que desse conta da reversão do quadro apresentado, fez com que, desde 1996, se instalasse um amplo processo de discussão coletivo entre sociedade civil, Estado, especialistas e atores sociais do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente nas diversas regiões do país. Regras de Tóquio - Regras Mínimas da ONU para a elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade. (Resolução 45/110) Tem como princípio favorecer o recurso a medidas não privativas de liberdade, assim como garantias mínimas para as pessoas submetidas a medidas substitutivas da prisão; visam encorajar a coletividade a participar mais no processo da justiça penal e, muito •É um conjunto de critérios, normas e regras adotadas. •A convenção é um instrumento de direito mais forte que uma declaração. •A DECLARAÇÃO SUGERE PRINCÍPIOS pelos quais os povos devem guiar-se. •A CONVENÇÃO vai mais além, ESTABELECE NORMAS, isto é, DEVERES e OBRIGAÇÕES aos países que a ela formalizam sua adesão. •A CONVENÇÃO confere a esses direitos a força de lei internacional,não estando, no entanto, acima dos direitos nacionais. C O N V E N Ç Ã O 32 Primeira Infância especialmente, no tratamento dos delinqüentes4, assim como desenvolver nestes últimos o sentido da sua responsabilidade para com a sociedade; os Estados membros esforçam-se por aplicar as presentes Regras de modo a realizarem um justo equilíbrio entre os direitos dos delinqüentes,4 os direitos das vítimas e as preocupações da sociedade relativas à segurança pública e à prevenção do crime; nos seus sistemas jurídicos respectivos, os Estados membros esforçam-se por introduzir medidas não privativas de liberdade para proporcionar outras opções a fim de reduzir o recurso às penas de prisão e racionalizar as políticas de justiça penal, tendo em consideração o respeito dos direitos humanos, as exigências da justiça social e as necessidades de reinserção dos delinqüentes. Diretrizes de Riad para a prevenção da delinqüência juvenil. Visa a mobilização e os esforços dos Estados-parte na prevenção do cometimento de ato infracional pelos adolescentes. Essas políticas e medidas deverão conter o seguinte:a) criação de meios que permitam satisfazer às diversas necessidades dos jovens e que sirvam de marco de apoio para velar pelo desenvolvimento pessoal de todos os jovens, particularmente daqueles que estejam patentemente em perigo ou em situação de insegurança social e que necessitem um cuidado e uma proteção especiais; b) critérios e métodos especializadas para a prevenção da delinqüência, baseados nas leis, nos processos, nas instituições, nas instalações e uma rede de prestação de serviços, cuja finalidade seja a de reduzir os motivos, a necessidade e as oportunidades de cometer infrações ou as condições que as propiciem; c) uma intervenção oficial cuja principal finalidade seja a de velar pelo interesse geral do jovem e que se inspire na justiça e na eqüidade; d) proteção do bem-estar, do desenvolvimento, dos direitos e dos interesses dos jovens; e) reconhecimento do fato de que o comportamento dos jovens que não se ajustam aos valores e normas gerais da sociedade são, com freqüência, parte do processo de amadurecimento e que tendem a desaparecer, espontaneamente, na maioria das pessoas, quando chegam à maturidade, e f)consciência de que, segundo a opinião dominante dos especialistas, classificar um jovem de "extraviado", "delinqüente" ou "pré-delinqüente" geralmente favorece o 33 Primeira Infância desenvolvimento de pautas permanentes de comportamento indesejado. Convenção 182/OIT Promulgada a Convenção 182 e a Recomendação 190 da OIT sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para sua Eliminação (Decreto 3.597, de 12 de setembro de 2000). Novembro de 1999 FEBEM - SP Projeto Novo Olhar Reordenamento Institucional por meio da reestruturação territorial (descentralização e municipalização), física e pedagógica. Implanta unidades regionalizadas e descentralizadas segundo dita Constituição e o ECA; com arquitetura adequada e contratação e qualificação profissional. Estabelece parceria público-privada para a coordenação pedagógica com intuito das superações necessárias. A descentralização e a municipalização são propostas para o reordenamento da gestão da coisa pública; propostas que assumiram particular importância a partir da Constituição de 1988. Nessa nova divisão, foi conferido ao município maiores atribuições e maiores responsabilidades; dentre elas a municipalização do atendimento, como diretrizes da política de atendimento (Art. 88, inciso I). Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançaram, no ano da Copa Africana de Nações, a campanha Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil, aproveitando a realização do evento para discutir o problema no continente. 34 Primeira Infância CONANDA Aprova e publica a Resolução Nº 119 estabelece o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo SINASE Tornando-o normativa nacional Cartão Vermelho ao Trabalho Infantil – Lançamento no Brasil A ação, que desde 2002 abrangeu vários países, foi lançada no Brasil no dia 12 de junho, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil. A estratégia da campanha, protagonizada pelo atacante da Seleção Brasileira de Futebol, Robinho, foi aproveitar o clima de Copa do Mundo e conscientizar a sociedade sobre a exploração do trabalho de crianças e adolescentes. Nos anos subsequentes, a campanha contou com a participação de vários artistas e personalidades, no Brasil e no mundo. Lei do Sinase - Lei Federal Nº 12.594 Câmara e Senado Federal -18 de janeiro O SINASE surge, portanto, como uma forma de regulamentar a política de atendimento a adolescentes em conflito com a lei em todo território nacional. É um instrumento jurídico-político que complementa o Estatuto da Criança e do Adolescente em matéria de ato infracional e medidas socioeducativas. Pode ser concebido como um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução da medida socioeducativa. A Lei nº 12.594/2012 institui o sistema nacional de atendimento socioeducativo, regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas ao adolescente que pratique ato infracional; e altera as leis nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto 35 Primeira Infância da Criança e do Adolescente); 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, 5.537, de 21 de novembro de 1968, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de setembro de 1993, os decretos-leis nº 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621, de 10 de janeiro de 1946, e a consolidação das leis do trabalho (CLT), aprovada pelo decreto-lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. A nova legislação traz consigo as normas para as entidades que são responsáveis pelo desenvolvimento de programas de atendimento, bem como “parâmetros e diretrizes da gestão pedagógica no atendimento socioeducativo. Para tanto, estabelece que o adolescente deve ser alvo de um conjunto de ações socioeducativas que contribuam na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de relacionar-se consigo mesmo, com os outros e com tudo que integra sua circunstância e seu reincidir na prática de atos infracionais” (SINASE, 2009). Vale ressaltar que é válida, para os procedimentos de execução das medidas socioeducativas, a diretriz da descentralização do artigo 204 da Constituição Federal que estabelece as competências de Governo, atribuindo à esfera federal a definição das normas gerais e às esferas estadual e municipal a coordenação e a execução dos respectivos programas, indicando a participação popular, por meio de organizações representativas, como fundamental na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. O ECA definirá em seu Art. 88 as diretrizes da política de atendimento: I – municipalização do atendimento; II – criação dos conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurados a participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais; III – criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político administrativa; 36 Primeira Infância IV – manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente; V – integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional; VI – mobilizaçãoda opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade. Implantação da Comissão de Erradição do Trabalho Infantil e de Proteção ao Trabalho Decente do Adolescente – CETI O engajamento da Justiça do Trabalho na luta pela erradicação do trabalho infantil se acentua, em 2012, com a criação da CETI. Uma das ações propostas pela Comissão foi o Seminário Trabalho, realizado em outubro de 2012. Os debates estimularam a de três dias de debate. Todos os Estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, à exceção da Guiné-Bissau, tiveram representantes no encontro e subscreveram o documento. Em 2012 houve a publicação da cartilha "Trabalho Infantil e Justiça do Trabalho: Primeiro Olhar" Lei condena violência moral e física na educação Pela nova lei, a criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante. Batizada pela imprensa de "Lei da Palmada", ganhou na Câmara o nome de Lei "Menino Bernardo" em homenagem ao menino Bernardo Boldrini, morto no Rio Grande do Sul com uma injeção letal. O pai do menino foi um dos indiciados pelo crime. 37 Primeira Infância Campanha do TST: “Trabalho Infantil. Você não vê, mas existe” A nova campanha do TST pretende desconstruir mitos, mostrando que não é o trabalho precoce que garante futuro, mas a educação. Diante do cenário revelado pelos dados do IBGE, mais de 3,3 milhões de crianças e jovens, entre 5 e 17 anos, trabalham no Brasil, sendo que mais de 70 mil têm, no máximo, 9 anos. A campanha, iniciativa do Programa de Combate ao Trabalho Infantil da Justiça do Trabalho, pretende contribuir para uma mudança de cultura, mostrando que o trabalho infantil existe e precisa ser eliminado, para que as crianças possam apenas brincar e estudar. Eleições para Conselho Tutelar acontecem em todo o Brasil As eleições dos conselheiros tutelares, responsáveis por zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, passaram a acontecer de forma unificada em todo o país. O processo de inscrição começou em abril. As eleições diretas acontecem em outubro. Ao revermos a história por meio de uma linha do tempo, vale ressaltar que os movimentos sociais e políticos que redemocratizaram o país geraram avanços inéditos no campo da Normatização de Direitos e de Garantias Fundamentais que resultou na Constituição Federal de 05 de outubro de 1988 – CF/1988, chamada Constituição Cidadã. A moderna concepção do constitucionalismo nacional permitiu não só a ratificação de Tratados e Convenções internacionais de Proteção dos Direitos Humanos, como a inclusão em seu texto constitucional, de forma irrevogável, de princípios consagrados nos referidos instrumentos internacionais, dando-lhes força de norma de aplicabilidade imediata. Neste contexto, dentre os princípios e as normas instituídos pela CF/1988, está a convenção dos direitos da criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, e ratificada pelo Brasil em 24 de setembro de 1990, serviram de fonte de inspiração ao legislador nacional na elaboração do 38 Primeira Infância estatuto da criança e do adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que entrou em vigor na data de 14 de outubro de 1990. Marco legal e regulatório, entendido como um sistema jurídico- político-institucional de garantia dos direitos da criança e do adolescente. Esta garantia legal encontra-se no artigo número 227 da Constituição Federal: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Instala-se, a partir da Constituição Cidadã, um novo olhar sobre a criança e o adolescente que requer, para operacionalização do dever, um novo valor e uma nova forma de relacionamento entre as instâncias família, sociedade e Estado. Se por um lado o artigo 227 da Constituição nos chama a atenção para a garantia dos direitos como PRIORIDADE ABSOLUTA, por outro, passa despercebida a função da vírgula que, no texto, separa as instâncias responsáveis por este dever. Como nos traz Mário Sérgio Cortella em seus debates, PRIORIDADE é um verbo SINGULAR. PRIORIDADE é uma PALAVRA SEM PLURAL. Não existem prioridadeS. De origem grega: PRIN; de origem latina: PRIMUS – quer dizer: “antes, à frente”. A nosso ver, a função gramatical dessas vírgulas, para alguns, pode significar a conjunção gramatical alternativa “ou”: a família ou a sociedade ou o Estado. Porém, a releitura do subtexto a partir do significado das vírgulas nos indica, então, que: 39 Primeira Infância A família junto com a sociedade junto com o estado devem assegurar, com absoluta prioridade, à criança e ao adolescente a garantia de todos os seus direitos. A gênese das dificuldades para a implementação do ECA emerge da ainda recente história dos governos ditatoriais. As reais mudanças de paradigmas requerem processos de criação de condições e de transição para a formação das novas competências, processo que demanda: A disseminação de saberes; As compreensões plenas; As instrumentalizações específicas; A participação popular; e, As reflexões e redirecionamentos de valores. Os desafios postos para o enfrentamento das questões sociais no que diz respeito à participação dos indivíduos requer vários itens: Propõe descentralização dos equipamentos sociais necessários para as operacionalizações; Exige uma moderna gestão social efetivada por meio de modelos flexíveis e participativos que, necessariamente, requerem horizontalidade nas relações, distribuição de poder, e operacionalizações municipalizadas de programas e projetos onde o trabalho em rede de atendimento integrado vise a atenção integral à população entre zero e dezoito anos; Por meio da participação efetiva, devem ser decididas e formuladas políticas, assim como exercidos os controles das execuções das ações e dos resultados, fatores que expressam conquistas coletivas que compõem um projeto de nação. 40 Primeira Infância Notas 1 Os termos “a criança” e “o adolescente” serão usados no decorrer de todo o texto referindo-se genericamente a estes sujeitos sem distinção de sexo, seja masculino (o adolescente), ou feminino (a criança). 2 Com o objetivo de amparar as crianças abandonadas pelos genitores, a Roda constituía -se de um cilindro oco de madeira que girava em torno do próprio eixo com uma abertura em uma das faces, alocada em um tipo de janela onde eram colocados os bebês. A estrutura física da Roda privilegiava o anonimato das mães, que não podiam, pelos padrões da época, assumir publicamente a condição de mães solteiras. Mais tarde em 1927 o Código de Menores proibiu o sistema das Rodas, de modo a que os bebês fossem entregues diretamente a pessoas destas entidades, mesmo que o anonimato dos pais fosse garantido. O registro da criança era uma outra obrigatoriedade deste novo procedimento. 3 Período considerado especialmente autoritário do Estado Novo. 4 Delinqüente é o conceito usado pela ONU e por muitos dos Estados-Parte para designar adolescente autor de ato infracional. Imagens Adolescente eo ECA: https://image.freepik.com/fotos-gratis/menina- com-arquivo-suporte-e-panela-em-estudio_23-2147825034.jpg Cartão Vermelho: https://media.istockphoto.com/photos/red-card-picture- id157680479?k=6&m=157680479&s=612x612&w=0&h=tqzgzl2zLEJ65YtO KSOItUmsXHFHvKBt-7b4FbJLW0Y https://image.freepik.com/fotos-gratis/menina-com-arquivo-suporte-e-panela-em-estudio_23-2147825034.jpg https://image.freepik.com/fotos-gratis/menina-com-arquivo-suporte-e-panela-em-estudio_23-2147825034.jpghttps://media.istockphoto.com/photos/red-card-picture-id157680479?k=6&m=157680479&s=612x612&w=0&h=tqzgzl2zLEJ65YtOKSOItUmsXHFHvKBt-7b4FbJLW0Y https://media.istockphoto.com/photos/red-card-picture-id157680479?k=6&m=157680479&s=612x612&w=0&h=tqzgzl2zLEJ65YtOKSOItUmsXHFHvKBt-7b4FbJLW0Y https://media.istockphoto.com/photos/red-card-picture-id157680479?k=6&m=157680479&s=612x612&w=0&h=tqzgzl2zLEJ65YtOKSOItUmsXHFHvKBt-7b4FbJLW0Y
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