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Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 Conceitos Básicos de Genética Estrutura da cromatina A fita em dupla-hélice do DNA se enovela em torno dela mesma, se compactando cada vez mais. À medida que ela se compacta, também se enrola em torno de proteínas chamadas histonas (rosa claro na imagem ao lado) A junção das fitas de DNA com as histonas se compacta demasiadamente, até caber dentro de um cromossomo e no núcleo de uma célula. Esse DNA contém genes (pares de bases nitrogenadas) ali dentro, que para serem lidos, precisa haver uma descompactação que permite a expressão da informação contida naquela molécula. Dogma central da biologia DNA → RNA → Proteína A informação que está contida no DNA (com sua fita dupla hélice) é transcrita para uma molécula de RNA, que contém apenas 1 fita. Existem Fatores de Transcrição, que são proteínas que se ligam à molécula de DNA para produzir o RNA. As duas fitas se separam, e uma delas é utilizada de molde para transcrever a molécula de RNA. Esse RNA é chamado de RNA mensageiro. A informação contida ali será traduzida em forma de proteína, que é quem vai executar a função pré-determinada pelo gene. Mutações Essas mutações têm diversas causas e se manifestam no momento que a célula está de dividindo Mutações Gênicas São alterações do material genético que originam novas versões de um gene, definitivas e hereditárias (quando ocorre alteração de uma ou mais bases nitrogenadas da molécula de DNA) Acúmulo de mutações vantajosas ocorrem pela ação da seleção natural, durante os bilhões de anos de evolução biológica (Teoria de Darwin), ou seja, não é porque é mutação que é uma mudança ruim. São fontes primárias da variabilidade dos seres vivos As mutações são feitas ao acaso, não têm qualquer relação com as necessidades do organismo Ocorre espontaneamente ou podem ser induzidas por agentes externos como radiações ionizantes e certas substâncias Quando ocorrem em células germinativas (nos gametas) → hereditariedade, evolução Quando ocorre nas células somáticas → causa câncer. Ela pode ser de 3 tipos: Substituição – quando apenas uma base nitrogenada (nucleotídeo) sofre substituição por uma outra Imprinting Genômico Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 Deleção – remoção de uma ou mais bases nitrogenadas da molécula de DNA. Quando ocorre essa deleção, muda totalmente dali para frente os aminoácidos que serão formados. Inserção – ocorre adição de uma ou mais bases nitrogenadas à molécula de DNA O albinismo é causado por uma mutação na enzima tirosinase, que transforma o aminoácido tirosina em pigmento da pele, a melanina. Em algum determinado momento, o gene que codifica a produção da substância responsável pela cor no organismo sofreu uma mutação, a qual pode ocorrer em plantas e animais e, em geral, é hereditária. Mesmo quando ocorre em famílias de etnia negra, ela é apagada pelo gene do albinismo. A anemia falciforme é uma mutação no gene que codifica a cadeia beta da globina, alterando o códon GAA para GUA no RNAm, o que acarreta a troca do ácido glutâmico (Glu) pela Valina (Val), caracterizando uma substituição de uma base Oncogênese – a origem do câncer muitas vezes tem origem no DNA, pois fatores externos causam a mutação principalmente da proteína p53, que é muito ligada a fatores cancerígenos. Ela está relacionada com o bloqueio do ciclo celular, sendo este quem confere a regularidade do DNA celular e determina se uma célula pode se multiplicar ou não; Quando a célula está inapta, essa proteína faz com que ela sofra apoptose; se estiver com DNA regular a célula continua se dividindo. Quando ocorre mutação na p53, a célula continua entrando no ciclo e sofrendo a divisão celular, e assim surge o câncer. O tipo de câncer mais comum no mundo é o de pele, por 2 motivos, as células da epiderme sofrem constantes mitoses para renovar a pele e as células da epiderme são as mais expostas a fatores externos radioativos, ou seja, elas têm grandes chances de sofrerem mutação e de conseguir passar essa mutação para frente, devido ao alto número de divisão celular Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 Mutações gênicas em microrganismos As bactérias possuem diversidade genética muito grande e estão se dividindo o tempo todo, o que configura um cenário ideal para a resistência bacteriana Quando se iniciou a introdução de antibióticos, as bactérias continuaram com seu mecanismo de fazer grande número de divisões celulares, o que permitiu a existência de mutações resistentes ao antibiótico administrado. Nesse sentido, o antibiótico atua como um facilitador para essa resistência, pois ele mata todas as outras bactérias que não são resistentes, deixando vivas apenas aquela que é resistente, assim, ela fica mais livre para se multiplicar, pois não precisa competir por nutrientes. Esse cenário é típico do ambiente hospitalar. A prescrição e uso inconsequentes de antibióticos contribui para esse cenário de resistência bacteriana. Esse mecanismo de resistência também acontece entre os vírus, como é possível observar as novas cepas do SARS-CoV-2 que surgem a partir de mutações aleatórias que apareceram no seu material genético (quando vantajosa, é passada para frente) Mutações Cromossômicas Corresponde a modificações em um pedaço inteiro da molécula de DNA. Pode ser de 2 tipos: Numéricas – quando há alteração no número de cromossomos. Pode ser do tipo euploidias (haploidias e poliploidias) e aneuploidias, que é a alteração de apenas um cromossomo As aneuploidias se subdividem ainda em nulissomias, que consiste na falta de um cromossomo, monossomias que é quando tem apenas 1 cromossomo ao invés de um par, e polissomias é quando tem mais de um cromossomo além do seu par A maioria é incompatível com a vida, pois há grande mudança no material genético que provoca muitas mudanças no corpo. Estruturais – deleção, duplicação, translocação ou inversão A Síndrome de Down é uma aneuploidia do tipo polissomia, também conhecida como Trissomia do 21. Esses pacientes possuem 47, XX + 21 ou 47, XY + 21 Ela é a mais conhecida pois é a mais compatível com a vida do ser humano Crossing-over na meiose Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 As trocas de pedaços das cromátides homólogas provocam o surgimento de novas sequências de genes ao longo dos cromossomos Os alelos de cada gene localizados em diferentes pares de cromossomos homólogos se separam independentemente e determinam as características distintas Isso faz com que o ovócito de cada mulher contenha um material genético diferente, tendo em vista que na sua divisão há 2 meioses A presença de mutações e o crossing-over é o que garante a variabilidade genética Herança Genética É um processo pelo qual um organismo ou célula adquire ou torna-se predisposto a adquirir características semelhantes à do organismo ou célula que o gerou através do código genético As informações genéticas são passadas para a próximas gerações Veremos os padrões de herança mendelianos, que são herança clássica autossômica e não autossômica Herança autossômica recessiva Os homozigotos que são afetados são apenas os indivíduos com 2 alelos mutantes e nenhum selvagem (“normal). Isso porque quando há um alelo normal, ele é capaz de silenciar o mutante. Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 Alelos – uma cópia selvagem do gene é capaz de compensar o alelo mutante e assim prevenir o fenótipo (ocorrência da enfermidade, por exemplo) Herança – os homozigotos têm que ter herdado um alelo mutante de ambos os genitores paraexibir o fenótipo Doenças recessivas 25% de chance de ser afetado 50% de chance de serem portadores do gene, mas não serem afetados 25% de chance de não receberem nenhum gene mutado Herança autossômica dominante Alelos – 1 mutante de um dos genitores é suficiente para manifestar o fenótipo Herança – é muito provável que um dos genitores saiba que tem a doença porque provavelmente ele também manifesta esse fenótipo, enquanto o outro não é afetado e nem carrega a mutação Doenças dominantes 50% de chance de serem portadores do gene e serem afetados; 50% de chance de não receberem nenhum gene mutado Herança ligada ao X Homozigotos – o sexo tanto dos genitores quanto dos descendentes determina a herança, pois as mulheres têm duas cópias do cromossomo X, enquanto os homens apenas uma Alelos – geralmente homens portadores são afetados e mulheres são portadoras não afetadas Ex.: daltonismo e hemofilia Herança mitocondrial – não autossômica As mitocôndrias são responsáveis por produzir ATP para nosso corpo e possuem DNA próprio, tendo um genoma muito menor do que o humano (possui em torno de 37 genes apenas) Cada vez que uma célula se divide as mitocôndrias presentes também se dividem, e tendo em vista seu genoma pequeno, as chances de ocorrerem mutações são muito maiores, pois elas estão em constante divisão. Além disso, o DNA mitocondrial é muito mais suscetível a sofrer mutações espontâneas que o DNA nuclear devido a não possuir mecanismos de dano e reparo igual aos do genoma nuclear, o que contribui para a alta taxa de mutação O DNA mitocondrial é passado apenas pela mãe, pois o espermatozoide contribui só com o seu núcleo na fecundação, sendo o citoplasma totalmente fornecido pela mãe Pai não afetado e mãe afetada os filhos serão afetados e o grau irá depender da quantidade de mitocôndrias afetadas. Pai afetado e mãe não afetada os filhos não serão afetados Heteroplasmia – uma única célula tem centenas de mitocôndrias que se dividem aleatoriamente, gerando descendentes com diferenças na composição do DNAmt. Assim, cada célula terá uma proporção entre mitocôndrias normais e mitocôndrias com DNA mutante influenciando no grau de fenótipo em cada indivíduo, como por exemplo na expressão da surdez em irmãos de mãe afetada Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 Um dos mecanismos que explica o fenômeno da Penetrância Incompleta, no qual a presença do genótipo não determina o fenótipo correspondente em todos os indivíduos portadores Exemplos de doenças causadas por herança mitocondrial: Epigenética Genética é de natureza intrínseca, ocorrem mutações que provocam alterações na sequência do DNA, ou seja, alteram o genótipo do ser vivo Mais ligada à natureza e à determinação genômica Epigenética consegue alterar o fenótipo, mas sem alterar o genótipo, ou seja, muda como esse gene se expressa sem alterar sua formação. São informações reversíveis introduzidas nos cromossomos e replicadas estavelmente durante as divisões celulares, mas que não modificam as sequências de nucleotídeos Mostra o quanto nossos hábitos podem nos fazer ter expressões sem necessariamente ter aquele gene, por exemplo, tabagistas de longa data que desenvolvem câncer mesmo sem ter predisposição para essa doença. As marcas da epigenética são transmitidas tanto de uma célula para outra quanto de pais para filhos Principais mecanismos epigenéticos Metilação/Acetilação de histonas – modificação química nas histonas, podendo ser por adição de um grupamento metil ou acetil. Esse modifica a histona e permite que determinado gene fique mais ou menos acessível durante a transcrição, ele pode acontecer diretamente na histona ou no DNA em si. Quando a modificação ocorre na histona, ela pode ser mais abrangente e agir sobre mais fatores, quando ocorre diretamente no DNA é mais certeiro em determinado gene que você quer agir Metilação do DNA – quando a célula não consegue transcrever o gene porque ele foi metilado pela histona, ou seja, ele foi “desligado”, a fita de DNA fica mais enovelada e difícil de ser transcrita. Normalmente, quando é no DNA, ocorre na posição C5 de citocinas em Ilhas GpC Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 Acetilação – quando determinado gene tem sua transcrição facilitada/impulsionada, ficando assim mais fácil de ser expressado Esse processo acontece por meio da facilitação da desenovelação da fita de DNA. Imprinting Genômico Também chamado de imprinting parental, é um exemplo de modificação epigenética na hereditariedade Corresponde ao processo natural em que alguns genes são expressos somente nos cromossomos transmitidos por um dos genitores Não ocorre de forma aleatória, sendo os genes imprintados patrilinearmente ou matrilinearmente Não está relacionado com doenças, por ser um processo epigenético normal Os mecanismos genéticos envolvidos com as síndromes podem ser por deleção (perda de um pedaço imprintado), por dissomia uniparental (2 cópias cromossomais vindos da mesma fonte, pode ser só da mãe ou só do pai) ou por erros no processo de imprinting, sendo esse último o mais raro (afeta a formação e a maturação dos gametas com a desmetilação) A deleção de um segmento cromossômico não gera as mesmas consequências independente da origem parental, pois se naquela região estiver presente um gene imprintado, ele irá fazer toda a diferença . Cerca de 85 genes conhecidos sofrem imprinting, sendo que eles vão ser expressos no cromossomo do pai ou só no da mãe Na gametogênese, os imprints são "apagados" durante o início do desenvolvimento para que todos os genes possam ser expressos e formem o gameta, contudo depois desse processo a memória epigenética é restaurada. Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021 A partenogênese (formação do zigoto sem fecundação, a partir de um gameta apenas) é inviável em humanos e o imprinting genômico é uma das principais explicações biológicas para a impossibilidade desse processo em mamíferos O problema do imprinting surge quando o gene imprintado sofreu alguma mutação, podendo causar doença. Em razão de o outro gene ter sido silenciado no processo de imprinting, não temos como balancear e neutralizar para que a mutação se manifeste brandamente ou não se manifeste. Se uma pessoa tem uma doença recessiva no cromossomo printado que veio da mãe ou do pai, ela irá manifestar a doença mesmo com o outro gene silenciado. Ex.: quando alguém recebe o cromossomo imprintado e com mutação do pai, e não tem o alelo da mãe para suprir a expressão, tendo em vista que ele foi silenciado; dessa forma a pessoa irá manifestar a doença. “Silêncio Gênico” – alguns genes são expressos somente em cromossomos transmitidos por um dos genitores, sendo que um dos alelos é transcricionalmente inativo Padrão de expressão diferencial – a expressão é diferencial de acordo com a origem parental através de um processo epigenético da metilação e desmetilação Mecanismo epigenético – a presença de um grupamento metil (metilação) impede a ligação dos fatores de transcrição e, portanto, a expressão gênica. O gene será metilado sempre apenas na linhagem germinativa ou materna (nunca em ambos) Síndromes Irmãs Síndrome de Prader-Willi – causada por dissomia uniparental materna em uma região com genes imprintados paternos. Deleção do cromossomo 15q11-q13 de origem paterna Quando a região que contém os genes SNRPN, NDN e NECDIN está ausente a criança fica efetivamente sem uma cópia funcional, tendo em vista que as cópias maternas são imprintadas. Os genes SNRPN, NDN e NECDIN são metilados no gene da mãe (silenciados) e só são expressos no genepaterno. Síndrome de Angelman – causada por dissomia uniparental paterna em uma região com genes imprintados maternos Deleção do cromossomo 15q11-q13 de origem materna Gene UBE3A normalmente está metilado na cópia paterna do cromossomo 15, sendo assim expresso (desmetilado) apenas no cromossomo 15 materno. A expressão monoalélica é suficiente. O grupamento metil é mantido após a replicação, logo é detectável pela Reação em Cadeia de Polimerase (do inglês, Polimerase Chain Reaction – PCR) sensível à metilação Hoje em dia através do PCR conseguimos detectar onde há grupamentos metil no genoma do indivíduo Esses genes imprintados maternalmente e paternalmente estão na mesma região, por isso, se eles sofrerem deleção serão causados problemas diferentes e doenças diferentes, dependendo se é da origem do pai ou da mãe. Tanto o gene UBE3A, quanto os genes SNRPN, NDN e NECDIN têm funções majoritariamente relacionadas ao SNC. Ana Carolina Simões – MED 105 – Aula AMEC 09/11/2021
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