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CURSO BALCONISTA DE FARMÁCIA MÓDULO ESPECÍFICO Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha – ETSMMR Formação Inicial e Continuada – FIC na modalidade Educação a Distância – EaD Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC/ NOVOS CAMINHOS Presidente da República Jair Messias Bolsonaro Ministro da Educação Milton Ribeiro Governador do Estado do Acre Gladson de Lima Cameli Secretária Estadual de Educação, Cultura e Esportes Maria do Socorro Neri Medeiros de Souza Presidente do Instituto de Educação Profissional e Tecnológica do IEPTEC - Dom Moacyr Francineudo Souza da Costa Diretor de Desenvolvimento de Educação Profissional e Tecnológica do IEPTEC - Dom Moacyr Felipe Pietro de Araújo Diretor Administrativo e Financeiro do IEPTEC - Dom Moacyr Carlos Sérgio Peres Chefe do Departamento de Planejamento e Gestão do IEPTEC - Dom Moacyr Iuçara Andrade da Costa Souza Chefe do Departamento de Convênios, Projetos e Programas do IEPTEC - Dom Moacyr Iuçara Andrade da Costa Souza Coordenadora da Divisão de Educação Profissional a Distância – EaD do IEPTEC - Dom Moacyr Érica Vasconcelos das Neves Coordenadora Geral do PRONATEC Girlane Souza de Avilar EQUIPE DA UNIDADE OFERTANTE Coordenadora Geral da Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha Aldenice Ferreira Coordenadora da Área de Aprendizagem da Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha Thais Braz da Gama EQUIPE DA UNIDADE OFERTANTE Aldenice Ferreira Coordenadora Geral da Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha Thais Braz da Gama Coordenadora Pedagógica da Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha EQUIPE DE ORGANIZAÇÃO Anna Karoliny Santana de Souza Supervisora da Área Técnica de Biodiagnóstico REVISÃO DO DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO E CURRICULAR Girlane Souza de Avilar EQUIPE DE ELABORAÇÃO EaD – 2021 Skarllatt Carvalho Ribeiro Biomédica SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ 11 EIXO 01: PROCESSO DO TRABALHO EM FARMÁCIAS E DROGARIAS .................................................... 12 1. TRABALHO NA ÁREA DA SAÚDE .................................................................................................... 13 2. A SAÚDE NO BRASIL ...................................................................................................................... 16 3. DEFINIÇÕES ................................................................................................................................... 18 4. PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE ............................................................................................. 19 4.1 Componentes do processo de trabalho ...................................................................................................... 20 4.2 Objetivos ou finalidades .............................................................................................................................. 21 4.3 Meios e condições ....................................................................................................................................... 21 4.4 Objeto ......................................................................................................................................................... 22 4.5 Agente ou sujeito ........................................................................................................................................ 22 4.6 Objetivos existenciais ou sociais nos processos de trabalho ....................................................................... 23 4.7 Modelos de determinação social da saúde e da doença ............................................................................ 25 4.8 O conceito de saúde .................................................................................................................................... 28 4.9 Determinantes sociais da saúde ................................................................................................................. 31 4.10 Evidências da determinação social da saúde ............................................................................................ 32 4.11 Processo de trabalho na saúde ................................................................................................................. 37 5. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA ............................................................................................. 40 5.1 História da Farmácia ................................................................................................................................... 40 5.2 A Farmácia na Antiguidade e na Idade Média ............................................................................................ 40 5.3 As Boticas do Brasil ..................................................................................................................................... 44 5.4 De Boticário a Farmacêutico ....................................................................................................................... 47 5.5 O ensino da farmácia na Bahia ................................................................................................................... 48 5.6 Chegada da família real ao Brasil ............................................................................................................... 48 6. CADEIRAS DE QUÍMICA FARMACÊUTICA E DE FARMÁCIA ............................................................... 51 7. Criação Do Curso Farmacêutico ..................................................................................................... 54 7.1 O pai da Farmácia ....................................................................................................................................... 56 7.2 A divisão ...................................................................................................................................................... 56 7.3 Um pulo para a modernidade ..................................................................................................................... 57 8. LEGISLAÇÃO FARMACÊUTICA E SANITÁRIA .................................................................................... 57 8.1 Principais Legislações da Área Farmacêutica: ............................................................................................ 58 9. COMPETÊNCIAS DOS PROFISSIONAIS QUE ATUAM EM FARMÁCIA ................................................. 59 9.1 FUNÇÕES DO BALCONISTA DE FARMÁCIA .................................................................................................. 59 9.2 Balconista: o elo entre a farmácia e o consumidor ..................................................................................... 60 9.3 Paciência e dedicação ................................................................................................................................. 60 9.4 A arte de atender ........................................................................................................................................ 61 9.5 Recursos promocionais ...............................................................................................................................61 10. RESPONSABILIDADES E ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ........................................................... 62 10.1 COMO UMA FARMÁCIA PODE SER ORGANIZADA? ................................................................................... 63 10.2 Critérios Básicos De Organização ............................................................................................................. 63 10.3 Outros métodos de organização ............................................................................................................... 64 11. INSTALAÇÕES FÍSICAS (RDC Nº 44 DE 17 DE AGOSTO DE 2009) ..................................................... 64 12. RECEPÇÃO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS .............................................................................. 66 12.1 Armazenando Medicamentos ................................................................................................................... 66 12.2 Recebimento ............................................................................................................................................. 67 12.3 Estocagem ................................................................................................................................................ 68 12.4 Conservação .............................................................................................................................................. 68 12.6 Orientações básicas para o controle de estoque ...................................................................................... 69 12.7 Recomendações gerais para o armazenamento ....................................................................................... 70 12.8 COMO RECONHECER OS MEDICAMENTOS DETERIORADOS ..................................................................... 70 13. VALIDADE DOS MEDICAMENTOS ................................................................................................. 71 14. LIMPEZA DOS AMBIENTES ........................................................................................................... 71 EIXO II: O ATENDIMENTO: PRINCÍPIOS ÉTICOS ................................................................................... 74 1. ATENDIMENTO AO CLIENTE ........................................................................................................... 75 1.1 O que se entende por Atendimento? .......................................................................................................... 75 1.2 Atribuições do balconista ............................................................................................................................ 75 2. A ÉTICA PROFISSIONAL .................................................................................................................. 76 Maior clareza nos processos ............................................................................................................................. 81 Aumenta o engajamento da equipe ................................................................................................................. 82 2.1 Entregue ao cliente somente produtos de qualidade ................................................................................. 84 2.2 Mantenha sigilo sobre as informações que chegam até você .................................................................... 85 2.3 Seja discreto ................................................................................................................................................ 85 2.4 Preste um bom atendimento ...................................................................................................................... 86 2.5 Prometa aquilo que consiga cumprir .......................................................................................................... 87 2.6 Não enxergue o seu cliente como um amigo .............................................................................................. 87 2.7 Cuide da sua aparência pessoal .................................................................................................................. 88 2.8 Cuide da aparência do seu local de trabalho .............................................................................................. 88 2.9 Antecipe-se às necessidades do cliente ...................................................................................................... 88 2.10 Nunca discuta uma decisão médica ou farmacêutica com o cliente ........................................................ 89 3. QUAIS OS PERFIS DE CLIENTES? ..................................................................................................... 89 4. QUAIS OS PASSOS PARA UM ATENDIMENTO DE EXCELÊNCIA? ....................................................... 90 4.1 Abordagem ................................................................................................................................................. 90 4.2 Qual a importância da postura no atendimento? ...................................................................................... 91 4.3 Prescrição de situações de postura receptiva que, trazem resultados positivos: ....................................... 92 4.4 A fórmula da satisfação do cliente ............................................................................................................. 93 4.5 COMO GARANTIR A SATISFAÇÃO DO CLIENTE? .......................................................................................... 93 5. ORIENTAÇÃO AO PACIENTE ........................................................................................................... 96 6. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR .......................................................................................... 99 EIXO III: BIOSSEGURANÇA NA FARMÁCIA ........................................................................................ 102 1. BIOSSEGURANÇA NAS AÇÕES DE FARMÁCIA ................................................................................ 103 2. CONCEITOS DE LIMPEZA, DESINFECÇÃO, ESTERILIZAÇÃO, DESCONTAMINAÇÃO E ANTISSEPSIA .... 104 3. TÉCNICA DE LAVAGEM DAS MÃOS ............................................................................................... 106 4. O QUE SÃO EPIs ........................................................................................................................... 110 5. COMO NOS PROTEGER DURANTE NOSSO TRABALHO EM SAÚDE ................................................. 122 6. PRIMEIROS SOCORROS ................................................................................................................ 127 EIXO IV: O MEDICAMENTO .............................................................................................................. 137 1. INTRODUÇÃO A FARMACOLOGIA ................................................................................................ 138 3. FORMAS FARMACÊUTICAS .......................................................................................................... 143 4. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ........................................................................................................... 147 5. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ................................................................................................. 152 6. DOSES TÓXICAS E DOSES SUB-TERAPÊUTICAS .............................................................................. 156 7. BULA: APRENDA A CONHECÊ-LA .................................................................................................. 157 7. DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS ............................................................................................. 1608. PRINCIPAIS CONCEITOS EM FARMÁCIA ........................................................................................ 162 9. PREFIXOS E SUFIXOS USADOS EM FAMÁCIA ................................................................................. 168 10. TERMOS USADOS NA FARMÁCIA ............................................................................................... 170 10. CÁLCULOS NA FARMÁCIA .......................................................................................................... 172 11. CATEGORIAS DE MEDICAMENTOS .............................................................................................. 179 12. PERGUNTAS FREQÜENTES RELACIONADAS A MEDICAMENTOS GENÉRICOS ................................ 181 Drogas que atuam no Sistema Cardiovascular .................................................................................. 185 13. DROGAS QUE ATUAM NO SISTEMA URINÁRIO ........................................................................... 188 14. MEDICAMENTOS QUE ATUAM NO SISTEMA ENDÓCRINO ........................................................... 192 15. HIPOGLICEMIANTES ORAIS ........................................................................................................ 195 16. SELEÇÃO .................................................................................................................................... 198 17. PROSTAGLANDINAS ................................................................................................................... 200 18. OS EFEITOS DOS MEDICAMENTOS .............................................................................................. 201 19. CLASSIFICAÇÃO DOS MEDICAMENTOS SEGUNDO SUAS TARJAS ................................................. 201 20. GRUPOS FARMACOLÓGICOS ...................................................................................................... 203 21. REGISTRO DE PRODUTOS NO MINISTÉRIO DA SAÚDE ................................................................. 208 EIXO V: O USO RACIONAL DOS MEDICAMENTOS ............................................................................. 212 1. E O QUE É “USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS”? ....................................................................... 213 2. O PAPEL SIMBÓLICO DOS MEDICAMENTOS E A SOCIEDADE DE CONSUMO ................................. 224 3. O QUE DIZEM AS ESTATÍSTICAS .................................................................................................. 225 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................ 227 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Sintomas COVID. Fonte: OPAS/OMS Brasil (2020) .............................................. 15 Figura 2. Como a doença pode ser transmitida. Fonte: OPAS/OMS Brasil (2020) ................. 15 Figura 3. Logomarca do Sistema Único de Saúde. ................................................................... 17 Figura 4. Conceitos. Fonte: Google. ......................................................................................... 17 Figura 5 e 6 Arquivo Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte ................................ 19 Figura 6. Cláudio Galeno considerado pai da Farmácia. .......................................................... 56 Figura 7. Balconista de Farmácia atendendo o cliente. Fonte: Google. .................................. 60 Figura 8. Farmacêutico. ............................................................................................................ 62 Figura 9 Símbolo da Farmácia. ................................................................................................ 63 Figura 10. Medicamentos. Fonte: Google. ................................................................. 66 Figura 11. Balconista atendendo cliente. .................................................................................. 75 Figura 12. Escala de satisfação do Cliente. .............................................................................. 93 Figura 13. Cronograma das fases de funcionamento de um bom atendimento e boa relação com o cliente. ................................................................................................................................... 94 Figura 14. Lembretes técnicos referentes a lavagem das mãos. ............................................. 107 Figura 15 Luva de borracha antiderrapante. ........................................................................... 112 Figura 16 (3.A e 3.B) Luvas resistentes a temperaturas. ........................................................ 112 Figura 17 Luvas para manuseio de produtos químicos. ......................................................... 113 Figura 18. Profissional Equipado. .......................................................................................... 122 Figura 19 Primeiros Socorros. ................................................................................................ 127 Figura 20 Massagem cardíaca. ............................................................................................... 129 Figura 21. Hemorragia nasal. ................................................................................................. 132 Figura 22 Curativo. ................................................................................................................. 132 Figura 23. Convulsão. ................................................................ Erro! Indicador não definido. Figura 24. Demonstração do procedimento realizado após uma queimadura. ....................... 135 Figura 25. Queimadura nos olhos. .......................................................................................... 136 Figura 26. Fluxograma. Fonte Estratégia ............................................................................... 140 Figura 27. Ilustração processo de absorção de medicamento. ................................................ 141 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543974 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543978 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543979 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543980 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543981 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543982 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543989 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543990 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543991 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543992 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543993 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543994 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543995 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543996Figura 28. Formas farmacêuticas. Fonte: farmacêutico digital .............................................. 146 Figura 29. Medicamento sendo administrado via oral. Fonte: Medicamentos: Noções Básicas, Tipos e Formas Farmacêuticas. .............................................................................................. 147 Figura 30.Medicamento sendo injetado por via venosa ......................................................... 150 Figura 31. Administração de medicamento injetável por via intramuscular, no braço. ......... 150 Figura 32 Pessoas. .................................................................................................................. 152 Figura 33 Lendo a bula. .......................................................................................................... 157 Figura 34 Medicamentos. ....................................................................................................... 159 Figura 35. Comprimidos. ........................................................................................................ 162 Figura 36. Medicamentos. ...................................................................................................... 168 Figura 37 ilustrações de números. .......................................................................................... 172 Figura 38 Como se apresenta o medicamento genérico. ........................................................ 182 Figura 39. Medicamentos diversos. ........................................................................................ 201 Figura 40. Tarja dos medicamentos. Fonte: ANVISA ........................................................... 203 Figura 41 Ácido Betulínico .................................................................................................... 203 Figura 42. Selo SIF. ................................................................................................................ 210 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80543999 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544001 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544002 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544003 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544004 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544005 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544006 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544007 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544008 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544009 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544010 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544012 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544013 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1. Dicas para aumentar a produtividade no atendimento ao cliente. ........................... 95 Quadro 2. Indicadores de produtividade em relação ao atendimento ao cliente. ..................... 96 Quadro 3 Microrganismos e Tempo de Sobrevivência. ......................................................... 105 Quadro 4. Etapas para uma boa higienização das mãos. ........................................................ 108 Quadro 5 Lavagem das mãos. ................................................................................................ 109 Quadro 6 Como retirar as luvas descartáveis. ........................................................................ 115 Quadro 7. Tempo de ação da insulina. ................................................................................... 193 Quadro 8. Número de dígitos que devem ter os protocolos de acordo com a ANVISA. ....... 209 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 Seleção de luvas de acordo com o reagente. ............................................................ 113 Tabela 2 Formas farmacêuticas e via de administração. ........................................................ 146 Tabela 3. Caracterização de corticóides de susos sistêmicos por portência, duração de efeito e atividade mineralocorticóide. ................................................................................................. 198 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544017 file:///C:/Users/Serginho/Documents/EDIÇÃO%20COLETANIA%20BALCONISTA%20DE%20FARMACIA/COLETANEA/coletanea%2022.08.docx%23_Toc80544019 11 APRESENTAÇÃO Caro educando, Queremos lhe parabenizar, mais uma vez, por sua escolha em se profissionalizar, em buscar qualificação, para se colocar no mercado de trabalho, como uma peça fundamental para o desenvolvimento da nossa sociedade. Diante do cenário atual, o Governo do Estado do Acre, vem buscando consolidar a formação em Educação Profissional e Tecnológica, e a EaD é uma das principais alternativas para contribuir com a democratização do ensino, já que auxilia nas demandas educacionais mais urgentes como também nas mais variadas e específicas. Na sociedade atual onde a distância, associada à dificuldade de acesso, e o custo dos cursos são alguns dos obstáculos para que a educação seja acessível, nesse aspecto a EaD se torna uma alternativa prática para uma disseminação mais abrangente e consolidada. Precisamos do seu comprometimento para que possa ter sua habilitação profissional, através de um estudo em que a base é o uso da tecnologia, uma das motivações da EaD é o uso da internet, que é uma fonte inesgotável de pesquisa, além de possuir grande variedade de recursos, que possam integrar professores e alunos, estabelecendo assim uma relação de confiança, visando aumentar a profissionalização e qualificação da população em cursos técnicos para dar qualidade ao ensino e ajudar o educando a ingressar no mercado de trabalho. Nesse módulo serão desenvolvidas competências específicas, com o objetivo de que ao final possa estar qualificado para atuar nas atividades relativas à área do curso, e possa desempenhar, com autonomia, suas atribuições, além de despertar em você o desejo por uma profissão e que tenha espírito empreendedor. Baseado nisso, esse módulo possui uma distribuição de carga horárias de 200 horas em cinco eixos específicos do Curso Balconista de Farmácia. Esperamos que você, caro cursista, aproveite ao máximo essa oportunidade, amplie seu conhecimento e obtenha sua certificação profissional. Dessa forma, mantenha o foco, e que nada seja motivo de desmotivação para a concretização do curso. Equipe da Escola Técnica em Saúde Maria Moreira da Rocha 12 EIXO 01: PROCESSO DO TRABALHO EM FARMÁCIAS E DROGARIAS Competências: Compreender o processo de trabalho em farmácias e drogarias, a fim de atuar na execução das boas práticas e da assistência aocliente paciente. Habilidades: Conhecer um pouco sobre como é o trabalho na área da saúde; Desenvolver conhecimentos sobre a história e a evolução da farmácia para uma melhor compreensão da área; Conhecer as principais legislações da área para desenvolver ações éticas e corretas, perante a lei; Conhecer as competências, responsabilidades e atribuições do profissional balconista de farmácia no intuito de cooperar com os serviços farmacêuticos; Identificar, dentro do espaço físico, questões que estejam incoerentes e que possam vir a prejudicar o andamento das ações quanto às instalações físicas do estabelecimento. Bases Científicas e Tecnológicas: O Trabalho na Área da Saúde; História da origem e evolução da farmácia e drogarias; Legislação Farmacêutica e Legislação Sanitária; Competências, responsabilidades e atribuições dos profissionais que atuam no atendimento em farmácia; Organização, Instalações físicas e higienização do ambiente de trabalho. Valores e Atitudes: Zelar os ambientes de aprendizagem, recursos didáticos e equipamentos; Saber se integrar com o grupo e trabalhar em equipe; Ser solidário e cooperativo; Saber utilizar o ambiente de estudo, sem degradá-lo. 13 1. TRABALHO NA ÁREA DA SAÚDE Você já imaginou como é o trabalho de um profissional de serviços de saúde? Quem trabalha atendendo ao público em hospitais, clínicas, consultórios, farmácias e laboratórios lidam com pessoas que estão passando por momentos delicados de vida. Por isso, uma qualidade fundamental para trabalhar nessa área é a capacidade de compreender o outro. Geralmente, as pessoas ficam nervosas quando têm algum problema com a sua saúde, a de um parente ou amigo. Para auxiliá-las, é preciso ter boa vontade, calma e desejo de ajudar. Mas, como todo ser humano, o profissional da área de saúde não está livre de ter seus próprios problemas e precisar trabalhar mesmo assim. Por isso é importante agir de modo a desempenhar bem suas tarefas, mesmo nos dias difíceis. Com a prática, adquire-se o domínio das técnicas e o trabalho se torna mais fácil. Você sabe o que é saúde? Muita gente pensa que saúde é o contrário de doença. Mas não é só isso. Há bastante tempo já se sabe que certos tipos de doenças e de formas de adoecer variam em função das diferenças de renda, condições de moradia, educação, tipo de trabalho e outros fatores sociais. Sabe-se, por exemplo, que crianças que moram em cidades muito poluídas costumam ter problemas respiratórios. Você sabia? A área da saúde é responsável pela promoção, proteção e recuperação da saúde de indivíduos e comunidades. Isso inclui ações de educação em saúde, nutrição adequada, vacinas, campanhas de conscientização, tratamentos para doenças e programas de reabilitação física e social. Essas ações são realizadas em postos, centros, hospitais, laboratórios e consultórios profissionais e também em outros ambientes, como domicílios, escolas, creches, centros comunitários, empresas. 14 E que pessoas que moram em áreas sem saneamento, isto é, sem água potável e rede de esgoto, vivem sob constante ameaça de doenças infecciosas. Uma das doenças infecciosas que está causando um pânico não só no Brasil como no mundo todo é o COVID-19. Em 11 de março de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que a COVID-19, nova doença causada pelo novo coronavírus (denominado SARS-CoV-2), é uma pandemia que constitui uma emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Foram confirmados no mundo até 3 de maio de 2020, 3.349.786 casos de COVID- 19 (82.763 novos em relação ao dia anterior) e 238.628 mortes (8.657 novas em relação ao dia anterior), já até 19 de julho de 2021 temos 191.526.225 casos de COVID 19 confirmados e com um número de mortes em 4.091.672. O Brasil é um dos países com transmissão comunitária da COVID-19 e confirmou 101.147 casos e 7.025 mortes pela doença até o dia 3 de maio de 2020. Já em 19 de julho de 2021 o Brasil ocupa a terceira colocação em número de infectados com 19.376.574 e com um número de mortes de 542.214. As medidas de proteção são as mesmas utilizadas para prevenir doenças respiratórias, como: se uma pessoa tiver febre, tosse e dificuldade de respirar deve procurar atendimento médico assim que possível e compartilhar o histórico de viagens com o profissional de saúde; lavar as mãos com água e sabão ou com desinfetantes para mãos à base de álcool; ao tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com o cotovelo flexionado ou com um lenço – em seguida, jogar fora o lenço e higienizar as mãos. O coronavírus é a segunda principal causa do resfriado comum (após rinovírus) e, até as últimas décadas, raramente causavam doenças mais graves em humanos do que o resfriado comum. Há sete coronavírus humanos (HCoVs) conhecidos, entre eles o SARS-COV (que causa síndrome respiratória aguda grave), o MERS-COV (síndrome respiratória do Oriente Médio) e o SARS-CoV-2 (vírus que causa a doença COVID-19). 15 Figura 1. Sintomas COVID. Fonte: OPAS/OMS Brasil (2020) Figura 2. Como a doença pode ser transmitida. Fonte: OPAS/OMS Brasil (2020) Outros exemplos de doença são a hipertensão arterial, tão comum nos nossos dias. Ela está diretamente relacionada com o estresse. E também a alimentação carregada de gorduras, que aumenta o colesterol e provoca doenças do coração. É por isso que se diz que a saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença. E isso depende muito dos fatores sociais. Você sabia? Embora possa parecer assim, o estresse não é necessariamente mau. A reação de uma pessoa às agressões pode levar a um aumento de sua resistência a futuros agressores (formação de anticorpos, amadurecimento emocional etc.). 16 2. A SAÚDE NO BRASIL A saúde pública é aquela voltada para as ações de manutenção da saúde da população, garantindo um tratamento adequado e a prevenção de doenças. No Brasil, a saúde pública é regulamentada pela ação do Estado, através do Ministério da Saúde e demais secretarias estaduais e municipais. O objetivo básico da saúde pública é garantir que toda a população tenha acesso ao atendimento médico de qualidade. O Brasil possui um sistema público e outro privado de assistência à saúde. O sistema público, conhecido como Sistema Único de Saúde (SUS), é responsável pelo atendimento a todo cidadão. SUS é a denominação do sistema público de saúde brasileiro criado pela Constituição Federal de 1988 pelo texto elaborado durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988 na sua 267ª sessão no dia 17 de maio de 1988. É um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde. O SUS foi criado em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, que determina que é dever do Estado garantir saúde a toda a população brasileira. O início se deu nos anos 70 e 80, quando diversos grupos se engajaram no movimento sanitário, com o objetivo de pensar um sistema público para solucionar os problemas encontrados no atendimento da população defendendo o direito universal à saúde. O Ministério da Saúde foi criado em 1953, foi quando também iniciaram-se as primeiras conferênciassobre saúde pública no Brasil. Daí, surgiu a ideia de criação de um sistema único de saúde, que pudesse atender toda a população. Porém, com a ditadura militar, a saúde sofreu cortes orçamentários e muitas doenças voltaram a se intensificar. Em 1970, apenas 1% do orçamento da União era destinado para a saúde. Ao mesmo tempo, surgia o Movimento Sanitarista, formado por profissionais da saúde, intelectuais e partidos políticos. Eles discutiam as mudanças necessárias para a saúde pública no Brasil. 17 A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tanto ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária, média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica. Desde setembro de 2000, quando foi aprovada a Emenda Constitucional 29 (EC-29), o SUS é administrado de forma tripartite, e conta com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Os gestores são responsáveis pela administração dos recursos, sua implantação e qualidade. Atualmente, o orçamento do Governo Federal repassado para o Ministério da Saúde gira em torno 101 bilhões de reais. Em seus 27 anos de existência, o SUS conquistou uma série de avanços para a saúde do brasileiro. Reconhecido internacionalmente, o Programa Nacional de Imunização (PNI), responsável por 98% do mercado de vacinas do país, é um dos destaques. O Brasil garante à população acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), disponibilizando 17 vacinas para combater mais de 20 doenças, em diversas faixas etárias, na rede pública de todo o país. Também é no SUS que ocorre o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. O programa cresceu 63,85% na última década, saltando de 14.175 procedimentos em 2004 para 23.226 em 2014. Também dá assistência integral e totalmente gratuita para a população de portadores do HIV e doentes de Aids, renais crônicos, pacientes com câncer, tuberculose e hanseníase. Figura 4. Conceitos. Fonte: Google. Figura 4. Logomarca Sistema Único de saúde. Figura 3. Logomarca do Sistema Único de Saúde. 18 3. DEFINIÇÕES Farmácia - Estabelecimento de manipulação de fórmulas magistrais e oficinais, do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, compreendendo o de dispensação e o de atendimento privativo de unidade hospitalar ou de qualquer outra equivalente de assistência médica; Drogaria - Estabelecimento de dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais; Dispensário de medicamentos - Setor de fornecimento de medicamentos industrializados, privativo de pequena unidade hospitalar ou equivalente; Posto de medicamentos e unidades volantes - Estabelecimento destinado exclusivamente à venda de medicamentos industrializados em suas embalagens originais e constantes de relação elaborada pelo órgão sanitário federal, publicada na imprensa oficial, para atendimento a localidades desprovidas de farmácias ou drogarias; Distribuidor – Representante importador e exportador. Empresa que exerça direta ou indiretamente o comércio atacadista de drogas, medicamentos em suas embalagens originais, insumos farmacêuticos e de correlatos Indústria farmacêutica - É responsável por produzir medicamentos. É uma atividade licenciada para pesquisar, desenvolver, comercializar e distribuir drogas farmacêuticas. Muitas das companhias da indústria farmacêuticas surgiram nos finais do século 19 e início do século 20. As principais descobertas aconteceram em torno das décadas de 1920 a 1930. Nos últimos anos surgiram no Brasil os medicamentos genéricos que são alternativas às medicações tradicionais. Boticas: Estabelecimento onde se preparam e/ou se vendem medicamentos; farmácia. 19 4. PROCESSO DE TRABALHO EM SAÚDE A partir de então, estão compostos de três seções cujo objetivo principal é provocar uma reflexão sobre o processo de trabalho em saúde e, em particular, sobre a Atenção Básica de Saúde, tomando como referência a prática das equipes de Saúde da Família e a discussão dos elementos do processo de trabalho e suas especificidades no campo da saúde. Faremos também uma reflexão sobre a determinação social do processo de saúde e doença, preparando-nos para a discussão de modelo assistencial. Esperamos que este EIXO possibilite uma reflexão sobre o processo de trabalho de sua equipe, ou seja, que você perceba e analise, juntamente com sua equipe, diferentes possibilidades de se trabalhar em saúde, considerando-se os objetivos de cada ação desenvolvida por sua equipe. Figura 5 e 6 Arquivo Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte A organização e a gestão dos processos de trabalho em saúde, em especial do trabalho de uma equipe na atenção básica, constituem um dos eixos centrais da reordenação da atenção à saúde no SUS. Por isso, julgamos necessário aprofundar o nosso conhecimento sobre o processo de trabalho em geral e do processo de trabalho na atenção básica em particular. Abordaremos nesta seção os componentes do processo de trabalho e no final você encontrará também uma recapitulação do assunto abordado. Diante dessa organização, esperamos que o estudo desta seção possa lhe oferecer subsídios para refletir criticamente sobre o processo de trabalho, respondendo aos seguintes objetivos: • Compreender o processo de trabalho na sua totalidade e a inter-relação dos seus elementos. • Identificar as especificidades de cada elemento do processo de trabalho e suas implicações práticas. • Perceber o funcionamento do processo de trabalho numa perspectiva dinâmica e reiterativa. • Compreender a importância da avaliação constante no processo de trabalho. 20 4.1 Componentes do processo de trabalho O modo como desenvolvemos nossas atividades profissionais, o modo como realizamos o nosso trabalho, qualquer que seja, é chamado de processo de trabalho. Dito de outra forma, pode-se dizer que o trabalho, em geral, é o conjunto de procedimentos pelos quais os homens atuam, por intermédio dos meios de produção, sobre algum objeto para, transformando-o, obterem determinado produto que pretensamente tenha alguma utilidade. A reflexão crítica e contínua sobre o processo de trabalho e sua transformação é uma característica marcante da humanidade e constitui uma parte central do processo de desenvolvimento humano. O grau de dificuldade dessa reflexão aumenta com a complexidade e com a indeterminação dos processos de trabalho. Quanto mais complexo o processo de trabalho e quanto menos sistematizado ele for, mais difícil será refletir sobre ele. Essas são características muito presentes na ABS e no PSF. Por isso, é fundamental que os profissionais aí inseridos desenvolvam habilidades para a aplicação de instrumentos que possibilitem a reflexão crítica e a transformação do seu processo de trabalho. Em um processo de trabalho, as finalidades ou objetivos são projeções de resultados que visam a satisfazer necessidades e expectativas dos homens, conforme sua organização social, em dado momento histórico. Os objetos a serem transformados podem ser matérias-primas ou materiais já previamente elaborados ou, ainda, certos estados ou condições pessoais ou sociais. Exemplos: Transformar o minério de ferro e o carvão em aço; transformar a madeira em uma mesa; transformar um corpo/pessoa doente em um corpo/pessoa mais saudável; mudar o comportamento de uma pessoa a respeito de sua saúde; mudaro comportamento de uma comunidade a respeito do meio ambiente. Os meios de produção ou instrumentos de trabalho podem ser máquinas, ferramentas ou equipamentos em geral, mas também, em uma visão mais ampla, podem incluir conhecimentos e habilidades. Os homens são os agentes de todos os processos de trabalho em que se realiza a transformação de objetos ou condições para se atingir fins previamente estabelecidos. O conceito e o esquema geral dos processos de trabalho são oriundos da economia e ganharam utilidade especial na análise de processos de trabalho específicos na ergonomia e saúde do trabalhador, na engenharia de produção e na administração. 21 Vamos, a partir de agora, abordar, de forma um pouco mais detalhada, cada componente do processo de trabalho. 4.2 Objetivos ou finalidades Todo processo de trabalho é realizado para se atingir alguma(s) finalidade(s) determinada(s) previamente. Pode-se dizer, portanto, que a finalidade rege todo o processo de trabalho e é em função dessa finalidade que se estabelecem os critérios ou parâmetros de realização do processo de trabalho. O objetivo do processo de trabalho é a produção de um dado objeto ou condição que determina o produto específico de cada processo de trabalho. Com esse produto, por sua vez, pretende-se responder a alguma necessidade ou expectativa humanas, as quais são determinadas ou condicionadas pelo desenvolvimento histórico das sociedades. Deve-se destacar que, como todo processo de trabalho é regido pelos fins estabelecidos, a escolha e o estabelecimento desses fins ou objetivos são uma atividade de crucial importância. É aí que se localizam, mesmo que não explicitamente, as grandes questões sociais e de poder na determinação dos processos de trabalho. Atualmente, em nossa sociedade, em quase todas as instituições, a definição das finalidades está quase completamente alienada, fora do poder de decisão dos trabalhadores que realizam as atividades produtivas diretas. Quem define as finalidades são, geralmente, grupos restritos que ocupam os níveis mais elevados da hierarquia institucional. Talvez, por isso, seja comum o fato das análises dos processos de trabalho omitirem esse componente – o objetivo – em seus esquemas analíticos, tratando-o como um dado externo ao próprio trabalho. Essa é, em nosso entendimento, uma visão equivocada e viciada, que pressupõe a impossibilidade de os trabalhadores deliberarem sobre o conjunto da produção social. 4.3 Meios e condições Todo processo de trabalho é desenvolvido com o uso de meios específicos para cada condição particular. Os meios e condições de trabalho se combinam na realização do trabalho, por meio da atividade produtiva. Eles abrangem um espectro muito amplo: • As ferramentas e estruturas físicas para o trabalho, como máquinas, equipamentos, instrumentos, edificações e o ambiente, que permitem que o trabalho se realize; 22 • os conhecimentos, sistematizados ou não, e as habilidades utilizadas no processo de trabalho, comumente chamados de meios intangíveis (ou tecnologias leve-duras e leves, na terminologia cunhada por Emerson Merhy para a análise dos processos de trabalho em saúde); • por fim, podemos considerar, também, as próprias estruturas sociais, que são determinantes, por exemplo, para as relações de poder no trabalho e para a remuneração dos diversos tipos de trabalho. 4.4 Objeto Todo processo de trabalho se realiza em algum objeto, sobre o qual se exerce ação transformadora, com o uso de meios e em condições determinadas. Elementos físicos e biológicos ou mesmo elementos simbólicos, assim como subjetividades ou complexos sociais, podem ser objetos nos diversos processos de trabalho. Observação: O uso do termo “objeto” na análise técnica de processos de trabalho, algumas vezes, é feito no sentido do fim ou da meta do processo. Aqui utilizamos o termo “objetivo” nesse sentido e reservamos ao termo “objeto” o significado de matéria, condição ou estado sobre o qual se exerce a atividade produtiva (ação) no sentido de sua transformação. 4.5 Agente ou sujeito Todo processo de trabalho tem um sujeito – ou conjunto de sujeitos – que executa as ações, estabelece os objetivos e as relações de adequação dos meios e condições para a transformação dos objetos. Deve-se considerar o agente do trabalho na complexidade de sua existência real. Nos processos de trabalho em geral, muitas vezes a atividade é realizada por apenas um indivíduo. Trata-se então, de um sujeito individual exercendo uma atividade ou um conjunto de atividades. Frequentemente, no entanto, encontramos, nos processos de trabalho, atividades coletivas, conjuntas ou complementares de vários indivíduos. Nesse caso falamos, normalmente, em trabalho de grupo ou de equipe. A maior parte dos processos de trabalho, individuais ou de equipe, realiza-se dentro de organizações sociais ou instituições especialmente constituídas para um determinado fim. Além disso, deve-se considerar, ainda, que todos esses sujeitos são formados e desenvolvem suas atividades em uma sociedade determinada. Assim, os objetivos, bem como os procedimentos 23 analíticos e operacionais de adequação de meios, condições e fins, são estabelecidos e realizados em todos esses níveis (social, institucional, de equipe ou grupo e individual). Portanto, dependendo da perspectiva de análise, o agente do trabalho pode e deve ser visto como um indivíduo, um grupo ou equipe, uma instituição ou uma sociedade. 4.6 Objetivos existenciais ou sociais nos processos de trabalho Até este ponto do texto, consideramos os objetivos dos processos de trabalho sob um ângulo predominantemente técnico, da finalidade imediata do trabalho (produzir uma mesa, aplicar uma vacina, preparar uma comida, etc.). Porém, todo processo de trabalho realiza também objetivos existenciais e sociais dos sujeitos nele envolvidos, objetivos esses que podem estar claros ou não para esses sujeitos. Em primeiro lugar, o processo de trabalho é um momento privilegiado de exercício de capacidades, de manifestação ativa dos indivíduos e, por isso, podemos dizer que a realização em si dessas individualidades é também um objetivo de todo trabalho. Dito de outra forma, desenvolver a capacidade e a possibilidade de realizar um trabalho pode ser, em si mesmo, um objetivo. Por exemplo: A capacidade que desenvolve um membro de uma equipe de saúde de organizar e conduzir uma reunião pode ser tão importante para esse sujeito quanto os resultados alcançados com essa reunião, na medida em que representou um desafio pessoal que foi superado. Aqui se incluem potencialidades e expectativas individuais que são sempre formadas ou desenvolvidas socialmente. Mas deve-se destacar que parte não desprezível dessa realização, assim como da produtividade do trabalho, deve-se às relações interpessoais nas equipes de trabalho. Dessa inter-relação também emergem objetivos diversos daqueles relacionados à realização dos produtos que tecnicamente são o fim do trabalho da equipe. Em segundo lugar, é claro que as instituições apresentam objetivos que vão muito além da simples realização dos produtos para os quais elas são designadas. Esses objetivos variam, certamente, com o caráter das instituições em questão. Um exemplo clássico é aquele das empresas privadas dentro das relações sociais capitalistas. Nessas condições, as instituições sempre têm como objetivo final não apenas a fabricação de um produto, mas, também, produzir certo volume ou percentual de lucro ou conquistar certa posição no mercado. 24 A realização de seus produtos ou serviços é, de fato, meio para atingirem tal fim. Do mesmo modo, dentro das instituições públicas por meio das quais se realizam, por exemplo, os serviços públicos de saúde e educação no Brasil, há objetivos de interesse dos representantespolíticos, tais como a conquista e a manutenção de posições de poder nos diversos níveis institucionais: local, municipal, regional, estadual e nacional. Por fim, todos esses objetivos ou expectativas individuais, grupais ou institucionais se dão numa determinada sociedade que também produz (de uma maneira ou de outra) objetivos ou expectativas, expressos, mais ou menos claros, em padrões, valores e metas. Nos níveis institucional e social é que se definem, também, as retribuições, as recompensas (salário, por exemplo) atribuídas aos diversos indivíduos, conforme suas posições na divisão do trabalho. Essas recompensas representam parcela significativa das condições de trabalho e, ao mesmo tempo, certamente, constituem parte dos objetivos dos agentes individuais nos processos de trabalho. Pode-se concluir que todos os objetivos dos processos de trabalho são, portanto, estabelecidos por subjetividades ou complexos de subjetividades em diversos níveis de estruturação, que, como tal, funcionam como agentes, em sentido amplo, nos processos de trabalho. Recapitulando ... As condições, meios, objetos e os próprios agentes dos diversos processos de trabalho são alvos de uma seleção, assim como de transformação e/ou de criação humanas, e interagem para a consecução dos objetivos, estabelecidos por indivíduos, grupos, instituições e/ou pela sociedade, buscando atender às suas necessidades e expectativas. Consequentemente, os processos de trabalho são avaliados pela adequação dos resultados a esses objetivos, necessidades ou expectativas. Os componentes do processo de trabalho, incluindo os seus fins, a sua execução e a própria avaliação, sofrem modificações a partir desse processo crítico de avaliação. Isto é, os processos de trabalho são sempre avaliados em função dos seus resultados, mais ou menos intensos, consciente e sistematicamente, conforme as condições sociais e institucionais em que eles se exercem. A avaliação constitui, necessariamente, um momento e um instrumento de crítica de todo o processo e sua execução. É, portanto, uma peça fundamental para o desenvolvimento de qualquer processo de trabalho. 25 Em geral, os componentes dos processos de trabalho são, eles próprios, produtos de trabalho. A sua produção é uma criação humana consciente e eles são uma adequação concreta de recursos existentes aos fins postos. O funcionamento reiterativo dos processos de trabalho implica como dito anteriormente, algum tipo de avaliação e crítica que incide sobre os procedimentos e conhecimentos de cada processo de trabalho, possibilitando a sua transformação consciente. A construção do conhecimento e de novas capacidades daí derivadas é elemento-chave no desenvolvimento dos processos de trabalho, em quaisquer de suas características, por exemplo, a produtividade, a satisfação e a realização pessoal dos profissionais e dos usuários ou clientes, a economia de meios e otimização de recursos (o que é fundamental para a preservação ambiental), etc. 4.7 Modelos de determinação social da saúde e da doença Nesta seção, vamos iniciar a discussão sobre como a saúde e a doença de cada indivíduo e dos diferentes grupos sociais são “produzidas”, ou seja, como são determinadas a saúde e a doença. Como explicar as diferenças tão marcantes no estado de saúde dos diferentes grupos sociais ou dentro de um mesmo grupo social? Ao tratarmos destas questões neste módulo, esperamos que ele permita: • Repensar o nosso processo de trabalho, em particular as finalidades no nosso trabalho; • Entender a forma como organizamos os nossos sistemas de saúde e os modelos assistenciais que adotamos em diferentes momentos de nossa história. Nesse sentido, organizamos esta seção em quatro partes: Parte 1 - A determinação social dos indivíduos Parte 2 - O conceito de saúde Parte 3 - Determinantes sociais da saúde Parte 4 - Evidências da determinação social da saúde Iniciamos esta discussão com uma reflexão sobre nossa própria “determinação” ou, dito de outra forma, o que explica as trajetórias das pessoas individualmente e dos diferentes grupos sociais. É consenso no pensamento social contemporâneo que os indivíduos são determinados por sua posição na sociedade. Todos reconhecem que os meios materiais e espirituais para o desenvolvimento e a realização de capacidades a que os indivíduos têm acesso no curso de suas 26 vidas, assim como a teia de relações peculiar nas quais cada indivíduo realiza a sua existência, definem as possibilidades e formam as características das existências individuais. Essa determinação atravessa todas as dimensões da vida social. Pode-se considerá-la desde o nível mais amplo, em que encontramos as relações econômicas e macrossociais que hoje são, certamente, definidas no plano mundial. Um exemplo claro e evidente dessa determinação macrossocial sobre a vida das pessoas é a acentuada diferença entre as possibilidades de desenvolvimento e realização pessoal que estão dadas para as populações dos diversos países. Para comprovar isso, basta você considerar, por um instante, o nível de proteção social que se tem nos países nórdicos como um extremo e na África subsaariana, como outro. É razoável supor que os níveis de saúde e de violência social geral, nessas diferentes sociedades, sejam determinados por aquela diferença no nível de proteção social. Talvez você não se dê por satisfeito com esse exemplo. Alguns podem atribuir essa diversidade nas condutas a diferenças naturais dos indivíduos que compõem as diferentes populações. A história tem comprovado o contrário. Como exemplo, podemos citar o fato de que as populações migrantes, com o tempo, adquirem características comportamentais próximas da cultura para onde migraram e isso é tão mais intenso quanto maior for a interação que estabelecem com essa nova cultura. No entanto, muitos podem ser reconfortados com a justificativa naturalista, porque ela nos desvia da crítica social. Porém, o próximo exemplo é ainda mais marcante e nele a determinação social surge, de modo mais evidente. Esse exemplo está nas crises econômicas que, aqui e ali, acometem um ou vários países. Na grande crise mundial que, em 1997/98, atingiu em cheio países do Sudeste asiático, a Rússia, o Brasil, a Indonésia viram a renda de mais de 30 milhões de pessoas cair abaixo da linha da pobreza e mais de 14 milhões de pessoas serem lançadas no desemprego em poucos meses. Não é difícil conceber o quanto isso representou em aumento de desespero, de violência em todos os níveis, de sofrimento e morte para essa população. O preço em qualidade de vida cobrado pela crise financeira na Indonésia não foi plenamente computado nem divulgado e acredita-se que tenha sido parcialmente mitigado por pacotes de ajuda internacional, no bojo de importantes mudanças políticas, com a deposição do presidente do país. Para mais informações, visualizar o link: • http://www.unctad.org/en/docs/poedmm135.en.pdf 27 • http://www.medact.org/content/health/documents/poverty/Simms%20 and%20Rowson%20- %20Reassessment%20of%20health%20 effects%20Indonesia.pdf De todo modo, é mais que evidente que as grandes crises sociais cobram preço altíssimo em qualidade e duração da vida das pessoas. Esse fato está perfeitamente documentado nas crises que ocorreram nos vários países do Leste europeu com o fim do sistema soviético. A expectativa de vida aos 15 anos caiu na Rússia e na antiga União Soviética lentamente, desde a metade da década de 70, e drasticamente a partir dos anos 90 até o ano 2000. No total foram perdidos, em média, sete anos de vida para os homens e três para as mulheres (MARMOT, 2004). As possibilidades para o desenvolvimento e a realização de capacidades individuais, as expectativas, os valores e o próprio caráter das pessoas são, de fato, profundamente marcados pela estrutura econômico-socialgeral que – acentuamos mais uma vez – é progressivamente mundial. Os padrões éticos em geral, o nível de competitividade entre as pessoas, os padrões e perfis mais gerais de consumo, etc. são certamente delineados nesse nível macrossocial. Como então há tanta diversidade de comportamentos dentro das mesmas condições estruturais da sociedade? Ocorre, em primeiro lugar, que as grandes estruturas econômicas da sociedade podem conviver com uma relativa diversidade e independência de padrões culturais. É possível, por exemplo, como vemos hoje, a estrutura capitalista desenvolver-se em culturas democráticas e com tradição de respeito aos direitos civis, assim como em culturas de padrão autoritário e até mesmo patriarcal. Em segundo lugar, as grandes estruturas econômico-sociais vão se fazer presentes na vida das pessoas, determinando-lhes o modo de ser por uma série de mediações, de dimensões intermediárias, particulares, até a composição das condições de existência cotidiana de cada indivíduo. As condições materiais das diversas famílias e indivíduos numa mesma classe ou grupo social se aproximam bastante, mas alguma diferença está sempre presente, dadas as características próprias de cada família ou indivíduo, como a existência de algum patrimônio deixado por gerações anteriores. Do mesmo modo, as características culturais das pessoas numa classe ou grupo social tendem a uma certa homogeneidade, distinguindo-as de outras classes e grupos sociais. Os valores éticos, os gostos estéticos, as características das relações interpessoais (as relações amorosas e as relações entre adultos e crianças, por exemplo) têm traços comuns que marcam grupos sociais distintos. Porém, assim como nas condições materiais, as diferenças são 28 também marcantes, dependendo da história particular de cada subgrupo pessoal, de cada família, de cada indivíduo. Por fim, a última mediação na determinação da vida de cada indivíduo é o próprio indivíduo. Em seu patrimônio material e espiritual e nas condições reais de sua vida, os indivíduos sempre têm a possibilidade de fazer escolhas, que constituem um elemento característico de seu comportamento. Essas escolhas, aliadas ao comprometimento individual e coletivo que daí pode derivar, são momentos críticos para a transformação da própria estrutura social e dos padrões de relações e valores que conformam uma dada sociedade. Até aqui tratamos da determinação social dos indivíduos em geral, mas o nosso objeto é a determinação social da saúde. Cabe, portanto, perguntar: a determinação social da saúde tem mecanismos próprios, peculiares ou pode ser entendida como a determinação geral dos indivíduos? Os mecanismos da determinação social da saúde são os mesmos da determinação social dos gostos estéticos ou dos valores éticos, por exemplo, ou são diversos destes? Ao tratarmos da determinação social da saúde, torna-se obrigatória uma clara definição do que entendemos por saúde, sob pena de não se saber do que se está falando. Esse entendimento é importante para o esclarecimento dos mecanismos pelos quais essa determinação se dá e, portanto, também como ela pode ser modificada, transformada. 4.8 O conceito de saúde Uma definição tradicional da saúde é puramente negativa, pois nela a saúde é considerada como simples ausência de doenças. Essa definição, tão contestada, como um componente de uma visão restritiva, puramente biológica e médica da questão da saúde, certamente não se aplica a uma análise da determinação social da saúde. Ao contrário, por princípio, trata-se de uma anti definição, que nega qualquer perspectiva analítica ao tema da saúde e reduz, efetivamente, toda questão à compreensão e tratamento das doenças e lesões. Outra definição também já tradicional é aquela da Constituição da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 1946, que considera a saúde um estado de perfeito bem-estar biopsicossocial. Essa é uma concepção positiva de saúde, embora tenha alguns inconvenientes. Em primeiro lugar, a indeterminação, a incapacidade de especificar o objeto que pretende definir. Em segundo lugar, estreitamente relacionado com o primeiro inconveniente, encontra-se o fato de se postular a saúde como um estado, uma condição ideal de plenitude, que seria o 29 objetivo final, praticamente inatingível, da existência da vida de todas as pessoas. Ora, certamente, não é este o sentido concreto que, na vida cotidiana, atribuímos ao termo saúde. Uma terceira definição, que tem conquistado progressivamente mais espaço no setor saúde, entende que a saúde é um meio, um recurso para a vida das pessoas. Essa também é uma definição positiva que, no entanto, não incorre nos vícios da definição anterior. Esta terceira definição, muito difundida no campo da promoção da saúde, aproxima-se do uso corrente do termo. Ela permite a clara distinção da saúde em relação aos outros recursos e condições da realização da vida das pessoas. As duas definições positivas de saúde a que nos referimos aqui estão no texto fundante da promoção da saúde: o relatório da Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde, organizada pela OMS em 1986, a Carta de Ottawa: Promoção de saúde é o processo de capacitação das pessoas para aumentar seu controle sobre como melhorar a sua saúde. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, um indivíduo ou grupo deve ser capaz de identificar e realizar aspirações, satisfazer necessidades e transformar ou lidar com os ambientes. Saúde é, portanto, vista como um recurso para a vida cotidiana, não o objetivo da vida. Trata-se de um conceito positivo enfatizando recursos sociais e pessoais, assim como capacidades físicas. Portanto, promoção de saúde não é apenas responsabilidade de um setor e vai além dos estilos de vida saudáveis para o bem-estar (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1986). Concebendo-se a saúde como um meio, como uma condição para a realização da vida, tem-se necessariamente que distinguir a saúde da totalidade da vida e, portanto, do conjunto dos objetivos da vida dos homens. A vida humana, obviamente, estabelece objetivos que não se restringem à saúde e que se mostram superiores à saúde na escala de valores. Esse fato se manifesta claramente quando a vida individual e a saúde são postas em risco devido à realização desses outros valores (sejam eles valores éticos universais, como o bem comum, ou valores relativos à família, ao amor, ao trabalho, à pátria, ao prazer ou outros). As atitudes realizadas em função desses valores se justificam por si mesmas, como expressões práticas de uma determinada postura social e cultural e não por seu resultado para a saúde dos praticantes. Pode-se concluir, portanto, que, ao considerar-se a saúde um meio para a vida ou para a realização dos indivíduos na vida, certamente não se pode confundi-la com a totalidade da realização de cada um e, portanto, impõe-se uma restrição ao conceito de saúde que não se encontra na definição da OMS. Desse modo, a saúde é tomada como um dos elementos da 30 qualidade de vida e uma das condições objetivas para o desenvolvimento humano, e não como o seu conjunto. Sob esse ponto de vista, deve-se identificar saúde como vitalidade psíquico-fisiológica, isto é, como capacidade psicofisiológica para exercício ativo de cada indivíduo para a sua realização na vida. Assim como saúde, capacidade psicobiológica, é, certamente, uma condição parcial para a realização dos indivíduos na vida. Implícita ou explicitamente, esta definição é aquela objetivamente adotada quando se busca avaliar as condições de saúde de certo universo humano ou o impacto sobre a saúde de uma dada intervenção (planos, projetos, programas, protocolos, etc.). De fato, os conceitos e as medidas tanto de saúde autorreferida como aqueles de “expectativa de vida” ou “anos de vida saudáveis” ou, ainda,os seus correlatos negativos, os coeficientes de mortalidade e incapacidade, todos esses se referem, sem qualquer dúvida, à vitalidade, à capacidade psicofisiológica dos indivíduos. Como vimos no tópico sobre a determinação social dos indivíduos, além da saúde, outras condições são necessárias para a realização dos indivíduos. Trata-se, em síntese, dos meios que a sociedade propicia, permite e determina para eles se desenvolverem e se realizarem. Há aqui o campo dos meios físicos, dos meios materiais e o campo dos meios intangíveis ou espirituais, por exemplo, a educação, o respeito, o afeto, a atenção que os indivíduos, de acordo com suas posições no ordenamento social, reciprocamente se dão. Essas condições, essencialmente sociais, são, por sua vez, determinantes centrais das condições de saúde dos indivíduos. Entende-se que, nesse amplo escopo, no complexo dinâmico do desenvolvimento humano, o campo institucional da saúde – o setor saúde – tem como objetivo específico a promoção, a proteção e a recuperação da vitalidade psicofisiológica. Essa é a sua responsabilidade institucional. Mas, com isso, não se restringe novamente a atuação do setor saúde ao campo biológico ou biopsíquico? Claro que não. O que se obtém com essa delimitação do conceito de saúde não é a eliminação das dimensões sociais de seu universo de interesse teórico e do campo de sua prática. Ao contrário, essa delimitação explicita o compromisso do setor saúde e o seu objetivo específico na análise e intervenção social. Com essa delimitação é possível que a abordagem do social no setor saúde se torne mais objetiva, operacionalizável e eficaz. 31 4.9 Determinantes sociais da saúde Examinando-se a determinação social dos indivíduos e especificando-se o que é a saúde, não é preciso muito esforço para compreender a determinação social da saúde. No curso de nossa vida nos desenvolvemos – recebemos, reproduzimos e criamos meios de realização – e nós realizamos, de uma maneira ou de outra. O indivíduo, de acordo com sua posição no ordenamento social, tem acesso aos meios produzidos e disponibilizados pela humanidade, realizando suas potências naturais dentro das condições e possibilidades do meio social em que vive, assim como também realiza potências que são de origem essencialmente social. A realização de cada um constitui, por sua vez, momento ativo do desenvolvimento humano genérico. No seu desenvolvimento, os indivíduos organizam e transformam grupos humanos nos mais diversos níveis e, também, a própria humanidade. Então, por fim, para os próprios indivíduos, que são concentrações vivas e pontos de interação da rede social, a transformação da sociedade resulta em novas condições de ser, novas condições de sua existência, inclusive psicofisiológica. As condições sociais são, efetivamente, base para o padrão sanitário de um povo, assim como a posição de cada indivíduo na sociedade é uma base da própria saúde. Isso se comprova pelo fato de que, ao retrocedermos nas séries causais dos principais grupos patológicos, daqueles que têm mais magnitude e transcendência nas diversas sociedades, encontramos, entre os determinantes finais, com muito peso, as condições sociais de vida. As condições de habitação e as condições ambientais do peridomicílio, a existência de restrições no acesso à alimentação e a outros bens fundamentais para a reprodução da vida, as características físicas das atividades realizadas no trabalho, assim como as condições do ambiente em que se realiza o trabalho podem implicar uma série de riscos à saúde que, em geral, estão além da possibilidade de controle por parte dos indivíduos. Essas condições são essencialmente determinadas pela posição dos indivíduos na hierarquia social e na divisão social do trabalho e da renda. Localiza-se aí um campo da determinação social da saúde que podemos chamar, genericamente, de físico ou ambiental. É mais do que evidente o grande diferencial de risco ambiental ou físico a que estão submetidos os indivíduos conforme a sua posição social. Essa gradiente social se manifesta na comparação entre países e, no interior dos países, na comparação entre os diversos estratos sociais. A exposição a agentes biológicos, químicos ou físicos danosos, a deficiência nutricional, o desgaste físico generalizado ou o esforço repetitivo no trabalho são 32 características das condições sociais de pobreza ou miséria que ainda acometem a maior parte da população mundial. Além da maior exposição a riscos, a vulnerabilidade das populações carentes é ampliada pela deficiência no acesso à educação e aos serviços de saúde, o que reduz a sua capacidade de lidar com esses riscos. Mas a determinação social da saúde não está circunscrita aos males provenientes da exposição aos riscos de dano fisiológico que caracterizam a pobreza ou à proteção contra esses riscos que caracterizam os estratos sociais medianos e de elevada renda. Não, há um campo de determinantes sociais sobre a saúde mais sutil, porém igualmente intenso. Trata-se do campo comumente chamado de determinantes psicossociais. O grau de reconhecimento, o nível de autonomia e de segurança, assim como o balanço entre esforço e recompensa e entre expectativas, realizações e frustrações que os indivíduos obtêm no curso de suas vidas são igualmente determinantes de suas condições de saúde. De fato, esse campo da determinação social da saúde é cada vez mais relevante, estando na base da série causal dos principais problemas de saúde da atualidade, no mundo em geral e mesmo nos países de renda média e baixa, em particular. 4.10 Evidências da determinação social da saúde Afirmamos anteriormente que há um consenso quanto à determinação social dos indivíduos no campo da teoria social. Esse consenso é, no entanto, quebrado por uma linha de pensamento que tem muita penetração no pensamento social e também na cultura médica. Trata- se da concepção liberal da economia e da sociedade, que pretende que as atitudes e os comportamentos individuais sejam fundamentalmente frutos da escolha individual e que, em última instância, as bases da personalidade e do comportamento dos indivíduos sejam determinadas pela natureza. No campo da saúde, essa visão naturalista e individualista da vida e dos comportamentos individuais encontra grande sintonia com a abordagem exclusivamente biológica dos problemas de saúde. Por um lado, esses problemas são reduzidos a fenômenos de base puramente natural, doenças cuja explicação só pode ser encontrada na determinação genética e em sua expressão fenotípica, condicionada pelo ambiente físico e pelos comportamentos individuais. Por outro lado, esses comportamentos são tratados como objeto de uma escolha individual que se pretende ser essencialmente livre, independentemente de determinantes sociais. 33 A doutrina da medicina baseada em evidências, capturada por esse foco exclusivo, não é capaz de reconhecer os determinantes sociais subjacentes aos principais problemas de saúde mundiais. As pesquisas para a determinação dos fatores de risco para problemas, como as neoplasias e as doenças cardiovasculares, quase sempre tratam esses determinantes sociais apenas como fatores de confusão (confounders). Pearce, um pesquisador neozelandês, mostra que significativo número de estudos sobre fatores de risco para diversos cânceres identifica a pobreza ou classe social baixa como fator de risco para a neoplasia, mas esses estudos tratam esse fator como mero confounder (PEARCE, 1996). No entanto, a determinação social da saúde encontra as mais amplas evidências, seja na análise histórica, seja nos próprios padrões da pesquisa epidemiológica contemporânea. Obviamente, em qualquer caso, não se trata de negar a determinação genética das condições de saúde, mas de precisar o seu peso em face dos determinantes comportamentais e sociais.
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