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31/01/2022 1 CONTAS NACIONAIS: PROBLEMAS DE MENSURAÇÃO Prof.º Eduardo de Pintor Eduardo.pintor@unila.edu.br DIFICULDADES TÉCNICAS CONTABILIDADE REAL X CONTABILIDADE NOMINAL • A maior parte das variáveis que o Sistema de Contas Nacionais registra resulta da multiplicação de preços por quantidades. • Esses valores estão sempre sujeitos a alterações que derivam do comportamento dos preços e que podem, portanto, não estar representando nenhuma variação real. • Para que a comparação seja válida, é preciso comparar os agregados mensurando-os com preços do mesmo momento do tempo. • Assim podemos ter certeza de que as variações observadas representam variações reais experimentadas pelas variáveis que estamos estudando. 1 2 3 4 31/01/2022 2 Quando se analisa uma série de valores, é preciso ter o cuidado de deflacionar a série para não efetuar comparações de variáveis que são de fato heterogêneas, porque são avaliadas em momentos distintos. • A técnica que nos permite comparar o valor das variáveis econômicas a preços de um mesmo momento chama-se deflacionamento e seus instrumentos são os índices de preço. • Os índices de preço mensuram a variação dos preços em um determinado período de tempo e aparecem sob a forma de números-índice • O problema da existência da variação de preços não deveria, em princípio, afetar a elaboração das contas nacionais para cada ano. • Porém, a existência da inflação, principalmente se for muito elevada, tem consequências para a contabilidade nacional, mesmo considerando um único período. • O principal problema decorre do fato de que os ativos oferecem um rendimento a seus proprietários e esse rendimento vai aparecer na contabilidade nacional sob a forma de pagamento a fator. – O capital físico produz o rendimento aluguel – O capital monetário produz o rendimento juro • Para alguns deles, particularmente para determinados ativos financeiros, o rendimento produzido pode não constituir rendimento real. 5 6 7 8 31/01/2022 3 • Se a inflação entre o início e o fim do período for muito elevada, o rendimento produzido por esses ativos pode estar tão somente recompondo o valor nominal do próprio ativo. – Seu poder aquisitivo vai sendo sistematicamente desvalorizado pelo processo inflacionário contínuo. • O mesmo pode ocorrer com aluguéis, rendimentos provenientes de quotas de capital e de ações e com os salários. • Ativos físicos, como imóveis, os preços tendem a ser reajustados pelo valor da inflação. • Com os ativos financeiros de valor nominal constante, a inflação incide diretamente sobre o valor desses ativos. • Assim o rendimento que eles produzem, às vezes, não é suficiente sequer para recompor o seu valor original. Dado que a inflação incide diretamente sobre o valor dos ativos financeiros de valor nominal constante, a contabilidade nacional não distingue, dentro de um mesmo período, valores nominais de reais no que diz respeito aos lucros distribuídos, aluguéis e salários, mas o faz no que tange aos juros. • Para fazer tal distinção é preciso escolher um índice de preço para estimar a taxa de inflação entre o início e o fim do período e classificar os ativos financeiros em dois grupos: – O daqueles que têm seu valor protegido da inflação (como os títulos de renda fixa indexados que existiam até 1994, ou títulos indexados ao INPC, outros) – O daqueles que não contam com essa proteção (como os títulos com rendimentos prefixados) • Só estes apresentam diferença entre rendimentos nominais e rendimentos reais e demandam a distinção entre juros nominais e juros reais. 9 10 11 12 31/01/2022 4 • A moeda é também um ativo e um ativo de valor nominal constante. • Para o caso das empresas e dos indivíduos, a contabilidade real deve incluir, no cômputo dos juros reais pagos, a perda de poder aquisitivo dos ativos monetários (papel moeda e depósitos à vista) decorrente da existência de inflação. • Em termos reais, parte dos juros reais pagos é arrecadada pelo sistema bancário (responsável pela criação de depósitos à vista) e parte fica com o governo, sob a forma daquilo que denominamos imposto inflacionário. • A conta real do governo deve ter, como lançamento adicional no lado do crédito, o valor do imposto inflacionário arrecadado pelo Banco Central. • Outra consequência da inflação é a necessidade de transformar juros nominais em juros reais na estimativa do valor da juros da dívida pública • A rubrica outras receitas correntes líquidas sofre igualmente uma alteração em função da existência da inflação, uma vez que estão ai computados, pelo seu valor líquido, tanto os juros pagos quanto os juros eventualmente recebidos pelo governo. Aí também está computado, devidamente convertido para moeda doméstica, o valor referente aos juros da dívida externa • No caso da dívida externa, a inflação do dólar deprime o valor real da dívida sobre a qual incidem os juros. • Para levar em conta a depreciação do estoque da dívida externa, faz-se um ajuste na rubrica outras receitas correntes e na rubrica rendas líquidas de propriedade, pois os juros pagos sobre a dívida externa também fazem parte desse conjunto. 13 14 15 16 31/01/2022 5 COMPARAÇÕES ENTRE PAÍSES E O DÓLAR PPP • Dois tipos de problemas estão envolvidos na possibilidade de tal comparação • O primeiro diz respeito ao fato de que os agregados são mensurados na moeda doméstica. • Quando se trata de fazer comparações, é necessário passar por uma operação de conversão das moedas. • A taxa de câmbio seria um conversor eficiente se todos os bens e serviços produzidos em cada país pudessem ser incluídos no grupo tradables, se fosse igualmente possível transacionar todos eles com o exterior. • Mas não é possível transacionar vários desses bens e serviços • A mera conversão dos valores de diferentes países por meio da taxa de câmbio pode não refletir as efetivas diferenças de renda entre eles • Como os bens e serviços que ao é possível transacionar tendem a ser mais baratos nos países mais pobres - preço da mão de obra, - superestimar as diferenças • Outro fator que causa o mesmo tipo de problema é a existência de subsídios, de custos diferenciados de transporte e de tarifas alfandegárias (que não necessariamente são idênticas em diferentes países). • Tudo isto torna a taxa de câmbio um instrumento pouco adequado para converter, a um mesmo padrão, agregados mensurados em moedas domésticas distintas. 17 18 19 20 31/01/2022 6 • A forma como são majoritariamente conduzidas as políticas cambiais nos diversos países traz ainda outro importante elemento que complica a conversão dos valores de uma economia na moeda de outra pelo mero uso da taxa de câmbio. • A internacionalização financeira obrigou muitos países a adotarem um regime de taxa de câmbio flutuante, ou seja, um regime em que o preço da moeda internacional é determinado pelas forças de oferta e procura, isto é, pelo mercado. • A variação do câmbio atrapalha a conta. • Para contornar todos esses problemas e tornar possíveis as comparações internacionais, pode- se substituir as taxas de câmbio usuais por taxas de conversão que reflitam as paridades de poder de compra entre as diversas moedas. • Como a maior parte das comparações internacionais utiliza a moeda americana, elas passam a utilizar então a taxa de câmbio da moeda de cada país com o dólar americano, ajustada pelo índice PPP derivado do termo inglês purchase power parity. • A construção de um índice em termos de PPP é elaborada para cada cesta de bens e serviços, que supõe-se ser ofertada em ambas as economias. • Com isto é possível comparar o poder de compra de um país em termos do poder de compra de outro país. • A base usualmente é a economia americana, mas pode-se tomar como base qualquer outro país • Esse índice também tem críticas e não se pode acreditar que ele traduz fielmente as diferenças em termos de produtividade e renda. O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS TRIMESTRAL • Dada a importância das informações trazidas pelo Sistema de ContasNacionais, sua divulgação apenas de ano em ano não é suficiente para que se possa fazer delas um uso mais eficiente • É necessário acompanhar e analisar a evolução dos principais agregados em um período mais curto – questões de metrificar e direcionar investimentos, etc. 21 22 23 24 31/01/2022 7 • O IBGE publica trimestralmente dados referentes à evolução do PIB e outras variáveis componentes do SCN. • A apuração trimestral das contas é efetuada com uma base de dados mais restrita do que a utilizada para a apuração anual. • O formato usado implica a produção, trimestre a trimestre, de praticamente todo o conjunto das contas do SCN, inclusive as TRU trimestrais, a preços correntes. • O IBGE divulga trimestralmente ao público valor do PIB – Componentes pela ótica do produto, valor adicionado a preços básicos (discriminados em 12 atividades econômicas, além dos agregados agropecuária, indústria e serviços) e o valor dos impostos líquidos sobre produtos – Componentes pela ótica da demanda (despesa de consumo das famílias e das administrações públicas, a formação bruta de capital fixo, a variação de estoques e as exportações e as importações) • Todas as informações são divulgadas a preços correntes, contendo as informações relativas às variações reais (variações de volume) de cada rubrica. • A partir da apuração da variação entre o valor do PIB em determinado trimestre e esse mesmo valor no trimestre imediatamente anterior, calcula-se: –Taxa trimestral: trimestre em questão e o mesmo trimestre do ano anterior –Taxa acumulada ao longo do ano: em relação ao mesmo período do ano anterior –Taxa acumulada nos últimos quatro trimestres: em relação ao mesmo período do ano anterior • Os diferentes trimestres de um ano não são diretamente comparáveis • Fenômenos climáticos, institucionais e culturais tornam-nos diferentes do ponto de vista da produção, do consumo, das exportações e importações etc. • Esse fatores sazonais dificultam a análise dos que está ocorrendo na economia, particularmente no que concerne à verificação de seu comportamento cíclico 25 26 27 28 31/01/2022 8 DIFICULDADES OPERACIONAIS A ECONOMIA INFORMAL E ECONOMIA SUBTERRÂNEA • Na medida em que há atividades de compra e venda e de produção de bens e serviços que não se dão por meio de empresas oficialmente constituídas, surge o problema de como mensurá- las, isto é, de como incorporar o valor por elas produzido ao valor do produto agregado. • A dificuldade é operacional porque, na medida em que tais empresas não existem oficialmente e há certo receio em prestar informações, fica difícil identificá-las, localizá-las e levantar os dados necessários. • As empresas não legalmente constituídas podem se dedicar a atividades legais e atividades ilegais • Existem atividades híbridas que não são criminosas, mas também não são legais • Exemplo: camelôs. – Eles movimentam uma parcela não desprezível do comércio, e o valor que eles produzem por meio dessa atividade não é diretamente computado no cálculo do produto agregado. – Indiretamente, boa parte dele acaba por entrar, pois o valor adicionado gerado pelo comércio praticado pelos camelôs, assim como aquele resultante das atividades ilegais, torna- se consumo e é capturado pela ótica da demanda agregada – O consumo que provêm de valor gerado por essas atividades e que acaba se dirigindo também a essas atividades (informais e/ou ilegais) não tem como ser capturado 29 30 31 32 31/01/2022 9 • É necessário considerar certo grau de informalidade que pode haver dentro da própria atividade formalizada tendo em vista a prática de sonegação de tributos. • Dadas as dificuldades operacionais envolvidas na estimação do valor produzido pela economia informal, são enormes as especulações em torno de sua verdadeira magnitude. • Apesar de não serem sinônimos, a economia subterrânea incorpora boa parte da economia informal. • A economia subterrânea refere-se exclusivamente às atividades que não são declaradas por várias razões: escapar do fisco, não cumprir leis trabalhistas, não arcar com o pagamento de contribuições à seguridade social (previdência), etc. • A economia subterrânea não inclui as atividades ilegais, nem a economia informal da costureira de bairro ou da cozinheira que faz doces para aumentar o orçamento doméstico. • As atividades legais operadas pelas famílias, ainda que informais, têm pelo menos uma forma de fazer seu valor chegar às estimativas do produto agregado. • Os levantamentos efetuados para as CEIs institucionais incorporam também a produção das famílias, sejam elas formais ou informais • No caso das atividades ilegais, não há como resolver o problema –Dificilmente é declarada a renda delas derivada • Ainda existe a controvérsia sobre o que se deve ou não fazer parte do Sistema de Contas Nacionais –Complicado, por exemplo, é o caso da renda derivada do tráfico de drogas 33 34 35 36 31/01/2022 10 DIFICULDADES CONCEITUAIS AS ATIVIDADES NÃO MONETIZADAS • Só deveriam fazer parte dos agregados como produto, renda e dispêndio aquelas atividades nas quais está envolvida uma transação e que, portanto, são monetizadas. • Apesar do enorme grau de interdependência e troca vigente nas economias contemporâneas, existe ainda uma parcela não desprezível de atividades econômicas que não passa pelo circuito bens e serviços – dinheiro – bens e serviços – dinheiro, ou seja, que não se integra ao fluxo circular da renda. • O exemplo mais característico desse tipo de atividade é a pequena produção agrícola de subsistência. • Outros exemplos: • Costureira que tem suas freguesas no bairro mas que também costura para o marido e os filhos • Dona de casa que monta uma pequena loja de doces na garagem e distribui, entre os filhos e sobrinhos, as eventuais sobras • Os serviços prestados às respectivas famílias pelas donas de casa • As atividades em questão envolvem esforços humanos e recursos materiais e produzem bens e serviços, mas não geram renda monetária porque não se tornam objeto de compra e venda. • A decisão se tais atividades devem ou não integrar o cômputo do produto e da renda agregados é resolvida do modo convencional. 37 38 39 40 31/01/2022 11 • Aceita-se, convencionalmente, que algumas das atividades não monetizadas tenham seu valor computado no cálculo dos agregados, enquanto outras não o tenham. • Tal decisão é convencional, Logo a definição sobre quais atividades entram e quais não entram no cômputo dos agregados é algo que varia de país para país. • Por exemplo, alguns países incluem no cômputo da renda nacional os serviços prestados pelas donas de casa, enquanto outros, como o Brasil, não o fazem. • Para computar o valor dessas atividades não monetárias é feito pela Imputação . • A contabilidade nacional procura estimar o valor monetário das atividades não monetizadas, imputando-lhes os valores que elas supostamente tenham se tivessem passado pelo mercado. • Decisão de quais preços imputar e o que vai ou não fazer parte das estimativas é arbitrária. • Por isto a existência de atividades não monetizadas dificulta as comparações internacionais. MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL • Boa parte das agressões ao meio ambiente decorre das atividades de produção e consumo. • As atividades de produção e consumo costumam gerar pressões sobre o meio ambiente, seja pela utilização de recursos naturais exauríveis, seja pela geração de poluição. • Tais pressões são conhecidas como externalidades negativas, isto é, custos decorrentes da atividade econômica que não são valorados pelo mercado. • Exemplos: poluição dos rios decorrente de resíduos industriais, a poluição do ar gerada por determinados tipos de indústria, a fumaça produzida por caminhões e a redução das florestas nativas 41 42 43 44 31/01/2022 12 • A economia do meio ambiente trata da temática. • O desafio consiste em encontrar alternativas de crescimento sustentável, ou seja, um crescimento que produza bens e serviços, mas preservando os recursos naturais.• Na contabilidade social, alguns estudiosos tem feito esforços para encontrar meios de levar em conta, no cômputo dos agregados, a degradação sofrida pelo meio ambiente. • Se uma parcela considerável de recursos naturais é consumida a cada ciclo produtivo, nada mais correto do que computar, quando da mensuração do produto obtido, a depreciação sofrida por esse estoque de capital natural. • A Dificuldade está me fazer a valoração desse recurso natural, bem como precifica- la. • Por isso ainda não se pode falar em um sistema de contas nacionais que contenha algum tipo de conta ambiental ou mesmo lançamentos específicos que contemplem as externalidades negativas geradas pelo processo de crescimento econômico. • No cálculo da renda ou produto nacional, ainda não tem sido considerados os custos relacionados à degradação do meio ambiente. PROPOSTA 1 • Mensurar as despesas necessárias para se evitar a degradação, restaurar as perdas ou compensar as gerações futuras pelos problemas ambientais. • Investimentos como a instalação de equipamentos antipoluentes, despesas como as decorrentes dos processos de controle e limpeza ambiental ou mesmo determinados gastos com saúde deveriam ser destacados no cálculo do produto da economia e excluídos de seu valor final. 45 46 47 48 31/01/2022 13 PROPOSTA 2 • Utilização do conceito disposição a pagar • Seriam realizadas estimativas acerca do valor das perdas impostas ao meio ambiente, tomando-se por base a disposição que teriam as pessoas em pagar pela redução de tais perdas. • Exemplo: mensurar o diferencial de preço entre imóveis em locais onde não exista poluição em relação aos imóveis em locais poluídos, estimando-se, assim, a disposição a pagar pela eliminação da poluição do ar e utilizando-se tal indicador como uma estimativa dos custos impostos pela poluição do ar. • São inúmeras e complexas as considerações técnicas envolvidas nas diversas propostas existentes para estimar as perdas decorrentes da degradação do meio ambiente. • Não há um consenso sobre qual delas é a mais adequada. • Organismos como a ONU e a OCDE vêm investindo na criação de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS). CONTAS NACIONAIS: PROBLEMAS DE MENSURAÇÃO 49 50 51
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