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• Classificação estrutural: de número, migração, forma e fusão, rotação, vascularização e sistema coletor o Número: os rins são formados na pelve e vão ascendendo para a fossa renal. Com isso, o indivíduo pode nascer com uma anagesia, com mais de dois rins. ▪ O mais comum é a agenesia renal, podendo ser uni ou bilateral, caracteriza-se pelo fracasso do desenvolvimento dos metanefros ou agenesia do broto ureteral • Sd. Potter: fascies patognomônica, predisposição genética elevada, determinada pelo rastreamento dos pais e irmãos ▪ Rins suprenumerários: é um órgão acessório, com suprimento sanguíneo e sistema coletor próprios. Surgem por evaginação secundária do ducto mesonéfrico ou por uma ramificação do broto ureteral primário, seguido da divisão do blastema metanéfrico. É raro e de incidência desconhecida o Migração: ▪ Rins ectópicos podem se localizar pélvicamente, fossa ilíaca, abdominal, torácica e contralateral ou cruzada • Ectopia renal simples: falha na ascensão do rim da região sacral para a fossa renal → 50% são rins hidronefróticos, principalmente por OJUP • Ectopia renal cefálica: rim mais cranial que o habitual, relacionado com onfalocele, sendo comumente assintomático (achado de exame) • Rim torácico: 5% das ectopias renais, raro e normalmente assintomático o Forma e fusão: ▪ Ectopia renal cruzada com ou sem fusão: rim contralateral à inserção do seu ureter na bexiga. 90% dos casos são de fusão do rim ectópico com o ipsilateral, normalmente são assintomáticos ▪ Rim em ferradura: anomalia de fusão mais comum, apresenta duas massas renais distintas, interligadas pelos polos inferiores, sendo que essa interligação pode ser fibrosa ou parenquimatosa. O rim em ferradura fica em uma localização mais baixa, pois a artéria mesentérica superior impede que ele suba. Os polos superiores são mais afastados do que os inferiores o Rotação: ▪ Após atingirem sua posição anatômica definitiva, os cálices ficam orientados lateralmente e a pelve medialmente. Quando não há esse alinhamento, há a má- rotação renal. Normalmente é acompanhada por outras anomalias como rim em ferradura e as ectopias com ou sem fusão o Vascularização: ▪ Vascularização múltipla: ramificações da artéria renal antes de adentrar o parênquima renal ou por ramos diretos da aorta ▪ Vaso anômalo: ramos que não se originam da aorta ou da artéria renal principal ▪ Vaso acessório: dois ou mais ramos arteriais suprindo o mesmo segmento renal o Sistema coletor: ▪ Estenose de JUP (junção ureteropiélica) Anomalias do trato urinário superior Obstrução congênita da junção ureteropiélica Caracteriza-se pela restrição ao fluxo urinário de pelve renal em direção ao ureter que, se não for tratada, pode provocar deterioração progressiva da função renal Hidronefrose fetal: • 48% das resoluções são espontâneas • 15% dilatação sem obstrução (pelve extra-renal) • 11% estenose de JUP • A estenose de JUP é a causa mais comum de hidrofonese antenatal Patogênese: obstrução do fluxo urinário através da JUP, com dilatação a montante e deterioração renal progressiva pela atrofia isquêmica. A hidronefrose nem sempre progride, pode se estabelecer em um equilíbrio até ter melhora progressiva Fatores fisiológicos de progressão ou estabilização: débito e fluxo urinário durante a diurese, anatomia e o grau de obstrução, função glomerular e tubular e alterações da complacência da pelve renal Etiologias: • Intrínseca ou congênita: é a mais frequente o Segmento estreitado fica ao nível da JUP, mas prévio o Por interrupção no desenvolvimento da musculatura circular da JUP o Por alteração na composição das fibras colágenas entre e ao redor das células musculares • Extrínseca: em geral decorre da ramificação anômala ou precoce do vaso que nutre o polo inferior, causando obstrução mecânica ao passar anteriormente a JUP • OJUP secundária: associada ao RVU grave em 10% dos casos. Uma dobra se forma na região da JUP e, por ser uma área de relativa fixação, pode causar obstrução secundária. Quando necessária a correção da JUP, esta deve preceder a correção do RVU • OJUP do polo inferior: é mais rara, ocorrem más duplicações renais incompletas, podendo existir obstrução da unidade inferior • Anomalias associadas: OJUP de rim contralateral, displasia renal, rim multicístico Quadro clínico: • Período antenatal e neonatal: o Antes do USG pré-natal → diagnóstico com palpação de massa abdominal, sendo geralmente assintomáticos o Em casos de rim único ou com OJUP bilateral pode ocorrer oligodrâmnio (líquido amniótico é basicamente urina fetal, então se há uma diminuição nessa quantidade, tem que ser pesquisado se não há OJUP), azotemia, distúrbio hidroeletrolítico ou oligoanúria o Urosepsis pode ser a manifestação inicial, com menos frequência • Crianças em fase pré-escola, adolescentes e adultos: o Dor abdominal ou lombar episódica o Dor desencadeada ou agravada por ingesta hídrica abundante, acompanhada de náuseas e vômitos o Hematúria pode ser observada após trauma, possivelmente por ruptura de pequenos vasos da mucosa da via excretora Diagnóstico: • USG pré-natal, cintilografia renal, uretrocistografia miccional, urografia excretora, pielografia ascendente, estudo fluxo/pressão de Whitaker, urorressonância e biomarcadores o USG pré-natal: o rim pode ser visualizado entre as 16-18ª semanas quando quase todo o líquido amniótico é urina. A partir da 28ª semana o USG fica mais sensível para detecção de alterações do trato urinário. Em função da oligúria transitória nos 3 primeiros dias de vida do RN, a hidrofonese pode estar subestimada. O USG consegue diagnosticar se há dilatação piélica e calicial, sendo classificado conforme a Society of Fetal Urology (SFU) o grau de hidrofonese (grau de 1 a IV) e avaliar o diâmetro antero-posterior (AP) da pelve ▪ Indica patologia se AP for >4mm antes de 33 semanas e >7mm após 33 semanas. Se for >20mm denota maior risco de necessidade de correção cirúrgica pós-natal. ▪ Diagnóstico diferencial: estenose de JUP, rim multicístico displásico, ureter retrocava, megaureter, RVU (urina retorna da bexiga para o rim por deficiência da válvula ureterovesical), ureterocele ectópica, ureter ectópico, válvula de uretra posterior, síndrome de Prune-Belly (ausência total ou parcial da musculatura abdominal), hidrocolpos, tumor pélvico e anomalia cloacal hidrocolpos, tumor pélvico e anomalia cloacal o USG de vias urinárias: padrão-ouro para diagnóstico de hidronefrose na infância, ampla disponibilidade, pouco invasivo, não utiliza radiação ionizante e é ideal para exames seriados. Avalia caliectasia, espessura do parênquima renal, sinais de displasia renal (para determinação da ecogenicidade do parênquima renal e pelo aparecimento de cistos corticais), presença de dilatação do ureter e análise da espessura e esvaziamento da bexiga o Renograma radioisotópico dinâmico/cintilografia renal: um dos exames mais usados para avaliação de obstrução (padrão-ouro), embora sujeito a muitos artefatos técnicos. É possível avaliar a filtração glomerular e a secreção tubular. Pode ser realizado a partir da 4ª semana de vida, devendo, preferencialmente, ser realizado entre a 6-8ª semana. Se tiver estenose de JUP terá uma dilatação/hidronefrose e o traçador se acumula na pelve renal. Avalia o significado funcional da hidronefrose, ajuda na indicação cirúrgica (somente na obstrutiva) e monitora o efeito do tratamento. Sofre influência do radiofármaco, da hidratação, do volume da pelve dilatada, do cateter na bexiga, na dose de Lasix e da função renal. Esse exame também possibilita melhor determinação da função renal diferencial (assimetria de função, função ipsilateral diminuídae decréscimo da função ipsilateral durante o seguimento → dados sugestivos de obstrução) ▪ Normal se T1/2 <10min ▪ Obstruído se T1/2 >20min ▪ Indeterminado se T1/2 estiver entre 10-20min Falso positivo: obstrução em bexiga distendida, hidronefrose grosseira, rim com déficit funcional ou imatura e desidratação Falso negativo: obstrução de baixo grau e rim do déficit funcional ou imaturo o Urografia excretora: é pouco utilizado em neonatos devido a urina hipotônica, dificuldade no preparo intestinal, risco de reações alérgicas e nefrotoxicidade do contraste. Fornece mais detalhes anatômicos do que o USG e o renograma, mas tem parâmetros pouco objetivos para avaliação funcional da excreção renal o Pielografia ascendente: exame invasivo, tem risco de infecção em um paciente com sistema urinário obstruído. É útil para auxiliar no planejamento cirúrgico, pois define anatomia e posição da JUP e avalia a extensão da estenose e a possibilidade de estenoses múltiplas o Estudo fluxo pressão/teste de Witaker: exame antigo e pouco utilizado, pois exige nefrostomia percutânea e cateterismo vesical. Auxilia no diagnóstico diferencial entre dilatação com ou sem presença de fator obstrutivo e fornece evidência urodinâmica da obstrução mecânica do aparelho urinário alto. É indicado quando há dúvida de obstrução como nos casos de megacalicose e megaureter, nos casos de dilatação discreta da pelve renal, em pacientes submetidos a cirurgia e não apresentam melhora radiológica e em pacientes com função renal deprimida o Uretrocistografia miccional: deve ser realizada em casos com suspeita de associação com RVU o Urografia por RM: define com maior precisão a anatomia do trato urinário. Pode calcular a função renal diferencial, pode definir a obstrução. Apresenta maior especificidade para deliberar entre procedimento cirúrgico ou observação o Biomarcadores: usado apenas para pesquisa ▪ Deleção de calcineurina b (Cnb): causa nefropatia obstrutiva em OJUP, diminui a proliferação de células musculares lisas com peristalse pieloureteral anormal, nefropatia obstrutiva e insuficiência renal ▪ Modulação e liberação do fator de crescimento epidérmico (FCE): tem envolvimento direto na patogênese da lesão tubular. Na OJUP congênita há expressão do FCE menos que nos rins controle ▪ Pacientes com obstruções anatômicas da JUP: níveis urinários aumentados da proteína quimiotática de monócitos 1 (PQM-1) e níveis urinários diminuídos de FCE ▪ Pacientes com obstrução funcional da JUP: níveis urinários de FCE elevados quando comparados com casos de obstrução anatômica ▪ Casos não tratados x Casos tratados: casos não tratados revelam danos significativos do epitélio tubular, documentado pela elevação de beta 2- microglobulina (B2M). Casos tratados com pieloplastia apresentam redução nos níveis de B2M e PQM-1 ▪ CA 19-9: níveis séricos urinários elevados na OJUP congênita e queda acentuada após 3 meses da pieloplastia e retorno ao normal após 9 meses Tratamento: • Consiste fundamentalmente na eliminação da obstrução, visando permitir a drenagem de urina a pressões normais • Indicados para pacientes com obstrução sintomática (dor lombar intermitente ou infecção urinária febril recorrente, surgimento de litíase renal associada, surgimento de hipertensão arterial) e pacientes assintomáticos (com piora da função renal global no seguimento, comprometimento progressivo da função renal unilateral, aumento do diâmetro antero-posterior da pelve pelo USG, hidronefrose grau III ou IV) • Tratamento cirúrgico: via aberta, via endourológica, via laparoscópica ou robótica assistida o Cirurgia com técnicas abertas: ▪ Pieloplastia desmembrada (técnica de Anderson-Hynes): fácil aplicabilidade, preservação dos vasos anômalos, ressecção do segmento patológico, possibilidade de redução piélica quando necessária e altas taxas de sucesso ▪ Pieloplastia desmembrada laparoscópica: mesma taxa de sucesso da técnica aberta, pode ser via transperitoneal ou via retroperitoneal, tem curva de aprendizado longa, maior tempo operatório, pode ser assistida por robótica e apresenta diminuição da dor, hospitalização e melhor resultado ▪ Pieloplastia não desmembrada: consiste em ampliação da JUP com retalho da pelve. É indicada em pelve redundante e inserção alta de ureter. As técnicas mais usadas são Y-V de Foley, Fenger, Culp-De Weerd, Scardino-Price ▪ Endopielotomia: as vias de acesso podem ser anterógrada (por punção percutânea) ou retrógrada por ureteroscopia (balão, acucise, laser, faca sachse). As taxas de sucesso são inferiores às da pieloplastia aberta, e piores resultados nas obstruções longas, hidronefrose de grande monta e quando há presença de vasos anômalos