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SMI II – PED ANOMALIAS DO AP URINÁRIO 1 PÂMELA MARTINS BUENO Anomalias do aparelho urinário 1. ESTENOSE DE JUNÇÃO URETERO-PIÉLICA (JUP) 1.1 Epidemiologia • Principal causa de hidronefrose neonatal – tem uma redução abrupta da JUP, por isso a urina não vai conseguir passar para o ureter. Se o ultrassonografista ver hidronefrose no rim do feto (lá para a 20ª semana), vai ser estenose de JUP até que se prove o contrário. • 1:1500 nascidos vivos – é uma doença comum, importante para a prática médica • Meninos = 2:1 – mais comum em meninos • Lado esquerdo > direito; Bilateral em 5% - o que é excelente, pois um rim continua funcionando normal mesmo que o outro esteja afetado 1.2 Etiologia – distúrbio da condução mioelétrica Alteração anatômica • Intrínseca: segmento ureteral nasce estenótico e hipoplásico por substituição de fibras musculares lisas por colágeno. É a mais comum. • Extrínseca: vaso anômalo (artéria que cruza a JUP e acaba fazendo a compressão); aderências; implantação alta do ureter (dificulta a descida da urina, por isso pode provocar hidronefrose) – não é uma doença própria da junção. • A: Intrínseca – estreitamento da JUP sem nenhum órgão fazendo a compressão • B: Extrínseca – ureter tem o calibre normal na junção, mas a artéria polar faz uma dobra no ureter, que vai acabar fechando a JUP. 1.3 História natural da doença • Melhora espontânea o 50% das dilatações vistas no US pré-natal não se confirmam no pós-natal. o Muitas crianças resolvem uma obstrução parcial por volta de 1 ano de idade. • Estabilidade • Piora progressiva → 22% → começa com dilatação leve, depois migra para moderada e acentuada. • Através do acompanhamento é verificada a história natural da doença, caso piore tem indicação cirúrgica. 1.4 Quadro clínico • Em geral, o diagnóstico se inicia a partir de um US feito no pré-natal – aparece a dilatação dos rins. • No RN e lactente: massa abdominal nos flancos, irritabilidade, náuseas e vômitos, dor tipo cólica • Na idade pré-escolar e escolar: dor abdominal quando se ingere muito líquido; hematúria microscópica; ITU (30 a 45% dos casos) • PODE SER ASSINTOMÁTICO! Em geral, descobre quando tem ITU. 1.5 Anomalias associadas • Em 25% dos casos – quando tem anomalia de um órgão, pode haver anomalia dos outros também. o Rim multicístico displásico contra-lateral o Síndrome VACTERL - V = vértebras A = ânus C = coração T = traquéia E = esôfago R = rim L = extremidades. 1.6 Diagnóstico diferencial – todas que estão associadas a hidronefrose (dilatação de pelve e cálice renal) • Rim multicístico displásico • Megacalicose • Duplicidade Ureteral Completa • Megaureter • Síndrome de Prunne-Belly • Refluxo vésico-ureteral • Cistos renais simples 1.7 Abordagem diagnóstica 1) Trata-se de Estenose de JUP realmente? 2) A Hidronefrose é OBSTRUTIVA? 3) Qual a situação do outro rim? 4) Há infecção associada? 1.8 Diagnóstico por imagem • Ultrassom – muito bom para iniciar a pesquisa – suspeita • Urotomografia – tomografia com contraste. Pode fazer em crianças pequenas, a partir do segundo mês, pois ela já tem função renal e creatinina normal para criança – confirma. • Ureteropielografias – casos muito selecionados • Medicina Nuclear – quando for estudar se a obstrução é muito fechada (para estudo pré-cirúrgico) 1.8.1 Ultrassom • Exame inicial • Morfologia: avaliação do grau da hidronefrose, tamanho renal, espessura do parênquima e comparação com o rim contralateral • Diâmetro ântero-posterior da pelve é um dos parâmetros mais importantes. Se > 15mm = provável cirurgia (a pelve é essa bola maior na imagem). 1.8.2 Urotomografia ou urografia excretora 1. Urotomografia – facilita o diagnóstico e também ajuda nas causas extrínsecas (vasos anômalos, gânglios comprimindo); 2. Urografia excretora 1.8.3 Ureteropielografias • Casos selecionados. • Quando a anatomia ureteral não foi estudada pois havia exclusão renal na urografia. • Usada para planejamento cirúrgico. 1.8.4 Medicina nuclear • Exame funcional. • Após 1 mês – espera a função renal madura • Muito usado para definir se a dilatação é obstrutiva. o RENOGRAMA com diurético ▪ DTPA ou MAG-3 – vai mostrar o quanto realmente o rim consegue eliminar. Dá noção do tempo de esvaziamento renal, mostrando se tem obstrução ou não. ▪ Filtração glomerular sem reabsorção tubular • Também usado para avaliar cicatriz renal. o CINTILOGRAFIA renal ▪ DMSA ▪ Captação pelas células tubulares = função tubular SMI II – PED ANOMALIAS DO AP URINÁRIO 3 PÂMELA MARTINS BUENO Pieloplastia desmembrada 1.8.6 Renograma com diurético DTPA ou MAG-3 • T1/2 = < 15 min = não obstruído • T1/2 = > 20 min = obstruído • T1/2 = 15 a 20 min = duvidoso 1.9 Tratamento • Conduta expectante – monitorar infecção urinaria, observa o comportamento da criança; • Conduta cirúrgica – pacientes sintomáticos, massa abdominal palpável, rim único, doença bilateral, hidronefrose OBSTRUTIVA, perda de função renal; 1.9.1 Tratamento cirúrgico • Pieloplastia: padrão-ouro. o Aberta (convencional): desmembrada (Anderson-Hynes) ou não- desmembrada o Laparoscópica • Endourologia: casos selecionados – quando não é uma obstrução muito intensa o Endopielotomia anterógrada o Endopielotomia retrógrada 2. DUPLICIDADE URETERAL COMPLETA 2.1 Epidemiologia • Bifidez ureteral: dicotomização de um broto; 10% da população. Nascem 2 ureteres, que se unem e só um deles vai desembocar na bexiga. É uma alteração insignificante do ponto de vista clinico; • Duplicidade ureteral: dois brotos ureterais; 2 a 4% da população; esquerdo = Direito; mais comum em meninas; 10% bilateral; componente familiar. 2.2 Lei de Wigert-Meyer • Ureter da unidade superior se insere na bexiga em situação inferior e medial o Cursa com URETEROCELE e ECTOPIA URETERAL o A unidade superior poderá não ser funcionante e displásica • Ureter da unidade inferior se insere na bexiga em situação superior e lateral o Cursa com refluxo vésico-ureteral 2.3 Ureteroceles – dilatação do ureter terminal na sua implantação ectópica • A = tópica e intravesical → mais comum em sistema único • B= ectópica → mais comum em sistema duplo 2.5 Quadro clínico • O diagnóstico pode vir a partir de uma alteração ultrasssonográfica = achado de exame, feito durante investigação para ITU. • Nos casos de ectopia ureteral em meninas, faz-se o diagnóstico a partir de um quadro de perdas urinárias contínuas apesar da micção conservada. • Ureterocele prolapsada é a principal causa de obstrução uretral em meninas. • Ectopia é causa de epididimite em crianças. 2.6 Diagnóstico • Ultrassom – para pesquisar • Urotomografia ou Urografia excretora – para confirmar • Medicina Nuclear – para avaliar função renal • Uretrocistografia miccional – para pesquisar o refluxo da unidade inferior • Cistoscopia – para avaliar os dois meatos ureterais e a ureterocele 2.6.1 Ultrassom • Exame inicial • Morfologia • Identifica as duas unidades renais • Identifica o ureter dilatado • Identifica a ureterocele 2.7 Tratamento • É CIRÚRGICO, NÃO PERMITE ACOMPANHAMENTO. • Unidade superior não funcionante: nefroureterectomia com aspiração do coto ureteral; se ureterocele muito grande, acrescenta-se sua exérese + reimplante ureteral • Unidade superior funcionante: incisão endoscópica da ureterocele; melhores resultados nas uretereceles intravesicias • Tratamento do RVU da unidade inferior 3. REFLUXO VÉSICO-URETERAL 3.1 Epidemiologia • Anomalia urológica mais comum • 30 – 40% das crianças com ITU febril • Incidência na população pediátrica é 1%, sendo mais comum em meninas com 2 a 3 anos • Tem uma natureza hereditária • 18% dos casos de hidronefrose fetal 3.2 Etiopatologia• Refluxo primário: anomalia congênita da junção uretero-vesical onde a deficiência da musculatura longitudinal no trajeto intravesical do ureter leva a um mecanismo valvular incompetente. • Refluxo secundário: há um aumento de pressão vesical que se transmite retrogradamente ao ureter. SMI II – PED ANOMALIAS DO AP URINÁRIO 5 PÂMELA MARTINS BUENO 3.3 Fisiopatologia • A válvula antirefluxo da bexiga para os rins é o próprio ureter, que se implanta obliquamente na bexiga. A própria camada muscular da bexiga faz essa válvula. Conforme a bexiga distende, essa válvula vai se fechar. O problema é quando o ureter não se implanta em um trajeto obliquo. • Ureter submucoso deve ter comprimento 4 a 5 vezes maior que o seu diâmetro + trajeto intramural oblíquo REFLUXO → CICATRIZ RENAL → PERDA DE FUNÇÃO RENAL → INSUFICÊNCIA RENAL • Principal causa de IRC em criança é ITU por refluxo. 3.4 Nefropatia do refluxo • Anomalias associadas ao refluxo que se caracterizam por lesão renal com afilamento do parênquima, distorção dos cálices, formação de cicatrizes renais associadas à atrofia focal ou generalizada do rim acometido pelo refluxo. • As lesões e cicatrizes renais da nefropatia do refluxo podem ocorrer por caráter congênito, porém são potencializadas pelos processos infecciosos. • Pode resultar em proteinúria e hipertensão. 3.5 Refluxo → cicatriz renal 1) Refluxo de urina infectada até o rim, levando à inflamação intersticial e dano renal. 2) Refluxo estéril, normalmente de alto grau, que pode lesar o rim por meio de um mecanismo mecânico (teoria do “martelo d’água”) ou imunológico. 3) Desenvolvimento embriológico anormal com surgimento de displasia renal 3.6 Quadro clínico • RN e lactente: assintomático; perda de peso, febre, irritabilidade por conta de ITU • Pré-escolar e escolar: assintomático o Sintomas irritativos miccionais por conta da ITU o Febre por conta da ITU o Insuficiência renal com sinais e sintomas de uremia o Causa mais comum de hipertensão arterial na infância 3.7 Diagnóstico – é feito por um exame radiológico • Uretrocistografia miccional • Ultrassom – para avaliar tamanho dos rins e espessura de córtex • Medicina Nuclear o DMSA = avaliar cicatriz renal o Uretrocistografia radioisotópica: melhor no seguimento do refluxo 3.7.1 Ureterocistografia miccional • Refluxo passivo: aparece na fase de enchimento vesical • Refluxo ativo: aparece na micção o O contraste acaba vazando para o rim. • Classifica em graus – quanto maior, pior o prognóstico 3.8 História natural da doença • Quanto maior o grau, menores as chances de o quadro melhorar espontaneamente. 3.9 Tratamento • Conservador – para os graus I a III o Quimioprofilaxia com antibióticos em baixa dose → Sulfametoxazol + trimetoprim, Nitrofurantoína, Cefalexina para evitar ITU o Exames seriados • Cirúrgico – para os graus IV e V o Refluxos associados a anomalias como duplicidades ureterais, sáculas, ectopias. o ITU na vigência de quimioprofilaxia 3.9.1 Tratamento cirúrgico • Endoscópico – injeção endoscópica submucosa e subureteral de material inerte o Falta o produto ideal o Melhores resultados nos graus mais leves o 70% de resposta sem discriminar o grau de refluxo o Metanálise com 5.527 pacientes e 8.101 unidades renais: I-II = 78,5%, III = 72%, IV = 63%, V = 51%; Segundo tratamento = 68%, Terceiro tratamento = 34%; Taxa global de resolução total = 85% • Cirúrgico = REIMPLANTE URETERAL – técnicas extra-vesicais e técnicas intra-vesicais → Sucesso ~ 95% 4. VÁLVULA DE URETRA POSTERIOR 4.1 Epidemiologia • Somente sexo masculino • 1:5000 nascidos vivos • 10% dos casos de HNF fetal • Pregas de mucosa uretral ancoradas no veromontanum que provocam obstrução ao fluxo urinário • Causa de insuficiência renal em 25 a 40% das crianças. 4.2 Clínica • Maioria dos diagnósticos atuais é feita intra-útero: HNF bilateral, bexiga constantemente cheia, oligodrâmnio; • Na fase pós-natal, a clínica vai variar conforme o grau de obstrução e mecanismos de descompressão: retenção urinária, micção lenta, demorada, com jato fraco, sinais de uremia e sinais de ITU e sepse. 4.3 Classificação • Tipo I: pregas mucosas que se estendem lateral e distalmente ao verumontanum, presas às paredes anterolaterais da uretra, que se comportam como mecanismo valvar, ou seja, obstruem apenas um sentido do fluxo; • Tipo II: hipertrofia de pregas coliculares proximais ao verumontanum • Tipo III: estenose congênita, obstrução dos dois sentidos do fluxo. SMI II – PED ANOMALIAS DO AP URINÁRIO 7 PÂMELA MARTINS BUENO 4.4 Diagnóstico por imagem • Ultrassom • Uretrocistografia miccional • Medicina nuclear – DMSA • Urodinâmica – em crianças maiores com alteração do padrão miccional 4.4.1 Uretrocistografia miccional • Faz o diagnóstico • Técnica asséptica • Após 2 semana de vida 4.5 Tratamento • Tratamento intra-útero: casos selecionados • Neonatos o Drenagem vesical – sonda uretral, vesicotomia ou ureterostomia o Melhorar clinicamente o Tratar a válvula: ablação endoscópica
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