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Considerando o processo de constituição do Estado brasileiro, bem como sua responsabilidade perante as políticas públicas, como vem sendo efetivado o papel do Estado na garantia de direitos sociais para a população mais vulnerável no contexto do sistema capitalista? O Estado, como defensor dos interesses da classe dominante em cada modo de sociabilidade, nunca deixou de intervir, através da legislação, sobre as condições de pobreza e miséria antes do capitalismo constituído. Mesmo que de forma pontual, através de leis, as ações do Estado correspondem a respostas sociais num processo impulsionado pelo movimento de reprodução do capital, com vistas a garantir sua expansão e acumulação. Netto (2006) afirma que no capitalismo dos monopólios o objetivo do capital reside na maximização dos lucros através do controle dos mercados, o que exige mecanismos de intervenção extraeconômicos. Com isso o Estado, como instância por excelência do poder extraeconômico, se refuncionaliza e se redimensiona. Até então, o Estado intervinha em situações precisas, de forma emergencial, episódica e pontual. No capitalismo monopolista, além de preservar as condições externas da produção capitalista, a intervenção do Estado ocorre na organização e na dinâmica econômica desde dentro, e de forma contínua e sistemática, as funções políticas do Estado com as suas funções econômicas. De acordo com Netto (2006), o Estado capturado pela lógica do capital monopolista opera de forma a propiciar um conjunto de condições necessárias à acumulação e à valorização do capital. Um elemento novo nas funções do Estado, no contexto do capitalismo monopolista, é a conservação física da força de trabalho ameaçada pela superexploração. Assim, entendemos que as respostas positivas às demandas da classe trabalhadora, por parte do Estado também são funcionais ao monopólio, na medida em que viabilizam a garantia de superlucros. Essas respostas são dadas devido à mobilização e muita luta do conjunto dos trabalhadores. Esse processo, em que o Estado capturado pelo monopólio busca legitimidade política, respondendo a demandas da classe trabalhadora, é tensionado pelas exigências da ordem monopólica e pelos conflitos criados na sociedade. Netto (2006) destaca que é nesse processo que as sequelas da “questão social” tornam- se objeto de intervenção estatal, tornando-se alvo das políticas sociais. A funcionalidade da política social do Estado burguês no capitalismo monopolista, de acordo com Netto (2006), se expressa nos processos referentes à preservação e ao controle da força de trabalho-ocupada, através da regulamentação trabalhista; e excedente, através dos sistemas de seguro social. A importância dessas políticas é clara, assegurar as condições adequadas ao desenvolvimento monopolista, e no nível político, cria-se a imagem de um “Estado social”, como mediador de interesses em conflito. É importante destacar que a intervenção estatal sobre a “questão social” se realiza de forma fragmentada e parcial, pois se não fosse dessa forma resultaria numa relação contraditória entre capital/trabalho, pondo em xeque a ordem burguesa. Assim, a “questão social” é enfrentada nas suas refrações, nas suas sequelas. Neste contexto, podemos entender que nenhuma política social teve como finalidade direta, imediata e única, melhorar as condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora. Por mais que tenha contribuído para diminuir as dificuldades de sobrevivência da classe trabalhadora, sua força de trabalho não deixou de ser explorada e a classe capitalista não deixou de dominá-la. Mesmo com o advento da crise estrutural e todas as medidas implementadas pelo grande capital e seu Estado, com vistas a solucioná-la, através da reestruturação produtiva, da financeirização do capital e do neoliberalismo, este sistema econômico-social está fadado ao fenecimento, pois não pode mais se desvencilhar de suas contradições. A partir da crise estrutural, é exigido do Estado um maior comprometimento com a própria base da reprodução do capital. Isso diminui a esfera de interferência (capacidade de pressão) da classe trabalhadora, havendo a diminuição dos recursos para a política social. REFERÊNCIAS NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
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