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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA 
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA EM ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA 
 
 
 
 
 
LUIZA MUSELA DA SILVA PEREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Perfil Epidemiológico das Violências Autoprovocadas em adolescentes do município de 
Niterói: prevenção e promoção da saúde 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2020 
 
 
 
 
 
LUIZA MUSELA DA SILVA PEREIRA 
 
 
 
Perfil Epidemiológico da Violência Autoprovocada em adolescentes do município de 
Niterói: prevenção e promoção da saúde 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para o Programa 
de Residência em Enfermagem em Saúde 
Coletiva da Universidade Federal Fluminense, 
como requisito à obtenção do título de Especialista 
em Saúde Coletiva. 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: 
Profª Drª Ândrea Cardoso de Sousa 
Coorientadora 
Ms. Mariana Ramos Guimarães 
 
 
NITERÓI 
2020 
 
 
 
 
 
 
LUIZA MUSELA DA SILVA PEREIRA 
 
 
 
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS VIOLÊNCIAS AUTOPROVOCADAS EM ADOLESCENTES 
DO MUNICÍPIO DE NITERÓI: PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DA SAÚDE 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para o Programa 
de Residência em Enfermagem em Saúde 
Coletiva da Universidade Federal Fluminense, 
como requisito à obtenção do título de Especialista 
em Saúde Coletiva. 
. 
 
 
Aprovada em 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 ____________________________________________________________ 
Profª Drª Ândrea Cardoso Souza – UFF Orientadora 
 
 ____________________________________________________________ 
Profª Drª Geilsa Valente – UFF 
 
 ____________________________________________________________ 
Ms. Mariana Ramos Guimarães – COVIG/Niterói-RJ 
 
 
Niterói 
2020 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos adolescentes que estão em situação de 
sofrimento psíquico. 
Aos meus pais, ao meu noivo e a equipe da 
COVIG. 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Á Deus que me proporcionou força, sabedoria e resiliência durante esses dois anos de 
Residência. Segurou em minha mão nos momentos mais difíceis e me sustentou nas 
fragilidades. 
 
Aos meus pais, Adalberto e Lucineia, por serem companheiros em cada jornada, que 
estiveram sempre ao meu lado em cada decisão e amparando-me em momentos ruins, 
enxugaram minhas lágrimas, me impulsionaram e se alegram em cada vitória. 
 
Ao meu noivo, Paulo Ricardo, que não mediu esforços para entender cada fase que passei 
durante esses dois anos, me abraçou e acalmou minha ansiedade e que vibrou com cada 
momento de alegria. 
 
As minhas queridas companheiras de Residência, Isabela Castro, Isabella Felipe, Karina 
Leite, Melissa de Mello, Raquel Queiroz e Thamires Rodrigues, mulheres fortes, inteligentes 
e batalhadoras, estiveram a todo momento ao meu lado, onde pude compartilhar minhas 
alegrias e frustações. 
 
A Coordenação de Vigilância em Saúde de Niterói (COVIG), que acolheu a mim e a temática 
escolhida para este estudo, que esteve inserida em cada etapa da pesquisa. Em particular a 
Coordenadora Ana Eppighaus que me ensinou como conhecer cada agravo, e a responsável 
técnica pela assessoria de Violência, Mariana Ramos, que me ensinou analisar cada ficha de 
notificação de forma humanizada e pela parceria ao se tornar minha Coorientadora. 
 
Essa Residência foi feita de muitos nomes, de pessoas iluminadas que entraram em minha 
vida e transformaram minha visão de Saúde Coletiva. Fiz amizades quando estava em 
treinamento em serviço como Ana Rosi Vignoli, Sandra Piccoli, Sandra Martins, Tércio, Lúcia 
Azevedo, Andreia Aloi e Carmem Colonese. 
 
 
 
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Só existe um problema filosófico realmente 
sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não 
vale a pena ser vivida é responder à pergunta 
fundamental da filosofia. O resto, se o mundo 
tem três dimensões, se o espírito tem nove ou 
doze categorias, vem depois... 
 
 Albert Camus 
 
 
 
 
 RESUMO 
 
Em 2017 foram 1.047 óbitos pelo agravo na faixa etária de 10 a 19 anos (BRASIL, 
2019). Os objetivos deste estudo são apresentar a situação epidemiológica da violência 
autoprovocada de adolescentes do município de Niterói no estado do Rio de Janeiro, refletir 
sobre a violência autoprovocada em adolescentes do município de Niterói, discutir os dados 
epidemiológicos da violência autoprovocada em adolescentes sob a perspectiva do Neury 
Botega e sugerir ações e estratégias de promoção da saúde e prevenção da violência 
autoprovocada em adolescentes. Estudo de caso descritivo, de abordagem quantitativa, do 
perfil epidemiológico de violência autoprovocada em adolescentes residentes de Niterói, no 
período de 2010 a 2018. Os dados foram extraídos do Sistema Vigilância de Violências e 
Acidentes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), a partir das fichas 
de notificação individual de violência interpessoal/autoprovocada. O maior percentual de 
casos registrados ocorreu no ano de 2018 (39,38%) e o menor no ano de 2012 (1,25%). 
Essa pesquisa ressalta que caracterizar o perfil epidemiológico e discutir sobre a violência 
autoprovocada em adolescentes ajuda compreender o fenômeno e elaborar ações 
estratégicas de enfrentamento, de prevenção, de promoção e intervenções planejadas para 
contribuir com a redução da incidência de óbitos por suicídios. 
 
 
 
 
 ABSTRAT 
 
 
In 2017 there were 1,047 deaths from the disease in the 10 to 19 age group (BRASIL, 
2019). The objectives of this study are to present the epidemiological situation of self-inflicted 
violence by adolescents in the city of Niterói in the state of Rio de Janeiro, to reflect on self-
inflicted violence in adolescents in the city of Niterói, to discuss the epidemiological data of 
self-inflicted violence in adolescents from the perspective of the Neury Botega and suggest 
actions and strategies to promote health and prevent self-harm in adolescents. Descriptive 
case study, with a quantitative approach, of the epidemiological profile of self-inflicted 
violence in adolescents residing in Niterói, from 2010 to 2018. Data were extracted from the 
Violence and Accident Surveillance System of the Information System on Notifiable Diseases 
(SINAN) , based on the individual notification forms of interpersonal / self-harm. The highest 
percentage of registered cases occurred in 2018 (39.38%) and the lowest in 2012 (1.25%). 
This research highlights that characterizing the epidemiological profile and discussing self-
harm in adolescents helps to understand the phenomenon and develop strategic actions for 
coping, prevention, promotion and planned interventions to contribute to reducing the 
incidence of deaths by suicides.
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1....................................................................................................... p.31 
Figura 2....................................................................................................... p.34 
Figura 3....................................................................................................... p.37 
Figura 4....................................................................................................... p.38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 ....................................................................................................... p.32 
Tabela 2 ....................................................................................................... p.33 
Tabela 3 ....................................................................................................... p.35 
Tabela 4 .......................................................................................................p.35 
Tabela 5 ....................................................................................................... p.37 
Tabela 6 ....................................................................................................... p.37 
Tabela 7 ....................................................................................................... p.39 
Tabela 8 ....................................................................................................... p.40 
Tabela 9 ....................................................................................................... p.41 
Tabela 10 ..................................................................................................... p.41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS 
 
CIT- Comissão de Intergestores Tripartite 
COVIG – Coordenação de Vigilância em Saúde 
CVV – Centro de Valorização da Vida 
DATASUS- Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde 
FMS – Fundação Municipal de Saúde 
HC – Hospital das Clínicas 
MS – Ministério da Saúde 
NASF – Núcleo de Assistência a Saúde da Família 
PNPAS - Prevenção da Automutilação e do Suicídio 
OMS – Organização Mundial da Saúde 
ONG’s – Organizações Não Governamentais 
PICS – Práticas Integrativas Complementares em Saúde 
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade 
SUS - Sistema Único de Saúde 
VIVA – Vigilância de Violência e Acidentes 
Unicamp – Universidade Estadual de Campinas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10 
 1.1 Questão Norteadora ....................................................................................... 12 
 1.2 Objetivos ........................................................................................................ 13 
 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................... 13 
 1.2.2 Objetivos Específicos ....................................................................... 13 
 1.3 Justificativa .................................................................................................... 13 
 2. REFERENCIAL CONCEITUAL ........................................................................... 18 
2.1 Conceitos de Violência Autoprovocada ........................................................ 18 
2.2 Violência Autoprovocada na adolescência ................................................... 20 
 2.3 Prevenções de tentativas de suicídio e promoção da saúde ......................... 24 
 3. METODOLOGIA ................................................................................................... 28 
 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 30 
 4.1 Resultados......................................................................................................30 
 4.2 Discussão.......................................................................................................42 
 4.2.1 Análise dos Resultados ...................................................................42 
 4.2.2 Discussão de prevenção ao suicídio e promoção a saúde ..............49 
 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 55 
 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 57 
 ANEXO.......................................................................................................................62 
 Ficha de Notificação (página 1)..............................................................................62 
 Ficha de Notificação (página 2)..............................................................................63 
 Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa................................64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
1-INTRODUÇÃO 
 
A violência é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) como o 
uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa 
ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte, 
dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação. 
Há vários tipos de violência que são conhecidas como, física, psicológica/moral, 
tortura, sexual, tráfico de seres humanos, financeiro-econômicos, 
negligência/abandono, trabalho infantil, intervenção legal, entre outros (BRASIL, 2015). 
No presente estudo, as tentativas de suicídio e as autolesões entre a população 
adolescente serão consideradas como violência autoprovocada. Abreu et al (2018, 
p.78) menciona que a violência autoprovocada 
 
Decorre da violência em que uma pessoa inflige a si mesma, podendo ser 
subdividida em comportamento suicida – pensamentos suicidas, tentativas de 
suicídio e o suicídio propriamente dito –, e em autoagressão – atos de 
automutilação desde as formas mais leves, como arranhaduras, cortes e 
mordidas, até as mais severas, como amputação de membros (ABREU et al 
2018, p.78). 
 
 Como citado, a violência autoprovocada tem alguns estágios e uma delas é 
automutilação que Abreu et al (2018) citou, e de acordo Araújo et al (2016, p.498) 
“Quando abordamos a automutilação, estamos nos referindo a pessoas que machucam 
o próprio corpo de formas diversas, por meio de cortes, queimaduras, auto 
espancamento, entre outras. ” 
Segundo Friedrich (1989 p.144) “[...] a tentativa de suicídio (com o intuito claro de 
morte ou como instrumento de manipulação dos demais) se definiria pela prática de um 
ato com a crença de ser capaz de se matar, sem sucesso fatal”. 
Em contrapartida da opinião de Friedrich, pode-se dizer que as tentativas de 
suicídio não são de intuito universal de instrumento de manipulação dos indivíduos que 
as praticam, mas são respostas aos sofrimentos psíquicos induzidos por estressores 
psicossociais. 
Botega (2015, p 52) ressalta que as tentativas de suicídio causam impactos 
sociais e econômicos, este último quando se utiliza os serviços de saúdemas cabe 
11 
 
 
ressaltar o impacto na família que em decorrência as tentativas de suicídio acabam 
tendo sua capacidade produtiva diminuída ou perdida e com isso perdem o emprego. O 
autor salienta que “As tentativas devem ser abordadas com seriedade, como um sinal 
de alerta indicando a atuação de fenômenos psicossociais complexos”. 
As taxas de tentativas de suicídio acabam superando as de suicídio, já que um 
único indivíduo pode tentar várias vezes, visto que por várias causas não conseguiu 
finalizar o ato, por usar meios menos letais, por insegurança, falta de coragem de 
concluir, medo e outros motivos que cabe apenas ao sujeito saber, mas o sofrimento 
não cessa e quando não se tem um acompanhamento adequado, quando não se fala 
do problema em terapia, atendimentos ou outros dispositivos, acaba voltando a 
repensar em como acabar com esse sofrimento e essa sensação dolorosa persistente. 
Botega (2015 p.50) cita que “Estima-se que o número de tentativas de suicídio 
supere o de mortes em pelo menos dez vezes. Não há, entretanto, em nenhum país, 
um registro de abrangência nacional de tentativas de suicídio”. 
 A importância da Vigilância em Saúde neste tipo de violência é para que não 
ocorra novas tentativas, isso ocorre através de levantamento de dados e produção de 
um perfil epidemiológico e com isso consegue planejar, formular metas e atividades de 
prevenção e promoção e consequentemente a redução do número de tentativas e de 
suicídio, além de produzir e implementar políticas públicas de saúde para prevenir tais 
atos. 
Segundo dadosda Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio representa 
1,4% de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se, em 2012, a 15ª causa 
de mortalidade na população geral; entre os jovens de 15 a 29 anos, é a 
segunda principal causa de morte. A Índia e a China são os países com as 
maiores taxas.” (FIOCRUZ,2018 p.2) 
 
No Brasil, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
(SINAN), no período de 2010 a 2017, foram notificados 1.503.725 casos de violências 
interpessoais ou autoprovocadas. Desses, 251.400 (16,12%) casos foram relativos à 
prática de lesão autoprovocada, sendo 167.166 (66,5%) casos em mulheres e 84.218 
(33,5%) casos em homens (BRASIL, 2019). 
Desse total, os adolescentes de 10 a 19 anos representam 26,16% (n= 393.448) 
dos casos de violência interpessoal ou autoprovocadas, sendo o total de 62.679 
12 
 
 
(15,93%) foram relativos à prática de lesão autoprovocada, sendo 16.886 casos do 
sexo masculino e 45.791 casos do sexo feminino. Ressalta-se que entre os anos de 
2010 a 2017 apresentou um aumento de 1.075% de casos de violência autoprovocada 
entre os adolescentes de 10 a 19 anos, onde em 2010 eram de 1.620 casos e no ano 
de 2017 de 19.039 casos registrados (BRASIL, 2019). 
Conforme dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), 
disponibilizados pelo DATASUS, ocorreram 706 óbitos por suicídio em 2010 em 
adolescentes de 10 a 19 anos no Brasil. Já em 2017 foram 1.047 óbitos pelo agravo na 
mesma faixa etária (BRASIL, 2019). 
Discutir sobre violência autoprovocada em adolescentes sem alarmismo ajuda a 
pensar estratégias de enfrentamento, de prevenção e intervenções bem planejadas que 
levam entender o perfil epidemiológico e as causas das tentativas de suicídio nessa 
população o que poderá modificar a incidência de óbitos por suicídios. Com isso o 
objeto do estudo foi a Violência Autoprovocada em adolescentes residentes do 
município de Niterói. 
. 
 
 
 
1.1- QUESTÃO NORTEADORA 
 
O presente estudo centraliza-se nas questões norteadoras: “Qual o perfil 
epidemiológico da violência autoprovocada em adolescentes na cidade Niterói?” “A 
partir do perfil epidemiológico, quais ações locais poderão ser desenvolvidas para o 
enfrentamento da violência autoprovocada em adolescentes?”. 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
1.2- OBJETIVOS 
 
1.2.1- OBJETIVO GERAL: 
 
- Apresentar a situação epidemiológica da violência autoprovocada de 
adolescentes do município de Niterói no estado do Rio de Janeiro, Brasil 
 
1.2.2- OBJETIVO ESPECÍFICO: 
 
- Refletir sobre a violência autoprovocada em adolescentes do município de 
Niterói; 
- Discutir os dados epidemiológicos da violência autoprovocada em adolescentes 
sob a perspectiva do Neury Botega; 
- Sugerir ações e estratégias de promoção da saúde e prevenção da violência 
autoprovocada em adolescentes. 
 
1.3- Justificativa do Estudo 
 
O Ministério da Saúde frente aos dados do aumento da violência (agressões e 
lesão autoprovocadas) mobilizou diversas estâncias e setores internos e externos, 
visando implementar medidas para reduzir o impacto de mortes por acidentes e 
violências. Entre elas a elaboração da Política de Redução da Morbimortalidade por 
Acidentes e Violência (Portaria MS/GM nº 737, de 16 de maio de 2001), aprovada pela 
Comissão de Intergestores Tripartite (CIT), por meio da Resolução nº 309, de 8 de 
março de 2001. É importante ressaltar que, 
 
[...] esta Política setorial prioriza as medidas preventivas, entendidas em seu 
sentido mais amplo, abrangendo desde as medidas inerentes à promoção da 
saúde e aquelas voltadas a evitar a ocorrência de violências e acidentes, até 
aquelas destinadas ao tratamento das vítimas, nesta compreendidas as ações 
destinadas a impedir as sequelas e as mortes devidas a estes eventos. 
(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2001, p.13,) 
 
14 
 
 
Esta define propósitos, estabelecem diretrizes, atribuem responsabilidades 
institucionais e apresenta, como pressuposto básico, a articulação intrassetorial e 
intersetorial. 
 Na Portaria MS/GM nº 1600, de 07 de julho de 2011, o Ministério da Saúde (MS) 
reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às 
Urgências do Sistema Único de Saúde (SUS) onde incorporou os componentes de 
Promoção, Prevenção e Vigilância à Saúde, cujo objetivo é estimular e embasar o 
desenvolvimento de ações de saúde e de educação permanente. Uma das diretrizes da 
política, entre outras, é a ampliação do acesso e acolhimento aos casos agudos 
demandados aos serviços de saúde em toda rede de atenção. 
 A notificação das violências foi estabelecida como obrigatória por vários atos 
normativos e legais. Destacam-se entre eles, o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA), instituído pela Lei nº 8069/1990; a Lei nº10.778/2003 , essa institui a Notificação 
Compulsória de Violência contra a Mulher; e a Lei nº10.741/2003, Estatuto do Idoso. 
 A notificação compulsória dos casos de Violência Contra Mulher é 
regulamentada para todo território Nacional através do Decreto nº 5009, de 3 de junho 
de 2004, atribuindo ao MS a coordenação do plano estratégico de ação para instalação 
dos serviços de referência sentinela. 
 A Rede Nacional de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde, foi 
proposta sua criação em 2004, mediante a Portaria MS/GM nº936, de 18 de maio, 
visando a implantação e implementação dos Núcleos de Prevenção de Violências e 
Promoção da Saúde, em âmbito local, voltados para atenção integral prevista na 
Politica de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências. 
 Ainda no ano de 2004, a Portaria MS/GM nº 2406, de 5 de novembro, institui o 
serviço de notificação compulsória por violência contra mulher dentro do SUS e aprova 
instrumento e fluxo para notificação nos serviços de saúde. Já no ano de 2005, foi 
aprovada a Agenda Nacional de Vigilância, Prevenção e Controle dos Acidentes e 
violências, onde as ações de aprimoramento e expansão da vigilância e do sistema de 
informação de violências e acidentes, com treinamento e capacitação de profissionais 
para gerenciarem e avaliarem as intervenções propostas, a partir das informações 
coletadas. 
15 
 
 
De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015): 
 
Em 30 de março de 2006, através da Portaria MS/GM nº687, o MS implanta a 
Politica Nacional de Promoção da Saúde (PNPS), reforçando medidas 
anteriores e revalidando o seu caráter transversal e estratégico ao contemplar 
os condicionantes e determinantes das violências e acidentes, no país. Neste 
mesmo ano, aprovação tripartite do Pacto pela Saúde como ferramenta de 
gestão redefinindo responsabilidade dos gestores em função das necessidades 
de saúde da população e da busca da equidade social. Na sua dimensão Pacto 
pela Vida, foram incluídos desde 2008, como uma das prioridades, indicadores 
para mesurar a Atenção Integral às Pessoas em Situação ou Risco de 
Violências. Em 2014, a Política Nacional de Promoção da Saúde foi revisada 
reafirmando em seus objetivos a promoção da equidade e a melhoria das 
condições e dos modos de viver reduzindo vulnerabilidades e riscos à saúde 
decorrentes dos determinantes sociais, econômicos, políticos, culturais e 
ambientais. Reafirma ainda o compromisso com a promoção da cultura da paz 
e do desenvolvimento humano seguro, saudável e sustentável. (BRASIL, 2015 
p.8) 
 
Ainda em 2006, mediante a Portaria MS/GM nº 1.876, de 14 de agosto, foram 
instituídas as diretrizes nacionais para a prevenção do suicídio, apontando para 
a necessidade da notificação dos casos de suicídio e tentativas, na perspectiva 
de vincular essas pessoas aos serviços de saúde como forma de intervenção 
em saúde e prevenção de novas ocorrências. Também nesse ano, o MS criou o 
Sistema de Vigilância Violências e Acidentes em Serviços Sentinela (VIVA), por 
meio da Portaria MS/GM nº 1.356 com base em dois componentes: vigilância 
contínua e vigilância sentinela. (BRASIL,2015 p.9) 
 
Cabe esclarecer que as notificações compulsórias previamente estabelecidas em 
ornamentos legais e jurídicos supracitados (Estatuto do idosos, Estatuto da Criança e 
Adolescente, entre outros) eram considerados obrigatórios para os profissionais de 
saúde realizarem a comunicação aos órgãos de garantia de direitos e proteção aos 
grupos contemplados nessas leis (BRASIL, 2015). 
Apesar de em 2006, o MS ter criado o Sistema de Vigilância VIVA contínuo e 
VIVA sentinela, somente em 2010 a violência interpessoal e a autoprovocada foram 
inseridas na Lista de Agravos de Notificação Compulsória por parte dos serviços de 
saúde e classificada como um agravo de notificação compulsória e contínua para a 
alimentação do banco de dados do SINAN (BRASIL, 2015). Tal iniciativa mostrou a 
importância aos municípios da adesão a uma ficha padronizada em todo território 
nacional e contemplada no sistema SINAN, o que gerou um sistema de vigilância às 
violências melhor consolidado. 
16 
 
 
Com o processo de aperfeiçoamento da vigilância de violências aliado às 
políticas de atenção integral à saúde, proteção e garantia de direitos, foi fortalecida a 
importância de se notificar de forma imediata (ou seja, em até 24 horas) os casos de 
violência sexual e tentativas de suicídio, onde é firmado com a publicação da Portaria 
GM/MS nº 1.271 de 06 de junho de 2014 .que define a Lista Nacional de Notificação 
Compulsória de doenças, agravos e eventos em saúde pública e torna imediata a 
notificação dos casos de violência sexual e de tentativas de suicídio na esfera 
municipal, com o propósito de garantir a intervenção oportuna nos casos. 
 Em Abril de 2019, é sancionada a Lei 13.819 que institui a Política Nacional de 
Prevenção da Automutilação e do Suicídio (PNPAS), a ser implementada pela União, 
em cooperação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios e alterou a Lei nº 
9.656, de 1998. 
A Lei 13.819/2019, instituindo a PNPAS como estratégia permanente do poder 
público para a prevenção dos eventos, automutilação e suicídio, e com isso para o 
tratamento dos condicionantes a eles associados, ratifica que se faz necessário a 
articulação interdisciplinar entre a saúde, a educação, comunicação, imprensa, policia 
ou seja, todas as estâncias que estão envolvidos na assistência aos indivíduos, seja de 
forma direta ou indireta. 
Esta Política traz objetivos claros como: 
 
Promover a Saúde Mental; Prevenir a violência autoprovocada, controlar os 
fatores determinantes e condicionantes da saúde mental; Garantir o acesso ao 
tratamento psicossocial há pessoas com sofrimentos psíquicos agudos ou 
crônicos e em especial pessoas com ideação suicida, automutilações e 
tentativas de suicídio; Abordar de forma adequada a rede de apoio das vítimas 
de suicídio e garantir-lhes assistência necessária; Informar e sensibilizar a 
população sobre a importância das lesões autoprovocadas; Promover 
intersetoralidade para a prevenção do suicídio, envolvendo saúde, educação, 
comunicação, polícia e outras entidades; Promover a notificação de eventos, o 
desenvolvimento e o aprimoramento de métodos de coleta e análise de dados 
sobre automutilações, tentativas de suicídio e suicídios consumados, para 
subsidiar políticas e tomadas de decisão; Promover a educação permanente de 
gestores e de profissionais de saúde acerca desses eventos.(BRASIL,2019 p. 
2) 
 
Botega (2015, p.52) chama atenção que “Dar atenção especial a uma pessoa 
que tentou suicídio é uma das principais estratégias para se evitar um futuro suicídio. ” 
Portanto ,dar a importância para as notificações de tentativas de suicídio, propor ações 
17 
 
 
de prevenção de suicídio é de caráter de importância para a área da saúde seja ela na 
vigilância em saúde ou de nível assistencial. 
Ainda cabe ressaltar que a Política de Redução de Morbimortalidade por 
Violência e Acidentes ressalta que a violência é tema prioritário para o desenvolvimento 
de estudos no Brasil, onde faz parte de uma das diretrizes da Política onde enfatiza 
que, 
 
[...] as pesquisas deverão integrar estudos de cunho sócio antropológico, 
essenciais para a identificação dos valores, hábitos e crenças que perpassam 
as relações interpessoais e institucionais e de outras áreas afins ao tema. 
Aliam-se a essas, pesquisas epidemiológicas e clínicas que permitam a 
identificação de fatores de risco e de proteção envolvidos nas redes causais de 
acidentes e de violências, ao mesmo tempo em que indicam áreas e grupos 
sociais mais vulneráveis a esses agravos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2001,p 
21,) 
 
 
Portanto, é de extrema relevância o desenvolvimento de estudos que abarcam a 
temática e o fornecimento de informações epidemiológicas capazes de contribuir para o 
planejamento de políticas públicas visando o enfrentamento da violência autoprovocada 
em adolescentes, a qual vem sendo reconhecida como um problema social e de saúde 
pública nacional ao longo dos anos. 
Nesse sentido, esta pesquisa pretende não só gerar informações relacionadas 
ao perfil epidemiológico, como também realizar uma análise reflexiva a cerca das 
notificações das violências autoprovocadas em adolescentes no município de Niterói e 
indicar, com intuito da implementação das políticas públicas nacionais, ações e 
estratégias de promoção da saúde e prevenção do agravo, as quais poderão ser 
incorporadas pela gestão local. 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
1- REFERENCIAL CONCEITUAL 
 
Neste trabalho, o autor Neury Botega foi escolhido como referencial conceitual 
devido às suas produções bibliográficas sobre o tema, as quais se adequam para o 
norteamento conceitual deste estudo e para as reflexões apresentadas neste tópico. 
 
2.1 - Conceito de Violência autoprovocada 
 
A violência autoprovocada é um espectro de comportamento autoagressivo, 
composto por automutilação, tentativa de suicídio e o suicídio. O conceito se torna 
amplo por conta das múltiplas ações que estão incorporadas no ato, mas todos com 
uma única finalidade que é de diminuir o sofrimento psíquico. 
 Quando o indivíduo vê-se em sofrimento psíquico, ele começa a tomar 
consciência de sua vida e de como ela está, surgindo pensamentos e indagações 
“Como seria se eu não estivesse aqui? ”, “Se eu morresse essa tristeza passaria”, com 
esses pensamentos passageiros até em preocupações mais intensas sobre viver ou 
morrer podem ser caracterizadas como ideação suicida. Botega (2015, p.55) analisou 
em seus estudos e viu que a ideação suicida mostrou-se associada a sintomas 
depressivos, em especial a falta de energia e humor deprimido. 
Mas a frente, em outro estudo (2013) o referido autor em um de seus estudos no 
HC da Unicamp interpretando dados constatou que a ideação suicida apareceu 
associada à depressão, ao uso abusivo de bebidas alcoólicas e ao tabagismo e 
concluiu que “Mesmo entre pessoas internadas por motivos não psiquiátricos, a ideação 
suicida está associada ao sofrimento mental passível de um diagnóstico de transtorno 
psiquiátrico”. (BOTEGA,2015 p.55) 
O comportamento suicida pode estar associado há fatores socioambientais, 
fisiológicos e biológicos, é necessário conhecer a subjetividade do indivíduo para poder 
identificar suas demandas e conseguir entender de onde advém sua ideação e 
tentativas suicidas, e assim traçar melhores estratégias de prevenção e promoção da 
saúde. 
As causas de um suicídio (fatores predisponentes) são invariavelmente mais 
complexas que um acontecimento recente, como a perda do emprego ou um 
19 
 
 
rompimento amoroso (fatores precipitantes). A existência de um transtorno 
mental encontra-se presente na maioria dos casos. Uma revisão de 31 artigos 
científicos publicados entre 1959 e 2001, englobando 15.629 suicídios ocorridos 
na população geral, demonstrou que em mais de 90% dos casos caberia um 
diagnóstico de transtorno mental. (BOTEGA 2014, p.232,) 
 
Estressores psicossociais, como discórdiafamiliar, problemas no emprego e 
conflitos na relação amorosa, são importantes desencadeadores de tentativas de 
suicídio. (BOTEGA, p.123,2015) 
O autor traz em sua obra, alguns estados mentais que são associados ao risco 
de suicídio, como: Psychache e constrição cognitiva; ansiedade, inquietude e insônia; 
impulsividade e agressividade; desesperança; vergonha e vingança. 
Cabe destacar a desesperança; vergonha e vingança. O indivíduo quando 
encontra-se em sentimento de desesperança há pensamentos mais recorrentes de dar 
fim a vida, pois não vê sentindo em continuar vivendo. Botega (2010,p.140) ressalta 
que em alguns estudos mostram que os sentimentos de desesperança, bem como a 
falta ou enfraquecimento de razões para viver, associam-se mais fortemente ao suicídio 
do que o humor deprimido. 
 
Não podemos esquecer que há uma coexistência de desejos e atitudes 
antagônicas que capturam a indecisão do indivíduo frente à vida. Ele deseja 
morrer e, simultaneamente, deseja ser resgatado ou salvo. Atos estereotipados 
de tomar psicotrópicos e telefonar em seguida para conhecidos solicitando 
ajuda expressam ambas as faces do ato. A maioria dos pacientes suicidas é 
ambivalente, incorpora uma batalha interna entre o desejo de viver e o desejo 
de morrer. (BERLOTE et al 2010,p.89) 
 
A vergonha é quando algo do indivíduo foi descoberto e ele tem vergonha, e com 
isso acaba pensando em dar fim na vida, pois ser descoberto é mais doloroso e 
frustrante, e continuar vivendo já não faz mais sentido. Na vingança, o sujeito sente 
injustiçado, humilhado e impotente, e assim Botega (2015, p.141) cita que para cessar 
a dor psíquica ou para permanecer sempre na lembrança do ser amado perdido, o 
suicídio pode ser visto como o a melhor opção. 
 
A tentativa de suicídio tem as mesmas características fenomenológicas do 
suicídio, diferindo deste apenas quanto ao desfecho, que não é fatal; neste 
sentido, devesse diferenciá-la de outros comportamentos autodestrutivos, nos 
quais não existe uma intenção de pôr fim à vida, embora elementos exteriores 
possam ser comuns a ambos. (BERLOTE et al 2010,p.88) 
20 
 
 
 
Botega (2015, p. 112) ressalta que “O suicídio é um ato que requer capacidade 
de organização e iniciativa”. Quando a pessoa vê que a única opção é o suicídio, 
ela pode planejar o ato ou fazer de forma impulsiva, ambos há métodos utilizados que 
refletem a intencionalidade e o nível de sofrimento psíquico. 
 
 
A escolha dos métodos utilizados nas tentativas de suicídio reflete uma 
combinação de fatores: o acesso a meios letais, as preferências individuais e 
culturais, e a intenção subjacente ao ato autoagressivo. Métodos não violentos 
(principalmente o autoenvenenamento e a ingestão excessiva de medicamentos) 
são mais frequentes no sexo feminino. Os homens tendem a usar métodos mais 
drásticos. Entre as tentativas atendidas em serviços de emergência brasileiros, 
predominam casos de ingestão excessiva de medicamentos ou de venenos. 
Entre esses últimos, encontra-se o chumbinho, um composto de pesticida 
vendido ilegalmente como raticida. (BOTEGA 2015,p.50). 
 
 Portanto, a violência autoprovocada independente do ato deve ser monitorada 
pela vigilância em saúde e pela assistência de saúde dos indivíduos para melhor 
avaliação do perfil epidemiológico da população e saber quais as melhores estratégias 
de abordagem do assunto, seja por ações dentro das unidades de saúde, na 
comunidade e nas escolas. 
 
 
2.2 - Violência Autoprovocada na adolescência 
 
 Adolescentes são mais sujeitos ao imediatismo e a impulsividade, não estão 
maduros emocionalmente e também há variações hormonais, sendo assim não sabem 
lidar com estressores agudos, como término de relacionamentos, cyberbullying, 
reprovações em provas, frustações rotineiras, perda de ente queridos e outras 
situações que requer um nível emocional que muitos não conseguem atingir e 
desencadeando atos suicidas, depressão e ansiedade. 
 Os adolescentes também não sabem como expressar quando o assunto são 
emoções, sejam alegres ou tristes, mas esta última ainda existe um tabu de demonstrar 
para seus responsáveis que estão tristes e acabam se reprimindo por medo de reações 
de banalização de seus pais ou responsáveis, sendo assim na introversão podem 
21 
 
 
buscar alternativas de aliviar o sofrimento psíquico, seja meio autolesão , uso de álcool 
e drogas ilícitas, e mudança brusca de seu comportamento. 
 
O adolescente pode estar relutante em falar sobre pensamentos de pôr fim à 
vida ou sobre casos de suicídio na família. A relutância é maior quando vem 
consultar-se a contragosto, ou quando teme que revelemos a seus pais algo 
que mantém em segredo. Se não aparecer espontaneamente, a temática pode 
ser introduzida, de modo a deixar claro que certas coisas podem acontecer e 
que podemos conversar sobre elas. (BOTEGA 2015, p.157) 
 
 
 O autor diz que “O risco de suicídio não é estático. Em determinadas 
circunstância, um risco crônico transforma-se em agudo, e avaliações sequenciais 
costumam ser necessárias.” (Botega,2015 p.135,). Em adolescentes pode estar 
associado ao não saber lidar com o sofrimento psíquico ou a forma de pedir ajuda, 
neste último, o adolescente verbaliza muito em atos, e com a violência autoprovocada o 
mesmo demonstra que precisa de ajuda mas que não sabe como pedi-la, sendo assim 
o seu ciclo social tem que estar atento para qualquer mudança ou ações que os 
adolescentes demonstram, assim poderá compreender e identificar sua angústia antes 
mesmo do ato final, o suicídio. 
 
Mesmo em casos de tentativa de suicídio que denotam baixa intenção letal, 
incluindo cortes superficiais na pele, observa-se, futuramente, a ocorrência de 
tentativas com intencionalidade mais pronunciada. (BOTEGA, 2015 p. 159) 
 
 Havendo comportamento condizente com sofrimento psíquico, é relevante o ciclo 
social, por sua vez, pais ou responsáveis, conversarem de forma pacífica e aberta com 
esse adolescente, e demonstrar interesse por seu sofrimento e seus dilemas, nunca 
refutar seus sentimentos ou fazer banalizar, pois se houver tal ação o adolescente 
acaba se reprimindo ainda mais e não aceitando futura ajuda quando o seu quadro se 
agravar. 
Não se deve banalizar ou julgar de forma apressada e superficial a tentativa de 
suicídio como um ato puramente manipulativo. Na vida conturbada de um 
adolescente, a tentativa de suicídio de ser tomada como um marco a partir do 
qual se iniciam ações, incluídas as de saúde mental, destinadas à proteção e à 
qualidade de sua vida. (BOTEGA, 2015 p.159) 
 
 A vida do adolescente é um turbilhão de emoções e descobertas, por sua vez, o 
mesmo não sabe administrar e nem senti-las de forma ordenada, é a descoberta da sua 
22 
 
 
sexualidade, momento de escolha da profissão, novas amizades, novos conceitos de 
sociedade e cultura, dilemas de como se encaixar em padrões que o mesmo não sabe 
se é certo ou errado, enfim, são vários assuntos e decisões que tem que ser tomadas e 
o adolescente ainda não sabe lidar com isso tudo, além da parte fisiológica, seu corpo e 
sua pele estão em constância mudança, tudo é uma descoberta, nada é como antes, 
assuntos que antes não eram dirigidos a eles agora são. 
 A adolescência é um período que o indivíduo é mais influenciável, pois está no 
meio de um turbilhão de estímulos e precisa se definir, ele sofre influência de vários 
estímulos, como da família, escola, mídias sociais (websites, televisão, aplicativos de 
comunidades virtuais e etc.), filmes, músicas e entre outros, onde esses estímulos 
podem virar grandes estressores psicossociais. Botega (2006, p.216) salienta que 
“sabe-se que vários fatores culturais influenciam as taxas de suicídio. Dependendo do 
tipo de sociedade, seus valores podem atuar como fatores de proteção ou de risco”. 
 Podemos citar que alguns fatores que são estressores, por que a sociedade 
acaba incorporando tabus e preconceitos,e com isso o adolescente acaba absorvendo 
esses conceitos já pré estabelecidos e acabam reprimindo suas opiniões, como a 
discussão de orientação sexual, sexualidade e gênero, sofrer bullying, escolha de curso 
da faculdade, a cobrança de passar na universidade, alto desempenho em tudo que faz 
e demonstração de emoções. 
Certas orientações sexuais (homossexualidade, bissexualidade, trangênero) 
aumentam o risco de suicídio.Com frequência esses adolescentes têm 
transtornos mentais comórbidos e estão sujeitos a mais estressores 
psicossociais, como bullying, contando com menos fatores de proteção, em 
relação heterossexuais, contra o suicídio. 
Problemas nos relacionamentos interpessoais, incluindo dificuldades para fazer 
amizades, discussões frequentes com pais, autoridades ou colegas, isolamento 
social, bullying (face a face ou pela internet), são fatores de risco revelados em 
várias pesquisas com adolescentes. 
Perfeccionismo e autocrítica exacerbada associam-se a tentativas de suicídio 
especialmente na adolescência. Uma dimensão do perfeccionismo a ser 
explorada durante a avaliação clínica é a crença do indivíduo a respeito do alto 
desempenho que as pessoas esperam dele, o que costuma levar a frustação e 
a baixa autoestima. (BOTEGA 2015, p.159) 
 
 Sobre o comportamento de um adolescente, é difícil identificar se está sendo 
discrepante e eminência suicida ou se é apenas o comportamento condizente com sua 
fase de vida, Botega (2015,p.156) ressalta que: 
 
23 
 
 
Diferenciar reações de um jovem que podem ser consideradas sinais de alerta 
de que algo grave está por acontecer é muito difícil. Muitos desses sinais são 
inespecíficos, pois também aparecem quando do surgimento de transtornos 
mentais graves (esquizofrenia, depressão, drogadição e transtorno bipolar). 
Esses transtornos, por sua vez, costumam ter início na adolescência ou nos 
primeiros anos de vida adulta. (BOTEGA 2015,p.156) 
 
Em adolescentes, a depressão pode vir com retraimento social, crises de raiva e 
mau desempenho escolar. (Botega, 2015, p.113). Um adolescente que sofre de 
transtorno bipolar passa a ter um risco subagudo, ou mesmo agudo, em uma mudança 
de fase da doença ou caso venha reprovação escolar. (Botega.2015 p.135) 
 Alguns assuntos se tornam difíceis para que o adolescente fale em uma consulta 
com um profissional de saúde, e para que não se sinta reprimido é necessário ter 
cautela em como abordar o assunto ou se o seu responsável em outro momento poderá 
passar as informações necessárias ao serviço, como: se há familiares com histórico de 
algum transtorno psiquiátrico, de comportamento suicida, de pessoas que tentaram 
suicídio ou morreram de suicídio, o desempenho escolar, o comportamento do mesmo 
dentro de casa e fora dela e entre outros assuntos que são pertinentes a avaliação. 
 
Os efeitos da história familiar sobre o comportamento suicida são mediados 
tanto por fatores genéticos quanto ambientais. A maior frequência de suicídios 
associa-se mais fortemente à herança de traços de impulsividade e 
agressividade do que doenças mentais. Há também fatores ligados à 
identificação psicológica com entes que se suicidaram e à dinâmica conturbada 
de certas famílias. Deve-se ficar alerta a violência doméstica e relato de abuso 
físico e sexual. (BOTEGA, 2015 p.159) 
 
 Logo, estar atento as mudanças de comportamento, a dinâmica familiar e na 
escola, se há outras violências acontecendo em conjunto que o adolescente não quer, 
ou tem medo ou não sabe relatar que podem interferir em seu humor e comportamento 
rotineiro, em vista disso, a avaliação do profissional de saúde e estabelecer um vínculo 
se faz importante para prevenção e promoção da saúde desse sujeito. 
 
 
 
2.3 - Prevenção da tentativa de suicídio e promoção da saúde 
 
 
24 
 
 
 A prevenção da tentativa de suicídio, na rede de saúde, é importante para que 
não se percam vidas e que esse agravo não aumente cada vez mais. Os profissionais 
de saúde, em qualquer esfera da rede de saúde, devem ter capacitação profissional 
para receberem pessoas que tentaram suicídio ou com ideação suicida onde o manejo 
clínico será de grande valia e onde poderá conseguir criar vínculo com o indivíduo. 
No caso de adolescentes, o vínculo é importante, para que o mesmo não se 
feche a assistência clínica e nem mesmo aos próximos cuidados, explicar cada 
procedimento, mostrar segurança e que entende sua situação, que em momento algum 
está ali para julgar a sua ação, já é primeiro passo do manejo clínico e de prevenção de 
próximas tentativas de suicídio. 
 
Pode-se afirmar que uma tentativa de suicídio é o principal fator de risco para 
um futuro suicídio. Por isso, as tentativas devem ser abordadas com seriedade, 
como um sinal de alerta indicando a atuação de fenômenos psicossociais 
complexos. Dar atenção especial a uma pessoa que tentou suicídio é uma das 
principais estratégias para se evitar um futuro suicídio. (BOTEGA,2015 p.54) 
 
 Para que se haja uma estratégia efetiva de prevenção a violência autoprovocada 
, é prioritário profissionais de saúde capacitados e sensibilização sobre o assunto aos 
mesmos, mostrar a importância da capacitação e empatia a esses profissionais que 
assim podem conseguir reverter o quadro de um comportamento suicida. 
 Botega em sua obra alguns conceitos de prevenção de suicídio, que pode-se 
adotar como estratégia nos serviços de saúde, mas antes capacitando os profissionais 
de saúde. As modalidades de prevenção de suicídio segundo Botega (2015,p.254) são: 
prevenção universal, seletiva e indicada. 
Por ventura, cada modalidade que Botega conceitua tem seu papel dentro do serviço 
como estratégia de manejo de prevenção de suicídio. 
A Prevenção universal entende-se que são estratégias para atingir toda a 
população, como restringir o acesso a meios letais (armas de fogo, pesticidas e 
medicamentos) e soluções arquitetônicas para inibir atos suicidas. Vale exemplificar no 
Brasil a restrição de porte de armas de fogo pela população civil, a obrigatoriedade da 
receita médica para comprar certos medicamentos e a suspensão de venda 
indiscriminada de pesticidas altamente tóxicos. 
 
25 
 
 
Várias ações podem ser realizadas no âmbito da saúde pública, entre elas: 
elaboração de estratégias nacionais e locais de prevenção do suicídio, 
conscientização e questionamento de tabus na população, detecção e 
tratamento precoces de transtornos mentais, controle de meios letais (redução 
de armas de fogos, regulação do comércio de agrotóxicos, arquitetura segura 
em locais públicos) e treinamento de profissionais de saúde em prevenção de 
suicídio. (BOTEGA 2014,p.234) 
 
Sobre reportagens que abordam o assunto, é importante que também sejam 
filtradas para que não ocorra a incitação da população, que Botega salienta (2015, 
p.159) 
 [...] fala-se de contágio (ou imitação) de certos suicídios. A influência que as 
reportagens inadequadas da mídia podem ter sobre o comportamento suicida, 
especialmente as que transformam o suicídio em espetáculo e as que dão 
detalhe do método letal. (BOTEGA 2015, p.159) 
 
 Em mais um trecho, Botega (2015,p.256) algumas reportagens sobre suicídio, 
em vez de atender ao interesse público, alimentam o interesse público sedento pelo 
espetáculo da violência. As consequências podem ser trágicas. 
A Prevenção seletiva, esse tipo de modalidade é quando se sabe que a 
população alvo tem um comportamento suicida, sendo assim todas as ações e 
estratégias devem ser pensadas para que esse comportamento não se torne um risco 
de suicídio. A identificação de estressores psicossociais durante o tratamento 
terapêutico dessa população alvo, a produção de um prontuário terapêutico singular, 
são estratégias condizentes para essa modalidade de prevenção. 
 
Em geral, à prevenção do suicídio, busca-se a melhoria das condições da 
existência humana e a diminuição de estressoresque levam um sofrimento 
agudo que culmina em suicídio. A prevenção do suicídio não é uma tarefa 
simples, ela exige esforços coordenados que devem considerar aspectos 
médicos, psicológicos, familiares, socioculturais, religiosos e econômicos. 
(BOTEGA,2015 p.248) 
 
A Prevenção Indicada, é para a população com grande risco de suicídio, quando 
o indivíduo não conseguiu se adequar aos tratamentos ou pessoas que tentaram 
suicídio por diversas vezes. 
Segundo Botega (2015,p.260) contatos regulares com grupos de alto risco de 
suicídio resultam em decréscimo significativo no número de suicídios após certo 
período de seguimento. 
26 
 
 
A assistência prestada a essas populações com comportamento suicida promove 
a saúde do indivíduo que se encontra em sofrimento psíquico mas também de toda a 
sua rede de apoio, pois seus familiares e amigos ficam em constante vigília com medo 
que aconteça o pior, e o ato seja consumado. 
 
Essa estratégia envolve dois componentes de ação: a capacitação de 
profissionais de saúde para avaliar e manejar o risco de suicídio e o 
acompanhamento de pacientes que tentaram o suicídio desde o momento que 
são atendidos em um serviço de emergência médica. ( BOTEGA,2015 p.248) 
 
 
O temor do manejo com usuários que tentaram suicídio assola os profissionais 
de saúde quando recebem em sua unidade, seja em atenção primária ou hospital, pois 
não sabem como abordar tal assunto com ele, pensam que se abordarem sobre o 
assunto podem incutir na cabeça do usuário pensamentos suicidas. Há outros 
profissionais não entendem a subjetividade do ato e o sofrimento psíquico ali envolvido, 
e acabam tendo pensamentos de que o indivíduo deveria tentar de uma forma mais 
fatal em se matar. 
 
O temor de que um paciente possa se matar bloqueia a capacidade de lidar 
com tal perigo. Uma reação possível é o afastamento, a fim de se proteger. O 
afastamento aversivo impede a sintonia empática, ou seja, profissional e 
paciente acabam desconectados. Sem conexão, perde-se uma das forças que 
podem manter a pessoa ligada a vida. A reação contrária, de superproteção 
também reflete, ainda que disfarçadamente, o temor que o paciente se mate. 
(BOTEGA, 2015, p.35) 
 
 
 O vínculo que os profissionais de saúde estabelecem durante o atendimento 
com os sujeitos com comportamento suicida acabam tornando responsáveis pela 
prevenção e promoção de saúde do indivíduo, quando ele se sente acolhido no setor de 
saúde e vê-se que não é julgado acaba aderindo a terapêutica e aceitando com mais 
facilidade sua condição. Os profissionais de saúde conseguem visualizar sua falha em 
relação a capacitação de manejo de prevenção e promoção a saúde de violência 
autoprovocada que acabam evidenciando nas emergências e também nas unidades de 
atenção básica 
 
27 
 
 
Além da percepção da limitação na capacidade profissional, a falta de serviços 
de saúde disponíveis e preparados para o atendimento de pessoas em crise 
pode inibir a disposição de abordar a temática de suicídio. Diante dessas duas 
situações dilemáticas – a pergunta potencialmente letal e a impotência 
angustiante diante de uma resposta afirmativa -, sequer se cogita a 
possibilidade de o paciente estar se debatendo com ideias suicidas. 
Contudo, independente e antes de quaisquer perguntas e repostas sobre 
ideação suicida, há algo que opera na relação estabelecida entre o profissional 
e paciente: quão à vontade e confiante um se sente diante do outro. De alguma 
forma o paciente percebe se há espaço para se abrir, se o profissional lhe 
garantir esse espaço. (BOTEGA, 2015 p.13) 
 
 Sobre os serviços de saúde que não são capacitados para o atendimento e 
manejo de violências autoprovocadas o Botega (2015,p.13), salienta em um dos 
trechos de sua obra Crise Suicida que: 
As investigações que realizamos junto a profissionais de saúde mostram como 
concepções errôneas e sentimentos negativos em relação ao suicídio 
condicionam nossas ações. Perdura, por exemplo, o receio de perguntar sobre 
ideação suicida e, assim, desencadear um suicídio que até então se encontrava 
latente. Outro receio e se , feita a pergunta, o paciente responder que sim, que 
pensa em se matar? Certamente muitos profissionais serão tomados por 
angústia ao sentirem que, a partir daquele momento, tornam-se responsáveis 
por uma vida e que terão de fazer alguma coisa para salvá-la. (BOTEGA,2015 
p.13) 
 
 
A promoção da saúde mental do indivíduo com risco de suicídio requer destreza 
dos profissionais de saúde, seja na atenção primária de saúde, hospitais gerais ou na 
emergência, a capacitação desses profissionais deve ser prioritária para os gestores 
dos serviços de saúde e da vigilância em saúde, já que este último a Violência 
autoprovocada é um agravo de notificação compulsória. 
 
São poucos profissionais que se sentem capazes de amparar pacientes 
mergulhados em uma crise suicida. Em uma situação tão aguda e angustiante, 
é preciso combinar o conhecimento com a intuição, a experiência clínica com a 
renovada curiosidade, a tranquilidade da escuta com a prontidão para agir e 
proteger o paciente. (BOTEGA,2015 p.87) 
 
 Os serviços de saúde e profissionais que conseguem amparar usuários em 
sofrimento psíquico são poucos no país, sendo que população está cada vez mais 
vulnerável aos estressores psicossociais. 
 
 
2- METODOLOGIA 
28 
 
 
 
Estudo de caso descritivo, de abordagem quantitativa, do perfil epidemiológico 
dos adolescentes que tentaram suicídio no município de Niterói, no período de 2010 a 
2018. 
 Segundo BARDIN (2016), 
 
A abordagem quantitativa funda-se na frequência de aparição de determinados 
elementos da mensagem. A abordagem quantitativa obtém dados descritivos 
por meio de um método estatístico. Graças a um desconto sistemático, esta 
análise é mais objetiva, mais fiel e mais exata, visto que a observação é mais 
bem controlada. Sendo rígida, esta análise é, no entanto, útil nas fases de 
verificação das hipóteses (BARDIN 2016 p.145). 
 
De acordo com o YIN (2001, p.25) o conceito da metodologia de Estudo de caso 
como “[...] o método que visa compreender fenômenos sociais complexos, preservando 
as características holísticas e significativas dos eventos da vida real”. E ressalta que “O 
estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos 
contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes” 
(YIN 2001, p.25). 
Os dados sobre a violência autoprovocada foram extraídos do Sistema Vigilância 
de Violências e Acidentes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação 
(SINAN), a partir das fichas de notificação individual de violência interpessoal/ 
autoprovocada, a qual é constituída por 69 variáveis distribuídas nos campos: Dados 
gerais da vítima; Notificação Individual; Dados de residência; Dados da Pessoa 
Atendida; Dados da ocorrência; Dados da violência; Dados do autor da violência; 
Encaminhamentos e Dados Finais (Anexo1 e 2). 
Cabe esclarecer que para a realização da pesquisa, considerou a classificação 
etária determinada pelo Ministério da Saúde, considerando as idades de 10 a 19 anos 
de idade. Optou-se por esta classificação, visto que é a mesma utilizada para a 
notificação de violência em adolescentes. Em relação a amostra, o quantitativo extraído 
dos dados do SINAN, foi de 160 registros, dentro do período de 2010 a 2018. 
 O local do estudo, o Município de Niterói, que se localiza na Região 
Metropolitana II do Estado do Rio de Janeiro. O município, de acordo com o IBGE , 
população estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 
29 
 
 
511.786 habitantes no ano de 2018, e no último CENSO de 2010 a população é de 
487.562, sendo 64.396 adolescentes até o último censo de 2010. 
 Segundo informações do DATASUS, de 2010 a 2017 o município tem 
apresentando um aumento de 4.266 % da violência autoprovocada. A proporção de 
violência autoprovocada em adolescentesresidentes é de 14,50% (N=70) (BRASIL, 
2019). Vale ressaltar que será realizado o perfil epidemiológico de violência 
autoprovocada de adolescentes que residem em Niterói, porque este estudo visa gerar 
dados que auxiliarão em futuras políticas públicas locais para a população residente. 
Realizou-se uma análise descritiva das características sociodemográficas dos 
indivíduos (raça/cor, escolaridade, sexo, idade, orientação sexual, identidade de 
gênero, presença de deficiência/transtorno e zona de residência) e das características 
da ocorrência da violência (recorrência, local de ocorrência), os tipos de violência 
correlacionados com a violência autoprovocada, os meios de agressão, o provável uso 
de álcool pela pessoa e os encaminhamentos). Também será realizada uma avaliação 
comparativa entre o quantitativo de casos de violência autoprovocada notificados em 
diferentes ciclos de vida. 
Entre as lesões autoprovocadas, selecionou-se aquelas notificadas como 
tentativa de suicídio. Destaca-se que ideação suicida não é objeto de notificação e, 
para a presente análise, considerou-se todas as variações apresentadas no banco de 
dados para tentativa de suicídio, tentativas de cessar a própria vida e autoextermínio. 
Para esses casos procedeu-se, de forma similar, com a descrição das características 
sociodemográficas dos casos e das características das ocorrências. 
Os dados foram analisados com o auxílio do TABWIN versão 3.6. Realizou-se 
cruzamentos das variáveis de interesse e apresentadas as frequências absolutas e 
relativas. Os gráficos e Tabelas salvos em Excel. Os dados obtidos foram discutidos a 
luz de Botega (2015), a escolha do autor é em relação seus estudos voltados para a 
área de Tentativas de Suicídio e o Suicídio, além da obra específica para a crise suicida 
onde ele descreve de forma ampla e objetiva que dá uma visão sobre a violência 
autoprovocada para os profissionais. 
Com a finalidade de atender aos aspectos éticos da Resolução 466, de 12 de 
dezembro de 2012, o estudo foi realizado mediante a autorização da Prefeitura 
30 
 
 
Municipal de Niterói, como também foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em 
Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) com Parecer Consubstanciado nº 
3.937.824 que foi aprovado.. Convém esclarecer que por se tratar de informações 
provindas da vigilância epidemiológica, a pesquisa dispensa o uso do Termo de 
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Ressalta-se que foram garantidos o 
anonimato e a identidade dos usuários de saúde que compõem a base de dados que foi 
analisada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
3- RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
4.1- RESULTADOS 
 
Nos anos de 2010 a 2018 foram registrados no SINAN, 160 casos de violências 
autoprovocadas em adolescentes de 10 a 19 anos de idade residentes do município de 
Niterói no estado do Rio de Janeiro. Cabe ressaltar que nas tabelas existe a informação 
de Ignorado e Em Branco, os campos podem ser respondidos também com a variável 
ignorado, e quando não há nenhuma resposta é deixado em branco, sendo assim no 
SINAN ele contabiliza essas “respostas” como variáveis que podem corresponder por 
erro de interpretação dos campos, desatenção na hora do preenchimento e outras 
causas. 
O maior percentual de casos registrados ocorreu no ano de 2018 (39,38%) e o 
menor no ano de 2012 (1,25%). Em relação ao sexo, observou-se maior percentual no 
período de 2010 a 2018 no sexo feminino (66,88%) em contrapartida o sexo masculino 
(33,13%). (Figura1) 
 
Figura 1- Distribuição de violências autoprovocadas em adolescentes e frequência de 
violências autoprovocadas por sexo em adolescentes residentes do município de Niterói 
no período de 2010 a 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
 Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 %
Feminino 1,88 4,38 1,25 3,75 1,88 6,88 5 11,88 30 66,88
Masculino 2,5 2,5 0 1,25 4,38 4,38 2,5 6,25 9,38 33,13
Total 4,38 6,88 1,25 5 6,25 11,25 7,5 18,13 39,38 100
0,00
20,00
40,00
60,00
80,00
100,00
120,00
32 
 
 
 
 Quando se compara o ciclo de vida (Tabela 1) estudado, adolescentes, com os 
outros ciclos de vida, o maior percentual é em adultos (48,06%) e o menor é em 
crianças (0,20%), porém vale ressaltar que o intervalo de idades nos ciclos de vida de 
adolescentes e adultos é desproporcional, sendo o adolescente com intervalo de 10 a 
19 anos e dos adultos de 25 a 59 anos, sendo assim tendo uma discrepância no 
percentual de casos registrados. Com o intervalo proporcional pode-se ter a diferença 
de frequência estudada. Sabemos que questões sociais e econômicas atravessam esse 
tipo de violência, o que contribui para que o grande quantitativo de violência 
autoprovocada se concentre na faixa etária adulta. 
 
Tabela 1-Frequência de casos de violências autoprovocadas de acordo com o ciclo de 
vida em residentes do município de Niterói no período de 2010 a 2018. 
Ciclo de Vida 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
0 a 9 anos 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0,20 
10 a 19 anos 7 11 2 8 10 18 12 29 63 160 32,72 
20 a 24 anos 0 0 1 1 3 5 11 22 19 62 12,68 
25 a 59 anos 1 5 1 3 17 25 36 58 89 235 48,06 
60 ou mais 0 0 0 2 2 6 1 15 5 31 6,34 
Total 8 16 4 14 32 54 60 125 176 489 100 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
O problema da violência autoprovocada na adolescência não é o quantitativo 
(porque a maior parte não se concentra nesta faixa etária). O desafio maior é a 
vulnerabilidade desse grupo populacional. A adolescência é uma etapa importante do 
desenvolvimento do ser. Pequenos conflitos pode ter uma dimensão diferenciada nesta 
fase da vida justamente por causa da imaturidade emocional própria da idade, somada 
a vínculos fragilizados (familiares e de amizade), excesso de exposição a estímulos e 
informação, aspectos pessoais (como o perfeccionismo) que levam a frustrações e 
baixa autoestima, entre outros fatores. 
 Quanto ao perfil sociodemográfico dos casos de violências autoprovocadas em 
adolescentes residentes do município de Niterói, observou-se algumas discrepâncias 
33 
 
 
de frequência, onde cada variável deve ser preenchida com veemência e atenção, os 
campos como, por exemplo, Raça/Cor, Escolaridade e Idade. 
 
Tabela 2- Frequência de casos de violência autoprovocadas por Raça/Cor em 
adolescentes residentes do município de Niterói no período de 2010 a 2018. 
Raça/Cor 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Ign/Branco 2 4 0 0 3 1 2 5 14 31 19,38 
Branca 1 3 1 2 2 4 2 12 25 52 32,5 
Preta/Parda 4 4 1 6 5 13 8 12 24 77 48,13 
Amarela 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Indígena 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Total 7 11 2 8 10 18 12 29 63 160 100 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
 Mais de 50% das fichas de notificação apresentam o campo “escolaridade” com 
preenchimento “ignorado” ou “em branco” (Figura 2), o que prejudica uma avaliação 
mais apurada. Ainda convém ressaltar que até os 18 anos de idade o adolescente deve 
estar inserido no ensino escolar. Portanto, se esta variável estivesse adequadamente 
preenchida, seria possível caracterizar outra tipologia de violência – a negligência – 
visto que é dever dos responsáveis legais e do Estado garantir os estudos de crianças 
e adolescentes até completarem a maior idade (18 anos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
 
Figura 2 – Frequência do total de casos de violência autoprovocada de adolescentes 
residentes do município de Niterói em relação à escolaridade no período de 2010 a 
2018. 
 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
Os campos de orientação sexual, identidade de gênero e transtornos mentais 
apresentam precariedadede preenchimento adequado, como é visto a seguir, nas 
Tabelas 3 e 4. Ressalta-se que são informações pertinentes, pois o adolescente pode 
estar em sofrimento psíquico por não ser aceito e não se aceitar como é. 
 
 
 
 
 
 
 
52,5 
0 
3,75 1,88 
18,13 
5,63 
12,5 
5,63 
0 0 0 
0
10
20
30
40
50
60
%
35 
 
 
Tabela 3 – Frequência de casos de violência autoprovocada em adolescentes 
residentes do município de Niterói no período de 2010 a 2018 de acordo com a 
orientação sexual. 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
Tabela 4- Frequência de casos de violência autoprovocada em adolescentes residentes 
do município de Niterói no período de 2010 a 2018 de acordo com a identidade de 
gênero. 
Identidade gênero 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Ignorado 3 0 1 3 4 9 6 16 36 78 48,75 
Travesti 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Mulher Transexual 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0,63 
Homem 
Transexual 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Não se Aplica 0 0 0 0 0 9 6 13 26 54 33,75 
Branco 4 11 1 5 6 0 0 0 0 27 16,88 
Total 7 11 2 8 10 18 12 29 63 160 100 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
É visto que a maioria dos adolescentes em situação de violências 
autoprovocadas tem 16 anos de idade, onde os mesmos podem responder ambos os 
campos, de acordo com o Dicionário de Dados – Sinan Net (2015) menores de 10 anos 
de idade ambos campos devem ser preenchidos com a variável “Não se aplica”. 
 
 
Orientação 
Sexual 
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Ignorado 3 0 1 3 3 13 6 16 40 85 53,13 
Heterossexual 0 0 0 0 1 4 3 11 18 37 23,13 
Homossexual 
(gay/lésbica) 
0 0 0 0 0 0 1 1 2 4 2,5 
Bissexual 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Não se Aplica 0 0 0 0 0 1 2 1 3 7 4,38 
Branco 4 11 1 5 6 0 0 0 0 27 16,88 
Total 7 11 2 8 10 18 12 29 63 160 100 
36 
 
 
Tabela 5- Frequência de casos de violências autoprovocadas em adolescentes 
residentes do município de Niterói em relação de Local de Ocorrência no período de 
2010 a 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
 Quanto o local da ocorrência, pode-se analisar na Tabela 5 que a Residência é o 
local de ocorrência que mais acontece violências autoprovocadas em adolescentes, 
com a percentagem de 80,23% do casos, e chama a atenção que houve um 
crescimento abrupto desde do ano de 2014 a 2018, onde é mais intrigante o 
crescimento entre os anos de 2016 (n=43),2017(n=95) e 2018 (n=132). Esse campo é 
interessante de ser avaliado pois retrata o comportamento desse adolescente e quem 
sabe de sua dinâmica familiar. 
Em segundo, o local elencado para a ocorrência dessa violência é em Via 
pública 12,87%, sendo que o aumento entre os anos de 2017 (n=13) e 2018 (n=56) foi 
de 4,037 vezes. 
Em relação às Deficiências físicas ou mentais e Transtornos Mentais (Figura 3 e 
Tabela 6), podemos ressaltar o preenchimento se são portadores ou não e se a 
informação foi “ignorada” ou deixada “em branco”. 
 
 
 
 
 
Local de 
Ocorrência 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Residência 5 7 2 9 20 36 43 95 132 349 80,23 
Habitação Coletiva 0 0 0 2 0 0 0 0 0 2 0,46 
Escola 0 0 0 0 0 0 1 1 4 6 1,38 
Local de pratica 
esportiva 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0,23 
Bar ou Similar 0 0 0 1 1 1 1 1 1 6 1,38 
Via pública 2 7 0 2 6 6 9 11 13 56 12,87 
Comércio/Serviços 0 0 0 0 0 1 0 1 3 5 1,15 
Outros 0 1 1 0 1 0 1 3 3 10 2,30 
Total 7 15 3 14 29 44 55 112 156 435 100 
37 
 
 
Figura 3 – Frequência total de casos de violência autoprovocada em adolescentes 
residentes do município de Niterói segundo Deficiência e/ou Transtornos. 
 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
Em relação às Deficiências e Transtornos, pode-se destacar a percentagem de 
63,64% dos adolescentes em situação de violência autoprovocada tem Deficiência e/ou 
Transtorno Mental. 
 
Tabela 6 – Frequência de casos de violência autoprovocada em adolescentes 
residentes do município de Niterói segundo Deficiências e/ou Transtornos, no período 
de 2010 a 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
45 
13,13 
41,88 
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Ign/Branco Sim Não
%
Deficiências/ 
transtornos 
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Def. Física 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 4,55 
Def. Mental 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Def. Visual 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Def. Auditiva 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Transtorno Mental 0 0 0 0 0 1 0 3 10 14 63,64 
Transtorno 
Comportamental 0 0 0 0 1 0 0 2 3 6 27,27 
Outra Deficiência 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 4,55 
Total 0 0 0 0 1 1 0 5 15 22 100 
38 
 
 
 Pode-se ressaltar que antes do ano de 2014 e 2015 não havia o registro dos 
campos de Orientação Sexual, Identidade de Gênero, Deficiências e Transtornos, 
porque esses campos ainda não estavam inseridos na ficha de notificação. 
Além disso, também cabe analisar a recorrência das violências autoprovocadas, 
se passou por outro tipo de violência e o meio de agressão que descreve o perfil do 
autor. 
 
Figura 4 – Frequência total de casos de violência autoprovocada recorrente em 
adolescentes residentes do município de Niterói no período 2010 a 2018. 
 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
 A recorrência é um campo essencial a ser preenchido, porém, é um campo 
negligenciado em relação a um preenchimento veemente que deixa a lacuna, muitas 
vezes, quando se faz necessário traçar o perfil do autor e do sujeito em situação de 
violência (Figura 4). 
 
 
 
 
39,4 
23,1 
37,5 
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
Ign/Branco Sim Não
%
39 
 
 
Tabela 7 – Frequência de tipos de violência inseridos nos casos de violências 
autoprovocadas em adolescentes residentes no município de Niterói no período de 
2010 a 2018 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
 
 É visto na Tabela 7, que se levantou dentro dos casos de violência 
autoprovocada, se os sujeitos estavam ou já estiveram inseridos em situação de outros 
tipos de violência, destacou-se então Violência Física, Negligência/Abandono, Violência 
Psicológica/Moral e Violência Sexual, onde tiveram um aumento significativo de casos 
registrados no ano de 2018. 
Vale ressaltar que, a tipologia “Outra Violência” deve ser preenchida quando a 
violência em questão é autoprovocada e que todas as fichas deveriam especificar qual 
o tipo de violência autoprovocada, já que há vários subtipos (tentativas de suicídio, 
automutilação, suicídio e entre outros) dentro dessa tipologia. 
 
 
 
 
 
 
 
Tipo de Violência 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Física 2 3 1 4 2 6 3 13 16 50 22,32 
Psicológica/moral 0 3 0 2 1 2 0 1 3 12 5,36 
Tortura 0 0 0 1 0 1 0 0 0 2 0,89 
Sexual 0 1 0 1 0 2 0 0 1 5 2,23 
Tráfico de seres Humanos 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0,45 
Financeira/Econômica 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0,45 
Negligência/Abandono 2 6 0 2 5 7 2 2 8 34 15,18 
Trabalho Infantil 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0,45 
Intervenção Legal 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0,45 
Outra Violência 3 2 1 3 5 11 9 25 58 117 52,23 
Total 7 15 2 13 13 31 14 42 87 224 100 
40 
 
 
Tabela 8 – Frequência de meios de agressão usados nos casos de violência 
autoprovocada em adolescentes residentes de Niterói, período de 2010 a 2018. 
Meio de Agressão 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Força corporal / 
Espancamento 
0 0 0 1 1 4 0 0 2 8 4,88 
Enforcamento 0 0 0 0 0 0 1 1 3 5 3,05 
Objeto 
Contundente 
0 1 0 1 0 0 1 0 2 5 3,05 
Objeto perfuro-
cortante 
0 0 0 1 0 0 2 5 19 27 16,46 
Substância/ Objeto 
Quente 
0 0 0 0 0 0 1 3 2 6 3,66 
Envenenamento 2 4 1 4 2 3 5 14 31 66 40,24 
Arma de fogo 0 0 0 1 0 1 0 0 2 4 2,44Ameaça 0 0 0 1 0 0 0 0 1 2 1,22 
Outra Agressão 3 1 1 1 5 8 5 6 11 41 25 
Total 5 6 2 10 8 16 15 29 73 164 100 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
 Os meios de agressão mais elencados para violências autoprovocadas são 
Envenenamento (40,24%), Outra agressão (25 %) e Objeto Pérfuro-Cortante (16,46 %). 
Em relação ao envenenamento, podemos ressaltar que pode ocorrer com qualquer 
substância que seja ingerida, como medicamentos em doses altas, produtos de 
limpeza, pesticidas, drogas e entre outros. O envenenamento por medicamentos é o 
mais comum por conta da oferta maior e mais fácil que se encontra dentro das 
residências, sendo assim os adolescentes acaba elencando esse meio de agressão 
como forma de tentativa de suicídio. 
 O meio de agressão que é denominado como “outra agressão” pode ser 
precipitação de altura, como se jogar de janelas, pontes ou outros meios que não estão 
elencados, sendo assim quando há preenchimento positivo deste campo é necessário 
especificar qual meio de agressão foi elencado para tal violência. 
 
 
 
 
 
41 
 
 
Tabela 9 – Frequência de suspeita de uso de álcool nos casos de violências 
autoprovocadas em adolescentes residentes do município de Niterói no período de 
2010 a 2018 
Suposto uso 
de álcool 
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Ign/Branco 3 4 1 4 7 7 6 12 36 80 50 
Sim 0 1 0 1 2 4 1 2 8 19 11,88 
Não 4 6 1 3 1 7 5 15 19 61 38,13 
Total 7 11 2 8 10 18 12 29 63 160 100 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
 
 
 Como descrito na Tabela 9, podemos observar se houve suspeita de uso de 
álcool pelo autor no ato da violência, sendo assim que 11,88% utilizaram álcool, 38,13% 
optou por não utilizar e 50% dos casos registrados teve esse campo preenchido como 
“ignorado” ou deixado “em branco”. 
 
Tabela 10 – Frequência de Encaminhamentos dos casos de violência autoprovocada 
em adolescentes residentes de Niterói, no período de 2010 a 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte de Dados: SinanNet/COVIG/Niterói 
Dados obtidos: 09/12/2019,sujeitos a alteração 
Encaminhamentos 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total % 
Rede de Saúde 3 0 1 3 3 4 5 20 38 77 55,40 
Rede de Assistência 
Social 
0 0 0 0 0 1 0 5 4 10 7,19 
Rede de Educação 0 0 0 0 0 1 0 1 2 4 2,88 
Rede de Atendimento 
à Mulher 
0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0,72 
Conselho Tutelar 0 0 0 0 1 8 3 8 24 44 31,65 
Conselho do Idoso 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Delegacia do Idoso 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Centro de Referência 
Direitos Humanos 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Ministério Público 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Delegacia 
Criança/Adolescente 
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Delegacia de 
Atendimento à Mulher 
0 0 0 0 0 1 0 1 0 2 1,44 
Outras delegacias 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Justiça da Infância e 
Juventude 
0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0,72 
Defensoria Pública 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 
Total 3 0 1 3 4 15 8 36 69 139 100 
42 
 
 
 
 A Tabela 10, mostra os encaminhamentos dos casos registrados, cabe ressaltar 
que o total de encaminhamentos (n=139) é menor que os dos casos registrados 
(n=160) sendo que são dados extraídos no mesmo dia e horário e o período 2010 a 
2018 é o mesmo. Sendo intrigante o fato que todos os casos deveriam ter sido 
encaminhados obrigatoriamente para o Conselho Tutelar , mas é visto na tabela que 
apenas 44 casos dos 160 registrados e estudados foram encaminhados para o 
Conselho Tutelar. 
 
 
 
4.2- DISCUSSÃO 
 
 4.2.1- Análise dos Resultados 
 
 Os resultados serão discutidos de acordo com a sequência da Ficha de 
Notificação de violência, onde os campos que foram pertinentes para o estudo e com 
isso as variáveis extraídas para que pudessem ser analisadas de forma condizente com 
a realidade que o perfil epidemiológico demonstrou. 
O primeiro item é a Análise dos Resultados onde é analisado cada resultado das 
variáveis escolhidas para construir o perfil epidemiológico e entender o perfil desses 
adolescentes. Já no segundo item discutir sobre Sugestões de ações prevenção da 
violência autoprovocada e de promoção de saúde. Ambos itens, discussão a luz do 
referencial conceitual Botega (2015). 
 O perfil predominante das vítimas de violência autoprovocada em adolescentes 
durante o período de 2010 a 2018, sexo feminino, na idade de 16 anos, pretas/pardas, 
escolaridade com informação ignorada ou em branco. 
 O fato do sexo feminino ser maior entre as violências autoprovocadas pode estar 
atribuído a vários fatores porém o ato fatal é baixo na população feminina que pode 
estar relacionado ao baixo consumo de álcool e drogas, à religiosidade, à consciência 
de impulsividade, a maior procura por ajuda e tratamento, e entre tantos outros fatores. 
Cabe fazer uma ressalva porque segundo Botega (2015,p.105) “[...] em um de seus 
estudos no HC da Unicamp interpretando dados constatou que a ideação suicida 
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apareceu associada à depressão, ao uso abusivo de bebidas alcoólicas e ao 
tabagismo.” Neste estudo, é visto que o campo que é direcionado ao uso de bebidas 
alcoólicas não tem um preenchimento efetivo e eficaz, que acaba mascarando a 
realidade. 
 A violência autoprovocada em adolescentes acontece muitas vezes por conta da 
sua imaturidade emocional, impulsividade e imediatismo, não sabendo lidar com as 
adversidades e estressores agudos, como término de relacionamentos, divórcio dos 
pais, violências em seu território de residência, situações de humilhação e vergonha, 
embates com os pais e responsáveis legais, rejeição pelo grupo social, perda de entes 
queridos, a não aceitação de sua sexualidade ou identificação de gênero e outros 
desencadeantes de pensamentos de violência autoprovocada, visto que são possíveis 
motivações que levam as violências autoprovocadas, e assim, vale ressaltar que a ficha 
de notificação não há um campo para especificar as possíveis motivações para as 
violências autoprovocadas, portanto não há como identificar as causas e trabalhar mais 
direcionado com as subjetividades desses adolescentes. 
 
Diferenciar reações de um jovem que podem ser consideradas normais de 
sinais de alerta de que algo grave está por acontecer pode ser muito difícil. 
Muitos sinais são inespecíficos, pois também aparecem quando do surgimento 
de transtornos mentais graves (esquizofrenia, depressão, drogadição e 
transtorno bipolar). Esses transtornos, por sua vez, costumam ter início na 
adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta. (BOTEGA,2015 p.156) 
 
 Sobre a orientação sexual e identificação de gênero, os resultados que estão na 
Tabela 4 e 5 mostram que Ignorado tem percentagem de 53,13 % e 48,75 % 
respectivamente. Sobre os dados de “em branco”, em ambos os campos, a 
percentagem é de 16,88%, o que leva a hipótese sobre o desconforto dos profissionais 
que notificaram em realizar perguntas acerca da sexualidade dos usuários ou a 
dificuldade de compreensão sobre os novos conceitos adotados para orientação sexual 
e gênero. Segundo Botega (2015, p. 91): 
 
De modo geral, os estudos mostram maior prevalência de comportamento 
suicida em indivíduos homossexuais e bissexuais, principalmente entre 
adolescentes e adultos jovens. Vários fatores combinam-se nessas condições: 
atitudes, estigma e discriminação sociais; estresse ao revelar a condição a 
amigos e familiares; inconformidade com o gênero; agressão contra 
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homossexuais. Entre indivíduos homossexuais, mais homens tentam suicídio. 
(BOTEGA, 2015 p.91) 
 
No entendo, a falta de preenchimento do campo não permite identificar a 
prevalência real da violência autoprovocada nos adolescentes pertencentes a esses 
grupos. 
Os adolescentes também podem sofrer de deficiências e transtornos mentais, 
como citado acima por Botega, nos resultados da pesquisa consegue-se identificar 
13,13% sofrem de deficiência/transtornos dentro desta

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