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TRANSCRIÇÃO DA AULA Valdira Lima (Módulo 1 aula 2 parte 2)

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TRANSCRIÇÃO DA AULA
Valdira Lima (Módulo 1 – aula 2 – parte 2)
Os fatores de risco. Os eventos estressantes da vida são considerados com
qualquer mudança no ambiente que normalmente induzem a um alto padrão de
tensão e interfere nos padrões normais de respostas do indivíduo. Ou seja, quando
a gente fala de fatores de risco, assim, é algo que interfere no meu padrão normal
de resposta. Existe uma vulnerabilidade maior dentro dessa questão dos fatores de
risco. Mas os principais fatores de risco das forças de segurança. Perda de um
colega ou amigo. Gente, isso acontece quase que diariamente. E as vezes a pessoa
chega ao atendimento bastante consternada com a perda de um colega, ou de um
amigo. E aí eu posso dividir com vocês, hoje eu estou aqui talvez você possa
assistir às aulas bem mais para frente. Mas essa questão da pandemia e eu vou
falar um pouquinho como que eu me protejo. Eu falo que não assisto mais a
televisão aberta. Essa é uma das questões depois eu dou mais algumas dicas.
Mas eu olho meu WhatsApp, olho o Facebook e todos os dias têm um policial
militar morrendo por conta da COVID. Eu estou falando que eu estou dividindo isso
com vocês, porque hoje a minha energia não está 100%. E eu digo porquê. Porque
ontem por exemplo, perdi um grande amigo um grande amigo, pela pandemia. É
óbvio que isso mexe com a gente. E a gente trabalha isso também em terapia. Mas
eu não estou falando só da pandemia. Nós estamos numa profissão de risco e
estando em uma profissão de risco perder um colega, um amigo é constante. Isso
reverbera não só nas pessoas que estão próximas. E a gente desenvolveu um
trabalho na área de psicologia da Polícia Militar, desenvolve ainda, provavelmente
alguma outra pessoa vai falar especificamente. O trabalho da Polícia Militar é um
trabalho de intervenção mais direta que se chama Incidentes Críticos. Então nós
mandávamos lá uma equipe, para trabalhar as pessoas que estavam mais próximos
ao policial militar que morreu. Quer por um tiro, quer por suicídio. Então nós
trabalhávamos as pessoas mais próximas e trabalhávamos o Batalhão como todo
num segundo momento. Então, é um trabalho muito importante, muito interessante
e que existem muitos protocolos. Um outro fator de risco nas Forças de Segurança,
e quando eu falo isso eu falo com muito cuidado porque tem gente que não gosta,
principalmente os bombeiros não gostam do que eu vou falar.
Precisamos acabar com a imagem de super-heróis. Os super-heróis eles
existem só lá nos quadrinhos. É só nos quadrinhos. Ele morre e aí ele volta a viver.
Nós somos seres humanos e por trás das fardas, do escudo, do armamento, da
viatura existe um ser humano. E eu preciso saber em que condições psíquicas está
este ser humano. O estresse é um fator de risco nas Forças de Segurança. E nós
temos aí o um trabalho disponível também dentro da instituição que é bem bacana
voltado para essa demanda na Polícia Militar de São Paulo, voltado para esta
demanda. Os problemas pessoais também são fatores de risco nas Forças de
Segurança. Perdas recentes como eu falei anteriormente, instabilidade familiar.
Eu penso que nós temos que trabalhar muito a questão do núcleo familiar,
muito. Muitas vezes hoje o homem e a mulher trabalham fora até por necessidade.
E aí existe uma ausência e quando a gente se encontra. Como é que as coisas
ficam? Ou eu estou no bico ou eu estou na polícia. E tem educação dos filhos.
Enfim, tem uma série de questões que podem aí causar esta instabilidade familiar.
Ausência de apoio social também é um fator de risco nas Forças de Segurança. O
bullying. Gente é fundamental falar do bullying porque é uma questão cultural,
até de subcultura na nossa instituição. A gente tem até um termo que
provavelmente é usado em outras instituições e como eu tenho dado aula em vários
estados, em cada um a gente aprende uma fala diferente, um dialeto diferente. Que
é bem bacana, mas a gente tem uma expressão que fala assim: "o rasgou, tá bom",
então a gente fica ali pilhando a pessoa, pilhando a pessoa e a hora que a pessoa
estoura. “Ah, que bom”. A gente sente um alívio por isso.
Cuidado com bullying, cuidado com brincadeiras em alojamento, cuidado. A
gente não sabe em que condições que psíquicas está aquela pessoa. E como eu
falei quando eu estava falando lá da identidade militar, nós tendemos a nos fechar
mais depois de um tempo. Para nos preservarmos. É uma característica nossa. Mas
cuidado com as brincadeiras. E aí eu me permito falar aqui uma forma bem simplista
de senso comum. Eu lembro na época que eu estava na academia os meninos
tinham até uma brincadeira. Uns com os outros. E era uma brincadeira que eu não
um achava muito saudável e eu falava assim: “não brinca comigo dessa forma
porque eu não sei qual seria minha reação”.
Ainda dentro dos principais fatores de risco nas Forças de segurança existe a
baixa autoestima, acesso a meios letais como nós falamos. Depressão,
dependência de álcool e drogas. Eu costumo dizer assim, a gente bebe porque a
ocorrência foi bacana, a gente bebe porque a ocorrência saiu quadrada, a gente
bebe porque no meu caso, o Corinthians ganhou, a gente bebe porque o
Corinthians perdeu, a gente bebe porque que eu estou bem no comando, a gente
bebe porque eu estou ruim junto ao comando. Então é uma questão cultural muito
forte nas nossas instituições. Ninguém vai te convidar para falar assim vamos tomar
um suco de laranja ali na esquina. E isso é extremamente incentivado. Quando a
gente fala: “como você motiva sua tropa?”. “Chefe, eu faço churrasco. A gente toma
uma cervejinha e está tudo certo”.
Será que está tudo certo? Eu já recebi policial que chegava lá e falou assim:
“poxa eu ia desabafar com o meu intermediário, com meu sargento e tal e aí ele
sentava e dizia: não, vamos tomar uma aí e a gente resolve seus problemas
tomando uma". Nós precisamos ter um pouco de cuidado porque este é um fator de
risco muito grande na nossa instituição. E quando a gente fala aí dos transtornos,
inclusive os que tem mais a ver com a questão suicídio. Transtorno bipolar,
esquizofrenia, dependência de álcool, enfim. Nós tínhamos uma dificuldade de
juntar os trabalhos de psicologia e de serviço médico. Eu acho que é importante?
Falar que tudo é lindo maravilhoso. Nós tínhamos um pouco essa dificuldade.
Porque, quando a gente fala por exemplo de suicídio na Polícia Militar. Pelo menos
na Polícia Militar de São Paulo. Dificilmente nos dias atuais existe a subnotificação.
Por quê? Porque que nós temos como rastrear se houve um suicídio ou não houve
um suicídio. Mas nós não são tínhamos essa estatística em relação à área médica.
Quantas pessoas tem depressão, quantas pessoas têm transtorno bipolar. Então eu
senti um pouco a dificuldade na falta de cruzamento dessas informações e que são
extremamente importantes. Cruzar essas informações são extremamente
importantes. Porque às vezes o Policial Militar procurava a área de psicologia, mais
mesmo que fosse encaminhado, não procurava área de psiquiatria. Ou ia só à área
médica e não nos procurava. Então eu penso que esse trabalho em conjunto é
extremamente importante.
Ainda dentro dos principais fatores de risco nas Forças de Segurança existe
o sentimento de desesperança, histórico familiar de suicídio, tentativa anterior,
ideação suicida, tratamento inadequado ou tardio. Ainda dentro dos principais
fatores de risco, nas Forças de Segurança, existe a falta de valorização da polícia
um todo. Existe também dentre os principais fatores de risco a dupla, tripla,
quadrupla, muitas vezes jornadas de trabalho. Gente, isso é um dado que é
bastante complicado. Porque eu falo assim, tem pessoas que falam assim: me
interesso pelo absenteísmo. E eu falo assim me interesso pelo presenteísmo. Do
que adianta eu estar lá o dia inteiro sentada numa viatura ou atrás de uma mesa se
não estou ali. Eu tenho que estar presente, quer na viatura, que eu posso até correr
riscos maiores, quer numa mesa desenvolvendo um trabalho administrativo.
Essas jornadas a mais elas dificultam a concentração elas dificultamo estar
presente naquele momento na instituição. Elas dificultam os meus relacionamentos
interpessoais. Porque é que eu falo, eu estou na polícia, eu estou no bico. Existem
as escalas que são desgastantes. Eu lembro quando eu estava na academia do
Barro Branco falava assim: “puxa vida se se a fórmula 1 começa a uma hora da
tarde porque eu tenho que estar lá às cinco horas da manhã lá?”. É óbvio que tem
toda uma preparação, enfim, mas olha o desgaste disso?
Um outro dado que está dentro dos principais fatores de risco das Forças de
Segurança. Problema de sono. Que é aquilo que eu falo gente tá tudo aliado. Eu
trabalho às vezes 12 horas em uma viatura aí eu saio de lá e vou para um bico para
conseguir manter um padrão de vida melhor E aí eu não dou conta não é o que a
gente fala sempre assim eu preciso dentro do das minhas necessidades e das
minhas possibilidades tem que ter um equilíbrio. Então, problemas de sono,
dificuldade de concentração, sentimento de fracasso, dificuldade de expressar
sentimentos.
Gente, isso também está aliado a imagem super-herói, da super-heroína. A
gente não pode expressar o que a gente sente. Por que não? Chorar faz um bem
danado. Dificuldade de confiar. Penso que nós devemos preservar realmente
porque nós temos gente do bem e gente do mal. E às vezes tem gente do mal que
fica 12 horas também. Até ser descoberto fica 12 horas com a gente na viatura. Mas
nós devemos confiar um pouco mais no outro. Dividir um pouco mais. A
presença de múltiplos fatores de risco não implica necessariamente que uma
pessoa irá praticar. O é importante lembrar que cada indivíduo possui características
próprias e, portanto, reage de forma diferente, diante das suas experiências de vida.
Cada um é cada um. Quando eu falo assim. Eu jogo problema. Para uns pode ser
um problemão, o outro resolve em dois minutos para o outro pode nem ser
problema. Cada um tem características individuais. Cada um tem uma forma de se
desenvolver. Cada um aprendeu a lidar com as suas emoções de uma forma
diferente.

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