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PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA DE TERESINA MANUAL DE DRENAGEM V MAIO/2011 I SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... V LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................... VII LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................ X LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .............................................................................................. XII 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 1.1 CONTEÚDO DO MANUAL ..................................................................................................... 1 2 INTRODUÇÃO GERAL AOS PRINCÍPIOS DA DRENAGEM PLUVIAL URBANA .................. 3 2.1 PROCESSOS HIDROLÓGICOS E A URBANIZAÇÃO ........................................................................ 3 2.1.1 Ciclo hidrológico ................................................................................................... 3 2.1.2 Impactos da urbanização ..................................................................................... 4 2.2 GÊNESE DAS INUNDAÇÕES ................................................................................................... 6 2.2.1 Inundações ribeirinhas .......................................................................................... 7 2.2.2 Inundações urbanas .............................................................................................. 8 2.3 PRINCÍPIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS SISTEMAS DE DRENAGEM PLUVIAL ........ 9 2.4 ALTERNATIVAS PARA A GESTÃO DO ESCOAMENTO PLUVIAL URBANO ......................................... 12 2.5 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DAS MEDIDAS DE CONTROLE ESTRUTURAIS ............................... 12 2.5.1 Armazenamento ................................................................................................. 12 2.5.2 Infiltração ........................................................................................................... 14 2.5.3 Canalização/Ampliação ...................................................................................... 14 2.6 CRITÉRIOS DE PROJETO...................................................................................................... 18 2.6.1 Riscos .................................................................................................................. 18 2.6.2 Chuva de projeto ................................................................................................. 21 2.6.3 Tempo de concentração ..................................................................................... 26 II 2.6.4 Cenários de planejamento .................................................................................. 30 2.6.5 Escalas de projeto (fonte, microdrenagem e macrodrenagem) ......................... 32 3 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES RIBEIRINHAS .................................. 34 3.1 PREVISÃO DAS INUNDAÇÕES .............................................................................................. 34 3.2 PREDIÇÃO DE CHEIA .......................................................................................................... 36 3.3 MEDIDAS DE CONTROLE .................................................................................................... 37 3.3.1 Medidas estruturais ............................................................................................ 38 3.3.1.1 Medidas extensivas .................................................................................................... 39 3.3.1.2 Medidas intensivas ..................................................................................................... 39 3.3.2 Medidas não estruturais ..................................................................................... 42 4 TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS ....................................... 50 4.1 SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA ...................................................................................... 50 4.1.1 Higienista ............................................................................................................ 50 4.1.2 Métodos compensatórios ................................................................................... 52 4.1.3 Desenvolvimento urbano de baixo impacto ....................................................... 53 4.2 MEDIDAS DE CONTROLE ESTRUTURAIS ................................................................................. 56 4.2.1 Na fonte .............................................................................................................. 57 4.2.1.1 Preparo do Solo .................................................................................................. 57 4.2.1.2 Biorretenção ....................................................................................................... 58 4.2.1.3 Telhado Verde ..................................................................................................... 59 4.2.1.4 Pavimentos permeáveis ...................................................................................... 59 4.2.1.5 Captação e aproveitamento de água da chuva .................................................. 62 4.2.1.6 Trincheira de infiltração ...................................................................................... 63 4.2.1.7 Bacias de infiltração ........................................................................................... 64 4.2.1.8 Valos de infiltração ............................................................................................. 65 III 4.2.1.9 Poço de infiltração .............................................................................................. 67 4.2.1.10 Manta de infiltração ........................................................................................... 68 4.2.1.11 Microrreservatórios ............................................................................................ 69 4.2.2 Na microdrenagem ............................................................................................. 71 4.2.2.1 Bacias ou reservatórios de detenção .................................................................. 72 4.2.2.2 Canalização (transporte) .................................................................................... 77 4.2.3 Na macrodrenagem ............................................................................................ 78 4.2.3.1 Bacias ou reservatórios de detenção .................................................................. 79 4.2.3.2 Canalização (transporte) .................................................................................... 79 4.3 MEDIDAS DE CONTROLE NÃO ESTRUTURAIS .......................................................................... 80 5 TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO ......................................................................... 83 5.1 REDES DE MICRODRENAGEM .............................................................................................. 83 5.1.1 Dados necessários .............................................................................................. 83 5.1.2 Configuração da drenagem ................................................................................ 84 5.1.3 Critériospara o traçado da rede pluvial ............................................................. 85 5.1.4 Componentes hidráulicos do sistema de redes de microdrenagem pluvial ........ 86 5.1.5 Controle de escoamento utilizando estruturas de amortecimento .................... 87 5.1.6 Disposição dos componentes .............................................................................. 90 5.1.7 Determinação da vazão de projeto para rede de microdrenagem: Método Racional ............................................................................................................................ 92 5.1.8 Dimensionamento hidráulico da rede de condutos ............................................ 95 5.1.8.1 Capacidade de condução hidráulica de ruas e sarjetas ...................................... 95 5.1.8.2 Bocas-de-Lobo .................................................................................................... 97 5.1.8.3 Canalizações ..................................................................................................... 103 5.2 REDES DE MACRODRENAGEM ........................................................................................... 110 IV 5.2.1 Concepção de projeto ....................................................................................... 111 5.2.2 Planejamento, dimensionamento e verificação ............................................... 113 5.2.3 Modelagem hidrológica .................................................................................... 120 5.2.4 Modelagem hidráulica ...................................................................................... 132 5.2.4.1 Propagação em canais ou condutos ................................................................. 132 5.2.4.2 Verificação da linha de energia em regime permanente ................................. 139 5.3 ESTRUTURAS DE ARMAZENAMENTO .................................................................................. 156 5.3.1 Concepção de projeto ....................................................................................... 156 5.3.2 Reservatórios de microdrenagem e macrodrenagem ...................................... 159 5.3.3 Reservatórios de lote ........................................................................................ 167 5.4 ESTRUTURAS DE INFILTRAÇÃO .......................................................................................... 177 5.4.1 Viabilidade de implantação .............................................................................. 177 5.4.2 Estimativa dos parâmetros ............................................................................... 179 5.4.3 Dimensionamento de pavimentos permeáveis e sistemas de infiltração em planos .......................................................................................................................... 186 5.4.4 Dimensionamento de bacias, valos, poços e trincheiras de infiltração ............ 191 5.4.5 Dimensionamento de valos de infiltração para funcionarem como canais ..... 193 6 EQUIPE TÉCNICA.................................................................................................... 195 6.1 EQUIPE CHAVE .............................................................................................................. 195 6.2 EQUIPE DE APOIO TÉCNICO ............................................................................................. 195 7 BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 196 V APRESENTAÇÃO O Plano Diretor de Drenagem Urbana de Teresina, objeto do Contrato nº 04/2010, firmado entre a Prefeitura Municipal de Teresina – PMT, por intermédio da Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação – SEMPLAN, e a Concremat Engenharia e Tecnologia S. A., tem como finalidades principais, dentre outras: 1) a definição de diretrizes institucionais visando estabelecer condições de sustentabilidade para as políticas de drenagem urbana; 2) a caracterização das condições de funcionamento hidráulico das tubulações, galerias, canais a céu aberto, canais naturais, dispositivos de captação e conexão entre redes; e 3) as proposições, em nível de gestão, de obras de curto, médio e longo prazo necessárias ao equacionamento dos problemas encontrados na drenagem urbana de Teresina. Dentre os produtos do Plano Diretor de Drenagem Urbana de Teresina, encontram-se os Manuais Técnicos. A coleção de manuais, composta por três volumes, visa orientar projetistas e profissionais dos órgãos responsáveis pelo planejamento, implantação e gerenciamento dos sistemas de drenagem urbana. Os manuais previstos são: Manual de atualização do cadastro do sistema de drenagem, incorporando medidas de manutenção e limpeza preventiva; Manual de inspeção periódica do sistema de drenagem; Manual de projeto indicando os critérios e metodologias a serem seguidos quando do projeto de novas intervenções, especialmente de obras hidráulicas de condução e detenção. O Manual de Projeto orientará quanto aos métodos de projeto e critérios construtivos, ficando a critério do projetista o seu uso. Os elementos que devem ser obedecidos no projeto e implantação são os da legislação pertinente e as normas de apresentação. Cabe ao projetista desenvolver seus projetos dentro do conhecimento existente sobre o assunto. VI O Manual de Projeto corresponde ao volume 3, que tem o principal objetivo de dar a orientação aos projetistas e à PMT quanto a critérios de projeto e aspectos específicos da legislação de controle da drenagem urbana previstos no Plano Diretor de Drenagem Urbana de Teresina. O desenvolvimento deste manual foi baseado na experiência de cidades como Porto Alegre/RS, que desde 2002 possui um volume semelhante. Parte dos conceitos e metodologias aqui apresentadas foram extraídas do Manual disponibilizado no site da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Além deste volume, foi utilizado o material didático elaborado para o treinamento no curso de capacitação da Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Saneamento Ambiental (RECESA) - Núcleo Regional Sul (Souza et al, 2007). Este manual deve ser constantemente atualizado, visto que existe um contínuo desenvolvimento de tecnologias e revisão de metodologias de dimensionamento. Além da consulta deste material, os projetistas deverão atender às especificações e sugestões que eventualmente a equipe da PMT possa fazer. Celso Silveira Queiroz Diretor do Projeto VII LISTA DE FIGURAS Figura 2.1. Seção transversal de um rio mostrando o vale de inundação (Fonte: RECESA/Souza et al., 2007 ) ....................................................................................................... 8 Figura 2.2. Hidrogramas típicos de pequenas áreas urbanas, onde o tempo de concentração é muito pequeno (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre) .......................................... 13 Figura 2.3. Tempo de concentração em uma bacia hidrográfica. ........................................... 27 Figura 3.1. Situação prévia e perspectiva da restauração do rio Cheonggyecheon (Seul, Coréia do Sul). .......................................................................................................................... 42 Figura 3.2. Zoneamento de áreas inundáveis, sendo (1) a zona de passagem de cheia; (2) zona com restrições e; (3) zona de baixo risco (Fonte: Souza et al., 2007) ............................. 46 Figura 4.1. Biorretenção. .......................................................................................................... 58 Figura 4.2. Telhados Verdes. .................................................................................................... 60 Figura 4.3. Pavimentos Permeáveis. ........................................................................................60 Figura 4.4. Aproveitamento de água de chuva (Brasil, Austrália e E.U.A). .............................. 63 Figura 4.5. Trincheira de infiltração (Manual de Drenagem de Porto Alegre). ....................... 64 Figura 4.6. Bacia de infiltração (CIRIA, 1996). .......................................................................... 65 Figura 4.7. Valo de infiltração (CIRIA, 1996). ........................................................................... 66 Figura 4.8. Vista do valo de infiltração (Urbonas e Stahre, 1993). .......................................... 67 Figura 4.9. Detalhe de um valo de infiltração com uma contenção (Urbonas e Stahre, 1993). .................................................................................................................................................. 67 Figura 4.10. Poço de infiltração (CIRIA, 1996). ......................................................................... 68 Figura 4.11. Manta de infiltração (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre) ................. 69 Figura 4.12. Detenção na fonte (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre).................... 70 Figura 4.13. Detenções na cidade de Porto Alegre. ................................................................. 72 VIII Figura 4.14. Sistema de drenagem com capacidade limitada na seção A e uso da detenção para amortecimento da vazão para volume superior a capacidade de escoamento em A (detenção off-line). (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre) ....................................... 74 Figura 4.15. Detenção ao longo do sistema de drenagem (parcialmente on-line). Controle de saída limitado pela seção de jusante. (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre). ......... 74 Figura 4.16. Hidrogramas de pré e pós-ocupação – on-line. ................................................... 75 Figura 4.17. Hidrogramas de pré e pós-ocupação – off-line. ................................................... 76 Figura 5.1. Alinhamento das canalizações de microdrenagem quando há mudança de diâmetro. .................................................................................................................................. 87 Figura 5.2. Reservatórios de detenção e de detenção (Adaptado de Maidment, 1993). ....... 89 Figura 5.3. Disposição dos sistemas da rede coletora de microdrenagem. ............................ 91 Figura 5.4. Seção transversal de uma sarjeta. ......................................................................... 95 Figura 5.5. Tipos de bocas-de-lobo (DAEE/CETESB, 1980). ...................................................... 98 Figura 5.6. Capacidade de engolimento (DAEE/CETESB, 1980). .............................................. 99 Figura 5.7. Capacidade de esgotamento das bocas-de-lobo com depressão de 5 cm em pontos baixos das sarjetas (DAEE/CETESB, 1980). ................................................................. 100 Figura 5.8. Traçado da rede de microdrenagem pluvial. ....................................................... 104 Figura 5.9. Delimitação das áreas de contribuição. ............................................................... 106 Figura 5.10. A ocupação da bacia hidrográfica e suas consequências (Fonte: DEP/POA, 2002). ................................................................................................................................................ 112 Figura 5.11. Planejamento de controle de bacia no primeiro estágio de urbanização. ........ 113 Figura 5.12. Etapas do planejamento (Fonte: DEP/POA, 2002). ............................................ 116 Figura 5.13. Hidrograma unitário triangular do SCS. ............................................................. 123 Figura 5.14. Convolução do hidrograma unitário do SCS (Fonte: DEP/POA, 2002). .............. 125 Figura 5.15. Variação dos parâmetros. .................................................................................. 134 IX Figura 5.16. Curva de precisão (Jones, 1981). ........................................................................ 134 Figura 5.17. Determinação da linha de energia utilizando a equação de Bernoulli. ............. 140 Figura 5.18. Esquema de expansão em condutos. ................................................................. 143 Figura 5.19. Esquema de contração na rede de drenagem. .................................................. 144 Figura 5.20. Determinação do ângulo . ................................................................................ 148 Figura 5.21. Determinação do fator m. .................................................................................. 149 Figura 5.22. Sistema de drenagem para verificação da linha de energia. ............................. 151 Figura 5.23. Perfil longitudinal do sistema de drenagem. ..................................................... 152 Figura 5.24. Linha de energia e linha d’água.......................................................................... 157 Figura 5.25. Relação entre cota e armazenamento. .............................................................. 161 Figura 5.26. Extravasores de reservatórios. ........................................................................... 161 Figura 5.27. Cálculo do amortecimento em reservatório: funções de armazenamento. ..... 162 Figura 5.28. Função vazão x armazenamento. ....................................................................... 162 Figura 5.29. Característica do descarregador de fundo. ........................................................ 170 Figura 5.30. Determinação de hc em um reservatório. ......................................................... 171 Figura 5.31. Diâmetro dos descarregadores de fundo (orifícios) em função da vazão e carga hidráulica (diâmetros até 60mm). .......................................................................................... 172 Figura 5.32. Diâmetro dos descarregadores de fundo (orifícios) em função da vazão e carga hidráulica (diâmetros maiores ou igual a 60mm). ................................................................. 173 Figura 5.33. Diâmetro dos descarregadores de fundo (bocal) em função da vazão e carga hidráulica (diâmetros até 60mm). .......................................................................................... 173 Figura 5.34. Diâmetro dos descarregadores de fundo (bocal) em função da vazão e carga hidráulica (diâmetros maiores ou igual a 60mm). ................................................................. 174 Figura 5.35. Área da seção transversal do descarregador de fundo (orifício) em função da vazão e carga hidráulica. ........................................................................................................ 175 X Figura 5.36. Classificação trilinear dos solos (Caputo, 1969). ................................................ 184 Figura 5.37. Curva envelope (Adaptado de Urbonas e Stahre, 1993) ................................... 185 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1. Dispositivos de infiltração. .................................................................................... 17 Tabela 2.2. Período de recorrência para projetos de redes de drenagem pluvial urbana. ..... 20 Tabela 2.3. Hietograma de 60 minutos pelo método dos blocos alternados. ......................... 26 Tabela 2.4 . Equações para a estimativa do tempo de concentração (Fonte: Adaptado de Silveira, 2004) * ........................................................................................................................ 27 Tabela 2.5 .Coeficiente de rugosidade de Manning. ............................................................... 30 Tabela 3.1. Medidas estruturais para o controle de inundações ribeirinhas e suas características. ..........................................................................................................................38 Tabela 5.1 . Valores de C por tipo de ocupação (adaptado: ASCE, 1969 e Wilken, 1978). ..... 94 Tabela 5.2. Valores de C de acordo com superfícies de revestimento (ASCE, 1969). ............ 94 Tabela 5.3. Coeficiente de rugosidade de Manning . ............................................................... 96 Tabela 5.4. Fatores de redução de escoamento das sarjetas (DAEE/ CETESB, 1980). .......... 102 Tabela 5.5. Fator de redução do escoamento para bocas-de-lobo (DAEEE/CETESB, 1980).. 102 Tabela 5.6. Elementos geométricos das seções dos canais. .................................................. 105 Tabela 5.7. Planilha de cálculo de redes de microdrenagem. ............................................... 108 Tabela 5.8. Relações para Fator Hidráulico de seções circulares. ......................................... 110 Tabela 5.9. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 1. . 118 Tabela 5.10. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 2. 119 Tabela 5.11. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem – Caracterização 2. 119 Tabela 5.12. Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas. ........................................... 122 XI Tabela 5.13. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem 1. ........................... 126 Tabela 5.14. Modelo de procedimento de projeto de macrodrenagem 2. ........................... 127 Tabela 5.15. Exemplo de planilha de cálculo para determinar a precipitação efetiva pelo método do CN-SCS. ................................................................................................................ 127 Tabela 5.16. Parâmetros para convolução. ............................................................................ 129 Tabela 5.17. Planilha de cálculo para a convolução da chuva aplicando o princípio do hidrograma unitário. .............................................................................................................. 130 Tabela 5.18. Modelo de procedimento para aplicação do método de Muskingum-Cunge. . 137 Tabela 5.19. Exemplo de planilha de propagação do escoamento no método Muskingum- Cunge. ..................................................................................................................................... 138 Tabela 5.20. Coeficiente de perda de carga por expansão. ................................................... 143 Tabela 5.21. Coeficiente de perda de carga por contração. .................................................. 144 Tabela 5.22. Coeficiente de perda de carga devido a curvas................................................. 145 Tabela 5.23. Coeficientes de perdas em junções e poços-de-visita. ..................................... 146 Tabela 5.24. Coeficiente de perda de carga por junções. ...................................................... 146 Tabela 5.25. Planilha para a determinação do regime de escoamento. ............................... 153 Tabela 5.26. Planilha de cálculo para verificação da linha de energia. ................................. 154 Tabela 5.27. Perdas de carga. ................................................................................................ 156 Tabela 5.28. Modelo de procedimento de projeto: Dimensões e curva cota volume de reservatório. ........................................................................................................................... 164 Tabela 5.29. Modelo de procedimento de projeto: Descarregador de fundo e/ou vertedor. ................................................................................................................................................ 165 Tabela 5.30. Exemplo de planilha de cálculo para determinação da função auxiliar para a propagação do escoamento utilizando o algoritmo de Puls. ................................................. 166 XII Tabela 5.31. Exemplo de planilha para realização da propagação do escoamento utilizando o algoritmo de Puls.................................................................................................................... 167 Tabela 5.32. Área da seção transversal dos descarregadores de fundo – circulares. ........... 170 Tabela 5.33. Sistema de pontuação para avaliação de possíveis locais de implantação de dispositivos de infiltração e/ou percolação (Urbonas e Stahre, 1993). ................................. 179 Tabela 5.34. Classificação nominal da brita (Araújo et al., 2000). ......................................... 180 Tabela 5.35. Característica dos concretos sem finos para agregado de 9,5 a 19 mm. (McIntosh, Botton e Muir,1956 apud Neville, 1982). .......................................................... 181 Tabela 5.36. Experimentos em superfícies urbanas (Genz, 1994). ........................................ 182 Tabela 5.37. Resultados das simulações de chuva nas superfícies (Araújo et al., 2000). ..... 182 Tabela 5.38. Alguns valores típicos de taxas de infiltração. .................................................. 183 Tabela 5.39. Condutividade hidráulica saturada em diversos tipos de solo (Urbonas e Stahre, 1993). ...................................................................................................................................... 184 Tabela 5.40. Porosidade efetiva para materiais típicos (Urbonas e Stahre, 1993). .............. 184 Tabela 5.41. Alguns valores típicos de coeficientes de infiltração, baseados na textura do solo (Watkins apud CIRIA, 1996). ................................................................................................... 186 Tabela 5.42. Fatores de segurança para o coeficiente de infiltração (CIRIA, 1996). ............. 186 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AGESPISA Águas e Esgoto do Piauí S/A ANA Agência Nacional de Águas CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CHESF Companhia Hidroelétrica do São Francisco XIII CPRM Serviço Geológico do Brasil DMAE Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INMET Instituto Nacional de Meteorologia NSF National Sanitation Foundation PDDrU Plano Diretor de Drenagem Urbana PERH Plano Estadual de Recursos Hídricos PMT Prefeitura Municipal de Teresina SCS Soil Conservation Service SDU Superintendência de Desenvolvimento Urbano SEMPLAN Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenação SIG Sistema de Informações Geográficas SNIRH Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos 1 1 INTRODUÇÃO Neste manual são apresentados os principais conceitos, tecnologias e metodologias de dimensionamento atualmente aplicados ao projeto de estruturas de drenagem pluvial. No entanto, poderão ocorrer casos específicos, em que a equipe da PMT sugerirá estudos, técnicas e metodologias não contempladas neste volume. O uso de procedimentos não especificados neste manual deverá ser justificado e previamente aprovado pela equipe da PMT. Este manual não tem a pretensão de esgotar a revisão bibliográfica sobre os temas abordados, mas busca fornecer conceitos básicos e, de forma prática, elementos para que os projetos sejam realizados de acordo com metodologias padronizadas, recomendadas e reconhecidas pela equipe da PMT. A padronização e definição de um conjunto de metodologias conhecidas pela equipe da PMT resultam de particular importância, dada a grande variedade de técnicas utilizadas pelos diferentes profissionais em todo o Brasil. Com a padronização, espera-se que o tempo de análise dos projetos seja reduzido, e que questões subjetivas, como, por exemplo, qual o resultado mais adequado frente a diferentes técnicas de dimensionamento para um mesmo fim, sejam equacionadas. 1.1 Conteúdo do manual Este manual está dividido em cinco capítulos principais: 1. Introdução:as definições preliminares e orientações sobre o uso do manual; 2. Introdução geral aos princípios da drenagem pluvial: neste capítulo são apresentados conceitos gerais sobre o ciclo hidrológico em áreas urbanas, as principais características das inundações urbanas, os tipos de sistemas de 2 drenagem pluvial, e critérios de projeto necessários para o tratamento dos sistemas de drenagem pluvial; 3. Técnicas para o controle de inundações ribeirinhas: neste capítulo são apresentadas as principais técnicas empregadas para o controle das inundações de origem ribeirinha; 4. Técnicas para o controle de inundações urbanas: neste capítulo são apresentadas as principais técnicas empregadas para o controle das inundações, devido à água pluvial no meio urbano, desde microestruturas até as macroestruturas, além de sua aplicabilidade; 5. Técnicas de dimensionamento: este último capítulo destina-se a mostrar as metodologias de dimensionamento das estruturas apresentadas no capitulo anterior. A apresentação é feita de acordo com o princípio de funcionamento das obras apresentadas, sejam elas de armazenamento, infiltração ou de condução. 3 2 INTRODUÇÃO GERAL AOS PRINCÍPIOS DA DRENAGEM PLUVIAL URBANA 2.1 Processos hidrológicos e a urbanização 2.1.1 Ciclo hidrológico O bom entendimento do ciclo hidrológico natural é essencial para a correta identificação dos impactos que o processo de urbanização pode desencadear sobre o mesmo. No ciclo hidrológico natural, a principal força motriz é a energia solar, que provoca o aquecimento do ar, do solo e da água superficial resultando na evaporação da água e no movimento das massas de ar. O vapor de água é transportado de forma ascendente pelo ar e pode condensar na atmosfera formando nuvens. A evaporação dos oceanos é a maior fonte de transferência de vapor para a atmosfera, embora a evaporação de água dos solos, dos rios e lagos e a transpiração da vegetação também contribuem. Em circunstâncias específicas, o vapor de água condensado nas nuvens pode retornar à superfície terrestre em diferentes formas de precipitação, como a chuva, neve e granizo. A precipitação que atinge a superfície pode escoar superficialmente ou infiltrar-se nas camadas do solo. Devido a condicionantes topográficos, o escoamento superficial converge para regiões de vales, dando origem a rios e lagos, que drenam para corpos d’água cada vez maiores, até atingir o oceano. A água infiltrada pode escoar para camadas inferiores no solo, ressurgindo na forma de nascentes, ou percolar para camadas ainda mais profundas atingindo os aquíferos subterrâneos. Quando um aquífero está em contato direto com a superfície, ele é dito não confinado, e a água fica armazenada no chamado lençol freático, sob o qual atua a pressão atmosférica. Quando existe alguma formação geológica, que separa a zona de armazenamento de água no solo da superfície, o aquífero é dito confinado, e sobre ele atua 4 uma pressão superior à atmosférica. A água armazenada em ambos os aquíferos pode ressurgir na forma de escoamento de base, em razão do gradiente topográfico, alimentando rios, lagos e outros corpos d’água. É esse escoamento de base, justamente o responsável pela perenização dos rios durante os períodos de estiagem. O processo acima descrito não cessa, ele é continuamente movido pela energia solar, por isso chamado de ciclo hidrológico. Em escala global, o ciclo hidrológico é fechado. Se considerado em escala regional, podem existir alguns subciclos. No entanto, para que esse ciclo continue em seu curso natural, é necessário que não haja alteração nos volumes de água que permanecem em uma ou outra fase do processo, ou seja, na atmosfera, na superfície e no solo. Mesmo que todas as etapas do processo sejam importantes, normalmente o ciclo hidrológico é estudado com maior interesse na fase terrestre, onde o elemento fundamental de análise é a bacia hidrográfica. Embora o ciclo hidrológico seja um processo natural, ações antrópicas e não antrópicas que podem desestabilizar este equilíbrio. Entre as ações antrópicas que mais impactam o ciclo hidrológico natural, podemos citar o processo de urbanização, conforme discutido a seguir. 2.1.2 Impactos da urbanização Embora sejam conhecidas as desvantagens da urbanização para o ecossistema e o bem-estar humano, as pessoas continuam a migrar do meio rural para áreas urbanas. Aliado a esta migração, está o crescimento e o desenvolvimento das cidades, que muitas vezes ocorre de forma desordenada ou irregular, consequência da falta de planos de desenvolvimento, de fiscalização e controle eficientes. Na grande maioria das cidades, o desenvolvimento urbano intensivo tem resultado em uma grande parcela do solo pavimentado ou recoberto com superfícies impermeáveis, como ruas e passeios públicos. Árvores, vegetação e culturas agrícolas, que interceptam a precipitação, são removidas e as depressões naturais, que armazenam água temporariamente, são transformadas em uma topografia uniforme, através de obras para terraplenagem. O solo torna-se severamente compactado, devido à passagem de veículos 5 pesados, e esse processo conduz a um aumento do escoamento superficial durante a ocorrência de eventos de chuva, com consequente aumento das inundações. Somam-se a isso, os impactos causados pelas superfícies impermeáveis, como telhados, estacionamentos, e outras, que impedem a infiltração da água no solo. A água, que antes conseguia infiltrar no solo, agora escoa de forma superficial, gerando um maior volume escoado superficialmente que, com maior velocidade, acaba convergindo para regiões de cota topográfica inferior, gerando assim focos de inundação. Pequenos eventos de chuva, que anteriormente não chegavam a produzir escoamento superficial, passam a gerar significativos volumes escoados. As inundações acarretam riscos à saúde e à qualidade de vida das pessoas, além de prejuízos sociais e econômicos. O aumento do escoamento superficial pode ser tão significativo que o sistema de drenagem natural existente (córregos, rios, etc.) se torna insuficiente para o esgotamento das águas geradas, provocando o extravasamento dos córregos, arroios, valas e rios, gerando problemas de inundação ribeirinha. Como resultado, o sistema de drenagem natural é frequentemente alterado para um sistema eficiente de coleta e transporte do escoamento, por exemplo, com a introdução de bocas-de-lobo, sarjetas, tubulações e galerias. Assim, o escoamento superficial, coletado por meio das redes de drenagem, é subsequentemente descarregado em um corpo hídrico a jusante, como um rio, reservatório, lago ou estuário. Além do aumento significativo das vazões e volumes escoados, a urbanização promove uma deterioração da qualidade da água, que é afetada pela presença do esgotamento cloacal, sedimentos, resíduos sólidos, óleos, graxas, fertilizantes e pesticidas, sedimentos oriundos do solo nu ou pobremente vegetado, sedimentos gerados pela construção civil, além de outros poluentes que atingem os córregos e rios. A água que infiltra no solo, sistemas de fossa séptica, aterros sanitários, vazamentos nas redes coletoras pluviais, entre outros, também podem contaminar aquíferos, comprometendo uma importante reserva estratégica. 6 Alguns autores mencionam que a urbanização, adicionalmente, pode provocar o aumento da temperatura nas cidades, devido às superfícies negras, que absorvem muito calor e criam condições para a ocorrência de precipitações mais intensas, o que agrava ainda mais o problema das inundações. Com relação aos impactos da urbanização nas águas urbanas, talvez os impactos quantitativos sejam aqueles que mais trazem danos à população, ou são mais sensíveis à percepção, pois se traduzem por meio de inundações.As inundações já estão consideradas entre os riscos ambientais mais comuns, devido à distribuição da população nos vales fluviais e zonas costeiras. 2.2 Gênese das inundações A gravidade de uma inundação é determinada por uma combinação de fatores, como relevo da bacia hidrográfica, zona de ocorrência e de circulação da tempestade, condições de umidade antecedente do solo, grau de impermeabilidade do solo, condições de drenagem existentes, ocupação urbana, entre outros. Eventos climáticos de larga escala, como El Niño, também têm sido associados aos eventos de inundações em alguns países. Basicamente, as inundações poderiam ser agrupadas segundo diferentes categorias, como: 1) de acordo com a sua duração; e 2) de acordo com o local de ocorrência, ou ainda, apresentar características dos dois grupos. Uma inundação pode ser caracterizada de acordo com a sua duração como lenta ou rápida. Assim, eventos como enxurradas, por exemplo, são inundações de rápida duração. Em geral, inundações que podem ser caracterizadas por sua duração estão associadas a eventos climáticos naturais bastante desfavoráveis, como a ocorrência de chuvas torrenciais ou chuvas de longa duração. No entanto, também podem surgir devido às falhas em sistemas de proteção contra enchentes e deficiência no sistema de drenagem. De acordo com o seu local de ocorrência, uma inundação pode ser caracterizada como costeira, ribeirinha ou urbana. 7 As inundações costeiras podem ocorrer devido a condições meteorológicas que provocam a elevação do nível do mar acima do normal. Nestas condições, pode haver inversão de escoamento da água do mar para a terra, provocando inundações em toda a região costeira com cota topográfica abaixo do nível d’água. Como a cidade de Teresina não apresenta condições para a ocorrência de inundações costeiras, este manual será focado na abordagem de técnicas voltadas para o controle das inundações ribeirinhas e urbanas. 2.2.1 Inundações ribeirinhas As inundações ribeirinhas ocorrem quando as margens de um rio, arroio ou córrego se tornam alagadas. É normalmente causada pela ocorrência de uma chuva forte ou prolongada, que produz um evento de cheia, cuja vazão supera a capacidade de escoamento da calha do rio, arroio ou córrego, sendo mais comuns em grandes bacias hidrográficas e, em geral, é um processo natural. Um vale de inundação (Figura 2.1) é definido principalmente por dois leitos: O leito menor, que representa a seção de rio por onde as águas escoam na maior parte do tempo, e o leito maior, por onde o rio escoa durante as inundações. O leito menor é claramente definido pelas margens dos rios e o leito maior é delimitado pelo vale onde o rio meandra. As inundações ocorrem quando as águas dos rios, riachos ou galerias pluviais saem do leito menor de escoamento devido à falta de capacidade de transporte de um destes sistemas e ocupa áreas utilizadas pela população para moradia, transporte (ruas, rodovias e passeios), recreação, comércio, indústria, e outras atividades humanas. Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar, grande parte do volume escoa para o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de escoamento. O excesso do volume que não consegue ser drenado ocupa a várzea inundando-a de acordo com a topografia das áreas próximas aos rios. Estes eventos ocorrem de forma aleatória em função dos processos climáticos locais e regionais. A existência de 8 estruturas hidráulicas também pode provocar obstruções ao escoamento, dando origem às inundações ribeirinhas. Figura 2.1. Seção transversal de um rio mostrando o vale de inundação (Fonte: RECESA/Souza et al., 2007 ) 2.2.2 Inundações urbanas As inundações urbanas ocorrem quando há uma falha, ou falta de sistema de redes de drenagem. Podem ocorrer também quando o evento de chuva supera o critério utilizado no dimensionamento. A ocupação do solo, com consequente impermeabilização das superfícies, faz com que os volumes escoados superficialmente aumentem consideravelmente. Em razão disso, redes de drenagem pluvial são implementadas. No entanto, à medida que o processo de urbanização avança, podem ocorrer falhas no sistema de drenagem, que foi dimensionado para uma vazão inferior à atual, em razão da alteração da impermeabilização. Assim, observa-se a insuficiência hidráulica das tubulações e galerias e o armazenamento temporário da água pluvial nas superfícies urbanas. As inundações urbanas também podem ocorrer por inexistência de sistemas de esgotamento das águas pluviais. Essa condição é bastante comum em áreas de ocupação irregular, onde o poder público não instalou a infraestrutura para tal fim. No entanto, não é 9 raro encontrar cidades de que historicamente não instalaram sistemas de redes de drenagem pluvial, permitindo o escoamento sobre as vias públicas. Nestes casos, os problemas passam a ocorrer quando os volumes escoados aumentam, devido ao avanço da urbanização. O desenvolvimento da infraestrutura urbana também pode contribuir para a insuficiência dos sistemas de drenagem pluvial, por meio de obstruções ao escoamento como aterros, pontes, resíduos sólidos, e assoreamento, critérios construtivos inadequados, entre outros. 2.3 Princípios para o desenvolvimento sustentável dos sistemas de drenagem pluvial Para que o desenvolvimento dos sistemas de drenagem pluvial seja realizado de maneira sustentável, foi estabelecido um conjunto de princípios essenciais, que devem ser aplicados para a correta gestão da água no espaço urbano, conforme a seguir descritos. 1. O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve ser desenvolvido em consonância com o Plano de Diretor de Desenvolvimento Urbano, Ambiental, de Esgotamento Sanitário, de Resíduos Sólidos e de Transporte da cidade. A drenagem pluvial faz parte do conjunto dos sistemas de infraestrutura urbana, portanto, deve ser planejada em conjunto com os demais. 2. O escoamento pluvial durante os eventos chuvosos não pode ser ampliado pela ocupação da bacia hidrográfica, em todas as escalas de planejamento existentes no ambiente urbano. Isto se aplica a um simples aterro urbano, como a construção de pontes, rodovias, edificações, e toda a implementação dos espaços urbanos. O princípio é de que nenhum usuário urbano pode ampliar a cheia natural. 3. O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve contemplar estudos integrados para as bacias hidrográficas sobre as quais a urbanização se desenvolve. Para estas bacias, 10 devem ser propostas medidas para o controle do escoamento pluvial que não transfiram os problemas existentes em uma área para outras. Caso isso ocorra, deve- se prever uma medida mitigadora. 4. O Plano Diretor de Drenagem Urbana deve prever a minimização do impacto ambiental devido ao escoamento pluvial através da sua compatibilização com o planejamento do saneamento ambiental, controle do material sólido e a redução da carga poluente nas águas pluviais. 5. O Plano Diretor de Drenagem Urbana, na sua regulamentação, deve contemplar o planejamento das áreas a serem desenvolvidas e a densificação das áreas atualmente loteadas. Depois que a bacia, ou parte dela, estiver ocupada, dificilmente o poder público terá condições de responsabilizar aqueles que estiverem ampliando a cheia natural. Portanto, se a ação pública não for realizada preventivamente, através do gerenciamento, as consequências econômicas e sociais futuras serão muito maiores para todo o município. 6. Nas áreas ribeirinhas, o controle de inundações é realizado através de medidas estruturais e não estruturais, que dificilmente estão dissociadas. As medidas estruturais envolvem grande quantidade de recursos e resolvem somente problemas específicos e localizados.Isso não significa que esse tipo de medida seja totalmente descartável. A política de controle de inundações, certamente, poderá chegar a soluções estruturais para alguns locais, mas dentro da visão de conjunto de toda a bacia, onde estas sejam racionalmente integradas com outras medidas preventivas (não estruturais) e compatibilizadas com o esperado desenvolvimento urbano. 7. O controle deve ser realizado considerando a bacia como um todo e não em trechos isolados. 8. Os meios de implantação das medidas para o controle de enchentes são o Plano Diretor de Drenagem Urbana, as Legislações Municipal/Estadual e o Manual de 11 Drenagem. O primeiro estabelece as linhas principais, as legislações controlam e o manual orienta os projetistas. 9. O controle de enchentes é um processo permanente. Não basta que sejam estabelecidos regulamentos e que sejam construídas obras de proteção, é necessário estar atento às potenciais violações da legislação e na expansão da ocupação do solo de áreas de risco. Portanto, recomenda-se que: Nenhum espaço de risco seja desapropriado se não houver uma imediata ocupação pública que evite a sua invasão; A comunidade tenha uma participação nos anseios, nos planos, na sua execução e na contínua obediência das medidas de controle de enchentes. 10. A educação: a educação de engenheiros, arquitetos, agrônomos e geólogos, entre outros profissionais; da população e de administradores públicos - é essencial para que as decisões públicas sejam tomadas conscientemente por todos; 11. O custo da implantação das medidas estruturais, da operação e manutenção da drenagem urbana deve ser transferido aos proprietários dos lotes, proporcionalmente a sua área impermeável, que é a geradora de volume adicional com relação às condições naturais. O conjunto destes princípios trata o controle do escoamento pluvial na fonte, distribuindo as medidas de controle para aqueles que produzem o aumento do escoamento e a contaminação das águas pluviais. 12. É essencial uma gestão eficiente na manutenção de drenagem e na fiscalização da regulamentação. 12 2.4 Alternativas para a gestão do escoamento pluvial urbano As alternativas aplicadas para o desenvolvimento dos sistemas de drenagem pluvial no espaço urbano e a gestão do escoamento pluvial, possuem dois objetivos básicos: o controle do aumento da vazão máxima e melhoria das condições ambientais. Estas alternativas incluem medidas estruturais ou não estruturais, que podem ser aplicadas individualmente ou em conjunto, com ação na bacia hidrográfica em diferentes escalas sendo, portanto, agrupadas em três categorias, conforme segue: a) Ação distribuída ou na fonte: inclui o uso de medidas para o controle do escoamento pluvial que atuam sobre o lote, praças e passeios; b) Ação na microdrenagem: inclui o uso de medidas de controle do escoamento pluvial que agem sobre o escoamento resultante de um loteamento, ou mais de um loteamento, sendo definido em função da área de drenagem contribuinte; c) Ação na macrodrenagem: contempla o uso de medidas para o controle do escoamento pluvial sobre áreas acima de 1,5 km2 a 2km2, ou de áreas a serem definidas em função dos principais riachos urbanos. 2.5 Princípio de funcionamento das medidas de controle estruturais As principais medidas de controle do escoamento pluvial funcionam de acordo com os princípios abaixo discutidos: 2.5.1 Armazenamento O armazenamento mediante o emprego de estruturas de reservação promove o amortecimento do escoamento, reduzindo a vazão de pico. O efeito do armazenamento sobre o escoamento no hidrograma de pequenas áreas pode ser observado na Figura 2.2. O efeito do volume do reservatório utilizado na reservação é de diminuição do pico do hidrograma, como mostra a referida figura. 13 Os reservatórios podem ser aplicados com ação na escala de lote, microdrenagem e macrodrenagem. Os reservatórios de lote, que apenas detêm os volumes escoados, são usados quando não é possível controlar o escoamento pluvial, na escala de microdrenagem ou macrodrenagem, ou ainda, quando os empreendimentos são novos e é possível uma melhor gestão da água pluvial. Figura 2.2. Hidrogramas típicos de pequenas áreas urbanas, onde o tempo de concentração é muito pequeno (Fonte: Manual de Drenagem de Porto Alegre) Nos lotes, o armazenamento pode ser efetuado em pequenos reservatórios distribuídos, em passeios, gramados, estacionamentos e áreas esportivas. Portanto, o armazenamento no lote pode ser utilizado para amortecer o escoamento, em conjunto com outros usos, como abastecimento de água, irrigação de grama e lavagem de superfícies ou de automóveis. Os reservatórios de microdrenagem e macrodrenagem podem ser utilizados em qualquer estágio de urbanização, com a finalidade de evitar a transferência de impactos a 14 jusante, ou mitigar algum problema de inundação localizado. Nesta escala, eles podem ser construídos para que trabalhem com detenção (quando é mantido a seco e controla apenas o volume) ou retenção (quando é mantido com lâmina de água e controla também a qualidade da água, mas exige maior volume). 2.5.2 Infiltração Utilizando-se estruturas adequadas, através de dispositivos como pavimentos permeáveis, valo de infiltração, plano de infiltração, entre outros, busca-se devolver uma das componentes do ciclo hidrológico natural (infiltração), perdida com a impermeabilização das superfícies urbanas. Estas medidas contribuem para a melhoria ambiental, reduzindo o escoamento superficial das áreas impermeáveis e melhorando a qualidade da água. Em geral, este tipo de medida vem sendo aplicado com ação na fonte, no entanto, sob determinadas condições, pode ser utilizado com ação na microdrenagem. No projeto da urbanização de uma área, a preservação da infiltração da precipitação permite manter condições mais próximas possíveis das condições naturais. As vantagens e desvantagens dos dispositivos que permitem maior infiltração e percolação são as seguintes (Urbonas e Stahre, 1993): redução das vazões máximas à jusante; redução do tamanho dos condutos; aumento da recarga do aquífero; preservação da vegetação natural; redução da poluição transportada para os rios; impermeabilização do solo de algumas áreas pela falta de manutenção e; aumento do nível do lençol freático, atingindo construções em subsolo. Os dispositivos de infiltração e percolação são apresentados na Tabela 2.1 com as suas características principais e comentados a seguir. 2.5.3 Canalização/Ampliação Em algumas situações, a aplicação de estruturas que funcionam com o princípio de infiltração e armazenamento torna-se inviável, sendo que a canalização resulta como única medida viável. As canalizações são a forma mais tradicional de tratamento do escoamento pluvial e podem ser empregadas com ação na microdrenagem e macrodrenagem, sendo 15 que, em cada escala de análise, devem ser empregadas as metodologias específicas, conforme será discutido mais adiante neste manual. As canalizações também podem ser empregadas em qualquer estágio de urbanização, desde a implantação de novas redes de drenagem até ampliação da sua capacidade. O aumento da capacidade pode ser obtido mediante modificações de área da seção transversal, redução da rugosidade da seção, aumento de declividade, introdução de sistemas paralelos, entre outros. No entanto, esta solução, apenas transfere para jusante o aumento da vazão, exigindo aumento da capacidade ao longo todo o sistema de drenagem, aumentando exponencialmente o custo. No capítulo 4. TÉCNICAS PARA O CONTROLE DE INUNDAÇÕES URBANAS, essas medidas de controle são apresentadas em maior detalhe. No capítulo 5. TÉCNICAS DE DIMENSIONAMENTO são apresentadasas metodologias para dimensionamento padronizadas neste manual. O item 2.6 Critérios de projeto apresenta os critérios de projeto que os projetistas devem ser empregados para o dimensionamento de qualquer uma das estruturas contempladas. 17 Tabela 2.1. Dispositivos de infiltração. DISPOSITIVO CARACTERÍSTICAS VANTAGENS DESVANTAGENS CONDICIONANTES FÍSICOS PARA A UTILIZAÇÃO DA ESTRUTURA Planos e Valos de Infiltração com drenagem Gramados, áreas com seixos ou outro material que permita a infiltração natural Permite infiltração de parte da água para o subsolo. O decreto permite reduzir a área impermeável do escoamento que drena para o plano em 40% Para planos com declividade > 0,1% a quantidade de água infiltrada é pequena e não pode ser utilizado para reduzir a área impermeável; o transporte de material sólido para a área de infiltração pode reduzir sua capacidade de infiltração Profundidade do lençol freático no período chuvoso maior que 1,20 m. A camada impermeável deve estar a mais de 1,20 m de profundidade. A taxa de infiltração do solo quando saturado não deve ser menor que 7,60 mm/h. Planos e Valos de Infiltração sem drenagem Gramados, áreas com seixos ou outro material que permita a infiltração natural Permite infiltração da água para o subsolo. O decreto permite reduzir a área impermeável do escoamento que drena para o plano em 80% O acúmulo de água no plano durante o período chuvoso não permite trânsito sobre a área. Planos com declividade que permita escoamento para fora do mesmo. Profundidade do lençol freático no período chuvoso maior que 1,20 m. A camada impermeável deve estar a mais de 1,20 m de profundidade. A taxa de infiltração do solo quando saturado não deve ser menor que 7,60 mm/h. Pavimentos permeáveis Superfícies construídas de concreto, asfalto ou concreto vazado com alta capacidade de infiltração Permite infiltração da água. O decreto permite reduzir a área impermeável do escoamento que drena para o plano em 80% Não deve ser utilizado para ruas com tráfego intenso e/ou de carga pesada, pois a sua eficiência pode diminuir. Profundidade do lençol freático no período chuvoso maior que 1,20 m. A camada impermeável deve estar a mais de 1,20 m de profundidade. A taxa de infiltração do solo quando saturado não deve ser menor que 7,60 mm/h. Poços de Infiltração, trincheiras de infiltração e bacias de percolação Volume gerado no interior do solo que permite armazenar a água e infiltrar Redução do escoamento superficial e amortecimento em função do armazenamento Pode reduzir a eficiência ao longo do tempo dependendo da quantidade de material sólido que drena para a área. Profundidade do lençol freático no período chuvoso maior que 1,20 m. A camada impermeável deve estar a mais de 1,20 m de profundidade. A taxa de infiltração do solo quando saturado não deve ser menor que 7,60 mm/h. Para o caso de bacias de percolação a condutividade hidráulica saturada não deve ser menor que 2.10 -5 m/s. 18 2.6 Critérios de projeto 2.6.1 Riscos As obras estruturais com ação em qualquer escala, seja lote, microdrenagem ou macrodrenagem, são dimensionadas para conferir proteção à população, para um determinado evento de cheia. Assim, assume-se o risco de que, para eventos superiores ao de projeto, a estrutura poderá vir a falhar. O risco de uma vazão, ou precipitação, é entendido neste manual como a probabilidade (p) de ocorrência de um valor igual ou superior ao de projeto em um ano qualquer. O período de retorno (Tr) é o inverso da probabilidade p e representa o tempo, em média, que este evento tem chance de se repetir. p 1 Tr (2.1) Para exemplificar, considere um dado que tem seis faces (números 1 a 6). Numa jogada qualquer, a probabilidade de sair o número 4 é p=1/6 (uma chance em seis possibilidades). O período de retorno é, em média, o número de jogadas que o número desejado se repete. Nesse caso, usando a equação 2.1 acima fica T = 1/(1/6)=6. Portanto, em média, o número 4 se repete a cada seis jogadas. Sabe-se que esse número não ocorre exatamente a cada seis jogadas, mas se jogarmos milhares de vezes e tirarmos a média, certamente isso ocorrerá. Sendo assim, o número 4 pode ocorrer duas vezes seguidas e passar muitas sem ocorrer, mas na média se repetirá em seis jogadas. Fazendo uma analogia, cada jogada do dado é um ano para as enchentes. O período de retorno de 10 anos significa que, em média, a cheia pode se repetir a cada 10 anos, ou a cada ano esta enchente tem 10% de chance de ocorrer. Portanto, o risco ou a probabilidade de ocorrência de uma precipitação ou vazão igual ou superior num determinado período de n anos é n n )p1(1P (2.2) 19 Por exemplo, qual a chance da cheia de 10 anos ocorrer nos próximos 5 anos? Ou seja, deseja-se conhecer a probabilidade de ocorrência para um período e não apenas para um ano qualquer. Neste caso: 41%ou 41,0)10/11(1 5 nP A probabilidade, ou o período de retorno, é calculado com base na série histórica observada no local. Para o cálculo da probabilidade, as séries devem ser representativas e homogêneas no tempo. Quando a série é representativa, os dados existentes permitem calcular corretamente a probabilidade. Por exemplo, se um determinado período de dados de um rio contempla apenas enchentes de pequena magnitude, ele não é representativo, se fora desse período, ocorreram algumas maiores. Diz que a série é homogênea, quando as alterações na bacia hidrográfica não produzem mudanças significativas no comportamento da mesma e, em consequência, nas estatísticas das vazões do rio. Em projeto de áreas urbanas, como haverá alterações na bacia hidrográfica, o risco adotado se refere à ocorrência de uma determinada precipitação, e não necessariamente da vazão resultante, que é consequência da precipitação em combinação com outros fatores fisiográficos da bacia hidrográfica. Desta forma, quando não for referenciado de forma específica neste texto, o risco de projeto citado é sempre o da precipitação envolvida. A grande importância da definição do risco para um projeto é que ele define a dimensão dos investimentos envolvidos e a segurança quanto às enchentes. A análise adequada envolve um estudo de avaliação econômica e social dos impactos das enchentes para a definição dos riscos. No entanto, esta prática é inviável devido ao alto custo do próprio estudo, principalmente para pequenas áreas. E também em situações de planejamento futuro, o risco deve ser definido, antes mesmo que qualquer enchente possa ter ocorrido. Desta forma, os riscos usualmente adotados são apresentados na Tabela 2.2. 20 Tabela 2.2. Período de recorrência para projetos de redes de drenagem pluvial urbana. SISTEMA CARACTERÍSTICA INTERVALO TR (ANOS) VALOR FREQUENTE (ANOS) Microdrenagem Residencial 2 – 5 2 Comercial 2 – 5 5 Áreas de prédios públicos 2 – 5 5 Aeroporto 5 – 10 5 Áreas comerciais e Avenidas 5 – 10 10 Macrodrenagem 10 - 25 10 Zoneamento de áreas ribeirinhas 5 - 100 100* * limite da área de regulamentação A equipe de acompanhamento da PMT deverá fazer a recomendação ao projetista sobre qual o risco deverá ser adotado, ou caberá ao projetista a decisão, sendo que para isso podem ser consideradas as seguintes observações: i. Escolher o limite superior do intervalo da tabela, quando envolverem grandes riscos de interrupção de tráfego, prejuízos materiais, potencial interferência em obras de infraestrutura como subestações elétricas, abastecimento de água, armazenamento de produtos danososquando misturado com água e hospitais; ii. Quando existir risco de vida humana deve-se buscar definir um programa de defesa civil e alerta além de utilizar o limite de 100 anos para o projeto. Vale lembrar que, embora sejam utilizadas técnicas estatísticas para a determinação das curvas de probabilidade, associada a esta determinação está a incerteza. Entende-se como incerteza a diferença entre as estatísticas da amostra e da população de um conjunto de dados. A incerteza é fruto dos erros de coleta de dados, da definição de parâmetros, da caracterização de um sistema, das simplificações dos modelos e do processamento destas informações para definição do projeto de drenagem. Assim, por exemplo, mesmo que uma obra seja corretamente dimensionada para um evento que possui recorrência de 10 anos, é 21 possível que ele ocorra já no primeiro ano de implantação da obra, ou que ocorra mais de uma vez no prazo de 10 anos. 2.6.2 Chuva de projeto Conforme discutido anteriormente, exceto nos casos em que existem medições de vazão, e seja possível a definição de vazões de projeto associadas a períodos de recorrência, normalmente os eventos de cheia são determinados a partir de eventos de precipitação, sendo que assume-se que o evento de cheia terá o mesmo período de recorrência da chuva. Portanto, a chuva de projeto é uma variável de fundamental importância nos projetos dos sistemas de drenagem pluvial A precipitação é a principal informação hidrológica de entrada utilizada no cálculo das vazões de projeto das obras de drenagem pluvial. A expressão precipitação de projeto identifica a precipitação utilizada na geração do hidrograma ou vazão de projeto. Neste item são apresentados os fundamentos utilizados para a definição do método de obtenção de uma precipitação de projeto. Os primeiros fundamentos referem-se aos conceitos de precipitação observada e precipitação de projeto. A precipitação observada é uma sequência cronológica de eventos de chuva que podem ser caracterizados, um a um, pelas seguintes variáveis (unidades usuais entre parênteses): Lâmina precipitada P (mm); Duração D (min); Intensidade média precipitada iméd = P/D (mm/h); Lâmina máxima Pmáx (mm) da sequência de intervalos de tempo t que discretizam D; Intensidade máxima imáx = Pmáx / t (mm/h); Posição de Pmáx ou imáx dentro da duração D (entre 0 e 1, do início ao fim de D). A precipitação de projeto é, por sua vez, um evento crítico de chuva construído artificialmente com base em características estatísticas da chuva natural e com base em 22 parâmetros de resposta da bacia hidrográfica. Estas características estatísticas e parâmetros são levados em conta através de dois elementos básicos (unidades usuais entre parênteses): Período de retorno Tr da precipitação de projeto (anos); Duração crítica Dcr do evento (min). O aposto de projeto significa, justamente, que está associado à precipitação de projeto um período de retorno que foi pré-estabelecido conforme a importância da obra, conforme previamente discutido. Por convenção, atribui-se à vazão de projeto ou ao hidrograma de projeto calculado com base nesta precipitação, o período de retorno desta. Os critérios usados para a escolha do período de retorno foram apresentados no capítulo 2.6.1. A duração crítica é outro elemento indispensável à definição das precipitações de projeto, pois ela deve ser longa o suficiente para que toda a bacia contribua com o escoamento superficial, o que equivale dizer que a precipitação efetiva (parcela da precipitação total que gera escoamento superficial) deve ter duração igual ao tempo de concentração (ver item 2.6.3) da bacia contribuinte. As precipitações de projeto podem ser constantes ou variadas ao longo de sua duração. A precipitação de projeto constante é normalmente utilizada em conjunto com o Método Racional (seu uso é apresentado no capítulo 5.1 Redes de microdrenagem) e sua duração é igual ao tempo de concentração. A precipitação de projeto variável no tempo (hietograma de projeto) é utilizada para determinar o hidrograma de projeto no dimensionamento de estruturas de infiltração (item 5.4 para dimensionamento de Estruturas de infiltração), reservação (item 5.3 para dimensionamento de Estruturas de armazenamento) e de redes de macrodrenagem (5.2 Redes de macrodrenagem). No hietograma a precipitação é definida em intervalos de tempo onde a duração total da precipitação utilizada é maior ou igual ao tempo de concentração. As precipitações de projeto são normalmente determinadas a partir de relações intensidade-duração-frequência (curvas IDF) da bacia contribuinte. Expressas sob forma de tabelas ou equações, as curvas IDF fornecem a intensidade da precipitação para qualquer 23 duração e período de retorno. Pode-se obter uma lâmina ou altura de precipitação, multiplicando-se a intensidade dada pela IDF pela sua correspondente duração. A IDF de um local é definida a partir de registros históricos de precipitação de pluviógrafos, e representa o máximo pontual. Em razão das áreas de contribuição das bacias hidrográficas normalmente utilizadas em zonas urbanas, não é necessário realizar o abatimento espacial das chuvas, a menos que ela supere 25 km2. A equação IDF recomendada neste Manual está apresentada abaixo e foi determinada durante a elaboração do Plano Diretor de Drenagem Urbana do município, do qual este faz parte. 7457,0 1738,0 10 273,1194 t T i (2.3) Onde: i é a intensidade da chuva em mmh-1, T é o período de retorno do evento em anos e t é a duração em minutos. Exemplo 2.1 Para o dimensionamento de uma rede de microdrenagem numa área residencial, determinar a intensidade e o volume pluviométrico de uma precipitação com duração de 1 hora. Solução: A duração foi fornecida t=1h. O dimensionamento numa área de microdrenagem o tempo de retorno varia de 2 a 5 anos (Tabela 2.2) em função dos prejuízos potenciais. Adotando Tr = 5 anos. h/mm48,66 1060 )5(273,1194 10t T273,1194 i 7457,0 1738,0 7457,0 1738,0 A precipitação total no período de uma hora será P =66,48mm.h-1 * 1h = 66,48 mm 24 A precipitação natural possui grande variabilidade temporal durante um evento chuvoso, e de evento para evento. Assim, também a variabilidade temporal da precipitação natural dificilmente segue um padrão formal identificável, ou seja, os hietogramas que se sucedem no tempo são diferentes uns dos outros. A variabilidade temporal nas chuvas de projeto depende do método hidrológico utilizado. Para a aplicação no Método Racional, por exemplo, o procedimento é o apresentado no Exemplo 2.1, pois o método considera a chuva de projeto com intensidade constante em toda a sua duração, retirada diretamente da curva IDF. No entanto, os métodos baseados em hidrogramas unitários utilizam a precipitação de projeto variável no tempo. Nesta situação, os métodos mais usados para a geração da distribuição espacial da chuva são aqueles que atribuem uma distribuição arbitrária temporal para chuvas de projeto, baseadas em cenários que produzem inundações críticas. Neste manual é apresentado o método dos blocos alternados, que constrói o hietograma de projeto a partir da curva IDF. A metodologia denominada de bloco alternados distribui a precipitação ao longo do tempo de forma a buscar um cenário crítico de precipitação. Este cenário baseia-se em precipitação pequena e média no início do tempo e precipitação alta próximo do final da duração, quando geram hidrogramas com grande pico. Para a utilização da metodologia, o projetista deve seguir o roteiro abaixo apresentado: 1. Para o período de retorno escolhido, calcular através da IDFselecionada a precipitação correspondente à duração, espaçadas pelo intervalo de tempo até a duração total. A duração total (dt) da precipitação deve ser igual ou maior que o tempo de concentração (tc) da bacia, permitindo que toda a bacia “sinta” o efeito da precipitação. 25 O intervalo de tempo (t) da precipitação deve ser igual, e preferencialmente menor a 1/3 do tempo de pico do hidrograma unitário da bacia. Como este valor nem sempre está disponível, é recomendável utilizar um intervalo de tempo que seja menor igual a 1/10 do tempo de concentração. Sugere-se considerar intervalos de t entre 5 e 10 minutos em hietogramas com duração total de até 2 horas. Para durações maiores que 2 horas recomenda-se utilizar intervalos de t entre 10 e 20 min. Por exemplo, sendo a duração total (dt) de 60 min e o intervalo de tempo (t) de 10 min, calcula-se a partir da IDF as precipitações para as durações de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos. Este valores são precipitações acumuladas, Pa(t), para cada duração. 2. Considerando que a precipitação em cada intervalo de tempo é a diferença entre dois intervalos de tempo, obtém-se a primeira versão do hietograma. Por exemplo, a Pi(t=30min)= Pa(30min)-Pa(20min). Geralmente este resultado mostrará o valor máximo no primeiro intervalo de tempo, portanto o hietograma deve ser reordenado para buscar cenários mais desfavoráveis. 3. Para reordenar o hietograma, posicione o maior (primeiro) valor a 50% da duração, o segundo logo após ao anterior e o terceiro antes do maior valor e assim, sucessivamente (veja exemplo 2.2). Exemplo 2.2: Determinar o hietograma para a chuva de projeto calculada o exemplo 2.1, utilizando intervalo de tempo de 5 minutos. Solução: Na Tabela 2.3, coluna 2 são apresentados os valores de intensidade de precipitação para durações de até 60 minutos e intervalos de 10 minutos. A precipitação total acumulada é apresentada na coluna 3. As precipitações desacumuladas são 26 apresentadas na coluna 4 e reordenadas como apresentado nas colunas 5 e 6, resultando nos valores da coluna 7. Tabela 2.3. Hietograma de 60 minutos pelo método dos blocos alternados. Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4 Coluna 5 Coluna 6 Coluna 7 Tempo I (1) Pacum (2) Pdesac (3) Ordem Ordem Prearr (4) (min) (mm/h) (mm) (mm) Decrescente alternada (mm) 10 169,23 28,20 28,20 1º 5º 5,19 20 125,07 41,69 13,49 2º 3º 8,77 30 100,92 50,46 8,77 3º 1º 28,20 40 85,45 56,97 6,51 4º 2º 13,49 50 74,59 62,16 5,19 5º 4º 6,51 60 66,49 66,48 4,33 6º 6º 4,33 1 - calculado com a IDF com t dado pela 1ª coluna 2 - multiplicação da 1ª coluna (tempo) pela 2ª (i) dividida por 60 3 - é o hietograma completamente adiantado obtido pela desacumulação da 3ª coluna 4 – é o hietograma final resultante do rearranjo dado pela ordenação alternada Os tipos de precipitação de projeto sugeridas neste Manual são aplicáveis em casos comuns de projeto. Em casos especiais, a equipe de acompanhamento da PMT pode exigir outros tipos de precipitação de projeto. 2.6.3 Tempo de concentração Conceitualmente, o tempo de concentração é o tempo que uma gota de chuva, que atinge a região mais remota da bacia hidrográfica, leva para atingir o exutório. Para entender o significado do tempo de concentração, considere o ponto P1 da bacia hidrográfica da Figura 2.3. 27 Figura 2.3. Tempo de concentração em uma bacia hidrográfica. Se nesse ponto precipitar uma gota de água e houver condições para geração de escoamento, essa gota d’água escoará por regiões de maior declividade até atingir o curso d’água principal (P2). Quando a água atinge o rio principal, o escoamento passa a se desenvolver em um canal, até o exutório da bacia hidrográfica. O procedimento para o cálculo do tempo de concentração, com base na Figura 2.3 é calcular o comprimento dos percursos (L1 – entre P1 e P2 e L2 – entre P2 e o exutório) e estimar as velocidades da água correspondente (V1 e V2). Posteriormente, calcula-se o tempo de viagem T1 e T2, sendo que o tempo de concentração total da bacia hidrográfica, nesse caso, seria T1+T2. A maneira mais adequada de determinação do tempo de concentração é a partir de dados observados de precipitação e vazão. No entanto, são raras as bacias hidrográficas que dispõem desse tipo de informação. Para contornar esses problemas, são apresentadas na literatura algumas formulações empíricas para a determinação do tempo de concentração, como as apresentadas a seguir, na Tabela 2.4. Tabela 2.4 . Equações para a estimativa do tempo de concentração (Fonte: Adaptado de Silveira, 2004) * NOME EQUAÇÃO APLICABILIDADE Área (km2) L(km) S(%) Tipo de superfície Onda Cinemática Tc = 7,35n 0,6i-0,4L0,6S-0,3 - <0,03 - Parcela Kirpich Tc = 0,0663L 0,77S-0,385 <0,45 <1,2 3/10 Rural 28 NOME EQUAÇÃO APLICABILIDADE Área (km2) L(km) S(%) Tipo de superfície SCS Lag Tc = 0,057(1000/CN-9) 0,7L0,8S-0,5 < 8,1 - - Rural Ven te Chow Tc = 0,160L 0,64S-0,32 1,1/19 - - Rural Dooge Tc = 0,365A 0,41S-0,17 140/930 - - Rural Corps Engineers Tc = 0,191L 0,76S-0,19 <12000 <257 <14 Rural Picking Tc = 0,0883L 0,667S-0,333 - - - Rural George Ribeiro Tc = 0,222(1,05) -1LS-0,04 <19000 <250 1/10 Urbana Schaake et al Tc = 0,0828L 0,24 S-0,16Aimp -0,26 <0,7 <1,8 <7 Urbana McCuen et al Tc = 2,25i -0,7164L0,5552S-0,2070 0,4-16 <10 <4 Urbana Carter Tc = 0,0977L 0,6S-0,3 <21 <12 <0,5 Urbana Eagleson Tc = 0,274nR -0,67LS-0,5 <21 - - Urbana Desbordes Tc = 0,0869A 0,3039S-0,3832Aimp -0,4523 <51 <18 <7 Urbana Espey-Winslow Tc = 0,343 L 0,29 S-0,145Aimp -0,6 <91 - - Urbana SCS modificado Tc = 5,474.(n.L)0,8.P24-0,5.S-0,4 - <0,20 - Urbana *ver a parametrização a seguir Nestas equações, as variáveis são: Tc é o tempo de concentração em horas; A é a área de drenagem em km2; L é o comprimento do talvegue em km; S é a declividade (m/m); H é a diferença de cotas entre o exutório da bacia e o ponto mais alto do talvegue em metros; CN é o número de curva (método SCS); Aimp é a fração de área impermeável; ip é a intensidade de precipitação em mm/h e igual a 35 mm/h; n é a rugosidade de Manning adotada igual a 0,016 em regiões urbanas; Rh é o raio hidráulico em metros, adotado igual a 0,02; é o fator de condutância (adimensional) e igual a 0,3 em bacias urbanas; P24 precipitação de 24 horas de duração em mm; i é a intensidade da chuva em mm/h, e a referência apontada por McCuen et al (1984) é 35 mm/h; R(m) é igual a 0,02 para áreas urbanas e 0,20 para áreas rurais. Recomenda-se, no entanto, muito cuidado na utilização dessas equações, visto que as mesmas foram desenvolvidas para bacias hidrográficas com determinadas características e em condições específicas. Deve-se, portanto, observar as condições de aplicabilidade 29 apresentadas na Tabela 2.4, para as quais as formulações foram desenvolvidas, e identificar a mais adequada para a bacia hidrográfica em questão. Para o escoamento em superfícies, recomenda-se que o tempo de concentração seja estimado conforme a equação mais adequada, a ser selecionada dentre as apresentadas posteriormente. Para a estimativa do tempo de concentração em canais, redes de drenagem, valas, entre outros, deve ser utilizada a equação de Manning, conforme segue: n S.Rh V 2/12/3 (2.4) Onde: V é a velocidade do escoamento (m/s); S é a declividade do fundo (m/m); n é o coeficiente de rugosidade de Manning (consultar Tabela 2.5).; Rh é o raio hidráulico (m), calculado conforme a equação: Pm A Rh (2.5) Onde: A é a área da seção transversal (m2); Pm é o perímetro molhado da seção transversal (m). Determinada a velocidade do escoamento,
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