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Planejamento Urbano e Ambiental

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Prévia do material em texto

2012
Planejamento Urbano 
e ambiental
Prof. Jorge Luis Bonamente
Prof. Arildo João de Souza
Copyright © UNIASSELVI 2012
Elaboração:
Prof. Jorge Luis Bonamente
Prof. Arildo João de Souza
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
711
P613e Bonamente, Jorge Luis
 Planejamento urbano e ambiental / Jorge Luis Bonamente e Arildo 
 João de Souza. Indaial : Uniasselvi, 2012. 
 186 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830- 596-3
 1. Planejamento urbano.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 
Impresso por:
III
aPresentação
Ao iniciarmos a disciplina de Planejamento Urbano e Ambiental, 
queremos levá-lo a compreender a origem e a evolução das cidades ao longo 
da historia até se transformarem nas metrópoles e megalópoles existentes na 
atualidade. 
A cidade é o lugar onde o homem adquiriu civilidade, construiu o 
conhecimento, criando as ciências, as artes, as músicas, a filosofia. Enfim, 
uma infinidade de invenções que só foram possíveis de se desenvolverem 
com a troca de informações e conhecimentos que somente a cidade, com seu 
aglomero e fervilhar de ideias, é capaz de proporcionar. 
Porém, para especialistas em gestão pública, planejamento urbano 
e ambiental, é uma tarefa enorme transformar esse lugar em um ambiente 
aprazível para viver.
Para ordenar o espaço urbano, governos de cada país aprovaram leis 
que passaram a regulamentar o uso do espaço na cidade, através do Plano 
Diretor, que será estudado na Unidade 2.
Na terceira unidade, estudaremos o planejamento ambiental, 
colocando-o(a) em contato com as leis brasileiras de zoneamento ambiental e 
a Política Nacional do Meio Ambiente. 
É importante que você não se restrinja somente ao estudo deste 
caderno. Busque em outros autores o complemento necessário para ampliar 
seu conhecimento.
Bons estudos! 
Prof. Jorge Luis Bonamente
Prof. Arildo João de Souza
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
V
VI
VII
UNIDADE 1 – PROCESSO EVOLUTIVO URBANO ....................................................................... 1
TÓPICO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO ..................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 A ATIVIDADE PLANEJADORA EM DESCRÉDITO ................................................................... 3
3 PLANEJAMENTO URBANO COM PARTICIPAÇÃO: O BAIRRO ........................................... 6
4 A CIDADE ATRAVÉS DA HISTÓRIA: UM BREVE HISTÓRICO ............................................ 8
4.1 AS PRIMEIRAS CIDADES ............................................................................................................. 8
4.2 AS CIDADES MEDIEVAIS ............................................................................................................. 9
4.3 AS CIDADES RENASCENTISTAS E BARROCAS ..................................................................... 10
4.4 A CIDADE INDUSTRIAL............................................................................................................... 11
4.5 O URBANISMO MODERNO ......................................................................................................... 12
4.6 AS CIDADES IDEAIS: O URBANISMO UTÓPICO ................................................................... 14
4.7 TEMPOS ATUAIS ............................................................................................................................ 15
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19
TÓPICO 2 – PLANO DIRETOR ............................................................................................................ 21
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21
2 A LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E OS PLANOS DIRETORES ................................................ 22
3 O BRASIL E OS PLANOS DIRETORES .......................................................................................... 22
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 26
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 32
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 33
TÓPICO 3 – ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO PLANO DIRETOR E AS LEGISLAÇÕES 
 QUE REGULAMENTAM O PLANEJAMENTO URBANO MUNICIPAL ............ 35
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35
2 DEFINIÇÕES ......................................................................................................................................... 35
2.1 O QUE É PLANEJAR?..................................................................................................................... 35
2.2 O QUE É UM PLANO DIRETOR? ................................................................................................ 35
2.3 POR QUE PLANEJAR? ................................................................................................................... 36
2.4 PARA QUE SERVE O PLANO DIRETOR? .................................................................................. 36
2.5 PARA QUE NÃO SERVE O PLANO DIRETOR?........................................................................36
2.6 QUANDO PLANEJAR? .................................................................................................................. 36
2.7 QUANDO ELABORAR O PLANO DIRETOR? .......................................................................... 37
2.8 QUEM PLANEJA E QUEM ELABORA O PLANO DIRETOR? ............................................... 37
2.9 COMO SE ELABORA UM PLANO DIRETOR? .......................................................................... 38
3 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA QUE REGULAMENTA O PLANO DIRETOR ...................... 38
3.1 DIRETRIZES URBANÍSTICAS ...................................................................................................... 39
3.2 PERÍMETRO URBANO .................................................................................................................. 40
3.3 EDIFICAÇÕES OU OBRAS ............................................................................................................ 40
3.4. POSTURAS ...................................................................................................................................... 41
3.5 ZONEAMENTO ............................................................................................................................... 41
sUmário
VIII
3.5.1 Índices urbanísticos ................................................................................................................ 41
3.5.2 Limites das zonas territoriais ................................................................................................ 44
3.6 PARCELAMENTO DO SOLO ....................................................................................................... 45
3.6.1 Definições mais usuais em parcelamento do solo.............................................................. 47
3.6.2 O que um bom parcelamento do solo deve realmente ter? .............................................. 49
3.6.3 Quadras e lotes em parcelamentos do solo ......................................................................... 51
3.6.4 Parcelamentos do solo: normas municipais ........................................................................ 52
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 54
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 56
UNIDADE 2 – INFRAESTRUTURA URBANA ................................................................................. 59
TÓPICO 1 – SISTEMAS INFRAESTRUTURAIS .............................................................................. 61
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61
2 SISTEMA VIÁRIO ............................................................................................................................... 62
2.1 FUNÇÕES DO SISTEMA VIÁRIO ................................................................................................ 66
2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VIAS NO SISTEMA VIÁRIO ............................................................... 67
3 SISTEMA SANITÁRIO ....................................................................................................................... 68
4 SISTEMA ENERGÉTICO .................................................................................................................... 71
5 SISTEMA DE COMUNICAÇÕES ..................................................................................................... 72
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 73
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75
TÓPICO 2 – SUSTENTABILIDADE URBANA NAS CIDADES ................................................... 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
2 EMPREENDIMENTOS URBANOS E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL: 
 A OBSERVÂNCIA DO CÓDIGO FLORESTAL ............................................................................. 79
3 SUSTENTABILIDADE URBANA NA PRÁTICA: ARBORIZAÇÃO URBANA..................... 80
3.1 BENEFÍCIOS DA ARBORIZAÇÃO URBANA ............................................................................ 80
3.2 ESCOLHA DAS ESPÉCIES PARA ARBORIZAÇÃO URBANA ............................................... 81
3.2.1 Árvores ..................................................................................................................................... 83
3.2.2 Arbustos ................................................................................................................................... 83
3.3 FORMA DE PLANTIO E MANUTENÇÃO ................................................................................. 84
3.3.1 O preparo das covas ............................................................................................................... 84
3.3.2 Manutenção e poda ................................................................................................................ 86
3.4 ELEMENTOS COMPLEMENTARES DA ARBORIZAÇÃO URBANA ................................... 87
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 88
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 90
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 92
TÓPICO 3 – ESTATUTO DA CIDADE ............................................................................................... 93
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93
2 AS DIRETRIZES CONTIDAS NO ESTATUTO DA CIDADE .................................................... 94
3 OS INSTRUMENTOS DE POLÍTICA URBANA CONTIDOS NO ESTATUTO 
 DA CIDADE .......................................................................................................................................... 96
4 O CONTROLE DO SOLO URBANO E O ESTATUTO DA CIDADE ........................................ 97
4.1 IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO...................................................................... 98
 PROGRESSIVO NO TEMPO .......................................................................................................... 98
4.2 DESAPROPRIAÇÃO COM PAGAMENTO EM TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA ............. 98
4.3 USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO ...................................................................... 99
4.4 DIREITO DE SUPERFÍCIE ............................................................................................................. 99
4.5 DIREITO DE PREEMPÇÃO .........................................................................................................100
IX
4.6. OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR ........................................................101
4.7 TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR ................................................................102
4.8 OPERAÇÕES URBANAS CONSORCIADAS ...........................................................................102
4.9 ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA .............................................................................103
4.10 CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA ...........................................................................................104
4.11 INCENTIVOS E BENEFÍCIOS FISCAIS E FINANCEIROS ...................................................104
4.12 DESAPROPRIAÇÃO ...................................................................................................................1044.13 SERVIDÃO ADMINISTRATIVA ...............................................................................................105
4.14 LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS .........................................................................................105
4.15 TOMBAMENTO ..........................................................................................................................106
4.16 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ............................................................................................106
4.17 ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL (ZEIS) ............................................................106
4.18 CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO ............................................................................107
4.19 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................................................107
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................108
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................113
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................115
UNIDADE 3 – PLANEJAMENTO AMBIENTAL DAS CIDADES ..............................................117
TÓPICO 1 – IMPACTOS AMBIENTAIS DA URBANIZAÇÃO NO MEIO 
 FÍSICO E BIÓTICO ........................................................................................................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELAS CIDADES NO MEIO 
 FÍSICO E BIÓTICO ............................................................................................................................122
2.1 DESMATAMENTO ........................................................................................................................122
2.2 IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO ...........................................................................................123
2.3 ALTERAÇÃO NO REGIME HIDROLÓGICO ...........................................................................123
2.4 IMPACTOS AMBIENTAIS DAS CIDADES NOS......................................................................125
 ECOSSISTEMAS ............................................................................................................................125
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 1 .....................................................................................................................128
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................129
TÓPICO 2 – GESTÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL E AMBIENTAL ..................................131
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131
2 GESTÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL ....................................................................................132
3 GESTÃO DO PATRIMÔNIO AMBIENTAL .................................................................................134
4 SUSTENTABILIDADE, MEIO AMBIENTE E O PLANEJAMENTO URBANO ....................139
4.1 SUSTENTABILIDADE ..................................................................................................................139
4.2 MEIO AMBIENTE E PLANEJAMENTO URBANO .................................................................141
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................148
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................153
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................155
TÓPICO 3 – INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL ......................................157
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................157
2 O ZONEAMENTO AMBIENTAL BRASILEIRO..........................................................................158
2.1 ASPECTOS GERAIS DO ZONEAMENTO AMBIENTAL .......................................................158
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ZONEAMENTOS ................................................................................160
2.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ZEE ....................................................................................163
3 PLANO DE BACIA HIDROGRÁFICA ......................................................................................... 172
X
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 175
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 176
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 177
1
UNIDADE 1
PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• conhecer os aspectos históricos da urbanização das cidades;
• verificar a importância da atividade de planejamento urbano e da legisla-
ção no ordenamento territorial;
• descobrir o que é um plano diretor e para que serve;
• identificar as etapas de elaboração de um plano diretor;
 
• conhecer a legislação urbanística que compõe e regulamenta o plano diretor.
Esta primeira unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um 
deles, você encontrará atividades que contribuirão para fixar os conteúdos 
explorados.
TÓPICO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO 
TÓPICO 2 – PLANO DIRETOR 
TÓPICO 3 – ETAPAS DE ELABORAÇÃO DO PLANO DIRETOR E AS 
LEGISLAÇÕES QUE REGULAMENTAM O PLANEJAMENTO 
URBANO MUNICIPAL
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
ASPECTOS HISTÓRICOS DA 
URBANIZAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Qualquer exame, ainda que superficial, da prática e da teoria concernentes 
ao desenvolvimento das atividades ligadas ao planejamento urbano brasileiro, 
revelará uma situação de crise. As cidades brasileiras, em sua maioria, apesar dos 
progressos técnicos e científicos alcançados, prescindem ainda de cartografias 
adequadas e de dados estatísticos confiáveis. Faltam também técnicos experientes 
e qualificados em planejamento urbano e uma maior conscientização da 
população quanto à questão urbana. Credite-se isso ao fato da ausência de canais 
reivindicatórios eficientes e políticas urbanas apenas no papel, sem efetividade na 
aplicação prática. Temos uma cidade real, à margem da legislação, e uma cidade 
ideal, que está presente na maioria dos planos diretores municipais (ROLNIK, 
1997). Ainda que as demandas do cidadão não sejam levadas em conta, que as 
políticas urbanas estejam presas apenas no papel e que o quadro sociopolítico 
apresente-se confuso, sempre ocorre o aparecimento de uma luz no fim do túnel. 
Este texto pretende subsidiar seus conhecimentos, ampliando sua 
compreensão de como se desenvolveu a atividade planejadora, como se 
formaram as cidades ao longo da história e quais são as ferramentas necessárias 
ao planejamento urbano no processo de organização das políticas públicas 
urbanas. Boa leitura!
2 A ATIVIDADE PLANEJADORA EM DESCRÉDITO
Apesar das diversas e contínuas tentativas e de grande esforço técnico na 
aplicação sistemática dos mais diversos modelos metodológicos para promover o 
controle do espaço urbano, é inegável que chegamos ao século 21com a figura da 
atividade planejadora em descrédito parcial, devido ao crescimento desordenado 
observado em nossas cidades. Não bastasse a convivência entre a cidade dita legal, 
que obedece a todo o rigor da legislação urbanística, e a cidade real, que cresce 
à margem da legislação, é apenas por força legal, por ocasião da aprovação da 
Constituição Federal de 1988, que há a obrigatoriedade do planejamento urbano 
das cidades, transferindo-se uma responsabilidade sem precedentes aos governos 
municipais de cidades com mais de 20 mil habitantes. Estas cidades passaram a 
ter a obrigação de elaborar seus respectivos planos diretores, cujo delineamento 
estava previsto no artigo 182 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), definindo 
as condições para que a propriedade urbana cumprisse sua função social:
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
4
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder 
público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por 
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da 
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º. O Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório 
para cidades com mais de 20 mil habitantes, é o instrumento básico da 
política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º. A propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende 
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no 
Plano Diretor.
§ 3º. As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e 
justa indenização em dinheiro.
§ 4º. É facultado ao poder público municipal, mediante lei específica 
para a área incluída no Plano Diretor, exigir, nos termos da lei federal, 
do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não 
utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, 
sucessivamente, de:
I – parcelamento ou edificação compulsórios;
II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana 
progressivo no tempo;
III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida 
pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, 
com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e 
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Examinando-se os fracassos e os sucessos das práticas de planejamento 
urbano das últimas décadas e julgando a validade de seus métodos, o grau de 
confiabilidade de suas formulações e a eficácia de suas soluções, há uma certa 
apreensão quanto à obrigatoriedade de se fazer planejamento somente para 
cidades com mais de 20 mil habitantes. De um lado, pode-se ter a reedição 
das experiências de inoperância, mistificação e cumplicidade tecnocrática que 
marcaram anos atrás a produção de vários planos diretores, gerando boa parte 
do descrédito que hoje assola a atividade planejadora. Pode-se ter, por outro 
lado, avanços significativos no sentido de implantação, nas cidades brasileiras, 
de processos de planejamento a partir do desenvolvimento do “evento” plano 
diretor. As cidades ficam à espera de um aporte de recursos que consolidem e 
transformem o planejado no papel em obras, prenunciando os novos ares de uma 
verdadeira reforma urbana. Temos, na esfera federal, um Ministério exclusivo 
para a promoção do desenvolvimento urbano, que é o Ministério das Cidades, 
que “foi instituído em 1º de janeiro de 2003, através da Medida Provisória nº 103, 
depois convertida na Lei nº 10.683, de 28 de maio do mesmo ano” (MINISTÉRIO 
DAS CIDADES, 2012).
Ainda segundo o Ministério das Cidades (2012):
o modelo de urbanização brasileiro produziu nas últimas décadas 
cidades caracterizadas pela fragmentação do espaço e pela exclusão 
social e territorial. O desordenamento do crescimento periférico 
associado à profunda desigualdade entre áreas pobres, desprovidas de 
toda a urbanidade, e áreas ricas, nas quais os equipamentos urbanos 
e infraestruturas se concentram, aprofunda essas características, 
reforçando a injustiça social de nossas cidades e inviabilizando a 
cidade para todos.
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
5
Neste quadro de desamparo em que se inserem nossas cidades, com muitas 
delas não tendo o mínimo instrumental necessário para o desenvolvimento das 
atividades de planejamento urbano, quer por ausência de cartografia ou mesmo 
de técnicos capacitados, não basta o repensar das formas de produção de cidades, 
mas das sistemáticas de análise dessa produção. Produção que, de forma dinâmica, 
altera-se continuamente em seus aspectos conjunturais e estruturais, diagnosticada 
no século passado por Costa (1989, p. 110) pela necessidade “da superação de seus 
graves problemas sociais, ambientais e econômicos que desafiam o presente e o 
futuro de nossas cidades” e que leva ao agravamento do quadro urbano. 
A falência do planejamento globalizante e a análise dos motivos que 
levam a população a se omitir do processo urbano fazem com que se procurem 
novas estratégias de ação, trazendo confiabilidade à atividade planejadora e 
aproximando-a de um processo de planejamento mais democrático, no resgate de 
seu papel que é essencialmente político, pois isto é “fundamental para dar sentido 
e legitimidade às questões técnicas e administrativas necessariamente envolvidas” 
(COSTA, 1989, p. 25). Aproximar o instrumental básico da atividade planejadora, 
levando-o a qualquer cidadão comum, é imprescindível. Este trabalho deve dar-
se numa escala social perceptível ao indivíduo, suscitando uma democracia que 
surja de baixo para cima, evidenciando a conscientização do cidadão numa escala 
que lhe seja compreensível, como os limites do seu bairro, como, por exemplo, 
sugere o urbanista Cândido Malta Campos Filho em seu livro seminal “Cidades 
brasileiras: seu controle ou o caos” (CAMPOS FILHO, 1989).
A percepção destes conflitos faz parte do diagnóstico de todas as esferas, 
federal, estaduais e municipais, já que o diagnóstico é muito claro:
boa parcela das cidades brasileiras abriga algum tipo de assentamento 
precário, normalmente distante, sem acesso, desprovido de 
infraestruturas e equipamentos mínimos. Na totalidade das grandes 
cidades essa é a realidade de milhares de brasileiros, entre eles os 
excluídos dos sistemas financeiros formais da habitação e do acesso à 
terra regularizada e urbanizada, brasileiros que acabam ocupando as 
chamadas áreas de risco, como encostas e locais inundáveis. Por outro 
lado, em muitas cidades, principalmente em suas áreas centrais, uma 
massa enorme de imóveis se encontra ociosa ou subutilizada, reforçando 
a exclusão e a criação de guetos – tanto de pobres que não dispõem de 
meios para se deslocar, quanto de ricos que temem os espaços públicos 
–, realidade que contribui para a violência, para a impossibilidade de 
surgimento da cidadania (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012).
 
Parte da solução também vem sendo tentada:
Visando promover ações de melhora deste quadro, o Governo Federal 
prioriza apoio ao planejamento territorial urbano e à política fundiária 
dos municípios, através da Secretaria Nacional de Programas Urbanos 
(SNPU), que tem como missão implantar o Estatuto das Cidades (Lei 
no 10.257/2001), através de ações diretas, com transferência de recursos 
do Orçamento Geral da União e através de ações de mobilização 
e capacitação, coisa que nem sempre se transforma em resultados 
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
6
palpáveis, apesar das seis áreas de atuação da SNPU, como apoio à 
elaboração de planos diretores, regularização fundiária, reabilitação 
de áreas centrais, prevenção e contenção de riscos associados a 
assentamentos precários, acessibilidade e conflitos fundiários urbanos 
(MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2012).
ESTUDOS FU
TUROS
Você verá mais tarde, na Unidade 2, do que trata e o que é o Estatuto da Cidade!
3 PLANEJAMENTO URBANO COM PARTICIPAÇÃO: O BAIRRO
A participação popular em qualquer processo, quer de cunho eleitoral, de 
planejamento urbano ou de qualquer outra forma, vem refletida no conhecimento 
prévio das regrasdo jogo em que ela, população, venha a se inserir. É como se 
fosse um jogo de cartas, como bem observa Carlos Nélson dos Santos (1988), em 
seu livro “A Cidade Como um Jogo de Cartas”, especialmente no capítulo “A 
cidade como um jogo”: não pode haver participação sem que se conheçam as 
regras do jogo urbano. Se a maioria dos participantes estiver alheia ao processo, 
pelo desinteresse típico de quem primeiramente preocupa-se com a própria 
sobrevivência ou com a participação dando-se de forma manipulada, de modo 
a conferir legitimação às propostas econômicas e políticas de grandes grupos 
detentores do capital, chega-se a um estágio de desconfiança com relação a 
qualquer processo que se diga “participativo”.
Assim, são poucas as experiências de gestão participativa no sentido 
mais amplo que o termo “participativo” possa explicitar, observando que, 
na maioria das vezes, há uma utilização da população como a avalista de um 
processo global de produção da cidade, fomentado e conduzido pelos grandes 
grupos econômicos, ao qual ela, população, não tem sequer condições de 
avaliar. Cria-se assim, de maneira forçada, uma pseudoaceitação de planos 
diretores participativos (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005), transformando-se 
a cogestão (gerir com) para a congestão, ou seja, daquilo que lhes é empurrado 
goela abaixo e não digerível.
Se a maioria das formas de participação a nível globalizante falhou, a 
proposição da adoção de uma esfera de atuação participativa na qual o cidadão 
possa aprender a essência do que está sendo discutido passa pela aproximação 
da escala de pertencimento e de domínio do repertório cotidiano da realidade: 
a escala do bairro. O bairro é a esfera onde todas as condicionantes, carências, 
matizes e, porque não dizer, as soluções possíveis e impossíveis, são discutidas 
e ventiladas, dentro de um quadro referencial perceptível a qualquer de seus 
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
7
moradores. Torna-se lógico que fica mais fácil a um morador de um determinado 
bairro compreender, opinar e participar de decisões dentro daquilo que diz 
respeito ao seu dia a dia, do que opinar sobre os problemas que possam atingir os 
moradores do extremo oposto da cidade ou, mesmo, de bairros vizinhos, ainda 
em que pese sua proximidade (CAMPOS FILHO, 1989).
Desta forma, é na escala do bairro que a participação passa a se incorporar 
na práxis política do cotidiano de cada cidadão, podendo (e essa deve ser a 
intenção) ser estendida à compreensão e discussão da cidade, em seus aspectos 
estruturais, como um todo. 
NOTA
Práxis é a atividade humana, em sociedade e na natureza, que cria as condições 
indispensáveis à existência da sociedade.
Mais do que a propalada democratização, deve-se, portanto, objetivar 
dotar o cidadão de um senso crítico, a partir da percepção de uma realidade 
concreta, que o cerca de perto. Uma vez despertada, essa consciência pode levá-lo a 
outros caminhos que não sejam o das atitudes reivindicatórias isoladas, dispersas 
e individualizadas, muitas vezes de caráter duvidoso. Pretende-se, isso sim, 
devolver ao indivíduo a noção de identidade coletiva, onde ele passa a pertencer 
a um determinado grupo social, que, no caso, é o seu bairro de vizinhança. 
Essa organização comunitária passa necessariamente por um compromisso 
de gestão da unidade físico-territorial do bairro, pelos seus respectivos habitantes, 
evitando e passando ao largo de práticas clientelistas ou paternalistas, sendo que 
quanto mais organizada for, maior será a possibilidade de poder reivindicatório 
dentro do processo de construção da cidade, visto que a análise desse processo 
“supõe compreender um processo de conflitos, resultante que é da estruturação 
da própria sociedade” (DEBIAGGI, 1985, p. 8).
Observa-se, também, que as novas formas de planejamento participativo 
estão intimamente ligadas ao fato do aprender a ouvir, dentro de processos 
democráticos aos quais nós ainda não nos acostumamos. É necessário esse esforço 
conjunto, multidisciplinar na sua concepção e plurissocial na sua execução. A 
condução deste processo só terá legitimidade se calcada no debate e participação 
do conjunto da sociedade a quem seus objetivos pretenderem beneficiar. Para 
entender o processo de construção das cidades e sua forma de estruturação 
urbana, precisamos estudar os processos históricos, com o intuito de não cometer 
os mesmos erros. Vamos lá, estudar um pouquinho sobre como as cidades foram 
construídas ao longo do tempo!
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
8
4 A CIDADE ATRAVÉS DA HISTÓRIA: UM BREVE HISTÓRICO
Embora o Urbanismo surja como disciplina autônoma apenas a partir do 
século XIX e o Planejamento Urbano apenas no século XX, as cidades são planejadas 
e desenhadas desde o início da civilização. A história das cidades é objeto de 
estudo de muitos pesquisadores. Dois dos mais conhecidos pelos planejadores 
urbanos são Leonardo Benévolo (1984; 1987; 2003) e Lewis Mumford (1991), além 
de Françoise Choay (1979), dos quais foi extraída a maioria das informações que 
seguem neste tópico.
4.1 AS PRIMEIRAS CIDADES
Segundo pesquisas, as primeiras cidades surgiram nos países que hoje 
conhecemos como Egito, Israel, Iraque e Irã, há cerca de 8.000 a.C. Há também 
menção de que, como resultado de um esforço planejado e deliberado de 
planejamento urbano, ainda que num estágio bem incipiente, remonte a cerca 
de 3500 a 2600 a.C. o surgimento de pequenas vilas e de grandes cidades. O 
crescimento dessas cidades, bem como a formação organizada, segundo um plano 
hierárquico de ruas, segundo um padrão de gradeamento imperfeito, revela o 
desejo de proteção das áreas urbanas.
As antigas civilizações pré-colombianas também construíram cidades 
grandiosas, considerando princípios urbanos, sistemas de esgoto e de 
abastecimento de água. As cidades incas, astecas e maias tinham populações de 
cerca de 250 mil habitantes.
Ideias sobre zoneamento e a correta localização de ruas e edifícios teriam 
surgido nas cidades de Mileto e Pireu, na Grécia antiga, onde a cidade, antes 
de tudo, era uma comunidade de cidadãos. Em Atenas surgiu o traçado urbano 
ortogonal, paralelamente aos primeiros conceitos de direito urbanístico.
Já Roma praticou um urbanismo preocupado com a salubridade, 
funcionalidade, comodidade e com a estética de suas cidades. Gerou o 
quadrilátero espacial, que é uma praça quadrada central com serviços urbanos, 
cercada por uma grade de ruas e por um muro para defesa voltado para a defesa 
militar e conveniência civil. Duas ruas em diagonal cruzavam o quadrilátero, 
visando reduzir o tempo necessário para locomoção. Outra preocupação era com 
o abastecimento de água, problema resolvido pelos famosos aquedutos, já que 
os romanos foram grandes construtores de prédios públicos singulares, como o 
Coliseu, utilizando apenas o princípio da compressão entre as pedras, já que não 
existia o concreto armado. 
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
9
4.2 AS CIDADES MEDIEVAIS
Chega-se temporalmente à cidade medieval, onde os efeitos mais 
evidentes da crise econômica e política nos primeiros cinco séculos depois da 
queda do Império Romano são a ruína das cidades e a dispersão dos habitantes 
pelo campo. 
Do século V ao século IX d.C, as cidades eram alvos muito vulneráveis 
aos ataques do povos bárbaros. Roma, que chegou a ter um milhão de habitantes 
no apogeu do Império Romano, teve sua população reduzida para apenas 20 mil 
habitantes na época de Carlos Magno. As antigas cidades romanas decresceram 
de tal maneira que muitas desapareceram por completo. 
No mundo medieval, as cidades não funcionavam mais como centros 
administrativos, ou seja, tinham um lugar marginal. O plano espacial das 
cidades medievais rompe com o quadrilátero romano e as cidades são criadas 
espontaneamente, organicamente, a partir do castelo, dos monastérios, ou ao longo 
do rio. As funções essenciais da cidade medieval são a troca, a informação, a vida 
cultural e o poder. Muitascidades e feudos medievais eram protegidos por muros, 
e quando a população intramuros crescia, simplesmente deixavam-se, na maioria 
das vezes, os muros antigos de pé, construindo-se ao redor da antiga cidade, cujo 
centro, em função da religião, era a Igreja ou catedrais, locais de destaque e que 
levavam décadas para serem construídas. As muralhas foram construídas para 
proteger as cidades das invasões dos bárbaros. Entre essas muralhas ficava a cidade 
medieval, que tinha forma não organizada, sendo orgânica. 
NOTA
Orgânica é um termo para a cidade onde os elementos arquiteturais interagem entre 
si como os componentes de um organismo, sem que haja um padrão preestabelecido ou formal.
Quanto ao sistema viário, as famosas estradas romanas, abandonadas, 
desapareceram. Estabeleceu-se o feudalismo, com pequenos burgos de ruas estreitas 
e sinuosas, totalmente desprovidas de infraestrutura, principalmente esgoto. 
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
10
NOTA
Um burgo designa geralmente uma cidade comercial, que se desenvolvia fora 
das muralhas da cidade medieval. Por essa época, boa parte da população vivia nas aldeias 
próximas aos muros dos castelos e dos mosteiros.
Tornou-se cada vez mais densa, com aproveitamento de todo o espaço 
disponível intramuros. Na cidade medieval, segundo Lamas (1992, p. 86):
as muralhas são o seu perímetro defensivo e, simultaneamente, 
separação com o campo e o mundo rural. Por razões de espaço, a 
cidade concentra-se até ser necessário alargar o seu limite e construir 
novas muralhas que englobam as expansões. Assim se formam os 
anéis sucessivos de construções e de sistemas defensivos. A muralha 
delimita a cidade e caracteriza a sua imagem e forma.
A partir do final da Idade Média (séc. X) começou o renascimento 
econômico na Europa, com o desenvolvimento do comércio e o surgimento 
de uma nova classe: a burguesia, independente financeiramente da nobreza 
aristocrática dos senhores feudais. Há uma intensa urbanização a partir do século 
XIII e novas cidades cresceram sobre o traçado de antigas cidades, com uma 
organização espacial e social diferente, com algumas delas chegando a mais de 
200 mil habitantes (Paris e Milão, por exemplo).
4.3 AS CIDADES RENASCENTISTAS E BARROCAS
Segundo Lewis Mumford (1991), no Renascimento tem início a expansão 
mundial da civilização europeia, “renascendo” econômica e culturalmente, com 
as grandes navegações, as novas invenções e os artefatos e produtos trazidos 
de todas as partes do mundo. Retomam-se os conhecimentos da era Clássica, 
produzindo grandes avanços tecnológicos e de realizações artísticas inigualáveis. 
A cidade renascentista consolida o poder político num único centro, sob a 
supervisão direta do rei, já que a cidade medieval teve sua segurança ameaçada 
pelos canhões, que tornaram obsoletas as muralhas defensivas. As cidades 
passam a ocupar as planícies e os traçados regulares dominam. Da praça central 
irradiam-se ruas, de onde os canhões protegem as entradas da cidade. As regras 
recém-descobertas da perspectiva e da simetria fazem com que do emaranhado 
da cidade medieval surjam as grandes praças, como, por exemplo, a de São Pedro 
em Roma (autoria de Bernini) e a Piazza de São Marcos, em Veneza. A cidade 
volta a ser considerada como uma obra de arte e Roma, voltando a ser a sede 
da Igreja Católica, recupera sua antiga glória, com edificações como o Capitólio 
(sede do governo municipal) e a Igreja de São Pedro. É neste período que artistas 
como Leonardo da Vinci e Michelangelo criam suas obras primas e ajudam a 
embelezar algumas das cidades italianas, nos séculos XV e XVI.
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
11
No conjunto, as realizações urbanísticas e de construção nas colônias 
europeias são mais importantes do que as realizadas na Europa, já que as colônias 
dispõem de espaço para a realização de grandes programas de urbanização e 
o sistema de tabuleiro de xadrez é adotado, como, por exemplo, nas cidades 
coloniais das Américas, sem a necessidade de adaptação a estruturas medievais.
Espanha e Portugal dominam a exploração além-mar e após o desembarque 
de Colombo na América, é estabelecido o Tratado de Tordesilhas, dividindo as 
Américas em duas: a leste, os portugueses encontram povos indígenas sem grandes 
cidades e facilmente dominados e, a oeste, os espanhóis encontram culturas mais 
desenvolvidas, mas ainda assim incapazes de resistir aos colonizadores. A capital 
do Império Asteca (Tenochititlan) é conquistada por Cortês e se transforma na atual 
Cidade do México, enquanto que Cusco, no Peru, é dominada por Pizarro. As normas 
urbanísticas das novas colônias espanholas são estabelecidas na Carta das Índias, 
constituindo-se de uma malha urbana ortogonal, com quarteirões iguais, quase 
sempre quadrados, com a praça central ladeada pela igreja e pelo paço municipal.
Inglaterra e França, a partir do século XVII, também criam suas colônias 
no chamado Novo Mundo, empregando a retícula urbana em xadrez, como, por 
exemplo, Nova York (1811) e Filadélfia (1682), já que algumas cidades dos Estados 
Unidos foram planejadas antes de terem sido construídas, como a atual cidade de 
Washington, DC, a atual capital do país, planejada por Pierre Charles L'Enfant, 
um arquiteto francês contratado por George Washington, então presidente dos 
Estados Unidos.
4.4 A CIDADE INDUSTRIAL
Os notáveis avanços tecnológicos oriundos da Revolução Industrial 
transformaram a civilização a partir de meados do século 18. A divisão do trabalho 
em operações realizadas por diferentes indivíduos proposta por Taylor possibilitou 
o aumento da produção e o aperfeiçoamento de uma série de máquinas para 
substituir o trabalho humano. A medicina conseguiu reduzir a taxa de mortalidade 
infantil e a taxa de mortalidade geral, tendo como consequências o grande 
crescimento populacional, acompanhado da migração do campo para as cidades. 
Nas áreas urbanas, as novas fábricas absorveram esta mão de obra migrante. 
Inventos como a máquina a vapor (1775), o tear mecânico, a locomotiva a vapor 
(1832), o telefone (1876), a lâmpada elétrica (1879), o motor a explosão (1885) e o 
elevador (1887) são o exemplo da cidade que se expande. As ferrovias seccionaram 
as cidades com seus trilhos, transportando cada vez mais cargas e passageiros.
É o surgimento do capitalismo enquanto sistema, sendo época de intensa 
industrialização e urbanização. As cidades crescem exageradamente em meados 
do século 19: Londres (4 milhões de habitantes) e Paris (2 milhões de habitantes). 
Em 1800, no início da Revolução Industrial, nenhuma cidade atingia a população 
de um milhão de habitantes. Em 1850 já eram quatro cidades nestas condições 
e, em 1900, dezenove cidades haviam ultrapassado a faixa de um milhão de 
habitantes (MUMFORD, 1991). 
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
12
O inchaço das cidades, somado ao adensamento excessivo, aumentou o grau 
de insalubridade e as condições de habitação tornaram-se críticas: esgoto corria a céu 
aberto, lixo acumulava-se nas ruas estreitas, as famílias amontoavam-se em cômodos 
sem ventilação natural e a fumaça das fábricas enegrecia o ar, sem falar nos incêndios 
e epidemias, que ocorriam com frequência, destruindo bairros inteiros.
O historiador Lewis Mumford (1991, p. 484) afirmou que o “industrialismo, 
a principal força criadora do século XIX, produziu o mais degradado ambiente 
urbano que o mundo jamais vira”. Peter Hall (1995, p. 19-21), no livro “Cidades 
do Amanhã”, cita as palavras de Andrews Mearns, que em 1833 descreve assim 
as condições de vida da cidade industrial:
Poucos dos que leem estas páginas sequer concebem o que são estes 
pestilentos viveiros humanos, onde dezenas de milhares de pessoas se 
amontoam em meio a horrores que nos trazem à mente o que ouvimos 
sobre a travessia do Atlântico por um navio negreiro. Para chegarmos 
até elas é preciso entrar por pátios que exalam gases venenosos e 
fétidos, vindos das poças de esgoto e dejetos espalhados portoda parte 
e que amiúde escorrem sob nossos pés; pátios, muitos deles, onde o sol 
jamais penetra, alguns sequer visitados por um sopro de ar fresco e 
que raramente conhecem as virtudes de uma gota d’água purificante. 
É preciso subir por escadas apodrecidas, que ameaçam ceder a cada 
degrau e, em alguns casos, já ruíram de todo, com buracos que põem 
em risco os membros e a vida do incauto. Acha-se o caminho às 
apalpadelas, ao longo de passagens escuras e imundas, fervilhantes 
de vermes. E então, se não forem rechaçados pelo fedor intolerável, 
poderão os senhores penetrar nos pardieiros onde estes milhares de 
seres, que pertencem, como todos nós, à raça pela qual Cristo morreu, 
vivem amontoados como reses. Paredes e tetos estão negros com as 
acreções da imundície que sobre eles se foi acumulando ao longo dos 
anos de abandono. Imundície que transpira pelas fendas do forro 
de tábuas, escorre pelas paredes, está em toda parte. O que atende 
pelo nome de janela é apenas metade disso, entuchada de farrapos ou 
tapada com tábuas que impedem a entrada da chuva e do vento.
Friederich Engels, em seu livro “A questão da habitação”, descreveu a 
precariedade da vida urbana no período industrial ao analisar as condições do 
proletariado na Inglaterra. Mencionou os bairros operários com ruas não calçadas 
e estreitas, podendo se passar da janela de uma casa para a do vizinho oposto, e 
edificações que eram tão altas que a luz solar mal podia penetrar nas vielas entre 
elas. Sem esgotos, o lixo e os excrementos eram jogados nas ruas diariamente, 
formando uma imundície que não apenas ofendia a vista e o olfato, mas também 
colocava em risco a saúde dos moradores.
4.5 O URBANISMO MODERNO
Com a expansão das cidades, o saneamento básico passou a ser uma 
necessidade vital. Surge o Urbanismo como ciência, voltado para a resolução das 
exigências sanitárias. Segundo Benévolo (1987, p. 98):
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
13
A teia das interligações urbanísticas criadas pelo desenvolvimento 
industrial torna-se necessariamente evidente através da constatação 
dos inconvenientes de ordem higiênica causados pela desordem e a 
aglomeração das novas periferias. Quando estes inconvenientes se 
tornam intoleráveis – devido às epidemias de cólera que proliferam 
depois de 1830 – e se estudaram as primeiras providências para 
eliminá-los, tornou-se clara a pluralidade das causas determinantes, 
pelo que as providências adquiriram necessariamente um caráter 
múltiplo e coordenado. Deste modo, a legislação sanitária torna-se o 
precedente direto da moderna legislação urbanística [...].
Legislações sanitárias começam a aparecer no Parlamento inglês e nos 
Estados Unidos em meados do século 19, a partir de exigências mínimas às novas 
construções, visando à melhoria da qualidade de vida, tendo como parâmetro a 
questão sanitária.
O Barão Haussmann, nos anos de 1851 a 1870, transformou radicalmente o 
traçado urbano da cidade de Paris. Conforme os interesses políticos do Imperador 
Napoleão III, realizou uma radical cirurgia urbana, abrindo 95 quilômetros de 
novas ruas sobre a velha Paris e mais 70 quilômetros de novas vias na periferia. 
Verdadeira revolução urbana, são criados bosques públicos (Bois de Boulogne) e 
novos serviços urbanos (como tubulações de água e esgoto, iluminação de gás e 
rede de transportes públicos com ônibus puxados a cavalo).
No Brasil: “a primeira década do século XX representa, para a cidade do 
Rio de Janeiro, uma época de grandes transformações, motivadas, sobretudo, 
pela necessidade de adequar a forma urbana às necessidades reais de criação, 
concentração e acumulação do capital” (ABREU, 1987, p. 59).
O Rio de Janeiro, então Distrito Federal, ou capital brasileira de então, 
precisava simbolizar concretamente a importância do país, maior produtor de 
café do mundo. Nomeado prefeito pelo Presidente Rodrigues Alves, Francisco 
Pereira Passos comandou no período de quatro anos (1902-1906), tempo que a 
maioria de nossos governantes atuais considera curto, “a maior transformação 
já verificada no espaço carioca até então, um verdadeiro programa de reforma 
urbana” (ABREU, 1987, p. 220). Suas principais intervenções foram: instituição 
do recuo progressivo dos edifícios; alargamento de diversas ruas; pavimentação 
asfáltica (pela primeira vez no país); embelezamento da cidade com a criação 
de praças; construção do Teatro Municipal, com estrutura metálica importada 
da Europa; túnel do Leme e Av. Atlântica em Copacabana; canalização de rios 
e saneamento da Lagoa Rodrigo de Freitas; proibição da mendicância e dos 
ambulantes; demolição dos cortiços, o que veio a gerar as primeiras favelas 
cariocas; construção da Av. Central pela União e construção do novo porto pela 
União, em aterro sobre o mar (ABREU, 1987).
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
14
NOTA
Francisco Pereira Passos (1836-1913) foi um engenheiro brasileiro que estudou 
na França de 1857 a 1860, onde assistiu à reforma urbana de Paris promovida por Haussmann. 
Esta reforma exerceu
4.6 AS CIDADES IDEAIS: O URBANISMO UTÓPICO
Nos rumos e contrarrumos da história sempre há insatisfeitos com as 
cidades que resultam das intervenções urbanas ou há aqueles que propõem novos 
modelos de sociedade a partir de traçados urbanos e de cidades consideradas 
ideais. Citaremos alguns urbanistas e suas propostas. Acompanhe:
- Arturo Soria y Mata, espanhol, projeta a cidade linear, em 1882, 
defendendo a tese de que “dos problemas da locomoção derivam-se todos 
os demais problemas da urbanização”. A cidade linear pode se prolongar 
indefinidamente, mantém a oferta ilimitada de terrenos na área central e o 
equilíbrio de oferta-demanda, impedindo a especulação imobiliária.
- Camillo Sitte, vienense, em 1889, defende que as cidades sejam 
projetadas com base em princípios estéticos, como uma obra de arte. Propunha 
o desenvolvimento orgânico da cidade medieval como um meio para humanizar 
a cidade contemporânea. Observou os defeitos da cidade do século XIX com 
extrema clareza, mas as medidas sugeridas não passavam de paliativos.
- Ebenezer Howard, inglês, projeta a Cidade Jardim (Garden City, 1898) 
para uma população máxima de 32 mil habitantes. Teria malha radial concêntrica, 
cercada por um cinturão agrícola. A terra pertenceria ao Estado, eliminando 
a especulação imobiliária, e haveria controle do crescimento e limitação da 
população na faixa dos 30 mil habitantes. Cada cidade jardim estaria articulada 
com outras, formando uma rede de cidades.
- Raymond Unwin, inglês, colocou a Cidade Jardim em prática em 
Letchworth (1907) e Welwyn, mas os melhores resultados práticos desta proposta 
não são cidades autônomas, mas bairros residenciais periféricos nos Estados 
Unidos e na Inglaterra.
- Tony Garnier, francês, em 1901 projeta uma cidade industrial também 
linear, com população prevista para 35 mil habitantes e separação das funções 
urbanas.
TÓPICO 1 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
15
Além destes modelos, muitas outras propostas, que não lograram tanta 
publicidade, também buscaram a organização coletiva em detrimento da liberdade 
individual, visando resolver de forma pública os aspectos da vida familiar e social. 
Nascem das condições inaceitáveis geradas pelas disfunções da cidade proveniente 
da Revolução Industrial. Estes sonhadores propõem a criação de novas estruturas 
urbanas que são denominadas de utopias, no sentido de serem ideias inatingíveis, 
sem resolver, no entanto, os problemas que lhe deram origem.
UNI
Faça uma pesquisa e descubra outras propostas ditas utópicas. Será que vale a 
pena sonhar com novos modelos de cidades? Descubra!
4.7 TEMPOS ATUAIS
O crescimento dos problemas urbanos durante o final do século XIX 
e de boa parte do século XX motivou governos de muitos países a repensar o 
processo de planejamento urbano até então existente. Os urbanistas do então 
nascente Movimento Moderno propuseram, nos anos 20 e 30 do século XX, 
um planejamento eminentemente técnicoe neutro políticamente. Os CIAM 
(Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna) resultaram na Carta de Atenas 
e na separação das funções citadinas. Os reflexos deste pensamento urbanístico 
resultaram na cidade asséptica e em projetos de novas áreas de expansão urbana 
totalmente desvinculados das necessidades efetivas das comunidades que aí 
morariam: o plano-piloto da cidade de Brasília é considerado o exemplo mais 
perfeito deste tipo de urbanismo modernista. As funções segregadas revelaram-
se um verdadeiro fiasco.
Já a partir da métade do século passado (principalmente a partir de 1960), 
o agravamento de problemas de todo tipo – como a explosão populacional, os 
congestionamentos viários, a poluição, o surgimento ou crescimento de favelas, a 
falta de moradia e as questões ambientais – fez com que o planejamento urbano 
de uma cidade passasse à ordem do dia. 
Do envolvimento das agências governamentais, das empresas privadas, 
da participação popular presente nos planos participativos até o planejamento 
estratégico de cidades, o planejamento urbano passa por um momento de 
redefinição e reflexão, não havendo, por assim dizer, um modelo ideal a ser 
aplicado. Do planejamento centralizado, estruturado em projetos residenciais 
movidos mais pelo caráter quantitativo que pelo qualitativo, o planejamento 
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
16
urbano no Brasil, pelo menos nos últimos anos, tem se esforçado para agir como 
mediador do conflito social pelo solo urbano instaurado. O foco do planejamento 
urbano atual desloca-se do regulamento das práticas de comando e controle 
convencionalmente presentes na aplicação dos instrumentos de uso e ocupação 
do solo para o tratamento dos processos especulativos de produção do espaço 
urbano, com as decisões sendo tomadas através de um processo democrático no 
qual os urbanistas passam a ocupar o lugar de condutores de processo ao invés 
de um projeto autoral de cidade ideal. Em contraponto a esta tendência, há o que 
se convencionou chamar de planejamento urbano estratégico, que procura tratar 
as cidades sob a lógica da guerra fiscal e de sua localização na suposta nova rede 
de cidades globais.
17
Neste tópico você estudou que:
• As cidades brasileiras, em sua maioria, apesar dos progressos técnicos e 
científicos alcançados, não possuem cartografias adequadas, dados estatísticos 
confiáveis, técnicos qualificados em planejamento urbano e uma maior 
conscientização da população quanto à questão urbana.
• Em função dos fatos elencados, chegamos ao século 21 com a figura da atividade 
planejadora em descrédito parcial, devido ao crescimento desordenado 
observado em nossas cidades.
• Os governos municipais de cidades com mais de 20 mil habitantes têm a 
obrigação de elaborar seus respectivos planos diretores, cuja previsão consta 
do artigo 182 da Constituição Federal de 1988, definindo as condições para que 
a propriedade urbana cumpra sua função social.
• Boa parte das cidades brasileiras abriga assentamentos precários, normalmente 
distantes, sem acesso, desprovidos das mínimas condições de infraestrutura e 
equipamentos urbanos.
• O bairro é uma das escalas de planejamento urbano mais adequado, já que as 
soluções podem ser discutidas dentro de um quadro onde as decisões fiquem 
dentro daquilo que diz respeito ao dia a dia do cidadão.
• A gestão da unidade físico-territorial do bairro deve evitar e passar ao largo de 
práticas clientelistas ou paternalistas, sendo que quanto mais organizada for, 
maior será a possibilidade de resolução dos conflitos urbanos.
• O Urbanismo surge como disciplina autônoma apenas a partir do século 
XIX e o planejamento urbano apenas no século XX, embora as cidades sejam 
planejadas e desenhadas desde o início da civilização. 
• A história das cidades é objeto de estudo de muitos pesquisadores e as primeiras 
cidades surgiram nos países que hoje conhecemos como Egito, Israel, Iraque e 
Irã, cerca de 8.000 a.C. 
• Em Atenas surgiu o traçado urbano ortogonal, paralelamente aos primeiros 
conceitos de direito urbanístico, e Roma gerou o quadrilátero espacial, que é uma 
praça quadrada central com serviços urbanos, cercada por uma grade de ruas e 
por um muro para defesa voltado para a defesa militar e conveniência civil. 
RESUMO DO TÓPICO 1
18
• A cidade medieval surge nos primeiros cinco séculos depois da queda do 
Império Romano e suas funções essenciais eram a troca, a informação, a vida 
cultural e o poder, dentro de muros construídos para proteger as cidades das 
invasões dos bárbaros. 
• A cidade renascentista consolida o poder político num único centro e os 
traçados regulares dominam. Da praça central irradiam-se ruas, de onde os 
canhões protegem as entradas da cidade. As regras recém-descobertas da 
perspectiva e da simetria fazem com que do emaranhado da cidade medieval 
surjam as grandes praças. 
• O sistema de tabuleiro de xadrez é adotado nas cidades coloniais das Américas, 
sem a necessidade de adaptação a estruturas medievais.
• O surgimento do capitalismo, a partir da Revolução Industrial, gera intensa 
industrialização e urbanização. As cidades crescem exageradamente em 
meados do século 19, e o inchaço das cidades, somado ao adensamento 
excessivo, aumentou o grau de insalubridade e as condições de habitação 
tornaram-se críticas.
• O saneamento básico, passando a ser necessidade vital, provoca o surgimento 
do Urbanismo como ciência, voltado para a resolução das exigências sanitárias. 
• No Brasil, os primeiros anos do século XX representam uma época de grandes 
transformações urbanas, motivadas, sobretudo, pela necessidade de adequar 
a forma urbana às necessidades reais simbolizar concretamente a importância 
do país, maior produtor de café do mundo. 
• Há cidades que só ficaram no papel, sendo consideradas ideais ou utópicas.
• O crescimento dos problemas urbanos durante o final do século XIX e de boa 
parte do século XX motivou governos de muitos países a repensar o processo 
de planejamento urbano até então existente. Os urbanistas do Movimento 
Moderno propuseram, nos anos 20 e 30 do século XX, um planejamento 
eminentemente técnico e neutro politicamente.
19
Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo estudado, vamos 
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda a elas em seu caderno. 
Bom trabalho!
1 Para onde estão indo nossas cidades? A globalização tem afetado as cidades? 
O que você acha? Faça uma pesquisa e anotações sobre sua posição.
2 Por que o bairro é uma escala interessante para se trabalhar com as questões 
urbanas e de planejamento urbano?
3 Quais as consequências urbanas e ambientais da Revolução Industrial para 
as cidades?
4 Comente sobre as cidades ditas utópicas, mencionando alguns autores e suas 
propostas.
5 Faça uma pesquisa sobre outros modelos urbanos utópicos de cidades e traga 
para a sala de aula para discutir com seus colegas.
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 2
PLANO DIRETOR
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O Plano Diretor, conforme o art. 182, parágrafo 1º, da Constituição Federal 
Brasileira (BRASIL, 1988), é um documento de natureza técnica e política que tem 
por objetivo direcionar o crescimento físico-territorial e socioeconômico dos núcleos 
urbanos do município, ordenando sua expansão e estimulando as principais 
funções e atividades urbanas (habitação, trabalho, educação, saúde etc.). 
A elaboração de planos diretores para cidades com mais de 20 mil 
habitantes é uma exigência constitucional tanto em nível federal, como também é 
exigência de alguns estados brasileiros. 
A complexidade dos planos diretores varia de local para local, mas 
podemos identificar basicamente três etapas que obrigatoriamente deverão estar 
presentes em todos eles. São elas:
a) o diagnóstico ou análise da situação existente, compreendendo estudos e 
levantamentos para a identificação das principais características, vocações, 
potencialidades, problemas e recursos do município;
b) as proposições ou diretrizes urbanísticasderivadas do diagnóstico precedente; e
c) a legislação urbanística, que consubstancia o proposto pelas diretrizes, sendo 
o conjunto de leis ou códigos que regulam o uso e a ocupação do solo urbano.
Sendo um instrumento do planejamento e correto ordenamento urbano 
das cidades, é constituído por:
• Documentos de informação e análise (diagnósticos, relatórios, mapas).
• Documentos de orientação (definição de políticas, diretrizes, estratégias).
• Documentos operativos (planos de ação, projetos).
• Documentos normativos (projetos de lei), que formam um conjunto de leis ou 
códigos que tratam de assuntos concernentes à vida urbana, como ordenamento 
do território, a localização das atividades, a largura das ruas, as regras para os 
loteamentos e construções.
UNIDADE 1 | PROCESSO EVOLUTIVO URBANO
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2 A LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E OS PLANOS DIRETORES
Os planos diretores, enquanto documentos de ordenamento do espaço 
urbano, surgiram na esteira do desenvolvimento das primeiras legislações 
urbanísticas. O Estado (aqui entendido como governos federal, estaduais e 
municipais), a partir da Revolução Industrial e de suas consequências também 
nefastas ao espaço urbano, sentiu-se na obrigação de controlar a deterioração da 
qualidade de vida nas cidades. Passou-se a regular principalmente a construção 
de edificações particulares, que surgiram no afã de prover habitação à população 
migrante em busca de trabalho nos grandes centros.
Segundo Benevolo (1987, p. 9):
a urbanização moderna não surgiu contemporaneamente aos 
processos técnicos e econômicos que deram origem e implicaram a 
transformação da cidade industrial, mas formou-se posteriormente, 
quando os efeitos quantitativos das transformações em curso se 
tornaram evidentes e entraram em conflito entre si, tornando inevitável 
uma intervenção reparadora.
Este inchaço das cidades e seu adensamento excessivo aumentaram 
sensivelmente o grau de insalubridade e as condições sanitárias tornaram-se 
críticas: o saneamento básico passou a ser uma necessidade imperiosa e surgiu 
o urbanismo moderno e, por assim dizer, surge um embrião da legislação 
urbanística, a partir da aplicação da legislação sanitária da época: pode ser 
considerada como uma primeira legislação urbanística aquela aprovada pelo 
Parlamento inglês em 1848, determinando a interdição e demolição de construções 
existentes consideradas insalubres. Em 1875, o Ato de Saúde Pública permitiu a 
regulamentação das novas construções. A partir de 1901, nos Estados Unidos, 
passou-se a impor exigências mínimas às novas construções, como ventilação 
para os cômodos, rede de água e esgoto e afastamento entre as edificações 
(BENEVOLO, 1987). Daí por diante, mais e mais regulamentações edilícias (sobre 
a construção de edifícios) ocorrem em todos os locais, todos os dias.
3 O BRASIL E OS PLANOS DIRETORES
O Brasil, sendo eminentemente um país rural nas primeiras décadas do 
século XX, teve seu planejamento urbano voltado para as grandes cidades da 
época. Visava, sobretudo, às intervenções e legislações sanitaristas, visando à 
higienização pública e ao embelezamento das cidades. Os planos diretores do Rio 
de Janeiro, São Paulo e Recife são desse período. Le Corbusier, urbanista francês, 
tem influência direta sobre o ordenamento das cidades brasileiras, a partir de 
1930, com a divulgação da Carta de Atenas, com propostas sobre zoneamento 
das cidades. A Carta de Atenas, tendência mundial do urbanismo moderno da 
época, que dividia as cidades pelo zoneamento nas funções de habitar, trabalhar, 
recrear e circular, passa a ser a nota dominante em urbanismo, até recentemente 
(LE CORBUSIER, 1993).
TÓPICO 2 | PLANO DIRETOR
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NOTA
A Carta de Atenas é o manifesto urbanístico resultante do IV Congresso 
Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado em Atenas em 1933, que teve como 
tema a “cidade funcional”. O documento traçou diretrizes e fórmulas que consideravam a 
cidade como um organismo a ser concebido de modo funcional, preconizando a separação 
das áreas residenciais, de lazer e de trabalho, propondo, em lugar do caráter e da densidade 
das cidades tradicionais, uma cidade na qual os edifícios se desenvolvem em altura e se 
inscrevem em áreas verdes, por esse motivo, pouco densas.
Durante o regime militar (décadas de 60 e 70, principalmente), tivemos 
políticas urbanas federais no país. Apesar de sua adoção, a crítica fica pelo excesso de 
centralização e tecnocracia, já que todas as definições vinham do Governo Federal. 
NOTA
Tecnocracia é uma alternativa de governo na qual o controle das decisões 
é feito por especialistas (cientistas, engenheiros e demais profissionais tecnológicos) e as 
decisões são tomadas com base na qualidade técnica ou acadêmica.
Os governos locais eram meros gestores da política central. O Banco Nacional 
de Habitação (BNH) foi criado nesta época, em 1965, sendo o órgão responsável 
pelo financiamento da habitação e pelo saneamento, assim como o Serviço Federal 
da Habitação e Urbanismo (SERPHAU), órgão responsável pela formulação de 
políticas urbanas e “principal financiador dos planos diretores para as principais 
cidades do país, tendo por objetivo disciplinar o crescimento físico-territorial das 
cidades segundo uma postura e perspectiva de racionalidade técnica” (TAVARES, 
1997, p. 28; GONÇALVES, 1989, p. 123). Ocorreram sucessivas transformações 
de nomenclatura e desmantelamento dos órgãos federais responsáveis pelo 
planejamento urbano, até chegarmos ao atual Ministério das Cidades, criado 
em 2003. Após o SERPHAU, tivemos o Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Urbano (CNDU, de 1979), o MDU (Ministério de Desenvolvimento Urbano) e até o 
Ministério que virou vaca, o MHU (Ministério de Habitação e Urbanismo).
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Os planos diretores, neste período, eram elaborados por equipes externas 
com o intuito de recebimento de verbas federais, notadamente para pavimentação, 
sem qualquer participação da comunidade local e, pasmem, às vezes sem 
interferência dos técnicos locais. Como dito, o intuito da realização destes planos era 
a obtenção de financiamentos junto ao Banco Mundial e demais órgãos de fomento, 
e não o controle ou o ordenamento do desenvolvimento urbano. Geralmente, as 
peças constantes dos volumes do Plano Diretor tinham destino certo: a gaveta ou os 
armários da prefeitura, longe do dia a dia da administração municipal.
Portanto, desde sua gênese, o planejamento urbano no Brasil se caracterizou 
pela forte presença do Estado intervencionista, sobretudo a partir da década de 
60. Naquele momento, a forte influência dos preceitos modernos de planejamento 
urbano instigava o planejador à ideia da ‘criação’ do espaço urbano, a partir de 
normas racionais, baseadas na Carta de Atenas e de grandes projetos nacionais 
de estímulo ao desenvolvimento econômico, através dos quais se acreditava ser 
possível interferir e modificar as bases dos processos sociais (GRAZIA, 1990).
Já a partir da década de 70, com o processo de redemocratização do país, 
as estruturas centrais de planejamento foram sendo aos poucos desmontadas: 
extinguem-se o BNH em 1986 e o SERFHAU em 1974. 
Esse malogro do planejamento urbano centralizado, somado aos fracassos 
anteriores, fez com que surgissem movimentos sociais lutando por um processo 
de reforma urbana, defendendo a importância do planejamento se dar em nível 
municipal e, mais que isso, destacando-se sua dimensão política, no sentido de 
sua legitimação se dar através do envolvimento comunitário. 
Elaborou-se em 1982 um texto bastante abrangente, conhecido como 
anteprojeto de Lei Federal do Desenvolvimento Urbano. Posteriormente, através 
da Resolução n° 18, datada de 22/02/1983, aprovou-se um anteprojeto de lei que 
foi remetido para o Gabinete da Presidência da República. Em 09/03/1983, o 
Ministro do Interior encaminhou-o ao Presidente da República João Figueiredo, 
ficando conhecido como Anteprojeto de Lei de Desenvolvimento Urbano, com a 
Exposiçãode Motivos n° 12/83. 
Na Câmara dos Deputados esta proposta de lei foi designada como Projeto 
de Lei n° 775/83, e depois de longa tramitação chegou ao Senado Federal, sendo 
alvo de inúmeros projetos substitutivos, dentre os quais o do Senador Pompeu 
de Souza, o de n° 181/1989, que, mais tarde, de volta à Câmara dos Deputados, se 
transformaria no PL n° 5.788/1990, que, depois de 12 anos, se transformou no que 
hoje é conhecido como Estatuto da Cidade. Apesar de não ter sido aprovado, dois 
de seus artigos foram incorporados parcialmente ao texto constitucional de 1988 
através de uma emenda popular contendo cerca de 150 mil assinaturas. 
TÓPICO 2 | PLANO DIRETOR
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Dentre os avanços da Constituição Federal de 1988 estão: o reconhecimento 
da função social da propriedade como superior ao direito de propriedade; o solo 
criado e o imposto progressivo sobre terrenos ociosos. Além disso, remeteu a 
responsabilidade pela elaboração dos planos diretores aos municípios sem, no 
entanto, definir nenhuma sanção para os municípios que não cumprissem a 
exigência constitucional.
Um dos grandes planejadores urbanos, com visão crítica sobre os problemas 
que rondam o planejamento urbano, é o urbanista Jaime Lerner, que já foi prefeito 
de Curitiba. Veja o que ele diz sobre as cidades na leitura complementar.
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JAIME LERNER: “O FUTURO ESTÁ NA SUPERFÍCIE”
Claudio Leal
O urbanista e ex-governador do Paraná Jaime Lerner, 70 anos, quebra 
uma das certezas dos debates eleitorais: o futuro das grandes cidades brasileiras 
não está no metrô. Em vez de procurar respiros no subsolo, Lerner propõe a 
redescoberta da superfície, a integração dos sistemas de transporte.
“Planejar é uma trajetória”, avisa aos apressados. Em entrevista a Terra 
Magazine, o administrador que transformou Curitiba em uma das referências do 
urbanismo contemporâneo avalia o presente e o futuro das cidades. Para Lerner, 
vencedor do prêmio das Nações Unidas para o meio ambiente, a mobilidade, a 
sustentabilidade e a coexistência são as ideias norteadoras do planejamento das 
metrópoles. Atualmente, ele é consultor da ONU para assuntos urbanos.
— Acredito que a gente consegue transportar em superfície um número 
de pessoas em tão grande quantidade, e em melhores condições, que um metrô. 
Só que a superfície precisa ser repensada. Temos que metronizar a superfície. São 
Paulo já errou três vezes e vai continuar a errar enquanto achar que a solução é só 
colocar a pista exclusiva - critica.
O ex-prefeito de Curitiba, que já presidiu a União Internacional de 
Arquitetos, analisa as alternativas para o Rio de Janeiro. Não assume um olhar 
fatalista sobre a criminalidade nas favelas, antes indica a capacidade de interagir 
do carioca - na praia, nas ruas, nos morros - como um dos elementos fundamentais 
para superar os conflitos provocados pelo tráfico de drogas.
— A droga complicou todas as cidades do mundo. Mas a cidade de melhor 
qualidade de vida é mais segura. A cidade que cuida melhor da mobilidade, 
da sustentabilidade, da coexistência, ela já é, em si, menos violenta. Agora, o 
problema da droga é um componente novo nessa história.
Lerner opina também sobre os choques das cidades modernas com o 
patrimônio histórico, a exemplo de Salvador e do Rio de Janeiro.
— Você não rasga o retrato de família, mesmo que você não goste do 
nariz de um tio. Porque esse retrato é você mesmo. A cidade é como um retrato 
de família.
Leia a entrevista:
Terra Magazine - As grandes cidades brasileiras caminham para ser 
megacidades. O que deve ser priorizado pelo homem público?
LEITURA COMPLEMENTAR
TÓPICO 2 | PLANO DIRETOR
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Jaime Lerner - Acho que, além dos problemas normais que todas as 
cidades têm - de educação à saúde, atenção às crianças, segurança, saneamento -, 
existem hoje três pontos que são fundamentais, não só para cada cidade, mas para 
a humanidade. São problemas essenciais para essas cidades e a responsabilidade 
perante o futuro: a mobilidade, a sustentabilidade e a coexistência, a 
sociodiversidade. Bom, primeiro a mobilidade. Nós estamos vivendo, nas grandes 
cidades, um estado de perplexidade. Todo mundo apavorado com o número de 
carros, a incapacidade que as cidades têm em dar resposta à mobilidade.
E a crise do transporte público. 
O problema é que existe um pensamento muito centrado em dois pontos: 
ou é o carro, ou é o metrô. E nós temos que pensar um sistema integrado. 
Principalmente porque eu acho que o futuro está na superfície.
Por quê?
Porque as cidades que fizeram redes completas de metrô, elas fizeram 
há cem anos, quando era mais barato trabalhar no subsolo. Hoje é impossível 
uma cidade ter a rede completa. O que vai acontecer? Algumas cidades vão ter 
algumas linhas. Vou dar um exemplo: São Paulo tem quatro linhas de metrô. Mas 
84% dos deslocamentos são na superfície. Então, apesar de achar que o futuro está 
na superfície, eu não procuro provar qual é o sistema melhor. O que não é bom 
é esperar uma rede completa que nunca vai existir. Às vezes ficam esperando 30 
anos por uma linha.
É inevitável a restrição ao transporte individual?
Não. Veja, nós temos que oferecer todas as alternativas. Se houver mais 
linhas de metrô, tem que ser um smart metrô. Ou, na linguagem carioca, um 
metrô “esperto” (risos). Se você tem superfície, ônibus, esse ônibus tem que ser 
esperto. Se você tem bicicleta, é a mesma coisa. Carro, a mesma coisa. Estou 
evitando falar “smart card” porque não é “smart”. Você tem que ter um smart 
táxi, um smart metrô, um smart bus. Com uma condição fundamental: jamais um 
sistema competir com o outro no mesmo espaço. Aí você começa a ver que eles 
são complementares. Tenho certeza de que, assim como hoje, os financiamentos 
só acontecem quando você prova seu compromisso com o meio ambiente. Daqui 
a pouco, esse compromisso vai ter que ser com a sustentabilidade. As cidades 
serão obrigadas a melhorar seu sistema de transporte. Hoje, 75% dos problemas 
de emissões de carbono estão nas cidades. A gente fica assistindo, no mundo 
inteiro, a essas discussões. Muitos pensam que a sustentabilidade está em novos 
materiais. É muito importante, mas não é suficiente. Outros acham que está nos 
edifícios verdes (green buildings). É importante, mas não é suficiente.
A construção civil não é uma grande poluidora?
Você pode ter “green buildings” daqui pra frente, mas não é suficiente. 
Novas formas de energia. Todo mundo acha que isso é a solução. Não é. É 
importante, mas não é suficiente. Reciclar é importante, mas não é suficiente. O 
que a gente tem que entender, é: como 75% dos problemas de emissão de carbono 
estão relacionados às cidades, é na concepção das cidades que nós temos que 
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atuar. Alguns compromissos têm que existir daqui pra frente em todas as cidades 
do mundo. Primeiro, usar menos o automóvel. Não é “não usar o automóvel”. 
Usar menos. Se você analisar sua carteira de motorista, está escrito: “permitido 
para carro a passeio” (risos). As grandes cidades serão obrigadas a melhorar seus 
sistemas de transporte público.
Essa redução do uso dos automóveis, naturalmente, passa por uma 
campanha de reeducação?
Reeducação. Você não pode concentrar na dependência do automóvel e, 
também, achar que a única solução é trocar automóvel pelo metrô… O metrô não 
acontece de uma hora pra outra. Há 50 anos que se discute em Nova Iorque a 
“Second Avenue line”, o metrô da Segunda Avenida. Cinquenta anos! Agora, estão 
começando. Vai levar mais uns 20 anos pra fazer. São 70 anos pra fazer uma linha 
que vai custar US$ 4 bilhões. E essa linha não vai transportar mais passageiros do 
que o ônibus biarticulado que passa em frente ao meu escritório, em Curitiba. Por 
isso que eu acredito que a gente consegue transportar em superfície um número 
de pessoas em tão grande quantidade, e em melhores condições, que um metrô. 
Só que a superfície precisa ser repensada. Temos que metronizar a superfície. São

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