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Planejamento Urbano e Mobilidade 1

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PLANEJAMENTO URBANO 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Daniela Tahira Munhoz da Rocha 
 
 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Iniciaremos esta aula com a apresentação de alguns conceitos e 
nomenclaturas que serão utilizados na profissão de gestor público. Na 
sequência, abordaremos o tema Planejamento Urbano, destacando seu 
conceito, suas características e suas etapas, sempre tentando referenciá-lo por 
meio de exemplos práticos. Por fim, traremos um breve histórico do urbanismo 
no Brasil e alguns desafios e diretrizes para as cidades do século XXI. 
TEMA 1 – CONCEITOS GERAIS 
Antes de tratarmos do Planejamento Urbano, sua evolução ao longo do 
tempo, suas aplicações práticas e tendências para o futuro, é de fundamental 
importância nos atermos à análise de conceitos e elementos indispensáveis para 
que se estabeleçam os alicerces sob os quais será construído nosso 
conhecimento. 
Conceituar Planejamento Urbano não é tarefa fácil, sendo necessário 
inicialmente estabelecer alguns termos que fazem parte da linguagem e do dia 
a dia do planejador urbano. 
De acordo Turbay e Cassilha (2021), os elementos que ajudam a definir 
e compreender o Planejamento Urbano são: 
• cidade – Lewis Mumford a conceitua dentro da ótica do planejamento 
urbano como um espaço capaz de armazenar e transmitir bens 
produzidos pela população, concentrada de forma a possibilitar muitas 
facilidades em um espaço físico reduzido, capaz de se adaptar às 
necessidades da sociedade continuamente em mudança, sem 
abandonar, entretanto, a herança social já acumulada durante o tempo, 
que ajuda a contar a história das cidades por meio de intervenções 
relevantes como as bibliotecas, as universidades, as igrejas, os parques, 
entre outros espaços; 
• espaço – é produzido e organizado de acordo com os interesses das 
diferentes classes sociais, e adquire uma expressão espacial por 
intermédio da estruturação do espaço urbano de forma a segregar 
diferentes grupos sociais; 
 
 
3 
• lugar – combinando a visão estruturalista de que o espaço é socialmente 
produzido e não fornecido, e a visão humanista de que as pessoas não 
vivem em uma estrutura de relações geométricas, mas em um mundo de 
significado, fica claro que os espaços geralmente funcionam de maneiras 
específicas, com características e significados distintos, em contextos 
particulares. Então, o espaço se torna lugar (Koops; Galic, 2017); 
• território – área da superfície de terra que contém uma nação, em cujas 
fronteiras o Estado exerce sua soberania, e que compreende todo o solo, 
inclusive rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías e 
portos; 
• região – pode assumir diversas escalas, desde a região de uma cidade 
até a região do país, passando pelas regiões metropolitanas; 
• município – unidades com menor autonomia na organização político-
administrativa brasileira; 
• capital regional – municípios que exercem grande influência a outros 
municípios de uma determinada Região Metropolitana; 
• metrópole – forma de organização urbana, de território contínuo, com 
grande quantidade de população envolvida, em torno de um núcleo de 
alta densidade e bastante desenvolvido em termos de equipamentos 
urbanos; 
 
 
 
4 
Tabela 1 – Metrópoles brasileiras e suas redes de influência 
CIDADE 
POPULAÇÃO 
(rede de influência) 
ÁREA (km²) PIB (R$) 
C
A
T
E
G
O
R
IA
 D
A
S
 M
E
T
R
Ó
P
O
L
E
S
 
 
São Paulo/SP 49.295.747 688.624,10 2.088.833.313 
 Rio de Janeiro/RJ 17.296.239 48.796,40 642.660.440 
Brasília/DF 11.649.359 1.753.408,90 457.259.929 
 
Recife/PE 23.601.254 345.048,80 384.805.000 
Belo 
Horizonte/MG 
21.069.799 571.747,70 546.853.629 
Fortaleza/CE 20.109.664 764.171,90 272.713.836 
Salvador/BA 14.471.227 479.065,00 253.806.046 
Curitiba/PR 11.654.092 210.851,50 409.568.832 
Porto Alegre/RS 11.293.956 266.877,90 407.369.834 
Belém/PA 9.335.660 1.374.601,90 151.895.774 
Goiânia/GO 8.269.552 964.430,50 220.847.808 
Florianópolis/SC 7.138.738 96.954,40 259.484.525 
Manaus/AM 4.490.260 1.624.605,20 98.719.516 
Vitória/ES 4.468.927 67.117,80 117.568.317 
Campinas/SP 4.396.180 14.073,00 214.983.509 
Fonte: IBGE, 2020. 
• região metropolitana – pode ser conceituada como um agrupamento de 
municípios com territórios limítrofes, tendo como finalidade a cooperação 
na elaboração de legislação, assim como a gestão do território, a fim de 
tratar questões em comum entre os entes envolvidos. O território é 
instituído por meio de legislação estadual específica, respeitando a 
totalidade do limite político administrativo dos municípios; 
• densidade – existem dois tipos de densidade urbana: densidade 
populacional e densidade construída. A construída diz respeito à área das 
edificações em certo espaço, por exemplo, a metragem quadrada 
construída por hectare; já a densidade populacional está ligada ao já 
citado fator de demanda por serviços públicos, com valor determinado, 
por exemplo, pela quantidade de habitantes por hectare; 
• uso e ocupação do solo – traz parâmetros que fundamentam o que se 
pode construir em um determinado lote ou outra delimitação territorial; 
 GRANDE METRÓPOLE 
NACIONAL 
 METRÓPOLE NACIONAL METRÓPOLE 
 
 
5 
• conurbação – crescimento com continuidade espacial em que o espaço 
urbano absorve outros núcleos urbanos, extrapolando seus limites 
político-administrativos e tornando-se, por diversas vezes, dependente 
desse novo território tanto em questões comerciais quanto populacionais; 
• rede de cidades – conexão entre municípios por meio de fluxos 
econômicos, de pessoas ou informações, dependendo da especialidade 
de cada unidade; 
• megalópole – caracterizada fisicamente pelo espraiamento em escala 
regional ou sub-regional, é composta por duas ou mais metrópoles 
dependentes entre si. Geralmente essas metrópoles se encontram 
conectadas por eixos viários e de transporte em massa, possibilitando que 
as longas distâncias sejam percorridas em um curto espaço de tempo; 
• cidade global – conforme observado por Hoyler (2018), 
o conceito de cidade global consiste em quatro conceituações inter-
relacionadas: i) agrupamentos de avançados serviços de produção 
(advanced producer services); (ii) operam em uma rede mundial 
constituída de estruturas organizacionais transfronteiriças de 
empresas; iii) centros para gestão da economia mundial; iv) centros de 
governança da economia mundial. As relações entre empresas são, 
portanto, pontos fundamentais nessa conceituação. 
TEMA 2 – PLANEJAMENTO URBANO: CONCEITO 
Após a visualização e compreensão dos elementos anteriormente 
apresentados, podemos passar à conceituação do planejamento urbano. 
Planejamento é o terreno fértil que faz florescer no espaço urbano os 
frutos da cidade melhor, aquela que atende aos cidadãos em suas necessidades 
(Macedo, 2020). 
Não há como falar de planejamento sem falar do espaço urbano e da 
cidade. Milton Santos (2005) considera o espaço como uma instância da 
sociedade, da mesma forma que a economia e a cultura. Ainda, segundo Santos, 
a organização atual do espaço e a hierarquia entre lugares se deve a seus papéis 
no sistema produtivo, associando produção, circulação, distribuição e consumo 
como elementos construtores da cidade. 
Já a cidade é elemento vivo, volátil e dinâmico, em constante estado de 
evolução. Segundo Hayakawa e Rocha (2020), é o local em que as pessoas 
moram, vivem e constroem sua história. Ao considerar as cidades sob o ponto 
de vista de sua organização e das diferentes formas de crescimento e ciclos de 
 
 
6 
desenvolvimento, nota-se que elas buscam constantemente ser eficientes, 
exercer suas funções de centralidade, evidenciar forças econômicas, fortalecer 
relacionamentos culturais e sociais, e ao mesmo tempo, enfrentam limitações 
que acabam por exigir novas formas de se trabalhar estratégias e interesses. 
• Urbanismo é inovação, inventividade, o livre pensarsobre o que poderia 
ser a cidade ideal, sua forma e comportamento, suas prioridades, seu 
marco conceitual, a ideia que norteia e sustenta o planejamento (Reinert, 
2008). 
• Planejamento urbano é a “arte de fazer cidade”, o conjunto de 
instrumentos que nos possibilita determinar a forma desejada para a 
cidade que vivemos hoje e a do futuro. É operacional, marcado por 
projetos e programas, monitoramento e gerência que consolidam o 
conceito proposto pelo urbanismo; é um pacto regulador que assegura o 
desenvolvimento e administra o cotidiano, bem como lida com os 
processos de produção, estruturação e apropriação do espaço urbano. É 
a organização e o desenho dos assentamentos humanos com o objetivo 
de melhorar o viver (Reinert, 2008). 
TEMA 3 – PLANEJAMENTO URBANO: ETAPAS 
Existem várias classificações das etapas que compõem o planejamento 
urbano. Seguiremos a classificação adotada por Fabio Duarte (2012), para quem 
o planejamento urbano é dividido em quatro etapas: diagnóstico, prognóstico, 
propostas e gestão pública. 
• Diagnóstico: é a análise de uma situação, compondo um cenário da 
realidade existente. Desse modo, toda análise depende de dados 
disponíveis ou a serem coletados. Um procedimento utilizado para a 
realização do diagnóstico é o quadro CPD, cujas iniciais se referem a 
condicionantes, potencialidades e deficiências. Esse esquema CPD é 
bastante eficaz, pois dirige os procedimentos de coleta e análise de uma 
situação para propostas e para a gestão, como é mostrado na Figura 1. É 
importante chegarmos ao final do diagnóstico conhecendo com segurança 
como a cidade está hoje e como ela chegou a esse ponto. Aí devem estar 
incluídos aspectos demográficos, físico-territoriais, legais, sociais e 
econômicos. 
 
 
7 
Tabela 2 – Quadro CDP Planos Regionais de Curitiba 
 
Fonte: Ippuc, 2018. 
• Prognóstico: não se trata de “futurologia” ou achismos, é a etapa do 
planejamento que considera a situação atual, a história e tendências; se 
nada for feito, como essa cidade será amanhã? Por ser um organismo 
vivo, a cidade provoca suas próprias transformações internas e também 
recebe transformações externas de diferentes escalas. Algumas delas 
podem acontecer de forma imprevisível e afetam muito a cidade, por 
exemplo, a situação da pandemia de Covid-19 iniciada em 2020. Nem por 
isso podemos eliminar essa etapa do planejamento, que trabalha a base 
segura do diagnóstico para se prever a realidade com a qual se deve 
trabalhar, e o resultado que se quer alcançar. 
• Propostas: partem do resultado de um processo de planejamento urbano 
e são elas que transformam um futuro previsível em um futuro possível. 
Nessas propostas, entram aspectos de obras de infraestrutura, mudanças 
 
 
8 
nas leis, criação de formas alternativas de participação do cidadão no dia 
a dia da cidade. 
• Gestão urbana: segundo Acioly e Forbes Davidson, “é um conjunto de 
instrumentos, atividades, tarefas e funções que visam a assegurar o bom 
funcionamento de uma cidade”. São fundamentais para essa etapa do 
planejamento leis que regulamentam o plano diretor, clareza do 
provimento de recursos necessários, corpo técnico capacitado para 
implementar e gerenciar as propostas e envolvimento da sociedade civil 
organizada. 
TEMA 4 – PLANEJAMENTO URBANO: REFLEXÃO E DISCUSSÃO 
Após os conceitos apresentados, a seguir estão algumas considerações 
para reflexão e discussão. 
• Interdisciplinaridade: o planejamento urbano não pode ser restrito a uma 
disciplina específica, nesse sentido, o campo se abre para conhecimentos 
e metodologias que abrangem aspectos da sociologia, da economia, da 
geografia, da engenharia, do direito e da administração (Duarte, 2012). 
Figura 1 – Interdisciplinaridade no planejamento urbano 
 
Fonte: Hayakawa; Rocha, 2020. 
 
 
9 
• Exequibilidade: Jaime Lerner comenta que nada do planejamento vale a 
pena se não puder ser implementado. Paranhos complementa que se não 
tiver certeza de poder controlar a qualidade de implementação, então é 
melhor nem começar, porque pior do que não fazer é fazer mal feito 
(Hayakawa; Rocha, 2020). 
• Visão global: Paranhos diz que há um equívoco quando se fala em 
planejamento urbano (Hayakawa; Rocha, 2020). Nesse sentido, de 
acordo com Hayakawa e Rocha (2020) 
Tem muitos casos em que a pessoa fala de planejamento e considera 
que acaba quando terminou de ser desenhado no papel. Pelo contrário, 
é aí que começa. A fase da discussão antes de desenhar é 
planejamento, como também a implementação. Porque ter uma mala 
cheia de papel desenhado não é, necessariamente, planejamento. 
(Hayakawa; Rocha, 2020) 
TEMA 5 – CENÁRIO DO URBANISMO NO SÉCULO XXI 
Para que possamos compreender o cenário do urbanismo no século XXI, 
é necessário que façamos uma breve análise de sua evolução nas últimas 
décadas. 
Para Turbay e Cassilha (2021), “A história do urbanismo no século XX foi 
baseada no crescimento global da industrialização, especialmente na segunda 
metade do século”. 
De fato, no último século, o mundo assistiu, ainda que em diferentes 
escalas e em diferente espaço de tempo, a uma alteração radical do modelo 
econômico e social, com a transição das sociedades predominantemente 
agrícolas para sociedades industriais. 
Essa alteração do paradigma econômico ocasionou um grande êxodo das 
populações que antes viviam na zorna rural e que migraram em grande escala 
para zonas urbanas. 
É evidente que essa mudança de perfil influenciou diretamente o 
Urbanismo, trazendo novos e diferentes desafios ao planejador urbano. 
Para Reinert (2008), em uma sociedade que se “urbaniza” rapidamente, 
o planejamento tem sido usado, muito mais como ferramenta com a qual se 
estabelece um “diagnóstico” e um “tratamento” do que como instrumento do 
pensamento. Essa metáfora implica que os planejadores, quase que 
naturalmente, olhem para o sítio a ser planejado como um organismo “doente”, 
carente de “alopatias” cada vez mais poderosas e eficazes, capazes de 
 
 
10 
possibilitar uma “sobrevida” a esse ser “agonizante” a que chamamos de cidade. 
Ou a tratam com medidas preventivas, supondo que, em algum momento ela 
estará “doente”. 
Segundo Le Corbusier, “fazer um plano é fixar ideias. Para isto é preciso 
ter tido ideias e a partir daí, ordenar estas ideias para que se tornem 
compreensíveis, possíveis e transmissíveis”. 
Para Reinert (2008), no urbanismo, inovação, inventividade, livre pensar 
é posto de lado. No entanto, quase tudo que se pratica atualmente e que é 
confundido com planejamento urbano, nada mais é do que um conjunto de 
estudos com visão setorial e perspectiva específica, dissociado do que 
acreditamos ser o Planejamento Urbano e mais ainda do que seja Urbanismo. 
Cada vez mais o plano do transporte, da infraestrutura, da habitação, da 
mobilidade, do meio ambiente se torna o próprio planejamento. Estudos e planos 
que não “se falam”, se justificam por sua própria existência, em que o 
componente humano e a razão desse planejar são colocados à margem, dando 
lugar novamente à visão parcial: no transporte, o debate é o modal; na habitação, 
a área disponível para assentamentos; no meio ambiente, a proibição de uso em 
prol de uma preservação quantitativa e não qualitativa. 
A crítica anterior é especialmente válida nos dias de hoje, já que, como 
veremos adiante, vivenciamos atualmente, sobretudo após o início do século 
XXI, uma nova mudança de paradigma, passando de uma sociedade industrial 
para uma sociedade tecnológica que rompe com os modelos tradicionais de 
produção, distribuição e serviços. 
Com efeito, o avanço dos sistemas de comunicação e o desenvolvimento 
tecnológico promovem, cada vez mais, pouquíssimas restrições quanto à 
localização das atividades produtivas, de habitação, de lazer. 
Isso gera um sistema disperso que extrapola as barreiras político-
administrativas e que precisa de um olhar mais amplo e principalmente,um 
horizonte temporal muito superior à maioria dos planos diretores. 
Esse fenômeno da evolução tecnológica, que avança em ritmo sem 
precedentes na história humana, torna obsoleto hoje o negócio que era 
dominante poucos anos atrás. Exemplos desse fenômeno são abundantes, por 
exemplo, o negócio de videolocadoras, TV por assinatura, livrarias e bancas de 
revistas etc. Essa nova realidade acrescenta novos desafios ao planejador 
urbano. 
 
 
11 
A expansão urbana coloca as cidades, de maneira geral, em dois grandes 
grupos de características distintas: o modelo da cidade contínua de crescimento 
ilimitado, estruturada segundo a lógica do transporte e dos corredores de 
infraestrutura; e o modelo policêntrico, que propõe as cidades-jardim com sua 
forte determinação de limitar o tamanho do urbano. 
As cidades, sejam elas contínuas ou policêntricas, entretanto, não 
conseguem impedir o surgimento do subúrbio, da “franja marginal” que não se 
quer, mas que aparentemente não se consegue evitar. A explicação para esse 
fenômeno pode estar no fato de que, historicamente, qualquer que seja a 
corrente de pensamento, o aglomerado urbano é sempre dividido entre “a 
cidade” e “seus bairros”. Mas o que é a cidade? Qual o limite perceptível dessa 
transição? O que caracteriza a cidade? Quais as diferenças entre a cidade e o 
bairro? 
Essa mesma dúvida persiste na escala regional. Qual a cidade de fato em 
contraponto à cidade de direito? 
Hoje, com a globalização, não competem somente países, competem e 
cooperam muito mais as cidades. O planejamento e os mecanismos de gestão 
precisam evoluir a fim de superar a rigidez derivada da complexidade burocrática 
que frequentemente limita a capacidade de resposta da sociedade. Além disso, 
a transformação econômico-social permanente e cada vez mais acelerada que 
atinge a sociedade põe à mostra a grande fragilidade dos planos diretores, 
normalmente muito ligados a fatores locais e demasiadamente rígidos para se 
adaptarem a essas mudanças. 
NA PRÁTICA 
• A Mudança de paradigma do Planejamento Urbano em Curitiba 
Nos anos 1960, a maioria das cidades brasileiras estava sofrendo com o 
impacto das migrações para as capitais, comprometidas com uma ocupação 
inadequada principalmente nas áreas ambientalmente fragilizadas e 
caracterizadas por graves problemas de degradação ambiental e de carências 
sociourbanas. Curitiba contava com 445.227 habitantes e sua taxa de 
crescimento era de 5,62% ao ano. Os automóveis tomavam conta do centro, 
causando congestionamento. O transporte público era de baixa qualidade e 
todas as linhas chegavam ao centro da cidade, agravando ainda mais o caos 
 
 
12 
urbano. Era iminente a necessidade de fazer um novo plano, que direcionasse o 
crescimento conforme a dinâmica da cidade. 
Segundo Jaime Lerner (citado por Hayakawa; Rocha, 2020), 
o dinamismo do crescimento da cidade começou a caminhar mais 
rápido quando assumiu a Prefeitura o engenheiro Ivo Arzua, porque foi 
uma época em que o município começou a tomar iniciativas de alargar 
as ruas para mais espaço para os automóveis. Era uma visão muito 
voltada a sistema viário, e isto levava a quase uma descaracterização 
da história da cidade: alargar a Rua XV, a Marechal Deodoro e tantas 
outras. Curitiba estava se descaracterizando. 
Em junho de 1965, a Prefeitura iniciou o ciclo de debates para discussão 
pública do Plano Preliminar de Urbanismo, chamado “Curitiba de Amanhã” que 
levou a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba 
(Ippuc). Para consolidar o processo de transformação física, o recém-criado 
Ippuc elegeu três instrumentos indutores de crescimento: o transporte coletivo, 
o uso do solo e o sistema viário, integrados para a promoção do desenvolvimento 
sustentável do ponto de vista ambiental, econômico e social. 
Figura 2 – Esquema do Plano Diretor de 1966 
 
Fonte: Hayakawa; Rocha, 2020. 
 
 
13 
Figura 3 – Esquema do Plano Diretor de 1966: Base de Indução do Crescimento 
 
Fonte: Hayakawa; Rocha, 2020. 
FINALIZANDO 
O planejamento urbano deve sempre ser aprimorado. Não devemos 
abandonar a lógica descritiva da prospecção oriunda da geografia, economia, 
sociologia, história etc. sobre o fenômeno da mudança no comportamento das 
cidades, mas colocá-la a serviço de um urbanismo inovador, capaz não de 
descobrir o futuro, mas de inventá-lo. Tudo isso para que a cidade do futuro não 
se configure como uma mera extrapolação de suas tendências históricas, mas 
seja o resultado da capacidade criativa de cada geração. 
Sem um esforço de criatividade e um exercício contínuo de imaginação, 
o urbanismo desaparece e o planejamento urbano se reduz a um simples 
controle normativo. O planejamento inovador é, sobretudo, empreendedor, 
capaz de definir estratégias e procedimentos, e de encantar todos os agentes 
envolvidos em seu desenvolvimento. Requer capacidade de negociação e 
vontade de assumir os riscos de um desenho de efeito catalisador capaz de 
alavancar uma transformação dinâmica e positiva. 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
DUARTE, F. Planejamento urbano. Curitiba: InterSaberes, 2012. 
HAYAKAWA, I.; ROCHA, D. Traços de Curitiba: 50 anos de planejamento 
urbano. Curitiba: Edição do autor, 2020. 
MACEDO, R. G. de. Espaço urbano. Revista do Instituto de Pesquisa e 
Planejamento Urbano de Curitiba, n. 13, dez. 2020. 
TURBAY, A.; CASSILHA, S. Planejamento urbano. Curitiba: InterSaberes, 2021. 
REINERT, R. Urbanismo e planejamento urbano. Ciclo de Capacitação em 
Planejamento Urbano, Curitiba, 22 ago. 2008.

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