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Indaial – 2021 Ergonomia E DEsEnho DE móvEis Prof.ª Samantha Jandrey 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Samantha Jandrey Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: J33e Jandrey, Samantha Ergonomia e desenho de móveis. / Samantha Jandrey. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 214 p.; il. ISBN 978-65-5663-534-7 ISBN Digital 978-65-5663-535-4 1. Ergonomia. – Brasil. 2. Design de interiores. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 747 aprEsEntação Prezado acadêmico! Estamos iniciando os estudos de Ergonomia e Desenho de Móveis. A disciplina tem, como objetivo, expor alguns con- ceitos, além de conhecer a relevância e a aplicabilidade da ergonomia no design de interiores. As abrangentes áreas de atuação do profissional de design exigem conhecimentos técnicos para o projeto de móveis, em escala para ambientes internos ou voltados para a escala urbana. Desses conhecimentos, a ergonomia é de comprovada relevância, entre a interface usuário – design. Para a consolidação de um bom projeto, os aspectos ergonômicos consolidam dimensionamentos mínimos, médios e, até mesmo, padronizados, para a execução de móveis que atendam aos quesitos de segurança e conforto dos usuários. Através deste livro, que está estruturado em três unidades, pretendemos discutir os temas apresentados. Nesta Unidade 1, abordaremos os aspectos históricos e os principais conceitos e objetivos da ergonomia aplicados ao design, apresentando as principais normas técnicas relativas ao mobiliário e à ergonomia, além de um panorama do desenho universal no design de móveis. Na Unidade 2, você encontrará temas que abordam e apresentam o processo criativo e as metodologias no desenvolvimento do design, para que você, como profissional do design, consiga entender as decisões em cada etapa de um projeto, ou seja, em toda a organização estrutural. A Unidade 3 contempla as fases de processo e fabricação dos móveis, desde as dimensões e as convenções, que compreendem a representação do desenho de móveis. Esperamos que esses estudos contribuam para a sua formação profissional, e que os conteúdos apresentados neste livro didático possibilitem a aprendizagem de conceitos de ergonomia que enriqueçam os projetos de interiores. Vamos ao estudo do nosso livro? Prof.ª Samantha Jandrey Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN ................................................ 1 TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA ...................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONCEITOS E OBJETIVOS DA ERGONOMIA ......................................................................... 4 3 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA ............................................................................. 7 3.1 A ERGONOMIA DA PRÉ-HISTÓRIA À SOCIEDADE INDUSTRIAL .................................. 7 3.2 ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA ERGONOMIA NO BRASIL ............................... 12 3.3 A ERGONOMIA E A ÁREA DE ATUAÇÃO ............................................................................ 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 17 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS.......................... 21 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21 2 PRINCIPAIS CONCEITOS E METODOLOGIA DO DESIGN ERGONÔMICO ................ 21 3 ANTROPOMETRIA E SUA UTILIZAÇÃO NA ERGONOMIA .............................................. 26 3.1 MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS ............................................................................................ 29 4 CONCEITUAÇÃO E BREVE HISTÓRIA DO MOBILIÁRIO NO BRASIL .......................... 33 4.1 NORMAS TÉCNICAS PARA O MOBILIÁRIO ....................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 — NOÇÕES DE DESENHO UNIVERSAL NO DESIGN ......................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 45 2 DESENHO UNIVERSAL E NORMATIVAS ................................................................................ 45 3 ACESSIBILIDADE E PRINCIPIOS TÉCNICOS NO DESIGN ................................................ 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 60 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 62 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 63 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 66 UNIDADE 2 — PROCESSO CRIATIVO E A METODOLOGIA APLICADA NO DESIGN .............................................................................................................71 TÓPICO 1 — ETAPAS E PROCESSOS METODOLÓGICOS NO DESIGN ............................ 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 CONCEITOS E APLICAÇÕES ........................................................................................................ 74 2.1 DIVERSIDADE DE USUÁRIOS .................................................................................................. 75 3 METODOLOGIA DE PROJETO .................................................................................................... 80 3.1 FASE DE ANÁLISE....................................................................................................................... 84 3.2 FASE DE SÍNTESE ........................................................................................................................ 86 3.3 FASE DE DESENVOLVIMENTO ............................................................................................... 87 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 93 TÓPICO 2 — PERCEPÇÃO E CRIATIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE INTERIORES .............................................................................. 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 PERCEPÇÃO E CRIATIVIDADE NO PROJETO ........................................................................ 95 2.1 ORGANOGRAMA E FLUXOGRAMA ..................................................................................... 99 2.2 TEMPESTADE DE IDEIAS (BRAINSTORMING) .................................................................. 101 2.3 PAINEL SEMÂNTICO ............................................................................................................... 103 2.4 MAPA MENTAL ......................................................................................................................... 107 3 AVALIAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO ................................................................ 108 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 111 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 118 TÓPICO 3 — METODOLOGIA NO PROCESSO DA ERGONOMIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO ............................................................................ 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 121 2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ............................................................................ 122 2.1 ANÁLISE DA DEMANDA........................................................................................................ 123 2.2 ANÁLISE DA TAREFA .............................................................................................................. 124 2.3 ANÁLISE DA ATIVIDADE ....................................................................................................... 124 2.4 FORMULAÇÃO DO DIAGNÓSTICO ..................................................................................... 125 2.5 RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS .................................................................................. 126 3 INTERVENÇÃO ERGONOMIZADORA.....................................................................................126 4 ANÁLISE MACROERGONÔMICA DO TRABALHO ............................................................ 128 4.1 FASE DO LANÇAMENTO DO PROJETO .............................................................................. 130 4.2 FASE DE APRECIAÇÃO ........................................................................................................... 131 4.3 DIAGNOSE .................................................................................................................................. 131 4.4 PROJETAÇÃO ............................................................................................................................. 131 4.5 IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO ...................................................................................... 131 4.6 VALIDAÇÃO ............................................................................................................................... 132 5 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM PROJETOS DE INTERIORES ................ 132 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 137 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 139 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 141 UNIDADE 3 — ERGONOMIA E DESENHO DE MOVÉIS NA PRÁTICA ........................... 145 TÓPICO 1 — FABRICAÇÃO DE MÓVEIS ................................................................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 147 2 PROCESSOS E MATERIAIS DE MOBILIÁRIOS RESIDENCIAIS ...................................... 148 3 PROCESSOS E MATERIAIS DE MOBILIÁRIOS COMERCIAIS ........................................ 154 4 CATEGORIAS DA PRODUÇÃO MOVELEIRA ....................................................................... 159 4.1 MOBILIÁRIO SOB MEDIDA .................................................................................................... 160 4.2 MOBILIÁRIO ARTESANAL ..................................................................................................... 162 4.3 MOBILIÁRIO SERIADO ............................................................................................................ 163 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 164 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 165 TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO PARA MÓVEIS ............................................................. 167 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 167 2 COZINHA ......................................................................................................................................... 167 2.1 COZINHA LINEAR ................................................................................................................... 170 2.2 COZINHA PARALELA ............................................................................................................. 171 2.3 COZINHA EM “U” .................................................................................................................... 171 2.4 COZINHA EM “L” ..................................................................................................................... 172 2.5 COZINHA EM ILHA ................................................................................................................. 173 3 LAVANDERIA .................................................................................................................................. 173 4 BANHEIROS E LAVABOS .............................................................................................................176 5 SALAS ................................................................................................................................................ 179 6 DORMITÓRIO E CLOSET ............................................................................................................ 182 7 PROJETOS COMERCIAIS E CORPORATIVOS ...................................................................... 184 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 187 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 189 TÓPICO 3 — MEIOS DE REPRESENTAÇÃO DE PROJETO DE MÓVEIS ........................... 191 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 191 2 DESENHO TÉCNICO E CONVENÇÕES ................................................................................... 191 2.1 ESCALAS ..................................................................................................................................... 192 2.2 DIMENSIONAMENTO – COTAS ............................................................................................ 194 2.3 ALGARISMOS ............................................................................................................................. 196 2.4 LEGENDA.................................................................................................................................... 196 2.5 SÍMBOLOS GRÁFICOS ............................................................................................................. 197 2.6 LINHAS ........................................................................................................................................ 198 2.7 TAMANHO DAS FOLHAS ...................................................................................................... 199 3 PLANTA BAIXA ............................................................................................................................... 200 4 CORTES ............................................................................................................................................. 201 5 VISTAS .............................................................................................................................................. 202 6 DETALHAMENTO .......................................................................................................................... 203 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 206 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 208 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 210 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 212 1 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • sintetizar a história da ergonomia; • definir os conceitos e os objetivos da ergonomia aplicados ao design; • aplicar as normas técnicas relativas ao mobiliário e à ergonomia; • estudar e compreender o desenho universal no design de móveis; • realizar as atividades básicas a partir dos conceitos estudados. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA TÓPICO 2 – ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS TÓPICO 3 – NOÇÕES DE DESENHO UNIVERSAL NO DESIGN Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 1 INTRODUÇÃO Iniciaremos o Tópico 1 apresentando os conceitos e os objetivos da ergonomia e os principais pressupostos. Neste tópico, você conhecerá a história e como evoluiu a ergonomia no Brasil e no mundo, com as respectivas áreas de especialização, entre elas, a do design. Através da leitura do tópico, esperamos que você compreenda esse conceito tão necessário e como ele evoluiu até adquirir o significado que conhecemos hoje. A ergonomia é uma disciplina científica que surgiu na metade do século XX, como consequência do trabalho interdisciplinar materializado por diversos profissionais. A ergonomia se desenvolveu durante a II Guerra Mundial (1939-1945). Pela primeira vez, houve uma conjunção sistemática de esforços entre a tecnologia, ciências humanas e biológicas para resolver problemas de projeto. Médicos, psicólogos, antropólogos e engenheiros trabalharam juntos para resolver os problemas pela operação de equipamentos militares complexos. Os resultados desse esforço interdisciplinar foram muito gratificantes, a ponto de serem aproveitados pela indústria, pós- guerra (DUL; WEERDMEESTER, 2012, p. 15). As diversas concepções do termo ressaltam o caráter interdisciplinar da ergonomia na dinâmica das interfases do sistema homem – máquina – ambiente, no qual ocorrem trocas de informações e energias com vistas à realização de determinado trabalho (IIDA, 2005). A história vem sendo muito estudada e debatida. O estudo da ergonomia é fascinante e carrega consigo o poder de desvendar uma série de informações ainda pouco exploradas, como a investigação dos precursores dessa ciência, portanto, estabelecer que ela seja uma ciência nova conduz a uma afirmação equivocada (SILVA; PASCHOARELLI; SILVA, 2010). Originalmente, essa aplicação se concentrava na necessidade de amenizar os impactos negativos do trabalho exaustivo e repetitivo nas indústrias, ou seja, era compreendida com uma ciência do trabalho. Hoje, é contemplada como uma disciplina, a qual investiga a abordagem sistêmica de todas as atividades ou tarefas humanas. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 4 No desenvolvimento deste tópico, também serão abordados os aspectos que impulsionaram a origem e a evolução da ergonomia, com base nos pressupostos de autores referenciais do tema. Assim, expõe o relato das inúmeras exigências e domínios relacionados à ergonomia. Caro acadêmico, com base no que vamos apreender, poderá constatar que a ergonomia é uma disciplina de dimensão aplicada, prática e útil na nossa vida cotidiana no geral. 2 CONCEITOS E OBJETIVOS DA ERGONOMIA A palavra ergonomia é composta pelas palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (leis e regras), a ciência do trabalho. Esse termo foi adotado, pela primeira vez, em 1857, por um cientista polonês, Wojciech Jastrzebowski, em um trabalho intitulado Ensaios de Ergonomia, ou Ciência do Trabalho, Baseados nas Leis Objetivas da Ciência sobre a Natureza (ABRAHÃO et al., 2009). A ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento, ambiente e, particularmente, da aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas que surgem desse relacionamento (IIDA, 2005, p. 2). No vocabulário contemporâneo, a ergonomia passa a ser conceituada como uma disciplina que investiga a abordagem sistêmica de todos os aspectos das atividades humanas. De acordo com Corrêa e Boletti (2015), a meta do termo ergonomia é, essencialmente, analisar a adequação do trabalho ao ser humano, o que envolve, principalmente, observar o ambiente em que esse trabalho é executado. A acepção da palavratrabalho é ampla e compreende as ações efetuadas com o uso de equipamentos, além das diversas conjunturas que transcorrem na relação entre o ser humano e a produção. Conforme a disciplina evolui, algumas variações na terminologia surgiram em diferentes países. Embora o termo ergonomia seja muito utilizado na Austrália, no Brasil, na Europa e na Nova Zelândia, no Japão, usa-se o termo ergologia. Nos Estados Unidos, foi adotado o termo fatores humano (human factors). Embora os termos ergonomia e fatores humanos sejam considerados sinônimos pelos profissionais, o uso popular parece ter adotado significados diferentes. Fatores humanos têm sido empregados para denotar as áreas cognitivas da disciplina (percepção, memória etc.), enquanto ergonomia parece se referir aos aspectos físicos (layout do ambiente de trabalho, iluminação, temperatura, ruídos etc.) (CORRÊA; BOLETTI, 2015). NOTA TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 5 O interesse, nesse novo ramo de conhecimentos, cresceu rapidamente, em especial, na Europa e nos Estados Unidos. Na Inglaterra, cunhou-se o termo ergonomia e se fundou, em 1949, a primeira Sociedade de Pesquisa em Ergonomia. Em 1961, foi criada a Associação Internacional de Ergonomia (IEA) (DUL; WEERDMEESTER, 2012). As diferentes definições, os equipamentos e o ambiente convergem para a busca de adequação do trabalho ao ser humano. Assim, as definições das principais instituições voltadas ao estudo são consensuais e complementares acerca do conceito da disciplina, conforme exposto a seguir. QUADRO 1 – DEFINIÇÕES DAS PRINCIPAIS ASSOCIAÇÕES DE ERGONOMIA FONTE DEFINIÇÃO Ergonomics Research Society (Sociedade de Pesquisa em Ergonomia) – hoje, Institute of Ergonomics and Human Factors (BROWNE et al., 1950) “Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu ambiente de trabalho, equipamento e ambiente, principalmente, da aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento”. Internacional Ergonomics Association (20-7) (Associação Internacional de Ergonomia) “A ergonomia (ou fatores humanos) é a disciplina científica que se ocupa em compreender a interação entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, além da profissão na qual se aplica teoria, além dos princípios, dados e métodos a projetos, otimizando o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”. Associação Brasileira de Ergonomia (2004) “Se pudermos caracterizar a ergonomia como uma disciplina que busca articular conhecimentos sobre a pessoa, sobre a tecnologia e a organização, para sustentar a prática de mudança dos determinantes e condicionantes da atividade profissional e do uso e do manuseio de produtos ou sistemas, então, o objetivo da disciplina e da prática em ergonomia é facilmente compreensível: trata- se de realizar uma transformação positiva na configuração da situação de trabalho e no projeto de produtos”. FONTE: Adaptado de Corrêa e Boletti (2015) UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 6 Os principais objetivos da ergonomia são a satisfação, o conforto dos indivíduos e a garantia de que a prática laboral e o uso do equipamento/produto não causem problemas à saúde do usuário. Para isso, não se restringe a analisar a interação entre o operador e o produto/equipamento, a atividade e o ambiente laboral, mas também engloba os contextos organizacional, psicossocial e político de um sistema (CORRÊA; BOLETTI, 2015). Segundo Abrahão et al. (2009), o objetivo da ergonomia é transformar o trabalho, de forma a adaptá-lo às características e à viabilidade do homem e do processo produtivo. • bem-estar; • segurança; • produtividade e qualidade. IMPORTANT E Segundo Ilda (2005), para que a ergonomia atinja o objetivo, o ergonomista deve entender e projetar, considerando: • o homem e as diversidades inerentes a ele, abarcando atributos, como idade, tamanho, força, habilidade cognitiva, experiência, cultura e objetivos; • a máquina, ou seja, todas as ferramentas, o mobiliário, os equipamentos e as instalações; • o ambiente, que contempla temperatura, ruídos, vibrações, luzes, cores etc.; • a informação, que se refere ao sistema de transmissão das informações; • a organização, que constitui todos os elementos do sistema produtivo, como horários, turnos e equipes; • as consequências do trabalho, que abarcam todas as questões relacionadas com erros e acidentes, além de fadiga e estresse. Nessa perspectiva, conforme Abrahão et al. (2009), a ergonomia busca projetar e/ou adaptar situações de trabalho compatíveis com as capacidades, respeitando os limites do ser humano. Esse ponto de vista implica reconhecer a premissa ética da primazia do homem, cujo bem-estar deveria ser o objetivo maior da produção, uma vez que um dado trabalho pode se adaptar ao ser humano. No entanto, não podemos esperar que nos adaptaremos a um trabalho que não respeite as nossas limitações nem contemple as nossas capacidades. O conceito e o objetivo apresentados há pouco geram transformações que aconteceram ao longo da história da ergonomia (ABRAHÃO et al., 2009). A seguir, apresentaremos como tudo começou e foi evoluindo no decorrer da história. TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 7 3 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA As trajetórias histórica e evolutiva da ergonomia estiveram associadas ao desempenho das atividades ou tarefas laborais, tendo em vista que problemas, como desconforto e fadiga, decorrentes das condições e do tempo destinado à execução dos esforços repetitivos, causam lesões diversas. Segundo Abrahão et al. (2009), a formalização da ergonomia, enquanto disciplina, é recente. Nesse sentido, para Iida e Buarque (2016), ao contrário de muitas ciências, cujas origens se perdem no tempo, a ergonomia tem uma data “oficial” de nascimento: 12 de julho de 1949, quando, segundo Corrêa e Bolleti (2015), o engenheiro inglês Kenneth Frank Hywel Murrell oficializou a primeira sociedade de ergonomia do mundo, a Ergonomic Research Society. Embora a origem oficial da ergonomia date de 1949, os preceitos que atualmente regem a ergonomia, começaram nos primórdios da história da humanidade. 3.1 A ERGONOMIA DA PRÉ-HISTÓRIA À SOCIEDADE INDUSTRIAL A história do homem é permeada por exemplos do aprimoramento de técnicas, da introdução de novas ferramentas e procedimentos. Podemos dizer que a ergonomia já nasceu com características de aplicação ou como uma ciência. No entanto, o que podemos afirmar é que ela vai além de uma necessidade puramente teórica ou formal (ABRAHÃO et al., 2009). Ilda (2005) nos lembra de que o primeiro homem pré-histórico escolheu uma pedra de formato que melhor se adaptasse à forma e aos movimentos da sua mão, para usá-la como arma. As ferramentas proporcionavam poder e facilitavam as tarefas, como caçar, cortar e esmagar. FIGURA 1– MARTELO PRÉ-HISTÓRICO FONTE: <https://bit.ly/317Q1ie>. Acesso em: 11 fev. 2021. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 8 Para Corrêa e Boletti (2015, p. 4): Supõe-se que, na pré-história, portanto, o homem tenha adaptado a pedra às necessidades, respeitando a anatomia da mão para tornar o manuseio mais seguro e eficaz. Essa suposição se baseia no formato dos utensílios daquela época, como as ferramentas utilizadas para caça e defesa. De acordo com os elementos que deveriam ser trabalhados e com as características dos trabalhadores, era estabelecido um padrão (formato e dimensões) para as ferramentas, que também eram feitas utilizando madeira e ferro. Contudo, somente no Renascimento, a bibliografia destaca os estudos de Leonardo da Vinci, referentes à biomecânica e à antropometria. Segundo Corrêa e Boletti (2015), a principal relevância do trabalho de Leonardopara a ergonomia foi a combinação, em um mesmo desenho, do homem inserido em um círculo e em um quadrado, considerando o movimento natural dos membros fixos ao tronco, isso é, a relação entre o movimento do corpo humano e o espaço circundante. Hoje, o conhecimento das formas e das medidas do corpo humano, aplicado em projetos, é denominado de antropometria. A época renascentista (entre o século XVII) marcou o início dos estudos na área, com destaque para Leonardo da Vinci (1452-1519), autor da figura O Homem Vitruviano; Bernardino Ramazzini (1633-1714), que fez a primeira sistematização de doenças do trabalho, na obra De Morbis Artificum Diatriba, marco histórico no estudo de doenças ocupacionais; e Wojciech Jastrzebowski (1799-1882), naturalista polonês e autor do trabalho A Ciência do Trabalho, no qual apareceu, pela primeira vez na história, o termo ergonomia (CORRÊA; BOLETTI, 2015). FIGURA – O HOMEM VITRUVIANO (1490), DE LEONARDO DA VINCI FONTE: <https://bit.ly/2OZjZ5v>. Acesso em: 29 maio 2020. IMPORTANT E TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 9 Nos seus estudos e projetos, as máquinas e as funções se ajustam ao homem, facilitando a execução de diversas ações. A releitura e o redesenho de O Homem Vitruviano, realizados por ele, são referências significativas nos estudos da antropometria e da ergonomia, demostrando, inclusive, a importância de que os projetos levem em consideração essas relações (SILVA; PASCHOARELLI; SILVA, 2010). De acordo com Ilda e Buarque (2016, p. 8): Na era da produção artesanal não mecanizada, a preocupação em adaptar as tarefas às necessidades humanas também esteve sempre presente. Entretanto, durante a Revolução Industrial, ocorrida a partir do século XVIII, esse problema se tornou mais dramático. As primeiras fábricas surgidas não tinham nenhuma semelhança com uma fábrica moderna. Eram sujas, escuras, ruidosas e perigosas. As jornadas de trabalho chegavam a até 16 horas diárias, sem férias, em regime de semiescravidão, tudo imposto por empresários autoritários, que aplicavam castigos corporais. Conforme Iida (2005) afirma, os estudos mais sistemáticos do trabalho foram realizados a partir do fim do século XIX, quando surgiu o movimento de administração científica denominado de Taylorismo. De forma resumida, na obra preconizada por Frederick Taylor (1856-1915), as técnicas de racionalização dos trabalhos operários sistematizam a divisão do trabalho industrial. No decorrer das análises dos tempos e dos métodos, segundo Lazzareschi (2007), o Taylorismo possibilitou o aumento considerável da produtividade dos trabalhadores, reduzindo custos de produção e, consequentemente, o preço das mercadorias, permitindo, sobretudo, aumentar consideravelmente os lucros e a prosperidade dos patrões, cujo benefício para o empregado, segundo Taylor, seria o aumento do salário habitual, sem considerar as questões humanas no trabalho. Quer conhecer o enfoque mecanicista proposto pela administração científica do Taylorismo? O artigo Da Organização Científica à Ergonomia: A Contribuição de Frederick Winslow Taylor se institui como uma leitura esclarecedora e está disponível em: http://books.scielo.org/id/b5b72/pdf/silva-9788579831201-05.pdf. DICAS Já no fim do século XVIII, com o Taylorismo, os pesquisadores norte- americanos iniciaram estudos relacionados ao homem no trabalho. No mesmo período, na Europa, eram realizadas pesquisas acerca da fisiologia do trabalho. Com a Primeira Guerra Mundial (entre 1914 e 1917), foram aplicados, na Inglaterra, estudos de fisiologistas e psicólogos no aprimoramento da indústria bélica (CORRÊA; BOLETTI, 2015). http://books.scielo.org/id/b5b72/pdf/silva-9788579831201-05.pdf UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 10 Inicialmente, esses problemas eram mais evidentes no setor militar, em que se exigia muito dos operadores, tanto física quanto cognitivamente. Conforme os avanços tecnológicos da Segunda Guerra Mundial, eram aplicados ao cotidiano civil, percebendo-se a dificuldade que as pessoas tinham de lidar com os equipamentos, o que gerou uma performance pobre, além do aumento das chances de erro humano. Isso levou acadêmicos e psicólogos militares a realizarem pesquisas na área e, posteriormente, investigações a respeito da interação entre pessoas, equipamentos e ambiente. Embora o foco inicial tenha sido ambientes de trabalho, a importância da ergonomia foi, gradualmente, tornando-se reconhecida em outras áreas, como no projeto de produtos para consumidores (carros e computadores, por exemplo) (CORRÊA; BOLETTI, 2015, p. 5). Assim, o campo de investigação e os conhecimentos científicos e tecnoló- gicos expandidos na primeira metade do século XX estruturaram os conhecimen- tos para a aplicação durante a Segunda Guerra Mundial (entre 1939 e 1945). A evolução da ergonomia, a partir da Segunda Guerra Mundial, pode ser organizada em quatro fases, segundo a tecnologia enfocada (HENDRICK, 1993 apud CORRÊA; BOLETTI, 2015): QUADRO 2 – FASES DA ERGONOMIA SEGUNDO HENDRICK (1993) 1° Fase: Ergonomia de Hardware ou Tradicional Teve início durante a Segunda Guerra Mundial e se concentrava no estudo das características físicas do ser humano (capacidades e limites), primeiramente, na área militar e, em seguida, na área civil, com ênfase nas questões fisiológicas e biomecânicas do ambiente de trabalho e na interação dos sistemas homem-máquina. 2° Fase: Ergonomia do Meio Ambiente Trata das questões ambientais naturais e artificiais (ruído, vibrações, temperatura, iluminação, aerodispersoides) que interfe- rem no trabalho. Fortaleceu-se em função do interesse em compreender melhor a relação do ser hu- mano com o meio ambiente, atualmente, muito em voga em função do conceito de sustentabilidade. TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 11 3° Fase: Ergonomia de Software ou Cognitiva Trata do processamento de informações, que eclodiu com o advento da informática, a partir da década de 1980. Essa modalidade é focada na interface da interação entre o homem e a máquina, que deixa de ser como na fase tradicional (antropométrica, biomecânica e fisiológica): o operador não manuseia mais o produto. A tecnologia de informação passa a ser uma extensão do cérebro e as interfases para a operação devem levar em conta fatores cognitivos para facilitar o comando. 4° Fase: Macroergonomia Visão mais ampla da ergonomia, que não mais se restringe ao operador e à intenção com máquina, atividade e ambiente, mas também engloba os contextos organizacional, psicossocial e político de um sistema. Diferencia-se das anteriores por priorizar o processo participativo, envolvendo administração de recursos, trabalho em equipe, jornada e projeto de trabalho, cooperação e rompimento de paradigmas, o que garante intervenções ergonômicas com melhores resultados, reduzindo o índice de erros e gerando aceitação e colaboração por parte dos envolvidos. FONTE: Adaptado de Corrêa e Boletti (2015) Por fim, todo esse esforço militar gerou a conscientização pós-guerra, acerca do valor das pesquisas ergonômicas desenvolvidas para um objetivo específico, mas que possuem aplicação na esfera civil até hoje, visto que possibilitam uma melhora nas condições de trabalho e na produtividade dos trabalhadores ou mesmo da população em geral. Assim, fica marcado o início da história da ergonomia em tempos de paz (IILDA, 2005). A Ergonomics Research Society foi fundada no início da década de 1950, no Continente Europeu, tornando-se a primeira sociedade mundial de ergonomia. Dessa forma, durante as décadas de 1950 e 1960, a ergonomia prosseguiu a se difundir em diferentespaíses industrializados. Abrahão et al. (2009) fundamentam que, com a evolução dos movimentos sociais, em especial, dos sindicatos de trabalhadores, muitas demandas em ergonomia buscavam respostas para os problemas ligados às más condições de UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 12 trabalho, à organização dos tempos de trabalho (ritmos, cadências e turnos) e à rejeição da fragmentação das tarefas, resultante da exacerbação da divisão do trabalho. O auge desses movimentos se situa no fim dos anos de 1960 e nos anos 1970 do século XX. A partir da década de 1980, no fim do século passado, o foco de interesse dos ergonomistas se voltou para a análise de sistemas automáticos e informatizados, com ênfase na natureza cognitiva do trabalho. Essa mudança ocorreu, principalmente, devido aos insucessos na implantação desses sistemas, que eram projetados com uma lógica que não contemplava os processos cognitivos envolvidos na ação, e, portanto, apresentavam muitas dificuldades na operação do sistema (ABRAHÃO et al., 2009). 3.2 ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA DA ERGONOMIA NO BRASIL No Brasil, as pesquisas na área são relativamente recentes. Embora existam registros de pesquisas realizadas no século XIX, apenas a partir da década de 1970 que pesquisadores de várias universidades brasileiras começaram a introduzir a ergonomia no escopo de várias áreas do conhecimento, sendo que o primeiro trabalho acadêmico data de 1973, Ergonomia: Nota de Classe, escrito por Itiro Iida e Henry A. J. Wierzbicki (CORRÊA; BOLETTI, 2015). Para Corrêa e Boletti (2015), em 1983, surge a Associação Brasileia de Ergonomia (ABERGO), uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é o estudo, além da prática e da divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando necessidades, habilidades e limitações. Hoje, nosso país conta com inúmeros profissionais diretamente relacionados à saúde dos trabalhadores, à organização do trabalho e aos projetos de equipamentos e produtos. Abrahão et al. (2009) descrevem que as indústrias europeias e americanas estavam se adequando ao contexto do pós-guerra, buscando elevar a produção com notória escassez de trabalhadores qualificados e, no limite, de matéria-prima. A demanda formulada aos ergonomistas se relacionava, sobretudo, às questões referentes: • insalubridade; • condições de trabalho; • dimensionamento dos homens e equipamentos; • adaptação de ferramentas e instrumentos de trabalho; • organização do trabalho (variabilidade dos homens, equipamentos e matéria- prima). TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 13 Assim, podemos dizer que, nos primórdios da ergonomia, a preocupação era desenvolver pesquisas e projetos voltados para a aplicação de conhecimento, já disponíveis em fisiologia e psicologia e para o estudo do dimensionamento humano, custo energético, visando à concepção e à definição de controles, painéis, arranjo do espaço físico e ambientes de trabalho (ABRAHÃO et al., 2009). Diante do cenário, no site da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), considera-se que os domínios de especialização da ergonomia são: • Ergonomia física: está relacionada às características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em relação à atividade física. • Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, como percepção, memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetam as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. • Ergonomia organizacional: concerne à otimização dos sistemas sociotécnicos, incluindo estruturas organizacionais, políticas e de processos (ABERGO, 2020). Vidal (2002), por sua vez, esquematiza os conceitos relativos à ergonomia contemporânea com base nos domínios de especialização, e destaca que a classificação proposta possui finalidades meramente didáticas, e não teóricas. FIGURA 2 – DOMÍNIOS DE ESPECIALIZAÇÃO DA ERGONOMIA CONTEMPORÂNEA FONTE: Adaptada de Vidal (2002) O design precisa conhecer não apenas tudo o que se refere ao produto em termos físicos, cognitivos e psicológicos, mas que possa determinar particularidades na relação com o usuário, como as próprias condições de produção daquele objeto. Nessa etapa, insere-se a busca por informações da ergonomia organizacional, que trata da forma de produção do produto proposto pelo profissional (KLAFKE et al., 2013). Portanto, os constituintes físicos, cognitivos e organizacionais edificam uma sólida base de conhecimentos para soluções ergonômicas, mas não influem, de forma isolada, na realidade complexa UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 14 do trabalho. Hoje, a ergonomia se expandiu, principalmente, para os setores de serviços (saúde, educação, transporte, atividades domésticas, lazer), até para o estudo de trabalhos domésticos houve uma mudança qualitativa. Antes, o trabalho exigia muito esforço físico repetitivo. Hoje, depende, principalmente, dos aspectos cognitivos, ou seja, da aquisição e do processamento de informações (IILDA, 2005). Observe, acadêmico, que, em todas as nossas atividades diárias, encon- tramos sensações de conforto e bem-estar ou de incômodo e fadiga. No século XXI, podemos reconhecer que os sistemas produtivos se direcionam para o foco no usuário, o que certifica, para a ergonomia, o caráter de uma ciência com sig- nificativa demanda na vida contemporânea. Resumidamente, vivenciamos um momento histórico em que as premissas se empregam aos automóveis, vestuários e mobiliários. 3.3 A ERGONOMIA E A ÁREA DE ATUAÇÃO Acadêmico, já compreendemos os conceitos e os objetivos da ergonomia na sociedade. Diante disso, podemos percebemos que “os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas, de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas” (ABERGO, 2020, s.p.). Há de se destacar que o Ministério do Trabalho e Previdência Social instituíram a Portaria nº 3.751, de 23 de novembro de 1990, a qual baixou a Norma Regulamentadora 17, que trata, especificamente, da ergonomia. NOTA Elaborado de forma didática por Moraes e Mont’Alvão (2000, p. 14-15), o exposto a seguir sintetizará as áreas de atuação da ergonomia: QUADRO 3 – ENFOQUES DE ATUAÇÃO DA ERGONOMIA Áreas de atuação Atribuições Espaciais ou Arquiteturais Aeração, insolação e iluminação do ambiente; isolamentos acústico e térmico; áreas de circulação e layout de instalações das estações de trabalho; e ambiência gráfica, cores do ambiente e dos elementos arquiteturais. TÓPICO 1 — ASPECTOS HISTÓRICOS E A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA 15 Físico-ambientais Toxidade, vapores e aerodispersoides; e agentes biológicos (microrganismos, como bactérias, fungos e vírus), que respeitem padrões de assepsia, higiene e saúde. Securitárias Controle de riscos e acidentes por meio da manutenção de máquinas e equipamentos, da utilização de dispositivos de proteção coletiva e, em último caso, do uso de equipamentos de proteção individual adequados; e supervisão constante da instalação de dutos, alarmes e da planta industrial geral. Operacionais Programação de tarefas, interações formais e informais, ritmo, repetitividade, autonomia, pausas, supervisão, precisão e tolerância das atividades relativas às tarefas, controle de qualidade e dimensionamento de equipes. Organizacionais Parcelamento, isolamento, participação, gestão, avaliação, jornada, horário, turnos e escala de trabalho, seleção e treinamento para o trabalho. Instrucionais Programas de treinamento, procedimentos de execução das tarefas; reciclagens e avaliações. Urbanas Planejamento e projeto do espaço da cidade, sinalização ur- bana, transporte, terminaisrodoviários, ferroviários e metro- viários, e áreas de circulação, integração, repouso e lazer. Psicossociais Conflitos entre indivíduos ou grupos sociais; dificuldades de comunicações e interações interpessoais; e falta de opções de descontração e lazer. FONTE: Adaptado de Moraes e Mont’Alvão (2000) A abordagem interdisciplinar da ergonomia pode contribuir significati- vamente para a melhoria das condições das atividades humanas no trabalho. No Brasil, não há formação específica em ergonomia, porém, vários cursos de espe- cialização têm capacitado profissionais para atuarem expressivamente na área. Os profissionais mencionados a seguir atuam com o objetivo de minimizar as fadigas física e mental dos trabalhadores ou usuários de um determinado sistema para que a execução da tarefa seja produtiva e saudável. QUADRO 4 – ABRANGÊNCIA PROFISSIONAL DA ERGONOMIA Profissionais Contribuições Médicos do trabalho Identificação de locais que propiciam acidentes ou doenças ocupacionais e acompanhamento da saúde dos envolvidos. Engenheiros de projeto Sobretudo, ligados a aspectos técnicos, como a modificação de máquinas e ambientes de trabalho. UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN 16 Engenheiros de produção Organização do trabalho e estabelecimento de um fluxo racional de materiais e postos de trabalho sem sobrecargas. Engenheiros de segurança e manutenção Identificação de áreas e máquinas potencialmente perigosas e que devam ser modificadas. Desenhistas industriais Adaptação de máquinas e equipamentos, além do planejamento de postos de trabalho e sistemas de comunicação. Arquitetos e designers de interiores Desenvolvimento e execução de projetos de layout que proporcionem segurança, conforto e produtividade aos usuários. Urbanistas Intervenção em espaços urbanos para a adequação ergonômica aos mais diversos perfis de usuários. Analistas do trabalho Estudo de métodos, tempos e postos de trabalho. Psicólogos Análise dos processos cognitivos e relacionamentos humanos; seleção e treinamento de pessoal; e implantação de novos métodos. Enfermeiros e fisioterapeutas Recuperação de trabalhadores com dores ou lesões e prevenção ao desgaste físico. Programadores de produção Criação de um fluxo de trabalho adaptado para evitar atrasos, estresses, sobrecargas e trabalhos noturnos. Administradores Estabelecimento de planos de cargos e salários mais justos que ajudem a reduzir os sentimentos de injustiças entre os trabalhadores. Compradores Aquisição de máquinas, equipamentos e materiais mais seguros, confortáveis, limpos e menos tóxicos. FONTE: Adaptado de Iida (2005) De acordo com a relação dos diversos profissionais que colaboram com conhecimentos para a solução de problemas ergonômicos, é necessário um olhar sistêmico, que busque contemplar o maior número de enfoques de atuação da er- gonomia para integrar o sistema homem-tarefa-máquina (WACHOWICZ, 2013). Acadêmico, com tamanhas contribuições sentidas no nosso dia a dia, a ergonomia se consolida como uma condição a priori, para garantir conforto, segurança e bem-estar aos indivíduos. Em um cenário globalizado, as áreas de atuação da ergonomia proporcionam orientação para ações preventivas e educativas aos envolvidos nos processos e nas tarefas. 17 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • A palavra ergonomia é composta pelas palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (leis e regras), a ciência do trabalho. • No vocabulário contemporâneo, a ergonomia passa a ser conceituada como uma disciplina que investiga a abordagem sistêmica de todos os aspectos das atividades humanas. • Os principais objetivos da ergonomia são a satisfação e o conforto dos indivíduos, além da garantia de que a prática laboral e o uso do equipamento/ produto não causem problemas à saúde do usuário. • As trajetórias histórica e evolutiva da ergonomia estiveram associadas ao desempenho das atividades ou tarefas laborais, tendo em vista que problemas, como desconforto e fadiga, decorrentes das condições e do tempo destinado à execução dos esforços repetitivos, podem causar lesões diversas. • A ergonomia tem uma data “oficial” de nascimento: 12 de julho de 1949. • Na pré-história, o homem adaptou a pedra as suas necessidades, respeitando a anatomia da mão para tornar o manuseio mais seguro e eficaz. As ferramentas proporcionavam poder e facilitavam as tarefas, como caçar, cortar e esmagar. • A época renascentista (entre o século XVII) marcou o início dos estudos na área, com destaque para Leonardo da Vinci (1452-1519), autor da figura O Homem Vitruviano. • A releitura e o redesenho de O Homem Vitruviano são uma referência significativa nos estudos da antropometria e da ergonomia. • Durante a Revolução Industrial, ocorrida a partir do século XVIII, tornou-se maior a preocupação em adaptar as tarefas às necessidades humanas. • Os estudos mais sistemáticos do trabalho foram realizados a partir de fins do século XIX, quando surgiu o movimento de administração científica denominado de Taylorismo. • No Brasil, as pesquisas na área são relativamente recentes. Embora existam registros de pesquisas realizadas no século XIX, apenas a partir da década de 1970 que pesquisadores de várias universidades brasileiras começaram a introduzir a ergonomia no escopo de várias áreas do conhecimento. 18 • Em 1983, surge a Associação Brasileia de Ergonomia (ABERGO), uma entidade sem fins lucrativos, cujo objetivo é o estudo, além da prática e da divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando necessidades, habilidades e limitações. • Os domínios de especialização da ergonomia são: física, cognitiva e organizacional (ABERGO, 2020). • Os constituintes físicos, cognitivos e organizacionais edificam uma sólida base de conhecimentos para soluções ergonômicas, mas não influem, de forma isolada, na realidade complexa do trabalho. • No Brasil, não há formação específica em ergonomia, porém, vários cursos de especialização têm capacitado profissionais para atuarem expressivamente na área. • O arquiteto e os designers de interiores são capacitados para o desenvolvimento e a execução de projetos de layout que proporcionem segurança, conforto e produtividade aos usuários. 19 1 Com base nos preceitos da ergonomia, analise as sentenças a seguir: I- No que diz respeito a aspectos relacionados ao uso de objetos, deve ser considerado não apenas o uso normal, correto ou recomendado, mas, também, as possíveis modificações introduzidas pelo usuário, para que essas não gerem acidentes. II- Em um projeto ergonômico, o profissional deve se preocupar com a adaptação do produto às necessidades do homem médio, maximizando a noção de conforto e minimizando os riscos de acidentes resultantes do mau uso. III- O conforto, um dos aspectos relevantes para a ergonomia, tem caráter subjetivo, pois depende do contexto, das condições físicas e psíquicas do usuário e da percepção durante o uso do produto. FONTE: Adaptado de <https://sites.pucgoias.edu.br/puc/enade/wp-content/uploads/ sites/32/2018/09/ebook-design.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2021. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a sentença I está correta. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) Somente a sentença III está correta. d) ( ) As sentenças I e III estão corretas. 2 Dentro da análise ergonômica do trabalho, o projeto de posto de trabalho é um fator relevante. Inicialmente, a elaboração desse projeto apresentava um enfoque tradicional, que era baseado em conhecimentos empíricos acumulados desde a época de Taylor (1856-1915). Posteriormente, surgiu o enfoque ergonômico, que adota critérios científicos.Acerca do enfoque ergonômico, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3tRLD2X>. Acesso em: 11 fev. 2021. a) ( ) O método preferido pelos trabalhadores de uma fábrica deve ser identificado e transformado em um método padrão adaptável. b) ( ) A adequação de um posto de trabalho utiliza critérios, como o tempo gasto na operação e o índice de erros e acidentes. c) ( ) O posto de trabalho é adequado com base no princípio de economia de movimentos. d) ( ) A tolerância para a fadiga se relaciona ao tempo necessário para um trabalhador pouco experiente concluir a tarefa. AUTOATIVIDADE 20 3 A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) considera três domínios de especialização do campo de estudo da ergonomia. Sobre esses domínios, associe os itens, utilizando os códigos a seguir: I- Ergonomia física. II- Ergonomia organizacional. III- Ergonomia cognitiva. ( ) Relacionada com as características da anatomia humana. ( ) Refere-se aos processos mentais, como percepção, memória e raciocínio. ( ) Reporta-se à otimização dos sistemas sociotécnicos, abrangendo estruturas organizacionais, políticas e de processos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – II – III. b) ( ) II – I – III. c) ( ) III – II – I. d) ( ) I – III – II. 4 Aprendemos que a ergonomia está presente na história da humanidade desde a pré-história, quando o homem adaptava as ferramentas com o objetivo de tornar o desempenho das tarefas mais eficiente. Contudo, a disciplina científica denominada foi oficializada somente depois, por uma associação de pesquisadores. A quem é atribuída a adoção da palavra ergonomia e qual é a data de formalização dessa disciplina? 5 A abordagem interdisciplinar da ergonomia pode contribuir significativa- mente para a melhoria das condições das atividades humanas no trabalho. No Brasil, não há formação específica em ergonomia, porém, vários cursos de especialização têm capacitado profissionais para atuarem expressiva- mente na área. Descreve o enfoque de atuação da ergonomia dos profissio- nais da arquitetura e do designer de interiores. 21 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico, vimos que a palavra ergonomia teve os conceitos ampliados ao longo da história. Anteriormente, relacionada apenas à relação do homem com o trabalho. Na sociedade contemporânea, a ergonomia é compreendida como toda a relação do homem com os objetivos que utiliza nas atividades diárias. A compreensão dessas relações e a importância durante o desenvolvimento dos produtos são necessidades absolutas do design. Neste tópico, trabalharemos com alguns conceitos fundamentais relacionados à ergonomia do design e aspectos metodológicos. Para isso, torna- se fundamental compreender a importância da antropometria para a ergonomia, além da aplicabilidade e da relevância na arquitetura e no design. As pesquisas antropométricas consolidadas prescrevem dimensionamen- tos mínimos, médios e até padronizados para a execução de móveis que atendam aos quesitos de segurança e conforto dos indivíduos. Em termos simplificados, neste tópico, encontra-se o estudo dos aspectos ergonômicos envolvidos no de- sign do mobiliário. Para tanto, abordaremos os princípios norteadores das nor- mas técnicas publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e os padrões dimensionais referenciais para projetos de mobiliários ergonômicos. 2 PRINCIPAIS CONCEITOS E METODOLOGIA DO DESIGN ERGONÔMICO No início do século XXI, o desenvolvimento de projetos de produto tem procurado considerar, com muita intensidade, os aspectos de usabilidade, desempenho e segurança dos produtos, uma vez que os mercados se apresentam cada vez mais competitivos, as exigências normativas se tornam cada vez mais rigorosas, e as inovações tecnológicas são cada vez mais frequentes e distribuídas na sociedade de consumo (PASCHOARELLI; SILVA, 2006). No senso comum, o termo design, frequentemente, é associado ao aspecto estético de um produto, porém, o design, como disciplina, tem um objetivo mais abrangente, que é promover o bem-estar na vida das pessoas (VIANNA et al., 2012). 22 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN Para Gurgel (2020), a importância do design, na atualidade, torna-se evidente, quando percebemos que o design aplicado a qualquer elemento afeta não somente os objetos que interagem com ele e as pessoas que o utilizam, mas, mais abrangentemente ainda, afeta o nosso meio ambiente. Para Linden (2007), a disseminação da ergonomia nas sociedades contemporâneas tem contribuído para um projeto de produto que venha a ser mais seguro e confortável para a maioria dos usuários. Silva, Paschoarelli e Silva (2010) afirmam que o design ergonômico tem, como princípio, a aplicação do conhecimento ergonômico no projeto de dispositivos tecnológicos. Surge um segundo foco, uma mudança para a natureza cognitiva do trabalho, a carga informacional, obtida durante o desenvolvimento tecnológico. Nesse período, ocorre um rápido crescimento da ergonomia (MORAES, 1994). Dentro da nova condição produtiva, o denominado design ergonômico pode ser caracterizado por um segmento do desenvolvimento do projeto do produto, cujo princípio é a aplicação do conhecimento ergonômico no projeto de dispositivos tecnológicos, com o objetivo de alcançar produtos e sistemas seguros, confortáveis, eficientes, efetivos e aceitáveis (PASCHOARELLI, 2003). Quanto à aplicação da ergonomia ao design, ou seja, no design ergonômico, ocorre através do uso dos princípios, métodos e dados, detalhados e apresentados a seguir: QUADRO 5 – APLICAÇÃO DA ERGONOMIA AO DESIGN Princípios Métodos Dados Acessibilidade, ou seja, o direto que todos têm de acesso a ambientes e infor- mações; outro princípio é a compreensão que errar é humano e, por isso, deve- mos proteger as pessoas da possibilidade de erros no uso de produtos. Usabilidade, ou seja, teste físico de resistência e durabilidade que destinado às análises de produtos. Antropométricos, ou seja, disponíveis por meio de tabela. FONTE: A autora Nessa perspectiva, os princípios do design ergonômico se baseiam na inter-relação entre usabilidade, ergonomia e design, entretanto, são os seus procedimentos metodológicos os aspectos que mais se destacam, uma vez que são desenvolvidos para melhorar o desenvolvimento de produtos através da compreensão da interação entre todos os aspectos humanos e os mais variados e distintos dispositivos tecnológicos. TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 23 FIGURA 3 – DOMÍNIOS DE ESPECIALIZAÇÃO DA ERGONOMIA CONTEMPORÂNEA FONTE: Brandão (2006, p. 47) No Brasil, Frisoni e Moraes (2001 apud PASCHOARELLI; SILVA, 2006) apresentam 14 etapas para o desenvolvimento do projeto do produto ergonômico, que se caracteriza por destacar aquelas subetapas que têm, na ergonomia, prioridade. FIGURA 4 – SEQUÊNCIA DE ETAPAS METODOLÓGICAS PARA O PROJETO DE PRODUTOS, COM DESTAQUE PARA OS ASPECTOS ERGONÔMICOS (EM FUNDO CINZA) 24 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN FONTE: Adaptada de Frisoni e Moraes (2001 apud PASCHOARELLI; SILVA, 2006) Segundo Silva, Paschoarelli e Silva (2010), as metodologias de design ergonômico devem: • caracterizar-se por um processo trans e multidisciplinar; • envolver, ao menos, os conhecimentos fisiológico, perceptivo e psicológico dos aspectos humanos na interface tecnológica; • fundamentar-se em abordagens epidemiológicas ou laboratoriais para a detecção e a avaliação dos problemas ergonômicos; • alternar desenvolvimento e criatividade, com avaliação sistematizada de produtos e sistemas,utilizando, para isso, mock-ups e/ou protótipos físicos. Mock-up é um modelo ou uma representação, em escala ou de tamanho real, de um projeto ou de um dispositivo. É utilizado para apresentar uma ideia, de forma elaborada, com design muito próximo ao final do produto. Muito utilizado para demonstrar o resultado de um projeto antes mesmo de ele estar pronto, simulando tamanho, forma, perspectiva, textura, cor e outros atributos. Assim, o cliente pode avaliar o projeto de forma mais fácil, já que o mock-up nos aproxima do resultado, facilitando a tomada de decisão e, até mesmo, a aprovação da ideia. NOTA Nesse sentido, uma alternativa metodológica para o design ergonômico é proposta considerando os aspectos destacados anteriormente: TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 25 FIGURA 5 – PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O DESIGN ERGONÔMICO FONTE: Adaptada de Frisoni e Moraes (2001 apud PASCHOARELLI; SILVA, 2006) A definição e a preparação para a produção são etapas que antecedem o processo produtivo, possibilitando a comercialização e o uso do produto e, consequentemente, uma série de avaliações (agora em condições reais de uso), o que deve gerar novos conhecimentos, novas necessidades e novas possibilidades de redesenho do produto. As seis etapas principais (revisão, desenvolvimento, avaliação, preparação, produção e reavaliação final) são desenvolvidas num sistema cíclico, permitindo uma evolução contínua no design ergonômico do produto (PASCHOARELLI; SILVA, 2006, p. 212). Acadêmico, sobre o design ergonômico de um produto, Linden (2007) apresenta os alguns questionamentos que o profissional, no desenvolvimento de um projeto, precisa se fazer: É complicado de usar? É incompreensível? É difícil de regular? É pesado? É difícil de abrir? É desconfortável? É perigoso? Como mostra a Figura 6. FIGURA 6 – PERGUNTAS-CHAVES PARA UM BOM PROJETO DE MÓVEL FONTE: <https://bit.ly/3cdFF6x>. Acesso em: 28 maio 2020. 26 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN As várias definições convergem para a busca do design ergonômico ao ser humano, objetivo que envolve produtos e ambientes. Por fim, podemos considerar que esse subtópico teve, por pretensão, contribuir para a compreensão do quanto as pesquisas em torno do design ergonômico podem e devem ser ampliadas, com a finalidade principal de melhorar a qualidade da vida humana. 3 ANTROPOMETRIA E SUA UTILIZAÇÃO NA ERGONOMIA A etimologia da palavra antropometria é grega, derivada da união das palavras anthropos (homem) e metria (medidas), uma atribuição dos estudos da antropologia física ou biológica que se refere à constituição física do homem. Ela adota procedimentos quantitativos que fornecem as medidas do corpo humano. A antropometria, segundo Pheasant (1998), é o ramo das Ciências Sociais que lida com as medidas do corpo, particularmente, com as medidas do tamanho e da forma. A origem da antropometria se remonta à antiguidade, pois egípcios e gregos já observavam e estudavam a relação das diversas partes do corpo. O reconhecimento dos biótipos se remonta a tempos bíblicos, e o nome de muitas unidades de medida, utilizadas hoje em dia, é derivado de segmentos do corpo. A importância das medidas antropométricas ganhou especial interesse na década de 40, provocada, de um lado, pela necessidade da produção em massa, pois um produto mal dimensionado pode provocar a elevação dos custos, e, por outro, devido ao surgimento dos sistemas de trabalho complexos, nos quais o desempenho humano é crítico e o desenvolvimento desses sistemas depende das dimensões antropométricas dos operadores (RODRIGUEZ-AÑEZ, 2001, p. 103). Para Panero e Zelnik (2008), surge, assim, através da antropometria, o conceito de que o fundamental não é adaptar o homem ao trabalho, mas procu- rar adaptar as condições de trabalho ao ser humano. Dessa forma, esse estudo pode ser interpretado como uma tarefa simples, porém, devemos considerar que cada indivíduo possui biotipos específicos para altura, peso, medida de mãos, dedos etc. O fascínio pelas medidas do corpo humano ocorre desde os tempos longínquos; os pesquisadores – cientistas – produziram grandes obras acerca das dimensões humanas. Em especial, os arquitetos desenvolveram um verdadeiro interesse pela antropometria, a contribuição mais expressiva é atribuída ao romano Vitrúvio (Marco Vitrúvio Polião – viveu no século I a.C., em Roma). Surgiu como partido das construções renascentistas (na busca pelo equilíbrio e harmonia), o primeiro estudo, O Homem Vitruviano (1490), de Leonardo da Vinci (1452-1519). Outra versão da figura vitruviana foi reconstruída no século XIX, pelos escultores ingleses John Gibson e Joseph Bonomi. TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 27 FIGURA 7 – O HOMEM VITRUVIANO, POR GIBSON E BONOMI FONTE: Adaptada de Panero e Zelnik (2008) Vinte séculos depois, os estudos do pioneiro do Modernismo, Le Corbusier (1887-1965), o Le Modulor (1945), são representações simbólicas desses estudos aprofundados a seguir. FIGURA 8 – O HOMEM VITRUVIANO, POR LE CORBUSIER FONTE: Adaptada de Panero e Zelnik (2008) 28 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN Entretanto, nenhuma discussão das proporções e dimensões do cor- po humano seria completa sem mencionar a chamada Seção Áurea, nome dado, no século XIX, à proporção derivada das divisões de uma linha no que Euclides, no ano 300 a.C., na Grécia, chamou de “ra- zão média e extrema”. Segundo Euclides, uma linha é cortada em tal proporção somente quando “a linha completa é, em relação ao maior segmento, o que o maior segmento é para o menor”. Embora, pelo menos, três termos sejam necessários para o estabelecimento de qual- quer proporção, o que é absolutamente peculiar em relação à Seção Áurea é que o terceiro termo da proporção é igual à soma dos outros dois (PANERO; ZELNIK, 2008, p. 17). A Seção Áurea se trata de uma proporção derivada de divisões de uma linha considerada “perfeita”, porque confere harmonia em todas as composições e é encontrada em todas as espécies da natureza. Mais tarde, já no Período Renascentista, a métrica desenvolvida, matematicamente, por Euclides, foi denominada de Divina Proporção (BOUERI FILHO, 2008). FIGURA 9 – EXEMPLO DE APLICAÇÃO NA ARQUITETURA DA SEÇÃO ÁUREA FONTE: <https://bit.ly/3rfkw08>. Acesso em: 11 fev. 2021. Outra contribuição importante foi o lançamento da obra de Ernest Neufert, A Arte de Projetar em Arquitetura, de 1936. Contudo, mesmo com as mudanças no mundo, a obra continua contemporânea, visto que atribui o ser humano como unidade de medida. “Tudo o que o homem cria é destinado ao seu uso pessoal. As dimensões do que fabrica devem, por isso, estar intimamente relacionadas com as do seu corpo. Assim, escolheram-se, durante muito tempo, os membros do corpo humano para unidades de medida” (NEUFERT, 2013, p. 18). Quando queremos dar ideia de dimensões de um objeto, servimo-nos de frases como estas: tem a altura de um homem, tem o comprimento de tantos braços, tem tantos pés de largura etc. São conceitos que não necessitam de definição para ser perfeitamente compreendidos, visto que, no fundo, fazem parte de nós mesmos (NEUFERT, 2013, p. 18). TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 29 Iida (2005) destaca que, até a década de 1940, as medidas antropométricas se detinham na determinação de grandezas médias, com pesos e estaturas e, a seguir, passou-se a determinar, também, as variações e o alcance dos movimentos. Na atualidade, o interesse foi ampliado, enfocando o estudo da diferença entre grupos e a influência de outras variáveis, como etnias, alimentação e saúde. O crescente volume do comércio internacional fez emergir as pesquisas, que buscam estabelecer padrões mundiais de medidas antropométricas,cujo objetivo é a universalização da produção de determinados produtos que possam se adaptar aos usuários de diversas etnias. A antropometria tem papel fundamental e relevante na área da ergonomia. Os autores referenciais da área de ergonomia compartilham atribuições em relação aos estudos antropométricos para a realização de projetos de produtos, postos de trabalhos e ambientes. Há concordância quanto à aplicação das medidas antropométricas para o dimensionamento de espaços, sejam laborais ou residenciais, o que deve ser projetado para as pessoas, com a adoção dos dados antropométricos nos projetos arquitetônicos e de interiores. 3.1 MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS A Revolução Industrial focou as atividades no mercado de massas e nas medidas de saúde de massas, isso devido à necessidade de aplicar as medidas do homem para o desenvolvimento de produtos para a produção em massa. A noção de “normalidade”, na proporção e no tamanho, foi, gradualmente, substituída por tabelas estatísticas. De 1940 a 1970, houve um aumento significativo da necessidade das dimensões corporais na área industrial. Essa tendência tem sido particularmente forte na indústria aeronáutica, com o peso e o tamanho sendo fatores críticos na performance e na economia das aeronaves (ROEBUCK, 1975 apud RODRIGUEZ-AÑEZ, 2001). As medidas antropométricas possuem variações, considerando sexo (homens e mulheres), faixa etária (crianças, jovens, adultos e idosos), etnia, genótipo e região climática. Nesse sentido, para Ilda (2005), sempre que possível e justificável, deve-se realizar as medidas antropométricas da população para a qual está sendo projetado um produto ou equipamento, pois equipamentos fora das características dos usuários podem levar a estresse desnecessário e provocar acidentes graves. Normalmente, as medidas antropométricas são representadas pela média e pelo desvio padrão, porém, a utilidade das medidas depende do tipo de projeto. De acordo com Mozota (2011), a diferenciação de um produto ocorre de acordo com oito dimensões: função, desempenho, conformidade, durabilidade, confiabilidade, capacidade de ser recuperado, estilo e serviço. A partir dessa definição, pode-se apontar que os dados antropométricos são de primária importância para, ao menos, mas não somente, quatro desses itens, sendo: função, desempenho, conformidade e confiabilidade. As variações das medidas antropométricas decorrentes das diferentes etnias serão exemplificadas a seguir. 30 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN FIGURA 10 – PROPORÇÕES CORPORAIS DE DIVERSAS ETNIAS FONTE: Schoenardie, Teixeira e Merino (2011, p. 35) Como percebemos, os indivíduos das amostras possuem configuração física diferente, proporções diferentes e, consequentemente, não se adaptariam, com conforto, em espaços ou equipamentos que não respeitassem dimensões. A diversidade de dados e as populações consideradas podem levar ao uso de infor- mações equivocadas, mesmo focando em uma população específica. A aquisição de dados considerados corretos e pertinentes para o projeto ainda é um desafio. Conforme Sell (2002), a população brasileira, por suas características, que englobam misturas de diversas raças e condições sociais distintas entre as grandes regiões do país, dificulta o projeto dos postos de trabalho, no qual todos os trabalhadores devem estar bem acomodados, e dificulta a produção dos produtos. Destacam-se, também, as diferenças interindividuais dentro de uma mesma população. Essas questões foram retratadas pelo arquiteto americano Willian Sheldon, em 1940. A partir de então, surgiram três tipos físicos básicos: FIGURA 11 – TIPOS BÁSICOS DO CORPO HUMANO FONTE: Iida (2005, p. 104) TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 31 Para facilitar a compreensão das estruturas físicas, Iida (2005) expõe os conceitos de Ectomorfo, Endomorfo e Mesomorfo: • Ectomorfo: tipo físico de formas alongadas. Tem corpo e membros longos e finos, com um mínimo de gorduras e músculos. Os ombros são mais largos, mas caídos. O pescoço é fino e comprido, o rosto é magro, queixo recuado e testa lata e abdômen estreito e fino. • Mesomorfo: tipo físico musculoso de formas angulosas. Apresenta cabeça cúbica, maciça, ombros e peitos largos e abdômen pequeno. Os membros são musculosos e fortes. Possui pouca gordura subcutânea. • Endomorfo: tipo físico de formas arredondadas e macias, com grandes depósitos de gordura. Na forma extrema, tem características de uma pera (estreita em cima e larga embaixo). O abdômen é grande e cheio e o tórax parece ser relativamente pequeno. Braços e pernas são curtos e flácidos. Os ombros e a cabeça são arredondados. Os ossos são pequenos. O corpo tem baixa densidade, podendo flutuar na água. Apesar disso, Iida (2005) explica que os modelos físicos básicos são importantes para não comprometer a saúde ocupacional dos funcionários: a altura da lombar deve estar de acordo com a encosta da cadeira; a altura do cotovelo deve estar de acordo com a altura da mesa; é preciso que haja espaço entre assento e mesa em relação à altura das coxas; o posicionamento do monitor precisa estar na altura dos olhos e do ângulo de visão; e o alcance das pernas e braços deve ser confortável. Com relação ao alcance confortável, Ilda (2005) apresenta os limites e as dimensões ideais de alcance de um posto de trabalho para funções principalmente sentadas, por exemplo, alcance de objetos sobre a mesa. Panero e Zelnik (2008) afirmam que são dez as dimensões mais importantes se alguém quiser descrever um grupo para objetivos de engenharia humana (ergonomia) nessa ordem: altura, peso, altura quando sentado, comprimento nádegas-joelho e nádegas- sulco poplíteo, largura entre os cotovelos e entre os quadris em posição sentada, altura do sulco poplíteo, dos joelhos e espaço livre para as coxas. A seguir, indicaremos as medidas mais significativas para arquitetos e designers de interiores ou de produtos. 32 UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO À ERGONOMIA NO DESIGN FIGURA 12 – MEDIDAS CORPORAIS MAIS RELEVANTES PARA ARQUITETOS E DESIGNERS FONTE: Panero e Zelnik (2008, p. 30) Em geral, conforme observa Boueri Filho (2008, p. 56), “[...] o arquiteto interpreta os dados disponíveis a partir da literatura e os aplica diretamente, de acordo com as necessidades do projeto”. A antropometria assume, assim, valor estratégico dentro do processo de design, na busca da diferenciação e da resolução de problemas. No entanto, a busca por dados mais próximos da realidade da população ainda é necessária. A ampla bibliografia da área de arquitetura, além das normas técnicas, fornece as medidas ideais (mínimas ou padrão) para projetos arquitetônicos, de interiores, urbanos e de mobiliário. Em casos específicos, nos quais o grau de com- plexidade é maior, deve-se contar com a contribuição de profissionais especializa- dos em antropometria e/ou ergonomia, conforme afirmam Panero e Zelnik (2008). TÓPICO 2 — ERGONOMIA NO DESIGN E MOBILIÁRIO BRASILEIROS 33 Os ensinamentos da antropometria são determinantes para atender aos requisitos de uso do espaço a ser edificado. A ergonomia fundamenta o cuidado do projeto arquitetônico quanto aos aspectos dimensionais, conduzindo à qualidade espacial tão almejada pelos arquitetos e usuários. 4 CONCEITUAÇÃO E BREVE HISTÓRIA DO MOBILIÁRIO NO BRASIL O termo mobiliário representa um conjunto de móveis ou mobília. Portan- to, o projeto de mobiliário configura uma importante atribuição dos profissionais de arquitetura e design. Desses conhecimentos, a ergonomia é de comprovada relevância, pois a interface usuário–arquitetura é intermediada pelo mobiliário. As pesquisas antropométricas consolidadas prescrevem dimensionamentos mí- nimos, médios
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