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HISTORIA DA ARQUITETURA NO BRASIL Profª MS. Karla Di Giacomo Palacetes Paulistanos Período: República Velha (1889-1930), capitais advindos da lavoura do café, O termo palacete é o diminutivo irregular de palácio, residência urbana vasta e suntuosa, de príncipes e outros nobres, ou de chefes de Estado, e até local onde se instalam setores do poder público. Designou sempre, em São Paulo, a casa melhor e mais ampla, o sobrado de dois pavimentos, em oposição à casa térrea, popular. “(...) o palacete, do ponto de vista do espaço, dos seus usos e dos programas de necessidades, resultaria na transposição do morar à francesa, ao qual se incorporaram elementos da casa paulistana preexistente”. (HOMEM, 1996). “A residência paulistana da elite cafeeira passaria a ser a mais bem cuidada e de maior luxo, para individualizar-se, a fim de expressar o êxito econômico, o gosto, as preferências culturais do proprietário, transformando-se num cartão de visita dos moradores. O palacete (...) foi um espaço especialmente programado para as necessidades da burguesia” (HOMEM, 1996). Localização: Campos Elíseos, Higienópolis, Avenida Paulista e os bairros-jardins da Companhia City, Pacaembu, Jardim América e Jardim Europa. Destaque para Ramos de Azevedo Chácara do Carvalho, Bairro da Água Branca, São Paulo Projeto: Luís Pucci e Giulio Micheli, 1892 Isolado no lote, entre jardins projetados, com elementos neoclássicos compondo a fachada. CHÁCARA DO CARVALHO (1892): DE PROPRIEDADE DO CONSELHEIRO ANTONIO DA SILVA PRADO. PRIMEIRO E SEGUNDO PAVIMENTOS. CHÁCARA DO CARVALHO (1892): SALÃO MARIA ANTONIETA, PREPARADO PARA RECEBER OS REIS DA BÉLGICA, EM 1920. CHÁCARA DO CARVALHO (1892): SALA DE MÚSICA E BILHAR: ESPAÇOS DE INTENSA SOCIABILIDADE CHÁCARA DO CARVALHO (1892): CORREDOR CENTRAL MOBILIADO, ENTRE O BILHAR E A SALA DE JANTAR, ANTECEDENDO O FUMOIR. CHÁCARA DO CARVALHO (1892): ESCRITÓRIO: ESPAÇO DE TRABALHO NO INTERIOR DA MORADIA. CHÁCARA DO CARVALHO (1892): NOITE DE GALA: AS RECEPÇÕES TORNARAM-SE FREQÜENTES, ONDE OS PROPRIETÁRIOS DEMONSTRAVAM, NA INDUMENTÁRIA, NA DECORAÇÃO DE INTERIORES, NO MOBILIÁRIO, NAS LOUÇAS E TALHERES E NO MODO DE RECEBER, A RIQUEZA E A INCORPORAÇÃO DE HÁBITOS CIVILIZADOS EUROPEUS, NOTADAMENTE OS FRANCESES. CHÁCARA DO CARVALHO (1892): NOS JARDINS DO PALACETE, RECEPÇÃO OFERECIDA AO GRÃO-VIZIR DA RÚSSIA. PALACETE DE ELIAS CHAVES (1893-99): AVENIDA RIO BRANCO/ALAMEDA GLETTE/ALAMEDA DOS GUAIANAZES (CAMPOS ELÍSEOS). ATUAL PALACETE DOS CAMPOS ELÍZEOS. Palacete de Elias Chaves (1893-99): fachada posterior, com referências do barroco francês. Projeto de Matheus Haussler. Jardins com estética francesa. Palacete de Elias Chaves (1893-99): salão nobre decorado com móveis Luís XV e tapeçaria Aubusson. Projeto de Matheus Haussler. Jardins com estética francesa. A RUA MARANHÃO, POR VOLTA DE 1905. O BAIRRO DE HIGIENÓPOLIS JÁ SE APRESENTAVA DE ACORDO COM AS DETERMINAÇÕES DO PODER PÚBLICO QUANTO À SALUBRIDADE URBANA E ARQUITETÔNICA: TERRENOS DRENADOS, DE DIMENSÃO CONSIDERÁVEL PARA COMPORTAR EDIFICAÇÃO ISOLADA NO LOTE, RUAS CALÇADAS À PARALELEPÍPEDOS, CALÇADAS ARBORIZADAS, SERVIDAS POR BONDES E ILUMINAÇÃO PÚBLICA, MORADIAS PROVIDAS DE SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA E RECOLHIMENTO DE ESGOTOS, CONSTRUÍDAS COM MATERIAIS SÓLIDOS, AREJADAS E ILUMINADAS, AFASTADAS DAS DIVISAS LATERAIS DO LOTE, COM ALTURAS DE PORÃO E PÉ-DIREITO CONVENIENTES E COM NÚMERO ADEQUADO DE COMPARTIMENTOS. AVENIDA PAULISTA, EM FOTO DE GAENSLY, DE 1902. NOTA-SE OS PALACETES ISOLADOS NOS LOTES DE GRANDES DIMENSÕES, OS EXTENSOS QUINTAIS E AS DIFERENÇAS FORMAIS DENTRO DA MESMA TIPOLOGIA, DEMONSTRANDO A MISTURA DE ESTILOS (ECLETISMO). RUA PAVIMENTADA E CALÇADA ARBORIZADA, À SEMELHANÇA DOS BOULEVARDS FRANCESES. VILA PENTADO (1902): PROPRIETÁRIO ANTÔNIO ÁLVARES PENTEADO, SITUADA À AVENIDA HIGIENÓPOLIS. Francisco de P. Ramos de Azevedo São Paulo (1851-1928) Engenheiro-arquiteto formado na Bélgica, considerado o arquiteto oficial do governo e construtor de toda a classe alta paulistana. Seu escritório concluiu milhares de obras, dominando o panorama das edificações e remodelando a cidade (Lemos, C.). Foi sócio majoritário do Escritório Técnico Ramos de Azevedo (1896), da Cerâmica Vila Prudente (tijolos e telhas prensadas), da Serraria Central (esquadrias e madeiras em geral), da Companhia Inicial (financiadora de construções em terrenos a ela hipotecados, junto com Ricardo Severo), diretor do Banco Ítalo-Belga e da Caixa Econômica Estadual, e professor da Escola Politécnica e do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. São Paulo Residências (1907-1928) Ramos de Azevedo Conjunto de residências Edificação no alinhamento São Paulo Residências (1907-1928) Ramos de Azevedo Chalé Entrada Lateral São Paulo Residências (1892) Ramos de Azevedo São Paulo Residência José Cardoso de Almeida (1915) Ramos de Azevedo São Paulo Residência Gabriela Dumont Villares (1921) Ramos de Azevedo São Paulo Residência do arquiteto (1930) Ramos de Azevedo PALACETE DE FRANCISCO DE PAULA RAMOS DE AZEVEDO. CONSTRUÇÃO EM 1891 E REFORMA EM 1904. IMPLANTAÇÃO, PLANTAS DO PORÃO (EMBAIXO) E PAVIMENTO TÉRREO (DIREITA). PALACETE DE FRANCISCO DE PAULA RAMOS DE AZEVEDO. PLANTAS DO PAVIMENTO SUPERIOR (ESQUERDA) E SÓTÃO (DIREITA). São Paulo Residência Ernesto Dias de Castro (1930) Ramos de Azevedo Victor Dubugras França (1868) Brasil (1933) “Victor Dubugras foi o grande precursor do Modernismo no Brasil e do uso do concreto, com objetivos de modernização e racionalização do projeto arquitetônico. Sua obra, com forte caráter de racionalismo construtivo, desenvolveu-se paralelamente à dos principais mestres europeus, nos fins do século XIX e nas primeiras décadas do século XX”. (Reis Filho, N.G) São Paulo Residência (1916) Victor Dubugras São Paulo Residência (1903) Victor Dubugras São Paulo Residência (1903) Victor Dubugras São Paulo Vila Uchoa (1902) Victor Dubugras Residência do engenheiro Flávio Uchôa, primeiro projeto de obra particular de maiores proporções. Típica “vila”, casa de chácara urbanizada, em grande terreno e jardim. Última obra da sua fase Neogótica, com elementos de gosto art nouveau no interior. Volumetria complexa, com uma série de alpendres e terraços, corpos salientes e reentrantes, telhados com vários corpos e torre de grande altura. Imagens internas São Paulo Residência (1914) Victor Dubugras São Paulo Vila Horácio Belfort Sabino (1903) Victor Dubugras VILA HORÁCIO BELFORT SABINO (1903): AVENIDA PAULISTA, ESQUINA COM RUA AUGUSTA, PROJETO DE VICTOR DUBUGRAS, CONSTRUÍDA NUMA MISTURA DE REFERÊNCIAS NEOCOLONIAIS (ÁREAS EXTERNAS) E ART-NOUVEAU (DECORAÇÃO DE INTERIORES). VILA HORÁCIO BELFORT SABINO (1903): SALA DE JANTAR EM ESTILO ART NOUVEAU, IMPORTADA DA FRANÇA. VILA HORÁCIO BELFORT SABINO (1903): SALA DE VISITAS VILA HORÁCIO BELFORT SABINO (1903): HALL VILA HORÁCIO BELFORT SABINO (1903): JARDIM DE INVERNO. ART NOUVEAU Art Nouveau Nova Arte Desenvolvimento entre 1895 e 1914 Assumiu aspectos variados de acordo com o país em que se desenvolveu INTRODUÇÃO DUCHER, 1992 Movimento europeu , que ao contrário do ecletismo, procede mais por fusão ou por síntese do que por adição ou acumulação. ATO OU EFEITO DE FUNDIR- SE RESUMO INTRODUÇÃO DUCHER, 1992 Tende a criar uma relação orgânica entre o ornamento e a função do objeto. A LINHA “CHICOTADA”: linha assimétrica que se exprime dinamismo ( ritmo e contra – ritmo) INTRODUÇÃO DUCHER, 1992 A FLORA: Uma relaçãointimista com a natureza, conservando o princípio de vida, ou seja, botões das flores. Ondulações, entrecruzamento de caules associados às flores ( papoula, crisântemos, orquídea, lírio) INTRODUÇÃO DUCHER, 1992 A FAUNA: Mundo aquático das libélulas, rãs, borboletas; o simbolismo; a marchetaria. INTRODUÇÃO DUCHER, 1992 A MULHER: Aos motivos florais e animais associa-se a figura da mulher, também pela ondulação de suas linhas e dos cabelos. INTRODUÇÃO DUCHER, 1992 MUCHA INTRODUÇÃO A TENDÊNCIA A ABSTRAÇÃO: segunda tendência, menos descritiva, associa-se a fusão e a união do ornato com a estrutura que passam por ondulações e torções que submetem o material – ferro, vidro, pedra- ao seu objetivo. DUCHER, 1992 NO BRASIL... REPRESENTANTES DO ART NOUVEAU Eliseu Visconti Carlos Eckmann Victor Dubugras As mudanças socioeconômicas ocorridas no Brasil desde a segunda metade do século XIX, implicaram em profundas mudanças nos modos de habitar e construir. As ferrovias traziam sobre seus trilhos novos recursos e maneiras de construir Reis Filho (2013). CONTEXTO As construções dependiam de material importado, tanto para elementos estruturais como para os de acabamento Os arquitetos e engenheiros orgulhavam-se de imitar com perfeição até nos detalhes, os estilos de todas as épocas, que fossem valorizadas pela cultura europeia. Reis Filho (2013). CONTEXTO Brasil República – Eliseu Visconti - Revue du Brésil Ascensão do café TIJOLO, FERRO FUNDIDO, CONCRETO. Art Nouveu chegara ao Brasil no começo do século XX, principalmente na pintura decorativa e na arquitetura. Na verdade, o estilo Art Nouveau, nunca foi bem compreendido entre nós, isto é, não foi na sua essência compreendido pelo povo que aceitava com certa curiosidade os objetos daquela corrente importados para o guarnecimento das casas. (LEMOS 1976, p. 105) Foi um estilo que assinalou o primeiro movimento de libertação daquelas soluções neogóticas e neorrenascentistas, pseudo- barrocas e até pseudo- coloniais que proliferavam e ainda proliferam entre nós. O que nós importamos então, foi um “estilo sem estilo”, porque era um estilo que não copiava outros. Foi aceito com entusiasmo. E o povo, um pouco chocado no começo, aderiu logo, bastando dizer que tudo que era feito em matéria de móveis e objetos era logo adquirido. Motta (1976, p.91) Toda em tijolo Delicadeza Mais recente dos estilos Linhas curvas Espaços com continuidade e movimento Mão de obra altamente especializada Acabamentos corretos e harmônicos Ramagens em relevo na fachada- modelada no local Pintura dos painéis do hall monumental anacrônica – Oscar Pereira da Silva CARACTERÍSTICAS VILA PENTEADO Carlos Eckmann – Vila Penteado - 1902 Representa também uma etapa da história econômica do estado, quando o capital proveniente do café constituiu a base financeira da industria. Localização: Bairro Higienópolis Aristocrata da fortuna do Café ( Alvares Penteado) Homem, 1976 Homem, 1976 A cidade autofágica digeriu a produção de Dubugras Outros exemplos Residência Horácio Sabino foi demolida nos anos 50 para a construção do Conjunto Nacional Centro Cultural do Banco do Brasil São Paulo Reformado interior da confeitaria Colombo Rio de Janeiro Outros exemplos Colégio Santa Inês São Paulo Outros exemplos ART DÉCO O art déco surge através de experimentações - técnicas e formais - sobre o concreto armado, feitas inicialmente por Auguste Perret (1874-1954): império do concreto armado Propiciou o advento ao modernismo Linhas circulares ou retas estilizadas; Uso de formas geométricas; Design abstrato; Influências do construtivismo, futurismo e cubismo; Presença marcante na Arquitetura. Warchavchik e depois Rino Levi- novo movimento. Inúmeras obras públicas de importância seguiram essa tendência: - Prefeitura de Belo Horizonte, 1936- 39, de Luiz Signorelli - Viaduto Bom Vista, 1930, de Oswaldo Arthur Bratke - Viaduto do Chá, de Elisiário Bahiana - O Cristo Redentor... Goiânia, criada em 1933, possui vários de seus principais edifícios em art-déco, como a estação ferroviária, o teatro, os palácios... Todos projetados por Attílio Correia Lima (que também fez o projeto urbanístico). Grupo Escolar Visconde de Congonhas do Campo José Maria da Silva Neves, 1936, São Paulo A nova linguagem cai no gosto popular e logo se associa a uma série de edificações ligadas a entretenimento, como emissoras de rádio, teatros e cinemas, estádios, ou outras de caráter público e populista, como correios, estações rodoviárias e ferroviárias, escolas, etc. Elevador Lacerda Salvador, 1929 Edifício Oceania Salvador, década de 1930 O art déco: os arranha-céus Edifício Altino Arantes Plínio Botelho do Amaral, São Paulo, década de 1939 O art déco: os arranha-céus ART DÉCO POPULAR Edificações do Nordeste do Brasil Fotos de Anna Mariani Edificações do Nordeste do Brasil Fotos de Anna Mariani NEOCOLONIAL NEOCOLONIAL • modernidade = o Neocolonial •Esse foi o “moderno” apresentado na exposição de arquitetura da Semana de 1922, em que o arquiteto polonês radicado no Brasil, Georg Pryzerembel, apresentou uma casa de praia neocolonial. Casa Neocolonial na Praia Grande: Georg Pryzyrembel, 1922 Reflexos da Primeira Guerra nova estética nacionalista Caia o ritmo das construções A verdade é que desse sistema nasceu um estilo que nada tinha de brasileiro. Barroco lusitano das casas. Novo meio de expressão, e portanto nacional. Ricardo Severo Victor Dubugras. Residência do banqueiro Numa de Oliveira, Avenida Paulista Projeto Ricardo Severo, anterior a 1918 Palacete da Baronesa de Arary, Avenida Paulista Projeto de Victor Dubugras, 1917 No fundo, o caráter estilístico do Neocolonial não atendia ao desejo de inovação, condizente com os novos tempos, proposto pelas tendências racionalista europeias (incorporação de tecnologia industrial para criação de linguagem arquitetônica, que satisfizesse o ritmo de vida moderno. BRASIL REPÚBLICA: A QUESTÃO RESIDENCIAL NA VIRADA DO SÉCULO INTRODUÇÃO AS RUAS ERAM DEFINIDAS PELAS CASAS AS VILAS E AS CIDADES APRESENTAVAM RUAS DE ASPECTO UNIFORME A ARQUITETURA É MAIS FACILMENTE ADAPTÁVEL AS MODIFICAÇÕES DO PLANO SOCIOECONÔMICO DO QUE O LOTE URBANO. Meados do século XIX: as edificações unifamiliares mantém semelhanças com as moradias coloniais A legislação não intervinha no planejamento interno das residências. Um novo tipo de residência a de porão alto (1800-1850) Transição entre os velhos sobrados e as casas térreas Construções mais refinadas – Missão Cultural Francesa Arquitetura neoclássica Casas com novos esquemas de implantação, afastadas dos vizinhos Jardins laterais Café Ecletismo Cortiços Câmara promulgou código regulando larguras mínimas 1886 Abolição da escravidão República Segundo Carlos A. C. Lemos (1989, p.22): com a abolição dos beirais do tempo da taipa, a partir de 1886, nasceu a nova tipologia da casa paulistana, novo partido arquitetônico derivado, em resumo, da obrigatoriedade do alinhamento do lote (construções afastadase com jardins fronteiros, somente fora do perímetro urbano); da obrigatoriedade de porão que às vezes ficava bastante alto, pois nem todos os lotes eram de nível; da obrigatoriedade da platibanda e da conveniência do corredor lateral descoberto que permitisse a iluminação direta dos cômodos. Lemos (1999, p.17): ...a República deflagrou grande esforço modernizador e, pela primeira vez, introduziu nos códigos exigências ligadas à higiene, sobretudo à da habitação. A lei entrou dentro de casa, não ficando só nas veleidades estéticas dos frontispícios. CORTIÇOS E VILAS OPERÁRIAS No Brasil, a legislação urbanística também decorreu das condições de insalubridade, principalmente em grandes cidades, a partir de meados do século XIX. O quadro é bastante semelhante ao europeu, com ruas fétidas, casas insalubres e pestes frequentes. São Paulo - De 1836 a 1886, o antigo núcleo vê sua população aumentar em 117,5% e, entre 1886 e 1900 (em 14 anos), 402,8%. Esse crescimento populacional resulta do próprio crescimento vegetativo e do afluxo de ex-escravos e imigrantes que, em 1893, chegam a representar 59,2% da população paulistana. Outro fator de crescimento urbano é o processo de industrialização: entre 1910 e 1914, São Paulo conta com 1.038 fábricas; no final da década de 20, já são 4.000, com 84.000 empregados diretos. Os libertos, imigrantes e operários - precárias condições casarões centrais deteriorados – cortiços pequenas “casas de cômodos” na periferia do centro urbano LOCALIZADAS = em terrenos insalubres, desprovidos de infraestrutura, ao longo das linhas férreas ou próximos às indústrias. COMUM a concentração populacional, a rusticidade dos materiais e meios, a exiguidade do espaço e o desempenho coletivo das atividades privadas. A origem da palavra se liga à ideia de congestionamento e refere-se à caixa cilíndrica de cortiça na qual as abelhas fabricam mel e cera, formada por uma sucessão de alvéolos de mesmo formato e tamanho. Outra expressão utilizada - cabeça de porco - foi o nome da mais famosa habitação coletiva do Rio de Janeiro em fins do século XIX. O Cortiço Cortiços cariocas, início do século XX Desmonte de bairros insalubres para a reforma urbana no Rio de Janeiro, início do século XX São Paulo Para o Código de Posturas e Padrão Municipal (1886): Cortiço = casa operária = cubículo; tolerava este tipo de habitação em zonas suburbanas, em áreas industriais, ao longo da estrada de ferro e na zona rural. Cortiços em São Paulo, 1919-1925 Fotos: Geraldo Horácio de Paula Souza Código Sanitário Estadual (1894): proíbe a construção de cortiços e sugere a extinção dos existentes; Lei nº 286 (1896), Artigo 13º: “entende-se por cortiço o conjunto de duas ou mais habitações que se comuniquem com as ruas públicas por uma ou mais entradas comuns para servir de residências a mais de uma família”. Decreto Estadual 2.141 (1911): cria o Serviço Sanitário do Estado, não menciona a palavra “cortiço” e sim “habitações coletivas” (mecanismo de disfarce), definindo-as como: “as casas que abrigarem ou servirem de dormitório, ainda que temporário, a várias famílias ou a muitas pessoas de famílias diferentes” (art. 293). Ainda exige que haja no mínimo uma latrina para cada grupo de vinte indivíduos e, também banheiros e lavabos indispensáveis. Cortiço no Brás, em São Paulo Cortiço na Mooca, em São Paulo Os tipos encontrados foram classificados como: Cortiço de quintal, que ocupava o centro da quadra, com acesso por pequeno corredor; Cortiço-casinha, que se tratava de uma construção independente, de frente para a rua, confundida com pensão; Casa de cômodos, que era o sobrado com várias divisões internas; Cortiços improvisados, que se referiam à ocupação precária de áreas livres, no fundo de casas, depósitos, bares, etc.; Cortiço-avenida, que eram cômodos ou mesmo casinhas, alinhados ao longo de rua interna e abrindo-se para ela, com acesso comum, por portão que dá para a rua; Hotel-cortiço, que funcionava como restaurante durante o dia, e à noite, era utilizado para dormir. Apesar de serem formas diferentes, eram iguais na essência, por conterem os mesmos elementos de uso coletivo e por serem todos produtos resultantes de um mesmo sistema de produção de moradias, em que proprietários podiam ceder seus imóveis a terceiros que investiam pequenas economias na construção de casinhas ou na subdivisão de edificações existentes. Os aluguéis eram considerados baixos e os rendimentos bastante compensadores. A estratégia inicial de intervenção nas habitações populares se dá através da eliminação dos locais de amontoamento e sujeira, que impedem a livre circulação do ar. Expulsos das regiões centrais e de seus cortiços, a população carente ocupa os morros adjacentes, construindo suas habitações com o material originado do desmonte. Rio de Janeiro, Morro da Favela, 22 de agosto de 1902 Rio de Janeiro Acima: Morro da Favela, 1902 Abaixo: Favela Morro do Pinto, 1912 Casa Operária e Legislação Para tentar resolver a situação, são construídas casas de variados tamanhos, isoladas ou agrupadas, erguidas segundo as possibilidades de seus proprietários, a maioria imigrantes estrangeiros. A Prefeitura de São Paulo, aos poucos, foi controlando a situação e, além de fornecer o alinhamento correto para a nova construção, codificou certas condições mínimas, mormente aquelas relativas aos gabaritos, altura das portas e janelas, garantia de desvio de águas pluviais por meio de condutores, etc. São Paulo: Casa típica de imigrante, encostada a uma das divisas do lote. (1903) Planta e fachada de casas de aluguel à Rua Tabatinguera, (Arquivo do Escritório Técnico de Ramos de Azevedo). O desenho resume de modo completo o partido amplamente generalizado da casa ligada à classe média que mostra a varanda (sala de jantar) no fim dos dois corredores, o interno e o externo de iluminação e ventilação. Porão não aproveitável provido de grades de ventilação. Fachadas personalizadas. Sobradinhos proletários Vila Boyes, década de 20, bairro do Brás, São Paulo Destinados à classe média, por volta da época da Primeira Guerra Mundial, quando houve uma repentina queda nas construções paulistanas. Construções no alinhamento do lote, pequena testada, geminados em grupos de dez ou doze unidades. “Sobradinho Ford”, apelido inspirado na fabricação em série do carro Ford, tantos foram os conjuntos que surgiram da noite para o dia. Vila Boyes década de 20 bairro do Brás São Paulo Melhores habitações situadas de frente para a rua, permitindo a cobrança de aluguéis mais altos. Corredor lateral para iluminação do segundo dormitório e da sala, obedecendo à legislação municipal. Ausência de recuos laterais e frontais, aumentando o aproveitamento do terreno. Corredor perpendicular à rua, garantindo o aproveitamento do miolo do quarteirão. Paredes hidráulicas e paredes laterais comuns a duas casas, reduzindo o custo da construção. Vila operária projetada pelo engenheiro Regino Aragão, situada na Rua São João, São Paulo, em 1911, exemplar da atitude adotada pela produção rentista (preocupação em ordenar e racionalizar a construção, objetivando a redução de custo). Villa da Economisadora Paulista, São Paulo (1908) Folheto publicitário editado em 1914-15, que descreve as vantagens e méritos do conjunto residencial construído pela mútua Economizadora Paulista, às margens do rio Tamanduateí, em área alagadiça, próximo à Estação da Luz, na cidade de São Paulo. “A Economisadora Paulistacompletou cinco annos de existencia em dezoito de Março de 1913. Foi fundada em 20 de Outubro de 1907, só tendo iniciado as suas operações em 18 de Março de 1908, depois de aprovvada pelo governo federal”. 134 Vila Maria Zélia construída pelo industrial Jorge Street, em 1919, junto à Cia.Nacional de Tecidos de Juta, em São Paulo. Considerada modelo habitação operária: casas unifamiliares e higiênicas controle patronal e ampla gama de equipamentos coletivos, como igreja, biblioteca, teatro, creche, jardim da infância, grupo escolar, consultório médico e dentário, associação recreativa e beneficente, além de comércio, todos comandados pelo industrial. Possuía cerca de 200 casas. 137 Vila Maria Zélia (1919), construída por Jorge Street, junto à Comp. Nacional de Tecidos de Juta, em São Paulo. NOVAS TIPOLOGIAS NA ARQUITETURA URBANA CASA MÉDIA (Rio Claro-1930-1960) • Tipo A: alinhamento sem afastamentos (1,8%) • Tipo B: alinhamento com afastamentos (64,7%) • Tipo B: alinhamento com afastamentos (64,7%) • Tipo C: recuo com ou sem afastamentos lateral (15,4%) • Tipo D: isolada no lote (11,8%) • Tipo E: fundo do lote (6,3%) • Tipo E: fundo do lote (6,3%) Acerca da Arquitetura Moderna, de Gregori Warchavchik (1896-1972): Construir uma casa a mais cômoda e barata possível, eis o que deve preocupar o arquiteto construtor da nossa época de pequeno capitalismo, onde a questão de economia predomina sobre todas as mais. A beleza da fachada tem que resultar da funcionalidade do plano da disposição interior, como a forma da máquina é determinada pelo mecanismo que é a sua alma. Gregori Warchavchik Casa Warchavchik, 1928 Rua Santa Cruz, Vila Mariana, São Paulo Casa Warchavchik, 1928 Rua Santa Cruz, Vila Mariana, São Paulo Utilização de materiais como, por exemplo, vidro, madeira e cimento. Relação com a produção industrial em série. Busca da massificação das artes plásticas através da valorização dos processos industriais. Uso de arabescos em ilustrações. Uso de cores com tonalidades frias nas pinturas ARTS AND CRAFTS – SÉC. XIX. BAUHAUS - 1919 CADEIRA PRESIDENTE CADEIRA BARCELONA Modernismo arquitetônico abarca diversos movimentos do séc. XX: -protomodernismo : “forma segue a função” - Louis Sullivan Compartilham características estilísticas e técnicas: -Abstração -Produção em massa -industrialização “ a arquitetura moderna é a busca de um novo modelo de cidade, alternativo ao tradicional, e começa quando os artistas e os técnicos se tornam capazes de propor um novo método de trabalho” ( BENEVOLO, 2012) Critica ao cenário da cidade Reagem contra a feiura da cidade “MENOS É MAIS” – Miss Van der Rohe – referente aos ornamentos 1928 CIAM – Congresso Internacional de arquitetura moderna Economia Redução de gastos Pouco mobiliário Le Corbusier 5 pontos da arquitetura: -Pilotis -Fachada livre -Panos de vidro -Terraço jardim -Planta livre VILLA SAVOYE CASA DA CASCATA
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