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Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 1 Universidade Santa Cecília Curso de Engenharia Química Apostila: Termodinâmica Química II Prof. Dr. Vitor da Silva Rosa Prof. Dr. Deovaldo de Moraes Júnior Prof. Ms. Luiz de França Netto Santos / São Paulo / 2020 CERTIFICADO DE REGISTRO DE DIREITO AUTORAL A Câmara Brasileira do Livro certifica que a obra intelectual descrita abaixo, encontra- se registrada nos termos e normas legais da Lei nº 9.610/1998 dos Direitos Autorais do Brasil. Conforme determinação legal, a obra aqui registrada não pode ser plagiada, utilizada, reproduzida ou divulgada sem a autorização de seu(s) autor(es). Participante(s): Vitor da Silva Rosa (Autor) Deovaldo de Moraes Júnior (Autor) Luiz de França Netto (Autor) Título: Apostila: Termodinâmica Química II Data do Registro: 7/30/2020 9:42:22 PM Hash da transação: 0x63c6618e2b91eaecb7ad44ff69f092c7f15d041129670697d786b924db09e9cf Hash do documento: e34090b5e5a4245fb8708885b1da6d771e4e38ed838087126fb93e176b0b927a Compartilhe nas redes sociais clique para acessar a versão online https://www.facebook.com/sharer/sharer.php?title=Direito%20Autoral%20registrado:%20Apostila:%20Termodin%C3%A2mica%20Qu%C3%ADmica%20II&u=https://servicos.cbl.org.br/registro/certificado/?hash=0x63c6618e2b91eaecb7ad44ff69f092c7f15d041129670697d786b924db09e9cf https://twitter.com/intent/tweet?url=https://servicos.cbl.org.br/registro/certificado/?hash=0x63c6618e2b91eaecb7ad44ff69f092c7f15d041129670697d786b924db09e9cf mailto:?subject=Direito%20Autoral%20Registrado!&body=Direito%20Autoral%20Registrado!%20Veja%20o%20certificado%20publicado%20no%20Portal%20de%20Servi%C3%A7os%20da%20C%C3%A2mara%20Brasileira%20do%20Livro:%20https://servicos.cbl.org.br/registro/certificado/?hash=0x63c6618e2b91eaecb7ad44ff69f092c7f15d041129670697d786b924db09e9cf http://www.linkedin.com/shareArticle?mini=true&url=https://servicos.cbl.org.br/registro/certificado/?hash=0x63c6618e2b91eaecb7ad44ff69f092c7f15d041129670697d786b924db09e9cf&title=Direito%20Autoral%20registrado:%20Apostila:%20Termodin%C3%A2mica%20Qu%C3%ADmica%20II https://servicos.cbl.org.br/registro/certificado/?hash=0x63c6618e2b91eaecb7ad44ff69f092c7f15d041129670697d786b924db09e9cf Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 2 Prefácio Hoje em dia, o ser humano não é mais capaz de viver sem o conforto e a facilidade proporcionados pela atual tecnologia. Por exemplo, em cidades em que o calor é excessivo são necessários aparelhos de ar condicionado para manter a temperatura ambiente dentro dos limites do conforto térmico. Sem o desenvolvimento das máquinas térmicas não seria possível o desenvolvimento de automóveis, como carros, caminhões e ônibus. Os bens de consumo como alimentos, roupas, equipamentos e medicamentos, não poderiam ser produzidos em larga escala sem que houvesse as indústrias alimentícias, químicas, petroquímicas e farmacêuticas. O engenheiro químico é o profissional responsável por estudar e confeccionar processos de conversão da matéria- prima nos bens de consumo supracitados. Um dos grandes pilares da Engenharia Química é a Termodinâmica, a qual se estende muito além do estudo clássico de calor e trabalho em ciclos de potência e ciclos de refrigeração. Diversos processos industriais necessitam do estudo de equilíbrio de fases (destilação, absorção, extração, lixiviação entre outros), assim como do efeito de elevadas pressão e temperatura em gases e líquidos, bem como do equilíbrio em reações químicas. Nessa apostila são apresentados os conceitos básicos da Termodinâmica aplicada à Engenharia Química, onde se espera que ao final do curso, os alunos compreendam os diversos tipos de equação de estado e suas aplicações, bem como o cálculo de calor e trabalho em condições de não idealidade, misturas gasosas em condições não ideais (fugacidade), conceitos de solução líquida não ideal (coeficientes de atividade) e efeitos da composição, temperatura e pressão em reações químicas. Essa apostila será utilizada nas aulas de Termodinâmica Química II do curso de Engenharia Química da Universidade Santa Cecília, localizada em Santos no estado de São Paulo. Edição atualizada e corrigida – 2º semestre de 2020 Prof. Dr. Vitor da Silva Rosa, Prof. Dr. Deovaldo de Moraes Júnior e Prof. Ms. Luiz de França Netto Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 3 Sumário 1) Introdução ............................................................................................................. 5 2) Equações de Estado ............................................................................................... 8 2.1) Fator de compressibilidade (Z).......................................................................... 11 2.3) Equação tipo Virial ............................................................................................ 18 Lista de Exercícios 1 ................................................................................................. 21 2.4) Equações Cúbicas de Estado ............................................................................. 22 2.4.2) Equação de Soave-Redlich-Kwong (SRK) ..................................................... 26 2.4.3) Equação de Peng-Robinson (PR) ................................................................. 27 2.5) Método para a Solução Exata de um Polinômio do Terceiro Grau ..................... 28 Lista de Exercícios 2 ................................................................................................. 32 3) Cálculo de Propriedades Termodinâmicas ............................................................ 33 3.1) Relações Fundamentais .................................................................................... 33 3.2) Manipulação de Derivadas com Volume Constante .......................................... 36 3.3) Manipulação de Derivadas com Temperatura Constante .................................. 37 3.4) Cálculo de Variações das Propriedades Termodinâmicas .................................. 41 Lista de Exercícios 3 ................................................................................................. 47 4) Introdução ao Equilíbrio de Fases ........................................................................ 48 4.1) Modelo de Mistura de Gases Ideais .................................................................. 50 4.2) Fugacidade para Substâncias Puras .................................................................. 55 4.2.1) Líquido Sub-resfriado ................................................................................. 55 4.2.2) Fugacidade a partir da Equação do Virial truncada no Segundo Termo ...... 57 4.2.3) Fugacidade a partir de equações cúbicas de estado ................................... 57 4.3) Fugacidade de Misturas Gasosas ...................................................................... 59 Lista de Exercícios 4 ................................................................................................. 67 5) Equilíbrio Líquido-Vapor (ELV) .............................................................................. 68 5.1) Modelo de Solução Ideal .................................................................................. 75 5.2) Modelos para o Equilíbrio Líquido-Vapor com Solução Ideal ............................. 78 5.2.1) Cálculo dos Pontos de Bolha ...................................................................... 79 5.2.1) Cálculo dos Pontos de Orvalho ................................................................... 80 5.3) Solução Não-Ideal ............................................................................................. 82 5.4) Modelos para o Equilíbrio Líquido-Vapor com Solução Não-Ideal..................... 87 Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 4 5.4.1) Equação de Margules ................................................................................. 88 5.4.2) Equação de Wilson ..................................................................................... 90 5.4.3) Modelo NRTL (Normal Random Two Liquids) ............................................. 91 5.4.4) Modelo UNIQUAC (Universal Quase-Chemical) .......................................... 92 5.4.5) Modelo UNIFAC (Universal Functional Activity Coefficient) ........................ 96 Lista de Exercícios 5 ................................................................................................. 97 6) Termodinâmica de Reações Químicas – Calor de Reação ..................................... 99 7.1) Aplicação da 1ª Lei da Termodinâmica em Sistemas Reativos ......................... 101 Lista de Exercícios 6 ............................................................................................... 108 7) Termodinâmica de Reações Químicas – Equilíbrio Químico................................ 109 7.1) Espontaneidade em Reações Químicas ........................................................... 109 7.2) Constante de Equilíbrio da Reação Química em função da Temperatura ........ 111 7.3) Relação da Constante de Equilíbrio com a Composição .................................. 119 7.3.1) Reações em Fase Gasosa .......................................................................... 119 7.3.2) Reações em fase líquida ........................................................................... 119 Lista de Exercícios 7 ............................................................................................... 123 8) Referências Bibliográficas .................................................................................. 125 Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 5 1) Introdução Historicamente, as bases da Termodinâmica foram concebidas no início da Primeira Revolução Industrial (um período que compreendeu desde 1760 até 1860, iniciado na Inglaterra), com a criação da máquina térmica. A máquina térmica é um dispositivo que converte parte do calor emitido por um reservatório térmico (por exemplo, uma fornalha) em trabalho mecânico, sendo que o calor restante é rejeitado para um sumidouro (por exemplo, o meio ambiente). O trabalho produzido pode ser utilizado para movimentar veículos (carros, caminhões, motos), navios e trens. Atualmente, as máquinas térmicas estão presentes na geração de energia em usinas termoelétricas, nucleares, solar e geotérmica, além de serem empregadas em dispositivos como aparelhos de ar condicionado, geladeiras e congeladores. A termodinâmica também se faz presente como ferramenta no projeto de diversos equipamentos industriais, como: a) Trocadores de calor: equipamentos destinados a aquecer ou resfriar um fluido (líquido ou gás). O engenheiro químico deve calcular qual a carga térmica necessária para dimensionar o trocador no tamanho correto. b) Colunas de destilação: equipamentos empregados na separação de líquidos miscíveis por diferença de volatilidade. O engenheiro químico deve calcular as relações de equilíbrio entre os componentes da mistura nas fases líquida e vapor, visando calcular a altura que a coluna deve ter em função das especificações de projeto. c) Reatores químicos: unidades empregadas para converter matérias-primas em produtos por meio de reações químicas. O engenheiro químico deve conhecer as relações de equilíbrio entre os reagentes e produtos e a cinética das reações químicas. Também é seu papel estimar a quantidade de calor a ser trocada para que as reações ocorram em temperaturas controladas. d) Bombas: dispositivos destinados a transportar líquidos de um ponto a outro. O engenheiro químico deve calcular qual o trabalho (geralmente expresso como altura manométrica) para a bomba conseguir transportar o líquido. e) Evaporadores: equipamentos empregados para concentrar soluções líquidas por meio de vaporização do solvente líquido. O engenheiro deve calcular qual o fluxo de calor necessário para vaporizar o solvente. O engenheiro químico comumente utiliza a termodinâmica em três situações: a) Realizar balanços de energia em equipamentos industriais; b) Determinar as propriedades físicas para a solução desses balanços; c) Calcular as condições de equilíbrio em sistemas reativos e não-reativos. Na disciplina de Termodinâmica Química I foram abordados conceitos fundamentais como sistema, volume de controle, fronteiras, processos e usos de tabelas de propriedades termodinâmicas. Apresentou-se a 1ª lei da Termodinâmica, a qual diz respeito sobre o efeito da interação entre calor e trabalho na variação de energia de um sistema durante uma mudança de estado decorrente de um processo. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 6 Também foi discutida a 2ª lei da Termodinâmica, a qual fornece respostas para três questionamentos sobre um determinado processo: a) O processo é possível ou impossível? b) O processo é reversível ou irreversível? c) Qual a eficiência máxima que pode ser alcançada no processo? Essas três perguntas são respondidas pela propriedade denominada por entropia. Uma curiosidade é que a termodinâmica também é definida como a ciência que estuda a energia e a entropia. Assim como a energia, ainda não há uma “definição” sobre o que é a entropia. Porém, mesmo sem saber, é possível perceber o seu efeito em tudo o que ocorre. Um exemplo clássico é a xícara de café quente colocada sobre uma superfície em um ambiente com temperatura menor que a do café. Após um tempo, a temperatura do café será igual à do ambiente externo, isto é, estarão em equilíbrio térmico. Mas porque o café esfriou? Quando dois sistemas (neste caso, o café e o ambiente) estão em temperaturas diferentes, um potencial térmico (uma força motriz) é criado. Segundo o enunciado de Clausius, “o calor (energia em trânsito) irá fluir da maior temperatura para a menor temperatura, cessando quando alcançado o equilíbrio térmico”. O enunciado descrito no parágrafo anterior é uma das definições da 2ª lei da termodinâmica. Se a entropia for calculada entre esses dois sistemas, ela será positiva e maior que zero, o que indica que o processo é possível e irreversível. O processo inverso (calor sendo transferido da menor para a maior temperatura) não ocorre espontaneamente, pois a variação de entropia entre os sistemas seria negativa. Ou seja, o processo é impossível. Note que o processo no sentido inverso é impossível, pois o calor estaria fluindo da menor temperatura para a maior temperatura, sem provocar qualquer mudança na vizinhança (ambiente externo), o que violaria o enunciado de Clausius. Mas considere o que ocorre em um aparelho de ar-condicionado: essa máquina térmica trabalha justamente transportando calor de uma menor temperatura para uma maior temperatura. Como é possível? Nessa situação, há um compressor inserindo energia no sistema, de modo que a variação de entropia que antes era negativa, agora é positiva, o que não é uma violação da 2ª lei da Termodinâmica. Porém, se houver um desligamento do fornecimento de energia ao compressor, o calor volta a fluir da maior para a menor temperatura. O curso de Termodinâmica Química I foi finalizado com o estudo dos ciclos das máquinas térmicas. Abordou-se o ciclo Rankine ou ciclo de potência a vapor (empregado na geração de energia elétrica) e o ciclo de refrigeração, utilizado na climatização de ambientes. No curso de Termodinâmica Química II serão estudadas aplicações mais específicas ao profissional em engenharia química. Inicialmente, serão discutidas a natureza das equações de estadoe a aplicação com fluidos puros. Posteriormente, serão apresentados os cálculos das propriedades termodinâmicas (entalpia e entropia) e das grandezas de interação (calor e trabalho) com as equações de estado apresentadas. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 7 Os desvios da idealidade são imprescindíveis nos cálculos de propriedades termodinâmicas. No caso da fase gasosa, esse desvio é calculado pela fugacidade e, na fase líquida, pela atividade. Serão abordados os conceitos de equilíbrio líquido-vapor (ELV) para substâncias puras e misturas. No caso das misturas, o curso se limitará ao estudo de sistemas binários em equilíbrio líquido-vapor, para os quais serão apresentadas as equações de predição dos coeficientes de atividade necessários ao cálculo das composições das fases em equilíbrio. Por fim, estudaremos a termodinâmica das reações químicas. Nessa parte, serão discutidos os métodos de determinação do calor de reação em sistemas com reações simples e múltiplas. O curso é encerrado com os cálculos de equilíbrio de fases em sistemas reativos. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 8 2) Equações de Estado Em praticamente qualquer cálculo de engenharia é necessário conhecer alguma das três propriedades fundamentais: pressão, volume e temperatura. Por exemplo: a determinação da massa específica (ρ) exige o conhecimento da massa da substância (M) e do volume (V) por ela ocupado, conforme apresentado na equação 1. ρ = M V⁄ (1) No caso de um sólido, se ele não for poroso e possuir uma geometria conhecida, o volume é facilmente estimado. No entanto, se for poroso, é necessário determinar o volume útil descontando-se o espaço vazio dos poros, o que começa a tornar a análise mais complexa. No caso de líquidos, o volume deve ser determinado em um recipiente previamente aferido. De modo experimental, a massa específica de líquidos é medida em um equipamento denominado de picnômetro. Perceba que para líquidos, a medida do volume é mais “fácil” quando comparado aos sólidos. Por fim, em gases não é possível medir o volume da molécula ou do conjunto de moléculas diretamente. Nessa situação, diversas considerações sobre o gás e as condições de pressão e temperatura na qual ele está submetido devem ser levados em conta. O modo mais prático é através de equações de estado. Porém, o que realmente desejamos calcular? Vamos trabalhar um exemplo mais concreto; um trocador de calor. Suponha que você deseja resfriar uma corrente gasosa a 75°C com vazão em massa de 1000 kg/h até a temperatura de 25°C. Para tal, você usará água fria disponível a 15°C. Qual deverá ser a vazão de água fria para esfriar a corrente gasosa até a temperatura desejada? Porém, há uma restrição: a água fria deverá sair do trocador de calor com no máximo 50°C. As duas correntes líquidas estão a pressão absoluta de 1 bar. O trocador de calor é adiabático. Na condição de 1 bar, a água fria não sofre mudança de fase dada a faixa de temperatura na qual ela está submetida. Pelo fato de o trocador de calor ser adiabático, todo o calor fornecido pela corrente gasosa deverá ser recebido pela água fria. O calor fornecido Q pela corrente gasosa pode ser calculado a partir da variação de entalpia H, conforme apresentado na Equação 2. Q = mcorrente gasosa(H1 − H2) (2) Nesse exemplo, o cálculo será resolvido com a determinação da variação de entalpia da corrente gasosa. Mas como calcular esta variação para a presente mistura gasosa? Se existisse um equipamento fictício denominado “entalpímetro”, bastaria realizar um experimento com a mistura gasosa e ler diretamente as entalpias em função da temperatura, o que seria muito prático. Infelizmente, tal instrumento inexiste. A entalpia é calculada de modo indireto a partir de propriedades que conseguimos medir diretamente. Veja: O que consigo medir diretamente em um experimento? Pressão, volume, temperatura e composição. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 9 A partir dessas quatro propriedades, por meio do cálculo diferencial e integral, é possível calcular a entalpia, a energia interna e a entropia. Logo, a equação de estado é uma função que tenta relacionar as propriedades que podem ser medidas diretamente. No caso de fluidos puros, a composição não tem sentido, restando apenas as três propriedades fundamentais: pressão, volume e temperatura. As equações de estado podem ser definidas explicitamente na pressão (Equação 3) e no volume (Equação 4). P = P(V, T) (3) V = V(P, T) (4) A Equação 2.3 possui a vantagem de conseguir prever em uma única equação a fase líquida e a fase vapor, uma vez que o volume é uma variável independente. Como assim? Suponha que uma equação do estado seja cúbica no volume. Nessa situação, a equação possui três raízes no volume, de modo que pelo menos duas delas podem ser verdadeiras caracterizando assim duas fases da substância. No caso da Equação 2.4, pelo fato da equação ser explícita no volume, é necessário escrever uma equação para cada fase, o que não é atraente ao engenheiro por não ser prática. Mas independentemente do tipo de equação de estado escolhida, essa equação pode ser determinada teoricamente ou por modelos. Uma equação de estado teórica é uma função obtida totalmente por deduções a partir de conceitos físicos estabelecidos, o que, na prática é quase impossível devido à grande variação entre as propriedades PVT nas fases sólida, líquida e gasosa. Como alternativa, há os modelos; os quais são equações obtidas a partir de hipóteses. O modelo mais simples de todos é a equação do “gás ideal” (Equação 5). P VT = n R T ⟹ P VT n = R T ⟹ P V = R T (5) A Equação 5 relaciona a pressão P, o volume molar V e a temperatura T através de uma constante universal (R), denominada de constante dos gases, a qual assume inúmeros valores dependendo do sistema de unidades empregado. No sistema internacional, R é igual a 8,314 J/mol.K. Note que VT é o volume total ocupado pelo fluido no sistema. O modelo apresentado na Equação 5 é válido nas seguintes hipóteses: a) As moléculas do gás devem ter tamanho desprezível, b) Não há interação de energia entre as moléculas caso ocorra alguma colisão. Se houver, o choque é totalmente elástico, c) A pressão deve ser a mínima possível (tendendo a zero) para garantir a hipótese anterior (item b), d) A temperatura não deve ser elevada o suficiente de modo a não provocar agitação significativa das moléculas e os choques deixarem de ser elásticos, devendo também estar longe da temperatura de condensação do gás, uma vez que próximo à mudança de fase, as moléculas sofrerão intensas forças de atração. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 10 Veja que o modelo do gás ideal possui muitas restrições para ser aplicado em cálculos mais precisos de engenharia. No entanto, este modelo é amplamente empregado como parâmetro de idealidade em estimativas rápidas das propriedades termodinâmicas. Exemplo 1: 1000 mol de dióxido de carbono estão armazenados em uma esfera com volume de 5 m³ a temperatura de 500 K. Qual é a pressão exercidana esfera? Considere que o gás se comporte idealmente. Na condição dada, a Equação 5 é aplicável. O volume molar (V) deve ser calculado a partir da Equação 6, uma relação entre o volume do sistema e a quantidade de matéria da substância. V = VT n = 5 1000 = 5. 10−3 m³ mol (6) Na Equação 5: P = RT V = 8,314 (J/mol K) ∙ 500K 5. 10−3 (m3/mol) = 8,314 ∙ 105 Pa = 8,314 bar (7) Na Equação 7, utilizou-se a conversão entre as pressões: 105 Pa = 1 bar. As equações de estado devem ser capazes de prever com máxima exatidão e da forma mais simples o comportamento PVT de uma substância. Inicialmente, abordaremos as equações de estado com substâncias puras. Na Figura 1 é apresentado um diagrama PVT de uma substância pura, no qual a fase sólida foi omitida. Nesse diagrama há a presença das regiões de líquido sub- resfriado, líquido saturado, equilíbrio líquido-vapor, vapor saturado e vapor superaquecido, sendo que todas elas estão abaixo da isoterma da temperatura crítica. A isoterma crítica definida no ponto crítico é um ponto de separação entre o gás não condensável (fluido supercrítico) da região de condensação (fluido subcrítico). Figura 1 – Diagrama PVT de uma substância pura. Temperaturas T1 < T2 < TC < T3 < T4 (Matsoukas, 2016). Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 11 Um gás irá condensar somente quando a sua temperatura e pressão estiverem abaixo das condições críticas. O GLP (gás liquefeito do petróleo) tem a sua temperatura e pressão diminuídas até as condições críticas, sendo então pressurizado até a fase líquida e armazenado em cilindros. Na Figura 1 estão descritos dois processos de aquecimento: a) Processo ALDVB: a substância inicialmente está na fase líquida (A) a qual é aquecida com pressão constante (PA) até a região de líquido saturado (L). O aquecimento é mantido, sendo o líquido na região do equilíbrio líquid-vapor (D) sendo completamente vaporizado na região de vapor saturado (V). Por fim, o processo é encerrado com a substância sendo levada até a fase vapor superaquecido (B). Note que esse processo a pressão constante foi conduzido inteiramente na região subcrítica. b) Processo EF: assim como no processo anterior, a substância encontra-se inicialmente na fase líquida (E) porém em uma elevada pressão. O aquecimento é dado a pressão constante, e o líquido passa diretamente a fase gasosa sem passar pela região de equilíbrio líquido-vapor. Nessa situação é observada uma transição contínua de uma fase densa (líquida) para uma fase diluída (gás). O processo ALDVB foi conduzido abaixo da isoterma crítica, uma região em que as propriedades do líquido e do vapor são bem diferenciadas. No entanto, conforme o processo se aproxima da isoterma crítica, as diferenças entre o líquido e vapor vão se tornando mínimas. A partir do ponto crítico, não há mais diferença entre líquido e vapor, de modo, que a região é denominada de supercrítica ou gás não condensável. Veja que a equação de estado deve levar em conta todas essas variações no diagrama PVT, as quais tornam a elaboração de um modelo satisfatório de difícil consecução. Uma solução é propor equações de estado para cada região do diagrama, o que elimina parte da dificuldade. 2.1) Fator de compressibilidade (Z) O fator de compressibilidade Z é definido como uma relação entre as propriedades fundamentais PVT, conforme apresentado na Equação 8. Z = P V R T (8) No estado de gás ideal, o fator Z é igual a 1. Esse valor representa o limite do fator Z para qualquer gás real quando a pressão tende a zero e o volume tende ao infinito mantendo-se a temperatura constante. Veja que quando a pressão é zero, não há restrição para o gás se expandir, por isso nessa situação o volume tende a infinito. Como o fator Z é uma razão entre propriedades, logo, também é uma propriedade termodinâmica. No entanto, com uma diferença: essa propriedade varia entre 0 e 1, o que torna a análise mais prática para uma dada substância. Na Figura 2 está apresentado o diagrama ZPT de uma substância pura. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 12 Figura 2 – Diagrama ZPT de uma substância pura (Matsoukas, 2016). Nota-se na Figura 2 que a isoterma para o gás ideal é linear, corroborando com a Equação 8. No entanto, conforme o fator Z se distancia de 1,0, as isotermas passam a apresentar não linearidades próximas à região de vapor saturado e descontinuidades a partir da região do equilíbrio líquido-vapor. Uma outra dificuldade é que cada substância apresenta um diagrama ZPT distinto, de modo que voltamos ao problema anterior do diagrama PVT e como modelar uma equação de estado satisfatória. Porém, há um ponto comum a todas as substâncias puras: o ponto crítico. Lembre-se que o ponto crítico é o ponto em que há a separação entre a região subcrítica e a região supercrítica (gás não condensável). Definem-se a temperatura reduzida (Equação 9) e a pressão reduzida (Equação 10): TR = T Tc⁄ (9) PR = P Pc⁄ (10) As duas novas propriedades adimensionais ou variáveis reduzidas permitem plotar num mesmo gráfico a relação ZPT de diversas substâncias, como observado na Figura 3. Veja que as propriedades reduzidas são funções das propriedades críticas, as quais são tabeladas e estão fornecidas para diversas substâncias no Anexo 1. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 13 Figura 3 – Fator Z em função das propriedades reduzidas para algumas substâncias (Matsoukas, 2016). Observe na Figura 3 que apesar das substâncias serem distintas, as isotermas em Z são praticamente idênticas, corroborando com os dados experimentais. Logo é possível concluir que na mesma temperatura reduzida e pressão reduzida, os fluidos têm aproximadamente o mesmo fator de compressibilidade. Dessa forma o fator Z pode ser escrito como função das propriedades reduzidas (Equação 11). Z = Z (TR, PR) (11) No entanto, essa análise é válida apenas para moléculas apolares (sem formação de campo elétrico) e moléculas simples (monoatômica, diatômica, hidrocarbonetos com cadeias carbônicas pequenas). Em suma, é possível calcular o fator Z em função apenas das propriedades reduzidas com uma acurácia no cálculo para temperaturas reduzidas entre 1,2 e 1,4 (isotermas lineares – ver Figura 3). Conforme a temperatura reduzida vai diminuindo e se aproximando de 1,0 (isoterma crítica) as moléculas da substância vão se aproximando pois estão próximas da condensação. Com valores de temperatura reduzida menores que 1,0, a análise do fator Z apenas em função das propriedades reduzidas torna-se incoerente. Assim, um terceiro parâmetro é introduzido: o fator acêntrico (ω), o qual é calculado conforme apresentado na Equação 12. ω = −1 − log(PR sat) TR=0,7 (12) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 14 O fator acêntrico é um parâmetro que leva em conta a forma e a polaridade da molécula. Moléculas apolares e simétricas como o ar e os gases nobres possuem um fator acêntrico igual a zero. Qualquer outra moléculaque não se encaixe nessa categoria, possui um fator acêntrico diferente de zero. Os valores do fator acêntrico são tabelados para diversas substâncias e estão disponíveis no Anexo 1. Pela definição apresentada na Equação 12, o fator acêntrico é calculado na pressão reduzida de saturação da substância pura quando a temperatura reduzida é 0,7. Exemplo 2: Calcule o fator acêntrico do metanol pela Equação 12 e compare com o valor tabelado no Anexo 1. Inicialmente é preciso calcular a pressão reduzida de saturação (Equação 13): PR sat = Psat Pc⁄ (13) A pressão de saturação (Psat) pode ser obtida pela Equação de Antoine (Equação 14). Observação: a Equação de Antoine é uma equação empírica para a previsão da pressão de saturação ou pressão de vapor de substâncias em temperaturas abaixo da condição crítica. ln Psat = A − B T + C (14) As constantes (A, B e C) estão disponíveis no Anexo 2 para algumas substâncias. A pressão de saturação na Equação 14 é dada em kPa e a temperatura deve ser empregada em graus Celsius. Do Anexo 2, para o metanol obtém-se a constante A igual 16,5785, a constante B igual a 3638,27 e a constante C de 239,5. Note que para calcular a pressão de saturação, é necessário o conhecimento prévio da temperatura (T). Da definição de temperatura reduzida (Equação 15): TR = T Tc⁄ ⟹ T = TRTC (15) No Anexo 1, leem-se a temperatura crítica (512,6 K) e a pressão crítica (80,97 bar) para o metanol. Pela definição do fator acêntrico na temperatura reduzida igual a 0,7, substituindo na Equação 15, tem-se que: T = TRTc = 0,7 ∙ 512,6 = 358,22 K (16) Substituindo o resultado da Equação 16 na Equação 14, a pressão de saturação é 220,87 kPa. Logo, a pressão reduzida de saturação é calculada pela Equação 13, com um valor de 0,027. Por fim, o fator acêntrico é calculado substituindo os valores na Equação 12, reescrita na Equação 17. ω = −1 − log (0,027)TR=0,7 = 0,568 (17) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 15 O valor tabelado do fator acêntrico para o metanol encontra-se no Anexo 1, o qual possui um valor de 0,564. Veja que o desvio do fator acêntrico calculado e o tabelado foi de apenas 0,7%. 2.2) Método de Pitzer e Diagramas de Lee-Kesler O fator Z pode ser calculado a partir do método de Pitzer (Equação 18). Z = Z0 + ω Z1 (18) No método de Pitzer, o fator Z depende das funções universais Z0 e Z1, as quais são funções da temperatura reduzida e pressão reduzida. Diversos métodos têm sido empregados para resolver essas funções, entretanto, o mais amplamente empregado é o fornecido por Lee e Kesler (1975). Nesse trabalho os autores fornecem os valores das funções universais de forma gráfica. Na Figura 4 está apresentado o gráfico para a função Z0 em baixos valores de pressão reduzida Figura 4 – Função universal Z0 em baixas pressões reduzidas (Matsoukas, 2016). Na Figura 5 está apresentado o gráfico para a função Z0 em elevadas pressões reduzidas e na Figura 6, o gráfico para a função Z1. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 16 Figura 5 – Função universal Z0 em elevadas pressões reduzidas (Matsoukas, 2016). Figura 6 – Função universal Z1 em elevadas pressões reduzidas (Matsoukas, 2016). Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 17 No método de Pitzer, a função universal Z0 é o parâmetro que representa a contribuição da idealidade (molécula simétrica e apolar) no fator de compressibilidade Z. Por sua vez, a função universal Z1 representa a contribuição não ideal (molécula polar e assimétrica) no fator Z. Note que Z1 está justamente associado ao fator acêntrico. A utilização dos gráficos apresentados nas Figuras 4, 5 e 6 possuem erros de leitura devido a escala ser pequena. No Anexo 7 estão apresentadas tabelas para a determinação das funções universais Z0 e Z1 em função das propriedades reduzidas. Exemplo 3: Estimar a massa específica do dióxido de carbono (CO2) a 77°C (350K) e 29,53 bar (2,953∙106 Pa). A massa específica ρ de um gás pode ser calculada a partir da razão entre a massa molar e o volume molar (Equação 19). P VT = Z m MM R T ⟹ m VT = P MM Z R T ⟹ ρ = MM V (19) Será que o dióxido de carbono nessas condições de temperatura e pressão se comporta como um gás ideal? Com o cálculo da temperatura reduzida, é possível responder essa pergunta. No Anexo 1 são lidas as propriedades críticas do dióxido de carbono. Tc = 304,2K Pc = 73,83 bar ω = 0,224 Calculando a temperatura reduzida (Equação 20): TR = T TC = 350 K 304,2 K = 1,15 (20) Perceba que a temperatura reduzida é inferior a 1,2, o que fornece uma isoterma em Z não linear. Desse modo, podemos afirmar que nas condições de pressão e temperatura fornecidas, o dióxido de carbono não se comporta como gás ideal. O fator Z deve ser obtido pelo método de Pitzer com as funções universais de Lee e Kesler (1975). Para isso, também precisamos da pressão reduzida (Equação 21): PR = P PC = 29,53 bar 73,83 bar = 0,40 (21) A função universal Z0 é lida na Figura 4 com os valores das propriedades reduzidas (Equações 20 e 21) com um valor de 0,91. Analogamente, na Figura 6, a função universal Z1 possui um valor de 0,0127. Logo, o fator Z é calculado conforme apresentado na Equação 22. Z = Z0 + ω Z1 = 0,91 + 0,224 ∙ 0,0127 = 0,9129 (22) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 18 O volume molar (V) é calculado a partir da relação fundamental para o fator Z (Equação 23). V = Z R T P = 0,9129 ∙ 8,314 J/mol K ∙ 350 K 2,953 ∙ 106 Pa = 9,00 ∙ 10−4 m³ mol (23) Substituindo o resultado da Equação 23 na Equação 19, a massa específica do dióxido de carbono é: ρ = MM V = 44 g/mol 9,00 ∙ 10−4 m3/mol = 4,89 ∙ 104 g/m³ = 48,9 kg/m³ (24) Caso a massa específica do dióxido de carbono fosse calculado pelo modelo do gás ideal (o que nesse caso é errôneo), o valor obtido seria de 45,1 kg/m³. Comparando os dois resultados, utilizando o modelo de gás ideal para o cálculo da massa específica, o erro seria de aproximadamente 8,4%, o que, em termos de Engenharia, é considerável dependendo da aplicação. 2.3) Equação tipo Virial A equação de estado de Virial tem uma base teórica bem fundamentada, podendo ser obtida a partir da mecânica estatística. Essa equação apresenta o fator de compressibilidade por uma expansão em série de potência inversa no volume molar (Equação 25). Z = PV RT = 1 + B V + C V² + D V³ + ⋯ (25) Os coeficientes B, C, D etc. são denominados segundo, terceiro, quarto etc. coeficientes de Virial, os quais dependem apenas da temperatura e da composição (no caso de misturas). Oscoeficientes de Virial estão relacionados com o potencial intermolecular das moléculas constituintes da substância. De acordo com a mecânica estatística, o segundo coeficiente (B) resulta de todas as interações entre duas moléculas, assim como o terceiro coeficiente (C) resulta de todas as interações entre três moléculas e assim por diante. No entanto, é difícil obter os valores desses coeficientes para uma ampla quantidade de substâncias, pois se fosse possível obter todos os coeficientes da equação de Virial, essa equação de estado descreveria perfeitamente o comportamento PVT de uma substância pura e de uma mistura. Com sistemas em baixas pressões, mas não baixas o suficiente para considerar o modelo do gás ideal, a equação do Virial é truncada no segundo termo (Equação 26). Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 19 Z = 1 + B V = 1 + BP RT (26) A Equação 25 pode ser igualada à Equação 26 e explicitada na pressão: P = RT (V − B)⁄ (27) A equação de estado simplificada (Equação 27) fornece uma descrição mais acurada das propriedades termodinâmicas próxima a região do gás ideal, onde o modelo dos gases ideais sozinho não é suficientemente preciso. Porém, devido a essa simplificação, a Equação do Virial truncada no segundo termo consegue apenas prever as propriedades termodinâmicas na região supercrítica (temperatura reduzida maior que 1,0). O segundo coeficiente de Virial (B) pode ser calculado pelo método de Pitzer (Equação 28). B = RTc Pc (B0 + ω B1) (28) As funções universais B0 e B1 podem ser calculadas pelas Equações 29 e 30, respectivamente, as quais foram propostas por Abbott (1975). As equações 29 e 30 são aplicadas para moléculas apolares e simétricas ou com um baixo grau de polaridade. B0 = 0,083 − 0,422 TR 1,6 (29) B1 = 0,139 − 0,172 TR 4,2 (30) Exemplo 4: Calcule o volume molar do etileno a 40°C e 90 bar pela Equação do Virial truncada no segundo termo. Inicialmente é necessário obter as propriedades críticas do etileno para a solução da equação do Virial truncada no segundo termo (Equação 26). No Anexo 1: Tc = 282,3K Pc = 50,40 bar ω = 0,087 Calculando a temperatura reduzida: TR = T TC = 313 K 282,3 K = 1,11 (31) Substituindo a temperatura reduzida calculada na Equação 31 nas Equações 29 e 30, tem-se as funções universais para o cálculo do segundo coeficiente de Virial: Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 20 B0 = 0,083 − 0,422 TR 1,6 = 0,083 − 0,422 1,111,6 = −0,2745 (32) B1 = 0,139 − 0,172 TR 4,2 = 0,139 − 0,172 1,114,2 = 0,0272 (33) Logo, o segundo coeficiente de Virial é obtido com a substituição das funções universais e das propriedades críticas na Equação 28. B = RTc Pc (B0 + ωB1) = 8,314 ∙ 282,3 50,40 ∙ 100000 (−0,2745 + 0,087 ∙ 0,0272) = −1,267. 10−4 m3/mol (34) Observação: 1 bar = 100000 Pa (em vermelho na Equação 34). Isolando o volume molar na Equação 27 e substituindo os valores numéricos: V = RT P + B = 8,314 ∙ 313 90 ∙ 100000 + (−1,267. 10−4) = 𝟏, 𝟔𝟐𝟒 ∙ 𝟏𝟎−𝟒 𝐦𝟑/𝐦𝐨𝐥 (35) No caso de pressões elevadas, apenas considerar o segundo coeficiente de Virial acarreta erros significativos na previsão das propriedades termodinâmicas. Logo, é necessário truncar a equação do Virial no terceiro termo (Equação 36). Z = PV RT = 1 + B V + C V² (36) O cálculo do segundo coeficiente Virial (B) continua sendo descrito pelas Equações 28, 29 e 30. No entanto, não há tantas informações disponíveis para uma ampla gama de substâncias acerca do terceiro coeficiente de Virial (C). O coeficiente C pode ser calculado por uma expressão semelhante a do método de Pitzer (Equação 37). C = R² TC 2 PC 2 (C0 + ωC1) (37) As funções universais C0 e C1 são obtidas de forma generalizada por Orbey e Vera (1983) conforme apresentado nas Equações 38 e 39, respectivamente. C0 = 0,01407 + 0,02432 TR − 0,00313 TR 10,5 (38) C1 = −0,02676 + 0,05539 TR 2,7 − 0,00242 TR 10,5 (39) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 21 Lista de Exercícios 1 1) (Matsoukas, 2016). Metano é armazenado sob pressão em um tanque de 1m³. A pressão no tanque é de 20 bar e a temperatura é de 25°C. a) Calcule o fator de compressibilidade do metano no tanque a partir da equação do Virial truncada no segundo termo. b) Qual é quantidade de matéria de metano no tanque? c) Você quer armazenar 2 vezes mais metano no tanque na mesma temperatura. Qual será a pressão no tanque? d) É apropriado usar a equação do Virial truncada no segundo termo para esse problema? Explique. 2) (Smith, Van Ness e Abott, 2007). Use a Equação do Virial truncada no segundo termo para responder as questões a seguir: a) Um tanque de 5 m³ contém nitrogênio a 110 K e 7 bar. Quantos quilogramas de nitrogênio estão no tanque? b) O tanque é resfriado até que o conteúdo se torne vapor saturado. Quais são a pressão e a temperatura no tanque? Dados adicionais: a pressão de saturação do nitrogênio é dada pela seguinte equação empírica: Psat(T) = e14,9542−(588,72 −6,6+T⁄ ) Com a pressão em mmHg e a temperatura em Kelvin. 3) (Smith, Van Ness e Abott, 2007). Calcule o volume molar do etileno a 25°C e 12 bar com as seguintes equações de estado: a) Fator de compressibilidade z pelo método de Lee e Kesler. b) Equação do Virial truncada no terceiro termo. Compare os resultados entre as letras a e b. 4) (Smith, Van Ness e Abott, 2007). O volume molar da fase vapor de um composto particular é reportado como igual a 23000 cm³ por mol a 300 K e 1 bar. Sem considerar comportamento de gás ideal, forneça uma estimativa razoável para o volume molar do vapor a 300 K e 5 bar. 5) (Matsoukas, 2016). Devem ser armazenados 2000 kg de criptônio sob pressão em um tanque a 110 bar e 20°C. O tanque é projetado para suportar pressões de até 180 bar. a) Determine o volume do tanque. Use o método de Lee-Kesler. b) É seguro armazenar 2500 kg no tanque a 25°C? Empregue a equação do Virial truncada no segundo termo. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 22 2.4) Equações Cúbicas de Estado O modelo do gás ideal é aplicável em uma região extremamente restrita de pressão na fase gasosa, enquanto a equação do Virial truncada no segundo termo possibilita o cálculo das propriedades termodinâmicas na vizinhança do gás ideal em baixas pressões. Por fim, a equação do Virial truncada no terceiro termo possibilita um cálculo mais acurado com maiores pressões, porém, ainda na fase gasosa. Ressaltando que as equações supracitadas falham emregiões próximas a isoterma crítica (temperatura reduzida igual 1,0). Desse modo, as equações cúbicas de estado que são baseadas em polinômios do terceiro grau conseguem prever tanto a fase líquida como a fase vapor. Na Figura 7 está apresentada uma isoterma de uma substância pura entre a fase líquida e a fase vapor e as soluções fornecidas pela equação cúbica de estado. Figura 7 – Isoterma de uma substância pura (Smith, Van Ness e Abbott, 2007). Note que para a temperatura T1 maior que a temperatura crítica (Tc), a pressão é uma função que decresce proporcionalmente conforme o volume aumenta. Esse tipo de situação ocorre com sistemas contendo gases na fase supercrítica. Nessa situação, a Equação do Virial também pode ser aplicada. Porém, quando a temperatura da substância é igual a sua temperatura crítica, observa-se que há uma inflexão da isoterma no ponto crítico. Nessa região não há uma distinção clara entre líquido e vapor. Por fim, em casos mais comuns de engenharia de processos, a temperatura da substância está abaixo da sua temperatura crítica. Na região do líquido sub-resfriado, a Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 23 pressão decresce rapidamente com o aumento do volume molar (uma característica do líquido incompressível). Veja que a isoterma é praticamente paralela ao eixo da pressão. Observe que na região subcrítica, a isoterma obtida pela solução da equação cúbica de estado possui duas inflexões, uma na mudança de líquido sub-resfriado para líquido saturado e outra de vapor saturado para vapor superaquecido. Na prática, a mudança de líquido sub-resfriado para líquido saturado ocorre de forma brusca, sendo que a vaporização (região interna do domo) ocorre a pressão constante, onde novamente, a mudança de vapor saturado para vapor superaquecido ocorre de modo brusco. Na Figura 8 está apresentada as isotermas para o etileno obtidas pela solução de uma equação cúbica de estado. Figura 8 – Isotermas do etileno obtidas pela solução da equação cúbica de estado (Matsoukas, 2016). A isoterma definida na temperatura de 260 K (abaixo da temperatura crítica do etileno) exibe as duas inflexões características de uma equação do terceiro grau. Por esse motivo, se uma pressão arbitrária for escolhida para a leitura do volume molar, ocorrerá 3 possibilidades (devido a equação do terceiro grau possuir três raízes como solução). Quais das raízes são fisicamente possíveis? Na Figura 8, escolheu-se a pressão de 30,35 bar, pois nessa pressão, foram levantados os valores do volume molar do líquido saturado (ponto L) e do volume molar do vapor saturado (ponto V), experimentalmente. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 24 A isoterma até o ponto L caracteriza a região do líquido sub-resfriado, enquanto a reta traçada entre L e V representa a mudança da fase líquida para a fase vapor e pôr fim, do ponto V em diante, a região de vapor superaquecido. O segmento LL’ é uma região instável na qual o líquido teoricamente estaria supersaturado, ou seja, a fase líquida é mantida mesmo com a sua pressão menor que a saturação, o que caracteriza uma fase metaestável. Na prática, é possível alcançar essa condição se o experimento for conduzido sem perturbações mecânicas, pois por menor que seja a perturbação, instantaneamente o líquido inicia a sua vaporização, alcançando uma fase estável. O segmento L’V’ não é viável fisicamente, pois a pressão e o volume são inversamente proporcionais, ou seja, se a pressão aumenta, o volume diminui e vice- versa. No entanto, o segmento V’V é uma região instável na qual o vapor está supersaturado, de modo, que a sua pressão é maior que a pressão de saturação, caracterizando outra região metaestável. O que podemos concluir em relação as raízes? Apenas a raiz com o menor valor e o maior valor são consideradas fisicamente, enquanto a raiz intermediária não possui significado físico por estar em uma região impossível de ocorrer fisicamente. Mas quando vamos saber qual das raízes devemos calcular? Temos duas situações: a) Se a temperatura reduzida for maior que 1,0, ou seja, região de gás não condensável, apenas a raiz com maior valor tem significado físico, uma vez que o volume molar de gases é elevado. b) Se a temperatura reduzida for menor que 1,0, haverá três possibilidades: b1) Pressão > Pressão de saturação: líquido sub-resfriado, portanto, apenas a menor raiz tem significado físico. b2) Pressão = Pressão de saturação: líquido saturado (menor raiz) e vapor saturado (maior raiz). b3) Pressão < Pressão de saturação: vapor superaquecido, portanto apenas a maior raiz tem significado físico. A pressão de saturação pode ser calculada pela Equação de Antoine (Equação 14), onde os seus coeficientes estão disponíveis para várias substâncias no Anexo 2. Lembrando que a equação de Antoine permite o cálculo da pressão de saturação apenas com temperaturas da substância abaixo da temperatura crítica. Caso, a temperatura seja maior que a temperatura crítica, a pressão de saturação deve ser calculada por meio de uma equação cúbica de estado, que será abordada nos capítulos seguintes. A seguir serão apresentadas as principais equações cúbicas de estado empregadas em cálculos na Engenharia Química. 2.4.1) Equação de Van der Waals A primeira equação cúbica de estado útil foi proposta por Van der Waals, em 1873, na sua tese de doutorado, conforme apresentado na Equação 40. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 25 P = RT V − b − a V2 (40) A Equação 40 é baseada em duas constantes, as quais se forem nulas, reduzem a equação de Van der Waals ao modelo do gás ideal. As constantes a e b possuem um significado físico: a constante a é referente a atração molecular, enquanto a constante b é referente a repulsão entre as moléculas. O trabalho de Van der Waals teve reconhecimento mundial pelo fato de as constantes poderem ser determinadas teoricamente a partir da isoterma crítica, não havendo necessidade de experimentos, o que para aquela época era um feito memorável. Na isoterma crítica há um ponto de inflexão no ponto crítico (ver Figura 7), em que a primeira derivada (Equação 41a) e a segunda derivada (Equação 41b) da Equação 40 são iguais a zero. ( ∂P ∂V ) Tc = 0 (41a) ( ∂2P ∂V2 ) Tc = 0 (41b) A partir das derivadas, é possível explicitar as constantes a e b da Equação de Van de Waals em função das propriedades críticas, conforme apresentado nas Equações 42 e 43, respectivamente. a = 27 64 R²Tc² Pc (42) b = 1 8 RTc Pc (43) A obtenção das raízes da equação de Van der Waals na forma apresentada na Equação 40 é bastante complicada. Como alternativa, é comum expressar a equação cúbica de estado explícita no fator de compressibilidade Z (Equação 44). Z3 − (B′ + 1)Z2 + A′Z − A′B′ = 0 (44) Em que os parâmetros adimensionais A’ e B’ são dados pelas Equações 45a e 45b, respectivamente. A′ = aP (RT)2 (45a) B′ = bP RT (45b) Na seção 2.4 será detalhado o método de solução de um polinômio do terceiro grau. A Equação de Van der Waals é aplicável na região da fase líquida e da fase vapor.No entanto, como as suas constantes foram obtidas de forma completamente teórica, a equação falha de forma considerável na previsão das propriedades termodinâmicas de líquidos. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 26 No caso da fase vapor, há a ocorrência de duas situações: no caso de vapor superaquecido (TR < 1,0) a equação continua apresentando erros consideráveis, pois a mesma falha em regiões próximas a isoterma crítica. Porém, na região de gás não condensável (TR > 1,0), a equação apresenta uma boa concordância com os dados experimentais em temperaturas reduzidas maiores que 1,1. Apesar dos erros que a equação apresenta, a equação de Van der Waals foi o ponto de partida para outras equações de estado mais sofisticadas. 2.4.2) Equação de Soave-Redlich-Kwong (SRK) A Equação SRK foi proposta em 1972 visando corrigir os erros encontrados na Equação de Van der Waals. O modelo está apresentado na Equação 46. P = RT V − b − a V(V + b) (46) A novidade na Equação 46 está no ajuste experimental dos parâmetros a e b, os quais além de serem funções das propriedades críticas, também dependem do fator acêntrico (lembrem-se que esse parâmetro é uma medida da forma e da polaridade da molécula). Na Equação 47 está apresentada a expressão para o parâmetro a, e analogamente, na Equação 48 para o parâmetro b. a = 0,42748 R²Tc² Pc [1 + Ω(1 − √TR)] 2 (47) b = 0,08664 RTc Pc (48) Na Equação 47, há a presença de um fator adimensional (Ω) dependente do fator acêntrico (Equação 49). Ω = 0,480 + 1,574ω − 0,176ω2 (49) Com a inserção do fator acêntrico, a equação de estado SRK é aplicável com substâncias com polaridades moderadas. Essa equação é amplamente empregada na previsão das propriedades termodinâmicas na região do vapor superaquecido, uma vez que o seu erro é inferior a 2,0%. No entanto, na fase líquida o erro de previsão das propriedades termodinâmicas é por volta de 10%, o que dependendo da aplicação pode ser um erro significativo, porém muito menor que o da Equação de Van der Waals. A equação SRK pode ser explicitada em função do fator de compressibilidade Z, conforme apresentado na Equação 50. Z3 − Z2 + (A′ − B′ − B′2)Z − A′B′ = 0 (50) Os parâmetros adimensionais A’ e B’ são calculados pelas Equações 45a e 45b. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 27 2.4.3) Equação de Peng-Robinson (PR) A Equação de Peng-Robinson foi proposta em 1976, com a finalidade de minimizar os erros de cálculo das propriedades termodinâmicas na fase líquida. Na Equação 50 está apresentado o modelo proposto. P = RT V − b − a V2 + 2bV − b2 (51) Nas Equações 52, 53 e 54 estão definidos os parâmetros a, b e Ω da Equação 52. a = 0,45724 R²Tc² Pc [1 + Ω(1 − √TR)] 2 (52) b = 0,07780 RTc Pc (53) Ω = 0,37464 + 1,54226ω − 0,26992ω2 (54) A Equação de Peng-Robinson fornece um erro máximo de 1,6% na previsão das propriedades termodinâmicas na fase líquida. Na região de vapor superaquecido esse erro é por volta de 8%. Mas, essa equação é amplamente empregada pelos engenheiros devido a sua grande concordância dos dados experimentais com hidrocarbonetos, sendo que ela é empregada em pacotes termodinâmicos de simuladores como o Aspen. Ainda assim a equação deve ser utilizada com substâncias com polaridades moderadas, de forma, que o seu uso com substâncias iônicas e com alto grau de polarização gera erros extremamente significativos. Assim como as equações de estado anteriores, a equação de Peng-Robinson também é escrita em função do fator de compressibilidade (Equação 55). Z3 + (B′ − 1)Z2 + (A′ − 3B′2 − 2B′)Z − A′B′ + B′3 + B′2 = 0 (55) Foram apresentadas diversas equações de estado, desde as mais simples até expressões complexas como as equações cúbicas de estado. Mas, qual o critério de escolha? De forma didática, pode-se dividir o uso dessas equações em duas situações: fluido supercrítico ou gás não condensável (temperatura reduzida maior que 1,0) ou fluido subcrítico (líquido sub-resfriado, líquido saturado, vapor saturado e vapor superaquecido) quando a temperatura reduzida for menor que 1,0. No caso de fluidos supercríticos (TR > 1): a) Se a temperatura reduzida for maior ou igual a 2, utilize o modelo do gás ideal. b) Se a temperatura reduzida estiver entre 1,2 e 2, empregue a equação do Virial truncada no 2º termo. c) Se a temperatura reduzida estiver entre 1 e 1,2, utilize as equações cúbicas de estado (Van der Waals, SRK e Peng-Robinson), com preferência pela equação de Soave-Redlich-Kwong. A equação do Virial truncada no terceiro termo também é aplicável nessa faixa de temperatura reduzida. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 28 Observação: As equações cúbicas de estado podem ser amplamente empregadas com temperaturas reduzidas maior que 1,0. O aluno deve se atentar na busca pela equação mais simples com os melhores resultados. No caso de fluidos subcríticos: a) Se a pressão do processo for menor que a pressão de saturação, a substância é um vapor superaquecido. Nessa situação, as 3 equações cúbicas de estado são empregadas, entretanto, dê preferência para a equação SRK. Observação: nessa situação, o polinômio terá como solução apenas 1 raiz real. No entanto, pode ocorrer a presença de três raízes reais. Nesse caso, escolha a maior raiz (vapor). b) Se a pressão do processo for maior que a pressão de saturação, a substância é um líquido sub-resfriado. Nessa situação, apenas as equações de SRK e Peng- Robinson são utilizadas. Dê preferência pela equação de Peng-Robinson, uma vez que essa possui uma maior acurácia com propriedades na fase líquida. Observação: nessa situação, o polinômio terá como solução apenas 1 raiz real. No entanto, pode ocorrer a presença de três raízes reais. Nesse caso, escolha a menor raiz (líquido). c) Se a pressão do processo for igual a pressão de saturação, a substância está na região de saturação (líquido saturado e vapor saturado). Empregue apenas a equação de Peng-Robinson e SRK. Observação: nessa situação, o polinômio fornecerá três raízes reais. Escolha a menor raiz para o líquido saturado e a maior raiz para o vapor saturado. 2.5) Método para a Solução Exata de um Polinômio do Terceiro Grau Dado um polinômio do terceiro grau com coeficientes reais (Equação 56): x3 + a′x2 + b′x + c′ = 0 (56) O método que será descrito para encontrar as raízes do polinômio foi apresentado em Matsoukas (2016). Inicialmente deve-se calcular o parâmetro Q (Equação 57) e o parâmetro R (Equação 58). Q = (a′)² − 3b′ 9 (57) R = 2(a′)³ − 9a′b′ + 27c′ 54(58) O cálculo das raízes será baseado na comparação entre os parâmetros Q e R, podendo ocorrer duas situações: a) R² < Q³ O polinômio possui três raízes reais, as quais são calculadas pelas equações 59, 60 e 61. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 29 Menor raiz: x1 = −2√Q [cos ( θ 3 )] − a′ 3 (59) Maior raiz: x2 = −2√Q [cos ( θ + 2π 3 )] − a′ 3 (60) x3 = −2√Q [cos ( θ − 2π 3 )] − a′ 3 (61) Com θ calculado em radianos pela Equação 60. θ = arccos ( R √Q³ ) (62) b) R² > Q³ O polinômio possui apenas uma raiz real, a qual é calculada conforme apresentado na Equação 63. x1 = (A ′′ + B′′) − a′ 3 (63) O parâmetro A’’ é calculado com a inserção de uma função de retorno “sign”, que retorna o “sinal” de R, como mostrado na Equação 64. A′′ = −sign(R) [|R| + √R2 − Q3] 1 3 (64) A função de retorno na Equação 64 pode assumir três valores distintos em função do sinal do parâmetro de R, conforme apresentado na Tabela 1. Tabela 1 – Valores da função de retorno sign(R) da Equação 64. Sinal de R Valor de sign(R) Negativo, R < 0 –1 Zero, R = 0 0 Positivo, R > 0 +1 O parâmetro B’’ irá depender do valor de A’’, podendo ser igual a zero se A’’ for zero ou calculado através da Equação 65, no caso de A’’ for diferente de zero. B′′ = Q A′′⁄ (65) Exemplo 5: Calcule o volume molar do etanol líquido a 25°C com uma pressão de 1 bar. Utilize a Equação de Peng-Robinson. O volume molar (V) é calculado a partir do fator de compressibilidade Z, conforme apresentado na Equação 66. V = ZRT P (66) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 30 O fator de compressibilidade deve ser calculado pela solução da equação de Peng-Robinson (Equação 67). Z3 + (B′ − 1)Z2 + (A′ − 3B′2 − 2B′)Z − A′B′ + B′3 + B′2 = 0 (67) Inicialmente é necessário buscar as propriedades críticas do etanol no Anexo 1: Tc = 513,9K Pc = 61,48 bar ω = 0,645 Calculando a temperatura reduzida: TR = T TC = 298 513,9 = 0,5799 (68) Os parâmetros a, b e Ω da Equação de Peng-Robinson e os parâmetros A’ e B’ da estão calculados e apresentados na Tabela 2. Tabela 2 – Parâmetros para a solução da equação de Peng-Robinson. Parâmetro Equação empregada Valor a (Jm³/mol²) 52 2,2937 b (m³/mol) 53 5,4067 ∙ 10–5 Ω 54 1,2571 A’ 45a 0,037367 B’ 45b 0,002182 Substituindo os valores de A’ e B’ na Equação 67 tem-se: Z3 − 0,9978 Z2 + 0,03299 Z − 0,0000863 = 0 (69) Empregando o método para a solução do polinômio do terceiro grau, na Tabela 3 estão apresentados os valores de Q, R, Q³ e R². Tabela 3 – Parâmetros necessários para a solução da Equação 69. Parâmetro Equação empregada Valor Q 57 0,099626 R 58 –0,03135 Q³ – 0,0009888 R² – 0,0009828 Comparando o valor de R² e Q³, percebe-se que R² é menor que Q³ (R2 < Q3), portanto, o polinômio expresso na Equação 69 têm três raízes reais como solução. No entanto, como o volume molar do etanol nas condições de pressão e temperatura fornecidas é na fase líquida, é preciso calcular apenas a raiz com menor valor, no caso a raiz expressa na Equação 59, e reescrita na Equação 70. x1 = −2√Q [cos ( θ 3 )] − a′ 3 (70) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 31 Substituindo os valores de R e Q³ na Equação 62, o parâmetro θ é igual a 3,06376 radianos, o qual é substituído na Equação 70. x1 = Z = 0,002888 (71) Por fim, substituindo o resultado apresentado na Equação 71 e os valores numéricos na Equação 66: V = ZRT P = 0,002888 ∙ 8,314 ∙ 298 1 ∙ 100000 = 7,15523 ∙ 10−5 m3/mol (72) Experimentalmente, a 25°C e 1 bar, a massa específica do etanol é 789 kg/m³. Vamos transformar o volume molar calculado (Equação 72) no volume específico utilizando a massa molar do etanol (46 g/mol). Vespecífico = V MM = 7,15523 ∙ 10−5 m3/mol 46 g/mol = 1,5555 ∙ 10−6 m³ g = 1,5555 ∙ 10−3 m³ kg (73) Por fim, a massa específica é o inverso do volume específico: ρ = 1 Vespecífico = 642,9 kg m3 (74) Comparando o valor calculado pela Equação de Peng-Robinson com o valor experimental para a massa específica, verifica-se que a equação forneceu um parâmetro com um erro de aproximadamente 18,5%. O etanol é uma molécula que possui uma polarização moderada e uma forma assimétrica, o que ocasiona erros de predição pela Equação de Peng-Robinson, uma vez que a equação é recomendada para moléculas com baixas polaridades. Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 32 Lista de Exercícios 2 1) (Matsoukas, 2016). Use as equações de Van der Waals, de Soave-Redlich-Kwong e de Peng-Robinson para determinar os volumes molares das fases saturadas de etileno a 260 K (a pressão de saturação é 30,35 bar). Compare com os valores experimentais: VL = 0,0713 l/mol VV = 0,456 l/mol 2) (Smith, Van Ness e Abbott, 2007). Qual pressão é gerada quando 1000 mol de metano é armazenado em um volume de 2m³ a 50°C? Tome como base para os cálculos as seguintes equações de estado: a) Equação do gás ideal b) Equação de Van der Waals c) Equação de Soave-Redlich-Kwong (SRK) 3) (Smith, Van Ness e Abbott, 2007). Uma massa de 500 gramas de amônia é armazenada em um vaso com 30000 cm³, imerso em um banho, a uma temperatura de 65°C. Calcule a pressão do gás usando a equação de Peng-Robinson. 4) (Matsoukas, 2016). Devem ser estocados 1000 kg de metano em um tanque a 25°C e 75 bar. Qual é o volume requerido do tanque? 5) (Matsoukas, 2016). Foram armazenados 200 kg de dióxido de carbono em um tanque com temperatura de -75°C e 70 bar. A pressão de saturação a -75°C é 2,13 bar. a) O dióxido de carbono é um gás ideal sob as condições no tanque? b) Qual é o volume do tanque? c) Quanto dióxido de carbono tem de ser removido para que a pressão no tanque caia para 1 bar, mantendo-se a temperatura de -75°C? 6) (Matsoukas, 2016). Um tanque de 0,5 m³ será usado para armazenar dióxido de carbono a 25°C. Usando a equação de SRK, responda o seguinte: Qual a quantidade máxima (kg) de dióxido de carbono que pode ser armazenada de forma segura, se o tanque puder suportar uma pressão máxima de 70 bar? 7) (Matsoukas, 2017). Use a equação de Peng-Robinson para calcular o volume molar do isobutano nos seguintes estados: a) 30°C e 1 bar. b) Líquido saturado a 30°C Dado: (Pressão de saturação a 30°C é 4,05 bar).Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 33 3) Cálculo de Propriedades Termodinâmicas 3.1) Relações Fundamentais As propriedades termodinâmicas como a entalpia, entropia, energia interna, volume molar e capacidades caloríficas são essenciais no cálculo de projetos das operações unitárias e de reatores químicos. Para algumas substâncias, como a água, ar e amônia, essas propriedades são tabuladas, o que facilita o cálculo. Porém, a grande maioria das substâncias presentes nos processos químicos não possuem propriedades termodinâmicas tabeladas, o que na prática seria inconcebível, devido à enorme quantidade de substâncias existentes. Desse modo há metodologias baseadas no cálculo diferencial e integral para se obter as propriedades termodinâmicas a partir do conhecimento de equações de estado. Vale à pena recordar o seguinte: na prática, podemos medir apenas a pressão, o volume, a temperatura e a composição (se o sistema contiver uma mistura). Enquanto propriedades como entalpia, entropia e energia interna são obtidas a partir das propriedades mensuráveis. Nesse capítulo vamos focar em como determinar expressões para o cálculo das três grandes propriedades com fluidos puros: entalpia, entropia e energia interna. Um fluido puro tem o seu estado definido a partir do conhecimento de duas propriedades intensivas, como por exemplo, pressão e temperatura. Não é uma regra escolher as duas propriedades supracitadas, poderia ser escolhida a entalpia e entropia, entalpia e pressão, volume e temperatura, e assim por diante. Inicialmente devemos buscar as relações fundamentais entre as propriedades termodinâmicas. Vamos iniciar com a energia interna (U). Partindo da 1ª lei da Termodinâmica em um sistema fechado contendo 1 mol de um fluido homogêneo com composição constante (Equação 75). dU = dQ + dW (75) Em um processo reversível, o trabalho é calculado como –P dV e a partir da 2ª lei da Termodinâmica, dQ = T dS, logo, tem-se: dU = TdS − PdV (76) A entalpia (H) é definida como: H = U + PV (77) Diferenciando a Equação 77: dH = dU + d(PV) = dU + PdV + VdP (78) Substituindo a Equação 76 na Equação 78: Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 34 dH = TdS − PdV + PdV + VdP (79) Finalmente: dH = TdS + VdP (80) Outras duas propriedades termodinâmicas, energia de Gibbs (G) e energia de Helmholtz (A) são fornecidas nas Equações 81 e 82. Essas propriedades são essenciais para cálculos de fases em equilíbrio, que será abordado nos capítulos seguintes. dG = −SdT + VdP (81) dA = −SdT − PdV (82) O conjunto de Equações 76, 80, 81 e 82 são conhecidas como as relações fundamentais para o cálculo de variações de propriedades, porém, ainda não viáveis para o cálculo, uma vez que há propriedades que não podem ser medidas diretamente (como a entropia). As Equações supracitadas serão manipuladas pelo cálculo diferencial e integral, a fim de relacioná-las completamente com as propriedades mensuráveis: pressão, volume e temperatura. Considere que a propriedade genérica F seja uma função das variáveis independentes x e y. Tomando o diferencial total da função F em termos de suas derivadas parciais: dF = ( ∂F ∂x ) y dx + ( ∂F ∂y ) 𝑥 dy (83) A derivada cruzada da propriedade F é dada por: [ 𝜕 𝜕𝑥 ( ∂F ∂y ) 𝑥 ] 𝑦 = [ 𝜕 𝜕𝑦 ( ∂F ∂x ) 𝑦 ] 𝑥 (84) A regra do inverso (Equação 85) também é útil: ( ∂x ∂y ) 𝑧 = [( ∂y ∂x ) 𝑧 ] −1 (85) A regra da cadeia (Equação 86) e a regra do produto triplo (Equação 87) finalizam parte dos recursos matemáticos que temos a disposição para obter relações diferenciais entre as propriedades termodinâmicas. ( ∂F ∂x ) y = ( ∂F ∂z ) y ( ∂z ∂x ) y (86) ( ∂x ∂y ) z ( ∂y ∂z ) 𝑥 ( ∂z ∂x ) 𝑦 = −1 (87) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 35 Voltando à Termodinâmica, vamos aplicar as regras apresentadas nas Equações 83 a 87 e calcular as derivadas. Partindo da relação fundamental para energia interna (Equação 76), o seu diferencial total é escrito em função da variação de entropia e da variação do volume. dU = ( ∂U ∂S ) V dS + ( ∂U ∂V ) S dV (88) Como dU = TdS – PdV, tem- se que: ( ∂U ∂S ) V = T (89a) ( ∂U ∂V ) S = P (89b) Com a entalpia: dH = ( ∂H ∂S ) 𝑃 dS + ( ∂H ∂P ) S dP (90) Como dH = TdS +VdP, tem- se que: ( ∂H ∂S ) P = T (91a) ( ∂H ∂P ) S = V (91b) Com a energia de Gibbs: dG = ( ∂G ∂T ) P dT + ( ∂G ∂P ) T dP (92) Como dG = -SdT + VdP, tem- se que: ( ∂G ∂T ) P = −S (93a) ( ∂G ∂P ) V = V (93b) Com a energia de Helmholtz: dA = ( ∂A ∂T ) V dT + ( ∂A ∂V ) T dV (94) Como dA = -SdT – PdV, tem- se que: ( ∂A ∂T ) V = −S (95a) ( ∂A ∂V ) T = −P (95b) Termodinâmica Química II Vitor Rosa / Deovaldo /Luiz França 36 A partir desse ponto, temos que definir a forma que a equação de estado deve ter para darmos seguimento: ou a equação de estado será explícita na pressão com a fonte de variação no volume e na temperatura, ou será explícita no volume com a fonte de variação na pressão e na temperatura. Conforme discutido no capítulo 2, a equação de estado explícita na pressão é a mais indicada por suportar numa única equação a previsão das propriedades termodinâmicas na fase líquida e gasosa, além de possuir uma maior estabilidade mediante os dados observados experimentalmente. Portanto, manipularemos as derivadas com a temperatura constante e com o volume constante. 3.2) Manipulação de Derivadas com Volume Constante Energia interna: Da definição fundamental: dU = TdS − PdV
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