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Conteudista: Prof.ª Esp. Débora Cabrera Novaes Revisão Textual: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Objetivos da Unidade: Perceber as transformações históricas no âmbito educacional a partir da década de 1980; Re�etir sobre os processos da Constituição de 1988; Compreender os aspectos positivos e negativos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Observar a importância, a relevância e o legado de educadoras e educadores brasileiros; Reconhecer os desa�os contemporâneos da educação brasileira. Contextualização Material Teórico Material Complementar Desa�os Contemporâneos da Educação Referências Nossa última unidade encerra o percurso da disciplina História da Educação tratando da educação contemporânea a partir de seus marcos legislativos e sociais. O conteúdo se estrutura como uma re�exão sobre o que nos constitui atualmente no âmbito educacional. Esse enfoque abre um leque de re�exões a respeito dos nossos desa�os e potencialidades. 1 / 4 Contextualização Constituição de 1988 A Constituição de 1988 foi alvo de inúmeras disputas por tratar-se de um marco democrático e cidadão importante para o assentamento e desenvolvimento da então nova república brasileira. No âmbito educacional, os pontos de maior destaque, como salienta Aranha (2012), foram: 2 / 4 Material Teórico gratuidade do ensino público em estabelecimentos o�ciais; ensino fundamental obrigatório e gratuito; extensão do ensino obrigatório e gratuito, progressivamente, ao ensino médio; atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos; acesso ao ensino obrigatório e gratuito como direito público subjetivo, ou seja, o seu não oferecimento pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (podendo ser processada); valorização dos pro�ssionais do ensino, com planos de carreira para o magistério público; autonomia universitária; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Em 1996, quase 10 anos após a promulgação da Constituição brasileira, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O projeto �nal dessa lei foi fruto de inúmeras discussões, re�exões e colaborações. A primeira versão do projeto foi desenvolvida com amplo debate entre a Câmara dos Deputados e a sociedade civil, com destaque para o Fórum de Defesa da Escola Pública, que contava com várias entidades e organizações da área da educação. Esse acúmulo coletivo deu origem a um projeto extenso e detalhado, amparado pelo relator Jorge Hage. Em paralelo, apoiado pelo Poder Executivo da época, Darcy Ribeiro e o ministro da Educação criticaram o projeto, por considerá-lo extenso demais, e propuseram outro, mais enxuto, que acabou sendo aprovado. Segundo Aranha (2012) o projeto aprovado gerou controvérsias. Em linhas gerais, os principais pontos de discussão foram os seguintes: - ARANHA, 2012, p. 570-571 aplicação anual pela União de nunca menos de 18% e pelos estados, Distrito Federal e municípios de 25%, no mínimo, da receita resultante de impostos, na manutenção e desenvolvimento do ensino; distribuição dos recursos públicos assegurando prioridade no atendimento das necessidades do ensino obrigatório nos termos do plano nacional de educação; recursos públicos destinados às escolas públicas podem ser dirigidos a escolas comunitárias confessionais ou �lantrópicas, desde que comprovada a �nalidade não lucrativa; plano nacional de educação visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação para o trabalho, promoção humanística, cientí�ca e tecnológica do país. Esses são alguns dos pontos controversos no interior da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que desde sua criação já sofreu uma série de intervenções, adaptações e revogações. Esse processo nos mostra como a legislação é um campo aberto e em disputa, e nesse sentido os horizontes educacionais dependem de re�exões e organizações coletivas para que cumpram seus preceitos democráticos e inclusivos. A Importância de Educadoras e Educadores Brasileiros Um dos principais alvos de crítica foi o fato de a lei não ter garantido a tão esperada democratização do ensino, já que �cou sancionado que o Estado delegaria muitas de suas obrigações ao setor privado; Houve avanços, em relação à legislação anterior, no que diz respeito à destinação dos recursos públicos; no entanto, essa destinação ainda é restrita e limitada; Para a docência na educação básica passou-se a exigir de professores e professoras formação acadêmica de nível superior, no âmbito da graduação; Houve �exibilização na organização da educação básica, podendo esta se con�gurar de modo anual, semestral, por ciclos etc; A lei destina bolsas de estudos para alunos e alunas, caso não haja vagas nas escolas públicas; Há propostas de programas de formação continuada para os pro�ssionais da educação; A lei estabelece o domínio dos estudos de �loso�a e sociologia; contudo, não os coloca como obrigatórios, �cando assim na esfera optativa; A educação infantil, por não apresentar obrigatoriedade, acaba carecendo de �scalização. É importante conhecer a trajetória de alguns educadores que trouxeram grandes contribuições para a educação brasileira. Um deles é Darcy Ribeiro (1922-1997), antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu foco sobre a questão indígena e sobre a educação de um modo geral. Participou, juntamente com o amigo Anísio Teixeira, da defesa da escola pública, da discussão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da criação da Universidade de Brasília, no início dos anos 1960. Foi diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC (1957-1961); presidente da Associação Brasileira de Antropologia; ministro da Educação e chefe da Casa Civil do governo de João Goulart. Porém, com o golpe militar, em 1964, teve os direitos políticos cassados e exilou-se, retornando ao Brasil em 1976, quando voltou a se dedicar à educação e à política. Foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro em 1982 pelo PDT. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Publicou vários livros, muitos deles sobre os povos indígenas. Darcy Ribeiro acumulou vários cargos, como o de secretário da Cultura do estado do Rio de Janeiro e coordenador do Programa Especial de Educação. Criou, planejou e dirigiu, no governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil, que tinha como base a Escola Parque, criada por Anísio Teixeira. Criou também a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim e o Sambódromo, onde colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar, também, como uma enorme escola primária. Os CIEP prestavam assistência em tempo integral às crianças, proporcionando, inclusive, atividades recreativas e culturais para além do ensino formal, concretizando os projetos idealizados por Anísio. Pode-se dizer que, muito antes de os políticos de direita incorporarem o discurso referente à importância da educação para o desenvolvimento brasileiro, Darcy e Leonel Brizola já divulgavam essas ideias. Em 1990, foi eleito senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles a lei dos transplantes, que tornou possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos. Publicou, pelo Senado Federal, a Revista Carta, na qual os principais problemas do Brasil e do mundo eram analisados e discutidos. Colaborou para a criação do Memorial da América Latina, edi�cado em São Paulo. Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma universitária. Foi professor de Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Diante de tudo o que realizou, ainda tinha uma mágoa profunda: dizia que havia somado mais fracassos em sua vida do que vitórias. Tinha a frustração de não ter conseguido alfabetizar todas as crianças brasileiras e de não ter, em sua luta, conseguido salvar os indígenas. Sua morte, após um lento tratamento contra um câncer, foi anunciada em 1992 e comoveu todo o Brasil. Figura 1 – Darcy Ribeiro Fonte: Wikimedia Commons Outro nome de destaque nesse cenário é o do polêmico Maurício Tragtenberg (1929-1998). Neto de imigrantes judeus �xados no interior do Rio Grande do Sul, iniciou sua aprendizagem em português, espanhol, esperanto e russo. Frequentou o grupo escolar em Porto Alegre, mas não foi além da terceira série do curso primário. Após a morte precoce do pai, transferiu-se com a mãe para São Paulo, onde, ainda jovem, começou a trabalhar. Maurício falava de sua formação, que se deu de forma bastante interessante, com muito humor. Dizia que ela se concretizara em um bar, na Rua Ribeiro de Lima, frequentado por trabalhadores de várias origens que ali estabeleciam relações sociais e políticas. Maurício atribuía seu interesse político à sua origem; dizia que sua condição de judeu dentro da sociedade provocou nele o interesse precoce pela política; interesse esse que o remeteu à leitura de obras de autores como Plínio Salgado, Tasso da Silveira e outros. Passou a frequentar cursos aos �nais de semana, fornecidos pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), ganhando seu primeiro livro de nível universitário, a História econômica e social da Idade Média, de Henri Pirenne. Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde adquiriu experiência prática com a burocracia, diante da qual �cou indignado por conhecer de perto o jogo de interesses que a envolvia, como, por exemplo, a distribuição de cargos por apadrinhamento. Posteriormente, inspirando-se em Max Weber, criticou essa burocracia em seu livro Burocracia e Ideologia. Nesse período de sua vida, frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde lia o que lhe interessava e discutia assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também frequentavam a biblioteca, entre eles Antonio Candido, que o convenceu a prestar vestibular na USP. No meio acadêmico, Tragtenberg �cou conhecido como autodidata, o que era apenas parcialmente verdadeiro, embora ele próprio costumasse alardear, provocativamente, o seu "primário incompleto". Ficou conhecido como autodidata, pelo simples fato de não ter uma formação acadêmica, mas elaborou, em 150 dias, uma monogra�a que foi aprovada pelo Prof. João da Cruz Costa, permitindo, assim, que ele prestasse o vestibular e ingressasse na Universidade de São Paulo (USP). Por seu espírito rebelde e senso de humor frequentemente sarcástico, mas, sobretudo, por sua profunda generosidade intelectual, deixou publicados, pelo menos, oito livros e inúmeros artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos como educação, política, sociologia, história e administração. Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chegou à teoria da pedagogia libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares. Outra importante �gura no cenário educacional é Moacir Gadotti, seguidor de Paulo Freire. Nasceu na cidade de Rodeio, no ano de 1941. Foi professor titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) desde 1991. Atualmente é Diretor do Instituto Paulo Freire em São Paulo. Gadotti é licenciado em Pedagogia e Filoso�a, mestre em Filoso�a da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e livre docente pela Unicamp. Discípulo de Paulo Freire, tem contribuído de forma signi�cativa para a re�exão sobre a educação em geral. Moacir Gadotti, além de amigo pessoal de Paulo Freire, foi também chefe de gabinete quando Freire assumiu a Secretaria de Educação do município de São Paulo, no governo de Luiza Erundina. Dessa amizade nasceu uma nova esperança para a educação brasileira, pois eram dois educadores totalmente comprometidos com a educação, principalmente com a educação de jovens e adultos. Ambos manifestavam a esperança de que é possível acabar com a opressão, com a miséria e com a ignorância, transformando o mundo em um lugar mais justo para viver. Gadotti aposta na educação como parte integrante da formação daqueles que precisam ser libertos da opressão: os oprimidos e os que com eles lutam. Não se pode acreditar em um discurso que fale dos oprimidos, sem mostrar que há um mundo possível e mais justo. Utilizando a expressão de Paulo Freire, Gadotti acredita que existe, de um lado, uma educação da reprodução da sociedade, uma educação como prática da domesticação e, no outro extremo, uma educação contemplada como transformação, uma educação como prática da libertação. O professor deve caminhar lado a lado com a transformação da sociedade; ele não é um ente abstrato, ausente, mas, sim, uma presença atuante, participante e dirigente, que organiza, concretiza a ideologia da classe que representa esperança. Pela educação, é possível mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois grandes transformações não se dão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas também a partir de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Portanto, não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente. Gadotti aponta algumas categorias expressas na práxis pedagógica, como: cidadania; planetariedade; sustentabilidade; virtualidade; globalização; transdisciplinaridade. Dermeval Saviani, pedagogo e �lósofo, nasceu em Santo Antônio de Posse, em 25 de dezembro de 1943. Estudou no Seminário de Aparecida, em São Paulo, onde concluiu, em 1962, o curso colegial; fez parte do movimento Juventude Operária Católica (JOC), envolvendo- se em todas as transformações que estavam acontecendo no período em que se processava a renúncia de Jânio Quadros. Continuou os estudos de Filoso�a na Faculdade de Filoso�a, Ciências e Letras de São Bento da PUC-SP, que era um reduto de estudantes burgueses. Trabalhava, naquela época, no Banco Bandeirantes e vivenciou profundas mudanças na sociedade, causadas pelo golpe militar, em 1964. Deixou o banco e foi lecionar Filoso�a em escolas públicas. Ainda no ano de 1966, passou a trabalhar em um órgão da Secretaria da Educação de São Paulo. Em 1967 foi professor do curso de Pedagogia da PUC-SP e ajudou a criar os cursos de mestrado e doutorado em Filoso�a da Educação nessa instituição. Em 1970 foi lecionar na recém-criada Universidade Federal de São Carlos, onde ajudou a implantar, em 1976, o mestrado em Educação, em convênio com a Fundação Carlos Chagas. Concluiu, em 1971, o doutorado em Filoso�a da Educação, na área de Ciências Humanas, na Faculdade de Filoso�a Ciências e Letras de São Bento, da PUC-SP. Em 1978 retornou como professor da PUC-SP e ajudou a criar o doutorado em Educação nessa instituição. Em 1979 ajudou a criar a Associação Nacional de Educação (ANDE). Foi o fundador da ANPED e do CEDES. Em 1986 concluiu a livre docência em História da Educação, na área de Ciências Humanas, na Faculdade de Educação da Unicamp. Em 1988 participou da elaboração de um anteprojeto da Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Atualmente é professor na Unicamp e está envolvido com diversos projetos educacionais e de pesquisa. Dermeval Saviani defende, de forma sistemática e intransigente, a escola pública; preocupa-se em analisar a prática educacional inserida num processo político social, mas com uma visão de organização, do pensar sobre a ação e sob uma perspectiva de globalidade. A pedagogia histórico-crítica está pautada por algumas re�exões sobre o conceito de educação e de escola que implicam questões como a identi�cação das formas desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo, produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências atuais de transformação. Para Saviani, a educação é a apropriação do conhecimento, que se adquire através da transmissão para os educandos. O educador acredita na liberdade da sociedade por meio do desenvolvimento e da capacidade dos indivíduos de se organizarem em busca da harmonia comum. Neste contexto histórico é necessário também conhecer a atuação de Guiomar Namo de Mello e sua importância para a educação brasileira. Figura 2 – Guiomar Namo de Mello Fonte: IEA USP Guiomar formou-se em Pedagogia pela USP, em 1966; fez mestrado e doutorado em Educação na PUC-SP, entre 1976 e 1980, e pós-doutorado no Institute of Education da London University, em 1991 e 1992. Trabalhou durante dez anos em escolas públicas estaduais; iniciou sua carreira como professora de ensino superior na PUC-SP, onde, de 1969 a 1985, respondeu pelas cadeiras de Psicologia Escolar e Psicologia Social, ministrando aulas de Psicologia Social, para cursos de pós-graduação, e de Metodologia de Pesquisa e Teorias da Educação Escolar, para o curso de graduação em Educação. Trabalhou como professora visitante na Unicamp, na Universidade Federal de São Carlos e na Universidade Federal de Minas Gerais. Paralelamente à sua atividade docente, trabalhou mais de 10 anos como pesquisadora na Fundação Carlos Chagas. No Departamento de Pesquisas Educacionais, dedicou-se ao estudo da educação como política pública, coordenando um grupo de pesquisadores que, a pedido da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), realizou a primeira análise abrangente da educação básica brasileira no período de 1960 a 1980. Em 1982 foi nomeada secretária municipal de Educação de São Paulo, cargo que ocupou até o �nal do mandato do prefeito Mário Covas, em 1985. Na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo liderou a implementação de inovações gerenciais e pedagógicas, entre as quais se destacam: a proposta pedagógica das escolas municipais de primeiro grau e de educação infantil; a reestruturação da carreira do magistério municipal, com mecanismos de incentivos para que os professores permanecessem na docência; o Regimento Escolar, que criou os Conselhos de Escola, abrindo espaço para a participação das famílias e comunidades na gestão escolar. Essas inovações – juntamente com outras experiências desse período – serviram de inspiração para a Constituinte de 1988 e para as reformas educacionais dos anos 1990. Em 1986 elegeu-se deputada estadual de São Paulo. No Legislativo paulista foi presidente da Comissão de Educação e coordenou os trabalhos de elaboração da Constituição do Estado de São Paulo na área de políticas sociais e educação. Nesse período foi, ainda, assessora para assuntos educacionais do senador Mário Covas, líder da Constituinte Nacional. Em 1990 e 1991 foi consultora no processo de preparação de projetos do Banco Mundial de Investimento em Educação na região Nordeste e no estado de Minas Gerais. De 1992 a 1996 viveu no exterior, o primeiro ano em Londres, para concluir seu pós-doutorado, e os seguintes em Washington, onde trabalhou como especialista sênior em Educação no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em ambas as instituições gerenciou ou assessorou a preparação de projetos de investimento do setor público em educação na Argentina, no Paraguai, Equador, Uruguai e Bolívia. Em 1997 regressou ao Brasil para assumir a direção executiva da Fundação Victor Civita, organização sem �ns lucrativos mantida pelo Grupo Abril que se dedica a publicações especializadas para professores de educação básica. Nessa posição vem exercendo a direção editorial da revista Nova Escola e de outras publicações especializadas, entre as quais se destaca a Ofício de Professor. Em 1997 foi nomeada pelo presidente Fernando Henrique para o cargo de conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE) – Câmara de Educação Básica. De 1998 a 2000 deu consultoria a vários projetos educacionais, entre os quais se destacam: a implementação da reforma curricular do Ensino Médio na Secretaria de Educação Média e Tecnológica (SEMTEC); o projeto do Centro de Referência em Educação Governador Mário Covas, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo; a elaboração da proposta do MEC para reforma curricular dos cursos de formação de professores em nível superior. Guiomar Namo de Mello hoje atua como diretora da Escola Brasileira de Professores (EBRAP). A EBRAP é uma empresa dedicada a estudos, iniciativas e projetos na área de educação inicial e continuada de professores da educação básica. Guiomar presta consultoria para a empresa na área de projetos de formação inicial de professores da educação básica em nível superior, presencial e a distância. Alguns projetos educacionais em andamento são: Outro ícone da educação brasileira é Marilena de Souza Chaui. Nasceu no dia 4 de setembro de 1941, em Pindorama, São Paulo. Filha do jornalista Nicolau Chauí e da professora Laura de Souza Chauí. É casada com o historiador da Unicamp Michael Hall. Grupo Pitágoras: produção de material para cursos de formação de professores da educação básica; Secretaria Municipal de Educação de São Paulo: um estudo da gestão pedagógica das escolas municipais; Sistema de Ensino COC: revisão dos materiais de alunos e professores que estão sendo utilizados junto a escolas de redes municipais, em várias regiões do Estado de São Paulo e do país; Secretaria de Educação do Estado de São Paulo: reelaboração da proposta curricular de 5ª a 8ª série e de ensino médio; formulação da política de educação pro�ssional da secretaria. Figura 3 – Marilena Chaui Fonte: Wikimedia Commons Marilena iniciou seus estudos no Grupo Escolar de Pindorama, interior paulista, onde realizou o curso primário. Ela deu sequência à sua formação secundária no Colégio Nossa Senhora do Calvário, na cidade de Catanduva, concluindo-a no Colégio Estadual Presidente Roosevelt, na capital. É graduada em Filoso�a, especialista em licenciatura, mestre e doutora em Filoso�a. Já foi secretária municipal da Cultura na cidade de São Paulo durante o mandato de Luiza Erundina (1988-1992), porém saiu frustrada com os limites da ação administrativa e preferiu concentrar as atenções na vida acadêmica. Em uma entrevista para o programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido em 1999, Marilena expôs seu pensamento demonstrando seu descontentamento com a política. Marilena é presidente da Associação Nacional de Estudos Filosó�cos do século XVII, doutora honoris causa pela Universidade de Paris VIII e doutora honoris causa pela Universidad Nacional de Córdoba, da Argentina. Atualmente ela desenvolve, dentro da Faculdade de Filoso�a da USP, uma pesquisa que recebe o nome de “A elaboração espinosana de uma ciência dos afetos – ruptura com a tradição da contingência e a�rmação da necessidade”. Sua obra abrange temas como ideologia, cultura, universidade pública, entre outros. Expressa seu pensamento a respeito da Filoso�a da seguinte forma: “Que a melhor maneira de se participar da atividade política é através de intervenções públicas, debates, polêmicas, participação nas atividades de discussão do partido, mas eu não tenho nenhuma vocação para atividade administrativa. Foi um sacrifício para mim, foi muito complicado, foi muito difícil e não é o meu lugar.” “Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a signi�cação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a Marilena Chauí é, sob vários aspectos, uma das personalidades mais admiráveis do país, pois a formação de nossos departamentos de Filoso�a deriva da linha de atuação da pensadora. Sua ativa participação nas discussões sobre os rumos da educação brasileira atesta a continuidade do seu engajamento, que vai além dos muros da USP, onde leciona há mais de 40 anos. Na sua visão, o Estado deve encarar a educação como um investimento social e político e não sob o prisma de gasto público. Magda Becker Soares é outra educadora de destaque no panorama da educação no Brasil. Mineira de Belo Horizonte, graduada em Letras Neolatinas e doutora em Didática pela Universidade Federal de Minas. Atualmente é membro da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação, membro do Comitê Assessor do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí�co e Tecnológico, conselheira da Comunidade Econômica Europeia e professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais. Sua experiência com a educação está ligada à área de ensino-aprendizagem, língua portuguesa e linguística aplicada. Em um artigo publicado no jornal Diário do Grande ABC, em 29 de agosto de 2003, ela destaca que letrar é mais que alfabetizar: é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto no qual a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Explica que, ao olharmos historicamente para as últimas décadas, podemos observar que o termo alfabetização, sempre entendido, de uma forma restrita, como aprendizagem do sistema de escrita, foi ampliado; já não basta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da alfabetização funcional (denominação dada à alfabetização das pessoas que sabem ler e escrever, mas não sabem fazer uso da leitura e da escrita). - CHAUÍ, 2000, p. 17 felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filoso�a é o mais útil de todos os saberes que os seres humanos são capazes.” O aluno precisa saber fazer uso das atividades de leitura e escrita e envolver-se com elas. Magda defende que, para a adaptação adequada ao ato de ler e escrever, “é preciso compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura”. Para compreender o que é letramento, basta ler o seguinte poema de Magda Soares: ““O que é letramento? Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão, é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente, O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, e rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. E um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não �que perdido. Letramento é, sobretudo, Figura 4 – Magda Becker Soares Fonte: UFMG Desa�os Contemporâneos Depois de passar pela história recente da educação brasileira, �nalizamos esta unidade com algumas re�exões sobre os desa�os contemporâneos. - SOARES, 1998, p.41 um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser.”” É importante lembrar que a educação não está descolada das questões gerais da sociedade, e nesse sentido as re�exões sobre seu processo precisam levar em conta esses aspectos que a ultrapassam e ao mesmo tempo a constituem. A educação não passa ao largo deste tempo de precarização das relações de trabalho, de aceleração do tempo, de privatizações em diversos âmbitos sociais e de acentuação das desigualdades. E, portanto, as ações em seu benefício precisam levar esse cenário em conta e tentar incidir para sua transformação, como gostava de pensar Paulo Freire. Aranha (2012) destaca, por exemplo, como desa�o fundamental da educação contemporânea, a relação com as formas digitais de comunicação. Como é possível se vincular a essa mudança de paradigma comunicacional, que afeta nossa subjetividade, de modo a não se tornar refém dessa própria forma? As informações, atualmente, circulam de modo irrefreado e quase sem critério pelas redes e plataformas virtuais. Como a escola se relaciona com isso? Será que a escola pode ser um esteio de seleção, debate, re�exão e organização séria dos múltiplos conteúdos disponíveis? Como a escola pode contribuir para que, por exemplo, a circulação de ideias possa ser crível, amparada em processos de validação histórica e cientí�ca? Outro aspecto importante é a formação dos professores e professoras. Num mundo ultrafragmentado e especializado, como os pro�ssionais da educação podem manter uma formação integral e consistente? De que forma a educação pode se estruturar, levando-se em conta a necessidade do tempo formativo? Como a educação lida com a aceleração do tempo, haja vista que sua natureza é justamente a do decantamento das ideias? A cultura aparece como elemento fundamental nos dias de hoje. Como a educação consegue se relacionar com isso? De que maneira os processos educacionais engendram as atividades culturais? Não seria necessário que a cultura fosse alguma coisa própria à educação, e a educação própria à cultura, como elementos complementares? Por �m, destacamos a importância da transdisciplinaridade. Um dos dilemas atuais é que a multiplicidade de olhares não se harmoniza com a ultrafragmentação e há di�culdade de integração. Como a educação pode incorporar as diversas contribuições, as variadas formas de saber num processo integral? De que forma as diferentes perspectivas se aglutinam e compõem um quadro comum e acessível a todos? Como realizar e promover o diálogo entre as linhas, de modo a promover um pensamento plural e aberto à transformação? Como se vê, os desa�os são inúmeros, e essas perguntas surgem como pontes para possíveis respostas e novas perguntas a serem construídas para que o horizonte da educação brasileira se constitua de modo democrático, igualitário e emancipador. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Dermeval Saviani | A pedagogia histórico-crítica 3 / 4 Material Complementar DERMEVAL SAVIANI | A pedagogia histórico-crítica https://www.youtube.com/watch?v=13ojrNgMChk Pro�ssão Docente - Guiomar Namo de Mello Educação e política: entrevista de Marilena Chaui a Silvio Rosa Filho Pro�ssão Docente - Guiomar Namo de Mello - parte 1 Educação e política: entrevista de Marilena Chauí a Silvio Rosa Filho https://www.youtube.com/watch?v=QANezRFz6Kk https://www.youtube.com/watch?v=dCdZ6y6kTag Métodos de alfabetização – Magda Soares – Entrevista Métodos de alfabetização - Magda Soares - Entrevista - Canal Fut… https://www.youtube.com/watch?v=mAOXxBRaMSY ARANHA, M. L. A história da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2012. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 10/12/2021. CHAUÍ, M. Convite à Filoso�a. São Paulo: Editora Ática, 2000. BRANDÃO. C. R. O que é educação. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. GUIRALDELLI JUNIOR, P. História da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. LIBANEO, J. C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1986. RIBEIRO, M. L. S. História da educação brasileira: organização escolar. 18. ed. Campinas: Autores Associados, 2003. ROMANELLI, O. O. História da educação no Brasil. 27. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.História da educação 4 / 4 Referências XAVIER, M. E. S. P. : a escola no Brasil. São Paulo: FDT, 1994.
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