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unidade 6

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Conteudista: Prof.ª Esp. Débora Cabrera Novaes
Revisão Textual: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro
 
Objetivos da Unidade:
Perceber as transformações históricas no âmbito educacional a partir da década
de 1980;
Re�etir sobre os processos da Constituição de 1988;
Compreender os aspectos positivos e negativos da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional;
Observar a importância, a relevância e o legado de educadoras e educadores
brasileiros;
Reconhecer os desa�os contemporâneos da educação brasileira.
 Contextualização
 Material Teórico
 Material Complementar
Desa�os Contemporâneos da Educação
 Referências
Nossa última unidade encerra o percurso da disciplina História da Educação tratando da
educação contemporânea a partir de seus marcos legislativos e sociais. O conteúdo se
estrutura como uma re�exão sobre o que nos constitui atualmente no âmbito educacional.
Esse enfoque abre um leque de re�exões a respeito dos nossos desa�os e potencialidades.  
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 Contextualização
Constituição de 1988
A Constituição de 1988 foi alvo de inúmeras disputas por tratar-se de um marco democrático e
cidadão importante para o assentamento e desenvolvimento da então nova república
brasileira. No âmbito educacional, os pontos de maior destaque, como salienta Aranha (2012),
foram: 
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 Material Teórico
gratuidade do ensino público em estabelecimentos o�ciais;
ensino fundamental obrigatório e gratuito;
extensão do ensino obrigatório e gratuito, progressivamente, ao ensino
médio;
atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos;
acesso ao ensino obrigatório e gratuito como direito público subjetivo,
ou seja, o seu não oferecimento pelo poder público, ou sua oferta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente
(podendo ser processada);
valorização dos pro�ssionais do ensino, com planos de carreira para o
magistério público;
autonomia universitária;
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
Em 1996, quase 10 anos após a promulgação da Constituição brasileira, foi sancionada a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O projeto �nal dessa lei foi fruto de inúmeras
discussões, re�exões e colaborações. A primeira versão do projeto foi desenvolvida com
amplo debate entre a Câmara dos Deputados e a sociedade civil, com destaque para o Fórum de
Defesa da Escola Pública, que contava com várias entidades e organizações da área da
educação. Esse acúmulo coletivo deu origem a um projeto extenso e detalhado, amparado pelo
relator Jorge Hage. Em paralelo, apoiado pelo Poder Executivo da época, Darcy Ribeiro e o
ministro da Educação criticaram o projeto, por considerá-lo extenso demais, e propuseram
outro, mais enxuto, que acabou sendo aprovado.  
Segundo Aranha (2012) o projeto aprovado gerou controvérsias. Em linhas gerais, os
principais pontos de discussão foram os seguintes: 
- ARANHA, 2012, p. 570-571
aplicação anual pela União de nunca menos de 18% e pelos estados,
Distrito Federal e municípios de 25%, no mínimo, da receita resultante
de impostos, na manutenção e desenvolvimento do ensino;
distribuição dos recursos públicos assegurando prioridade no
atendimento das necessidades do ensino obrigatório nos termos do
plano nacional de educação;
recursos públicos destinados às escolas públicas podem ser dirigidos a
escolas comunitárias confessionais ou �lantrópicas, desde que
comprovada a �nalidade não lucrativa;
plano nacional de educação visando à articulação e ao desenvolvimento
do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder
público que conduzam à erradicação do analfabetismo, universalização
do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação
para o trabalho, promoção humanística, cientí�ca e tecnológica do
país. 
Esses são alguns dos pontos controversos no interior da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, que desde sua criação já sofreu uma série de intervenções, adaptações e
revogações. Esse processo nos mostra como a legislação é um campo aberto e em disputa, e
nesse sentido os horizontes educacionais dependem de re�exões e organizações coletivas
para que cumpram seus preceitos democráticos e inclusivos. 
A Importância de Educadoras e Educadores Brasileiros
Um dos principais alvos de crítica foi o fato de a lei não ter garantido a tão
esperada democratização do ensino, já que �cou sancionado que o Estado
delegaria muitas de suas obrigações ao setor privado;
Houve avanços, em relação à legislação anterior, no que diz respeito à destinação
dos recursos públicos; no entanto, essa destinação ainda é restrita e limitada;
Para a docência na educação básica passou-se a exigir de professores e
professoras formação acadêmica de nível superior, no âmbito da graduação;
Houve �exibilização na organização da educação básica, podendo esta se
con�gurar de modo anual, semestral, por ciclos etc;
A lei destina bolsas de estudos para alunos e alunas, caso não haja vagas nas
escolas públicas;
Há propostas de programas de formação continuada para os pro�ssionais da
educação;
A lei estabelece o domínio dos estudos de �loso�a e sociologia; contudo, não os
coloca como obrigatórios, �cando assim na esfera optativa;
A educação infantil, por não apresentar obrigatoriedade, acaba carecendo de
�scalização.
É importante conhecer a trajetória de alguns educadores que trouxeram grandes
contribuições para a educação brasileira. 
Um deles é Darcy Ribeiro (1922-1997), antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido
por seu foco sobre a questão indígena e sobre a educação de um modo geral. Participou,
juntamente com o amigo Anísio Teixeira, da defesa da escola pública, da discussão da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação e da criação da Universidade de Brasília, no início dos anos
1960. Foi diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC
(1957-1961); presidente da Associação Brasileira de Antropologia; ministro da Educação e
chefe da Casa Civil do governo de João Goulart. Porém, com o golpe militar, em 1964, teve os
direitos políticos cassados e exilou-se, retornando ao Brasil em 1976, quando voltou a se
dedicar à educação e à política. Foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro em
1982 pelo PDT. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense.
Publicou vários livros, muitos deles sobre os povos indígenas.
Darcy Ribeiro acumulou vários cargos, como o de secretário da Cultura do estado do Rio de
Janeiro e coordenador do Programa Especial de Educação. Criou, planejou e dirigiu, no
governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, a implantação dos Centros Integrados de Ensino
Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil, que tinha como
base a Escola Parque, criada por Anísio Teixeira. Criou também a Biblioteca Pública Estadual, a
Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim e o Sambódromo, onde colocou 200 salas de aula para
fazê-lo funcionar, também, como uma enorme escola primária. Os CIEP prestavam assistência
em tempo integral às crianças, proporcionando, inclusive, atividades recreativas e culturais
para além do ensino formal, concretizando os projetos idealizados por Anísio. Pode-se dizer
que, muito antes de os políticos de direita incorporarem o discurso referente à importância da
educação para o desenvolvimento brasileiro, Darcy e Leonel Brizola já divulgavam essas ideias.
Em 1990, foi eleito senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos,
entre eles a lei dos transplantes, que tornou possível usar órgãos dos mortos para salvar os
vivos. Publicou, pelo Senado Federal, a Revista Carta, na qual os principais problemas do Brasil
e do mundo eram analisados e discutidos.
Colaborou para a criação do Memorial da América Latina, edi�cado em São Paulo. Viveu em
vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma universitária. Foi
professor de Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; assessor do presidente
Salvador Allende,
no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru.
Diante de tudo o que realizou, ainda tinha uma mágoa profunda: dizia que havia somado mais
fracassos em sua vida do que vitórias. Tinha a frustração de não ter conseguido alfabetizar
todas as crianças brasileiras e de não ter, em sua luta, conseguido salvar os indígenas.
Sua morte, após um lento tratamento contra um câncer, foi anunciada em 1992 e comoveu
todo o Brasil.
Figura 1 – Darcy Ribeiro
Fonte: Wikimedia Commons
Outro nome de destaque nesse cenário é o do polêmico Maurício Tragtenberg (1929-1998).
Neto de imigrantes judeus �xados no interior do Rio Grande do Sul, iniciou sua aprendizagem
em português, espanhol, esperanto e russo. Frequentou o grupo escolar em Porto Alegre, mas
não foi além da terceira série do curso primário. Após a morte precoce do pai, transferiu-se
com a mãe para São Paulo, onde, ainda jovem, começou a trabalhar.
Maurício falava de sua formação, que se deu de forma bastante interessante, com muito
humor. Dizia que ela se concretizara em um bar, na Rua Ribeiro de Lima, frequentado por
trabalhadores de várias origens que ali estabeleciam relações sociais e políticas.
Maurício atribuía seu interesse político à sua origem; dizia que sua condição de judeu dentro
da sociedade provocou nele o interesse precoce pela política; interesse esse que o remeteu à
leitura de obras de autores como Plínio Salgado, Tasso da Silveira e outros.
Passou a frequentar cursos aos �nais de semana, fornecidos pelo PSB (Partido Socialista
Brasileiro), ganhando seu primeiro livro de nível universitário, a História econômica e social
da Idade Média, de Henri Pirenne.
Trabalhou no Departamento das Águas de São Paulo, onde adquiriu experiência prática com a
burocracia, diante da qual �cou indignado por conhecer de perto o jogo de interesses que a
envolvia, como, por exemplo, a distribuição de cargos por apadrinhamento. Posteriormente,
inspirando-se em Max Weber, criticou essa burocracia em seu livro Burocracia e Ideologia.
Nesse período de sua vida, frequentava a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, onde lia o
que lhe interessava e discutia assuntos diversos com um grupo de intelectuais que também
frequentavam a biblioteca, entre eles Antonio Candido, que o convenceu a prestar vestibular
na USP.
No meio acadêmico, Tragtenberg �cou conhecido como autodidata, o que era apenas
parcialmente verdadeiro, embora ele próprio costumasse alardear, provocativamente, o seu
"primário incompleto". Ficou conhecido como autodidata, pelo simples fato de não ter uma
formação acadêmica, mas elaborou, em 150 dias, uma monogra�a que foi aprovada pelo Prof.
João da Cruz Costa, permitindo, assim, que ele prestasse o vestibular e ingressasse na
Universidade de São Paulo (USP).
Por seu espírito rebelde e senso de humor frequentemente sarcástico, mas, sobretudo, por sua
profunda generosidade intelectual, deixou publicados, pelo menos, oito livros e inúmeros
artigos em jornais e revistas de grande circulação no país, abrangendo diversos assuntos
como educação, política, sociologia, história e administração.
Através de uma crítica incisiva ao modelo pedagógico burocrático, Tragtenberg chegou à
teoria da pedagogia libertária, que se expressa pelo questionamento de toda e qualquer relação
de poder estabelecida no processo educativo e das estruturas que proporcionam as condições
para que essas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares.
Outra importante �gura no cenário educacional é Moacir Gadotti, seguidor de Paulo Freire.
Nasceu na cidade de Rodeio, no ano de 1941. Foi professor titular da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP) desde 1991. Atualmente é Diretor do Instituto Paulo Freire
em São Paulo. Gadotti é licenciado em Pedagogia e Filoso�a, mestre em Filoso�a da Educação
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), doutor em Ciências da Educação
pela Universidade de Genebra e livre docente pela Unicamp. Discípulo de Paulo Freire, tem
contribuído de forma signi�cativa para a re�exão sobre a educação em geral.
Moacir Gadotti, além de amigo pessoal de Paulo Freire, foi também chefe de gabinete quando
Freire assumiu a Secretaria de Educação do município de São Paulo, no governo de Luiza
Erundina. Dessa amizade nasceu uma nova esperança para a educação brasileira, pois eram
dois educadores totalmente comprometidos com a educação, principalmente com a educação
de jovens e adultos. Ambos manifestavam a esperança de que é possível acabar com a
opressão, com a miséria e com a ignorância, transformando o mundo em um lugar mais justo
para viver.
Gadotti aposta na educação como parte integrante da formação daqueles que precisam ser
libertos da opressão: os oprimidos e os que com eles lutam. Não se pode acreditar em um
discurso que fale dos oprimidos, sem mostrar que há um mundo possível e mais justo.
Utilizando a expressão de Paulo Freire, Gadotti acredita que existe, de um lado, uma educação
da reprodução da sociedade, uma educação como prática da domesticação e, no outro
extremo, uma educação contemplada como transformação, uma educação como prática da
libertação.
O professor deve caminhar lado a lado com a transformação da sociedade; ele não é um ente
abstrato, ausente, mas, sim, uma presença atuante, participante e dirigente, que organiza,
concretiza a ideologia da classe que representa esperança.
Pela educação, é possível mudar o mundo, a começar pela sala de aula, pois grandes
transformações não se dão apenas como resultantes dos grandes gestos, mas também a partir
de iniciativas cotidianas, simples e persistentes. Portanto, não há excludência entre o projeto
pessoal e o coletivo: ambos se completam dialeticamente.
Gadotti aponta algumas categorias expressas na práxis pedagógica, como: cidadania;
planetariedade; sustentabilidade; virtualidade; globalização; transdisciplinaridade.
Dermeval Saviani, pedagogo e �lósofo, nasceu em Santo Antônio de Posse, em 25 de
dezembro de 1943. Estudou no Seminário de Aparecida, em São Paulo, onde concluiu, em
1962, o curso colegial; fez parte do movimento Juventude Operária Católica (JOC), envolvendo-
se em todas as transformações que estavam acontecendo no período em que se processava a
renúncia de Jânio Quadros.
Continuou os estudos de Filoso�a na Faculdade de Filoso�a, Ciências e Letras de São Bento da
PUC-SP, que era um reduto de estudantes burgueses. Trabalhava, naquela época, no Banco
Bandeirantes e vivenciou profundas mudanças na sociedade, causadas pelo golpe militar, em
1964.
Deixou o banco e foi lecionar Filoso�a em escolas públicas. Ainda no ano de 1966, passou a
trabalhar em um órgão da Secretaria da Educação de São Paulo. Em 1967 foi professor do
curso de Pedagogia da PUC-SP e ajudou a criar os cursos de mestrado e doutorado em
Filoso�a da Educação nessa instituição.
Em 1970 foi lecionar na recém-criada Universidade Federal de São Carlos, onde ajudou a
implantar, em 1976, o mestrado em Educação, em convênio com a Fundação Carlos Chagas.
Concluiu, em 1971, o doutorado em Filoso�a da Educação, na área de Ciências Humanas, na
Faculdade de Filoso�a Ciências e Letras de São Bento, da PUC-SP. Em 1978 retornou como
professor da PUC-SP e ajudou a criar o doutorado em Educação nessa instituição. Em 1979
ajudou a criar a Associação Nacional de Educação (ANDE). Foi o fundador da ANPED e do
CEDES.
Em 1986 concluiu a livre docência em História da Educação, na área de Ciências Humanas, na
Faculdade de Educação da Unicamp. Em 1988 participou da elaboração de um anteprojeto da
Lei 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Atualmente é professor na
Unicamp e está envolvido com diversos projetos educacionais e de pesquisa.
Dermeval Saviani defende, de forma sistemática e intransigente, a escola pública; preocupa-se
em analisar a prática educacional inserida num processo político social, mas com uma visão
de organização, do pensar sobre a ação e sob uma perspectiva de globalidade.
A pedagogia histórico-crítica está pautada por algumas re�exões sobre o conceito de
educação e de escola que implicam questões como a identi�cação das formas desenvolvidas
em que se expressa o saber objetivo, produzido historicamente, reconhecendo as condições
de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências
atuais de transformação.
Para Saviani, a educação é a apropriação do conhecimento, que se adquire através da
transmissão para os educandos. O educador acredita na liberdade da sociedade por meio do
desenvolvimento e da capacidade dos indivíduos de se organizarem em busca da harmonia
comum.
Neste contexto histórico é necessário também conhecer a atuação de Guiomar Namo de Mello
e sua importância para a educação brasileira.
Figura 2 – Guiomar Namo de Mello
Fonte: IEA USP
Guiomar formou-se em Pedagogia pela USP, em 1966; fez mestrado e doutorado em Educação
na PUC-SP, entre 1976 e 1980, e pós-doutorado no Institute of Education da London
University, em 1991 e 1992. Trabalhou durante dez anos em escolas públicas estaduais; iniciou
sua carreira como professora de ensino superior na PUC-SP, onde, de 1969 a 1985, respondeu
pelas cadeiras de Psicologia Escolar e Psicologia Social, ministrando aulas de Psicologia Social,
para cursos de pós-graduação, e de Metodologia de Pesquisa e Teorias da Educação Escolar,
para o curso de graduação em Educação.
Trabalhou como professora visitante na Unicamp, na Universidade Federal de São Carlos e na
Universidade Federal de Minas Gerais. Paralelamente à sua atividade docente, trabalhou mais
de 10 anos como pesquisadora na Fundação Carlos Chagas. No Departamento de Pesquisas
Educacionais, dedicou-se ao estudo da educação como política pública, coordenando um
grupo de pesquisadores que, a pedido da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), realizou
a primeira análise abrangente da educação básica brasileira no período de 1960 a 1980. Em
1982 foi nomeada secretária municipal de Educação de São Paulo, cargo que ocupou até o �nal
do mandato do prefeito Mário Covas, em 1985.
Na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo liderou a implementação de inovações
gerenciais e pedagógicas, entre as quais se destacam: a proposta pedagógica das escolas
municipais de primeiro grau e de educação infantil; a reestruturação da carreira do magistério
municipal, com mecanismos de incentivos para que os professores permanecessem na
docência; o Regimento Escolar, que criou os Conselhos de Escola, abrindo espaço para a
participação das famílias e comunidades na gestão escolar. Essas inovações – juntamente
com outras experiências desse período – serviram de inspiração para a Constituinte de 1988 e
para as reformas educacionais dos anos 1990.
Em 1986 elegeu-se deputada estadual de São Paulo. No Legislativo paulista foi presidente da
Comissão de Educação e coordenou os trabalhos de elaboração da Constituição do Estado de
São Paulo na área de políticas sociais e educação. Nesse período foi, ainda, assessora para
assuntos educacionais do senador Mário Covas, líder da Constituinte Nacional.
Em 1990 e 1991 foi consultora no processo de preparação de projetos do Banco Mundial de
Investimento em Educação na região Nordeste e no estado de Minas Gerais. De 1992 a 1996
viveu no exterior, o primeiro ano em Londres, para concluir seu pós-doutorado, e os
seguintes em Washington, onde trabalhou como especialista sênior em Educação no Banco
Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Em ambas as instituições gerenciou ou assessorou a preparação de projetos de investimento
do setor público em educação na Argentina, no Paraguai, Equador, Uruguai e Bolívia.
Em 1997 regressou ao Brasil para assumir a direção executiva da Fundação Victor Civita,
organização sem �ns lucrativos mantida pelo Grupo Abril que se dedica a publicações
especializadas para professores de educação básica.
Nessa posição vem exercendo a direção editorial da revista Nova Escola e de outras
publicações especializadas, entre as quais se destaca a Ofício de Professor.
Em 1997 foi nomeada pelo presidente Fernando Henrique para o cargo de conselheira do
Conselho Nacional de Educação (CNE) – Câmara de Educação Básica.
De 1998 a 2000 deu consultoria a vários projetos educacionais, entre os quais se destacam: a
implementação da reforma curricular do Ensino Médio na Secretaria de Educação Média e
Tecnológica (SEMTEC); o projeto do Centro de Referência em Educação Governador Mário
Covas, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo; a elaboração da proposta do MEC
para reforma curricular dos cursos de formação de professores em nível superior.
Guiomar Namo de Mello hoje atua como diretora da  Escola Brasileira de Professores (EBRAP).
A EBRAP é uma empresa dedicada a estudos, iniciativas e projetos na área de educação inicial e
continuada de professores da educação básica. Guiomar presta consultoria para a empresa na
área de projetos de formação inicial de professores da educação básica em nível superior,
presencial e a distância. Alguns projetos educacionais em andamento são:
Outro ícone da educação brasileira é Marilena de Souza Chaui. Nasceu no dia 4 de setembro de
1941, em Pindorama, São Paulo. Filha do jornalista Nicolau Chauí e da professora Laura de
Souza Chauí. É casada com o historiador da Unicamp Michael Hall.
Grupo Pitágoras: produção de material para cursos de formação de professores da
educação básica;
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo: um estudo da gestão pedagógica
das escolas municipais;
Sistema de Ensino COC: revisão dos materiais de alunos e professores que estão
sendo utilizados junto a escolas de redes municipais, em várias regiões do Estado
de São Paulo e do país;
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo: reelaboração da proposta
curricular de 5ª a 8ª série e de ensino médio; formulação da política de educação
pro�ssional da secretaria.
Figura 3 – Marilena Chaui
Fonte: Wikimedia Commons
Marilena iniciou seus estudos no Grupo Escolar de Pindorama, interior paulista, onde realizou
o curso primário. Ela deu sequência à sua formação secundária no Colégio Nossa Senhora do
Calvário, na cidade de Catanduva, concluindo-a no Colégio Estadual Presidente Roosevelt, na
capital. É graduada em Filoso�a, especialista em licenciatura, mestre e doutora em Filoso�a.
Já foi secretária municipal da Cultura na cidade de São Paulo durante o mandato de Luiza
Erundina (1988-1992), porém saiu frustrada com os limites da ação administrativa e preferiu
concentrar as atenções na vida acadêmica.
Em uma entrevista para o programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido em 1999, Marilena
expôs seu pensamento demonstrando seu descontentamento com a política.
Marilena é presidente da Associação Nacional de Estudos Filosó�cos do século XVII, doutora
honoris causa pela Universidade de Paris VIII e doutora honoris causa pela Universidad Nacional
de Córdoba, da Argentina.
Atualmente ela desenvolve, dentro da Faculdade de Filoso�a da USP, uma pesquisa que recebe
o nome de “A elaboração espinosana de uma ciência dos afetos – ruptura com a tradição da
contingência e a�rmação da necessidade”. Sua obra abrange temas como ideologia, cultura,
universidade pública, entre outros.
Expressa seu pensamento a respeito da Filoso�a da seguinte forma:
“Que a melhor maneira de se participar da atividade política é através de
intervenções públicas, debates, polêmicas, participação nas atividades de
discussão do partido, mas eu não tenho nenhuma vocação para atividade
administrativa. Foi um sacrifício para mim, foi muito complicado, foi muito
difícil e não é o meu lugar.”
“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não
se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos
for útil; se buscar compreender a signi�cação do mundo, da cultura, da história
for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na
política for útil;
se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para
serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a
Marilena Chauí é, sob vários aspectos, uma das personalidades mais admiráveis do país, pois a
formação de nossos departamentos de Filoso�a deriva da linha de atuação da pensadora. Sua
ativa participação nas discussões sobre os rumos da educação brasileira atesta a continuidade
do seu engajamento, que vai além dos muros da USP, onde leciona há mais de 40 anos. Na sua
visão, o Estado deve encarar a educação como um investimento social e político e não sob o
prisma de gasto público.
Magda Becker Soares é outra educadora de destaque no panorama da educação no Brasil.
Mineira de Belo Horizonte, graduada em Letras Neolatinas e doutora em Didática pela
Universidade Federal de Minas. Atualmente é membro da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Educação, membro do Comitê Assessor do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientí�co e Tecnológico, conselheira da Comunidade Econômica Europeia e
professora titular da Universidade Federal de Minas Gerais.
Sua experiência com a educação está ligada à área de ensino-aprendizagem, língua portuguesa
e linguística aplicada.
Em um artigo publicado no jornal Diário do Grande ABC, em 29 de agosto de 2003, ela destaca
que letrar é mais que alfabetizar: é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto no qual a
escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Explica que, ao olharmos
historicamente para as últimas décadas, podemos observar que o termo alfabetização, sempre
entendido, de uma forma restrita, como aprendizagem do sistema de escrita, foi ampliado; já
não basta aprender a ler e escrever, é necessário mais que isso para ir além da alfabetização
funcional (denominação dada à alfabetização das pessoas que sabem ler e escrever, mas não
sabem fazer uso da leitura e da escrita).
- CHAUÍ, 2000, p. 17
felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filoso�a é o mais útil de
todos os saberes que os seres humanos são capazes.”
O aluno precisa saber fazer uso das atividades de leitura e escrita e envolver-se com elas.
Magda defende que, para a adaptação adequada ao ato de ler e escrever, “é preciso
compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a escrita e a leitura”.
Para compreender o que é letramento, basta ler o seguinte poema de Magda Soares:
““O que é letramento?
Letramento não é um gancho
em que se pendura cada som enunciado,
não é treinamento repetitivo
de uma habilidade,
nem um martelo
quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão,
é leitura à luz de vela
ou lá fora, à luz do sol.
São notícias sobre o presidente,
O tempo, os artistas da TV
e mesmo Mônica e Cebolinha
nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
uma lista de compras, recados colados na geladeira,
um bilhete de amor,
telegramas de parabéns e cartas
de velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos,
sem deixar sua cama,
e rir e chorar
com personagens, heróis e grandes amigos.
E um atlas do mundo,
sinais de trânsito, caças ao tesouro,
manuais, instruções, guias,
e orientações em bulas de remédios,
para que você não �que perdido.
Letramento é, sobretudo,
Figura 4 – Magda Becker Soares
Fonte: UFMG
Desa�os Contemporâneos
Depois de passar pela história recente da educação brasileira, �nalizamos esta unidade com
algumas re�exões sobre os desa�os contemporâneos. 
- SOARES, 1998, p.41
um mapa do coração do homem,
um mapa de quem você é,
e de tudo que você pode ser.””
É importante lembrar que a educação não está descolada das questões gerais da sociedade, e
nesse sentido as re�exões sobre seu processo precisam levar em conta esses aspectos que a
ultrapassam e ao mesmo tempo a constituem. A educação não passa ao largo deste tempo de
precarização das relações de trabalho, de aceleração do tempo, de privatizações em diversos
âmbitos sociais e de acentuação das desigualdades. E, portanto, as ações em seu benefício
precisam levar esse cenário em conta e tentar incidir para sua transformação, como gostava
de pensar Paulo Freire. 
Aranha (2012) destaca, por exemplo, como desa�o fundamental da educação contemporânea,
a relação com as formas digitais de comunicação. Como é possível se vincular a essa mudança
de paradigma comunicacional, que afeta nossa subjetividade, de modo a não se tornar refém
dessa própria forma? 
As informações, atualmente, circulam de modo irrefreado e quase sem critério pelas redes e
plataformas virtuais. Como a escola se relaciona com isso? Será que a escola pode ser um
esteio de seleção, debate, re�exão e organização séria dos múltiplos conteúdos disponíveis?
Como a escola pode contribuir para que, por exemplo, a circulação de ideias possa ser crível,
amparada em processos de validação histórica e cientí�ca? 
Outro aspecto importante é a formação dos professores e professoras. Num mundo
ultrafragmentado e especializado, como os pro�ssionais da educação podem manter uma
formação integral e consistente? De que forma a educação pode se estruturar, levando-se em
conta a necessidade do tempo formativo? Como a educação lida com a aceleração do tempo,
haja vista que sua natureza é justamente a do decantamento das ideias?
A cultura aparece como elemento fundamental nos dias de hoje. Como a educação consegue se
relacionar com isso? De que maneira os processos educacionais engendram as atividades
culturais? Não seria necessário que a cultura fosse alguma coisa própria à educação, e a
educação própria à cultura, como elementos complementares? 
Por �m, destacamos a importância da transdisciplinaridade. Um dos dilemas atuais é que a
multiplicidade de olhares não se harmoniza com a ultrafragmentação e há di�culdade de
integração. Como a educação pode incorporar as diversas contribuições, as variadas formas de
saber num processo integral? De que forma as diferentes perspectivas se aglutinam e
compõem um quadro comum e acessível a todos? Como realizar e promover o diálogo entre as
linhas, de modo a promover um pensamento plural e aberto à transformação? 
Como se vê, os desa�os são inúmeros, e essas perguntas surgem como pontes para possíveis
respostas e novas perguntas a serem construídas para que o horizonte da educação brasileira
se constitua de modo democrático, igualitário e emancipador. 
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta
Unidade:
  Vídeos  
Dermeval Saviani | A pedagogia histórico-crítica 
3 / 4
 Material Complementar
DERMEVAL SAVIANI | A pedagogia histórico-crítica
https://www.youtube.com/watch?v=13ojrNgMChk
Pro�ssão Docente - Guiomar Namo de Mello
Educação e política: entrevista de Marilena Chaui a Silvio
Rosa Filho 
Pro�ssão Docente - Guiomar Namo de Mello - parte 1
Educação e política: entrevista de Marilena Chauí a Silvio Rosa Filho
https://www.youtube.com/watch?v=QANezRFz6Kk
https://www.youtube.com/watch?v=dCdZ6y6kTag
Métodos de alfabetização – Magda Soares – Entrevista
Métodos de alfabetização - Magda Soares - Entrevista - Canal Fut…
https://www.youtube.com/watch?v=mAOXxBRaMSY
ARANHA, M. L. A história da educação e da pedagogia: geral e Brasil. São Paulo: Moderna,
2012.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>.
Acesso em: 10/12/2021. 
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 Referências
XAVIER, M. E. S. P. : a escola no Brasil. São Paulo: FDT, 1994.

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